id,text,summary td94ju12-17,"Ex-entregador vira 'rei' da pizza nos EUA Frank Meeks veio a So Paulo contar como se tornou o franqueado mais rentvel da rede Domino's Pizza Da Redao O segredo que faz de um microempresrio um gigante de sucesso foi o tema que trouxe a So Paulo o franqueado de maior sucesso da Domino's Pizza nos Estados Unidos. Cerca de 70 executivos e empresrios brasileiros pagaram 290 URVs para ouvir a histria do norte-americano Frank Meeks. O evento aconteceu na ltima tera-feira no hotel Transamrica durante o 1 Seminrio Internacional Novos Tempos da Administrao - Estratgias do Sucesso Empresarial, organizado pela empresa de consultoria Menthor. Os outros convidados eram Salim Mattar, dono da Localiza Renta a Car, maior empresa de aluguel de carros do pas em processo de internacionalizao, e Ninfo Valtero Konig, presidente da indstria de plsticos Akros. Mattar comeou com seis Fusca usados e comprados a crdito hoje tem 13 mil veculos. Konig comeou com seis funcionrios hoje tem 800 e foi eleito personalidade do ano no setor. A maior atrao do encontro, no entanto, foi o norte-americano. Direito ou pizza Frank Meeks comeou em 1979, aos 21 anos, como entregador de pizzas da Domino's. Minha inteno era juntar dinheiro para pagar a faculdade de direito. Trs meses depois j tinha mudado de idia. Abandonei o curso. Percebi que poderia ganhar mais dinheiro com as pizzas, conta. As pessoas riam de mim. Em 83, depois de bater na porta de oito bancos, conseguiu financiamento para comprar sua primeira franquia. Hoje so 53 lojas em Washington (nordeste dos EUA), o que faz dele um dos maiores franqueados da rede. Suas lojas detm a maior mdia de vendas entre as 5.600 lojas espalhadas por 29 pases. S a casa onde Meeks mora vale US$ 1 milho (o equivalente a 133 carros populares brasileiros). A receita Pensar grande e irradiar entusiasmo, respeitar o funcionrio e principalmente o cliente so os ingredientes indispensveis para o sucesso, segundo Meeks. Toda tera-feira de manh, ele rene seus funcionrios que ele chama de membros da equipe para uma corrida de dez quilmetros pela cidade. Enquanto correm, Meeks grita: Quem somos ns?, e a equipe responde: Somos o time da Domino's Pizza; O que fazemos?, e a equipe: Fazemos a melhor pizza; Qual nossa meta?, Vender mais pizza. Mas no preciso ser um chefe de torcida para irradiar entusiasmo. Rena seus empregados de vez em quando, mostre os pontos positivos mesmo que os negativos sejam muitos. Faa algo divertido, oferea um prmio, um jantar. D o tom de sua empresa. No item respeito ao funcionrio, os conselhos so simples: Trate cada um pelo nome, seja transparente, sorria e elogie sempre. E de vez em quando faa aquilo que normalmente voc pede que eles faam. As lojas de Meeks venderam 1 milho de pizzas no ano passado. Ele fez a entrega de seis delas vestindo o uniforme dos entregadores. Dinheiro tambm entra no item respeito ao funcionrio. Se uma loja vai bem, por exemplo, todos vo uniformizados a um shopping. Cada um recebe US$ 200 (cerca de CR$ 450 mil) para gastar como quiser em 30 minutos o tempo mximo em que as lojas da rede prometem entregar uma pizza. Os gerentes ganham de US$ 70 mil (CR$ 157 milhes) a US$ 100 mil (CR$ 225 milhes) por ano. Mas na incansvel busca pela satisfao do cliente que Meeks diz apostar todas suas fichas. Ele at calculou o valor de cada cliente: Imaginamos que uma pessoa pode comer duas pizzas por semana. Cada uma custa US$ 10. Em apenas dez anos, esse cliente gastar US$ 10 mil. Se gostar, dir a pelo menos duas outras pessoas. Portanto, cada cliente vale US$ 30 mil. pensando nesse valor que atendemos cada pedido. (JVB)","Ex-entregador vira reida pizza nos EUA Frank Meeks veio a So Paulo contar como se tornou o franqueado mais rentvel da rede Domino`s Pizza Da Redao Aproximadamente 70 executivos e empresrios brasileiros pagaram 290 URVs para ouvir a histria do norte-americano Frank Meeks. Ao evento compareceram dois outros convidados: Salim Mattar, dono da Localiza Renta Car, que comeou com seis Fuscas usados de aluguel e ,hoje, tem 13 mil veculos; e Ninfo Valtero Konig, presidente da indstria de plsticos Akros, que comeou com seis funcionrios e , hoje, tem 800. A atrao maior, porm, foi o norte-americano. Comeou em 1979 , como entregador de pizzas da Dominos. Em 83, financiou sua primeira franquia. Hoje possui 53 lojas em Washington, sendo um dos maiores franqueados da rede. Para ele, a receita do sucesso pensar grande, ser entusiasta, respeitar o funcionrio e principalmente o cliente. Recomenda que as qualidades dos empregados devem ser sempre salientadas , ainda que tenham defeitos; e aconselha ser generoso com eles, transparente e sempre identific-los pelo nome. Mas a busca incansvel da satisfao do cliente o segredo maior do sucesso." td94ja08-04,"Ficar seguro j est mais barato Empresas criam novos produtos; preos caem mas riscos aumentam para os clientes MRCIA DE CHIARA Uma enxurrada de produtos pode deixar atordoado quem pretende fazer seguro pessoal, da casa ou do carro. O mercado est em plena ebulio. As seguradoras prometem jogar pesado nos lanamentos em 94 e ampliar ainda mais as opes de planos diferenciados e com preos mais em conta. Tudo isso na briga por uma fatia maior de um negcio que movimenta 1% do PIB (Produto Interno Bruto) do pas. A reviravolta no setor no de agora. Comeou em 87 com a liberao gradual das tarifas, que hoje esto ao sabor do mercado. Quem ganhou foi o consumidor. De l para c, o preo do seguro de automvel recuou 30% e os de residncia e de incndio caram pela metade, segundo os corretores. Alm disso, multiplicaram-se os produtos e os diferenciais oferecidos. A Ita Seguros, por exemplo, est tirando do forno na metade deste ms um produto novo: o Auto Bsico Perda Total. Esse seguro de automvel vai ser vendido pela metade do preo de mercado, informa Paulo Eduardo de Freitas Botti, 46, vice-presidente executivo. Com cobertura restrita, ele banca apenas a perda total do veculo. Mais lanamentos esto previstos para maio e a meta fechar o ano com dez novos produtos nos segmentos vida, sade e automvel, o dobro de 93. A Nacional Seguros tambm pretende dobrar a oferta de novidades. Esto previstos cinco novos planos para pessoas fsicas. O primeiro vai estar disponvel no fim de fevereiro. Trata-se de um seguro de vida em que o cliente recebe o valor segurado corrigido em vida. O Bradesco, com 4 milhes de segurados, planeja cinco lanamentos para este ano. No fim de fevereiro vai oferecer novas coberturas dentro dos planos de sade e vida. Ainda neste trimesstre, incrementa o segmento de seguros de automveis com cobertura de assistncia tcnica. A nfase na prestao de servio, diz o vice-presidente, Carlos Frederico da Motta, 70. A Sul Amrica Seguros tem a mesma linha. Reservou para este ano US$ 25 milhes para melhorar a infra-estrutura de servio. A empresa lder de mercado, com cinco milhes de segurados, programa cerca de 30 lanamentos para 94. A primeira leva vai estar disponvel no segundo trimestre. So planos mais econmicos tambm nas reas de sade, vida e previdncia, informa o vice-presidente de marketing e planejamento, Felice Foglietti, 54. O Bamerindus vai desovar cinco novos projetos em 120 dias. Trs deles de seguro pessoal. O grande filo do mercado hoje o seguro de sade com a falncia do sistema da cobertura do Estado, diz o gerente de desenvolvimento de produto, Alcides Guerra, 39. Guerra faz questo de manter em segredo os detalhes sobre os lanamentos. Concorda, no entanto, que o caminho para fisgar o consumidor agregar valor aos produtos ampliando os servios. Hoje, por exemplo, o Bameirindus fornece extrato com valores segurados corrigidos. Se por um lado o consumidor ganha com o maior leque de produtos, preos e servios oferecidos, o risco de no receber a indenizao maior. Quem s oferece preo mais barato pode estar na iminncia de quebrar, diz o consultor Antonio Penteado Mendona, 41. Segundo ele, tem empresa que vende seguro abaixo do custo e se sustenta apenas no giro financeiro patrocinado pela inflao alta. Se a inflao cair, a empresa no tem como pagar as indenizaes.","Ficar seguro j est mais barato Empresas criam novos produtos; preos caem mais riscos aumentam para os clientes MRCIA DE CHIARA O potencial fregus de seguro pessoal, casa , ou carro pode ficar atordoado com o volume de ofertas. As seguradoras vo bater forte com os lanamentos em 94, diversificando ofertas e barateando preos. A reviravolta j vem de 87 , com as tarifas liberadas para o jogo de mercado. Ganhou o consumidor. A Ita Seguros est prestes a lanar o Auto Bsico Perda Total, seguro de carro a ser vendido pela metade do preo do mercado , mas que s garante perda total. Entre as vrias novidades prometidas pela Nacional Seguros, est um seguro de vida em que o cliente recebe o valor segurado corrigido em vida. O Bradesco , com cinco lanamentos planejados para o ano, oferece vantagens nos planos de sade e de seguro de vida, alm de seguro de automveis com assistncia tcnica. A Sul Amrica Seguros, lder de mercado, no fica atrs: programa 30 lanamentos para 94 nas reas de sade, de vida e previdncia, com vantagens econmicas. O Bamerindus promete para os prximos 120 dias cinco novos projetos , trs dos quais de seguro pessoal. Porm-- alerta o consultor Antonio Penteado Mendona--- se o milagre parece bom para o consumidor , bom que ele desconfie, pois o barato pode sair caro: preos subestimados podem significar falncia ." co94ab24-03,"Proposta retrgrada paraa reforma do judicirio SRGIO REZENDE Acompanhamos com preocupao, como de resto toda a sociedade, as marchas e contramarchas da reviso constitucional. Conflitos ideolgicos, de um lado, e falta de vontade poltica, de outro, ameaam comprometer a execuco dessa tarefa inadivel, destinada a limpar e modernizar a Constituio Federal de 1988. Esperamos, ansiosos, que o Congresso revisor vote, no captulo do Judicirio, medidas eficazes para agilizar os julgamentos, sem violar o direito das partes. A proposta apresentada pelo relator Nlson Jobim anacrnica, retrgrada e viola os direitos fundamentais do cidado. Queremos reforma, sim, mas entre ela e a proposta de Jobim preferimos que a Constituio nesse captulo, fique como est. A idia de criao de um controle externo do Poder Judicirio, que circula em alguns setores polticos e congressuais, alarmante. A Justia j dispe de mecanismos prprios e eficientes de autocontrole. A pretendida presena de pessoas estranhas ao Judicirio num novo organismo de fiscalizao soa como desejo de presso poltica sobre este Poder. Somos, igualmente, contrrios avocatria e imposio das smulas vinculantes dos tribunais superiores. Essas duas propostas afrontam o princpio do juiz natural, tirando-lhe atribuies e independncia. Imagine-se o juiz resolver no acompanhar as smulas do STF, que passariam a ser verdadeiras leis; ser, sem dvida, responsabilizado administrativamente pelo Congresso Superior da Magistratura (inovao do art. 95 da atual Carta). Grave essa inovao, pela qual os juzes devem obedincia lei. Que devem, no h dvidas, mas o dispositivo pretende limitar o poder interpretativo do juiz. Trata-se de uma mordaa ao julgador consciente e probo e uma afronta ao princpio do livre convencimento, consagrado h mais de cinco sculos. O juiz que interpretar a lei contra a smula superior estar afrontando a lei e poder ser punido. Ser um golpe no Poder Judicirio Nacional, comprovando aquilo que as associaes da magistratura vm denunciando: a pretexto da reviso e de controle externo, procura-se emascular a funo jurisdicional, violando-se reflexamente a autonomia e a independncia do poder de julgar. Rejeitamos, ainda, a vinculao a seus rgos de origem dos juzes oriundos do quinto constitucional e a idia de reduo dos vencimentos da aposentadoria da magistratura, novidade que desestimularia sensivelmente novas vocaes e que constituiria iniquidade para uma categoria que est impedida, por dispositivo constitucional, de exercer outra atividade. Defendemos, em contrapartida, a unificao da 2 instncia dos Tribunais de Alada e a permisso para que os Estados legislem sobre os juizados especiais. O futuro do Judicirio est nos juizados especiais civis e criminais, para causas de menor complexidade ou menor potencial delitivo, onde a oralidade e o entendimento devem prevalecer sobre frmulas escritas e solenes. Defendemos, igualmente, uma oxigenao de cpulas, compondo-se os chamados rgos especiais com desembargadores mais antigos e desembargadores eleitos por todos os magistrados vitalcios. Reivindicamos e levamos, entre outras, essa reivindicao ao Congresso revisor iniciativas para atualizao dos ritos processuais, defasados no tempo e no espao, para agilizao do sagrado dever de distribuio de Justia. No pode o Congresso perder de vista as limitaes de seu poder constituinte derivado, previstas na prpria Carta (art. 60, pargrafo 4). Os mais afoitos devem cercar-se de prudncia para evitar um choque indesejvel, levando o Judicirio a descumprir, por inconstitucionais, determinadas decises, como a adoo de controle externo. Numa democracia, os poderes devem ser independentes e harmnicos e no ser negando esse princpio que o pas alcanar o desenvolvimento econmico e social to desejado pela sociedade. O momento de somar e no dividir. E apesar de nossa preocupao diante do impasse da reviso, acreditamos no esprito pblico do Congresso. SRGIO JACINTHO GUERRIERI REZENDE juiz do 2 Tribunal de Alada Civil de So Paulo e presidente da Associao Paulista de Magistrados.","Proposta retrgrada para a reforma do judicirio --SRGIO REZENDE O vaivm da reviso constitucional tem sido acompanhado com preocupao por ns e pela sociedade. Diferenas ideolgicas e falta de vontade poltica ameaam a execuo dessa tarefa inadivel de limpeza e modernizao da Constituio de 1988. Estamos na expectativa de que o Congresso vote , no captulo do Judicirio , medidas que acelerem os julgamentos sem ferir os direitos das partes. A proposta do relator Nlson Jobim retrgrada e viola os direitos bsicos do cidado. A idia de criar um controle externo do Poder Judicirio alarmante. A Justia j dispe de mecanismos para isso. Tambm no concordamos com a avocatria e a imposio de smulas vinculantes dos tribunais superiores. uma camisa de fora para o julgador consciente e probo e uma ofensa do princpio do livre convencimento. Forosamente viola a autonomia e a independncia do poder de julgar. Repudiamos tambm a vinculao dos juzes provindos do quinto constitucional a seus rgos de origem , e a reduo dos vencimentos da aposentadoria da magistratura. Consideramos fundamental para o futuro do Judicirio a continuidade dos juizados especiais civis e criminais para causas menos complexas ou que tratem de crimes menores. Defendemos uma oxigenao de cpulas e iniciativas para atualizar o rito processual, com vistas agilizao. Para que a aprovao do controle externo no crie uma crise entre poderes, necessrio que o Congresso observe suas limitaes previstas na Carta. Numa democracia , os poderes devem ser independentes e harmnicos." mu94de22-a,"O Parlamento italiano comeou ontem a discutir o futuro do governo liderado pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Em seu discurso, o premi disse que a convocao de eleies antecipadas o caminho obrigatrio caso a coalizo perca a maioria. No discurso de 26 minutos, o empresrio e primeiro-ministro atacou duramente Umberto Bossi, a quem chamou de renegado. Bossi lidera a federalista Liga Norte, partido que integra a coalizo Plo da Liberdade e do Bom Governo, mas apresentou moo de desconfiana contra o governo. Na resposta, Bossi oficializou o rompimento de seu partido com o governo e disse que a liga tem o dever de pr fim Primeira Repblica italiana. Senhor Berlusconi, senhor Fini, esta Cmara no ser mais a cmara dos fascistas e das corporaes, disse o lder federalista. Primeira Repblica a expresso utilizada para designar o regime implantado aps a Segunda Guerra. Gianfranco Fini lidera a neofascista Aliana Nacional, maior partido da coalizo. Caso os partidos de oposio e a liga votem unidas, a moo de desconfiana ser aprovada. Neste caso um novo governo ser formado, com ou sem a convocao de eleies parlamentares. A moo da Liga Norte foi apresentada juntamente com o Partido Popular Italiano (ex-Democracia Crist). Alm deles, apresentaram moes os dois sucessores do Partido Comunista Italiano Partido Democrtico de Esquerda e Refundao Comunista. Depois do discurso, Berlusconi disse que esperaria o rumo dos debates, que podem durar dois dias, para decidir seu futuro. Segundo Cesare Previtti, ministro da Defesa e coordenador do partido de Berlusconi, o primeiro-ministro vai renunciar antes de a confiana em seu governo ser submetida ao Parlamento. O coordenador da Fora Itlia disse que Berlusconi marcou uma reunio com o presidente Oscar Scalfaro para hoje, mas no disse se seria pela manh ou tarde. Caso o premi renuncie caber ao presidente escolher um novo chefe de governo ou convocar eleies. Scalfaro poder indicar o prprio Berlusconi para premi. Para Gianfranco Fini, o governo Berlusconi j acabou. Todo mundo sabe que isso vai acabar com um governo que j no existe. A tenso poltica na Itlia ficou demonstrada na sesso parlamentar de hoje, interrompida vrias vezes para discutir sua transmisso ou no pela televiso. As interrupes levaram a presidente da casa, Irene Pivetti, a suspender a sesso trs vezes e a expulsar o deputado governista Gian Piero Broglia do plenrio. No final, a sesso foi transmitida por um canal da rede estatal RAI e por uma televiso privada. O premi de 58 anos disse em seu discurso que as trs moes de censura apresentadas so uma zombaria com e uma fraude contra os eleitores. Segundo Berlusconi, Bossi ps prova a pacincia dos italianos que trabalham e se viram bombardeados por insultos, acusaes caluniosas, mentiras e discursos pouco construtivos. Sabemos que durante esses longos sete meses de governo foi preparado o terreno para a ofensiva final, o grande roubo eleitoral. Berlusconi acusou Bossi de pr em perigo a credibilidade da lira italiana e dos ttulos do Estado nos mercados internacionais. O premi tambm tentou uma anlise psicolgica de Bossi: Seu carter tosco e populista, que em certa fase da vida italiana parecia um elemento de claridade ante a obscuridade da vida poltica, se ligou lgica partidria e facciosa do subterfgio e da iluso. Aliado de Berlusconi na eleio que levou o empresrio chefia do governo italiano, Bossi reagiu ao discurso afirmando que seu partido havia esperado at o momento certa para tentar derrubar o governo. A federalista Liga Norte acusa o governo de no ter cumprido seu compromisso eleitoral de aumentar a autonomia das regies. No discurso de ontem, Berlusconi reagiu a essas acusaes e disse que o Ministrio das Finanas estava trabalhando num projeto de federalismo fiscal, enquanto o lder da liga insiste num federalismo exclusivamente verbal.","O Parlamento italiano ps em discusso o futuro do governo liderado pelo primeiro-ministro Slvio Berlusconi. Segundo o premi, a convocao de eleies antecipadas o caminho , se a coalizo perder a maioria. Bossi, que lidera a federalista Liga Norte, um dos partidos da coalizo, apresentou moo de desconfiana contra o governo. Se os partidos de oposio apoiarem, a moo ser aprovada. Apesar de ter reagido duramente, o premi teme essa possibilidade e, segundo o ministro da Defesa, Cesare Previtti, vai renunciar antes de ela ser submetida ao Parlamento. Se isso se confirmar , caber ao presidente escolher um novo chefe de governo, que poder ser o prprio Berlusconi. Obviamente, ficou tenso o clima poltico na Itlia, expresso na sesso parlamentar de hoje. Obrigou a presidente da casa a expulsar o deputado governista Gian Piero Broglia do plenrio. No seu discurso, Berlusconi desanda contra Bossi , acusa-o de pr prova a pacincia dos italianos e considera as moes de censura uma fraude contra os eleitores. Bossi, aliado que ajudou a levar Berlusconi ao poder, reagiu dizendo que o seu partido s estava esperando o momento adequado para derrubar o governo. " di94ab03-03,"O Plano FHC sem FHC CARLOS GERALDO LANGONI A candidatura de FHC Presidncia amplia o horizonte temporal do plano de seis meses para quatro anos A confirmao da sada de Fernando Henrique Cardoso do comando da rea econmica para lanar-se na disputa presidencial tem levantado dvidas sobre a viabilidade do plano de estabilizao na sua fase crtica de implementao. Afinal de contas, Fernando Henrique tem sido muito mais do que um simples ministro da Fazenda: ele tem atuado como eficiente primeiro ministro, arquiteto de inovadoras pontes institucionais que, bem ou mal, tm permitido a travessia de difceis obstculos que retardam o processo de modernizao da sociedade brasileira. De fato, conseguir por em prtica um coerente programa de estabilizao nos ltimos meses de um governo sem sustentao poltica, operando num vcuo de liderana, realizar uma misso quase impossvel. O plano sustentado pela maioria da opinio pblica, esgotada pela longa convivncia com processos crnicos de inflao. H uma demanda social por estabilidade que se estende a empresrios, trabalhadores, estudantes e donas de casa. A grande virtude do novo programa internalizar essas aspiraes, privilegiando mecanismos voluntrios e fugindo das traumticas frmulas mgicas envolvendo congelamentos de salrios, controles de preos ou sequestros de poupana. O programa parte do pressuposto realista de que no possvel acabar com a inflao num piscar de olhos: a experincia latino-americana recente ilustra que, mesmo em pases com caractersticas autoritrias (Chile de Pinochet, Argentina de Menen, o Mxico do PRI e, mais recentemente, o Peru de Fujimori), o sucesso no ajustamento macro exige continuidade de esforos durante um perodo relativamente longo de tempo. So necessrios um mnimo de quatro anos e, muitas vezes, at uma dcada inteira para que as reformas econmicas tornem-se de fato irreversveis e a memria inflacionria seja definitivamente apagada. irrealista, portanto, imaginar que, mesmo um plano de estabilizao bem desenhado como o atual, pudesse ser viabilizado em cerca de seis, oito meses. Na realidade, o curto horizonte temporal do atual programa um dos maiores obstculos para a conquista de credibilidade. Como convencer que o real de fato, a moeda forte, ancorada em reservas internacionais, quando iminente a mudana no comando poltico do pas? No h dvida de que parcela substancial da forte acelerao que vem sendo observada da inflao em cruzeiros reais reflexo desta incerteza: na converso em URV introduz-se uma gordura desnecessria nos preos apenas como margem de segurana face imprevisibilidade do processo poltico. sob este ngulo que a candidatura de FHC faz sentido para a prpria viabilidade do plano: a expectativa de sua eleio Presidncia amplia o horizonte temporal do plano de seis, oito meses para quatro anos. Abre-se a perspectiva rara de transio poltica com continuidade administrativa, condio bsica para a consolidao de qualquer estratgia de combate inflao e retomada do desenvolvimento. Pela sua capacidade de construir alianas, so grandes tambm as chances de que, caso eleito, Fernando Henrique venha a governar com maioria no Congresso outro vetor crucial para permitir o avano das reformas estruturais. Esse novo horizonte poltico ir afetar favoravelmente as expectativas em relao ao plano de estabilizao, minimizando os danos causados pela frustrao com a reforma constitucional. Cria-se, portanto, um crculo virtuoso: a candidatura de FHC d nova dimenso ao plano, cujo sucesso, por outro lado, refora as suas chances de vitria. Para que esta nova dinmica social funcione a contento necessrio que a implementao das etapas crticas do plano sejam realizadas de forma coerente. A indicao do embaixador Rubens Ricupero para o comando da economia foi uma deciso sbia do presidente Itamar, parecendo confirmar o fim da era dos ministros tecnocrticos. No contexto brasileiro atual, seniority e experincia negociadora valem bem mais do que um PHD em economia... Ricupero far, certamente, uso de sua vivncia prtica como observador privilegiado de experincias bem sucedidas de estabilizao em diferentes economias, para reiterar o apoio integral ao atual plano. At porque no existem alternativas prticas para a combinao vencedora de ajuste fiscal, abertura econmica e reforma monetria. A sua confirmao como ministro da Fazenda oferece a oportunidade para dirimir dvidas e incertezas que ameaam o sucesso do programa. essencial anunciar o mais rpido possvel a data de introduo da nova moeda, at mesmo para acelerar o processo voluntrio de converso de cruzeiro real para URV. Esta fase intermediria oferece a oportunidade para ajustar preos relativos, esclarecer disputas quanto aos critrios de converso, facilitando a entrada no real com inflao baixa. O prolongamento exagerado deste perodo preparatrio gera, entretanto, incertezas que podem afetar a etapa bsica de mudana no padro monetrio. tambm fundamental definir a nova regra cambial. Neste campo, no h margem de manobra. O lgica interna do plano exige adoo de uma paridade fixa com o dlar, mesmo que no seja indefinidamente rgida, apesar de todos os riscos envolvidos. Qualquer indicao de flexibilidade (por exemplo, faixas de flutuao) incompatvel com a estabilidade j anunciada de salrios, preos e contratos. A possibilidade de flutuao ser rapidamente interpretada como a inflao esperada na nova moeda, afetando negativamente as expectativas. tambm a nica forma prtica para estabelecer uma associao clara e inequvoca entre a moeda forte o real e o dlar, essencial para a estabilidade dos preos. Finalmente, crucial definir as regras monetrias na nova moeda, limitando as possibilidades para a emisso descricionria que possa financiar dficits oramentrios no previstos. Os juros reais tero de permanecer elevados para evitar uma exploso prematura do consumo. Por tudo isso, a credibilidade do plano e do novo ministro seria substancialmente amplificada se concomitantemente com o anncio da reforma monetria fosse formalizada a independncia do Banco Central. Teria de haver delegao explcita de poderes para defender a nova moeda das presses poltico-eleitoreiras que tendero a se avolumar nos prximos meses. A candidatura de Fernando Henrique Cardoso pode ser interpretada como o componente heterodoxo do plano de estabilizao. A supresa esse vetor ter surgido no campo poltico e no na rea econmica: no contexto brasileiro atual, concorrer Presidncia da Repblica oferece mais possibilidades para ampliar a base de sustentao poltica dessas idias reformistas do que permanecer imobilizado no reduzido espao de manobra de um governo em fim de mandato. A presena do embaixador Rubens Ricupero e a permanncia da equipe econmica sugerem a possibilidade de um gerenciamento eficiente da etapa crtica de reforma monetria. Surge, portanto, oportunidade ainda indita na Amrica Latina: avanar no ajustamento e modernizao no contexto de uma democracia nascente, ainda que debilitada pelo mal crnico da excessiva fragmentao partidria e pelas imperfeies do processo eleitoral. O significado da candidatura de Fernando Henrique Cardoso vai, portanto, bem alm da pilotagem de um programa de estabilizao. A perspectiva de estabilidade econmica, legitimada pela transio poltica, o ingrediente que falta para o reencontro brasileiro com o crescimento rpido e sustentado. A fora desse novo estgio de desenvolvimento est concentrada no dinamismo do setor privado: no caso brasileiro, o ajustamento micro (isto , a nvel das empresas) ocorreu antes mesmo do ajuste macro. Com base nesta caracterstica peculiar que pode-se antecipar a intensidade da recuperao econmica. Fazer com que a grande maioria da populao visualize estes benefcios futuros o maior desafio do candidato Fernando Henrique Cardoso. Tarefa sem dvida bem mais complexa e bem mais relevante do que a de ministro da Fazenda. CARLOS GERALDO LANGONI, 49, economista, mestre e doutor pela Universidade de Chicago (EUA), diretor do Centro de Economia Mundial da Fundao Getlio Vargas (RJ). Foi presidente do Banco Central (1980-83).","O Plano FHC sem FHC CARLOS GERALDO LANGONI A sada de Fernando Henrique Cardoso da pasta da Fazenda para candidatar-se Presidncia tem gerado dvidas sobre o futuro do Plano Real . Afinal de contas, ele , mais do que ministro da Fazenda, ele tem sido eficiente primeiro-ministro, articular institucional de meios para facilitar a modernizao da sociedade brasileira. De fato, conseguir , de forma coerente, concretizar um programa de estabilizao no fim de um governo sem liderana tarefa muito difcil. Isso sem usar de mecanismos traumticos de congelamentos de salrios, controles de preos e seqestro de poupana. O plano sustentado pelo cansao da maioria da populao com processos crnicos de inflao. Ele parte do princpio realista que um ajustamento macro exige esforos continuados durante um bom tempo. Ento , como convencer algum de que o real moeda forte, bem ancorada, se o comando poltico est s portas? o ponto que torna a candidatura de Fernando Henrique Presidncia pertinente , uma vez que amplia a continuidade para quatro anos. Some-se , ainda, a sua capacidade de construir alianas , o que lhe possibilitar governar com maioria no Congresso e , portanto, garantir o programa de estabilizao. A indicao de Rubens Ricupero para o Ministrio da Fazenda foi uma sbia deciso do presidente Itamar. Certamente facilitar que as etapas crticas do plano sejam realizadas coerentemente. Tambm sua longa vivncia com planos econmicos de outras naes ser um acrscimo para o sucesso do nosso. A sua confirmao no ministrio elimina dvidas que ameaam o programa. fundamental o anncio rpido da introduo da nova moeda. Esta fase intermediria servir para ajuste de preos relativos, esclarecimento de disputas quanto aos critrios de converso, a fim de que o incio do real se d com inflao baixa. imprescindvel tambm definir a nova regra cambial. inerente ao plano a adoo de paridade fixa com o dlar, o que evitar o fantasma inflacionrio na efetivao da nova moeda. Alm da associao positiva entre a nova moeda forte o reale o dlar. A definio das regras monetrias na vigncia da nova moeda limitar as possibilidades de emisso que financie dficits no previsto . E a manuteno de juros elevados evitar exploso de consumo. Ser importante , ainda, a independncia do Banco Central , com delegao de poderes para proteger a nova moeda de presses inflacionrias. A candidatura de Fernando Henrique Presidncia , com sua competncia para ampliar as bases de sustentao poltica , ser uma maneira eficiente de conferir magnitude ao programa de estabilizao. Ser a combinao feliz para o nosso crescimento rpido e sustentado." ce94ab17-a,"A empresa Produtos Pirata Indstria e Comrcio Ltda., de Contagem (na regio metropolitana de Belo Horizonte), dever registrar este ano um crescimento de produtividade nas suas reas comercial e industrial de 11% e 17%, respectivamente. Os ganhos so atribudos pela diretoria da fbrica nova filosofia que vem sendo implantada na empresa desde outubro do ano passado, quando a Pirata se iniciou no Programa Sebrae de Qualidade Total. Dona de 65% do mercado mineiro de temperos, condimentos e molhos, a Pirata rene atualmente 220 funcionrios. A coordenadora do programa de qualidade na empresa, Mrcia Cristina de Oliveira Neto, disse que ainda no possvel dimensionar os ganhos financeiros que certamente a empresa ter, em consequncia da melhoria da qualidade de seus produtos e servios. Por enquanto, os benefcios mais visveis, segundo ela, so a organizao e a limpeza da fbrica. Tambm a relao entre as pessoas tem melhorado bastante. As informaes esto mais claras e os funcionrios e clientes, mais satisfeitos. O resultado da satisfao dos funcionrios, segundo ela, pode ser medido pela eliminao do desperdcio de matrias-primas no processo de produo. Para se ter uma idia, antes de adotarmos o programa de qualidade, o refeitrio da fbrica jogava fora, diariamente, 48 quilos de comida ou 70 refeies. Agora esse nmero est caindo a cada dia e a nossa meta zer-lo, diz Mrcia Cristina. Ela conta tambm que outro grave problema de desperdcio enfrentado pela empresa dizia respeito linha de produo. Estamos conseguindo economizar bastante, s com a diminuio da perda de alho e sal, que caem no cho na hora da pesagem. Maria Cristina diz que, quando se adota um programa de qualidade, no se pode querer resultados imediatos. Para ela, isso a causa, invariavelmente, para a maioria dos fracassos das empresas que se iniciam no programa. Ela tambm afirma que a educao e a mudana de mentalidade dos empregados, princpios bsicos para a implantao do processo, tm um custo alto para as empresas. A gesto da empresa passa a ser mais participativa. Isso implica tambm mudanas radicais no comportamento dos membros da diretoria da empresa. A situao passa a ser de troca. Como consequncia, os funcionrios da Pirata se tornaram mais exigentes. A primeira exigncia foi a implantao de algum tipo de lazer na hora do almoo. Pusemos mesas para jogos de cartas e reformamos os banheiros. Procuramos atender as reivindicaes na medida do possvel, diz. Mrcia Cristina conta que a empresa passou a encarar esse tipo de benefcio como um investimento. Os funcionrios trabalham mais satisfeitos, diminuem o retrabalho com a eliminao do desperdcio e, alm de aumentar a produtividade, passam a cobrar mais qualidade das matrias-primas. Segundo Mrcia Cristina, todo esse trabalho se reflete no aumento das vendas. A partir do momento em que se tem produtos com qualidade, os clientes ficam mais satisfeitos e a demanda por seus produtos passa a ser maior, diz. Fundada em 15 de maro de 1972, a Pirata possui capacidade instalada para produzir 5.750 toneladas anuais de temperos, condimentos e molhos. Atualmente ela opera com 55% da sua capacidade e atua nos mercados de Minas, Rio, Distrito Federal e interior de So Paulo.","A empresa Produtos Pirata Indstria e Comrcio Ltda. , sediada em Contagem-MG , dona de 65% do mercado mineiro de temperos , espera este ano um crescimento de produtividade significativo nas reas comercial e industrial. Segundo a diretoria, isso ser resultado da adeso da empresa ao Programa Sebrae de Qualidade Total. A coordenadora do programa de qualidade reconhece que ainda no possvel calcular os inevitveis ganhos financeiros , e que os benefcios mais palpveis aparecem na organizao e na limpeza da fbrica , alm da melhoria da relao entre as pessoas e da clareza de informaes , com resultados evidentes na satisfao de funcionrios e clientes. A eliminao de desperdcio , quer no refeitrio da empresa, quer na linha de produo j bastante significativo. A expectativa de resultados imediatos, segundo a coordenadora, um dos erros de empresrios que adotam o programa. At porque o investimento na educao e mudana de mentalidade do funcionrio , apesar de rendoso, tem um prazo de gestao. E forosamente deve haver , tambm, mudanas radicais nos membros da diretoria. A maior participao dos funcionrios na gesto da empresa torna-os mais exigentes , por exemplo, exigiram a implantao de algum tipo de lazer na hora do almoo. Apesar do custo, o retorno vem na satisfao deles, que trabalham melhor e produzem mais. Os resultados com a qualidade do produto s podem significar lucro. " po96jl02-a,"MACEI - Zlia Maciel, prima de Susana Marcolino, mudou ontem o seu depoimento sobre a compra do revlver que teria sido usado no assassinato de Paulo Csar Farias. Esta a terceira vez que Zlia muda o seu depoimento, que continua recheado de contradies. Agora, ela diz que a prima, no dia 14 de junho, fez um teste de gravidez pela manh, antes de passar por dois lugares para tentar comprar uma arma. Num desses lugares, Susana tambm fez tiro ao alvo e, agora, Zlia diz ter ouvido os disparos. Outra novidade: Zlia diz que o resultado do teste de gravidez, feito no mesmo dia, foi positivo. Para sustentar o novo depoimento, Zlia apresentou ao delegado Ccero Torres uma lista com cinco novas testemunhas. As testemunhas, porm, s confirmam parte de seu depoimento. Alguns detalhes, como horrios e a motivao para a compra da arma, so conflitantes. A informao de que Susana estaria grvida foi rebatida pelo diretor do Instituto Mdico Legal de Macei, Marcos Peixoto. Gravidez - Marcos fez a autpsia dos corpos de PC Farias e Susana e tambm o mdico responsvel pelo laboratrio do Hospital do Sesi, onde o exame de gravidez foi feito. Eu fiz a autpsia. Susana no estava grvida e no tinha feito aborto recentemente, afirmou. O hospital encaminhou o resultado do teste para a polcia. O advogado de Zlia, Roberto Marques, disse que sua cliente decidiu falar tudo o que sabia, depois de uma conversa com ele no domingo. Segundo Roberto, Zlia omitiu alguns detalhes, na primeira verso, para no prejudicar parentes e amigos. Zlia contou que a arma foi vista na bolsa de Susana, no salo de beleza Liui's, no dia 17. A dona do salo, Rosa Maria, nega ter visto. Confirma que Susana disse ter comprado um revlver e que fazia curso de tiro. Hoje, o delegado Ccero Torres dever convocar Zlia e Mnica Calheiros - que vendeu a arma para Susana - para uma acareao. O primeiro depoimento das duas era conflitante. Mnica sustentava que Susana fez tiro ao alvo nos fundos da Churrascaria Casaro, onde foi feita a transao. Zlia disse que no ouviu os disparos. Agora, diz ter ouvido. De acordo com o novo depoimento, Susana acordou bem cedo, no dia 14. Estava determinada a comprar uma arma, que seria dada de presente sua me, Maria Auxiliadora. Saiu com Zlia s 7h. Depois do teste de gravidez, procurou o amigo Adelmo, que tinha uma arma. No o encontrou. Susana, ento, resolveu pedir ajuda de outro amigo, Josias Teixeira Santos, supervisor de vendas da Importadora Veculos. Segundo Zlia, a revenda seria de PC Farias. Conselho - Josias disse que Susana deveria ir a uma loja para adquirir a arma e as levou para a Colt 45. Estava acompanhado de um amigo identificado apenas por Joaquim. Susana no comprou a arma, segundo Zlia, mas comprou munio. De l, foram para um stio no bairro de Benedito Bentz - subrbio de Macei -, para testar a arma de Adelmo. Estava chovendo, e Zlia ficou no carro. Susana fez teste de tiro e no gostou da arma. De l, ligaram para Mnica Calheiros que, em 15 minutos, retornou a ligao dizendo que tinha uma arma para vender. Pela verso de Zlia, elas chegaram em Atalaia por volta das 17h. S depois de efetuar o pagamento que Susana pediu para testar o revlver. Mnica apontou para os fundos da churrascaria. Minha cliente ouviu os disparos, disse o advogado Roberto Marques. Susana e Zlia voltaram para Macei por volta das 18h. Foram ento ao salo Liui's, no bairro do Farol. Quanto ao teste de gravidez, Zlia no teve acesso ao resultado. Disse que, na semana que antecedeu a morte de Susana, a prima recebeu um telefonema de sua mdica confirmando o resultado positivo. Zlia disse que Susana no esboou reao nem disse o nome do pai da criana, afirmou o advogado. Segundo os Farias, Paulo Csar era vasectomisado.","A prima de Susana Marcolino, Zlia Maciel, prestou ontem o terceiro depoimento sobre a compra do revlver com que P.C.Farias teria sido morto. Como os anteriores, foi um depoimento cheio de contradies. Acrescentou tambm que, antes da compra, Susana fez um teste de gravidez, cujo resultado, segundo ela, foi positivo. As cinco novas testemunhas apresentadas por Zlia ao delegado s confirmaram parte do depoimento dela. Horrio, motivao da compra no bateram. Tambm o depoimento do mdico legista negando que tivesse sido positivo o teste de gravidez contradiz a informao de Zlia. O advogado dela , Roberto Marques, disse que sua cliente tinha omitido alguns detalhes em depoimentos anteriores para no prejudicar parentes e amigos. Tambm, no primeiro depoimento, houve contradio entre Zlia e Mnica Calheiros, que vendeu a arma para Susana. Neste terceiro depoimento, Zlia detalhou informaes sobre a finalidade da arma, sobre quem vendeu, horrio e percurso realizado. No primeiro depoimento negou ter ouvido os tiros dados por Susana para testar a arma; agora, afirma que ouviu. A novidade sobre o teste de gravidez positivo que , segundo os Farias, P.C. Farias era vasectomizado " po96fe13-a,"BRASLIA - Insatisfeitos com a falta de assistncia mdica em suas aldeias, lderes de ndios xavantes de Mato Grosso invadiram ontem a sede da Fundao Nacional do ndio (Funai) e mantiveram o presidente da entidade, Mrcio Santilli, o vice-presidente Jorge Pozzogon e dois diretores como refns por quase uma hora. Armados com lanas, bodoques e pintados para guerra, os ndios passaram uma descompostura em Santilli, que foi agarrado pelos braos e levado para a garagem da Funai. Com os corpos pintados em vermelho e preto, os xavantes que estavam na sala de espera do presidente da Funai, to logo conseguiram entrar no gabinete comearam a cercar Santilli. Dois deles seguraram o presidente da Funai pelos braos. Santilli tentou dissuadi-los, dizendo que era melhor conversar. Os ndios no ligaram. Para no sair arrastado, no ousou reagir. Na garagem do prdio da Funai, ouviu o sermo dos xavantes. Sua administrao pobre. Sua administrao suja, insultou um dos caciques, com o dedo na cara de Santilli. Em momentos de maior irritao, o cacique chegou a empurrar o rosto do presidente da Funai. Impassvel, Santilli ouviu a bronca dos xavantes. Um cacique mais idoso gritou com o presidente da Funai. Os xavantes no aceitam a nova poltica da Funai de s liberar recursos para projetos auto-sustentveis, rompendo com a poltica assistencialista. A populao dos xavantes soma quase 8 mil ndios, divididos em 80 aldeias no estado de Mato Grosso. Atravs de projetos um nmero maior de ndios ser beneficiado e no apenas as tribos cujos caciques tm acesso a Braslia, disse o presidente da Funai, que marcou para hoje uma reunio com os caciques xavantes para discutir projetos para a rea. A inteno da Funai desenvolver projetos de subsistncia nas aldeias para tornar possvel a independncia financeira dos ndios. Os ndios escolhem os projetos e a Funai viabiliza com recursos e assistncia tcnica, disse Santilli. Segundo ele, a Funai no tem recursos para manter uma poltica paternalista. Se abrir um precedente, todos os outros ndios vo querer, disse. Baguna - Apesar do clima tenso, Santilli no cedeu s presses dos caciques. Irritado, o presidente da Funai disse que a mobilizao dos xavantes foi insuflada por ex-funcionrios da fundao que esto descontentes com a atual administrao. A situao dos ndios difcil, mas, com baguna, vocs no vo conseguir nada. Vocs querem conversar ou desmoralizar o presidente da Funai?, perguntou aos ndios. A negociao com os ndios foi feita pelo diretor de Patrimnio Indgena, Odenir Oliveira, tambm feito refm, que falou na lngua dos xavantes e conseguiu convenc-los a sentar para conversar. Santilli ainda argumentou que faltavam recursos para garantir assistncia mdica. Com discurso burocrtico, chegou a dizer que o Oramento Geral da Unio ainda no tinha sido votado pelo Congresso. Isso s deve acontecer em maro, justificou Santilli. Sem muita convico, um dos caciques ps fim conversa. Ento, amanh (hoje), vamos vir aqui s oito para comear as negociaes, disse em tom grave o cacique, pouco depois de liberar Santilli.","Em protesto contra a falta de assistncia mdica, lderes de xavantes de Mato Grosso invadiram a sede da Funai e mantiveram como refns ,por quase uma hora, o presidente , Mrcio Santilli, o vice e dois diretores. Estavam armados, pintados para guerra e com cara de poucos amigos. Agarraram Santilli e o levaram garagem da Funai. Passaram-lhe uma descompostura , desqualificando sua administrao. Um cacique empurrou seu rosto e um outro gritou com ele. Os xavantes no aceitam a poltica de liberao de verbas s para projetos auto-sustentveis, como quer a administrao de Santilli. O presidente marcou com eles uma reunio para mostrar que no h verba para assistencialismo e explicar que recursos para projetos auto-sustentveis aproveitam a muito mais ndios . Apesar do clima, Santilli no cedeu s presses e atribuiu a mobilizao a ex-funcionrios da fundao que no compartilham com administrao. O diretor do Patrimnio Indgena , Odenir Oliveira, foi quem intermediou a conversao falando na lngua dos xavantes. Santilli procurou explicar-lhes como e quando o Oramento da Unio liberava verbas. " br94de04-14,"De rabo preso com o leitor MARCELO LEITE Nos dois prximos domingos, a Folha dar duas passadas largas na corrida dos fascculos, com o lanamento de Conhecer por Dentro e 500 Receitas. A notcia foi estampada nos 1.461.431 exemplares do dia 27 passado, mas o texto no explicava que um passo ser maior do que o outro, o que muita gente vai enxergar como uma mancada: metade dos leitores no vai sentir nem o cheiro das 500 Receitas. Esta coleo ser encartada na Revista da Folha, que s circula na Grande So Paulo, no litoral paulista e em oito capitais: Rio de Janeiro, Braslia, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife e Fortaleza. Isto corresponde a uma tiragem de 960 mil exemplares. Os fascculos culinrios sero no entanto encartados apenas nos exemplares da revista destinados Grande So Paulo. Litoral e as oito capitais ficaro de fora alm, claro, de assinantes e compradores que nunca receberam a revista. Por exemplo, no interior do Estado. Nas ltimas duas semanas, depois que comearam a sair na Folha anncios sobre o lanamento, sete leitores j ligaram ou escreveram ao ombudsman para protestar contra o que consideram com razo uma discriminao. O motivo para afrontar centenas de milhares de leitores o previsvel: custos. No sou ombudsman de toda a empresa, somente da Redao da Folha, portanto no me compete examinar essa intrigante deciso empresarial. Ocorre que os fascculos so tambm propagandeados como uma forma de adensar o valor do produto jornal. Ou seja, obras como o Atlas Folha/The New York Times e o dicionrio Folha/Aurlio agregariam a ele bens culturais similares, no qualquer brindezinho para aumentar a circulao. Deste ngulo, a pergunta que se impe : o que justifica melhorar o produto somente para uma parte da clientela? Confesso que no sei a resposta, mas a Folha ter de oferec-las a seus leitores mais cedo ou mais tarde. Caso contrrio, estar correndo o risco para o qual alertei na coluna de 16 de outubro (em que foi comentado o desastre com papel de imprensa na edio dominical anterior). A saber, o de que fascculos terminem sendo vistos por muitos leitores como uma fonte de problemas e no de satisfao. No foi porm o nico caso de transtorno envolvendo a revista. O reparte discriminatrio da coleo 500 Receitas representou algo como uma ofensa acrescida ao golpe, como entenderam muitos leitores. A Revista da Folha dividiu-se a 16 de outubro em duas edies, So Paulo e Nacional. Foi a soluo encontrada para manter passo com o salto de tiragem do jornal: amputar todas as pginas de roteiro bares, restaurantes etc. dos exemplares enviados para fora do municpio de So Paulo. No dia de hoje, isto representa uma diferena de 80 pginas (32 na Nacional e 112 na So Paulo, um recorde favorecido pela proximidade do Natal). Ao mesmo tempo, a revista passava a circular nas capitais mencionadas. Por outro lado, todos os leitores que j recebiam a revista fora da cidade de So Paulo passaram a ficar sem o roteiro. Neste caso, tambm, a deciso igualmente polmica foi condicionada pela necessidade de conter o consumo de papel. No h outra explicao plausvel. Parece bvio que os moradores do ABCD, Alphaville ou Granja Viana no deixaram da noite para o dia de ser consumidores dos bens e servios paulistanos relacionados no roteiro. Os leitores, como no poderia deixar de ser, reagiram com indignao. Um deles disse que se sentia trado. S nas ltimas duas semanas foram sete reclamaes ao ombudsman, a maioria ponderando que tinha assinado a Folha com uma outra revista. Uma questo, portanto, de direito adquirido. No meu entender, esto cobertos de razo. Para essas pessoas, tenho certeza, a eleio de um novo slogan para o jornal proposta em anncios na prpria Folha deve soar como uma piada de mau gosto. Afinal, todas as trs opes grandiloquentes oferecidas no combinam com o tratamento que vm recebendo: O maior jornal do Hemisfrio; O 3 maior jornal das Amricas; O 3 maior jornal do Ocidente. Se lhes fosse concedida uma chance real de escolha, acredito que prefeririam frmulas de sabor mais antigo, como Um bom jornal todos os dias, ou De rabo preso com o leitor. Uma queixa comum entre leitores que procuram o ombudsman se refere quantidade de anncios do jornal, que na sua opinio tomam espao de reportagens e notcias. Com a crise de fornecimento de papel enfrentada pela Folha em outubro e o consequente enxugamento drstico do jornal, as reclamaes desse teor aumentaram sensivelmente. Pedi Secretaria de Redao alguns nmeros para poder discutir esse ponto mais objetivamente com os leitores. Recebi uma resposta at certo ponto surpreendente: at final de outubro, a participao percentual da Redao no espao total da Folha em 1994 era de 53,93%. Em outras palavras, a parte do leo. Para comparao, os dados de dois dirios de grande prestgio nos Estados Unidos: The New York Times, 55%; Los Angeles Times, 54%. Naturalmente, esse percentual sofre grande oscilao sazonal. Em janeiro, ms fraco para publicidade, alcanou 60,96% (na Folha). Flutuou entre 52% e 58% at julho (58,10%), o ms do Plano Real, quando comeou a cair, at bater em 47,91% em outubro. Ou seja, seis pontos percentuais abaixo da mdia acumulada no ano. No estavam portanto de todo enganados os leitores que viram no estrondoso aumento de tiragem a partir de agosto (leia-se: fascculos) a causa da diminuio relativa da quantidade de informaes jornalsticas na Folha. Esta coluna traz hoje (veja quadro) meu primeiro balancete como ombudsman. Pretendo apresentar essas informaes numricas de dois em dois meses e no mensalmente, como faziam meus antecessores. A idia da mudana tentar contrabalanar um pouco o efeito de certas sazonalidades, como diriam economistas eventos como a troca de ombudsman e feriados de Natal, por exemplo. Da data em que assumi o posto, em 28 de setembro, at 28 de novembro, foram 1.483 leitores atendidos. Neste caso, quantidade no certamente qualidade: reclamaes demais significam que o jornal est com problemas e que o ombudsman ter menos tempo para examinar a queixa de cada leitor (30 por dia til). H tambm embutida nessa cifra uma distoro importante: cerca de um tero das reclamaes a rigor no deveriam ser dirigidas ao ombudsman. Trata-se das 477 queixas relacionadas com problemas de assinaturas, como falha na entrega de jornais, atraso no envio de brindes etc. Por seu carter mais administrativo do que jornalstico, essas questes teriam de ser resolvidas pelo Servio de Atendimento ao Assinante (SAA). Como este andou sobrecarregado, em funo do vertiginoso aumento de tiragem, ocorreu o desvio inevitvel de funo. Com a recente ampliao desse servio, a expectativa de que o ombudsman possa dedicar-se mais a seu verdadeiro papel: zelar pela preciso, equidade e qualidade do noticirio."," O artigo do ombudsman da Folha de S.Paulo, Marcelo Coelho, questiona a forma como o jornal far a distribuio dos fascculos Conhecer por Dentro e 500 Receitas. A coleo ser encartada na Revista da Folha, que s circula na Grande So Paulo , no litoral paulista e em oito capitais: Rio de Janeiro, Braslia, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba , Salvador, Recife e Fortaleza. No entanto, os fascculos culinrios s sero distribudos na Grande So Paulo. Os leitores reclamaram , com justia: o anncio dos dois lanamentos apareceu em todos os jornais , o que os levou a pensar que receberiam. Nem todos receberam o primeiro e , menos ainda, o segundo fascculo. Os custos , durante o incio do Plano Real, foram o motivo. Mas o ombudsman concorda com o protesto dos leitores. Embora confessando que essa sua funo no se estende a toda a empresa, somente Redao da Folha, estranha a deciso da empresa. Afinal , ---argumenta eleo lanamento agrega um valor cultural ao jornal, que no estaria sendo distribudo com justia. Mesmo sem saber a desculpa a ser dada pela Folha, est convencido de isso tem que acontecer, para que tais lanamentos no sejam vistos como motivo de dor de cabea. Na mesma linha de reduo de custos, a Revista da Folha foi dividida , em 16 de outubro, em duas edies: So Paulo e Nacional. Somente as distribudas em So Paulo vinham com o roteiro de bares, restaurantes, etc. Ao mesmo tempo, a revista passava a circular nas capitais j referidas. Os leitores que a recebiam fora da cidade de So Paulo, ficariam sem o roteiro. Numa linha de concordncia total com a indignao dos leitores, o ombudsman diz que a proposta de um novo slogan para o jornal ---O maior jornal do Hemisfrio, O 3 maior das Amricas, O 3 maior jornal do Ocidente --- soaria, a partir de ento, como uma piada. Entre as queixas dos leitores, est o excesso de anncios , em detrimento das reportagens e notcias. E cresceram mais, com a crise de fornecimento de papel em outubro e o conseqente enxugamento do jornal. Dados obtidos pelo ombudsman mostram que a participao da Redao oscilou de 53,93% a 47,91%. S alcanou 60,96% num ms fraco de publicidade (janeiro).O fato de , a partir de agosto(ms do lanamento dos fascculos), a tiragem do jornal ter dado um salto mostra que os leitores discriminados por no receb-los tinham razo. O jornal estava ficando com a parte do leo. " co94jl31-08,"Ministrio Pblico,CPI e reviso WAGNER GONALVES comum hoje ouvir ataques ao Ministrio Pblico Federal (MPF), como se fosse ele o responsvel por todos os males do funcionamento da Justia. Falam que a instituio criou expectativas enormes junto sociedade e que nada fez. Outros, de m-f, com argumentos dirigidos, atacam a pessoa do procurador-geral sob alegao de atraso na denncia dos membros da mfia do Oramento. Recentemente, o deputado Jos Thomz Non aproveitou para mencionar que no foi solicitado, pelo MPF, sequer a documentao dos processos que levaram deputados cassao. Essa argumentao orquestrada parte, na realidade, daqueles que se sentem de uma maneira ou de outra incomodados com a atuao do MPF. Na reviso, isso ficou evidente, quando, sob o argumento de o Ministrio Pblico ter muitos poderes, pretendeu-se desfigur-lo, transformando o cargo de procurador-geral em funo de confiana do presidente da Repblica, acabando com a exclusividade da ao penal (que segurana para o cidado e obrigao do Estado), e, enfim, extinguindo funes fundamentais do parquet (suprimindo os arts. 127 e 129 da Constituio), para deix-lo como mero fiscal da lei, sem poder de provocar o Estado-juiz, como autor da ao civil pblica. Com a Constituio de 1988, os membros do Ministrio Pblico tm o direito de agir. Entretanto, esto longe de terem os instrumentos e o poder real imprescindveis a essa ao. O procurador ou promotor de Justia no expede mandado de priso, no suspende ato administrativo; tem suas aes fiscalizadas e dependentes do Poder Judicirio, no inquire diretamente a testemunha em audincia, no dirige o inqurito policial, as investigaes criminais ou a polcia judiciria. Os inquritos so dirigidos pelos delegados, que fazem o que querem. Apesar de o Brasil ter mais da metade da populao dos EUA, h somente 320 procuradores da Repblica, que atuam nos juzos federais, nos tribunais regionais federais, no STJ (Supremo Tribunal de Justia) e no STF (Supremo Tribunal Federal). Enquanto naquele pas h mais de 8.000 procuradores federais, sendo que, s em Washington, esto sediados 400 procuradores especiais federais, que auxiliam os demais, lotados nos distritos. Quanto questo da chamada mfia do Oramento, fundamental que se conhea a verdade dos fatos. Ao contrrio do que ocorreu na CPI do PC Farias, que enviou os documentos de uma s vez, rpida e organizadamente, a CPI do Oramento enviou Procuradoria Geral documentao insuficiente, falha, desorganizada, parcelada e sem um mnimo de sistematizao. Ao contrrio do que disse o presidente da Comisso de Constituio e Justia, no dia 17 de maro o procurador-geral Aristides Junqueira solicitou, atravs de ofcios, todos os documentos (defesas e informaes) de todos os parlamentares citados no relatrio final da CPI. Sobre a afirmativa de que o MPF no ofereceu denncia contra os parlamentares, tambm necessrio esclarecer o seguinte: uma coisa cassar por falta de decoro parlamentar, outra denunciar criminalmente um parlamentar. A documentao que suficiente para cassar um mandato no necessariamente suficiente para o oferecimento da denncia penal. No caso da ao penal, no se trata de saber do decoro stritu sensu, mas da tipicidade do delito, que envolve a existncia da prova material do fato. Alm da documentao fornecida pela CPI ter as caractersticas acima descritas, outras investigaes tm de ser feitas (muitas j esto sendo realizadas), de modo a se ter com clareza o fato delituoso, com a apurao dos prejuzos para o poder pblico. Isso requer tempo e muito cuidado para que a ao penal seja proposta adequadamente e reduza as possibilidades de o acusado vir a ser absolvido. Alis, a absolvio causar mais estranheza e desconforto populao do que a demora no oferecimento da denncia. E a absolvio ser utilizada pelos mesmos acusadores de hoje para atacar o Ministrio Pblico Federal, taxando-o, inclusive, de precipitado. WAGNER GONALVES, 47, procurador da Repblica e presidente da Associao Nacional dos Procuradores da Repblica.","Ministrio Pblico, CPI e reviso WAGNER GONALVES O Ministrio Pblico Federal (MPF) recebe ataques to freqentes que se tem a impresso de ser o culpado pelos males de funcionamento da Justia.Acusam-no de criar excesso de expectativas diante da sociedade. Outros alegam que o procurador-geral est atrasado na denncia aos membros da mfia do Oramento. O deputado Jose Thomaz Non disse que nem foi solicitada a documentao dos processos que cassaram os deputados. Parece que esto incomodados com a sua atuao. Na reviso , isso ficou claro com a transformao do cargo de procurador-geral em assessoria de confiana do presidente da Repblica. Com a Constituio de 1988, os membros do MPF obtiveram o direito de agir, mas lhes faltam os instrumentos e o poder real para tanto. E mais, apesar de ter acima da metade da populao norte-americana, o Brasil s tem 320 procuradores da Repblica, enquanto os EUA tm 8.000 federais. Quanto mfia do Oramento, ao contrrio do ocorrido na CPI do PC Farias, que enviou os documentos todos, rpida e organizadamente, a CPI do Oramento o fez precariamente. Ao contrrio da acusao do presidente da Comisso de Constituio e Justia, o procurador-geral Aristides Junqueira solicitou os documentos de todos os parlamentares envolvidos. E se no ofereceu denncia contra eles porque a documentao exigida para a cassao no a mesma para a denncia penal. Neste caso, a precauo para evitar que o acusado seja absolvido." op94ag14-b,"Em 1990, os gastos em sade alcanaram a fantstica cifra de US$ 666 bilhes. S o governo gastou US$ 280 bilhes. Nos ltimos 20 anos, o dispndio nessa rea teve um crescimento anual de 13%. A continuar nessa marcha, dentro de meio sculo o PIB todo ser gasto com sade. Esses nmeros se referem aos Estados Unidos. isso mesmo: os americanos gastam 12% do seu PIB em sade. So os campees. O Canad gasta 8,5%; a Alemanha, 8,2%; o Japo, a Austrlia e a Itlia, 7%; a Inglaterra, 6%. E o Brasil, apenas 2% de um PIB bem menor. Isso irrisrio. Afinal, a sade custa caro em qualquer parte do mundo. Nos Estados Unidos, o tratamento que simplesmente prolonga a vida de um aidtico custa US$ 85 mil. S a Aids consumiu US$ 12 bilhes em 1992 ou seja, 50% mais do que o Brasil gastou com todas as doenas. A Inglaterra, que tem 55 milhes de habitantes, gasta US$ 51 bilhes. Ns que temos 150 milhes de habitantes gastamos US$ 8 bilhes. No a Inglaterra que gasta demais; o Brasil que gasta de menos. E gasta mal. Mesmo com o seu enorme gasto, a Inglaterra tem muitos problemas. A fila para internao hospitalar chega a 800 mil pessoas! Os doentes que tm mais de 75 anos so a ltima prioridade. H 15 mil ingleses precisando de ponte safena; 13 mil necessitando quimioterapia; 9.000 dependendo de uma prtese femural todos eles com poucas chances de atendimento. Parece incrvel, mas verdade. A hipertenso, na Inglaterra, s passa a merecer a ateno dos mdicos quando a mnima chega a dez sabendo-se que o limite nove. A concluso a que se chega a partir de todos esses nmeros que, mesmo onde h muitos recursos, a obedincia regra da prioridade essencial. Sade custa caro. No Brasil, um doente internado custa, em mdia, R$ 150,00 por dia, mas o Inamps paga apenas R$ 3,50. Sim, trs reais e cinquenta centavos! impensvel pretender tratar de todos os que precisam nessa base. Esse o preo de um sanduche no bar da esquina. Se, na Inglaterra, com tantos recursos, obedecem-se as prioridades, o que dizer do Brasil que paga US$ 3,50 por uma diria de hospital? No toa que diminui a cada dia o nmero de hospitais conveniados com o Inamps. Alguns simplesmente encerram suas atividades, reduzindo ainda mais a j precria oferta de vagas. Esse foi o caso lamentvel do Hospital Humberto Primo em So Paulo, h longos anos mantido pela operosa colnia italiana e que, em 1992, se viu na contingncia de fechar as suas portas. Tenho certeza de que a garra e a criatividade dos italianos faro reabrir aquele importante hospital. Seria um passo de extrema importncia para a sade pblica do Brasil. Mas isso no dispensa o alerta para que o governo ponha suas contas em ordem para pagar uma diria decente e, sobretudo, pagar em dia. Sem isso, o Brasil ser transformado no maior acampamento de doentes da face da terra. A sade como o cometa: o tema aparece a cada quatro anos na boca de todos os candidatos. Mas na base da pura demagogia eleitoral. Est mais do que provado que, at hoje, ela nunca foi levada srio.","A comparao entre Brasil e pases do Primeiro Mundo quanto a gastos com sade mostra uma disparidade enorme. Tomando como referncia 1990, os EUA gastam 12% do seu PIB com sade; O Canad , 8,5%; a Alemanha, 8,2%; o Japo, a Austrlia e a Itlia, 7%; a Inglaterra, 6%; e o Brasil, 2%. E sade custa caro em todo mundo. A relao gasto/habitante desfavorece muito o Brasil. A Inglaterra, por exemplo, tem 55 milhes de habitantes e gasta U$51 bilhes; o Brasil tem 150 milhes de habitantes e gasta U$ 8 bilhes. E mesmo l existe fila e prioridades de atendimento. No Brasil , o custo/dia por doente de R$150,00, mas o Inamps paga s R$3,50. No toa que os hospitais conveniados fujam e que alguns encerrem as atividades, como o caso do Hospital Humberto Primo em So Paulo. O tema sade recorrente a cada quatro anos entre candidatos. Mas fica na palavra." mu94ag28-27,"Caso insignificante pode arruinar Clinton Whitewater no Watergate, mas o presidente norte-americano no cumpre sua promessa de uma Nova Era CARL BERNSTEIN Se algum duvida que o auto-interesse, e no o interesse nacional, a moeda corrente em Washington, o caso Whitewater fornece ampla confirmao. a culminao de um quarto de sculo de hipocrisia, mentiras e poses por parte de presidentes, imprensa e escritores de aluguel. Desta vez, o resultado pode ser trgico: tomar uma srie de questes aparentemente insignificantes que deveriam ter sido decididas na campanha eleitoral de 1992 e transform-las na diminuio e talvez runa da primeira Presidncia em uma gerao que trata com seriedade os problemas nacionais. Quanto ao caso Whitewater, eu li demais sobre o assunto e no aprendi o bastante para compensar o esforo gasto. Mas, a menos que surja toda uma nova conspirao descoberta pelos esforos do promotor especial, do Congresso ou da imprensa, Whitewater no Watergate ou qualquer coisa que se assemelhe. Bill Clinton no abusou de sua autoridade presidencial, como fez Richard Nixon e at mesmo Ronald Reagan. Ele no fomentou esquemas ilegais ou inconstitucionais para atingir seus objetivos polticos, a julgar pelos fatos revelados at agora. Mas a distino pode tornar-se insignificante na atual atmosfera de partidarismo fantico e estardalhao de mdia. O fato mais importante conhecido at hoje sobre o caso Whitewater que aconteceu 15 anos atrs. O presidente Clinton est sendo julgado pelos seus padres ticos quando governador. Alm do mais, sua atuao est sendo considerada deficiente por membros de uma classe poltica no Congresso que, em muitos casos, alimentou-se das mesmas fontes estaduais de favorecimento que Clinton usou. Mas foi a falta de franqueza de Bill e Hillary Rodham Clinton que garantiu que essa histria srdida prosseguisse indefinidamente. As audincias no Congresso comearam em 26 de julho passado; o promotor especial vai ter trabalho por pelo menos mais um ano. As liberdades que os Clintons tomaram para com a verdade garantiram que o Congresso e a imprensa se mantivessem nos caminhos previsveis. Eles rumam para um problema de credibilidade que, no pas de talk-shows, pode atingir propores dignas de Nixon ou Lyndon Johnson. O pior que, diferente de Reagan, que tinha seus problemas com a verdade, Clinton agora visto como um lder menos que forte. O caso bem diferente das obstrues Justia praticadas por Nixon, ou do encobrimento do caso Ir-Contras. Se Clinton conspirou com seus auxiliares para mentir a grandes jris (que decidem pelo indiciamento ou no dos acusados) ou pagar colegas pelo seu silncio (como fez Nixon), a imprensa no descobriu provas. Mas os Clintons e sua Presidncia tm um nus especial a carregar. Vieram a Washington no trem das mudanas e reformas polticas. E de fato trouxeram mudanas significativas para o pntano de inrcia e indiferena da capital. Mas impossvel conseguir reforma poltica genuna enquanto se praticam os mesmos velhos truques, sem trazer novos valores a Washington. Essa foi a promessa do governo Clinton: que a brisa da verdade sopraria atravs da negao e patologia a respeito das dificuldades dos EUA. A nova poltica estaria baseada na realidade. Para isso acontecer o presidente no poderia contar a verdade apenas em tempo parcial. Teria que romper o padro de fraude que, por uma gerao, deu forma ao que passa por debate poltico em Washington: um padro sob o qual poses passam por princpios, processos so mais valorizados que polticas e os mais urgentes negcios nacionais so descuidados. Assim, para que a Presidncia de Clinton obtivesse sucesso nos termos em que ele aspirava ao cargo honestidade sobre os nossos problemas e os meios disponveis para resolv-los, a comear da sade econmica do pas, um novo padro de franqueza presidencial precisaria ser estabelecido, especialmente depois das falsidades de Lyndon Johnson sobre o Vietn, Nixon sobre Watergate, e das explicaes canhestras dadas por Ronald Reagan e George Bush sobre o caso Ir-Contras e o fornecimento de armas ao Iraque. O dilema da campanha de 1992 foi sempre o fato de Clinton nos ter prometido a verdade, e termos comprado a promessa porque ele contou a verdade sobre quase tudo, exceto ele mesmo. Clinton estava certo em seu julgamento de que o povo se preocupava mais com o servio de sade do que com as acusaes que lhe foram dirigidas por Gennifer Flowers. Mas estava errado ao acreditar que a maioria das pessoas aceitava suas respostas autocomplacentes sobre algumas questes pessoais duras surgidas na campanha; e continua errado ao supor que as pessoas aceitam suas torturadas explicaes sobre mercados futuros de gado e o lobby do frango. Vamos encarar os fatos: os Clintons embolsaram algum no Arkansas. hora de admiti-lo; de reconhecer os gritantes conflitos de interesse, e qualquer outra impropriedade que possa ter havido. Clinton concorreu Presidncia sob a bandeira de uma Nova Era: a coragem de mudar. A dificuldade que Clinton prometeu, implicitamente, no s mudana para o pas, mas mudana pessoal. Talvez seja essa sua vulnerabilidade poltica no caso Whitewater: ele parece no ter mudado. O fato de que verdades deixaram de ser ditas, de que lhe falta franqueza, aquilo que, na campanha eleitoral, tornou-se conhecido como a questo do carter, so agora parte de sua Presidncia. Surpreendentemente, a questo da franqueza e carter estende-se agora a Hillary Clinton. Pior, as respostas do governo s suas substanciais falhas e inconsistncias, s diferenas entre princpio e prtica da Bsnia ao Haiti, passaram a ser descritas na mesma espcie de contexto defensivo e apenas semiverossmil que marca o caso Whitewater. A Presidncia de Clinton corre o risco de marginalizao. Ele deixou de ocupar o terreno politicamente mais vantajoso ainda que os fatos e a opinio pblica continuem do seu lado. Hoje, Clinton uma presena muito menos inspiradora na vida mental do pas do que nos dias que se seguiram sua eleio ou ao seu primoroso discurso sobre o Estado da Unio mesmo que a sua eloquncia e ousadia em confrontar alguns dos verdadeiros problemas da sociedade civil se tenham tornado mais aparentes. Suas explicaes sobre as inconsistncias entre sua retrica de campanha e as polticas que adotou sobre homossexuais nas Foras Armadas, o abandono de pessoas que indicou para o governo quando encontraram problemas, sua hesitao sobre a reforma do sistema de financiamento de campanhas eleitorais, tudo se encaixa no padro das respostas dos Clintons ao caso Whitewater. Os problemas de Clinton com a imprensa, o Congresso e o povo devem-se percepo cada vez mais generalizada de que os americanos correm o risco de voltar aos velhos tempos. Escrevo isso sem deixar de acreditar no potencial de Clinton como presidente. Ele alterou os termos do debate. o mais bem informado presidente de nossa era. Clinton articulado, e claramente aprecia seu trabalho. Tem os instintos polticos necessrios a um grande lder. Alm disso, est vencendo: seu programa econmico bsico est sendo implementado. Um certo grau de reforma do sistema de sade ser obtido. Ele fala com sensatez e compaixo sobre crime, valores familiares e questes raciais. Foi eleito para mudar o pas e a forma pela qual as coisas so feitas em Washington, e sua agenda continua a refletir essa promessa. Mas tudo isso pode desaparecer junto com os escombros da Whitewater. Se Clinton sucumbir quela parte dele que procura fugir verdade, parte que fuma mas no traga, ele est acabado. Se pensa que a lio de sua campanha eleitoral a de que foi ajudado pelos equvocos, a de que errou e escapou quanto ao alistamento militar, quanto sua vida pessoal, ele est cortejando o desastre. A imprensa inevitavelmente far disso a questo central de sua Presidncia no importa que programas ou realizaes substanciais tenham sido conduzidos. Clinton est sob o assdio de inimigos partidrios e jornalistas irresponsveis desde que assumiu o cargo. Com alguma justificativa, ele despreza a imprensa. Mas os jornalistas estariam mais interessados na verdade se ela no exigisse ateno ao contexto. Da a cobertura exagerada e distorcida do caso Whitewater. Mas as questes legtimas suscitadas por algumas reportagens merecem respostas honestas e rpidas. E at agora no foram dadas. Ao eleger Clinton, o pas reuniu a coragem para mudar que ele pediu. Agora, Clinton deve reunir a mesma coragem. O destino de sua Presidncia pode estar em jogo. CARL BERNSTEIN, co-autor das reportagens que desvendaram o caso Watergate (descritas em Todos os Homens do Presidente), escreveu, mais recentemente, Loyalties: A Son's Memoir e trabalha agora em um livro sobre o papa Joo Paulo 2. Copyright Los Angeles Times Syndicate International. Traduo de Paulo Migliacci","Caso insignificante pode arruinar Clinton Whitewater no Watergate , mas o presidente norte-americano no cumpre sua promessa de uma Nova Era CARL BERNSTEIN Caso algum duvide que o individualismo supere os interesses da nao em Washington, basta analisar o caso Whitewater. Ele confirma a predominncia, num quarto de sculo, da hipocrisia, mentiras e poses de presidentes, imprensa e escritores pagos. Tomar uma srie de questinculas que j deveriam ter sido resolvidas e transform-las em pretexto de arruinar a primeira presidncia de uma gerao interessada na soluo dos problemas nacionais pode ser trgico. Salvo se surgir uma nova conspirao descoberta pelo promotor especial, pelo Congresso ou pela imprensa. Whitewater no Watergate. Bill Clinton no abusou da autoridade presidencial, como fez Richard Nixon e at Ronald Reagan. O fato mais destacado at sobre o caso Whitewater aconteceu anos atrs , quando Clinton teria cometido deslizes como governador. A mesma classe poltica que usufruiu de vantagens naquela poca agora est julgando deficiente a sua atuao . O pior que, diferentemente de Reagan , que nem sempre falava a verdade, Clinton est sendo visto como um lder fragilizado. Se Clinton , junto com auxiliares, mentiu a grandes jris ( que decidem ou no pelo indiciamento dos acusados) ou pagou colegas pelo silncio ( como Nixon) , a imprensa no conseguiu provas. O problema que sua promessa de governo era arejar sua gesto com a aura da verdade . E para o sucesso do seu governo, deveria ser estabelecido um padro de franqueza sobre os nossos problemas e os meios de resolv-los , a comear com a sade econmica , fundamentalmente depois das inverdades de Lyndon Johnson sobre o Vietn, de Nixon sobre Watergate e das explicaes canhestras de Reagan e Bush a respeito do caso Ir-Contras e fornecimento de armas ao Iraque. Para ser verdadeiro, os Clintons surripiaram algum no Arkansas. A bandeira de uma Nova Era sob a qual Clinton concorreu presidncia estava vinculada a uma coragem de mudana inclusive pessoal , que agora ele no parece demonstrar. Por isso, sua presidncia corre o risco de marginalizar-se, ainda que os fatos e a opinio pblica continuem favorveis. Ao escrever isso, no deixo de acreditar no seu potencial como presidente. Ele modificou os termos do debate ; o mais articulado presidente dos nossos tempos e aprecia o seu trabalho. Tem os instintos polticos prprios de um grande lder . E ainda seu programa econmico bsico est sendo implementado , ao mesmo tempo que uma reformulao na sade. equilibrado ao falar sobre a questo criminal, valores familiares e problemas raciais. O perigo isso vir abaixo com os escombros da Whitewater. At porque inimigos partidrios e jornalistas irresponsveis esto na sua cola desde que assumiu o cargo. Da a cobertura exagerada do caso Whitewater. necessrio, ento, que as questes ponderadas da imprensa tenham respostas imediatas, o que no est acontecendo." op94ab21-a,"A perspectiva que se apresenta de a reviso constitucional se encerrar sem ter votado uma s questo econmica importante realmente dramtica. Dramtica porque nem sequer foi discutida a reforma do Estado, quando o diagnstico que se faz da crise brasileira aponta sempre para o anacronismo do nosso modelo (uma combinao de gigantismo com ineficincia e falncia total). Apesar desta avaliao quase que generalizada, nada se fez para reordenar o Estado brasileiro, enquanto vrios pases do mundo superaram esta barreira, inclusive os do Leste Europeu. H hoje o consenso de que preciso substituir o Estado empresrio por um Estado voltado para o social. E a reviso constitucional de hoje ainda a grande oportunidade para se adaptar o nosso Estado aos novos tempos. A reviso seria o momento para que temas importantes para o pas como os monoplios estatais, a reforma tributria e a reforma da Previdncia trs discusses inadiveis fossem abordados. Sem estas mudanas fica difcil construir um novo modelo de desenvolvimento para o pas, com uma economia mais aberta e competitiva, interna e externamente. A idia do relator da reviso constitucional era to-somente flexibilizar os monoplios, atravs de concesso de servios. Mas essa discusso nem chegou a plenrio por conta da permanente falta de acordo entre os partidos sobre a pauta das votaes. A reforma tributria, com a redistribuio de encargos entre a Unio, Estados e municpios, tambm no foi debatida. Quando todos sabem que a crise fiscal emperra qualquer projeto de desenvolvimento do pas. dramtico tambm ver passar a oportunidade de se fazer uma reforma profunda na Previdncia Social. Uma reforma estrutural, que no seja apenas uma maquiagem ou viabilizao financeira do status atual que todos sabem insustentvel a longo prazo. Sem essa verdadeira cirurgia no nosso modelo previdencirio o resultado inevitvel a presso permanente sobre o Oramento fiscal e a inviabilizao do financiamento do sistema de sade brasileiro. No Brasil, hoje, o salrio mnimo pago ao trabalhador um dos mais baixos do mundo por conta da vinculao existente com o benefcio pago aos aposentados. Qualquer proposta de elevao do salrio mnimo esbarra no caixa da Previdncia. Os nmeros so incontestveis: hoje, 14 milhes de brasileiros ganham salrio mnimo, sendo que 11 milhes pagos pela Previdncia e, dos 3 milhes restantes, muitos so pagos por municpios. A proposta de elevao dos atuais US$ 64 para US$ 100 provoca um aumento de despesa de US$ 10 bilhes, o que, segundo tcnicos do governo, inviabiliza a Previdncia Social. O Estado brasileiro precisa de uma reforma urgente e a hora agora. H que se tentar, at o ltimo instante, que prevalea o bom senso, a conscincia, de que o pas estar queimando mais uma possibilidade se no fizer j as mudanas necessrias na Constituio."," trgica a perspectiva de se encerrar a reviso constitucional sem se tratar da reforma do Estado brasileiro, visto como superdimensionado e ineficiente. Substituir o Estado-empresrio pelo Estado voltado s causas sociais tem sido consenso atualmente. A reduo dos monoplios estatais , a reforma tributria e a questo da Previdncia deveriam estar na linha de frente dos temas abordados . Redistribuir os encargos tributrios entre Unio , Estados e Municpios fundamental para a gesto de cada uma das instncias executivas. Ainda no foi discutida a questo. Tambm, reconstruir o sistema previdencirio para que no chegue insolvncia total urgente , e no foi tratado como convinha. Sem uma discusso sria, impossvel , por exemplo, elevar o nosso salrio-mnimo , que um dos mnimos em todo o mundo. " di94ja30-11,"Como estoques de alimentos apodrecem os estoques de alimentos A indstria da mentira esconde outro assalto -autorizado- contra o Tesouro. A equipe FHC vai agir? ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Milhes de toneladas de arroz, feijo, milho, ou caf apodrecendo nos armazns. Qual brasileiro no viu essa notcia nos jornais, ou imagens dramticas na TV algumas dezenas de vezes nos ltimos meses? Poucos escndalos provocam tanta indignao quanto esse, por motivos bvios: perda de comida em um pas onde h fome, ou onde a carestia brutal, etecetera e tal. Com essa carga emocional, o problema constantemente utilizado para repisar que tudo culpa do governo, os estoques so dele, a esculhambao total e por a a fora. Em resumo: o apodrecimento de colheitas tambm tem sido usado como arma na campanha de desmoralizao do Estado, no Brasil. Mais uma vez, mente-se descaradamente. A verdade exatamente o contrrio. O apodrecimento de colheitas, milhes de toneladas, o resultado da atuao dos grupos empresariais que, com a ajuda de ministros e formadores de opinio, tomaram de assalto a economia brasileira, e promovem verdadeiro saque dos bens pblicos em todas as reas inclusive alimentos. So os grupos que fingem defender a privatizao, mas o que procuram manter negcios bilionrios, s custas da classe mdia e do povo brasileiros. Neste momento em que, da boca para fora pelo menos, a equipe FHC se preocupa com o abastecimento de alimentos, as aberraes criadas na rea precisam ser relembradas e enfrentadas com providncias: Armazns Aponta-se como um escndalo que o governo tem centenas de armazns gigantescos devidamente fechados, vazios, no pas todo. Enquanto isso (e aqui o locutor treme os lbios, de indignao), paga bilhes de cruzeiros para guardar as safras em armazns particulares. Como acrescentaria o comentarista-camaleo: outra prova da desorganizao do Estado brasileiro, esse sanguessuga que sustentado pela iniciativa privada. Falta de informao, de um lado. Falta de outras coisas, de outro lado. Os armazns do governo esto vazios, mas no por incompetncia. Trata-se de deciso de poltica econmica do governo Collor, devidamente anunciada, e engolida e agora esquecida pelos formadores de opinio. Como em outras reas da economia, o governo Collor decidiu que no era a funo do governo manter armazns para guardar seus estoques de safras. Que o setor tambm deveria ser privatizado. E passou ao: retirou milhes de toneladas de cereais de seus armazns, e transferiu-os para armazns particulares. Vendeu armazns a empresrios. Tudo, deciso oficial. Transformada na tal privatizao do Estado, isto , os negcios pblicos tomados de assalto pelos grupos privados. Fraudes H muitas dcadas, existe no pas a lei de preos mnimos agrcolas, destinada a defender o produtor e o consumidor. Com ela, o governo obrigado a comprar as colheitas sempre que haja superproduo (ou mesmo manipulao) e os preos cheguem a cair abaixo de determinados nveis, arruinando o produtor. Essas colheitas formam ento os chamados estoques reguladores, que o governo deve vender em situaes opostas, isto , quando haja escassez ou manobras especulativas, que levem os preos s nuvens, prejudicando o consumidor. Esses estoques sempre foram guardados em armazns oficiais e, na falta deles, complementarmente em armazns privados. H dcadas, como previsvel, tem-se notcias de desaparecimento de estoques, devidamente roubados pelos donos dos armazns, ou desviados pelos produtores e suas cooperativas. No se tem notcia de nenhuma grande condenao por essas fraudes toleradas h dcadas. Roubalheira o roubo dos estoques do governo nos armazns particulares, porm, atingiu seu auge nos ltimos anos, em meio onda de privatizao, em que o Estado o demnio, os empresrios so anjos. A prepotncia, o deboche dos cmplices dos assaltos contra o povo brasileiro chegou a tal ponto, que o Ministrio da Agricultura, no governo Collor, no se limitou a arquivar centenas de processos contra os desvios de estoques de alimentos do governo. No. Isso era muito pouco. Era preciso aproveitar a falta de reao deste bando de cento e vinte milhes de bovinos otrios, e a conivncia dos camalees. Os ministros de Collor no s resolveram fazer acordo com os fraudadores, como decidiram negociar o perdo de at metade de suas dvidas isto , metade do valor dos alimentos roubados. E tudo isso foi devidamente anunciado, noticiado como a coisa mais natural do mundo. Justificativa apresentada: a Justia muito lenta no Brasil, vai demorar muitos anos para condenar os ladres, ento o melhor fazer o acordo, retirar a queixa-crime, receber um pouquinho do dinheiro. O mesmo argumento que os ministros continuam a usar para oferecer imensas vantagens aos sonegadores de impostos... E todos engolimos. Virada No comeo do governo Itamar, a deciso de perdoar os ladres de estoques foi anulada, reiniciando-se o processo criminal e de cobrana. Mas... Houve vrias mudanas de ministro da Agricultura e de presidente da Conab, empresa de abastecimento. Tudo parece engavetado. Aluguel Ento, fique claro: poltica oficial, exigida pelos pretensos privativistas, usar os armazns particulares, onde tambm os estoques apodrecem ou evaporam. E o aluguel? Mais baixo, graas eficincia empresarial? No. Funcionrios do governo denunciaram os preos altssimos cobrados pelos armazns privados inutilmente ( facil desmoralizar os funcionrios, com os deformadores de opinio acusando-os de corporativistas mesmo quando eles esto defendendo os interesses da sociedade). Apodrecimento Alm do uso obrigatrio dos armazns privados, outra deciso oficial de poltica agrcola que burramente leva ao apodrecimento dos estoques. No passado, a venda de estoques do governo s vezes sofreu distores prejudiciais aos agricultores: eles foram lanados no mercado em momentos inoportunos, derrubando demais os preos. Mas as regras, necessrias, que surgiram depois tambm contm aberraes, que chegam s raias do inacreditvel. Dentro da onda privatizante, ou neo-liberal, defende-se a tese de que o governo deve sempre cobrar preos que cubram seus custos, isto , no deve subsidiar, pois isso provoca rombos no Tesouro. Essa ladainha neo-liberal finge ignorar os subsdios que EUA e outros pases ricos do sua agricultura e empresas. Ela criou uma aberrao que o governo somente pode vender os estoques de alimentos (para combater manobras especulativas e conter a inflao) levando em conta todos os custos dos estoques. Isto : o preo pago na compra da colheita, mais o preo do aluguel do armazm, mais os juros do capital empatado, e que corrigido pela TR (que tambm j inclui juros). Um doce para os bovinos otrios descubrirem o que acontece. aritmtico. Quanto mais antigo um estoque, mais caro o produto fica, porque s pode ser vendido incluindo-se todos aqueles custos. Resultado: o governo vende, por exemplo, o arroz da safra 91/92, mas no consegue nem oferecer ao mercado o arroz estocado da safra 89/90, e agora carssimo. Claro. O encalhe inevitvel. Um dia, nem a podrido. Burrice? Olhando ao redor, h quem duvide que seja s isso. O essencial mudar essa regra imediatamente. Uma aberrao leva a outra. O ministro da Fazenda e o lder do seu partido, Jos Serra, dizem que a rejeio, pelo Congresso, do aumento do IR das empresas ameaa o Plano FHC. Ora, a perda (??) seria de algo como 400 milhes de dlares. No ano inteiro. Isso j foi coberto, trs vezes, pelo excesso da arrecadao de janeiro, que a maior dos ltimos dez anos e superou as previses em US$ 1,2 bilho. Em um ms. By the way: a virtuosa equipe econmica tem sido muito habil em vender sua imagem de santarrona aos deformadores de opinio. Ser que seus mtodos de negociao diferem mesmo dos adotados nos perodos Fiza/Joo Alves & Cia? Como explicar que o ministro tenha abrandado violentamente as condies de pagamento das dvidas dos Estados para com o Tesouro? No ano passado, os governadores deveriam aplicar 11% da receita lquida na reduo da dvida. Agora, h um acordo para reduzir o percentual a 9%. Mais 2% para os governadores gastarem? No, caros homens-de-boa-f. Mais 6%. Algumas centeninhas de milhezinhos de dlar, n? Neste ano, pela lei em vigor, o desembolso dos Estados seria de 15%. Pois . Como se v, bom ser ministro-ditador. dando aos poderosos que se recebe. ALOYSIO BIONDI, 56, jornalista, foi diretor de Redao da revista Viso e editor de Economia da Folha.","Como estoques de alimentos apodrecem os estoques de alimentos A indstria da mentira esconde outro assalto autorizadocontra o Tesouro. E equipe FHC vai agir? ALOYSIO BIONDIEspecial para a Folha Milhes de toneladas de arroz , feijo, milho, ou caf apodrece nos armaznsnotcia freqentemente ouvida pelos brasileiros nos ltimos meses. O escndalo ganha maior relevo quando isso se d num pas em milhares passam fome . A divulgao do apodrecimento tem sido usada como campanha de desmoralizao do Estado brasileiro. mentira . O que acontece que grupos empresariais , com a ajuda de ministros e formadores de opinio, tomaram de assalto a economia brasileira. Sob pretexto de defender a privatizao , esses grupos mantm negcios bilionrios ,s custas da classe mdia e do povo. Esses desvios na rea precisam ser relembrados e enfrentados com providncias: No pas inteiro, o governo tem centenas de enormes armazns , vazios e fechados. No entanto, paga bilhes para estocar em armazns particulares. Isso foi deciso do governo Collor com a onda de privatizao: transferiu milhes de toneladas dos seus armazns para particulares. Este assalto ao bem pblico tambm foi esquecido pelo atual governo e pelos formadores de opinio. A fraude vai por conta de uma lei antiga sobre preos mnimos agrcolas, que obriga o governo a comprar as colheitas quando h superproduo ( ou manipulao) e os preos fiquem muito baixos , com prejuzo do produtor. Esse estoque ser vendido em ocasio oportuna. At l , deve ficar estocado nos seus armazns e, se necessrio, em particulares. As notcias sobre roubos cometidos por donos de armazns , ou desvios so recorrentes. O auge desses roubos de estoque pblico em armazns particulares se deu no governo Collor. O Ministrio da Agricultura da poca no s arquivou os processos mas tambm resolveu perdoar metade da dvida do desfalque. A justificativa foi que a Justia no pas muito lenta e, portanto, seria melhor negociar o perdo, recebendo s metade da dvida. No governo Itamar , foi anulada a deciso de perdoar os ladres. Tudo, porm, parece engavetado. Outra irregularidade: se os aluguis de armazns representassem um lucro para o Tesouro, talvez se justificasse a medida. Mas no: segundo denncia dos funcionrios do governo, os preos eram exorbitantes. Alm do uso obrigatrio de armazns particulares, outra deciso oficial facilitava o apodrecimento dos cereais. que , dentro da onda privatizante, o governo deveria vender seus estoques computando todos os gastos: preo pago pela colheita, pelo aluguel, pelos juros de capital empatado. O encalhe seria inevitvel, pois os estoques mais antigos ficavam mais caros do que os de colheitas mais recentes. " br94no13-11,"Covas, Rossi e Caracala MARCELO LEITE Vejo-me novamente na situao de escrever esta coluna nas vsperas de uma eleio importante, o segundo turno em 18 das mais importantes unidades da Federao entre elas o Estado de So Paulo, meu tema de hoje. Na estria, em 2 de outubro, afirmei sem pestanejar que a imprensa como um todo tinha henricado. Ao mesmo tempo, lancei dvidas sobre a teoria de que teria havido uma conspirao da mdia em favor de Fernando Henrique Cardoso. Se volto a assunto semelhante, no desta vez para apontar favorecimento a Mrio Covas (PSDB) ou Francisco Rossi (PDT). Acho at que houve muito preconceito contra o pedetista, em grande parte alimentado pelo uso oportunista da religiosidade em sua campanha, mas denunci-lo no meu objetivo central. A cobertura do segundo turno pela Folha o dirio que me cabe vigiar de perto digna de anlise porque permite evidenciar alguns de seus principais defeitos e qualidades. Sobretudo, que o jornal cultiva um saudvel esprito crtico. Mas tambm que, quando comete exageros e injustias, a Folha igualmente no escolhe partido ou ideologia. Meu alarme soou pela primeira vez com a edio do dia 9 de outubro (aquela de m memria, que atrasou 11 horas por causa de falta de papel). O caderno Supereleio apresentava, na pgina 3, um grande perfil do azaro Rossi. Na crtica interna da edio, que circula diariamente na Redao da Folha, elogiei uma reportagem equilibradamente crtica sob o ttulo inteligente de Rossi aderiu a cinco partidos e 3 religies (apesar da falta de padro na grafia dos numerais). A seu lado, porm, o texto Candidato lembra seriado de TV alinhavava uma srie de preconceitos contra hbitos como ir ao McDonald's, por certo partilhados por muitos leitores. Anotei, na nota O risco do covismo, que o pior erro que a Folha poderia cometer, depois de dormir no ponto com o ex-prefeito de Osasco, seria iniciar uma espcie de campanha contra ele. Nas semanas seguintes, o que se viu nas pginas tambm de O Estado de S.Paulo foi uma saraivada de editoriais, colunas e at reportagens pintando Rossi como um charlato reles, milagreiro de araque. Era o tiro que saa pela culatra, pelo menos junto ao pblico dito formador de opinio. O pedetista, afinal de contas, vivia de Bblia na mo. E no perdia a chance de entoar seu sucesso Segura na Mo de Deus no programa eleitoral compulsrio de rdio e TV. Como que para ilustrar a frase surrada de que a histria se repete como farsa, a eleio se despolitizava, com o aval e at o entusiasmo da imprensa. Em lugar do real, a moeda que eclipsou as propostas para o pas no primeiro turno, entrava em cena a religio. Um fetiche e o pio do povo, para ficar nas imagens gastas. A Folha nunca foi um jornal linear. Paralelamente guerra religiosa artificial, deu partida a mais uma iniciativa entre quixotesca e iluminista: pr em discusso as prioridades para o futuro governador. Com seu senso agudo para o marketing, batizou o projeto como Cidado Folha e selecionou entre centenas de candidatos nove pessoas comuns para entrevistar separadamente Covas e Rossi. O resultado dessa forma sui generis de democracia direta voc pode conferir na edio de hoje. A srie de reportagens veiculadas nos ltimos dias, sobre os principais temas levantados, lembra no esforo e na generosidade os cinco cadernos Brasil 95. Com eles, a Folha tentou pr em discusso programas de governo muito antes do primeiro turno presidencial e acabou falando sozinha. No dia 23 de outubro, porm, o jornal dedicou uma pgina inteira ao candidato Rossi. O prato forte era uma longa entrevista exclusiva, cuja agressividade elogiei na crtica interna. Entre outras perguntas incisivas, uma tocava na fama de milagreiro: Folha - O sr. j disse Folha que pra tempestade e abre trnsito com a mente... Rossi - J parei, no passado. O detalhe em que o diabo se escondeu, desta vez, estava em um pequeno texto no canto inferior esquerdo da pgina, sob o ttulo Escritrio exalta 'glrias' de Rossi. O segundo pargrafo, imaginativo, merece registro: H ainda um busto em bronze, de Rossi naturalmente, feito semelhana das clebres esculturas do imperador romano Caracala, que governou entre 211 e 217. Grandioso no modelo, Caracala matou mais de 20 mil pessoas em seu reinado. Rossi cristo. Na mesma crtica da edio de 23 de outubro, escrevi: Resta saber se Covas merecer o mesmo. No meu raciocnio, para manter-se equilibrado, o jornal deveria realizar um interrogatrio semelhante com Mrio Covas. S no precisava fazer comparaes com, digamos, Nero ou Calgula. O fato que essa entrevista at agora no saiu. Por recusa do prprio candidato, que h pelo menos trs semanas assediado e alega falta de tempo. A suposta dificuldade no impediu o candidato de aceitar convite do mesmo jornal para a conversa com os nove cidados Folha. O jornal partiu para o ataque com trs notas na seo Painel do ltimo sbado. Acusava Covas de repetir a ttica do ex-adversrio e hoje aliado Paulo Maluf, que, na campanha Prefeitura de So Paulo, em 92, tambm preferiu no dar entrevistas. As notas motivaram uma resposta do assessor de imprensa de Covas, publicada na edio de tera-feira. Na quinta, a Folha saiu-se com um obus contra o tucano, na forma de um ttulo no alto da pgina 1-11: Covas promete parar obras em So Paulo. O texto, estranhamente, falava apenas em manter paradas obras do atual governo. Existe muita diferena entre parar e manter paradas, qualquer um v. S para contrastar, reproduzo o ttulo da pgina 7-8 da edio regional Folha Norte (a entrevista tinha sido concedida em So Jos do Rio Preto): Covas afirma que vai manter obras paradas. Outro ttulo, para o qual me chamou a ateno uma leitora atenta: Petistas rejeitam apoio a tucano. O texto logo abaixo informava que apenas 2 de 11 vereadores do PT paulistano tinham recusado assinar apoio a Covas. No dia seguinte, a Folha colhia o que havia plantado. pgina 1-11, informava seus leitores: Covas agora nega que manter paralisadas as obras pblicas (...) No a primeira vez que o tucano tenta negar declaraes dadas por ele. Nenhuma palavra sobre o ttulo enviesado da edio anterior. E o fecho do texto curto e oblquo tambm digno de nota: Durante a campanha para presidente, seu colega de partido, Fernando Henrique Cardoso, usou do mesmo artifcio. Por quatro vezes tentou desmentir declaraes gravadas dadas Folha.","Covas, Rossi e Caracala --- MARCELO LEITE (ombudsman da Folha de S.Paulo) Enfrento novamente a situao de escrever esta coluna nas vsperas de uma eleio importante. Quando estreei, no tive dvida em afirmar que a imprensa, em geral, tinha henricado. Volto novamente ao assunto, mas no para dizer que a imprensa est fazendo o mesmo em relao a Covas ou a Rossi. Acho at que este tem sido vtima de preconceito, embora ele apresente motivos com sua religiosidade de encomenda. A cobertura do segundo turno feita pela Folha permite destacar alguns de seus principais defeitos e qualidades.Seu esprito crtico merece elogios , mas ,ao cometer injustias ou exageros , no escolhe partido ou ideologia. Fui despertado para essa observao ao ler um artigo do caderno Supereleio , com um grande perfil do azaro Rossi. Elogiei a reportagem crtica sob o ttulo Rossi aderiu a cinco partidos e 3 eleies . Mas o texto ao lado Candidato lembra seriado de TV era preconceituoso contra seus hbitos, como o de ir ao McDonalds. Nas semanas seguintes tambm em O Estado de S.Paulo ---saram muitas publicaes caracterizando Rossi como charlato reles, milagreiro de araque. verdade que ele vivia com a Bblia na mo , mas a prpria imprensa ajudava a despolitizar as eleies. Paralelamente a esse aproveitamento desvirtuado, a Folha deu incio a outra iniciativa com possibilidade de ser educativa: pr em discusso as prioridades do candidato. Nove pessoas comuns entrevistariam separadamente os dois. Cheguei a elogiar o tom crtico da entrevista com Rossi, que trazia, entre outras coisas, este dilogo: Folha - O sr. disse Folha que pra tempestade e abre trnsito com a mente. Rossi J parei, no passado. O segundo pargrafo de um trecho da entrevista merece reproduo: H ainda um busto em bronze , de Rossi naturalmente, feito semelhana das clebres esculturas do imperador romano Caracala, que governou entre 211 e 217. Grandioso modelo, Caracala matou mais de 20 mil pessoas em seu reinado. Rossi cristo. E acrescentei na edio que, se a Folha pretendesse imparcialidade , devia realizar com Covas o mesmo tipo de interrogatrio. A reportagem no aconteceu , pelo motivo alegado de no ter tempo. A Folha atacou dizendo que a sua desculpa assemelhava-se de Paulo Maluf numa das eleies. O pronunciamento do assessor de imprensa de Covas provocou um contra-ataque do jornal: Covas promete parar obras em So Paulo, quando a reportagem falava em manter paradas obras do atual governo. O ttulo maldoso , tanto quanto um outro em dizia : Petistas rejeitam apoio a tucano. , quando , na verdade, somente 2 entre 11 recusavam apoio. " op94ag24-a,"H apenas oito semanas, um espectro obcecava o Brasil. Era o espectro do PT-Lulismo! Para exp-lo luz do dia no se juntaram numa caa santa o papa, o czar, Metternich e Guizot, os radicais franceses e os policiais alemes. Apenas o povo, mobilizado pelo real! O PT demonstrou que conhece o proletariado da mesma forma que o velho mestre: pela literatura. Foi incapaz de entender onde residiam a fora e a fraqueza do programa. A sua maior fraqueza a do tempo. Ele (como foi dito na ocasio) deveria ter sido implementado em julho ou agosto de 1993 para aproveitar a reviso constitucional nos termos do artigo 3 das Disposies Transitrias da Constituio. Mas isso no pode ser explorado pelo PT. O governo e os partidos que o apiam fingiam que queriam a reforma, mas o PT lutou abertamente contra ela. Como evidente, a reforma da Constituio implica transferncia de poder e de renda e, frequentemente, dos dois. Se o governo e os partidos que o apiam tivessem se engajado na reforma teriam desagradado mltiplos e variados grupos cujo poder vocal certamente ultrapassaria os silenciosos beneficiados. Logo, calcular cuidadosamente o momento da reforma monetria era preciso. O que o PT no entendeu que esse inequvoco oportunismo eleitoral no fala necessariamente contra o programa, pois so coisas distintas. Pode-se lamentar (e cremos que se deva) a oportunidade perdida, mas no se pode imaginar que ela polui o programa. Ele bem feito para atingir alguns objetivos: eliminar a inflao inercial e reganhar o controle da oferta monetria. A implementao do programa e seus suportes psicolgicos (a transfuso monetria, o real verde, a farsa de que ele vale mais do que o dlar etc.) devem muito figura do ministro Ricupero e ao seu carisma beneditino que alia a piedade ao trabalho duro. Quando ele diz que at agora foi feito apenas o incio do comeo do princpio ganha credibilidade. No tenta enganar a sociedade e a adverte sobre os riscos que cercam o real, se as mudanas institucionais requeridas no forem feitas. O real um emprstimo-ponte para a Presidncia. Seu prazo de carncia deve ser suficiente para criar as verdadeiras condies de sustentabilidade da estabilidade monetria. Seu objetivo extremamente modesto e por isso que no se pode exigir que ele resolva o problema do salrio mnimo, do salrio real, da distribuio de renda, do desenvolvimento econmico, da educao, da sade e assim por diante... A inflao verdadeira, a que se media no tempo da moeda indexada pela diferena entre duas URVs, est a inteira, nos esperando na esquina se soltarmos a ncora salarial. E um sonho pensar que poder ser controlada apenas pela poltica monetria, a no ser com custo social abusivo. Muito em breve o perodo de carncia do real estar vencido e as aspiraes da sociedade por outros valores (alm da estabilidade) emergiro com fora insuspeitada. Exatamente como se verifica agora no terremoto da inverso das preferncias do povo pelos candidatos Presidncia.","A bandeira do PT-Lulismo , que h pouco assustava, foi desmobilizada pelo prprio povo, que correu atrs do Plano Real. O PT no percebeu em tempo para onde tendia o povo. Nem notou onde estavam a fora e fragilidade do programa, que, como j diziam , devia ser implementado nos meados de 1993, durante a reviso constitucional prevista na Constituio de 1988. . O governo e os partidos que o apiam fingiam querer a reforma , mas o PT , explicitamente, foi contra. Da parte do governo , foi uma manobra eleitoreira, pois a reforma implicaria transferncia de poder e de renda, o que desagradaria faces com muito poder de fogo, reao inoportuna para um perodo eleitoral. O PT no entendeu o oportunismo. lamentvel o adiamento, mas no invalida o programa, que bem feito para alcanar alguns objetivos: eliminar a inflao inercial e voltar a ter o controle da oferta monetria. E ainda a prudncia do ministro Rubens Ricupero refora a credibilidade do Plano , referindo-se a seus riscos se no forem feitas as mudanas constitucionais previstas. O Plano em si no o condo mgico para a soluo dos problemas nacionais ; tem efeitos parciais e no deve durar muito , pois tem um grande custo social. " op94ab18-a,"Existe dentro do PT uma propenso eufrica negativa: Lula j venceu! Em poltica, a vitria parece segura em uma semana; pode converter-se em derrota na semana seguinte. Essa euforia, que tenho combatido, tambm pode impulsionar nossa perda. Acredito que Luiz Incio Lula da Silva sabe disso melhor que eu. Se assumo a responsabilidade de um debate pblico, fao-o pensando no que significa o PT no cenrio trgico e opressivo em que ele se insere. Apesar dos movimentos das elites das classes dominantes e dos partidos da ordem, parece evidente que Lula e a coligao dos partidos contestadores que o apiam tm possibilidades de vencer. No s a equao pessoal comprovou a ressonncia de suas diretrizes polticas na massa dos excludos, dos assalariados, dos estratos mdios em proletarizao, nas entidades radicais empenhadas na renovao da economia, da sociedade e da cultura, como reforou a conscincia crucial: ou Lula ou a repetio do passado com alteraes cosmticas. Nesse sentido, independentemente dos resultados das urnas, Lula e suas foras sociais e polticas triunfaram. Podero ocupar ou no o poder. O Brasil, todavia, no ser o mesmo depois do vendaval que se aproxima. O teste procede da afoita fabricao de um candidato Presidncia da confiana do grande capital interno e estrangeiro, com seus mentores e suportes humanos, institucionais e financeiros. Como diria um provecto ex-reitor da USP, querem salvar os bolsinhos. Lanaram-se ao embate eleitoral com o propsito poltico de manter seus privilgios, com o monoplio do poder estatal que eles pressupem. Depois de Collor, essa resistncia autoritria serve mais como advertncia que como arma eleitoral. Ela desperta uma indagao inevitvel nos jovens e adultos: por que essa exacerbao que explicita a predisposio de esmagar Lula? Esta eleio ergue uma pergunta: convm ao PT ganh-la ou encaix-la na acumulao crescente de dinamismos de desgaste da ordem, que o favorece? Nenhum partido da esquerda persegue o segundo objetivo. Mas ganhar ou perder denotam algo relativo, na situao histrica vigente. Para o presente e o futuro, contudo, essencial romper com o passado, com o fisiologismo, com o clientelismo e o privatismo de contedo patrimonialista, com o oportunismo poltico (to destrutivo na direita, quanto no centro-esquerda), com as conciliaes pelo alto contra o povo. Esses aspectos sinalizam o caminho de Lula, do PT e dos partidos fiis a uma identidade poltica slida. A esquerda autntica compreende a natureza de seus compromissos com a transformao da ordem e a criao de uma sociedade nova. Acabamos de constatar quais so os vnculos de uma social-democracia improvisada com o mudancismo conservador. Se os eleitores se enganarem, consagraro a Repblica democrtica de fachada. Para no correrem tais riscos, devero bater-se por alvos claros e certeiros, que se definem no campo da esquerda. A sorte de Lula est lanada e, com ela, os papis construtivos do PT e seus aliados, neste momento decisivo.","O clima do j-ganhou entre petistas no ajuda e , pelo contrrio, pode sinalizar uma derrota. Feita a observao, no se pode negar a possibilidade de uma vitria, apesar do empenho oposto dos movimentos das elites. E caso Lula no seja eleito, o quanto sua pregao ressoou entre os excludos, assalariados, os estratos mdios em via de proletarizao , entre entidades preocupadas com a renovao da economia , da cultura e da sociedade em geral ficar como um bordo alertando o vitorioso para novos caminhos. Tambm fica uma pergunta : convm o PT ganhar as eleies agora , ou acumular crditos para uma nova etapa de mudanas na estrutura do pas? Romper com o passado uma clarividncia que no deve ficar no discurso. Militantes do PT e seus aliados devem ter compromisso claro com os novos rumos. " di94ma22-17,"A desordem mundial e a situao do Brasil As consequncias globais dos desajustes provocados pela poltica dos EUA ainda no terminaram e so difceis de avaliar MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha As crises que instabilizaram a economia mundial na dcada de 70 foram seguidas de dois movimentos de reafirmao da hegemonia americana, no plano da diplomacia do dlar e no plano estratgico-militar, que modificaram profundamente o funcionamento e a hierarquia das relaes internacionais a partir da dcada de 80. As consequncias dos desajustes provocados pela poltica norte-americana ainda no terminaram e seus efeitos globais so difceis de avaliar. Vamos alinhar os principais fatos que pem em dvida a existncia de uma nova ordem mundial. Do ponto de vista econmico, a globalizao financeira e a apario do Japo como potncia tecnolgica, financeira e comercial de primeira grandeza, puseram em risco a dominncia econmica norte-americana e sua capacidade de regular a economia internacional. A transnacionalizao e integrao do espao europeu e a prpria transnacionalizao do espao econmico nacional norte-americano esgotaram seus efeitos dinmicos em 1989/90, anos a partir dos quais comeou o declnio de investimento direto estrangeiro global. Em termos espaciais, o grosso das novas relaes bem-sucedidas de globalizao ocorreu na nova regio do Pacfico, incluindo a transnacionalizao da sia e dos EUA, sob o comando dos conglomerados japoneses. Na regio europia da CEE, a globalizao processou-se sob a liderana mais frouxa das empresas e bancos alemes e chegou aos seus limites, atravessando hoje a Europa Global uma profunda crise econmica, social e moral. Em termos histricos, este processo de globalizao ocorre em simultneo com duas terceiras ondas: uma nova revoluo tecnolgica e um novo estgio de internacionalizao do capital, distintos dos dois anteriores, isto , daqueles que tiveram lugar depois da primeira e da segunda revolues industriais. O grau de abrangncia dos processos de rivalidade e coluso dos grandes oligoplios internacionais incorpora hoje todas as dimenses da produo capitalista, desde a comercial e financeira at a tecnolgica. Alm disso, a lgica da concorrncia global incorporou, pela primeira vez na histria do capitalismo, os pases asiticos mais atrasados, conduzindo-os a um papel relevante na expanso do capitalismo contemporneo. A regresso industrial e a crise financeira dos pases perifricos, em particular os sul-americanos e os do Leste Europeu, e a semidestruio da frica conduziram uma parte importante da humanidade a debater-se no paroxismo da fome e do desemprego. Do ponto de vista poltico, alm da desorganizao do ex-imprio russo, criou-se uma situao de instabilidade estrutural que ameaa tanto a ordem mundial quanto a eficcia dos Estados nacionais como agentes de poder soberano, limitando, inclusive, sua capacidade de regulao econmica e proteo social. O indiscutvel avano no sentido da democracia poltica que ocorreu paulatinamente na dcada de 80 em quase todos os pases perifricos comeou a ser ameaado de novo a partir de inmeras guerras civis e golpes de Estado. A grave deteriorao dos padres de vida das populaes pobres e das classes mdias baixas j incorporadas, provocada pelas polticas de ajuste neoliberal, aplicadas urbi et orbe pelo conjunto de tecnocratas do Consenso de Washington, est provocando espasmos de protesto e reaes desesperadas ou de desnimo com a democracia, mesmo nos poucos pases onde as experincias foram consideradas bem-sucedidas. Como contratendncia globalizao, est-se verificando um processo de formao de blocos em termos de proteo comercial e diviso de esferas de influncia onde no s a geografia importante, mas a assimetria de poder (militar, econmico, financeiro e tecnolgico) decisiva para a estabilidade do que sobrou da velha ordem. Dada essa prpria assimetria e a instabilidade estrutural na Europa e na sia, segundo todos os observadores treinados no jogo do poder (de Kissinger a Helmuth Schmidt), no est vista nenhuma ordem mundial, seno uma colossal, embora encoberta, desordem. Os caminhos propostos pelo neoliberalismo e a globalizao financeira no favorecem, sequer na atualidade, os interesses nacionais das potncias dominantes. A crtica globalizao no est ainda suficientemente avanada teoricamente, mas os seus efeitos perversos sobre o desemprego, concentrao da renda, da riqueza e do saber j comeam a manifestar-se com mais nitidez mesmo nos pases desenvolvidos. Essa desordem pode ser criativa no Brasil, na medida que se eliminem a m-f, a desinformao ou a cegueira ideolgica que pretendem copiar o modelo global ou, diga-se de passagem, o de qualquer pas de sucesso, passado ou presente. O Brasil no se parece com a Rssia, os Estados Unidos, a ndia ou a China (para ficar apenas com os pases continentais) e ter de achar seu prprio caminho neste mar revolto em que se converteram a economia e a poltica mundiais. Apesar de tudo, a desordem internacional que se iniciou em 1979 e vem avanando a passos largos desde 1989 no aparenta ser uma restrio absoluta a um caminho novo e autnomo da sociedade brasileira, embora no lhe seja propriamente favorvel. Os obstculos reais estabilidade duradoura e retomada do desenvolvimento provocados pelas sbitas reviravoltas no mercado financeiro internacional existem. Mas as elites brasileiras parecem ter terminado vtimas, depois de dez anos de resistncia, da prpria ideologia neoliberal, hoje em franco processo de superao em vrios pases do Primeiro Mundo e inteiramente inadequada para uma sociedade to heterognea como a nossa. A ideologia neoliberal, que apresenta o processo de desregulao financeira como inegavelmente virtuoso, combinada com a inrcia, o medo e o parasitismo de nossas elites privadas e pblicas, tem sido um dos maiores obstculos psicolgicos nossa capacidade de reagir e tentar defender a nao como espao de solidariedade. A reforma democrtica do Estado nacional, aparentemente objetivo de todos, tem sido entorpecida pela fragmentao collorida que atrasou a possibilidade de formular um projeto novo de desenvolvimento com transformao produtiva e equidade social. Nesta situao de impotncia, tanto na poltica quanto na economia, as elites conservadoras parecem ter voltado velhssima idia de que a mo invisvel do mercado terminar por conduzir-nos, pela rivalidade e a concorrncia, a uma acomodao de interesses de indivduos grupos, setores e regies, onde finalmente encontraremos o equilbrio e o consenso, guiados, claro, por lideranas iluminadas e sbias que tentaro suprimir o conflito de qualquer maneira. No entanto, o conflito e as alianas democrticas parecem ter-se desenvolvido o suficiente para que seja possvel o pacto explcito ou implicito de um novo projeto nacional. Assim, existem fundadas esperanas de que possvel avanar, j que os pactos parciais com novos atores at recentemente subordinados e poucos ativos tm vindo em franca ascenso e de esperar que esse movimento democrtico se consolide nas prximas eleies. Por outro lado, a ruptura da democracia e o retorno do autoritarismo explcito no parecem ser, ao contrrio das crises anteriores (de 1930/37 e 1964/68), uma soluo capaz de unir as elites dominantes, dado que os seus projetos segmentados e excludentes no do conta sequer de um novo modelo de desenvolvimento econmico que englobe de forma articulada os seus interesses particulares, que dir incluir os daqueles longamente excludos. Nem a face liberal econmica, nem a face poltica autoritria, hoje novamente tentando refazer uma velha aliana, parecem capazes de enquadrar as perspectivas de transformaes contraditrias da atual conjuntura. Assim, a agenda para uma ruptura democrtica e para uma inverso real de prioridades sociais continua em aberto e sobre ela que os embates se faro decisivos nesta eleio que se avizinha. Os obstculos externos continuam importantes, mas a julgar pelo comportamento dos candidatos e dos grupos de poder regional e nacional, bem aqui, neste pas-continente, que se travar a luta principal pelo nosso destino como nao democrtica. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, economista, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).","A desordem mundial e a situao do Brasil As conseqncias globais dos desajustes provocados pela poltica dos EUA ainda no terminaram e so difceis de avaliar. MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha As crises da economia mundial na dcada de 70 foram acompanhadas da reafirmao norte-americana , no plano da democracia do dlar e no estratgico-militar, que interferiu profundamente na hierarquia das relaes internacionais a partir de 80. As conseqncias dos desajustes causados pela poltica norte-americana continuam e so de difcil avaliao. Vejamos alguns pontos que justificam a incerteza sobre uma nova ordem mundial. Do ponto de vista econmico, a globalizao financeira e o surgimento do Japo como potncia estremeceram a hegemonia norte-americana na economia . A transnacionalizao e integrao da Europa e a transnacionalizao norte-americana perderam sua fora dinmica em 1989/90. Na CEE , a globalizao chegou aos limites. A produo capitalista , no sentido mais amplo, disputada pelos grandes oligoplios . A regresso industrial e a crise financeira dos pases perifricos ( sul-americanos, do Leste Europeu) e a semidestruio da frica levaram milhares fome e ao desemprego. Em conseqncia, os avanos da democracia foram sendo ameaados nessas regies e os protestos j se manifestam at mesmo onde ela foi bem sucedida. Como contratendncia globalizao , comea a formao de blocos de proteo comercial e de repartio de reas de influncia. Ainda que a crtica globalizao no seja to evidente , os seus efeitos sobre desemprego , concentrao de renda e do saber j se manifestam inclusive em pases desenvolvidos. Mesmo considerado o quadro acima, essa desordem internacional no parece vetar completamente que o Brasil trilhe um caminho novo e autnomo. A experincia das elites brasileiras com o neoliberalismo hoje em vias de superao em vrios pases desenvolvidosas colocou em situao de vtimas . A ideologia neoliberal , que proclama a desregulamentao financeira como virtude , combinada com inrcia, medo , tem sido um dos nossos maiores obstculos reao. Mas tambm a ruptura de democracia e o retorno ao arbtrio , diferentemente do ocorrido em outras crises (1930/37 e 1964/68) , no parecem uma soluo para unificar as elites . Assim, ainda est aberta a agenda de retomada que d outros rumos ao pas. " in96fe26-a,"MIAMI - O governo americano instruiu seu representante nas Naes Unidas a convocar uma reunio imediata do Conselho de Segurana da ONU para discutir o ataque da Fora Area cubana, no final da tarde de sbado, a dois avies civis do grupo Irmos para o Resgate, formado por exilados cubanos em Miami. A reunio deveria comear na madrugada de hoje, s 3h (hora de Braslia). A deciso foi anunciada pelo secretrio de estado americano, Warren Christopher, pouco antes dele iniciar sua primeira viagem oficial Amrica Latina. Christopher disse ainda que o presidente Bill Clinton recebeu uma coleo de opes de retaliao contra Cuba, preparada em uma reunio de altos funcionrios civis e militares de seu governo, realizada ontem sem a presena do presidente, na Casa Branca. Ele prometeu anunciar, a qualquer momento, mais detalhes da reao americana ao ataque da Fora Area de Cuba. Resposta - A conduta dos cubanos injustificvel. Ela no ficar sem resposta. A derrubada dos dois avies, civis e desarmados, fere qualquer lei internacional. Ela no deve ser possvel ou aceitvel. Iremos consultar nossos aliados mas j posso adiantar que os Estados Unidos devero tomar atitudes prprias e isoladas, disse o secretrio, recusando-se a adiantar a lista de opes que o presidente Clinton ir considerar na maior crise que seu governo enfrenta no relacionamento com Cuba. Ainda h dvidas sobre a localizao exata dos dois avies, ambos monomotores do tipo Cessna Skymaster, no momento em que foram abatidos. Num comunicado divulgado ontem, 15 horas depois do incidente, o governo de Cuba afirmou que os avies foram derrubados dentro do espao areo cubano, entre oito e 13 quilmetros ao norte de Baracoa, praia a oeste de Havana. Terceiro - O secretrio de Estado americano Warren Christopher, entretanto, disse que o ataque aconteceu fora do espao areo cubano, sem precisar a localizao exata em que os avies estariam quando foram derrubados. Um terceiro Cessna, tambm pertencente ao grupo Irmos para o Resgate, voava junto com os dois avies abatidos, mas conseguiu escapar do ataque. Fontes da comunidade exilada cubana em Miami disseram que os avies foram interceptados por caas Mig, de fabricao sovitica, quando estavam a cerca de oito quilmetros do limite das guas territriais cubanas, que se estendem por 17 quilmetros a partir da costa, mas j em um espao areo monitorado por controladores de vo cubanos, na regio do estreito da Flrida. O porta-voz do governo cubano, Jos Ponce, declarou que pouco antes dos avies serem abatidos as autoridades de seu pas j haviam detectado uma primeira invaso do seu espao areo e que, no segundo incidente, os avies abatidos foram avisados duas vezes de que deveriam retornar. Autoridades americanas confirmaram que os avies abatidos foram avisados de maneira inequvoca pelos cubanos antes de serem atacados. Plano de vo - Apesar de EUA e Cuba no terem concordado sobre a localizao exata dos avies na hora do ataque, est claro que os trs avies deixaram territrio americano com plano de vo rumo s Bahamas e depois desviaram seu caminho para Cuba, o que j caracteriza uma violao das leis de aviao civil dos EUA e de quase todos os pases do mundo. Est claro ainda que os pilotos abatidos deveriam obeceder ordens de controladores de vo cubanos, j que estavam em uma regio por eles monitorada. A reao do governo cubano ao ataque foi curta e grossa. Alm de afirmar que os avies foram avisados antes do ataque e definir sua posio como invasora, os cubanos repetiram verses de leis internacionais de proteo territorial. Cuba tem obrigao de defender seu territrio contra qualquer tipo de invaso e foi o que fez neste episdio. Os intrusos foram avisados e continuaram seu caminho, por isso acabaram abatidos, disse o porta-voz cubano, Jos Ponce. Moderao - Alm da reao em duas velocidades dos EUA, primeiro moderada do presidente Bill Clinton na noite de sbado, e depois agressiva do secretrio Warren Christopher na tarde de ontem, nenhum outro pas da comunidade internacional se manifestou sobre o incidente. At o final da tarde de ontem, a Guarda Costeira americana, que entrou em guas territriais cubanas com proteo de caas F-15 da Fora Area dos EUA e com autorizao do governo de Havana, no tinha encontrado nenhum sobrevivente ou os corpos dos quatro tripulantes que viajavam nos dois avies abatidos. Eles foram identificados em Miami como sendo os pilotos Carlos Costa, Pablo Morales, Mario de La Pea e Armando Alejandre Jr.. Segundo informaes americanas, a primeira notcia dos avies abatidos chegou na Guarda Costeira dos EUA s 15h45 de sbado, no horrio local (17h45 no horrio do Brasil).","Dois avies Cessna Skykmaster , da aviao civil, sados de Miami, foram abatidos pela Fora Area cubana por terem violado o seu territrio, conforme declarou o porta-voz do governo. O governo americano instruiu seu representante nas Naes Unidas para convocar uma reunio do Conselho de Segurana da ONU , que discutisse o ataque. As sugestes de retaliao foram vrias na cpula do governo americano. Sempre alegando o absurdo desrespeito s leis internacionais. Cuba, por sua vez, com base na prpria legislao internacional, afirma que o pas tem a obrigao de defender seu territrio. E acrescentou que os invasores foram avisados da infrao. De ambos os lados, no se tinha certeza da localizao exata dos avies. Mas o fato de os avies terem um plano de vo para as Bahamas e desviado para Cuba j caracteriza uma violao. At o final da tarde de ontem, a Guarda Costeira americana, com a devida autorizao de Cuba, no tinha encontrado nenhum sobrevivente ou os corpos dos quatro tripulantes. " in96jl01-a,"BUENOS AIRES - Na sua primeira eleio direta, a capital do tango elegeu ontem o senador da oposicionista Unio Cvica Radical (UCR) Fernando De La Ra, de 58 anos, para prefeito da cidade. O resultado fortaleceu a esquerda e promete agitar a eleio presidencial que ser realizada em 1999 e at agora s apresentava como opo certa o presidente Carlos Menem, que est em seu segundo mandato. Meia hora depois de anunciado os resultados das pesquisas boca-de-urna, s 18h, que lhe deram cerca de 40% dos votos, Fernando De La Ra, advogado, casado, pai de trs filhos, anunciou: Foi a vitria da democracia. O presidente do seu partido, Rodolfo Terragno, foi mais duro: o incio de uma nova etapa para o pas. O fim da corrupo e do desemprego. noite, apesar do frio, os radicais, que estavam politicamente apagados, reuniram uma multido num comcio improvisado no centro da cidade. Segundo as pesquisas de boca-de-urna, o segundo colocado foi Norberto de la Porta, da tambm oposicionista Frente Pas Solidrio (Frepaso). O atual prefeito binico Jorge Domngues, do governista Partido Justicialista (peronista), ficou em terceiro lugar, com cerca de 15% dos votos. No dia do seu 66 aniversrio, ao reconhecer a derrota de seu candidato, o presidente Menem disse que a eleio foi um resultado da democracia. Alm da prefeitura, os governistas perderam ainda na escolha para os chamados constituintes. Desemprego - Nessa corrida, a lder foi a senadora Graciela Fernndez Meijidi, da Frente Pas Solidrio, que com outros parlamentares e representantes da sociedade redigir a Constituio da cidade. O vice-presidente Carlos Ruckaulf chegou em terceiro. Vamos fazer um estatuto preocupado com a situao dos cidados argentinos, disse Graciela, uma das principais vozes de oposio a Menem. A senadora lembrou que a Frepaso, apesar de s ter cinco anos, chegou em segundo lugar nas eleies presidenciais do ano passado, a elegeu senadora no fim do ano passado e agora a sagrou constituinte. Ontem, existiam vrias justificativas para a vitria da oposio nas urnas. Alm do tradicional voto de protesto na capital federal, ela foi atribuda ao aumento do ndice de desemprego (que atinge agora 2,2 milhes de trabalhadores, ou 17,1% da populao economicamente ativa) e ao provvel reajuste das tarifas telefnicas e outros servios pblicos. O governador da provncia de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, que do mesmo partido de Menem, mas j est de olho na corrida presidencial, comparou os desempregados argentinos a prias. Ele reconheceu que o desemprego um problema mundial, mas disse que na Europa, por exemplo, existem programas sociais de compensao falta de trabalho. A eleio de Fernando De La Ra, senador por trs mandatos, sendo que um interrompido durante a ditadura militar, foi possvel graas reforma constitucional realizada h dois anos, que deu capital argentina o direito de eleger seus governantes, alm de permitir a reeleio do presidente. Agora trabalhar, trabalhar e trabalhar, afirmou o novo prefeito da cidade. apenas o ponto de partida. E para acabar com as injustias precisaremos do apoio da sociedade. A vitria de De la Ra significa, tambm, o renascimento da Unio Cvica Radical, o mais antigo partido da Argentina, que entrou em crise devido ao final turbulento do governo de Ral Alfonsn, em 1989, quando a hiperinflao e as ameaas de golpe militar levaram o ento presidente a antecipar em dois meses a posse de Menem.","Na sua primeira eleio direta , Buenos Aires consagrou como seu prefeito o oposicionista Fernando De La Rua, da Unio Cvica Radical. A vitria da esquerda estimulou-a a subverter o consenso em torno de Carlos Menem para a prxima eleio presidencial. O segundo colocado, nas pesquisas de boca-de-urna, foi Norberto de la Porta , oposicionista da Frente Pas Solidrio ( Frepaso). Embora novo , o partido chegou em segundo lugar nas eleies presidenciais do ano passado , e , agora, elegeu a senadora Graciela Fernndez Meijidi, que , junto com outros parlamentares, redigir a Constituio da cidade. As explicaes correntes na vspera da eleio para a vitria da oposio incluam estas causas: o tradicional voto de protesto na capital; o aumento do ndice de desemprego; a possibilidade de reajuste das tarifas telefnicas e de outros servios pblicos. Para que fossem possveis a eleio direta do prefeito de Buenos Aires e a reeleio do presidente da Repblica, houve, h dois anos, reforma na Constituio. " op94ag07-c,"O assunto do momento a propaganda eleitoral pela televiso. Cada um prepara as suas defesas do jeito que pode. A estratgia mais comum parece ser a das fitas de vdeos. H tambm o pessoal que se programou para aproveitar a temporada cultural e assistir a todas as peas de teatro e espetculos de msica. H ainda os que comearam usar o horrio eleitoral para fazer ginstica em academias, jogar baralho, organizar bingos, ler, bordar, costurar ou simplesmente fazer visitas desde que no corram o risco de serem bombardeados com a propaganda eleitoral em casa alheia. A dona Joaninha, amiga velha e companheira dos tempos de ginsio, est preocupada com a substituio da ramos Seis novela doce, amorosa e civilizada por aquele festival de ataques pessoais que marcaram as ltimas campanhas. Ponderei a ela que a nova lei impede os improprios e desestimula o sensacionalismo. Incontinenti, ela retrucou: esta a, ento, um grande teste para os profissionais de TV. No tinha pensado nisso. Afinal, no sou do ramo. E tenho bem menos tempo do que a Joaninha para ver televiso. Mas, como ela mencionou a novela, vi, no caso, uma certa analogia entre fazer um programa eleitoral atraente, sem xingao e desaforos, e produzir uma novela interessante, sem imoralidades e apelaes. Tenho um amigo cineasta que costuma dizer: bem mais fcil ter sucesso com filmes proibidos para menores de 18 anos que com filmes de censura livre. A criatividade e a competncia dos candidatos e dos profissionais de televiso tero de ser reveladas na base de suas reais qualidades o que at aqui foi raro. O eventual recurso calnia, injria ou difamao poder custar aos interessados alguns preciosos minutos na forma de direito de resposta. Se tomarmos a praxe atual, as novas restries legais tornaro os programas mais cansativos, principalmente, para os que se habituaram as cenas de rififi como as praticadas nos antigos programas polticos que, no fundo, deveriam ser pedaggicos. Entretanto, a ramos Seis est provando ser possvel atrair o espectador fazendo arte com respeito. E a democracia exige respeito, sobretudo, pelo eleitor e sua famlia. bem possvel que alguns dos nossos profissionais de TV venham a passar bem no teste aventado pela dona Joaninha. Isso ser bom pois, ao promover os candidatos dentro dos cnones da educao, eles estaro prestando um grande servio causa democrtica e ajudando os eleitores a praticarem o voto consciente. Do lado dos candidatos, nesta primeira semana, todos eles se apresentaram como honestos, sabidos e capazes de resolver os imensos problemas do Brasil, em definitivo e em apenas quatro anos. Esplndido! Oxal eles possam provar isso tudo depois de eleitos. Sei que o timo inimigo do bom. Mas, faltou nova lei eleitoral um dispositivo tornando compulsrio aos candidatos explicarem de onde viro os recursos materiais e humanos para concretizar as suas idias mirabolantes. Faltou a obrigatoriedade de dizer o como realizaro seus projetos. Bem, isto exigir demais... Temos de avanar gradualmente. A democracia exige pacincia.","A atitude dos telespectadores com o advento da propaganda eleitoral lembra aquela que se toma quando se est sob a iminncia de uma visita indigesta : estimula-se a imaginao com variadas desculpas para que ela no acontea. O telespectador acostumado a seu filme ou a sua novela mais suave, certamente, no v com bons olhos as apelaes, mentiras, agresses de muitos candidatos veiculadas pela tev, apesar de proibies legais. No meio cinematogrfico, h quem ache que o sucesso de uma produo tenha mais vnculo com o proibido do que com o permitido. Se for assim, certos entreveros de propaganda poltica podero atrair mais do que uma discusso sensata. No entanto, sabe-se que a criatividade e a competncia dos candidatos e dos profissionais da tev sero capazes de cumprir sua tarefa, com sucesso, decncia e respeito ao telespectador . Nesta primeira semana , os candidatos tm sido honestos e cem por cento eficientes. S resta acrescentar a uma nova lei eleitoral um dispositivo que os obrigue a dizer de onde viro os recursos. " po96fe14-c,"BRASLIA - O governo jogou pesado na aprovao do Sistema de Vigilncia da Amaznia (Sivam) pela supercomisso do Senado. Alm do lobby do prprio presidente Fernando Henrique Cardoso, a estratgia governista incluiu desde a investigao fiscal dos senadores contrrios ao projeto at a renegociao de dvidas de parlamentares simpticos proposta. O senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) no foi o nico parlamentar submetido a uma devassa da Receita Federal. As empresas do lder do PMDB no Senado, Jder Barbalho (PMDB-PA), tambm contrrio aprovao do Sivam, foram autuadas em R$ 100 mil por fiscais da Receita. A autuao foi confirmada por executivos das empresas do senador, que dono de uma emissora de TV, um jornal e duas rdios no Par. As empresas vo recorrer. Outros parlamentares envolvidos no caso Sivam contaram, porm, com tratamento mais brando do governo. O senador Geraldo Mello (PSDB-RN), sub-relator da supercomisso do Sivam, conseguiu renegociar um dbito estimado em R$ 60 milhes com o Banco do Brasil. A dvida tinha sido acumulada pela usina Cear-Mirim e o banco j havia decidido encaminh-la para execuo, pois os pareceres tcnicos indicavam que a empresa no tinha condies de saldar o dbito. Problemtico - O banco acabou voltando atrs, alegando que o patrimnio da usina no cobriria nem mesmo os dbitos trabalhistas e previdencirios da empresa. A diretoria do Banco do Brasil concluiu que seria melhor manter a usina funcionando e renegociar a dvida, para tentar obter pelo menos parte do pagamento. Geraldo Mello era um parlamentar problemtico para a liderana do governo, que ameaava trocar o PSDB pelo PMDB. Em seu parecer sobre o Sivam, ele acabou apoiando a posio do governo, de manter o contrato de US$ 1,4 bilho com a empresa americana Raytheon. A mesma tese foi adotada pelo parecer do relator-geral da supercomisso, Ramez Tebet (PMDB-MT). Ontem, durante a sesso da supercomisso que debateu o relatrio de Ramez, vrios senadores acusaram o governo de estar usando a Receita Federal para pressionar Gilberto Miranda. Presidente da Comisso de Assuntos Econmicos do Senado, Miranda passou a ser investigado pelo fisco depois de apresentar um relatrio condenando o Sivam. 'Perseguio' - Jder Barbalho disse que no se pode usar o fisco, que patrimnio da nao, contra os cidados deste pas. O governista Edson Lobo (PFL-MA) disse que a abertura da investigao sobre Miranda, durante a votao do Sivam, d a impresso de perseguio e Jefferson Peres (PSDB-AM) afirmou que esta investigao, mais do que um crime, um erro, porque coloca parte do Senado contra o governo. Peres ressaltou que os parlamentares no devem ter imunidade fiscal, mas esta investigao, no momento em que est sendo realizada, parece presso. Miranda acusou o governo de estar usando o achaque, a retaliao, o autoritarismo covarde e a falta de tica. O senador Roberto Requio (PMDB-PR) se declarou contra a aprovao do Sivam e disse que coloca sua declarao de renda disposio do governo. Na sesso da supercomisso realizada ontem pela manh, nove dos 10 senadores incritos falaram contra o Sivam. Apesar disso, a liderana do governo continuava apostando na aprovao do relatrio de Ramez Tebet, com base nos governistas que esto em silncio, mas j se comprometeram com o Palcio do Planalto a apoiar o projeto.","Para a aprovao do Projeto Sivam ( Sistema de Vigilncia da Amaznia) pela supercomisso do Senado, o governo jogou pesado. Alm do seu lobby, usou a investigao fiscal para os contrrios e as renegociaes de dvidas para os favorveis. Os senadores Gilberto Miranda e Jder Barbalho sofreram devassa. J o senador Geraldo Mello , sub-relator, obteve a renegociao de uma dvida de R$ 60 milhes junto ao banco do Brasil, aps o banco j ter decidido encaminhar o dbito para execuo. Na reunio de ontem, vrios senadores acusaram o governo de achaque, por estar usando o fisco para obter adeses. Apesar de vrios falarem contra o projeto, o governo contava ainda com os silenciosos que tinham se comprometido a votar a favor. " ce94se13-72,"'Panelas' comandam a economia do pas Professores e ex-alunos da FGV iniciaram em 64 rodzio no poder, dividido com USP, Unicamp, UFRJ e PUC-Rio CARLOS ALBERTO SARDENBERG Da Reportagem Local A Fundao Getlio Vargas assumiu o comando da poltica econmica, em grande estilo e sem intermedirios, em abril de 1964, no governo Castello Branco, o primeiro do regime militar. Octvio Gouva de Bulhes, lder maior da FGV, tornou-se ministro da Fazenda. Fazia dupla com o ministro do Planejamento Roberto Campos, discpulo de Eugenio Gudin. Templo da ortodoxia, a FGV fez o servio que dela se esperava. Campos e Bulhes controlaram as contas pblicas, criaram o Banco Central e derrubaram a inflao. O custo desse programa tambm foi o esperado: recesso, salrios em queda e empresas afundando por falta de crdito e compradores. E afundou junto, dentro do regime militar, o prestgio da FGV. Conspirador, Carlos Lacerda fez a frase que simbolizou a crtica ao programa: A poltica de Campos e Bulhes mata igualmente os pobres e os ricos. Os pobres, de fome. Os ricos, de raiva. Contra a vontade de Castello Branco, seu sucessor na Presidncia foi o ministro do Exrcito, Arthur da Costa e Silva, que devolveu a FGV para a academia e nomeou um ministro da Fazenda com idias desenvolvimentistas, Antnio Delfim Netto, da Faculdade de Economia e Administrao da Universidade de So Paulo (USP). Se a FVG sempre defendeu o Estado enxuto, com regras mnimas e neutras de modo a deixar que a economia de mercado funcione, Delfim acha que o mercado funciona com o Estado agindo na economia para dar-lhe impulso e determinada direo. Talvez por estar em So Paulo, a Faculdade de Economia da USP, direita e esquerda, tende a privilegiar o crescimento econmico. Delfim honrou a teoria. Em seu perodo maro de 1967 a maro de 73, ao longo de trs governos (Costa e Silva, Junta Militar e Emlio Mdici), o Produto Interno Bruto (a soma de bens e servios produzidos no pas) praticamente dobrou em seis anos. Foi o desenvolvimentismo-autoritrio. Sem Congresso para limitar seus atos, o czar Delfim escolhia sem restries quais setores e empresas receberiam subsdios, incentivos fiscais e isenes. Mas no terminou bem. Delfim havia introduzido um amplo arsenal de controle de preos. No final de seu perodo, como as presses inflacionrias se acentuassem, no hesitou em tabelar. O tabelamento foi desrespeitado, mas os ndices continuaram captando os preos da tabela, segurando a inflao artificialmente. Volta da FGV Se a USP fora chamada, em 1967, para consertar os estragos do programa da FGV, em maro de 1973 ocorreu o contrrio. O general Ernesto Geisel, do grupo de Castello Branco, assume a presidncia, dispensa Delfim Netto, exilado para a embaixada de Paris, e coloca na Fazenda o mais brilhante professor da FGV, Mario Henrique Simonsen. Logo de sada, Simonsen manda recalcular a inflao, e o desempenho de Delfim piorou. A sua ltima inflao, propagandeada como de 12%, foi l para cima. No governo, a idia de Simonsen era controlar as contas pblicas, desequilibradas pelos investimentos anteriores e pela larga concesso de benefcios. Mas Geisel assumiu com o propsito de iniciar a distenso do regime, o que eliminava a possibilidade de um ajuste recessivo. Resultou da um interessante governo. Sob o comando de Simonsen, a poltica econmica foi uma permanente tentativa de conciliar o controle das contas pblicas com elevados nveis de investimento. Joo Paulo dos Reis Velloso, ministro do Planejamento, era o homem do crescimento. O balano mostra investimentos positivos em infra-estrutura (ressalvadas as usinas nucleares e a Ferrovia do Ao), ndices razoveis de crescimento econmico, mas com inflao ascendente e dvida externa crescente, com nova distribuio de benefcios. Um novo embate FGV X USP viria a ocorrer no comeo do governo de Joo Figueiredo (de maro de 79 a maro de 85). Simonsen continuou no comando da poltica econmica, mas no Ministrio do Planejamento. Delfim voltava ao poder, pela porta dos fundos do Ministrio da Agricultura. Com a segunda alta internacional nos preos do petrleo e o primeiro choque nos juros externos, Simonsen firmou o p: era obrigatrio um forte ajuste. Figueiredo, porm, no queria saber disso, os empresrios no queriam e os polticos, j em tempos de abertura, tambm no queriam. Simonsen se demite, Delfim assume o Ministrio do Planejamento e anuncia: vamos voltar a crescer. Teve apoio geral, inclusive dos economistas da oposio, espalhados pela USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), PUC-Rio (Pontifcia Universidade Catlica do Rio) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mas o segundo Delfim ficou longe do primeiro. Em vez de novo milagre, pilotou a quebra do pas. Em setembro de 1982, o Brasil no tinha um tosto nas suas reservas internacionais. Faliu, numa moratria compulsria. At maro de 1985, o pas viveu como que deriva, entre ajustes, tentativas de crescimento e negociaes com o Fundo Monetrio Internacional (FMI), pilotadas por Affonso Celso Pastore, da USP. Quando Jos Sarney assumiu a Presidncia que deveria ser de Tancredo Neves, em maro de 1985, a inflao era de 200% ao ano e o ajuste estava por fazer. Para piorar, Tancredo Neves cozinhava com uma panela improvvel. Conservador, entregou a Fazenda a seu sobrinho, Francisco Dornelles, da FGV, de volta ao poder. Mas para contrabalanar, entregou o Ministrio do Planejamento ao paulista Joo Sayad, vindo da mesma faculdade de Delfim, a USP, mas pelo lado esquerdo. Sayad carregou Paulo Nogueira Baptista Jr., um FGV de esquerda, e mais Prsio Arida, Andr Lara Resende, Edmar Bacha e Francisco Lopes, todos estes da PUC-Rio. Tambm transitava por ali Maria da Conceio Tavares. Plano Cruzado Com Sarney e a fora do PMDB, Dornelles perdeu espao, demitiu-se, e todos os conservadores saram com ele. Dilson Funaro tornou-se ministro da Fazenda, onde alojou Joo Manuel Cardoso de Mello e Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, panela do PMDB. A poltica econmica ficou ento totalmente nas mos de economistas que tinham militado na oposio ao regime militar. Mas esse condomnio teria vida curta. No governo, explodiriam as diferenas entre as panelas. Na Unicamp e na USP no se achava ento que a inflao fosse o problema principal. J os heterodoxos da PUC-Rio, nisso com os ortodoxos da FGV, achavam. Os heterodoxos achavam que a inflao era inercial. Ningum mais achava. O Plano Cruzado foi uma inveno do pessoal da PUC-Rio, que os demais aceitaram por falta de alternativa, quando a inflao escalou no primeiro ano do governo Sarney. Mas como nem todos entendiam bem a coisa, o plano comeou a sofrer modificaes estranhas ao seu esprito. Na medida em que ia sendo distorcido, o pessoal da PUC-Rio deixava o governo: Lara Resende, Arida, Bacha e Lopes e o prprio Sayad, que os bancara. Logo porm caem Funaro e seus escudeiros, com o fracasso do remendo, o Cruzado 2. Sobe ento ao ministrio da Fazenda um acadmico de vrias linhagens, Luiz Carlos Bresser Pereira. Tinha base na FGV paulista, mas transitava, como o faz at hoje, com a mesma desenvoltura na USP e na Unicamp. Tentou seu plano de desindexao, que caiu por falta de apoio poltico. Sucedeu-o Mailson da Nbrega, um quadro da Fazenda. As academias estavam de fora. No governo Collor, a USP volta surpreendentemente ao poder, com Zlia Maria Cardoso de Mello, do segundo escalo da academia. A ministra atraiu poucos acadmicos de peso, mas marcou um gol levando para o Banco Central Ibrahim Eris, respeitado no mercado financeiro. Mas deu no que deu. No governo Itamar Franco, depois dos breves Paulo Haddad, da academia mineira, Gustavo Krause, poltico de Pernambuco, e Eliseu Resende, poltico de Minas, a Fazenda caiu nas mos de Fernando Henrique Cardoso, um dos nomes de maior prestgio acadmico j produzidos pela USP. FHC, socilogo, foi encontrar o ncleo de sua equipe econmica na PUC-Rio, os mesmos do Plano Cruzado Arida, Bacha, Lara Resende e Lopes, e os recm-chegados Pedro Malan e Gustavo Franco, estrela em ascenso. Essa turma se alinhara no PSDB e subiu com FHC. Sem diversificao que a neutralizasse, pde tocar o Plano Real com coerncia. onde estamos. Os de outras academias se espalharam pelos partidos da oposio, onde comeou a brilhar a estrela do petista Alozio Mercadante, da USP. E a turma da FGV? Com Simonsen, est gostando desse Plano Real, pelo menos na fase inicial."," Panelas comandam a economia do pas Professores e ex-alunos da FGV iniciaram em 64 rodzio no poder, dividido com USP, Unicamp, UFRJ e PUC-Rio CARLOS ALBERTO SARDENBERG Da Reportagem Local A Fundao Getlio Vargas liderou a poltica econmica no governo Castello Branco.Octvio Gouva Bulhes tornou-se ministro da Fazenda , em dupla com Roberto Campos no Ministrio do Planejamento. Dentro da sua linha ortodoxa , a Fundao cumpriu a tarefa. Controlaram as contas pblicas, criaram o Banco Central e derrubaram a inflao. O custo foi o esperado: recesso, queda de salrios , empresas falimentares por falta de crdito e fregueses. O prestgio da FGV tambm se foi. Arthur da Costa e Silva nomeou como ministro da Fazenda Antnio Delfim Netto (da USP). Se a FGV sempre defendeu o Estado enxuto, Delfim entende que ele deve agir na economia. Na sua gesto marcada por idias desenvolvimentistas, o PIB praticamente dobrou em seis anos. Sem as limitaes do Congresso, ele escolhia quais setores e empresas receberiam subsdios, incentivos fiscais e iseno. Mas no terminou bem. Com as presses inflacionrias , tabelou os preos, mas s conseguiu camuflar a inflao. No governo Ernesto Geisel , voltou a FGV com Mrio Henrique Simonsen, que manda recalcular a inflao , piorando o desempenho de Delfim. A inteno de Simonsen era controlar as contas pblicas , desnorteadas pelos investimentos anteriores e pela ampla concesso de benefcios. O resultado foi a conciliao das contas pblicas com elevados nveis de investimento. No comeo do governo de Joo Figueiredo, ocorreu novo confronto FGV x USP, com Simonsen no Ministrio do Planejamento e Delfim no Ministrio da Agricultura. Com a nova alta dos preos do petrleo e o primeiro choque nos juros externos, Simonsen propunha a obrigatoriedade de um forte ajuste. Figueiredo no queria , em consonncia com os empresrios e polticos. Simonsen se demite e Delfim assume o Ministrio do Planejamento com o lema de voltar a crescer. Mas o segundo Delfim pilotou a quebra do pas. Quando Sarney assumiu a Presidncia , a inflao era de 200% ao ano. Dlson Funaro foi nomeado ministro da Fazenda. Unicamp e USP de um lado e PUC-Rio e FGV de outro polarizavam uma discusso em torno de saber se a inflao era o problema fundamental Nesse clima, o Plano Cruzado , produo da PUC-Rio, foi aceito e implantado por falta de alternativa. Com a falta de entendimento do assunto, o plano foi sofrendo alteraes estranhas a seu esprito. " br94ma15-21,"O intelectual de sucesso se adapta ao poltico A partir dos anos 70, Fernando Henrique deixa posies de esquerda e passa a interferir no debate poltico FERNANDO DE BARROS E SILVA Da Reportagem Local Desde muito cedo, Fernando Henrique Cardoso viveu como um perfeito dubl de intelectual e poltico. Nada mais falso do que ter dele a imagem do socilogo bem-sucedido que s tardiamente trocou as aulas pelo palanque. Comentando a dupla vocao do candidato tucano, seu ex-professor mais clebre, o crtico literrio Antonio Candido, 75, diz que era um aluno brilhante e, ao mesmo tempo, uma das pessoas mais preparadas para a poltica universitria que conheci. s voltas com Marx Na dcada de 60, Fernando Henrique viveu seu auge como intelectual. Seu primeiro livro a se tornar referncia para as cincias sociais no Brasil foi Capitalismo e Escravido no Brasil Meridional, publicado em 1962. Sobre o livro, FHC faz hoje o seguinte comentrio: um livro que pra em p, uma obra muito importante que ningum nunca leu. Foi uma tentativa de utilizar a dialtica numa anlise concreta. Para se entender do que se trata, preciso recuar a 1958. Foi naquele ano que jovens intelectuais da USP resolveram formar um grupo interdisciplinar para ler O Capital, do economista e filsofo alemo Karl Marx (1818-1883). O ncleo mais assduo do Seminrio Marx, como ficou conhecido, era composto pelo filsofo Jos Arthur Giannotti, o economista Paul Singer, o crtico literrio Roberto Schwarz, o socilogo Octvio Ianni e o historiador Fernando Novais, alm de FHC. Paul Singer se recorda que a primeira reunio foi na casa de FHC. O grupo se encontrava sempre aos sbados, durante a tarde, e depois jantava junto na casa do anfitrio, num esquema de rodzio. No havia traduo do livro em portugus. Eu lia no original alemo. O Giannotti lia em francs, lembra Paul Singer. A regra do grupo era interpretar O Capital linha por linha. s vezes, gastavam uma tarde inteira discutindo o significado de um nico conceito, num exerccio de rigor at ento indito entre os que se auto-denominavam marxistas. Foi dali, sem dvida, que nasceu o que se pode chamar marxismo de ctedra no Brasil. Todos eram intelectuais de esquerda, mas ningum no grupo estava diretamente preocupado em fazer a revoluo no dia seguinte. Tratava-se de uma empreitada acadmica, impulsionada sobretudo pelo esprito empreendedor de Giannotti, que concentrava a discusso sobre os aspectos lgicos do livro, na tentativa de entender o que era, afinal, a tal dialtica. Fernando Henrique era dos que mais desconfiava das filigranas a que descia o debate e torcia o nariz para as questes, por assim dizer, liliputianas em torno da grande obra de Marx. Anos depois, ao ver jovens alunos lendo O Capital, FHC reagia sempre com ironia. Ele dizia que as pessoas estavam rezando, lembra Singer. Ironia ou no, coube a Fernando Henrique a tarefa de ser o primeiro a fazer a lio de casa e tirar as consequncias dos anos de seminrio. Capitalismo e Escravido recorre dialtica marxista para explicar como uma sociedade baseada no trabalho escravo podia ao mesmo tempo ser capitalista. Se o tema capitalismo e escravido j era um clssico local, o livro de FHC tem o mrito de renov-lo, limpando a discusso do entulho que a cercava e dando s cincias sociais uspianas o to almejado atestado de maioridade. No aspecto estilstico, entretanto, o socilogo se enredou num cipoal de referncias e citaes com resultado algo disforme, para no dizer desastrado. Em 1977, ao fazer um novo prefcio ao livro, ele toca no ponto quando relembra as influncias tericas que o animavam em 62. O trecho a seguir do prefcio mostra os desencontros do autor vistos por ele mesmo: No prefcio da edio de 1962 tento juntar o que lera em `O Capital' com a inspirao sartreana de como tornar a dialtica utilizvel na anlise sociolgica (sem comprometer-me com as teses da `Critique de la Raison Dialectique') e com a reivindicao lukacsiana da possibilidade de usar a noo de `conscincia adequada', talvez algo weberiana e at mesmo (quanto adjetivo!) kantiana. Um esprito maldoso diria que estamos diante de uma verso acadmica da indeciso crnica que os adversrios costumam atribuir ao senador tucano. Melhor que isso talvez seja um comentrio do crtico literrio Roberto Schwarz, segundo quem em matria de dialtica, nosso senador sempre foi um saci. Conhecendo-se a habitual ironia do autor da tirada, um velho amigo de FHC, pode-se dizer que saci, no caso, contm a um s tempo elogio e crtica. Algo do tipo: lpido, porm manco. Verdade ou no, Fernando Henrique abandonaria nos livros seguintes o tema da escravido e a pretenso filosofante. Teoria da dependncia Seu livro subsequente, Empresrio Industrial e Desenvolvimento Econmico (1964), iria se ocupar do presente histrico, trao que passaria a ser recorrente em sua obra dali em diante. A partir de entrevistas feitas com empresrios entre julho de 1961 e outubro de 1962, FHC chegava a concluso de que a idia de uma burguesia nacional j era naquela altura uma quimera. Que esta em grande parte j se associara aos grandes grupos do capital estrangeiro, tornando-se deles um parceiro menor. No havia, como queria a cartilha comunista, conflito de interesses entre capital local e multinacional, mas cumplicidade e acomodamento de interesses. Mas seria sobretudo a partir do lanamento do livro Desenvolvimento e Dependncia na Amrica Latina, escrito entre 1966 e 67 em parceria com o argentino Enzo Faletto, que FHC tornou-se conhecido e citado no exterior. Foi atravs desse livro que o termo dependncia passou a fazer parte do jargo sociolgico internacional, sobretudo nos crculos acadmicos de esquerda. Para formular a teoria da dependncia, FHC valeu-se do exlio no Chile, entre 64 e 67. L, travou contato com o pensamento da Cepal (Comisso Econmica para a Amrica Latina), cujo maior representante no Brasil foi o economista Celso Furtado. A repercusso da teoria da dependncia no exterior foi grande. A ponto de dez anos aps sua primeira apario, em 1976, Fernando Henrique escrever um ensaio sobre O Consumo da Teoria da Dependncia nos EUA, publicado originalmente em francs. No texto, FHC procurava acertar as contas com aqueles que teriam desfigurado sua construo terica. O seguinte trecho do artigo d a idia geral do esprito que o movia na poca: preciso ter sentido (...) de ridculo e evitar o simplismo reducionista to comum entre os modernos colecionadores de borboletas que abundam nas cincias sociais e passeiam pela histria classificando tipos de dependncia (...), na doce iluso de que com seus achados vo retirar toda a ambiguidade, imaginao e inesperado da histria. `Deslize ideolgico' O trecho acima mostra que algo mudara na cabea do socilogo. Fernando Henrique usa a crtica que faz aos seus intrpretes para dizer que, quela altura, seu problema j no era o dos anos 60. Expresses como ambiguidade, imaginao e inesperado da histria revelam algum preocupado em pensar a prtica poltica. Este , alis, o sentido mais geral de seu livro Autoritarismo e Democratizao (1975), que marca sua ltima virada acadmica. Voltado para o estudo do Estado brasileiro, Fernando Henrique passa a interferir no debate sobre sua democratizao, que ento j se esboava sob o governo de Ernesto Geisel (1974-79). Foi nessa mesma poca, no por acaso, que o socilogo entrou para o mundo da grande poltica institucional para nunca mais deix-la. Trabalhando no Cebrap (Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento), que havia ajudado a fundar em 1969, Fernando Henrique assume em 1973 a tarefa de pensar e articular a candidatura de Ulysses Guimares para a eleio presidencial indireta de 1974. O Fernando muito arguto. Percebeu logo que uma opo de esquerda no poderia ser majoritria e ele no queria arriscar sua carreira poltica. H 20 anos, ele comeou a abandonar progressivamente suas posies tericas de esquerda, diz o atual presidente do Cebrap, o economista Francisco de Oliveira, eleitor de Lula. Oliveira no fala sozinho. A converso gradual de FHC no campo das idias foi batizada pelo cientista poltico David Lehmann, da Universidade de Cambridge, Inglaterra, como um deslizamento ideolgico. Num artigo de 1986 intitulado Cardoso: da Dependncia Democracia, publicado na revista Novos Estudos do Cebrap, Lehmann mostra como a metamorfose do intelectual, na passagem dos 60 para os 70, contempornea e est ligada ascenso do poltico profissional. Hoje, o prprio FHC reconhece que passou por trs fases intelectuais. A primeira, diz ele, a do livro de 1962 sobre capitalismo e escravido. A segunda, continua, trata da questo do desenvolvimento dos pases dependentes, quando disse aos comunistas que eles estavam errados. A terceira, conclui, veio nos anos 70, com os estudos sobre o Estado e o autoritarismo. Como se v, a autobiografia intelectual do candidato tucano coincide com a anlise que fazem dele os seus crticos. Com uma diferena fundamental: FHC trata suas metamorfoses tericas sem relacion-las com as necessidades prticas de ascenso do poltico. Esse n voltou tona no ltimo dia 4. Convidado para fazer a conferncia comemorativa do 25 aniversrio do Cebrap, do qual foi presidente entre 1980 e 1982, FHC escolheu como tema Os desafios tericos dos anos 70. Diante de cerca de 200 pessoas que lotaram o anfiteatro do Conselho Universitrio da USP, o candidato reencarnou o professor com desenvoltura incomum para quem est afastado do mtier. Foi aplaudido, mas dividiu a platia. Ex-colegas do Cebrap e simpatizantes do PT ali presentes acham que FHC montou um quadro terico do Brasil dos anos 70 cujo desenlace prtico ou ponto de fuga histrico seria a sua candidatura Presidncia. Em suma, uma auto-propaganda disfarada por uma camada de caramelo sociolgico, como disse contrariado um cebrapiano logo aps a conferncia. Lehmann, em seu artigo de 86, escreveu algo semelhante: Suas (de FHC) declaraes sobre vrios temas de interesse do ponto de vista conceitual so muitas vezes ligeiramente evasivas, e ocasionalmente mesmo diplomticas, como convm a um poltico travestido de socilogo. Colaborou FERNANDO RODRIGUES, da Reportagem Local","O intelectual de sucesso se adapta ao poltico. A partir dos anos 70, Fernando Henrique deixa posies de esquerda e passa a interferir no debate poltico. FERNANDO DE BARROS E SILVA Desde cedo, Fernando Henrique Cardoso conciliou os perfis de intelectual e poltico. Seu ex-professor Antnio Cndido assim se expressa sobre ele: era um aluno brilhante e, ao mesmo tempo, uma das pessoas mais preparadas para a poltica universitria que conheci. Na dcada de 60, pontificou como intelectual. Seu primeiro de referncia para as cincias sociais foi Capitalismo e Escravido no Brasil Meridional. Resumindo o que disse o prprio FHC, foi uma tentativa de utilizar a dialtica numa anlise concreta. J em 1958 , jovens intelectuais uspianos (entre os quais Jos Arthur Gianotti, Paul Singer, Roberto Schwarz , Fernando Novais e Fernando Henrique) formaram uma grupo para ler O Capital de Marx. A regra era interpretar o livro linha por linha, com um rigor at ento indito entre os autodenominados marxistas. Foi dali que nasceu o marxismo de ctedra entre ns. Todos eram de esquerda, mas no tinham preocupao de fazer a revoluo de imediato. Nos encontros, Fernando Henrique era o que mais discordava da posio detalhista na abordagem da obra. Ele foi o primeiro a mostrar os frutos dessas discusses com o livro Capitalismo e Escravido, que se utiliza da dialtica marxista para mostrar como uma sociedade escravocrata podia simultaneamente ser capitalista. O tema no era indito , mas FHC o renovou. No aspecto estilstico, entretanto, no foi feliz , por ter embaralhado referncias e citaes. Por isso, algum com o esprito adversrio diria que a estava o lado acadmico da indeciso que costumam atribuir ao poltico. Seu livro seguinte , Empresrio Industrial e Desenvolvimento Econmico(1964) se volta para o presente histrico. Entrevistas com empresrios (1961 e 1962) o levaram a concluir que a burguesia nacional j era uma iluso. No havia conflito de interesses entre o nosso capital e o internacional, mas cumplicidade. Principalmente , com o lanamento do livro Desenvolvimento e Dependncia na Amrica Latina , em parceria com o argentino Enzo Faletto , que se tornou conhecido no exterior. Foi da que o termo dependncia ganhou vida no jargo acadmico. O ensaio O Consumo da Teoria da Dependncia nos EUA foi resultado da repercusso no exterior; nele procura acertar contas com os que teriam desfigurado seus conceitos. Num dos trechos aparecem as palavras ambigidade, imaginao e inesperado da histria, reveladoras da sua preocupao em pensar a prtica poltica. Com essa inclinao para os tempos atuais, FHC passa a interferir no debate sobre democratizao , j insinuado no governo de Ernesto Geisel(1974-79). Nessa poca, trabalhando no Cebrap, assume articular a candidatura de Ulysses Guimares para a eleio presidencial indireta de 1974. O economista Francisco de Oliveira assim se expressa sobre FHC :O Fernando muito arguto. Percebeu logo que uma opo de esquerda no poderia ser majoritria e ele no queria arriscar sua carreira poltica. H 20 anos, ele comeou a abandonar progressivamente suas posies tericas de esquerda. Hoje, o prprio Fernando Henrique reconhece que percorreu trs fases intelectuais. Como se v , essa auto-avaliao coincide com a anlise dos seus crticos. O seu lado poltico se revelou no pronunciamento que fez durante a conferncia comemorativa do 25 aniversrio do Cebrap, para o qual escolheu o tema Os desafios tericos dos anos 70. Foi aplaudido, mas dividiu a platia . Ex-colegas do Cebrap e simpatizantes petistas viram na escolha e desenvolvimento do tema uma articulao da prpria candidatura Presidncia. " ce94jl31-e,"O brasileiro hoje morre de maneira diferente do que h 30 anos - e precisa agora tentar modificar o padro atual da morte no pas para no ter que pagar um preo alto demais ao sistema de sade, tanto pblico como privado, nas prximas dcadas. Passou a fase em que o grosso das mortes no pas ocorria devido s chamadas doenas da pobreza, como infeces que causam diarria em crianas. A tendncia que se estabeleceu mostra que problemas como os infartos e cncer, erroneamente considerados doenas de Primeiro Mundo, so responsveis por um nmero cada vez maior de mortes. Mas os contrastes do Brasil fizeram surgir um novo padro, que no tpico nem de Primeiro Mundo: a exploso das mortes violentas. Acidentes de trnsito matam muito, graas convivncia do Brasil civilizado e incivilizado: h bastante gente com dinheiro para comprar carros, mas no h respeito s leis bsicas de trnsito. O principal responsvel pelo aumento nas mortes violentas so os homicdios, em que os contrastes sociais so causa bsica. O final da dcada passada selou a tendncia: mais pessoas foram assassinadas no Estado de So Paulo do que mortas em acidentes de trnsito. Os dados fazem parte do estudo Mudanas no perfil de sade da populao brasileira, realizado por pesquisadores do Nupens/USP (Ncleo de Pesquisas Epidemiolgicas em Nutrio e Sade), ainda no publicada. De acordo com o estudo, necessrio investir agora, antes que seja tarde, na preveno de doenas crnicas, como o cncer. A populao do Brasil ainda jovem, mas taxas de natalidade decrescentes e os avanos mdicos esto fazendo surgir uma proporo de idosos cada vez maior. Se programas de preveno no atingirem agora os adultos e idosos do ano 2020, a conta para tratar todos os infartos, derrames e tumores poder ser alta demais. muito mais barato investir em campanhas de alimentao saudvel, que visam reduzir o colesterol no sangue, do que pagar por pontos de safena. O mesmo vale para programas contra o tabagismo, contra o lcool e a obesidade, todos fatores de risco reconhecidos para diversas doenas. O progresso de ter as doenas crnicas assumindo importncia crescente pode ser enganoso. Por trs dele, h algo que distancia o Brasil do Primeiro Mundo. As doenas crnicas aqui matam mais, e mais precocemente, diz Carlos Augusto Monteiro, professor titular de nutrio da Faculdade de Sade Pblica e coordenador do estudo no Nupens. Um brasileiro de 60 anos, por exemplo, tem seis vezes mais chance de morrer se sofrer um derrame do que um americano. Infartos causam quase cinco vezes mais mortes em brasileiras da mesma idade do que e argentinas. Parte da culpa sem dvida do atendimento mdico, mais precrio aqui. Mas h uma outra explicao, desmistificadora. O fato de os pases ricos terem controlado as doenas infecciosas fez as crnicas, de tratamento mais difcil, assumirem importncia maior. Isso d a impresso de que os fatores de risco das doenas crnicas esto associados apenas ao estilo de vida existente no Primeiro Mundo. Na verdade, os pobres so os que correm mais riscos de desenvolverem essas doenas - assim como as infecciosas. A obesidade, por exemplo, se disseminou mais rapidamente entre mulheres brasileiras com renda mensal entre US$ 30 e US$ 90 do que entre as que tm renda maior. Uma pesquisa realizada em Porto Alegre, divulgada pelo Banco Mundial, mostra que pessoas sem escolaridade (um indicador que sugere pobreza) tm cerca de cinco vezes mais chance de terem presso arterial elevada, o que predispe a infartos, do que pessoas com instruo superior. Da mesma maneira, analfabetos so mais propensos a fumar, consumir lcool, viver de maneira sedentria e serem obesos. A baixa instruo implica menor esclarecimento mdico e menos cuidado com a sade. Algo que programas de preveno - que comprovadamente apresentam excelente relao custo/benefcio - devem atacar de frente.","As causas de morte no Brasil atual so diferentes das de 30 anos atrs. As ocorrncias atribudas pobreza, como diarrias , deixaram de ser as mais freqentes. Priorizamos, cada vez mais, as chamadas doenas do Primeiro Mundo: cncer e infarto. Mas , como somos do Terceiro Mundo, aliamos o atraso com a modernidade: temos muito mais carros , que causam muitas mortes por causa da incivilidade. Porm, a causa maior de mortes so os homicdios, fruto principalmente da nossa desigualdade socioeconmica. Um estudo da Nupens/USP Mudanas no perfil de sade da populao brasileira mostra a urgncia de prevenir as doenas crnicas entre ns , como o cncer e o infarto. Uma alimentao saudvel, o controle do tabagismo , do lcool e da obesidade constituem formas muito mais baratas de evit-las. Entre ns, perigoso modernizar com doenas do Primeiro Mundo, porque aqui se morre muito mais facilmente por causa de um cncer ou infarto do que nos Estados Unidos, quer por no termos a mesma presteza de atendimento mdico, quer porque temos mais pobres --- e essas doenas, apesar da crena em contrrio, atingem mais os mais pobres. Aliado pobreza, vem o analfabetismo , que, segundo pesquisa realizada em Porto Alegre, leva as pessoas a terem cinco vezes mais chance de presso arterial elevada, antecmara do infarto, do que as de instruo superior. Tambm os analfabetos so mais propensos ao fumo, ao lcool, ao sedentarismo e obesidade. " ce94ja21-f,"Os relatores Roberto Magalhes (PFL-PE) e Roberto Rollemberg (PMDB-SP) decidiram pedir a cassao de 18 parlamentares. Dos 43 congressistas citados, o relatrio final solicitar s Mesas da Cmara e do Senado que prossigam a investigao sobre 13. So parlamentares contra quem no foram encontradas provas concretas de envolvimento em corrupo, mas h indcios de irregularidades. Os que saram ilesos da investigao somam 12. A lista com os nomes s foi concluda s 21h30 aps amplas negociaes com os coordenadores de subcomisses. Sofreu vrias alteraes ao longo do dia. O ltimo parlamentar a ser includo nos pedidos de cassao foi o deputado Annbal Teixeira (PTB-MG). A solicitao de perda de mandato de Teixeira foi feita pela Subcomisso de Patrimnio. Dois nomes que constavam anteontem da lista de cassaes de Magalhes acabaram sendo agrupados na categoria daqueles em que ser solicitada o prosseguimento da investigao pela Mesa da Cmara: o lder afastado do PPR, Jos Luiz Maia (PI), e Jos Carlos Aleluia (PFL-BA). No caso de Aleluia, o relator comeou a rever seu caso logo pela manh. O pedido de cassao de Aleluia foi sugerido pela Subcomisso de Emendas. Ns conseguimos identificar que o parlamentar era um despachante da empreiteira Norberto Odebrecht, afirmou o deputado Srgio Miranda (PC do B-MG), membro da comisso. Para Magalhes, no entanto, as provas podem ser consideradas subjetivas pela Comisso de Constituio e Justia, responsvel pelo encaminhamento dos processos contra os parlamentares. O suplente de deputado Fres Nader (PTB-RJ) entrou na lista de perda de mandato na madrugada de quarta para quinta-feira, aps horas de discusso regimental entre Magalhes e seus assessores. Havia dvidas se era possvel pedir a cassao de um suplente -que est sem mandato, mas que pode consegui-lo se o titular sair do Congresso. Nader suplente de Fbio Raunheitti, que teve sua perda de mandato requerida. O relatrio est dividido em trs grandes partes. Na apresentao, Magalhes trata de conceituar temas como a tica e a honestidade. Afirma, principalmente, que um homem pblico no pode desassociar sua vida pblica da privada. Cita desde antigos gregos at Ruy Barbosa, ex-ministro da Fazenda e escritor. Numa segunda parte da apresentao, Magalhes conceitua o que decoro parlamentar. Cita vrios juristas, com suas respectivas definies. Segundo o relator, so atravs destes subsdios que ele definiu o destino dos parlamentares. O outro grande captulo do relatrio trata das recomendaes para a mudana da estrutura dos Poderes Executivo e Legislativo. Entre as principais, esto o fim da Comisso do Oramento e das subvenes sociais. A forma de atuao das empreiteiras no poder pblico aqui relatada. Magalhes guardou para o ltimo captulo a parte mais esperada: a definio do que acontece com cada parlamentar. Se eu falasse logo no incio, o povo iria embora, alegou o relator. So nestas pginas que tambm os governadores, ex-ministros, funcionrios pblicos e demais pessoas envolvidas no escndalo so relacionadas. A dificuldade do deputado Roberto Magalhes em terminar seu relatrio deveu-se, principalmente, falta de um critrio claro para decidir sobre o destino dos parlamentares citados. As diferentes interpretaes das quatro subcomisses sobre os envolvidos atravancaram o trabalho do relator. Magalhes no teve problemas em concluir os pareceres sobre os parlamentares que se situam em dois grupos extremos: aqueles em que as provas so incontestveis e aqueles em que no se conseguiu prova alguma. A dificuldade ficou com o grupo de parlamentares que no estavam nem de um lado nem do outro.","Dos 43 parlamentares citados para serem investigados, os relatores Roberto Magalhes e Roberto Rollemberg propuseram a cassao de 18, solicitaram a continuidade de investigao de 13, e inocentaram 12. Enquanto o relatrio se atm s consideraes sobre tica e honestidade na vida de homem pblico; enquanto conceitua o que decoro parlamentar ; enquanto sugere mudanas na estrutura do Executivo e do Legislativo, propondo o fim da Comisso do Oramento e das subvenes sociais, a situao tranqila. Mas , na hora de definir quem sai e quem fica , a questo muda. A dificuldade para decidir , de um lado, tem a ver com as diferenas de interpretao das quatro subcomisses; de outro , parece estar ligada a interesses escusos que nunca transparecem. Por exemplo, uma das subcomisses diz que identificou o deputado Aleluia como despachante da empreiteira Norberto Oderbrecht , mas o relator Magalhes contrape afirmando que a Comisso de Constituio e Justia pode considerar a prova como subjetiva. Tambm houve problemas de interpretao jurdico-regimental. Por exemplo, se o suplente Fres Nader poderia ser cassado , uma vez que o titular , Fbio Raunheitti, teve a perda de mandato requerida. De qualquer modo, paira um clima de dvida sobre a lisura. " po96jl01-a,"MACEI - O legista Fortunato Badan Palhares decidiu fazer nova percia no quarto onde o empresrio Paulo Csar Farias foi assassinado. Palhares dever tambm pedir a exumao dos cadveres de PC e de sua namorada, Susana Marcolino. Ns estamos aqui para auxiliar a polcia de Alagoas, disse no aeroporto, tendo a seu lado o delegado Ccero Torres, responsvel pelas investigaes, e o secretrio de Segurana de Alagoas, Jos Amaral. Ontem tarde, Palhares examinou as fotografias feitas pelos peritos alagoanos no local do crime e os laudos de balstica, de necropsia, residuogrfico e do quarto de PC Farias. O legista, que chefe do Departamento de Medicina Legal da Universidade de Campinas (Unicamp), conversou durante toda a tarde com os peritos e os policiais que acompanham o caso, para recolher as informaes sobre as circunstncias do assassinato. Reconstituio - A preocupao de Palhares, designado pelo ministro da Justia, Nelson Jobim, para atuar no caso, ser eliminar as dvidas que existem sobre as mortes de PC Farias e Susana. Qualquer falha na percia ser coberta com a reconstituio do cenrio do crime e a exumao dos cadveres. Nos casos em que foi chamado a atuar, Palhares sempre optou por essas providncias. O sintoma mais claro de que, apesar da resistncia da polcia alagoana e da famlia Farias exumao, Palhares seguir seu mtodo fato de ter trazido os equipamentos necessrios e uma equipe especializada em necropsia. O perito oficial Wanderley Leal Chagas, presidente da Associao Brasileira de Criminalstica e integrante da equipe afirmou que o procedimento seguido pelo grupo chegar ao local do crime tendo na cabea a tese de homicdio. Escola americana - At prova em contrrio, esse , em tese, o princpio, afirmou Chagas. Segundo ele, o procedimento o mesmo estabelecido pelo perito Antnio Carlos Villanova, que investigou o suicdio do ex-presidente Getlio Vargas, seguindo uma antiga tese da escola americana de criminalstica. Palhares fez ontem uma visita preliminar casa de praia de PC, em Guaxuma, onde o empresrio e a namorada foram encontrados mortos no domingo, dia 21. Ele pretende fazer um amplo levantamento da rea que abrange a casa de praia, para s depois concentrar-se sobre o quarto onde foram encontrados os corpos. A pesquisa minuciosa. Para quem est iniciando um trabalho nada melhor do que conhecer o original. A volta ao local do crime ajuda a dar uma viso tridimensional do ambiente, que fundamental para a interpretao dos fatos, afirmou Palhares, lembrando, na presena das autoridades alagoanas, que sua equipe far o que for necessrio. O secretrio de Segurana de Alagoas, Jos Amaral, que recepcionou Palhares no aeroporto, assegurou que ele um homem fino e chega a Macei com crdito ilimitado. Melindrar - O perito da Unicamp, famoso por desvendar casos intrincados como o do carrasco nazista Joseph Mengele, o assassinato do lder seringueiro Chico Mendes, o assassinato da Rua Cuba, est agindo com cautela para no melindrar as autoridades locais. Ns viemos em misso de paz e vamos fazer um trabalho em harmonia com a polcia, disse Palhares, surpreso com a operao de guerra montada pelo secretrio de Segurana para receb-lo no aeroporto de Macei. Um squito de autoridades, escoltado por agentes da Polcia Federal e uma equipe de operaes especiais da Polcia Civil de Macei - integrada por um comando vestido com roupas pretas, parecidas com a dos ninjas, e homens armados de metralhadoras e fuzis - acompanhou o comboio pelos 25 quilmetros do aeroporto at o Hotel Ponta Verde, na Praia de Pajuara. Palhares estava num Tempra, acompanhado do secretrio Amaral e do delegado Torres. O som ruidoso da sirene atraiu a ateno dos turistas na principal avenida da orla martima e quebrou a rotina do local. Pouco tempo depois, enquanto Palhares se debruava nos detalhes das fotos dos cadveres de PC e Susana Marcolino, a menos de 20 metros, turistas danavam forr ao som de msicas do grupo baiano Gera-Samba.]","O legista Fortunato Badan Palhares, encarregado pelo ministro da Justia de esclarecer a morte de Paulo Csar Farias e de sua namorada , Susana Marcolino, vai fazer nova percia no quarto onde ocorreu o assassinato e deve pedir exumao dos corpos. J ontem, examinou as fotos feitas pelos peritos alagoanos, os laudos de balstica, de necropsia e residuogrficos . Sua preocupao eliminar todas as dvidas sobre o caso ; por isso, pode fazer a reconstituio do crime e a exumao dos cadveres. O fato de ter trazido equipamentos e equipe especializada confirma essa sua inteno. O perito far antes uma ampla vistoria da rea em que se localiza a casa onde se deu o crime e , s depois, se deter no quarto. Essa viso ampla conseguida in loco ele a considera fundamental para a anlise dos fatos. Palhares , que perito da Unicamp e famoso pelos casos j desvendados, est sendo cauteloso para no melindrar as autoridades alagoanas. Mesmo assim, a escolta federal e estadual, as roupas pretas de um comando , homens armados e sirenes quebraram a monotonia da orla martima e atraram a ateno dos turistas. " di94ju26-08,"Ainda espera do real ADROALDO MOURA DA SILVA O real est chegando cercado de esperana de que desta vez a inflao ser debelada. Aprendemos, aps dcadas de irresponsabilidade fiscal e monetria, que o governo no pode mais deter o poder discricionrio de emitir, expandir ou contrair o estoque de base monetria. A forma mais simples de se estabelecer esse compromisso com a estabilidade criar uma moeda lastreada em reservas internacionais, por fora de lei. Note, contudo, que a criao desta nova moeda lastreada no condio suficiente para a estabilidade, somente a condio necessria para que se possa implementar as reformas fiscal e patrimonial, de modo a construir o fundamento ltimo da estabilidade econmica: a responsabilidade fiscal de longo prazo. Nesse novo regime para expandir ou contrair a base monetria papel em poder do pblico mais reserva bancria ou ainda a obrigao lquida do rgo emissor cumpre-se um rito muito simples: cresce quando e se os agentes econmicos venderem uma posio de moeda estrangeira ao rgo emissor a preo fixo; e reduz quando e se os agentes comprarem reservas do rgo emissor a preo fixo. Moeda deixa pois de ser instrumento de poltica econmica, enquanto durar o novo regime. Mas o governo no ficar inerte: pode alocar recursos tributrios para cumprir suas promessas de crdito seletivo e subsidiado; pode e deve manter seu poder regulador e fiscalizador sobre as atividades bancrias; e logo aprender quanto custa manter uma instituio financeira pblica. O bom funcionamento desse regime depende de dois mecanismos bsicos: o de juros e o de preos e salrios. Juros reais altos ou em alta, relativamente aos do resto do mundo, atraem fundos de fora e ampliam pois a base monetria e, deste modo, reduzem a escassez de reais e derrubam os juros internos; mutatis mutandis, juros baixos em real reduzem a base e ampliam a escassez relativa de reais, revertendo e aumentando assim os juros internos. Mudanas no cmbio real, com cmbio nominal fixo, exigem movimento para cima e para baixo de preos e salrios... A reside claramente um problema, graas inflexibilidade para baixo de salrios, nominal e real. Operariam bem esses mecanismos no Brasil? Hoje, o pas desfruta de uma intensa movimentao de fundos externos, atrados ou expulsos em funo da taxa de juros. O novo e revolucionrio nisso tudo, contudo, o fato de que parcela expressiva desses fundos est sob comando de residentes no pas. Funciona pois muito bem o mecanismo de juros. Poderia inclusive funcionar muito melhor se, por exemplo, fosse eliminado o imposto que hoje incide sobre ingresso de fundos externos, particularmente para aplicaes de renda fixa. Nada mais seria necessrio, nem mesmo ampliar os canais de conversibilidade. H, contudo, apreenses com a rigidez da taxa de cmbio nominal. Essa rigidez terminar por produzir valorizao do real por conta de uma inflao residual inevitvel e, assim, levantar temores recessivos. Esta, contudo, deve ser uma situao temporria e administrvel. Primeiro, porque recursos hoje alocados na administrao da inflao sero reaproveitados de forma mais eficaz e, assim, aumentaro a produtividade fsica, reduzindo pois o custo unitrio da mo-de-obra. Segundo, com a inflao cair tambm a incidncia de tributos, do tipo do IPMF, que hoje oneram particularmente as exportaes; poder-se-ia ademais reduzir o ICMS sobre as exportaes e obrigar os Tesouros Estaduais a honrar os crditos de ICMS acumulados pelos exportadores. Terceiro, no h porque temer uma reduo do saldo da balana comercial, se o volume total das exportaes tambm crescer. Hoje, o pas exibe um saldo superior a 2,5% do PIB, tpico de pas rico. bsico compreender que estaremos colhendo os benefcios da recuperao da economia mundial nos prximos anos atravs da recuperao do preo real de um sem-nmero de produtos exportados pelo Brasil. No h como evitar os riscos da valorizao da taxa de cmbio. Se preciso for, pode-se flexibilizar o regime em situaes de crise, a comear pela definio de uma banda, digamos, de 2,5% para cada lado, na qual a taxa de cmbio poderia livremente flutuar aps os 12 primeiros meses de sucesso do programa; de 5% para cada lado da at 24 meses, e assim sucessivamente. De qualquer modo, no incio do programa o desafio ser expandir e no contrair o estoque de base monetria. A porque bsico entender o mecanismo de juros, como propulsor e criador da nova base monetria. Sucesso ou fracasso do primeiro instante ser a definido. Em suma, a inflexibilidade temporria requerida pelo programa de moeda lastreada gera problemas administrveis, mas bem menos agudos que os hoje produzidos pela inflao aloprada. Contudo, essa inflexibilidade temporria condio sine qua non para dar credibilidade ao compromisso do governo com a estabilidade de preos e com as reformas fiscal e patrimonial. Por isso, a definio das regras de emisso da nova moeda, tanto quanto a fixao da taxa de cmbio, devem ser objeto de lei. Deixar o gatilho do cmbio ou as regras de lastro no poder do rgo emissor ser um escrnio poltico. preciso exorcizar alguns fantasmas que rondam o debate da moeda lastreada. Primeiro, h os que no acreditam que haja disponibilidade de recursos externos para lastrear o real. Temor infundado. S a base monetria precisa ser lastreada, e esta no hoje superior a US$ 4 bilhes. certo que a estabilidade aumentar dramaticamente este valor. Mais certo ainda ser o funcionamento do mecanismo de juro real para produzir exatamente o montante demandado de base monetria sem percalos inflacionrios. Segundo, afirma-se que, sem poltica monetria, ser difcil governar. Erro crasso. O saldo de dcadas de desmandos monetrios e fiscais exatamente produto do poder discricionrio do governo central no manuseio da chamada poltica monetria. S criou mais inflao... Com o real, no se elimina a poltica de crdito; simplesmente ficar claro que qualquer poltica de crdito exige sacrifcio de recursos reais adequadamente provisionados no Oramento. Terceiro, h ainda quem tema que a fixao do lastro escravizar econmica e politicamente a economia brasileira ao resto do mundo. Temor infundado. bvio que o lastro reversvel unilateralmente... Podemos mud-lo ou abandon-lo sem qualquer consulta sede do Imprio. Dcadas de inflao j produziram a mazela temida: o brasileiro detm poupana l fora, retm dlar na forma de papel moeda aqui dentro e foge da moeda nacional como o diabo da cruz... Com moeda lastreada, essa dependncia se reduz e at pode se anular, pois atrair para dentro do pas ativos hoje retidos l fora por residentes no Brasil e expulsar do pas a mais deletria forma de explorao imperialista: a reteno de dlares na forma de papel-moeda. O impacto inicial da introduo da nova moeda ocorrer no mercado monetrio. De pronto cai a taxa esperada de inflao e sobe dramaticamente a taxa de juro real. Mas isso ser de uma curta durao. Ocorrer entrada de fundos externos acompanhada de expanso do estoque de base monetria e de queda de juros em poucas semanas. Para tanto, basta zerar o IOF que hoje dificulta a entrada de fundos externos. Quem comandar esse movimento a demanda pelo estoque real da nova moeda, que cresce face a queda no custo de reter moeda, dado pela taxa esperada de inflao: no tema pois essa emisso inicial expressiva... ser retida voluntariamente. Superada a tenso inicial, dever ocorrer expanso dos setores voltados para a produo de bens de salrios por fora do aumento da taxa de salrio real e da apreciao da taxa real de cmbio. De um modo geral, os bens e servios domsticos devero obter impulso na segunda fase do programa, se a primeira fase for administrada com sucesso. O maior risco de fracasso desta fase reside na tentao eleitoral de transformar os donos de supermercados em produtores de inflao e da logo saltar para o congelamento de preos e salrios. A despeito da demagogia pr-eleitoral, a clara compreenso, em amplos crculos, de que s o governo pode produzir inflao aloprada hoje a vacina contra essa tentao alimentada no obscurantismo poltico. Por fim, o ciclo poltico virtuoso gerado pela estabilizao s se solidificar nas instituies e operao do setor pblico se ele for utilizado para radicalizar as reformas do Estado brasileiro: privatizar; reduzir a sanha regulamentadora e intervencionista do Estado; reconstruir o sistema tributrio; redefinir as regras de dispndio dos recursos pblicos; e respeitar o rito democrtico de transformar em lei e implementar as regras e alocaes oramentrias. A, ento, tarefa a ser cumprida pelo novo presidente, teremos estabelecido o lastro poltico e administrativo para regular discricionariamente um novo regime monetrio fiducirio. O lastro em moeda estrangeira ser ento redundante e dispensvel. ADROALDO MOURA DA SILVA, 52, economista, doutor pela Universidade de Chicago (EUA), professor titular da Faculdade de Economia e Administrao da USP e vice-presidente da Silex Consultoria Financeira. Foi presidente da Comisso de Valores Mobilirios (1985-86) e vice-presidente da rea internacional do Banco do Brasil (1986-88).","Ainda espera do real ADROALDO MOURA DA SILVA O real est chegando como um arauto da queda da inflao. Aprendemos que o governo no pode ter o poder discricionrio de emitir, de expandir ou contrair o estoque de moeda. Esse desmando inflacionrio s pode ser estancado com a criao, fundamentada na lei, de uma moeda lastreada em reservas internacionais. No entanto, ela no condio suficiente para a estabilidade. Tem que vir acompanhada das reformas fiscal e patrimonial. No novo regime, para expandir ou contrair a base monetria , segue-se um ritual simples: cresce quando e se os agentes econmicos venderem uma posio de moeda estrangeira ao rgo emissor a preo fixo; e reduz quando e se os agentes comprarem reservas do rgo emissor a preo fixo. O governo pode alocar recursos tributrios para cumprir suas promessas de crdito ; pode e deve controlar as atividades bancrias. O sucesso depende de dois mecanismos bsicos: o de juros e o de preos e salrios. Juros altos atraem fundos e ampliam a base monetria; assim, reduzem a falta de reais e diminuem os juros internos. Mudanas no cmbio real, com cmbio nominal fixo, exigem oscilao nos preos e salrios. Funcionariam esses mecanismos no Brasil? No momento , o fluxo de fundos externos para o pas intenso, com a caracterstica de que boa parte deles de residentes . O atrativo dos juros funciona e ainda seria melhor , caso fosse eliminado o imposto incidente sobre fundos externos. . H receio da rigidez de cmbio nominal, que poder valorizar o real e, portanto, causar medo de recesso. No entanto, deve ser uma situao provisria e controlvel. Os recursos reservados para administrar a inflao podero ser reaproveitados no aumento da produtividade . Com a inflao cair tambm a incidncia de tributos que pesam sobre a exportao. O temor da reduo do saldo comercial deixar de existir com o crescimento das exportaes. E atualmente nosso saldo de pas rico. No incio do programa, o desafio expandir e no retrair o estoque monetrio. Se , de um lado, a inflexibilidade exigida pelo lastreamento gera problemas , de outro so menos intensos que os causados pela inflao desenfreada. E condio indispensvel a credibilidade do governo em relao ao controle de preos e s reformas fiscal e patrimonial. O temor de uma moeda lastreada precisa ser afastado. Aos que no acreditam na disponibilidade de recursos externos para tanto, bom dizer que somente a base monetria precisa de lastro. Tambm no h fundamento em que , sem poltica monetria, impossvel governar. O manejamento discricionrio da chamada poltica monetria que ocasionou os desmandos monetrios e fiscais. Com o real , a poltica de crdito fica subordinada existncia de recursos provisionados no Oramento. A apreenso quanto subordinao econmica e poltica ao resto do mundo destituda de base , at porque a fixao de lastro pode ser mudada sem consulta . O longo perodo de inflao condicionou o brasileiro a investir l fora e evitar o real. Com o lastreamento, esse receio perder fundamento. A nova moeda de incio causar reduo da inflao e grande aumento dos juros. Mas isso ter curta durao. Logo correr a entrada de fundos externos, principalmente se for zerado o IOF. Na seqncia , certamente aumentar a produo de bens de salrios " co94de31-11,"Eta Ano Bom! JOSU MACHADO O ttulo de capa de Veja da semana de Natal foi o seguinte: Eta Ano Bom. Para ser coerentemente otimista tambm na simptica forma popular, deveria ser Eta Ano Bo, porque a interjeio ta, com circunflexo, combina s maravilhas com bo. Ou por que no Eta Ano Bm? Eta-ferro! E faltou o bvio e essencial ponto-de-exclamao, que a maioria dos jornalistas acha execrvel. A menos que a inteno dos autores do ttulo fosse irnica, porque para alguns no foi to bom: Qurcia, Lula, Brizola, PC e alguns mortos ilustres que o digam. Alguns, alis, no podero dizer nada. O que importa de fato a maioria, e nisso Veja est certa. O ano foi mesmo bom/ timo at para os mesmos. Na verdade um ano que serve de catapulta esperanosa para um perodo de aparente prosperidade, coisa indiscutivelmente boa. S que a moada de Veja se descontraiu com os eflvios natalinos, esqueceu de duvidar e botou um acento popular no popular eta da capa. Teriam tentado evitar que os leitores confundissem a interjeio eta, que exprime alegria, incitamento, surpresa, espanto, com seu e fechado mas sem acento, com o nome da stima letra do alfabeto grego, eta, com seu e aberto, tambm sem acento? Mas no h tantos gregos assim por aqui e, pelo que se sabe, Veja vende pouco na Grcia. Infelizmente. Por que no Vja? Por que no mta (de meter), pta (mentira), tta, xta (provocao amorosa, gesto de beijo de longe)? Por que no malta, multa, mutrta, bolsta (bolsinha) e todas as outras sonoras palavras terminadas em eta com e fechado e acento tnico na penltima slaba? Nenhuma delas acentuada. Por qu? Porque no preciso. Porque so acentuados os oxtonos, isto , os vocbulos que tm acento tnico na ltima slaba, terminados em a (e tambm em e e o). Portanto acentua-se tafet, paquet, jac, m, caf, p, fil, boc, p, e no eta e palavras similares com acento tnico na penltima slaba. O ta de Veja foi distrao, claro. Como sempre, coisa de computador rebelde ou anterior a 1971. Ou da confiana em dicionrios distrados, porque alguns acentuam eta indevidamente. Coisas da vida. No h computador que trabalhe com a lngua, no bom sentido, e no pise no tomate s vezes. Todos sabemos que essa palavreta raramente escrita com seriedade carregou acento at 1971. Era uma das brindadas com o acento circunflexo diferencial, como todas as que tinham e ou o fechado, para no se confundirem com as homgrafas (palavras com a mesma grafia) que os tm abertos: acrto/acerto, aqule/aquele, cr/cor, le/ele, ste/este, ta/eta e assim por diante. Esse acento faleceu com o decreto 5.765, de 18/12/1971, quando era ministro da Educao do governo Mdici o coronel Jarbas Passarinho. Teriam deixado imperecveis saudades? O acento diferencial no deixou. Mas dele ficaram discutveis vestgios: ca, pra, plo, plo, pla, pra, pra; pro, pde, pla, plo, plo, pr, tm, vm so acentuadas. (Se tiver pacincia, veja o significado dos homgrafos abaixo.) A palavra frma (molde) no tem acento oficialmente, mas o bom Aurlio a acentuou por conta prpria, justificando-se, para que no haja confuso com forma (formar), que tambm aparece em de forma que.E virou norma. Quem pode pode. Ele pode e pde. Eu, no. No tenho frma para fazer dinheiro nem bom saldo bancrio aqui ou alhures, de forma que no posso esquiar gostosinho em Aspen nestas frias. Eita ano bom! PS Ca (coar), coa (com + a); pra (parar), para (Preposio); plo (cabelo), pelo (combinao da preposio antiga per + artigo lo), plo/pla (pelar); pra (fruto), pera (preposio antiga para), pra (pedra); pro (fruto ou nome dado aos portugueses pelos ndios), pero (mas, porm); pde e pode; pla (rebento, ramo novo de rvore), pla (surra), pola (por + la); plo (jogo ou eixo), plo (falco) e polo (forma antiga de pelo); pr (verbo), por (preposio); tm (plural de ter), tem (singular); vm (plural de vir), vem (singular). Algumas dessas palavras, que justificam os acentos diferenciais remanescentes, so muito usadas pelos marcianos, que aprenderam portugus com o rei trovador D. Dinis (1261-1325). Pera ver a rapariga que paquerava na feira, levou com a pra na briga bem no meio da moleira. Mais: Voc v aquele filhote de gavio, o plo, que bica pras e pros? Tem as penas to arrepiadas pela pla que levou da me um campo de plo que parecem plos. Faz sentido, no? JOSU R.S. MACHADO jornalista, formado em lnguas neolatinas pela PUC-SP. Colaborou em diversos jornais e revistas.","Eta Ano Bom! JOSU MACHADO O ttulo da capa da Veja da semana de Natal foi : ta Ano Bom , que numa simptica forma popular deveria ser ta Ano Bo .ta e Bo tm tudo a ver. A menos que a inteno fosse irnica , para se referir a alguns no premiados: Qurcia, Lula, Brizola, PC . Mas a Veja acertou para a maioria: o ano foi bom e at timo para os mesmos de sempre. Talvez as inebriaes natalinas tenham sido as responsveis, ou a inteno foi para no confundir os leitores com a letra grega eta (com e aberto). Poderia ser Vja , pta, tta, malta, multa, etc.? No, porque so paroxtonas e oxtonas terminadas em a. Estas sim: tafet, jac , etc. claro que o ta foi distrao. Coisa de computador , de dicionrio distrado. Sabemos que o acento diferencial caiu pelo decreto 5.765 de 18/12;1971. Ficaram vestgios discutveis: pra, plo, plo, pla, pra, pra, pr, etc. O dicionrio , por conta prpria, mantm o acento em frma , contrariando a norma oficial. Das formas remanescentes , algumas so empregadas por marcianos que aprenderam portugus com o poeta trovadoresco D.Dinis (1621-1325). Vejamos: Pera ver a rapariga que paquerava na feira, levou com a pra na briga bem no meio da moleira. E dentro da mesma linha poderamos ter: Voc v aquele filhote de gavio, o plo , que bica pras e pros ? Tem as penas to arrepiadas pela pla que levou da me um campo de plo que parecem plos. " op94ju01-09,"A aliana eficaz JORGE KONDER BORNHAUSEN Como coroamento de um processo de trocas de opinies e negociaes, o PFL (Partido da Frente Liberal) chegou, passo a passo, formao de uma coligao poltica com o PSDB (Partido da Social-Democracia Brasileira), qual se juntou, em seguida, o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), para apoiar a candidatura Presidncia da Repblica do senador Fernando Henrique Cardoso, com base num programa mnimo comum previamente acordado pelas organizaes coligadas. Muita gente no acreditava que fosse possvel a ocorrncia de uma unio poltica desse tipo e em um nvel to elevado, especialmente a formao de uma frente nica entre um partido social-democrata e um partido expressamente comprometido com o iderio liberal, como o PFL. Dvidas foram levantadas sobre a viabilidade e a legitimidade de uma ao poltica a ser empreendida por essas duas foras, havendo mesmo alguns prceres que passaram a se mostrar intransigentemente hostis ao apoio dado pelo PFL ao candidato lanado pelos social-democratas. Segundo eles, este apoio descaracterizaria a identidade ideolgica e poltica da candidatura do eminente senador por So Paulo, ao tempo em que atribuam aos pefelistas uma postura insincera e malvola, adotada por razes subalternas. A meu ver, todo esse arrazoado contrrio formao do bloco de apoio candidatura FHC no tem consistncia, politicamente inepto e, mesmo quando enunciado honestamente e isento de ressentimentos sectrios descabidos, revela uma enorme incompreenso dos mecanismos normais da vida poltica numa democracia. Uma aliana poltica, como a que estamos considerando, se d e se justifica em funo de objetivos polticos definidos a serem perseguidos durante um certo prazo visando a resolver problemas importantes que afetam a vida do pas e que nenhuma fora poltica isoladamente se mostra em condies de resolver. No h fuso de programas nem de concepes. Nem haveria a menor necessidade disso. No caso, nem o PFL nem o PSDB pretendem renunciar a seus princpios e s suas concepes sobre a vida econmica, social e poltica do Brasil. O PFL, desde a sua fundao, se esfora por consolidar e aprofundar a sua viso da sociedade, calcada no iderio do liberalismo moderno. O partido no se prope a trocar de princpios. Parece evidente que os social-democratas tambm no se dispem a renunciar a seu programa partidrio. O mesmo se poderia dizer do PTB e de outras agremiaes polticas que vierem a apoiar os nossos candidatos. Alis, se no fosse assim, nem sequer haveria razo para se formar uma coalizo poltica. Esta ocorre exatamente porque os partidos so diferentes e no pretendem se dissolver. A partir de suas diferenas, esses partidos chegam a delinear uma ao comum para o cumprimento de uma srie de tarefas consideradas importantes para o desenvolvimento do Brasil. O que querem tirar o Brasil do impasse em que se encontra mergulhado, enfrentando algumas questes que, segundo o entendimento comum, constituem obstculos de monta a um novo avano na conquista de melhores padres de desempenho econmico e social para a sociedade brasileira. Esses partidos, aliados para o cumprimento de tarefas ligadas a este momento histrico, entendem ser do seu dever pleitear junto ao povo as responsabilidades do poder, j que no vislumbram uma alternativa vivel, isto , outra soluo poltica eficaz para a crise brasileira. Isso s est sendo possvel na medida em que tais partidos chegam a concluses coincidentes quanto aos pontos que preciso atacar para a retomada do desenvolvimento sem inflao e quanto s polticas pblicas a serem adotadas em setores fundamentais como ensino, sade e previdncia social passando pela reforma fiscal e pela racionalizao da administrao pblica com vistas a mobilizar os recursos e preparar os meios necessrios ao cumprimento das tarefas expressamente atribudas ao governo federal pela Constituio da Repblica. E aqui entra tambm um problema de competncia, isto , o problema de saber quem tem, alm de fora poltica, as condies mnimas necessrias e o discernimento adequado para enfrentar e superar a crise brasileira sem maiores abalos. Se no reconhecemos essas condies nos nossos adversrios, se achamos que as outras foras que disputam a Presidncia no so suficientemente fortes ou suficientemente competentes para atender ao que o Brasil est reclamando neste momento, no podemos deixar de aceitar por inteiro a responsabilidade que nos cabe, pleiteando junto ao eleitorado a Presidncia da Repblica. O PFL empresta todo o seu apoio ao candidato do PSDB, inclusive indicando um dos seus fundadores, o eminente senador Guilherme Palmeira, para a Vice-Presidncia, porque entende que esta a melhor maneira de cumprir o seu dever para com o Brasil nesta altura. Quem no entendeu isso at agora estar, provavelmente, arriscado a ficar ausente do momento histrico que estamos atravessando. Agora, a marcha para a vitria nas urnas! JORGE KONDER BORNHAUSEN, 56, presidente nacional do PFL. Foi governador de Santa Catarina (1979-82), senador da Repblica, ministro da Educao (governo Sarney) e ministro da Secretaria de Governo da Presidncia da Repblica (governo Collor).","A aliana eficaz JORGE KONDER BORNHAUSEN Aps trocas de opinies e negociaes , o PFL (Partido da Frente Liberal) e o PSDB(Partido da Social-Democracia Brasileira) formaram uma coligao poltica com a adeso posterior do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) para apoiar a candidatura de Fernando Henrique Presidncia, com base num programa mnimo comum. Muitos no acreditavam nesse acordo entre partidos de iderios diferentes. Inclusive alguns representantes de cpula manifestaram hostilidade aliana Na minha opinio , essa discordncia no tem fundamento, pois revela uma incompreenso de como funciona a poltica numa democracia moderna. Uma aliana poltica se estrutura em torno de objetivos polticos definidos com vigncia durante determinado prazo. No constitui uma fuso de programas nem de concepes. Nem PFL nem PSDB abrem mo de suas vises particulares . Simplesmente , a partir das suas diferenas , programam uma ao comum visando realizar certas tarefas importantes para o desenvolvimento do Brasil. Isso s exeqvel quando os partidos, como o caso, chegaram a concluses coincidentes sobre como retomar o desenvolvimento sem inflao e sobre como encaminhar polticas intrnsecas incumbncia do Estado como educao, sade, previdncia social, reforma fiscal e racionalizao da administrao. Para levar adiante tal projeto, necessrio que o quadro poltico tenha fora , mas tambm competncia , fruto de um discernimento lcido da realidade a ser enfrentada. " mu94de02-a,"O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, fez ontem acordo com as centrais sindicais do pas e conseguiu evitar a greve geral marcada para hoje. Os sindicatos conseguiram evitar cortes nas aposentadorias. O projeto de Oramento para 1995 de Berlusconi -cuja principal promessa de campanha foi acabar com o deficit pblico (US$ 86 bilhes em 93)- previa drsticos cortes no sistema previdencirio. Na semana passada, j acossado por divergncias dentro do gabinete, Berlusconi foi notificado de que estava sendo investigado em um caso de suborno a agentes do fisco. Trs de suas empresas so acusadas de pagar US$ 205 mil Guarda de Finanas. Em meio a pedidos da oposio para que renunciasse, o premi teve uma reunio com as centrais sindicais em busca de um acordo que lhe permitisse aprovar seu projeto de Oramento e prolongar a sobrevida de seu gabinete. Prometeu tirar a aposentadoria do projeto de Oramento e preparar uma lei s sobre o assunto. O projeto dessa lei foi discutido ontem com os sindicalistas. A guerra das aposentadorias est acabada, disse Berlusconi em entrevista coletiva depois de reunio. O Oramento est salvo. Foi um passo decisivo frente. H mudanas de direo no governo que temos que apreciar, disse Sergio Coferatti, lder da principal central sindical do pas, ligada esquerda. Governo e sindicatos afirmaram que as alteraes no projeto sobre aposentadorias no devem mudar o total dos cortes previstos no Oramento. O governo calcula que US$ 2,5 bilhes deixaro de ser cortados nas aposentadorias e tero que ser obtidos de outro modo. O Oramento precisa passar pelo Senado, onde o governo no tem maioria. O acordo com as centrais sindicais, ligadas esquerda, democracia-crist e aos socialistas, praticamente garante a aprovao, que tem que ocorrer este ano. Sobre a investigao de que objeto, o premi disse que deixar a Itlia se vier a ser acusado. Eu no poderia ficar neste pas se eu tivesse que ser acusado por esses feitos porque eu ficaria com vergonha de encontrar as pessoas na rua, disse. Berlusconi reafirmou sua opinio de que vtima de um compl poltico por parte dos juzes da Operao Mos Limpas. Vrias vezes Berlusconi e os juzes entraram em choque. A operao uma investigao de corrupo iniciada em 92 em Milo que mudou o panorama poltico da Itlia ao envolver as principais lideranas do pas. Berlusconi foi eleito em maro, depois de apenas trs meses na poltica, graas a esse cenrio. No acredito que haja uma corte no pas que me condene s porque me chamo Silvio Berlusconi. Se ocorrer, ser uma sentena poltica, um ato subversivo, disse o premi durante a coletiva. Berlusconi disse que pretende depor em Milo e que dar uma entrevista coletiva logo depois. A data ainda no foi marcada. Como premi, Berlusconi poderia responder ao inqurito em Roma. O irmo de Berlusconi, Paolo, confessou ter pago aos agentes do fisco. Ele e o premi dizem, no entanto, que foram vtimas de extorso e no corruptores. ","Para conter o dficit pblico (US$ 86 bilhes em 93) , o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi , tinha prometido em campanha drsticos cortes no sistema previdencirio. Mas , para evitar uma greve geral das Centrais Sindicais, fez um acordo com elas. Retirou do projeto do Oramento a questo da aposentadoria e afirmou que trataria dela numa lei especial. Com o acordo , conseguiu forte apoio para aprovar o Oramento.no Senado. verdade que Berlusconi tem que buscar cortes em outro lugar , mas j deu para respirar. E j no veio sem tempo, uma vez que estava acossado por divergncias no gabinete e por uma notificao de suborno a agentes do fisco, oferecido por trs de suas empresas. Quanto acusao de suborno, sua defesa de pleno cinismo: Eu no poderia ficar neste pas se eu tivesse que ser acusado por esses feitos porque eu ficaria com vergonha de encontra as pessoas na rua. Atribuiu-a a um compl poltico encabeado pelos juzes da Operao Mos Limpas, que h tempo vinham fazendo investigaes sobre seu envolvimento. " co94jl12-51,"Empresas 'adotam' escolas pblicas Associao rende bons resultados em oito escolas e opo para salvar o sistema de ensino no Estado Da Reportagem Local A unio entre empresas privadas e escolas pblicas vem se mostrado uma excelente opo para salvar o ensino pblico da falncia. De 1991 para c, pelo menos oito escolas de So Paulo foram adotadas por empresas privadas. Com a parceria, conseguiram resolver problemas cruciais do ensino pblico como o alto ndice de evaso e repetncia. Hoje, oferecem a seus alunos um ensino de qualidade surpreendente e incomum entre as demais escolas da rede pblica. Em 50% das adoes, a iniciativa de parceria partiu das escolas. Na outra metade, foram as empresas que propuseram a associao. Em nenhuma das parcerias concretizadas, houve preocupao em treinar futura mo-de-obra para as fbricas. O que motiva os empresrios a adotarem escolas a repercusso positiva que a associao traz. Geralmente, a adoo comea com ajuda material. Em seguida, as empresas passam a colaborar tambm com o aperfeioamento da qualidade pedaggica das escolas. A primeira fase a de conhecimento. Tanto a escola quanto a empresa tm medo de ir mais adiante, diz Clia Takaian ex-coordenadora do Grupo de Educao do PNBE (Pensamento Nacional de Bases Empresariais). As empresas ligadas ao PNBE foram pioneiras na adoo de escolas. S em 1994, trs instituies foram adotadas por empresrios do grupo. A companhia de seguros gerais Porto Seguro, foi um das primeiras empresas a adotar uma escola em So Paulo. A eleita foi a EEPG Prof Etelvina de Gos Marcucci, localizada na favela Paraispolis, no Morumbi (zona sul). De incio, a Porto Seguro reformou o prdio da escola, que estava em pssimas condies. Depois, reequipou a biblioteca e criou um curso de datilografia. Hoje, paga hora-extra para os professores que comparecem s reunies de planejamento e bnus assiduidade para quem no falta. J no caso da parceria entre a fbrica de cosmticos Natura e a EEPSG Matilde Maria Cremm, foi a escola quem primeiro buscou a aproximao, em 1992. A escola vizinha da nossa fbrica em Itapecirica da Serra. Eles nos procuraram para pedir ajuda na organizao de uma festa e a comeou o namoro, afirma Marco Antnio Setti, 44, gerente de recursos Humanos da Natura. Segundo Setti, a primeira fase da parceria se limitou a reformas na estrutura fsica do prdio. Depois percebemos que era preciso mais que ajuda financeira e partimos para os problemas pedaggicos. A Natura contratou ento uma empresa para diagnosticar o que precisava ser mudado na escola. Como j era esperado, o ndice de evaso e repetncia foi o que mais preocupou os especialistas. A falta de preparo dos professores foi outro ponto crtico apontado pelo estudo. Hoje, a Natura tem um psicopedagogo especialmente contratado para fazer a ponte entre a escola e a empresa. Se o Estado no tem condies de suprir todas as necessidades da escola, no vejo nada que impea os empresrios de assumir parte dessa responsabilidade, diz Setti. Outro exemplo de associao bem sucedida entre a iniciativa privada e escolas pblicas o da adoo de trs escolas estaduais por um pool de 60 empresas ligadas Cmara Americana de Comrcio. Desde que as trs escolas foram adotadas, em 1992, cerca de 150 professores de matemtica e portugus receberam treinamento. Durante esse perodo, o ndice de evaso e repetncia nas trs escolas caiu 25%. Esse desempenho superou todas as nossas expectativas, afirma Suzete Rigo, 43, diretora da EEPG Isabel Lucci de Oliveira, uma das trs adotadas pelo pool de empresas. A diretora quer agora estender a parceria com a Cmara Americana de Comrcio a outras escolas da rede pblica. Todo mundo sai ganhando com esse tipo de associao. Claro que no incio existem resistncias dos dois lados, mas com o tempo d para ir aparando as arestas, diz Suzete Rigo. (Daniela Falco)","Empresas adotam escolas pblicas Associao rende bons resultados em oito escolas e opo para salvar o sistema de ensino no Estado Da Reportagem Local A parceria entre empresas privadas e escolas pblicas tem mostrado bons resultados. Desde 1991, foi realizada com oito escolas, com alta reduo de evaso e repetncia. Metade da iniciativa partiu das empresas, e a outra metade das escolas. Geralmente, de incio a ajuda material, depois de aperfeioamento pedaggico. A companhia de seguros Porto Seguro foi das primeiras ; fez parceria com a EEPG Prof Etelvina de Ges Marcucci. Reformou o prdio, reequipou a biblioteca e criou um curso de datilografia.Hoje , at paga hora-extra aos professores que comparecem s reunies de planejamento , e bnus de assiduidade. A EEPSG Matilde Maria Cremm foi a que buscou parceria com a fbrica de cosmticos Natura. Inicialmente, tambm, a ajuda foi para a parte fsica ; depois para a pedaggica. Na anlise feita da escola, constatou-se alto ndice de evaso e repetncia e de despreparo dos professores. A empresa contratou um psicopedagogo para estabelecer o vnculo entre ela e a escola. Outro bom resultado foi obtido com a associao de trs escolas estaduais 60 empresas ligadas Cmara Americana de Comrcio. Foi dado treinamento a 150 professores de matemtica e portugus. Caiu 25% o ndice de evaso e repetncia." co94no01-08,"Leia a ntegra do convnio Termo de convnio que celebram, entre si, a Unio e o Estado do Rio de Janeiro A Unio, neste ato representada pelo presidente da Repblica, Itamar Franco, e o Estado do Rio de Janeiro, por seu governador, Nilo Batista: Considerando ser competncia comum da Unio e dos Estados velar pela guarda da Constituio, das Leis e das instituies democrticas; Considerando que a segurana pblica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, h de ser exercida para a preservao da incolumidade das pessoas e de seu patrimnio; Considerando que s Polcias Militares e ao Corpo de Bombeiros Militares foras auxiliares e reserva do Exrcito compete exercer, respectivamente, atividades de policiamento ostensivo e de defesa civil; Considerando que s Polcias Civis compete o exerccio das funes de polcia judiciria e represso s infraes penais; Considerando que Polcia Federal compete apurar infraes penais de repercusso interestadual, bem como reprimir o trfico ilcito de entorpecentes e o contrabando de armas; Considerando que o trfico ilcito de entorpecentes e o contrabando de armas hoje fundamentalmente uma questo internacional, sendo, portanto, sua represso da responsabilidade direta da Unio; Considerando competir s Foras Armadas no s a garantia dos Poderes Constitucionais, mas tambm da lei e da ordem; Considerando a situao da criminalidade no Estado do Rio de Janeiro, com a atuao de grupos de delinquentes, estruturados em torno de trfico local de drogas e fortemente armados, gerando a intranquilidade e a insegurana no seio da populao e violando os direitos e garantias fundamentais dos cidados; Considerando que esses fatos j ameaam gravemente a ordem pblica e exigem a ao coordenada da Unio e do Estado, sob comando unificado; Resolvem celebrar o presente Convnio, que se reger pelos seguintes termos: Clusula primeira - O presente Convnio tem por objetivo fixar, nos termos constitucionais, diretrizes e mecanismos de colaborao entre a Unio e o Estado do Rio de Janeiro no que diz respeito preservao da Lei, da ordem pblica e da segurana do cidado, especialmente no que concerne preveno e represso do contrabando de armas e do trfico de drogas; Clusula Segunda - Para os fins previstos neste Convnio, o Governo do Estado do Rio de Janeiro promover, de imediato, a constituio de um rgo central para planejar, coordenar e unificar a atuao das Secretarias de Estado da Justia, da Polcia Militar, Polcia Civil, e da Defesa Civil, no combate criminalidade. Esse rgo atuar sob a direo do Comando Militar do Leste, que, ouvido o presidente da Repblica, indicar ao governador do Rio de Janeiro o comandante geral das operaes. Clusula Terceira - Caber Unio prestar, ao rgo central a que se refere a Clusula anterior, orientao e assistncia tcnica, operacional e material; Clusula Quarta - A Unio, por seus rgos prprios, promover a intensificao da vigilncia s vias de acesso ao Estado do Rio de Janeiro, areas, martimas e terrestres, com a finalidade de coibir o contrabando de armas e o trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins; Clusula Quinta - A Unio, na medida das necessidades, reforar os efetivos da Polcia Federal e da Polcia Rodoviria Federal no Rio de Janeiro com vistas represso do trfico internacional de entorpecentes e armas e os colocar sob o comando da autoridade extraordinria prevista neste convnio; Clusula Sexta - O presente Convnio vigorar at 30 de dezembro de 1994, podendo ser prorrogado por prazo a ser convencionado entre as Partes. E por estarem de acordo com todas e cada uma das Clusulas que o integram, firmam o presente Convnio em duas vias de igual teor. Braslia, 31 de outubro de 1994. Itamar Franco Presidente da Repblica Federativa do Brasil Nilo Batista Governador do Estado do Rio de Janeiro","Leia a ntegra do convnio Termo do convnio que celebram entre si a Unio e o Estado do Rio de Janeiro A Unio, representada pelo presidente da Repblica, Itamar Franco, e o Estado do Rio de Janeiro, por seu governador, Nilo Batista, celebram um convnio principalmente voltado para a represso da criminalidade, do trfico de drogas e de armas, uma vez que a segurana do Estado e dos cidados est seriamente ameaada. Na seqncia de considerandos, so estabelecidas as respectivas competncias: da Unio e dos Estados, aos quais cabe velar pela guarda da Constituio, das leis e das instituies democrticas; das Polcias Militares e do Corpo de Bombeiros Militares, aos quais competem o policiamento ostensivo e defesa civil; das Polcias Civis , encarregadas das funes de polcia judiciria e de represso s infraes penais; da Polcia Federal, qual cabe apurar infraes penais de repercusso interestadual, reprimir o trfico de entorpecentes e de armas. Considerando ainda a gravidade da criminalidade no Rio, vinculada ao trfico de drogas e de armas, com sria ameaa segurana dos cidados, firmam um convnio com as seguintes clusulas: 1 - Compromisso da Unio e do Estado do Rio em preservar a Lei, a ordem pblica e a segurana do cidado, fundamental quanto preveno e represso do contrabando e do trfico; 2- Incumbncia do governo do Estado de constituir um rgo central para planejar , coordenar e unificar a atuao das secretarias empenhadas; 3 - Compromisso da Unio de prestar orientao e assistncia tcnica , operacional e material; 4 - A Unio reforar a vigilncia de todas vias de acesso ao Rio , para coibir o contrabando e o trfico. 5 - A Unio , se necessrio, reforar os efetivos da Polcia Federal e da Polcia Rodoviria Federal , com vistas represso do trfico internacional. 6- O convnio vigorar at 30 de dezembro de 1994 , podendo ser prorrogado de acordo com o entendimento das partes. " mu94ou23-18,"Assassinatos so avisos do narcotrfico Cartis querem volta dos acordos informais com o governo que garantiram a expanso das drogas no Mxico JORGE CASTAEDA Especial para a Folha Muito tempo se passar at que possamos saber quem realmente matou Jos Francisco Ruiz Massieu, o segundo poltico mexicano de primeiro escalo assassinado este ano. Se recordarmos a dana de verses e contraverses que se armou em torno do assassinato de Luis Donaldo Colosio, torna-se evidente que muitas das acusaes e suposies podem desaparecer, para serem substitudas por outras igualmente inverossmeis. Mas isso no nos impede de tentar tirar algumas concluses da morte do secretrio-geral do PRI, nem de especular sobre o que vem acontecendo no Mxico desde maio de 1993, quando ocorreu o primeiro assassinato importante, o do cardeal Juan Jess Posadas. Se rechaarmos a hiptese do louco solitrio no caso Colosio, e mesmo que desvinculemos cada um dos assassinatos dos demais e aceitemos que no so produto de uma conspirao articulada, claro que os meios tradicionais para dirimir controvrsias entre as elites mexicanas j no funcionam. Nas ltimas dcadas, os estudiosos do sistema poltico mexicano e de sua lendria estabilidade vm formulando duas teses: a primeira de que a permanncia do sistema derivava da criao de mtodos para resolver de modo pacfico e ordenado as divergncias surgidas entre as elites. A segunda tese acompanhava a primeira: a ausncia de divergncias violentas entre as camadas superiores dependia da atenuao da violncia e do descontentamento nas camadas inferiores, exigia melhoras constantes, embora paulatinas e modestas, das condies de vida das massas empobrecidas. As duas condies se cumpriram at o incio dos anos 80. O que a sequncia de assassinatos ocorridos durante o mandato de Carlos Salinas revela que estagnao da elevao do nvel de vida dos mexicanos (o PIB per capita no pas menor hoje do que em 1981) se somou o colapso dos mecanismos tradicionais de resoluo de conflitos entre as elites. Tanto faz Daria no mesmo se a vtima do atentado no aeroporto de Guadalajara, em 1993, tivesse sido o traficante Chapo Gusmn, o cardeal Posadas ou o nncio papal. As hierarquias da igreja fazem parte da elite mexicana desde os primeiros dias da conquista do pas; os narcotraficantes, pelo menos a partir do momento em que passaram a engrossar as fileiras dos empresrios mais eficientes. Daria no mesmo se Colosio tivesse sido morto por narcotraficantes de Tijuana, pelos desencantados partidrios locais do PRI ou por dinossauros'' do PRI nacional. Quaisquer que sejam as partes em conflito e a origem de seu antagonismo, elas preferiram recorrer s balas a negociar. Tanto faz, tambm, que o deputado Manuel Muoz Rocha e Abraham Rubio Canales (se que foram eles) tenham mandado matar Ruiz Massieu sob ordens do narcotrfico, por ressentimentos pessoais ou porque se opunham a reformas democratizantes que o ele pensava em lanar. A to comentada desordem que Salinas est deixando consiste nisso: seu governo desmantelou ou abandonou muitos dos mtodos tradicionais de soluo de controvrsias entre as elites. A corrupo no diminuiu, mas foi restrita a alguns privilegiados. A diviso de cargos, mordomias, empregos, bolsas de estudo, embaixadas e toda a parafernlia do sistema se estreitou, enquanto a oferta de favores encolhia. As consequncias de se resolver disputas fora se abrandaram: inmeros assassinos ficaram impunes. Na falta de recompensas para quem tinha bom comportamento e de castigos para quem se conduzia mal, no era preciso muita sagacidade para decidir como agir para acertar as contas com inimigo, rival ou concorrente. Vcuo institucional Salinas no se preocupou em construir algo novo e, especificamente, em implantar o nico sistema vivel no fim do sculo: uma democracia representativa autntica e um estado de direito que garantisse justia e segurana. Talvez Muoz Rocha no tivesse ordenado o assassinato de Ruiz Massieu, se tivesse tido a esperana de poder alcanar o cargo que queria por outra via. Uma segunda reflexo sobre as explicaes possveis para a concatenao dos fatos. Na falta de informaes, tudo especulao, mas algumas hipteses so mais verossmeis do que outras. Eu gostaria de propor uma, totalmente desprovida de fundamentos factuais, mas que talvez seja correta. Ela toma como ponto de partida o precedente colombiano. Na Colmbia, a guerra do narcotrfico contra o Estado deslanchou a srio com o assassinato do ministro da Justia Rodrigo Lara Bonilla, em abril de 1984. O motivo foi o temor dos cartis de que comeasse a ser aplicado o Tratado de Extradio firmado entre a Colmbia e os EUA em 1982. Em 1983, a extradio ainda no havia sido posta em prtica. A partir do ano seguinte e at a suspenso do tratado por emenda constitucional, em julho de 1991, os chefes do trfico os extraditveis travaram guerra aberta contra o Estado colombiano. Eles o fizeram no tanto para defender seus negcios, que floresciam, mas para reverter uma medida que violava os entendimentos tradicionais entre narcotrfico e governo e colocava em perigo sua sobrevivncia. Foi s depois de dezenas de assassinatos de figuras pblicas e depois de a guerra fazer milhares de vtimas que um presidente pr-americano, porm sensato, entendeu que era prefervel negociar com o narcotrfico a combat-lo. Quando o Congresso, instado por Cesar Gaviria, mudou a Constituio, Pablo Escobar se entregou, o Cartel de Medelln perdeu fora e o de Cali se imps, com seus usos e costumes mais suaves, seus filhos em Harvard e a prosperidade recuperada. Trs metas possvel que o regime de Salinas tenha chegado a um acordo com o narcotrfico no incio de seu mandato, assegurando trs metas indispensveis para ambos. A primeira: que o narcotrfico trouxesse parte de seu dinheiro para o Mxico, para ajudar o balano de pagamentos. Recorde-se que a Colmbia foi o nico pas da Amrica Latina que se sobreendividou durante a dcada perdida'' dos 80, graas em parte chamada janelinha sinistra'' do Banco da Repblica (o BC colombiano). A segunda meta era que as atividades do narcotrfico no continuassem a perturbar as relaes com os EUA. O perfil, as modalidades e efeitos do trfico deveriam sujeitar-se a certas exigncias. A terceira era que o narcotrfico pudesse continuar suas atividades: as nomeaes de Enrique Alvarez de Castillo, ex-governador de Jalisco e cria de um cartel, e de Javier Coello Trejo, ex-quase governador de Chiapas, ambos bem conhecidos do narcotrfico, talvez respondessem a esse requisito. Em algum momento de 1992 talvez no incio do ano, quando Jorge Carpizo foi nomeado procurador-geral, o narcotrfico teria concludo que o governo Salinas havia violado os acordos tcitos. No porque as autoridades tivessem decidido desferir um golpe forte contra o trfico: todos sabem que a fora, a presena, o consumo, a exportao e o trfico de drogas so hoje maiores do que nunca. Mas o governo pode ter rompido entendimentos anteriores ao permitir aos EUA ingerncia maior na luta contra o trfico. No final de 1990 comearam os sobrevos de avies P-3 norte-americanos; radares e bales com sensores foram instalados na fronteira; foi dada publicidade ao sequestro, por agentes americanos, do traficante Humberto Alvarez Machain (equivalente a uma extradio sem julgamento); o nmero de agentes da DEA no Mxico aumentou e podem ter crescido as investigaes sobre a lavagem'' de dinheiro em bancos dos EUA. `Trabalho sujo' Havia uma razo para mudar o status quo anterior: o Nafta (Acordo Norte-Americano de Livre Comrcio). Embora os governos Bush e Clinton jamais reconhecessem que o tratado incentivaria o comrcio de drogas, os EUA sabiam que esse era o caso. Sem uma intensificao do combate ao trfico que levasse ao deslocamento de suas fontes para outras latitudes, o Nafta ajudaria a fortalecer as vendas de drogas nos EUA. Era necessrio fazer aprovar o Nafta, mas o governo Salinas sabia dos riscos que correria numa guerra contra o narcotrfico. Da sua possvel deciso: aceitar a exigncia dos americanos, mas sob a condio de que eles se encarregassem do trabalho sujo''. Quando o narcotrfico entendeu o que ocorria, teria decidido enviar recados em cdigo'' que o governo compreendeu, mas outros setores, no. Os assassinatos seletivos, desestabilizadores, se prestam a vrias interpretaes, mas transmitem uma mensagem: ou se volta aos acordos anteriores, ou os crimes prosseguem. O trfico no puro'': ele compra, usa, manipula e se alia a setores polticos, empresariais e outros. Grupos ressentidos no interior do PRI podem ter sido usados nesses golpes; tambm possvel que nas altas esferas no exista diferena entre polticos transformados em traficantes e traficantes metidos a polticos. JORGE G. CASTAEDA, 39, socilogo e economista mexicano, professor visitante da Universidade Princeton (EUA) e catedrtico na Universidade Autnoma do Mxico (Unam). Traduo de Clara Allain","Assassinatos so avisos do narcotrfico Cartis querem volta dos acordos informais com o governo que garantiram a expanso das drogas no Mxico JORGE CASTAEDA- Especial para a Folha Descobrir quem matou Jos Francisco Ruiz , poltico mexicano do primeiro escalo , levar muito tempo , se nos recordarmos dos meandros de verses sobre o assassinato de Luis Donaldo Colosio. Mas isso no nos impede de tirar concluses a respeito da morte do poltico, nem de tentar especular sobre o que est acontecendo no Mxico desde 1993. Nas ltimas dcadas, os estudiosos da poltica mexicana e da sua fantasiosa estabilidade formulam duas teses: a primeira a de que a permanncia do sistema resultava dos mtodos para promover entendimento pacfico entre as elites; a segunda que a ausncia de divergncias violentas entre as camadas superiores dependia da amenizao da violncia e do descontentamento das camadas inferiores. As duas foram realidade at o incio de 80. Os assassinatos ocorridos durante o mandato de Salinas revelam a estagnao do nvel de vida mexicano e o colapso dos mecanismos tradicionais de soluo de conflitos entre as elites. A to falada desordem que Salinas est deixando parece resumir-se no desmantelamento desses mecanismos de soluo de conflitos. A corrupo no diminuiu , mas foi restrita a alguns privilegiados. Salinas no se preocupou em construir algo novo, em implantar uma democracia representativa autntica em que o estado de direito garantisse justia e segurana. Cabe ainda uma segunda reflexo sobre as explicaes possveis para coordenar os fatos. Entre as hipteses , eu gostaria de formular uma , tomando como base o precedente colombiano. Na Colmbia , a guerra do narcotrfico contra o Estado tomou impulso com o assassinato do ministro da Justia Rodrigo Lara Bonilla , em abril de 1984. O motivo foi o temor dos cartis de que comeasse a ser aplicado o Tratado de Extradio firmado entre o pas e os EUA em 1982. Os chefes tomaram a deciso mais para retomar os entendimentos tradicionais entre traficantes e governo.Depois de muitos assassinatos, um presidente achou que era melhor negociar com eles do que enfrent-los. possvel que Salinas tenha feito um acordo com o narcotrfico no incio do seu mandato, com estas metas: Que o narcotrfico trouxesse parte do dinheiro para o Mxico , a fim de auxiliar o balano de pagamentos; que as suas atividades no continuassem a perturbar as relaes com os Estados Unidos; que o narcotrfico pudesse continuar com suas influncias, por exemplo: nomear Enrique Alvarez de Castillo , e Javier Coello Trejo, ambos conhecidos dos traficantes. O Acordo Norte-Americano de Livre Comrcio (Nafta) foi uma razo para mudar a situao anterior . Afinal , sem intensificar o combate ao trfico , o Nafta serviria de canal para o aumento de vendas nos EUA. Salinas , temeroso das represlias do narcotrfico, s aceitou o acordo , desde que os americanos assumissem o servio sujo. O narcotrfico entendeu a mudana e comeou a mandar recados: ou se volta aos acordos anteriores , ou os crimes continuam. " co94no13-09,"Reforma constitucional WAGNER GONALVES Os procuradores da Repblica reunidos em Fortaleza, no seu 11 Encontro Nacional, reconheceram que a reforma constitucional, uma vez exaurida definitivamente a reviso, s pode ser feita com obedincia ao art. 60 da Constituio, ou seja, com votao em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, e com aprovao, em ambos, de trs quintos dos votos dos respectivos membros. Reconheceram tambm que a mudana do processo de emenda importa em ruptura da ordem jurdica estabelecida, que compete ao Ministrio Pblico defender. Esta, alis, uma de suas funes essenciais: a defesa da ordem jurdica. Nas discusses do 11 Encontro ficou evidente que a reviso constitucional, alm de ter frustrado a expectativa de milhes de pessoas, trouxe intranquilidade para o pas, na medida em que pretendeu, na verdade, rever toda a Constituio de 1988. E o que restou aprovado, afora o Fundo Social de Emergncia, tem mais aspectos negativos do que positivos, como, por exemplo, o mandato de quatro anos para presidente da Repblica. A magnitude dos problemas brasileiros evidencia que quatro anos de governo insuficiente. No primeiro ano, est-se s voltas com formao e adaptao da mquina administrativa; no ltimo, as eleies mobilizam setores do governo. Assim, falar novamente em reviso constitucional, agora sob o nome de reforma, causa espcie, na medida em que a alterao do procedimento de emenda, previsto no art. 60 da Constituio, alm de representar ruptura do sistema vigente, possibilita vir tona, novamente, mais de 17 mil propostas revisionais e quase 13 mil emendas. Alm disso, alterando o qurum e fixando votao unicameral, abre-se de tal modo o leque de emendas revisionais que outro Regimento Interno da Reforma Constitucional ter de ser editado. Como o primeiro, tal regimento ser fator de conflitos e dvidas, j que haver tendncia quase natural de, por intermdio dele, restringir o que se ampliou com a alterao do art. 60 da Constituio. Defendemos, por isso, que reformas na Constituio devem ser feitas por intermdio de emendas e aps a definio de prioridades, dentro de amplo debate no Congresso Nacional. S a partir do consenso e definidas alteraes mnimas que tais reformas sero viabilizadas. Alis, a legitimidade do futuro presidente da Repblica, aliada popularidade do Plano Real, que caiu nas graas do povo, possibilita sem sombra de dvida modificaes na Constituio logo nos primeiros meses de 1995. Abrir discusso sobre qurum e forma de votao, alterando-se o art. 60, implicar discusses estreis e desgastantes, que, sem nada somar, iro empalidecer o novo governo. Este poder perder, consequentemente, meses preciosos, em detrimento de mudanas pontuais na Constituio, mudanas essas, alis, j aceitas inclusive pelos partidos que se opuserem reviso. Fala-se tambm em Constituinte exclusiva ou comisso de notveis para proceder s alteraes na Constituio. Ora, tais propostas pecam por trs motivos: primeiro, os membros da constituinte exclusiva estaro sujeitos aos mesmos grupos de presso, e, talvez, muito mais suscetveis a eles, exatamente porque no tm, terminado o mandato, obrigao de prestar contas por seus atos; segundo, porque, mesmo notveis, os membros do Congresso Constituinte necessariamente iro refletir os diversos segmentos da sociedade brasileira, com todas as suas mazelas e virtudes; e terceiro, tais propostas imobilizariam o governo eleito, que estaria envolvido em conflitos pela alterao da ordem constitucional. Quem acompanhou os trabalhos da reviso constitucional conhece os riscos de se permitir a ruptura da ordem jurdica vigente, mesmo porque ingnuo pensar que a Constituio s muda para melhor. Uma reforma constitucional, fora do procedimento hoje estabelecido, pode significar retrocesso, com consequncias graves para a nao brasileira. WAGNER GONALVES, 47, procurador da Repblica e presidente da Associao Nacional dos Procuradores da Repblica.","Reforma Constitucional WAGNER GONALVES Os procuradores da Repblica , no seu 11 Encontro Nacional, que a reforma constitucional , terminada a reviso, s pode ser feita obedecendo ao art. 60 da Constituio: com votao em cada Casa do Congresso , em dois turnos , e com a aprovao, em ambos, de trs quintos dos votos dos respectivos membros. Do Encontro resultou a evidncia de que a reviso constitucional, alm de ter frustrado a expectativa de milhes de pessoas, trouxe intranqilidade pela pretenso de rever toda a Constituio. E o que foi aprovado, exceto o Fundo Social de Emergncia, tem mais pontos negativos do que positivos, por exemplo , o mandato de quatro anos para presidente . Portanto, retomar o assunto de reviso, alm de fraccionar o sistema vigente, implica o afloramento de mais de 17 mil propostas e quase 13 mil emendas. Seria preciso outro Regimento Interno de Reforma Constitucional, que, como o primeiro, seria fator de conflitos e dvidas. Da a razo de defendermos reformas na Constituio por meio de emendas , aps definidas as prioridades, num debate amplo no Congresso. Alis, a legitimidade do presidente e o sucesso do plano Real facilitariam isso. Fala-se tambm em Constituinte exclusiva ou Comisso de notveis para as alteraes. So propostas falhas: primeiro , pelo fato de os membros da constituinte estarem sujeitos aos mesmos grupos de presso; segundo, porque, mesmo notveis, os membros do Congresso Nacional iriam reproduzir os segmentos da sociedade brasileira, com seus defeitos e virtudes; terceiro, porque tais propostas imobilizariam o governo eleito. " in96ab25-a,"ASSUNO - Pressionado pela populao e pela oposio parlamentar, o presidente do Paraguai, Juan Carlos Wasmosy, tentava ontem encontrar uma maneira de impedir a posse do general golpista Lino Csar Oviedo no Ministrio da Defesa, enquanto vinham tona os bastidores da crise que explodiu na segunda-feira, quando Oviedo se rebelou contra a deciso de Wasmosy de demiti-lo da chefia do Exrcito. Segundo foi revelado ontem em Assuno, h trs dias Oviedo ameaou explodir a residncia presidencial e assassinar a famlia de Wasmosy caso o presidente insistisse em sua demisso. Se ele no renunciar at s duas da manh, vou explodir o palcio, avisou o general, meia-noite de segunda-feira. Prefiro a renncia e at a morte a um derramamento de sangue, respondeu Wasmosy que, diante das presses do general, chegou a escrever que pediria licena da presidncia. Um blefe em resposta aos blefes do virulento e carismtico Oviedo que, por aqui, entre diplomatas estrangeiros, tem fama de narcotraficante, entre militares a marca de competente e na boca do povo provoca insinuaes maledicentes por sua excessiva paixo em desfilar de Csar no carnaval. Sou um guerreiro guarani, definiu-se Oviedo ontem. Wasmosy s no desistiu da presidncia, que exerce h trs anos, porque recebeu respaldo internacional, do papa Joo Paulo II ao presidente Bill Clinton, dos Estados Unidos. Ao lado de pelo menos outras 60 autoridades mundiais, eles formaram a rede internacional que sufocou o golpe. Wasmosy contou ainda com decisiva colaborao dos colegas do Mercosul. Os embaixadores do Brasil, Mrcio Dias, e da Argentina, Nestor Auad, participaram diretamente das negociaes entre Wasmosy e Oviedo. Impasse - Ontem, o pas viveu um dia de impasse. O acordo feito tera-feira entre Wasmosy e Oviedo - pelo qual o general deixaria a chefia do Exrcito, mas seria nomeado ministro da Defesa - fazia gua, rejeitado pela populao que, segunda-feira noite, tinha sado rua para defender a democracia. Numa cerimnia da qual Wasmosy participou, Oviedo deixou a chefia do Exrcito e passou para a reserva, mas sua posse no Ministrio da Defesa foi adiada. Os comandantes da Marinha, almirante Lpez Moreira, e da Aeronatica, brigadeiro Csar Cramer, ainda tentavam convencer Oviedoa desistir do ministrio. E poucos paraguaios - muitos voltaram a xingar ontem o presidente de covarde e hijo de p... - conheciam os bastidores da ameaa de golpe militar e das negociaes entre Wasmosy e Oviedo, que duraram 17 horas. Temendo os grampos, os interlocutores entre o presidente e o general golppista se recusavam a usar telefones e passaram a madrugada de segunda para tera-feira entre a casa de Wasmosy, uma improvisada fortaleza de negociaes, e o quartel de cavalaria, onde o general, que insistia em desacatar a ordem do presidente e no abria mo do comando do Exrcito, devolvia seus explosivos recados. Que ele rasgue o decreto que me afasta do governo, insistia. Temendo os atentados, Wasmosy mandou que at os soldados deixassem o palcio presidencial e foi dormir fora de casa com trs dos quatro filhos. A mulher, Estela, est nos Estados Unidos.","Com o seu conhecido rompante, o general Lino Csar Oviedo , do Paraguai , ameaa explodir o palcio e matar a famlia do presidente Juan Carlos Wasmosy, caso ele insista na sua demisso da chefia do Exrcito. De acordo com a negociao, o general sairia do comando do Exrcito , mas seria nomeado ministro da Defesa. Ele passou para a reserva, porm a posse como ministro foi adiada. Da a ameaa ao presidente, que foi instado a se afastar do cargo. Wasmosy s no desistiu , porque recebeu apoio internacional, desde o papa Joo Paulo II ao presidente Bill Clinton, alm de pelos 60 outras autoridades mundiais. Alm dessa demonstrao de apoio , o presidente conta com o trunfo de no haver consenso sobre a figura do general: visto como narcotraficante por diplomticos estrangeiros, como competente pelos militares e como cultor excessivo da prpria figura pelo povo. Os interlocutores entre o general e o presidente temem os grupos e evitam usar os telefones . As conversaes se do na casa de Wasmosy e no quartel da cavalaria , onde Oviedo continua desacatando as ordens. " di94ab03-14,"Heranas deixadas pelo regime autoritrio Uma agenda para a reconstruo do pas precisa inverter as prioridades, a comear pela populao e sua misria MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Na ltima sexta-feira (dia da Paixo e da mentira) completaram-se 30 anos de uma ruptura histrica na vida brasileira cujos terrveis efeitos econmicos, sociais e polticos ainda esto presentes. Tardaro a apagar-se. Uma grande parcela da populao, em particular os filhos do AI-5, no tm qualquer memria coerente desse perodo. S tem a tica e assim mesmo implantada recentemente nos cara-pintadas. Esses so os jovens que construiro o futuro de nossa nao, e devero incorporar nas suas preocupaes o destino da maioria da populao que s tem memria das lutas e derrotas da sua vida cotidiana sem o que no tero, eles mesmos, destino algum. Este artigo dirigido aos jovens universitrios, sobretudo os de cincias sociais e em particular os economistas, os quais devem voltar seus coraes e mentes para os problemas cruciais deste pas, em vez de perder-se por descaminhos alimentados pelas supersties, nesta onda de neoliberalismo que parece no ter fim. Oxal possa ajudar tambm outros mais velhos a enfrentar com lucidez a avalanche de notcias que provocam a indignao de tantos, e a desesperana da maioria, hoje mergulhada num estado de esprito que nosso bardo Cames denominou de uma apagada e vil tristeza. sua famosa consigna: Navegar preciso, respondem a prudncia popular brasileira que em tempo de nevoeiro o velho marinheiro leva o barco devagar. Quer seja devagar ou retomando a viagem por mares nunca dantes navegados, preciso ter claro no imaginrio dos jovens que no querem ir para Miami e na vontade dos quadros pblicos que tm de ir a Washington negociar pelo Brasil, qual o mapa da luta na prxima dcada. Antes, porm usemos a memria desta velha economista, j que o futuro s pode ser inventado a partir de uma leitura crtica de nosso prprio passado. O regime autoritrio teve trs mapas nos primeiros anos de partida; o Paeg (Plano de Ao Estratgica de Governo), o PED (Plano Estratgico de Desenvolvimento) e o Plano Decenal. Se os alunos de economia consultarem os trs, como deveriam, para no reincidir nos erros do regime, verificaro as incompatibilidades das rotas concebidas nos primeiros tempos. O Plano Decenal paradoxalmente no tinha qualquer carter estratgico limitando-se a fazer meras projees macro-econmicas de uma situao ainda instvel. Mas importante rel-lo pois num dos seus captulos est uma discusso tcnica sobre as projees monetrias que demonstra que ento como hoje a teoria convencional era e completamente inadequada para lidar com a inflao e com os fenmenos monetrios deste pas. Apesar do arrocho salarial e das reformas fiscal e do mercado de capitais, a inflao no nos abandonou e o BC nunca foi, nem poderia ser independente. De 1974 em diante uma enorme parcela do esforo terico e prtico dos economistas foi dedicada a desenhar modelos de combate inflao e no entenderam, seno recentemente, que a moeda tinha-se tornado indexada e passiva, no respondendo a qualquer poltica monetria ativa. Assim continuaram monetaristas cegos no Banco Central e no Ministrio da Fazenda enquanto no Ministrio do Planejamento os tcnicos eram estruturalistas e desenvolvimentistas. A pobre Cepal levou a culpa da manuteno do modelo de substituio de importaes seguido pelos tcnicos do regime, que obviamente no leram a srio o artigo seminal de Prebisch de 1949: Problemas Tericos e Prticos do Desenvolvimento Latino-Americano, nem a minha modesta contribuio critica da mal chamada substituio de importaes, que j em 1962-64 estava esgotada como paradigma econmico-social de uma sociedade que desejava o desenvolvimento econmico acima de tudo. No caso do Brasil, pas continental e de desenvolvimento regional desigual desde sua formao histrica, a ocupao capitalista do espao (a chamada interiorizao do desenvolvimento) sempre foi decisiva para o crescimento e politicamente complicada uma vez que a concentrao do poder econmico e poltico nunca coincidiram regionalmente exceto por breves perodos da histria brasileira. A sucesso de golpes de Estado e a recorrncia da poltica de governadores sempre procurou respeitar porm dois interesses fundamentais e permanentes das classes produtoras. A moeda e o cmbio sempre deviam valorizar-se ou desvalorizar-se para favorecer os poderosos. As empresas de construo civil e as grandes empresas agroexportadoras (fossem elas nacionais ou estrangeiras) deveriam ficar livres para promover a apropriao capitalista do espao rural e urbano. Estes elementos foram decisivos para a acumulao capitalista mesmo no mal chamado modelo de industrializao por substituio de importaes quando comeou a marcha para o oeste e a conquista da Amaznia e finalmente foi alcanado o fechamento da fronteira agrcola. O financiamento interno e externo dos grandes projetos de impacto sobretudo de infraestrutura e agroexportadores sempre entraram periodicamente em crise, pela fragilidade e carter inflacionrio de suas engenharias financeiras e pelo eterno problema cambial. Os pases perifricos esto inseridos em forma dependente (financeira e tecnologicamente) na chamada diviso internacional do trabalho e no possuem moeda conversvel por definio, salvo quando esto dispostos a pagar a senhoriagem ao pas dominante; Inglaterra no sculo 19 e Estados Unidos nestas ltimas duas dcadas do sculo 20. A industrializao sempre foi por isso um processo truncado e interrompido pelas crises internacionais e quando isso ocorre, o patrimonialismo e o encilhamento financeiro do Estado so a regra, com o que a instabilidade da moeda e a restrio oramentria sempre voltam como uma espada de dois gumes sobre nossas cabeas. Precisamos ver-nos livres de algumas taras do nosso subdesenvolvimento para seguir adiante, neste fim de sculo, e provocar uma ruptura democrtica radical com o nosso passado. Herdamos do regime militar problemas agudos da populao, espao e dinheiro. O regime subordinou as condies de vida da populao e a ocupao do espao nacional ao capitalismo selvagem. Este impediu a reforma agrria que estava madura depois do perodo JK e promoveu uma ocupao predatria do territrio nacional com os consequentes movimentos migratrios, enormes e desordenados, que produziram uma massa de no empregveis nas grandes metrpoles. A subordinao de tudo lgica do dinheiro acabou paradoxalmente por ameaar destruir o prprio dinheiro, atravs da ciranda financeira e da moeda indexada. Esta ltima alm de levar separao da moeda dos ricos (indexada) da moeda dos pobres com suas consequncias distributivas perversas, impossibilita a conduo da poltica monetria e gerou primeiro uma crise da dvida externa e depois sucessivas crises de financiamento do setor pblico, que acabaram quebrando o Estado. Uma agenda para a reconstruo do pas precisa inverter a ordem de prioridades. Devemos comear pela populao (e sua misria), ali onde ela se encontra e no iludi-la com uma nova marcha para o oeste. Isto significa que o ataque pobreza, a retomada do desenvolvimento e a estabilizao no podem ser postas como metas separadas. A viso espacial de projetos estruturantes tem que combinar dois objetivos. O primeiro o abastecimento de alimentos baratos s grandes cidades o que involve uma gesto cuidadosa da infraestrutura e das grandes redes de comercializao. O segundo a reorganizao cooperativa da pequena produo independente e de sua populao na direo de uma urbanizao consistente com a melhoria das condies de vida nas cidades pequenas e mdias. Paradoxalmente, temos que comear a discutir outra vez, no final do sculo 20, a questo da Lei dos Pobres, no centro do debate na Inglaterra nos sculos 18 e 19. Finalmente, temos que enfrentar a questo do dinheiro. No devemos dolarizar a economia e passar a pagar senhoriagem ao pas emissor da moeda internacional decadente. A nova moeda, o real voltar inexoravelmente a ser indexada, a menos que se desmonte a ciranda financeira. Uma moeda nica, de emisso exclusivamente pblica deve ser, como so todas as moedas do sculo XX, uma verdadeira moeda fiduciria, apoiada apenas no poder poltico (e na confiana que nele tenham seus cidados). MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, economista, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).","Heranas deixadas pelo regime autoritrio Uma agenda para a reconstruo do pas precisa inverter as prioridades , a comear pela populao e sua misria. MARIA DA CONCEIO TAVARESEspecial para a Folha Na ltima sexta-feira fez 30 anos uma ruptura na histria brasileira, que deixou conseqncias desastrosas no mbito econmico, social e poltico. Uma grande parcela da populao que viveu nessa poca no tem dela memria coerente. S ficou a tica e mesmo assim mais recentemente nos caras-pintadas. So com esses jovens que se espera construir o futuro do pas , desde que ampliem seu interesse para resgatar os desfavorecidos que s guardaram os sofrimentos sofridos no dia-a-dia. Eu me dirijo aos jovens universitrios, principalmente aos de estudos sociais e , mais ainda, aos economistas para que centrem suas foras nos problemas cruciais do pas e no sejam engolfados pela onda do neoliberalismo. Tomara que eu ajude a outros mais velhos a analisar a avalanche de notcias , motivo de indignao de uns tantos e de desencanto da maioria. Na minha idade, posso utilizar a prpria memria para descortinar um futuro, que sempre acontece a partir da anlise do passado. O regime autoritrio teve trs planos nos primeiros anos: o Paeg (Plano de Ao Estratgica de Governo) , o PED( Plano Estratgico de Desenvolvimento) e o Plano Decenal, que nada tinha de estratgico, limitando-se a projees macroeconmicas de uma situao ainda instvel . Apesar do arrocho salarial e das reformas fiscal e do mercado de capitais, a inflao continuou. De 1974 em diante , os economistas do sistema empenharam-se no combate inflao e s mais recentemente entenderam que a moeda estava indexada e passiva e por isso no reagia a qualquer poltica monetria ativa. O modelo de substituio de importaes seguido pelos tcnicos do regime ,j desde 1962-64, estava esgotado como padro econmico-social de uma sociedade que queria o desenvolvimento econmico a qualquer custo. No Brasil , a ocupao capitalista do espao sempre foi fundamental para o crescimento mas politicamente complicada , pois a concentrao do poder econmico e poltico nunca coincidiu regionalmente , exceto por algum tempo. Apesar dos golpes de Estado e recorrente poltica dos governadores, sempre foram respeitados dois interesses fundamentais das classes produtoras. A valorizao ou desvalorizao da moeda e cmbio devia servir aos interesses da classe dominante. Isso provocou a acumulao capitalista mesmo no modelo de industrializao por substituio de importaes. Os pases do Terceiro-Mundo esto inseridos de forma dependente na diviso internacional do trabalhoe no possuem moeda conversvel , salvo quando dispostos a pagar vassalagem . Por isso , a industrializao sempre foi um processo truncado e interrompido pelas crises internacionais. O regime militar nos deixou como herana uma subordinao do territrio e da vida da populao ao capitalismo selvagem. Impediu a reforma agrria ,j madura desde de JK , o que deixou como seqela movimentos migratrios desordenados para os grandes centros. A priorizao absoluta do dinheiro chegou a ameaar o prprio dinheiro. Um programa de reconstruo do nosso pas deve inverter os vetores. preciso priorizar a populao comum no seu hbitat . Atacar a pobreza, retomar o desenvolvimento e estabilizar a economia no pode ser metas separadas." in96fe14-a,"WASHINGTON - O resultado da eleio primria no estado americano de Iowa, o primeiro grande passo na marcha para a indicao do candidato do Partido Republicano que desafiar Bill Clinton na eleio presidencial de novembro, tem implicaes muito maiores que a simples diviso dos votos. Como era esperado, o senador Bob Dole ganhou, com 26% dos votos, mas teve uma vantagem de apenas 3 pontos percentuais sobre o segundo lugar. At mesmo o ex-comentarista de televiso Pat Buchanan se surpreendeu com seus 23% de votos, que o fizeram ficar parecendo o verdadeiro vencedor. O ex-governador do Tennessee Lamar Alexander, em terceiro lugar, com 18%, ter agora seus 15 minutos de fama, a menos que consiga milagres nos prximos estados que votaro. O quarto lugar de Steve Forbes, com 10%, mostra que impossvel comprar a eleio, e o quinto lugar do senador Phil Gramm, com 9%, coloca um ponto final em sua campanha. Aborto - Iowa desempenhou o seu papel tradicional, disse o analista poltico Steffen Smith, professor da Iowa State University. Reduziu o campo de pr-candidatos de nove para quatro, talvez cinco, mas dificilmente Gramm se recuperar. Pat Buchanan, que segundo pesquisas de boca de urna levou 41% dos votos da chamada direita crist, foi oficialmente consagrado como porta-estandarte da ala mais conservadora do partido, a ala anti-aborto, na qual a Coalizo Crist - grupo que se torna cada vez mais forte desde 1988 - domina um bloco de eleitores muito bem organizados. Essas pessoas se vestem todos os domingos para ir igreja, disse Smith. Se vestiro tambm para votar. Em Iowa, eles representaram 35% dos cerca de 100 mil republicanos que votaram, e tambm foram vitais na vitria de Buchanan em Louisiana, no incio deste ms. Buchanan pode ser visto pelos brasileiros que tm acesso rede de TV CNN: ele aparece todos os domingos, s 21h30, no programa Crossfire, como representante do pensamento conservador. Entre os que votaram em Buchanan, 43% o fizeram porque ele melhor representa os valores conservadores do partido, e 51% porque ele promete que, como presidente, faria tudo para tornar ilegal o aborto. Defensor de uma poltica isolacionista e protecionista que prope erguer uma cerca na fronteira dos EUA com o Mxico, para acabar com a imigrao ilegal, Buchanan tambm dominou entre os eleitores mais pobres - aqueles que se sentem mais ameaados pela situao econmica atual dos EUA. Idosos - A vitria de Dole, 72 anos, alm de muito apertada, problemtica tambm porque a maior parte de seus eleitores no estado - 41% - tinham mais de 60 anos de idade. Nenhum outro estado tem uma populao idosa to grande quanto Iowa. Dole briga pela indicao do partido pela terceira vez (perdeu para Ronald Reagan em 1980 e para George Bush em 1988) e muito identificado como poltico da velha guarda, num momento em que o eleitorado quer sangue novo. O terceiro lugar de Lamar Alexander, que alm de ex-governador foi secretrio de Educao no governo de George Bush, no deixa de consagrar o nico candidato que procurou no basear toda a sua campanha em anncios de televiso negativos (criticando os outros candidatos). A maioria dos republicanos que votaram nele (28%) se consideram moderados, e 31% ainda no haviam decidido em quem votar trs dias atrs. Steve Forbes - que acabou gastando US$ 400 por cada voto que recebeu em Iowa - prometeu que gastar vrios milhes de dlares em anncios de televiso em New Hampshire - o prximo estado que votar, para onde todos os republicanos embarcaram ontem.","A eleio primria no estado de Iowa mostra a tendncia para a escolha do candidato republicano que desafiar Bill Clinton na competio presidncia. O esperado vencedor, Bob Dole, ficou com 26% dos votos , s trs pontos acima do segundo colocado, Pat Buchanan , que pareceu o vencedor. O terceiro lugar(com 18%) ficou com Lamar Alexander ; o quarto (com 10%) , com Steve Forbes, apesar do enorme gasto ; e o quinto ( com 9%), com Phil Gramm , com nenhuma chance. O perfil do eleitorado fica bem demonstrado nos votos de Pat Buchanan: a ala conservadora do partido , contrria ao aborto , escolheu-o como seu porta-estandarte. Outra pregao que lhe deu muitos eleitores foi sua proposta de fechar a fronteira do Mxico para evitar a imigrao clandestina. E ainda conseguiu votos dos mais pobres, que se sentem ameaados com a situao econmica atual do pas. A vitria de Dole, 72 anos, no parece alentadora, porque se deu no estado com o maior ndice de idosos dos Estados Unidos . Identificado como o poltico de velha guarda, vai de encontro tendncia atual por sangue novo. O terceiro lugar de Lamar Alexander foi dado por moderados e por indecisos de ltima hora. E o candidato foi o nico a no fazer campanha estraalhando os adversrios. " ce94ju23-04,"Crise global aponta era de intolerncia Pela primeira vez no sculo, a classe mdia parece incapaz de garantir aos filhos o mesmo nvel de vida LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO Especial para a Folha 1645. Munster, provncia de Wesphalia, oeste da Alemanha. Comeam as negociaes para pr fim ao conflito generalizado -verdadeira primeira guerra mundial- que ensanguentava h dcadas a Europa e suas colnias ultramarinas. Quase duas centenas de plenipotencirios, agindo em nome de outros tantos grandes e pequenos governos europeus, punham sobre a mesa os assuntos do planeta. Em pauta, l no fim da lista, estavam tambm Pernambuco e Bahia, onde se engalfinhavam luso-brasileiros e holandeses. De Amsterd e Paris, a figura glauberiana do padre Antnio Vieira seguia os eventos com o mapa na cabea e um baco na mo. Enojado pelas guerras e pela intolerncia cultural, Vieira, como a maioria dos diplomatas ocidentais, fazia uma leitura pragmtica da religio e da poltica internacional. Estava disposto a entregar Pernambuco aos hereges holandeses em troca de um acordo que garantisse as fronteiras europias de Portugal contra a ameaa espanhola. Laboriosas discusses desembocam em 1648 nos Tratados de Wesphalia. Terminava a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Acaba a hegemonia catlica na Europa. Trs religies crists -a luterana, a calvinista e a catlica- foram institucionalizadas no Ocidente. Criava-se o Direito Internacional, o concerto de negociao diplomtica permanente das naes. Nasciam os pases que, com remodelagens diversas, marcam a histria contempornea da Europa. Vingava uma concepo mais contraditria, tolerante, racional da cultura e dos direitos polticos. At bem recentemente, at os meados da dcada passada, a grande maioria dos historiadores ocidentais pensava que o mundo inteiro havia entrado, depois dos Tratados de Westphalia, numa evoluo contnua. As sociedades e o poder poltico conheciam um processo irreversvel de laicizao. As naes acabariam por se entender e se reincorporar no seio de entidades supranacionais, como a ONU, e, mais concretamente no caso do Velho Mundo, a Unio Europia. Enfim, as foras da natureza estavam definitivamente domadas: graas ao progresso cientfico, as epidemias e as doenas contagiosas regrediam pelo mundo afora. De uns anos para c, tudo desandou. Retornaram epidemias antigas e surgiu uma nova, imbatvel, a Aids. Se estraalharam alguns pases. O nacionalismo vesgo, paroquial, se exarcebou a ponto de ressurgir em plena Europa, na antiga Iugoslvia, a poltica asquerosa da faxina tnica. Enfim, voltam as formas intolerantes de religiosidade. Aqui e acol surgem aventureiros brandando que o remdio de todos os males -a salvao da nacionalidade, da sade pblica, da religio- repousa sobre a crena integral, integrista da liturgia e dos textos sagrados. O integrismo, como o fundamentalismo, se baseia na interpretao literal dos textos sagrados e das supostas tradies. Ora, uma das vias essenciais do progresso ocidental se concretizou atravs da liberdade de reflexo que levou ao afastamento do sentido literal dos textos cannicos. Como lembra em boa hora o historiador Jacques Le Goff, desde a Idade Mdia, autores, escolas, correntes filosficas e polticas avanaram outras interpretaes possveis -alm daquela de carter estritamente literal- s Escrituras, aos costumes, s tradies religiosas. Nesse sentido, a leitura tapada, formalista e linear dos textos sagrados cristos, judaicos ou muulmanos se apresenta hoje como uma perigosa regresso. Como um estmulo constante e intolerncia e ao enfrentamento cultural. Das grandes religies, o fundamentalismo do Isl , sem dvida, o que conhece hoje em dia o maior destaque. Durante muito tempo se achou que a decadncia do Imprio Otomano trazia de cambulhada o declnio do islamismo. O prprio ressurgimento da Turquia, nos anos 1920, sob a direo do movimento republicano kemalista (de Mustaf Kemal Ataturk), parecia confirmar essas anlises. Laica, reformista, a repblica turca rejeitava o fanatismo religioso e reconhecia, desde 1934, o direito de voto s mulheres. Raiaram, entretanto, outros plos regionais de proselitismo que trouxeram o fundamentalismo de volta Turquia. Evento altamente simblico, no ltimo ms de maro os muulmanos radicais ganharam as eleies em Istambul, um centro do kemalismo histrico. Novos pases rabes, como a Arglia, so engolfados pelo fanatismo religioso. Dois milhes de lares argelinos que dispem de antenas parablicas ou paradiablicas, na expresso dos radicais muulmanos esto ameaados de represlias. Por um efeito de ricochete, estes acontecimentos criam tenses em outros pases. Assim, o avano do integrismo islmico na Turquia acentua a rivalidade entre esse pas e o Ir xiita, no Azerbaijo e nas zonas muulmanas do Cucaso, onde o refluxo do domnio exercido pela ex-Unio Sovitica abriu espao influncia conflitante de Teer e de Ancara. Assim, o xodo para a Frana de argelinos perseguidos pelos fanticos islamistas aula ainda mais o racismo antirabe dos franceses. Sobretudo quando aparece que o Isl j se apresenta como a segunda religio mais importante no pas de Voltaire. Dando azo parania galopante que toma conta da Europa ocidental, um diplomata francs, num artigo recente da revista oficiosa Dfense Nationale, aponta o Isl como o inimigo principal das democracias no sculo 21, da mesma forma que o comunismo o ter sido no decurso do nosso sculo. Com uma diferena: como o Isl conta com mltiplos focos de propagao, o avano muulmano ser ainda mais ameaador que o do comunismo engendrado pela Revoluo de 1917. Noutra escala, noutros lugares, o integrismo judaico e o catlico tambm assustam. Preso a um desenho bblico, mitolgico, das fronteiras internacionais na Palestina, o fundamentalismo judaico torna totalmente invivel a paz na regio, como o prprio governo de Israel j se deu conta. Na Europa oriental, todo um bando de gente assustada com os novos ricos e com os novos pobres embarca na canoa de demagogos racistas. Nesse quadro, a palavra de ordem do Vaticano, que pretende reevangelizar aquela parte do mundo, fazendo do catolicismo o cimento espiritual dos pases ex-comunistas, suscita inquietaes. Tal poltica ignora as realidades de uma laicidade que data do Iluminismo setecentista, como tambm fatos religiosos muito mais antigos, muito mais consistentes, enraizados nos territrios onde reina a Igreja ortodoxa. Tudo seria mais fcil, mais propcio ao entendimento dos diplomatas e s prticas democrticas se os problemas econmicos que envolvem o Ocidente fossem um desses destrambelhos passageiros do capitalismo, ou mesmo uma crise cclica violenta, mas bem demarcada, como a do final dos anos 20. Na verdade, duas caractersticas distinguem a crise iniciada em 1974 da que estourou em 1929. Em primeiro lugar, ao contrrio do que ocorreu em 1929, a crise desencadeada em 1974 no parou tudo. O comrcio internacional continuou aumentando. Os tigres asiticos e depois a Indonsia, a Tailndia, a ndia e a China conheceram em vinte anos um forte desenvolvimento, penetrando em mercados antes dominados pelos velhos pases industriais. Nesse sentido a crise atual se assemelha quela do sculo 17, que os Tratados de Westphalia procuraram colmatar: um pas se retrai, seu rival logo aparece: quando Espanha e Portugal recuavam, a Holanda avanava; quando a Holanda falhava, a Inglaterra ocupava os vazios no comrcio do Oriente e do Ocidente. Num contexto destes, a guerra comercial para valer. No h mais aliados perptuos nem amigos definitivos. No ltimo ms de maio, o presidente Clinton, renegando uma srie de promessas eleitorais, renovou as franquias alfandegrias americanas concedidas China. Alm disso, prometeu que os EUA no condicionariam mais as relaes comerciais sino-americanas aos progressos realizados pelo governo de Pequim no campo dos direitos humanos. No mesmo dia, a indstria de avies Boeing, concorrendo contra o consrcio europeu Airbus, anunciava a concluso iminente de um contrato de US$ 5 bilhes com a China. Sabe-se que as trocas entre os Estados Unidos e a China do emprego a 200 mil americanos. Entretanto, os dirigentes chineses continuam executando marginais com um tiro na nuca, no prometem nenhuma transio para a democracia e, mais ainda, pem banca de truculentos. Um deles, um desses patifes que -vem ditadura, vai ditadura- sempre ficam por cima da carne seca no trepidou em declarar recentemente ao semanrio Newsweek a respeito dos supliciados pelo regime: Quando as famlias no vm procurar os corpos, usamos as cinzas deles como adubo. Alm da desbragada guerra comercial que a caracteriza, a crise atual tambm se distingue daquela dos anos 1920 num segundo ponto essencial. Malgrado o fato de que os pases avanados no dispusessem na poca de mecanismos adequados de proteo social, o ritmo de contrataes na indstria retomou logo, em meados dos anos 1930, derrubando os ndices de desempregados para perto dos nveis anteriores a 1929. Ao inverso, hoje em dia o desemprego estrutural e de longa durao veio para ficar. Nos grandes pases industriais, o desemprego no recuou mais para os nveis registrados antes de 1974 e a tendncia destes trs ltimos anos desenha um novo movimento de alta. Centenas de milhares de postos de trabalho nas indstrias foram definitivamente destrudos. Segundo os especialistas, a chegada dos novos computadores de comando vocal vai ainda aumentar o subemprego e o desemprego no setor de servios. Jovens sem acesso ao mercado de trabalho, adultos ameaados de aposentadoria antecipada ou de desemprego. Nos anos 1940, muita gente acreditava que os Planos Quinquenais da Unio Sovitica romperiam o crculo fatal da estagnao em certas partes do mundo, enquanto as polticas keynesianas de investimentos e gastos pblicos fariam outro tanto no Ocidente. Agora no h mais nada disso. Apesar da arrogncia dos economistas oficiais, principalmente em pases crdulos como o nosso, espalhou-se a crena de que as polticas econmicas no do mais conta do recado, no conseguem analisar a extenso da crise e propor solues para resolv-la. Pela primeira vez neste sculo, vastos setores das classes mdias ocidentais no conseguiro efetivar a proeza social -cimento da democracia e do capitalismo- realizada pelas geraes precedentes: garantir a seus filhos um nvel de vida igual ou superior ao que seus pais haviam desfrutado. Ensino universitrio, contas de poupana nos bancos, investimentos em aes e imveis no asseguram a transmisso do patrimnio familiar dos pais para os filhos. Esse quadro de inseguranas e de incertezas que j dura h duas dcadas contribui para transformar o integrismo, o racismo, a intolerncia poltica num formidvel desafio ao sistema democrtico neste nosso fim de sculo. LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO, 48, historiador, pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento) e professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).","Crise global aponta era de intolerncia Pela primeira vez no sculo, a classe mdia parece incapaz de garantir aos filhos o mesmo nvel de vida LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO Especial para a Folha Em 1645, em Munster, provncia de Wesphalia , comeam as negociaes para finalizar o conflito que ensangentava a Europa e colnias . Uma cpula de quase 200 pessoas , representando vrios pases europeus, discutiam os problemas que levaram ao desentendimento . Por fim selaram os Tratados de Wesphalia, que significavam a perda da hegemonia catlica na Europa , a institucionalizao de trs religies crists luterana, calvinista e catlica-- , a criao do Direito Internacional e negociao diplomtica permanente entre as naes. At bem recentemente, a maioria dos historiadores acreditava que o mundo tinha entrado numa evoluo contnua : laicizao da sociedade e do poder , com benefcios palpveis nas negociaes; controle das foras da natureza com o progresso cientfico, que redundou no regresso das epidemias e doenas contagiosas. De uns anos para c, o quadro desandou. Voltaram as doenas antigas , acrescidas de uma terrvel a Aids--; a intolerncia religiosa ; e o fanatismo , que potencializou a crena de que o integrismo dos textos sagrados seria nossa tbua de salvao. O integrismo fundamentalismo que prega o entendimento literal dos textos sagradosrepresenta um retorno , uma vez que elimina a liberdade individual de ver as coisas. Atualmente, o islamismo representa o topo desse retorno. O ressurgimento da Turquia parecia ser o seu trmino , pois desde 1934 reconhecia o direito de votar para as mulheres . Hoje, a situao outra. Em outros pases rabes , como a Arglia, o fanatismo religioso se acentuou criando tenses perigosas , por exemplo, na Frana para onde imigraram muitos argelinos. Um diplomata francs chegou a dizer que o Isl o pior inimigo das democracias no sculo 21. A crise na regio palestina tem muito a ver com o fundamentalismo de judeus e rabes. A pretenso do Vaticano de cristianizar essa parte do mundo tambm preocupante. Tudo seria fcil se as crises do capitalismo fossem passageiras.O que se observa, no entanto, que o comrcio internacional continua evoluindo de forma traioeira e anti-tica: onde um pas perde espao, o outro avana. As operaes comerciais so feitas sem nenhuma preocupao com valores . Por exemplo, a forma arbitrria e violenta com que a China trata os seus criminosos no impede que o pas tido como democrtico por excelncia os EUA--- negocie com ela. A defesa dos direitos humanos pode funcionar contra Fidel , mas no contra um imperador arbitrrio. " op94ab03-b,"No passado, o Brasil parava antes do Natal e s recomeava depois do Ano Novo. Mais tarde, a retomada passou para o Carnaval. Agora aps a Pscoa. Logo logo, vai ficar para depois da Copa do Mundo. Com um agravante: se vencermos, sero mais uns dez ou 15 dias para as celebraes e comentrios; se perdermos, outros tantos para amargar a derrota e fazer as crticas. E assim vai. Depois da Copa, viro as supereleies em dois turnos, o que, na prtica, mata setembro, outubro e novembro. E a, chega outra vez a hora de nos prepararmos para as festas de Natal e Ano Bom, pois ningum de ferro... Para quem no gosta de trabalhar, este ano de 1994 um prato cheio. Ele rene, num s tempo, as melhores justificativas para adiar tudo para 1995 e olhe l... A reviso constitucional est nesse ritmo. Raramente h qurum e, quando isso acontece, falta a vontade de votar. Bem diferente foi a conduta do deputado William Natcher, falecido na semana passada. Durante 40 anos de mandatos consecutivos, ele no faltou uma nica vez s sesses do Congresso dos Estados Unidos. O mais interessante que o deputado Natcher conseguiu se reeleger, repetidas vezes, desde 1953, visitando muito pouco as suas bases no Estado de Kentucky e gastando a irrisria quantia de US$ 10 mil por campanha. Com isso, ele provou que as tais bases gostam de ver os seus representantes trabalhando em benefcio da coletividade l no Congresso, no havendo a menor justificativa para faltarem ao seu trabalho. Uma vez presentes, ativos e atuantes, o reconhecimento imediato. A reeleio garantida. E com pouco dinheiro. o triunfo dos que fazem sobre aqueles que falam. A maioria dos nossos parlamentares est demonstrando no querer a reviso constitucional. Para eles, os problemas da ptria no merecem regime de urgncia. S os pessoais. Se quisessem tudo seria votado rapidamente como o fizeram na aprovao do aumento de seus vencimentos. Os interesses pessoais falam mais alto do que a estabilizao da moeda, a retomada do desenvolvimento, a criao de empregos etc. Por essa razo, enrolar a reviso tem sido a palavra de ordem que os gigols de partidos vm passando aos seus vassalos. dessa forma que eles pretendem sabotar a resoluo dos nossos problemas para fazer crescer a sua candidatura no meio do caos. Tudo isso pode at ser lgico. Mas, os que assim agem, ignoram que o eventual fracasso do plano econmico jogar este pas na mais pavorosa hiperinflao. Sem reviso, no haver plano econmico verdade. Mas correremos o risco de no haver tampouco eleies e regime democrtico. Tudo ir para o espao. E quem responder por mais essa irresponsabilidade?","Com o passar dos tempos, o Brasil vem inaugurando progressivamente formas de dar um break para descansar. Quando no so os feriados tradicionais, a Copa , so as eleies. Este ano de 1994 propcio para essa estagnao. Infelizmente, pois a reviso constitucional em pauta vem sendo protelada pelos deputados, acostumados a uma semana curta para visitas s bases. William Natcher, deputado norte-americano recm-falecido , depois de 40 anos de mandatos consecutivos sem nenhuma falta , poderia servir de lio No entanto, os deputados patrcios preferem empurrar com a barriga a reviso, mais preocupados com os prprios interesses do que com os da ptria. A estabilidade da moeda, a retomada do desenvolvimento, a criao de empregos podem esperar . Que se dane um plano econmico para melhorar o pas." mu94ab04-a,"No momento de maior impacto do zapatismo, quando o comandante Marcos, o ex-chanceler Manuel Camacho Sols, o bispo Samuel Ruiz e os delegados indgenas eram enquadrados na capela da catedral de San Cristbal de las Casas por cmeras de TV de todo o mundo, alguns dos que nos encontrvamos ali comeamos a armar uma hiptese qual chamamos golpe de timo. No nos parecia lgico que o regime, levando em conta a personalidade do presidente Carlos Salinas, estivesse amolecendo diante do conflito de Chiapas, que se aproximava cada vez mais de uma guerra civil e do contgio para o resto do pas -com um presidente diminudo, um Nafta sob questionamento, um mediador da paz ocupando o primeiro plano j por muitos dias e um candidato oficial cujos discursos se perdiam em espaos recnditos da imprensa. Aquela hiptese previa um cenrio de reforma agrria, acertado com alguns proprietrios importantes da regio, que pusesse as organizaes indgenas e camponesas ao lado do regime, evitando a tendncia natural delas de alinhar-se ao zapatismo. Se aproveitaria a presena daquele aparato de imprensa para dizer ao mundo que o Mxico no Amrica Central e que, apesar de Chiapas se encontrar, por particularidades histricas, naquela situao de injustia e concentrao de renda, o governo mexicano sempre se havia caracterizado por encontrar solues que fossem ao fundo dos problemas. Como Chiapas um caso excepcional, seria possvel decretar uma trgua nacional s vsperas das eleies. Tal cenrio se enquadraria com o j clssico golpe espetacular que sempre ocorre no ltimo ano de cada perodo de seis (o ano eleitoral) e recolocaria no centro o presidente e seu candidato, Luis Donaldo Colosio, com autoridade e legitimidade. Conforme o tempo passava e no se tomava nenhuma medida, o princpio da ordem degenerava aceleradamente no pas. No plano social, recomearam as tomadas de terras e os assassinatos de camponeses e dirigentes sindicais. Junto a isso, surpreendeu o sequestro de um dos mais importantes lderes empresariais. No plano poltico, testemunhamos atnitos um novo cisma na famlia revolucionria (o governista Partido Revolucionrio Institucional), quando se tornaram pblicos os ataques recprocos entre Camacho Sols e Colosio. No econmico, chegou-se ao extremo de ver a Bolsa reagindo hora a hora aos rumores sobre o lanamento ou a renncia de Camacho candidatura presidencial. O desenlace, porm, no veio na forma do golpe de timo com reforma radical, mas foi precipitado pelas duas balas que tiraram a vida de Colosio. Mas o resultado, surpreendentemente, foi o mesmo no que se refere reconstituio do princpio da autoridade. Uma hora aps a morte de Colosio -na realidade minutos depois de o pblico receber a trgica notcia-, Octavio Paz pedia um basta aos excessos verbais e ideolgicos de alguns intelectuais e jornalistas e s numerosas e irresponsveis apologias da violncia. Acrescentava Hctor Aguilar Camn, um dos intelectuais do governo Salinas: Durante trs meses assistimos consagrao jornalstica da violncia. impossvel desvincular o assassinato de Colosio do ambiente de prestgio e moda que deu violncia chiapaneca o perfil de um pico, mais do que o de uma desgraa. Com a morte de Colosio vivemos tambm a morte poltica de Camacho. A opinio pblica no teve tempo de se expressar a respeito: foi substituda por caminhes de ambulantes e agricultores carregados pelo PRI desde Ciudad Nezahualcoyotl e Chalco, que repudiaram Camacho, o mediador da paz, no velrio de Colosio. O assassinato funcionou, assim, como instrumento para desqualificar manifestaes polticas que, como o zapatismo, haviam conseguido espao na opinio pblica. Funcionou de maneira igualmente drstica no interior das instituies estatais -como uma purga poltica, uma volta disciplina cega, uma intimidao da liberdade de expresso: de um golpe estava de volta a unidade hermtica da famlia revolucionria, como ficou mais do que claro com a nomeao de Ernesto Zedillo e a proibio de que as correntes do PRI se manifestassem publicamente sobre qualquer candidato. Mas talvez o que era o maior obstculo a superar para o Estado e seu partido se tenha transformado, com esta morte, em seu maior aliado -pois conseguiu-se transformar o voto de castigo, que os polticos priistas vinham carreando e que se aguou com o ocorrido em Chiapas, em voto de simpatia e comiserao diante da injusta morte de quem acabou como mrtir. O desprezo pelo PRI se converteu em sentimento de culpa. Outra reacomodao de grande significado: o Conselho Estatal de Organizaes Indgenas e Camponesas (as 280 organizaes que recentemente haviam reconhecido o EZLN como fora beligerante) props a suspenso imediata dos planos para ocupao de terras em Chiapas e em todo o pas. Queremos que haja uma trgua devido situao de insegurana que se vive atualmente, disseram. Enquanto alguns intelectuais desqualificavam o zapatismo na capital, o EZLN declarava: Nos vemos obrigados a suspender a consulta (sobre as propostas de paz) e a preparar-nos para defender nossa causa e nossa bandeira. O EZLN lamenta profundamente que a classe governante no possa resolver seus conflitos internos sem ensanguentar o pas. Com o argumento de que necessrio endurecer o regime para evitar assassinatos como o do sr. Colosio, pretende-se dar sustentao poltica e ideolgica represso indiscriminada e ao injustificvel rompimento do cessar-fogo e, por extenso, do dilogo pela paz. Vir a ofensiva tantas vezes acariciada pela 'linha dura' governamental. Aos cidados no resta mais do que juntar o que vai chegando. Em comunicado que surgiu no dia seguinte nomeao de Zedillo, um grupo de deputados do PRI dizia: Nos ltimos dias aflorou o interesse por traduzir a justa indignao popular e a incerteza que o crime poltico trouxe ao nosso candidato numa justificativa para impor uma 'linha dura' e um clima excludente em nossa vida pblica. Os casos bem-sucedidos de globalizao de pases dependentes, como Coria do Sul, Formosa, China e Chile (exceto este nos anos recentes), se basearam no autoritarismo estatal e se mostraram pouco compatveis com reformismo poltico e democracia. Golpe de timo, reformismo radical? Que hiptese mais ingnua! Ser por acaso que, diante do relaxamento da ordem em que comeou o ano de 1994, e com achaques a atores sociais, jornalistas e intelectuais irresponsveis (como se a desordem brutal no fosse gerada dentro do prprio modelo), o regime est dando mostras de encaminhar-se para a via autoritria, suprimindo suas correntes conciliadoras? ","A questo social de Chiapas no Mxico teve o seu clmax no encontro na capela da catedral de San Cristbal , sob o foco de cmeras de TV do mundo inteiro. Ali estavam o comandante Marcos, o ex-chanceler Manuel Camacho Sols , o bispo Samuel Ruiz e os delegados indgenas . Levando-se em conta a personalidade do presidente Carlos Salinas, no se tratava ali de uma subordinao do poder , mas de uma forma de recompor a famlia revolucionria , ou seja , o Partido Revolucionrio Institucional. Estava encenada uma reforma agrria, que pusesse as organizaes indgenas e camponesas ao lado regime , evitando-se a sua natural adeso ao zapatismo. Cumprido o ritual , as eleies ,com o candidato governista vitorioso, reconstituiriam o princpio da autoridade. O adiamento de solues revigorou a tenso social ligada terra: invases e assassinatos. No campo poltico , briga entre representantes da famlia: tornaram-se pblicos os ataques recprocos entre Camacho Sols e Luis Donaldo Colosio, candidato do presidente Salinas. A instabilidade poltica fez a Bolsa oscilar de hora em hora. Em vez de uma reviravolta esperada do encontro de lideranas na catedral, o que se viu foi o assassinato de Colosio. Mas no veio o caos , e , sim, a calmaria desejada pelo PRI. Octavio Paz, intermedirio das negociaes , pedia imprensa e intelectuais reduo da apologia da violncia . Tambm o fez Hctor Aguilar Camn , um dos intelectuais do governo Salinas. Por sua vez, Camacho morreu politicamente. O assassinato veio como uma soluo: serviu para desqualificar manifestaes como as do zapatismo; reforou o autoritarismo com a volta disciplina e intimidao da liberdade de expresso; conteve as manifestaes de correntes do PRI; possibilitou a nomeao de Ernesto Zedillo. Domesticado, o Conselho Estatal de Organizaes Indgenas e Camponesas pede trgua , dada a situao de insegurana. Ao contrrio da expectativa de reformismo social , a tendncia do sistema o autoritarismo, que sustenta o status quo da famlia revolucionria. " op94ab10-a,"A mais recente pesquisa do Datafolha sobre a inteno de voto para a Presidncia sugere um quadro radicalmente diferente do que havia no pleito anterior, na mesma altura do ano. Em vez de um numeroso leque de candidatos com alguma ou muita chance de passar para o turno final, desta vez o que a pesquisa indica uma disputa bipolar. Mais exatamente, entre Luiz Incio Lula da Silva (do PT) e Fernando Henrique Cardoso (do PSDB). De fato, nas trs situaes propostas aos pesquisados, Fernando Henrique assume um ntido segundo lugar, ao contrrio do que ocorria em todas as sondagens anteriores. Antes, o segundo lugar era disputado pelo prprio FHC, mas tambm por Antnio Britto (PMDB), Paulo Maluf (PPR) e Jos Sarney (PMDB), tendo Leonel Brizola (PDT) bastante prximo. Agora, FHC oscila entre 19% e 21% das intenes de voto. A menor diferena para o terceiro colocado se d quando se inclui Sarney no carto com o nome dos candidatos. O postulante do PSDB fica, ento, com 19% contra 12% de Sarney. Mesmo assim, a diferena j est fora da margem de erro. A liderana de Lula, por outro lado, fica ainda mais ntida. Em duas situaes, o petista rompe a barreira dos 33%, o mximo percentual antes alcanado, e vai a 36% ou at mesmo 37%. Refora-se, em consequncia, a sensao de que muito dificilmente Lula deixar de estar concorrendo no turno final. A hiptese de bipolarizao se torna ainda mais forte quando se considera que o crescimento da candidatura FHC no parece ter relao alguma com a situao econmica, pela qual ele era o responsvel at poucos dias antes da pesquisa. Se, mesmo com a inflao indecentemente alta, o ex-ministro melhorou sua posio, o lgico supor que crescer ainda mais se a inflao ceder bastante, como a maioria dos analistas supe que ocorrer com a introdua do real. FHC parece ter-se beneficiado da renncia de Paulo Maluf candidatura, embora parte dos votos potenciais do prefeito paulistano tenham claramente migrado igualmente para Lula. uma concluso inevitvel quando se verifica que os demais candidatos (Qurcia, Sarney, Brizola e Antnio Carlos Magalhes) mantm praticamente os mesmos percentuais anteriores. Fica tambm evidente que uma eventual candidatura Sarney pelo PMDB continua mais forte do que a de Qurcia, tira mais votos de Lula do que de FHC e a que mais ameaa o cenrio suposto de bipolarizao. Sarney fica a sete pontos percentuais de Fernando Henrique, que, por sua vez, perde de Lula por apenas 14 pontos, contra 16 nas duas outras situaes. sempre bom repetir que pesquisas so s indicativas, sobretudo quando feitas a seis meses do pleito. Mas a reduo do leque de candidaturas viveis sugere que as possibilidades de grandes alteraes no quadro so menos provveis. Convm ainda observar que, se se cristalizar nos prximos dois ou trs meses essa incipiente tendncia bipolar, o normal ser que ela se acentue ainda mais fortemente na reta final. Os candidatos menos viveis acabaro por perder eleitores potenciais em favor dos dois mais fortes. Se de fato for assim, o segundo turno ser uma disputa inslita em um pas de forte presena conservadora: a direita no ter nenhum nome de seus quadros presente na batalha final.","A mais recente inteno de voto Presidncia, segundo pesquisa da Datafolha, difere da apresentada ao pleito anterior. Mostra Lula e Fernando Henrique Cardoso nitidamente frente . Nas sondagens anteriores, o segundo lugar de Fernando Henrique era disputado por mais quatro . Hoje, quem mais o ameaa, mesmo assim sem perigo, Sarney. A desistncia de Paulo Maluf parece ter beneficiado Fernando Henrique , mas parte dos votos deve ter ido para Lula, pois no aumentou o ndice dos demais candidatos . Tambm a solidez de sua posio no parece ter relao com sua gesto no Ministrio da Fazenda , quando a inflao era elevada Entre Sarney e Qurcia como possveis candidatos pelo PMDB, o primeiro leva vantagem. verdade que pesquisas no seguem um caminho retilneo, mas a reduo de candidatos diminui a probabilidade de alterar a atual tendncia. A se manter a atual tendncia, a disputa bipolar sem representante da direita ser um fato novo. " td94jl10-08,"BNDES destina US$ 1 bi para pequenas empresas Emprstimo deve ser pedido nos bancos; garantias so de 130% do valor CARMEN BARCELLOS Free-lance para a Folha O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social) tem disponvel US$ 1 bilho em cinco linhas de financiamento para pequenas empresas industriais, comerciais e de servios. No final de junho, foi lanada a linha Enter/BNDES, aberta tambm a profissionais liberais. Destina-se compra de equipamentos de computao e programas nacionais e cobre gastos com a implantao de projetos de informatizao e treinamento. O crdito chega a 85% do total do investimento, com juros de 10% ao ano (veja quadro ao lado). O BNDES est acertando convnios com entidades de classe, que determinaro produtos e servios a ser financiados. A linha Finame automtico exclusiva para a compra de mquinas e equipamentos. Financia de 80% a 90% do valor dos produtos, conforme a regio em que a empresa se localiza. O financiamento s vale para produtos novos, nacionais e de fabricantes cadastrados pelo Finame. O POC automtico financia investimentos em instalaes, infra-estrutura, programas de treinamento, qualidade e produtividade, controle do meio ambiente e desenvolvimento tecnolgico. O limite do crdito de US$ 1 milho. Indstrias podem solicitar at 30% do total financiado para ser utilizado como capital de giro. O BNDES automtico segue as mesmas regras do POC automtico, porm para financiamentos entre US$ 1 milho e US$ 3 milhes. Tambm h recursos para a importao de equipamentos, atravs do POC/Importao. O crdito limitado a US$ 1 milho. O BNDES est destinando US$ 1 bilho este ano para financiamentos a micro e pequenas empresas, afirma Larcio Gonalves, 47, chefe do escritrio do BNDES em So Paulo. Para ter acesso aos recursos, o empresrio deve apresentar no banco de sua preferncia um oramento do produto ou projeto que pretende implantar na empresa. O banco avalia a proposta e solicita outros documentos referentes empresa. A nica exceo o Enter/BNDES, em que se deve procurar antes uma entidade de classe. Gonalves afirma que os prazos para liberao dos recursos variam conforme o tempo que cada banco leva para analisar as propostas e envi-las para aprovao do BNDES. Na maioria dos financiamentos, o empresrio recebe o valor total do crdito. Apenas no POC e no BNDES automtico a liberao ocorre em parcelas, de acordo com o plano de execuo do projeto. As garantias ficam a critrio de cada banco. Em geral, giram em torno de 130% do financiamento. No Finame, pode ser o prprio equipamento.","BNDES destina US$ 1 bi para pequenas empresas Emprstimo deve ser pedido nos bancos; garantias so de 130% do valor CARMEN BARCELLOS- Free- lance para a Folha O BNDES dispe de US$ 1 bilho em cinco linhas de financiamento para pequenas empresas industriais, comerciais e de servios. No final de junho, foi lanada a linha Enter/BNDES , aberta tambm a profissionais liberais.A finalidade a compra de equipamentos de computao e programas nacionais e custeia projetos de informatizao e treinamento. O BNDES est acertando convnios com entidades de classes, que selecionaro o que deve ser financiado. Segundo o chefe do escritrio do BNDES de So Paulo, Larcio Gonalves, para alcanar os recursos , o empresrio deve apresentar ao seu banco um oramento do que visa financiar. Este avalia a proposta e solicita outros documentos referentes empresa. Os prazos para a liberao dos recursos variam de acordo com o tempo gasto para a avaliao preliminar at chegar ao BNDES " br94jl24-18,"O pas dos homens iguais JUNIA NOGUEIRA DE S O episdio da superbagagem da delegao da CBF continua produzindo barulho, mas at agora a imprensa no revelou o fundamental sobre aquelas 17 toneladas de quinquilharias eletrnicas em sua maioria: a quem pertencem? Vamos aos fatos: na segunda-feira, durante o embarque da delegao nos EUA, o reprter Fernando Rodrigues, da Folha, percebeu que algo estava errado com as malas. Acompanhou o transporte dos volumes, anotou os nomes escritos nas caixas que estavam a seu alcance e o que elas continham, e produziu uma reportagem para a edio de tera-feira contando que a delegao trazia de volta muito alm do limite permitido na lei para passageiros normais. Na quarta-feira, toda a imprensa estava atrs da histria. Ocorre, porm, que a bagagem virou da seleo, e toda a mdia passou a falar dos jogadores que deixaram o aeroporto do Rio sem pagar impostos. O caso mais grave do que isso: havia, e a prpria imprensa publicou sem se dar conta do absurdo, 96 pessoas no avio da CBF que desembarcou no Rio. Eram 40 membros da delegao, includos a os 22 jogadores tetracampees, mais 56 convidados. As 17 toneladas de bagagem, portanto, no so dos jogadores, mas deles, da comisso tcnica da CBF e seus convidados. O que s piora o caso para a CBF e seus convidados. Alis, quem so eles, os convidados? A imprensa ainda no se ocupou de levantar a lista dos privilegiados que, alm de viajar de graa no avio da CBF, tambm passaram pela alfndega sem deixar um s tosto de imposto nos cofres pblicos. Agora que alguns jogadores (na Folha de ontem, Jorginho, e em O Estado de S.Paulo, Mauro Silva) se dispem a pagar o imposto devido sobre as compras no exterior, ainda mais urgente investigar e publicar o nome dos convidados e denunciar os impostos que, eles tambm, devem. Afinal, somos ou no somos todos iguais diante da lei? Quando um jornalista ofendido no desempenho de suas funes, ele deve ou no responder altura? A pergunta procede especialmente nesta semana, diante de dois episdios protagonizados pelo candidato do PMDB Presidncia, Orestes Qurcia, e pelo tio do presidente da CBF, Marco Antonio Teixeira. O primeiro chamou o coordenador de Poltica do jornal O Estado de S.Paulo, o jornalista Rui Xavier, de mentiroso, caluniador e safado durante o programa Roda Viva de segunda-feira, pela TV Cultura de So Paulo. O segundo chamou o reprter Luiz Antonio Prsperi, tambm do Estado, de babaca durante a festa da vitria da seleo em Los Angeles. Xavier se conteve boa parte do tempo enquanto Qurcia o xingava (durante um debate com o presidencivel, o jornalista perguntou se seus baixos ndices nas pesquisas se devem s suspeitas sobre o enriquecimento do candidato). Mas devolveu os insultos a partir de certo ponto, e o que era uma jogada poltica de Qurcia para aparecer diante do eleitorado, como fizeram circular seus assessores, se transformou num constrangedor bate-boca transmitido ao vivo. Prsperi fotografava a festa dos dirigentes da CBF no hotel da seleo, em que vrios deles estavam embriagados e xingavam jornalistas, em especial da imprensa paulista, por ter torcido contra o time. Ao ser insultado por Marco Antonio Teixeira, respondeu com um babaca voc, tomou um soco, deu outro e a festa terminou ali. Em caso de agresso fsica, como aconteceu com Prsperi, no resta alternativa: bobagem querer que existam heris capazes de apanhar, quietos, em nome da causa da imprensa (ou do jornal em que trabalham). O homem tem um sentido de autopreservao que acende uma luz vermelha nessas horas. Mas no caso de agresso verbal, minha opinio pessoal de que ambos erraram. Qurcia xingou o Estado, e no exatamente Rui Xavier (ainda que dirigisse a ele seus improprios). Teixeira, embriagado, atacou a imprensa paulista, e no exatamente Prsperi, ainda que tenha lanado em sua direo o insulto. Nessa hora, o autocontrole do profissional tem que falar mais alto que sua honra ou vaidade pessoal: preciso suportar calado ( difcil, reconheo; j aconteceu comigo), registrar a cena e contar o que se passou para os milhares de leitores que no puderam presenci-la. Um reprter em campo o representante do jornal em que trabalha, e deve ter claro que a maior parte das agresses que receber (idem as deferncias, privilgios e eventualmente at elogios) tero sido dirigidos a esse jornal. O leitor tem o direito de conhecer todos, de agresses a privilgios, e o jornalista sempre dispe da Justia para recorrer quando achar que os limites foram ultrapassados. Democracia funciona assim, com homens iguais diante das leis. O presidente da CBF desembarcou no Brasil atacando a imprensa paulista (no citou nomes nem veculos) pela cobertura da Copa. Como vingana, fez o que pde para atrapalhar um desfile dos jogadores por So Paulo. Com isso, puniu os torcedores paulistas e at ontem, quando escrevi esta coluna, ainda no se sabia se o tal desfile ocorrer em 29 de julho. Ricardo Teixeira, cuja biografia dispensa apresentaes, demonstra com seu gesto que no consegue conviver com a imprensa livre e crtica -aquela imprensa que gostou, claro, da conquista do tetra, mas no acha que os jogadores ou o prprio Teixeira sejam seres acima do bem e do mal por causa disso, nem que os problemas do pas esto resolvidos com a chegada da taa da Fifa em solo nacional. Mais: aquela imprensa que sabe (e escreveu) que a conquista do tetra foi sofrida, terminou num constrangedor 0 a 0 e pela primeira vez na histria das Copas se resolveu nos pnaltis. Ou seja, muito diferente do show de bola no Mxico, em 1970. O melhor dessa histria que ela motivou muitos leitores a escrever para o Painel do Leitor e para a ombudsman pedindo a mesma coisa: que a imprensa se mantenha crtica no s em relao seleo, a Parreira e ao tetra, mas tambm em relao a Ricardo Teixeira. A grita contra os privilgios alfandegrios deles todos outro sintoma de que o leitor (mais do que isso, o cidado brasileiro) quer um Brasil diferente. De homens verdadeiramente iguais diante da lei, e com uma imprensa verdadeiramente crtica e livre. Quem no estiver preparado para ambas as coisas, continuar produzindo espetculos deprimentes como o de Ricardo Teixeira ao impedir que a seleo desfilasse em So Paulo. JUNIA NOGUEIRA DE S a ombudsman da Folha. A ombudsman tem mandato de um ano, renovvel por mais um ano. Ela no pode ser demitida durante o exerccio do cargo e tem estabilidade por um ano aps o exerccio da funo. Suas atribuies so criticar o jornal sob a perspectiva do leitor recebendo e checando as reclamaes que ele encaminha Redao e comentar, aos domingos, o noticirio dos meios de comunicao. Cartas devem ser enviadas para a al. Baro de Limeira, 425, 8 andar, So Paulo (SP), CEP 01202-001, a.c. Junia Nogueira de S/Ombudsman. Para contatos telefnicos, ligue (011) 224-3896 entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.","O pas dos homens iguais ---JNIA NOGUEIRA DE S A delegao da CBF desembarcou no Rio de Janeiro com 96 pessoas (40 membros da delegao, 22 jogadores e 56 convidados) e uma superbagagem de 17 toneladas. O reprter Fernando Rodrigues, da Folha, j no embarque nos EUA, estranhara a quantidade de volumes, observou com detalhes nomes, quantidade e noticiou depois o fato , acrescentando que ningum pagou imposto no Brasil. At agora , o episdio no bem esclarecido, os jogadores que apareceram como os culpados e paira a dvida sobre os reais privilegiados. Um outro episdio demonstra atitudes de quem se julga mais igual do que outros. Orestes Qurcia xingou o jornalista Rui Xavier, de O Estado, de mentiroso , caluniador e safado , durante o programa Roda Viva da TV Cultura. Xavier se conteve por um tempo , mas depois retrucou. O bate-boca no deu dividendos ao candidato , que os esperava. Outro reprter, tambm de O Estado , Luiz Antonio Prsperi foi chamado de babaca pelo tio do presidente da CBF, Marco Antonio Teixeira, quando fotografava a festa dos dirigentes da CBF. Muitos deles, embriagados , xingavam jornalistas por terem torcido contra. Prsperi devolveu o xingamento , recebeu um soco , que tambm devolveu. Quanto agresso fsica, no vejo como possvel conter-se e bancar o heri em nome da imprensa. Dou razo a Prsperi. Mas no caso da reao s ofensas verbais , nenhum tem razo. O autocontrole profissional deve superar a honra e a vaidade pessoal. que os ataques , no fundo, esto voltados para o jornal que representam. Mas que fique claro que o presidente da CBF , ao atacar a imprensa pela cobertura da Copa e atrapalhar a vinda dos jogadores a So Paulo foi , antes de tudo, uma punio dos torcedores paulistas. E a atitude de Ricardo Teixeiracuja biografia conhecida-- revelou que no sabe conviver com uma imprensa livre e crtica. Imprensa que gostou da conquista do tetra , mas que no considera os seus autores como seres acima do bem e do mal. Os leitores do Painel da Folha aplaudiram a posio do jornal. " td94fe13-02,"Fast food ganha tempero brasileiro Redes de comidas tpicas oferecem franquias a partir de US$ 10 mil; investimento total comea em US$ 40 mil NELSON ROCCO Da Reportagem Local A mistura de um formato norte-americano de negcio com o tempero da comida brasileira est fazendo surgir lojas de fast food de comidas tpicas. De sanduches com ingredientes simples como linguia calabresa e carne, servidos com saladas, a pratos tpicos da Bahia e de Minas Gerais, passando pela comida da fazenda, os cardpios das novas empresas apostam nos sabores regionais para enfrentar as grandes redes. Franquias podem ser uma opo para quem vai comear no setor. Elas oferecem as receitas, treinamento e apoio tcnico, alm da marca conhecida e publicidade. O So Paulo I abriu a primeira loja no shopping Iguatemi, em So Paulo, h pouco mais de um ano. Hoje, existem trs casas. Reinaldo Marques Varello, 34, dono da marca, diz que serve comida tpica da fazenda, como frango com molho, arroz, feijo, frango passarinho, feijoada, farofa, mandioca frita e polenta, alm de doces caseiros na sobremesa. Varello afirma que em cada loja gasta cerca de US$ 220 mil. O So Paulo I serve em mdia 520 pratos por dia. Aos sbados, esse nmero chega a 700. Por ano, o empresrio calcula o faturamento em cerca de US$ 3,3 milhes. O empresrio est comeando a venda de franquias. A loja do shopping Iguatemi est venda por US$ 150 mil. O comprador fica isento de taxas de royalties e de propaganda nos primeiros seis meses de operao. Outra rede instalada em shoppings a Mr. Z. O empresrio Washington Fiza, que est desenvolvendo e gerenciando a instalao da rede -com duas lojas em Belm, uma em Salvador e uma em Braslia-, diz que o segredo est no cardpio. So sanduches de carne em tiras desfibrada, frango grelhado e linguia calabresa. As carnes tambm so servidas em pratos feitos de casquinha de biju, acompanhadas de saladas. Em So Paulo, uma franquia da marca abre as portas entre o final de abril e incio de maio. A taxa de franquia US$ 10 mil, e so necessrios mais US$ 50 mil para instalaes, fora o ponto. Fiza prev faturamento mensal de at US$ 30 mil para a loja. Jairo Chansky, 32, um dos quatro scios da franquia no centro de So Paulo, diz que o investimento total est em torno de US$ 120 mil, incluindo taxa de franquia, instalaes e ponto. Para a instalao de uma loja de fast food, Chansky afirma que so necessrios chapa, fritadeira, condimentadora para molhos e temperos, cortador de frios, geladeira industrial e freezer, coifas para frituras, mquina de caf expresso, mquinas de refrigerantes e chope e saladeiras. Mquinas e equipamentos exigem investimento de US$ 30 mil, segundo o empresrio. O restaurante Marietta, com cinco lojas prprias e sete franqueadas em shoppings de capitais das regies Nordeste e Centro-Oeste, tem planos de expanso para Estados do Sul e Sudeste. Edson Costacurta, 42, dono da rede, afirma que a taxa de franquia custa US$ 10 mil. Para a instalao devem ser gastos US$ 30 mil, fora o ponto. Em troca de treinamento e know-how, a taxa de royalties de 6% sobre o faturamento. No cardpio, sanduches frios de frango e atum com vrios tipos de saladas.","Fast food ganha tempero brasileiro Redes de comidas tpicas oferecem franquias a partir de US$ 10 mil; investimento total comea em US$ 40 mil NELSON ROCCO- Da Reportagem Local A fuso do fast food americano com o tempero brasileiro tem incrementado as lojas do ramo. O nosso tempero tem sido o diferenciador para competir com as grandes lojas. As franquias podem ser o caminho para o passo inicial . O pacote , que vem com receitas, treinamento ,apoio tcnico ,marca e publicidade, um bom comeo. O So Paulo I , que iniciou no shopping Iguatemi, em So Paulo, j tem trs casas. Reinaldo Marques Varello, o dono, diz que serve comida tpica da fazenda. Segundo ele, o So Paulo I serve em mdia 520 pratos por dia, chegando a 700 nos sbados. Varello j inicia a venda de franquias. Pede pela loja do Iguatemi US$150 mil . Outra rede instalada em shoppings a Mr Z. O proprietrio, Washington Fiza, afirma que o segredo o cardpio: sanduches de carne em tiras desfibrada, frango grelhado e lingia calabresa. Em So Paulo , entre abril e maio , uma franquia dessa rede abre as portas. A taxa de franquia de US$10 mil, mais US$50 mil para instalaes. Jairo Chansky, um dos quatro scios da franquia , diz que o investimento j alcana US$120 mil. O restaurante Marietta , com vrias lojas prprias e franquias, pretende expandir-se para o Sul e Sudeste. O dono da rede afirma d o preo da franquia US$10 mil e o da instalao , fora o ponto---US$30 mil . " mu94ag16-a,"Mulheres com maior poder de deciso se constituem no ponto chave para a resoluo de problemas populacionais do mundo, afirma relatrio da ONU (Organizao das Naes Unidas). O relatrio de 66 pginas, intitulado Estado da Populao Mundial 1994, a ser lanado amanh, informa tambm que cerca de 1,1 bilho de pessoas no planeta tm renda de apenas US$ 1 por dia. O relatrio ser discutido durante a Conferncia Internacional sobre Populao e Desenvolvimento, a ser realizada no Cairo, capital do Egito, em setembro. Segundo o documento, que traz grficos e tabelas, entre 14 milhes e 18 milhes de adultos no mundo esto infectados com o vrus da Aids -quase o dobro de pessoas infectadas em 1990. Segundo a ONU, no fim do sculo 20 estaro morrendo a cada ano, em decorrncia da Aids, 1,8 milhes de pessoas -nmero igual ao total de mortos durante a primeira dcada da doena. Lanado anualmente pelo Fundo de Populao da ONU, o documento aponta o maior poder de deciso das mulheres como fundamental para se chegar a taxas moderadas de crescimento populacional. Para o relatrio, a diminuio deste crescimento implica menor presso sobre o meio ambiente e outras reas problemticas. Segundo a ONU, igualdades de direitos, para homens e mulheres, no acesso sade, planejamento familiar e educao so importantes para a proteo ambiental e o desenvolvimento econmico. Por maior poder s mulheres, a ONU entende a igualdade de oportunidades de escolher quando casar, ter filhos, arrumar empregos e ter amplo acesso aos vrios nveis de educao. Um dos pontos recorrentes do relatrio da ONU a necessidade de se ter taxas moderadas de crescimento populacional no mundo. Uma menor fertilidade pode trazer impactos considerveis na qualidade de vida, como por exemplo provendo mais educao, atendimento de sade e oportunidades de empregos. A populao mundial est em torno de 5,66 bilhes de pessoas. Mesmo com o registrado decrscimo das taxas de fertilidade, ainda nascem por ano 94 milhes de pessoas. Segundo projees da ONU, a populao mundial dever chegar a 8,5 bilhes em 2025 e a 10 bilhes, em 2050. Isto se as taxas de fertilidade continuarem declinando. A Colmbia citada como um dos exemplos de histrias de sucesso na diminuio da taxa de crescimento populacional. No incio dos anos 60, sua taxa era de 3% ao ano. Hoje, est em 1,9%. Em Zimbbue, outro pas com experincia positiva no controle do crescimento populacional, o nmero mdio de crianas por mulher, na dcada de 60, estava prximo de oito. Caiu para sete em 1981 e atualmente de 5,4. Na Tailndia, outro exemplo citado pelo relatrio, o nmero mdio de crianas por mulher, caiu de seis, na dcada de 60, para 3,7 em 1980, chegando a 2,1 em 1991. As mulheres tailandesas esto entre as mais economicamente ativas da sia. A taxa de mulheres adultas alfabetizadas quase to alta quanto o ndice registrado entre os homens -cerca de 96%. ","O relatrio da ONU Estado da Populao Mundial 1994 resultado da preocupao com o crescimento acelerado da populao no mundo; com a quantidade dos que beiram o nvel da misria; com a quantidade dos infectados e mortos por Aids, presentes e futuros. O documento afirma que , para o controle da taxa de natalidade, fundamental atribuir mulher maior poder de deciso--- o que significa condies de escolher quando casar e ter filhos, de arrumar emprego e de acesso amplo educao. O relatrio insiste na necessidade de controlar as taxas de nascimento, o que reverter em melhor educao , sade e mais empregos. Mesmo com desaceleramento j a caminho, a projeo do relatrio para a populao mundial assusta: 8,5 bilhes em 2025; 10 bilhes em 2050. O documento apresenta alguns exemplos alentadores de reduo: na Colmbia ---de 3% em 60, para 1,9% em 94; em Zimbbue--- de quase 8% em 60, para 5,4% em 94; na Tailndia ---de 6% em 60, para 2,1% em 1991. " br94de05-25,"Leia a ntegra da fala de FHC Leia a seguir a ntegra do discurso feito de improviso por FHC no encerramento do seminrio no Itamaraty: Eu queria comear renovando meus agradecimentos e recordando duas pessoas que foram convidadas e no puderam assistir ao seminrio. Eu me refiro ao Anbal Pinto, que no veio por razo eventual, e espero que ele possa estar aqui dia 1 de janeiro, dia da posse, dia inconveniente para comemorao privada, mas afinal o pblico e o privado andam to confundidos. Anbal Pinto que, durante estes anos todos, estimulou muito nosso debate. O outro nome o Albert Hirshman, que transmitiu a mim um recado outro dia num documentrio feito pela televiso, que o entrevistou l em Princeton, lugar onde eu, o Serra e tanta gente trabalhamos e que nos deixou muitas saudades. O Hirshman se referiu a um livro que eu escrevi com o Enzo Faletto (Dependncia e Desenvolvimento na Amrica Latina), que outro que no veio porque no quis... Mas o Hirshman disse l uma frase assim: a paixo pelo possvel. Isso muito do esprito do Hirshman e, talvez por influncia dele, eu estou muito impregnado por essa paixo pelo possvel. Retomando o que disse o senador Jos Serra, que me chamou hoje pela primeira vez de presidente eleito, eu j tinha me referido aqui a um encontro que tivemos no Chile, quando eu disse que a histria, na viso hegeliana, um desdobramento da idia. O Hlio Jaguaribe, com as tiradas brilhantes que tem, disse uma vez que, se todos fossem to inteligentes como ns ele quem est dizendo, Hegel teria razo. Bem. Na verdade, hoje ns temos que ser bastante mais modestos. E eu soube atravs de meus amigos argentinos que o Pern tinha uma frase que dizia la realidad es la nacin, o que me deixou assustado. Ningum desconfia de Hegel. Ento eu achei melhor no repetir aqui tudo isso que eu tinha dito l no Chile, porque eu acho que uma das lies que ns tivemos nesses anos todos que, por mais que a razo tenha uma importncia enorme no processo histrico, como j mencionou o Celso Lafer, ns temos que introduzir um elemento de vontade para que as transformaes ocorram. E eu acho que dessas discusses todas ficou muito claro que ns estamos com uma dvida sobre onde que se coloca essa vontade. Qual o ator? Quais so os atores? Quais so as possibilidades do movimento social? No mnimo, algum que tem as responsabilidades que eu tenho desde j, e terei mais fortes ainda, leva a uma atitude de maior tolerncia, como diz Celso Lafer. Mas tolerncia ainda poderia significar que estamos na histria hegeliana eu tenho razo e tolero os outros. Eu diria ento mais humildade. Humildade de entender que o processo de transformao no pode se fazer seno tendo em vista um conjunto muito amplo de valores, de conhecimentos, de interesses, e que preciso, se ns mantivermos, como mantemos, a crena na democracia, estabelecer mecanismos de negociao para que no se caia num voluntarismo que incuo. No s condenvel pelo lado poltico, mas tambm incuo na sociedade contempornea. Ns tivemos recentemente aqui no Brasil uma experincia bastante direta nessa matria. Quando aquele que foi ungido pelo voto popular imagina que isso basta para transformar as coisas e acabou num prazo muito curto, no tendo sequer condies para continuar como governante. Eu ouvi todos aqui com muito interesse e aprendi muita coisa. E quase todos foram na mesma direo, neste sentido. Eu quero tambm agradecer esta casa, o Itamaraty, e mostrar que h uma maturidade to grande nas mudanas no Brasil que no h continusmo, mas sim continuidade. O ministro Celso Lafer foi ministro do governo Itamar Franco (sic), eu tambm fui ministro do presidente Itamar Franco e ns estamos numa transio absolutamente suave. Isso prova tambm de que ns caminhamos bastante nos nossos costumes polticos. Na verdade, essa experincia democrtica brasileira, que j est to enraizada e nos permitiu este debate, me levaria a ousar um pouco depois dessa discusso e, se no fosse estar aqui, em relaes diplomticas, dizer que, depois do grito de Ibina para os que no sabem, uma chcara que eu tenho l em So Paulo, passando pelo consenso de Washington, ns poderamos chegar ao acordo de Braslia. E este acordo de Braslia existe. Acho que no fundo ns todos estamos apontando na mesma direo. Na rea econmica, e eu no vou repetir tudo porque vocs sabem mais do que eu, ns estamos decidindo com convico. Ns localizamos os problemas da estabilizao. Hoje j se sabe, mesmo um pobre socilogo, e no sou o nico, j que a Maria Hermnia (Tavares de Almeida) se declarou minha ex-aluna e tambm arranhando em economia, ns sabemos quais so as opes, quais so os riscos, e no so mais riscos no calculveis. Ento no h desculpas para se fazer grandes erros. No h mais desculpas, desde que ns tenhamos capacidade de ouvir e entender qual a sequncia das aes. E tambm sabemos que, embora haja uma certa simultaneidade, e o (Francisco) Weffort mencionou este tema, que importante no processo poltico como na batalha, na guerra, preciso escolher qual o adversrio. Embora haja expectativas de mudana muito amplas e rpidas, elas tero que ser submetidas aos golpes estratgicos, e eu concordo com o que disse o Serra. Ou seja, ns vamos ter que, no durante seis meses, mas quatro anos, reformar sem parar. claro que os primeiros seis meses tm uma fora de persuaso maior, mas acho que s teremos vencido a batalha das dificuldades brasileiras no que diz respeito governabilidade se entendermos o tempo todo que vamos estar introduzindo modificaes numa dada direo. Esta direo, ou rumo, este sim tem que ser desde o incio. Em que direo vamos? Esta j est dita aqui. Tem que haver estabilidade, com crescimento, com distribuio de renda e com participao social. Palavras. Mas palavras que tm que ser realizadas na prtica, ser feitas com muita persistncia. Eu acho que h condies para isso. Quando eu assumi o Ministrio da Fazenda no havia no horizonte quem apostasse na possibilidade de uma mudana. Estou olhando para o meu amigo (Antnio Barros de) Castro, que participou de uma reunio de ministrio comigo, da qual ns samos e trocamos impresses. Ele sabe que o que eu estou dizendo verdade. No havia quem apostasse na possibilidade de se marchar para a reorganizao da vida econmica brasileira porque ns vnhamos de um impeachment, ns estvamos num governo congressual, que no tinha o voto direto e que, portanto, tinha enormes fragilidades para enfrentar os problemas econmicos. Mesmo os economistas que esto no governo e estavam comigo desaconselhavam e no acreditavam na possibilidade de fazer-se alguma coisa mais profunda. No sei qual foi a profundidade alcanada, mas ns enfrentamos e negociamos com todo mundo. Com o Congresso, com o governo, dentro do governo, com o presidente, com o pas, com os devedores externos, o que no foi fcil. Essa a questo entre o valor, o conhecimento e a vontade. Tem que haver um momento de vontade, de deciso, o momento em que se aponta o rumo com convico, para usar uma palavra mais weberiana. E neste ponto o Alain Touraine mostrou qual o papel que pode ter hoje o Estado, ou melhor neste caso, o governo, em termos da reconstruo das condies de governabilidade e de condies de participao e ampliao da cidadania. Se ns pensarmos de uma maneira mais complexa, ns vemos que h um momento em que isso fundamental. O professor (Eric) Hobsbawm disse algo semelhante. H um momento em que para se levar adiante um processo de transformao preciso dar sinais muito claros, simblicos at. Aqui tanto se falou em sinais simblicos e a populao, como disse o professor Juan Linz, ela tem mais pacincia na democracia do que na ditadura. Eu tenho visto pesquisas agora. Ningum espera milagre. Espera milagre s vezes um ou outro intelectual, um partidrio, um adversrio, algum jornalista, mas no o povo. O povo tem mais realismo, sabe que, quando o rumo comea a apontar para certa direo, reacende a esperana, desde que se continue a marcha. No preciso fazer tudo de uma vez, mas dar sinais sensveis de que estamos caminhando com convico. Isso fundamental. Com convico. E se estes sinais puderem ser traduzidos por medidas prticas, como lembrou o Alejandro (Foxley), melhor. A se sente qual o rumo. Mas eu acredito que hoje no Brasil, depois das experincias de estabilizao e democratizao na Amrica Latina em vrios pases, algumas cujos atores aqui esto ao redor desta mesa, depois de tudo que ns aprendemos aqui no Brasil, hoje o horizonte muito mais desanuviado. muito mais fcil hoje do que foi h algum tempo, infinitamente mais fcil. No por virtude de a, de b ou de c, mas porque aqui a fora da sociedade depois da abertura democrtica to grande que ns efetivamente temos recursos para seguir adiante. Eu tambm queria fazer, quase para terminar, uma meno que nesses momentos de transformao, de reacender a chama do Brasil, algumas coisas muito simples marcaram. Ns assumimos o governo quando havia uma crtica cerrada corrupo. Pois bem, nestes dois anos podem vasculhar os jornais. No h rumor, rumor de corrupo em qualquer setor do governo central, ou que envolvesse pessoas diretamente ligadas ao sistema de deciso do governo. Isso se deve simplesmente ao fato de gente que frente de todos o presidente Itamar Franco so outro gnero de gente. Pessoas simples que no esto dispostas a transformar o poder numa forma de ostentao. E, s vezes, gestos extremamente simples do presidente Itamar Franco, que muitas vezes no foram sequer compreendidos pela intelligentsia, amplo senso, foram sentidos pelo povo. E o fosso entre o Estado e a sociedade, entre governo e povo diminuiu. E diminuiu sensivelmente. Temos coisas bastante elementares. O poder era muito abstrato, era muito ausente e temido na poca militar. Depois ele continuou no to abstrato, mas ausente e desmoralizado. Agora uma coisa mais natural. Isso importante na democracia. importante no confundir a dignidade da funo com a pompa pessoal. So coisas que eu vi no Chile. Vi no Chile antes da ditadura e vi no Chile depois da ditadura. O Chile meu segundo pas. assim. So coisas elementares que tm que ser feitas. Acho que algum j mencionou aqui, a cultura poltica sofreu modificao. O meu amigo Torcuato Di Tella diz que eu no gostei da comparao com o PRI (partido governista mexicano). No por isso. porque diferente a situao. O Weffort mencionou que ns temos aqui um jogo partidrio muito intenso, l no tem. Mas os temores todos das alianas que fizemos, ou que fiz, se preferirem, estes temores, creio que aqueles que me tm acompanhado depois das eleies perceberam que so infundados. Existe hoje de tal maneira uma vontade de que se acerte no Brasil que eu at disse ontem a alguns amigos: olha aqui, estou sentindo falta de presso. Tenho tanta liberdade de escolha que eu preferia ter menos, para sentir mais onde que est o solo. Os temores do clientelismo, das presses dos partidos, de que uma coisa seria o discurso e outra coisa seria a prtica, que as alianas iriam cobrar um alto preo, nada disso verdadeiro. Vez por outra eu leio coisas e digo: de onde que tiraram isso, se no verdade? E, de novo, isso no virtude nem minha nem dos que esto comigo nessa aliana. que o pas mudou. A opinio pblica cobra outras coisas e os polticos so sempre sensveis. At pelo interesse de se manterem flutuando na vida poltica, reagem s mudanas de cobrana da opinio pblica. Eu sempre me opus muito queles que pensam a poltica em termos estticos e que tm uma viso do tipo fulano tal coisa. , mas deixa de ser. Todo o jogo, todo o interesse da poltica, tudo o que tem de aventura na poltica transformar a opinio do outro. Nesse processo, voc pode tambm ser transformado pelo outro. normal que assim seja. Mas quem se resguarda em valores absolutos por isso que eu disse que precisa ter valor, conhecimento e vontade quem fica simplesmente resguardado... fica na ctedra, que v para o plpito, mas no v para a poltica. Porque a poltica o que disse o Torcuato, o que disse o Foxley. um processo de modificao, no um processo de aferio do estado de alma de cada um ou dos valores de cada um. um processo mais complexo, de modificao. Vamos ter que apostar, e tem que se jogar nessa aposta. Eu quero agradecer mais uma vez e dizer que eu me joguei numa aposta, em termos pessoais, partidrios e nacionais. Me joguei numa aposta quando tive que enfrentar o Ministrio da Fazenda e a a aposta foi difcil. Os outros que apostaram em mim. E aquilo foi um sinal de que o Brasil tinha mudado. Porque no havia nenhuma razo para se acreditar que eu poderia fazer alguma coisa na rea econmica. Quando voltei dos Estados Unidos, onde estava, e cheguei aqui todo mundo achava que era bom. Eu pensei, meu Deus, vamos ter que fazer alguma coisa. Me joguei numa aposta para ser candidato e os que privaram das decises sabem como foi. Ou fazia isso ou no haveria estabilizao. Porque os candidatos mais provveis, os opositores mais fortes, tinham o corao bem posto e a razo perdida. No tinham nem idia de como seria possvel enfrentar as questes reais. Foi, ento, uma opo obrigatria. Agora no mais opo. uma determinao. Eu tenho um mandato e vou me jogar totalmente para tentar fazer o que foi dito aqui no acordo de Braslia. Muito obrigado a vocs todos."," ntegra do discurso feito de improviso por FHC no encerramento do seminrio no Itamaraty: Renovo meus agradecimentos e recordo, aqui, entre outros, o nome de Albert Hirshman, que disse , num documentrio de televiso uma frase que muito me influenciou: a paixo pelo possvel. Num encontro que eu e o senador Jos Serra tivemos no Chile , eu disse que a histria , na viso de Hegel, um desdobramento da idia. Mas acho , com base na nossa experincia nesses anos, que , apesar da importncia da razo no processo, temos que introduzir a vontade como mola das transformaes. No mnimo, algum , com as responsabilidades enormes do meu cargo, preciso ter tolerncia. Porm esta pode nos levar ao pedestal: eu tenho razo e tolero os outros. Portanto, substituo por humildade. Ela permite entendermos que o processo de transformao exige grande amplitude de valores, conhecimentos , interesses eo que essencial na democraciacriar mecanismos de negociao . Neste seminrio, eu ouvi e aprendi muito. Senti que as mudanas ocorridas no Brasil indicam amadurecimento: temos continuidade , mas no continusmo. A nossa transio suave, j livre de certos tropeos polticos do passado. Nossa experincia democrtica, j enraizada, me permite afirmar que poderamos chegar ao acordo de Braslia. E ele caminha numa direo: a de solucionar os problemas da estabilidade. J sabemos quais as opes, os riscos , que so mensurveis. Durante quatro anos, devemos reformar sem parar. E entendo que a superao das dificuldades relacionadas governabilidade vai nesta direo: a de conseguir estabilidade com crescimento, com distribuio de renda e com participao social. Quando assumi o Ministrio da Fazenda, no havia quem apostasse na viabilidade de reorganizar a vida econmica brasileira. Mesmo os economistas do governo e que estavam comigo desaconselhavam e no acreditavam em medidas mais profundas. Enfrentamos e negociamos com ampla frente: Congresso, governo, devedores externos . Alain Touraine mostrou o papel do Estadono nosso caso, do governo--- quanto reconstruo da governabilidade, de participao e ampliao da cidadania. Para tanto , necessrio deixar sinais claros e at simblicos . O povo no espera milagre; a sua esperana se reacende quando ele nota a tomada de uma direo favorvel. No meu ver, aps as experincias de estabilizao e democratizao na Amrica Latina, aps nossas prprias aprendizagens, os horizontes brasileiros so mais claros. Uma das marcas de transformao entre ns , por exemplo, a ausncia de crtica corrupo aps assumirmos o governo Tambm tenho sentido um clima de compreenso , de que duvidavam muitos, dado o nosso intenso jogo partidrio. Cheguei a comentar com amigos que estava sentindo falta de presso. A minha viso de poltica que ela dinmica .Seu interesse transformar a opinio do outro. E nesse jogo, a gente tambm pode ser transformado pelo outro. Isso natural. Joguei uma aposta quando fui ministro da Fazenda. Joguei outra para ser candidato .Era condio para conseguir a estabilizao. E , agora, como presidente, me empenharei totalmente para cumprir o acordo de Braslia. Muito obrigado a vocs todos. " di94de04-13,"O Brasil e a instabilidade estrutural Capitalismo brasileiro associado est passando rapidamente a subordinado; a metrpole manda e o satlite obedece MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Dficit comercial e transferncia patrimonial, as novas novas regras no-explcitas do chamado Consenso de Washington para o ajuste dos pases perifricos, esto sendo finalmente postas em prtica no Brasil. Com quatro a cinco anos de atraso em relao ao Mxico e Argentina, o Brasil est se esmerando na aplicao das regras, perigando vir a ocupar o primeiro lugar entre os bem-comportados do subcontinente americano. As regras anteriores (que tiveram vigncia na dcada de 80) eram simples e conhecidas pelo nome de trs D. O primeiro D era para a desvalorizao (cambial) e tinha por objetivo a criao de um supervit comercial capaz de servir a dvida externa (pelo menos em parte). Todos os pases fizeram desse modo o seu ajuste externo, sendo o do Brasil o que teve mais xito, e de passagem transferiram para o exterior mais de duas centenas de bilhes de dlares. O segundo D era para a desregulao dos mercados, com abertura comercial e financeira das economias. O primeiro pas a adotar essas medidas (antes mesmo de virarem regras globais) foi o Chile, durante o regime Pinochet, com os resultados conhecidos sobre a desestruturao dos bancos e da indstria. O segundo foi a Argentina, que comeou com Martin de Hoz e terminou com Cavallo, depois de muitas idas e vindas que provocaram um forte processo de desindustrializao e vrias exploses hiperinflacionrias. O terceiro foi o Mxico, cujo processo de abertura e desregulao se iniciou com o governo de La Madrid e s terminou no governo seguinte, isto , levou mais de seis anos. O nosso comeou com o governo Collor e est terminando agora, com a atual poltica cambial. Todos os processos de abertura comercial e desregulao financeira foram acompanhados no comeo por sobrevalorizao cambial, que durante a dcada de 80 teve de ser combatida periodicamente com desvalorizaes da moeda. Estas coincidiam com movimentos especulativos bruscos, fuga de capitais e exploses inflacionrias. A se aplicavam com rigor mximo as recomendaes implcitas no terceiro D, que significava poltica de deflao permanente, centrada, claro, no ajuste fiscal e monetrio no balano de pagamentos. Como os desequilbrios do balano de pagamento ocorriam nas duas contas (comercial e de capitais), as polticas monetria e cambial eram impotentes para encontrar uma situao de equilbrio. S restava ento o ajuste fiscal permanente, igualmente incapaz de chegar ao equilbrio, uma vez que a conta de juros altos (internos e externos) rolava em bola-de-neve e fazia explodir periodicamente o oramento fiscal programado com austeridade. A situao da conta de capitais mudou radicalmente a partir de 1990, dada a queda da taxa de juros americana e a busca frentica de aplicaes financeiras internacionais nos chamados mercados emergentes. Os recentes sucessos argentino e mexicano no combate inflao devem-se utilizao de uma ncora cambial em condies de economia j abertas, desreguladas e com ampla oferta de capital financeiro, internacional de curto prazo. Isso permite manter os preos estveis pelo tempo que durar a absoro externa de recursos que, por sua vez, exige um dficit no balano de transaes correntes equivalente entrada de capitais. Como subproduto da abertura financeira desregulada, a entrada de capitais financeiros especulativos ajuda a fechar o balano de pagamentos, repetindo um processo de endividamento de curto prazo mais rpido do que o ocorrido entre 1979 e 1982. Ele , no entanto, de natureza distinta. Desta vez, a bolha especulativa internacional est mais ligada ao mercado de cmbio do que ao mercado de commodities (do tipo petrodlares) e opera em condies de desregulao global do mercado de dinheiro e de capitais. Isso significa que o dinheiro pode fugir a qualquer sinal negativo do mercado internacional em relao s reas mais endividadas a curto prazo, como por exemplo (novamente) o Mxico, na rea latino-americana. A dvida externa mexicana multiplicou-se de forma espetacular nos ltimos anos, acompanhando o movimento de integrao com o mercado de capitais norte-americano. O dficit em transaes correntes, que tinha sido zerado pela negociao da dvida externa (velha) em 1988, foi superior a US$ 25 bilhes em 1994. Alm disso, o miniciclo de crescimento correspondente ao perodo de estabilizao, com investimento direto estrangeiro nas indstrias de exportao fronteirias, parece ter terminado. Juros elevados, cmbio sobrevalorizado e dficits comerciais estruturais so condies timas para ondas de privatizao, isto , transferncias patrimoniais baratas do setor pblico para o setor privado. A questo central, porm, que essas transferncias patrimoniais no se destinam a zerar a dvida velha, seno a servir de lastro para um novo endividamento (desta vez de curto prazo), correspondente entrada de capitais especulativos, em geral aplicados metade em Bolsa e metade em ttulos da dvida pblica do Tesouro. O povo dos dlares agradece duplamente, tanto do ponto de vista dos bons negcios, quanto do ponto de vista de um maior equilbrio comercial dos Estados Unidos. Esta grande potncia, como se sabe, tem problemas de dficit estrutural com o Japo (com qualquer taxa de cmbio) h mais de uma dcada. Esta situao tem contribudo para enfraquecer a posio internacional do dlar nos mercados de cmbio. A contribuio que se espera da Amrica Latina, considerada territrio do dlar (pelo menos em termos financeiros e geopolticos), fazer um movimento contrrio ao da dcada de 80. Uma vez regularizada a situao da dvida velha, cabe agora produzir dficits crescentes com os EUA, de modo que o supervit americano seja suficiente para cobrir o dficit com o seu principal credor da sia. O Brasil tem, porm, srias dificuldades de cumprir o papel que lhe foi designado no novo Consenso de Washington, a menos que seja criada uma rea de comrcio preferencial ou de livre comrcio com os EUA, j que a sua abertura comercial no pode discriminar as exportaes oriundas da sia e da Europa. Diga-se de passagem que isto vale tambm para a Argentina e o Mercosul. Mas essa dificuldade pode ser obviada se os segmentos mais importantes do investimento estrangeiro europeu (automobilstico) e japons (minrio, siderurgia e naval) forem sendo desestruturados e perderem competitividade. Nesse caso, seria mais fcil trocar de mos a propriedade privada e estatal (sobretudo Vale do Rio Doce e telecomunicaes), tirar os japoneses da jogada e dar para os nossos irmos do norte algumas posies vantajosas no mercado de bens e de riqueza material, correspondentes posio financeira que j detm aqui. O ajuste proposto pelo Consenso, portanto, est longe de terminar. Continua agora com dois S de supervalorizao e sucateamento do patrimnio pblico e um novo D deslocamento dos concorrentes. O que a economia brasileira vai experimentar nos prximos anos no um processo de estabilidade, mas sim de desajuste e instabilidade estrutural. A expresso usual entre os economistas nas dcadas de 70 e 80: O rabo balana o cachorro deve ser substituda por O rabo vai engolir o cachorro. Vale dizer: as condies externas j no so apenas determinantes em ltima instncia, como na economia dependente; agora so determinantes em primeira instncia. Ou seja, o capitalismo brasileiro associado est passando rapidamente a capitalismo subordinado. A metrpole manda e o satlite obedece. S que as coisas no so to simples assim e a grande metrpole local, So Paulo, pode no ficar satisfeita com os resultados do novo ajuste cambial, patrimonial e fiscal. Mas isso nos levaria a um outro tema sobre o lado poltico da instabilidade estrutural. Desta vez, o corao do capitalismo brasileiro, tendo-se tornado tambm o corao poltico da nao (ao contrrio da dcada de 30), est submetido a uma perigosa esquizofrenia: estar no poder e ser contra ele. Como a histria no se repete, nem mesmo como farsa, no se espera nenhum 1932, apenas um longo processo de conflitos e arbitragens que tornar ainda mais sem transparncia a natureza do poder no Brasil. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).","O Brasil e a instabilidade estrutural Capitalismo brasileiro associado est passando rapidamente a subordinado; a metrpole manda e o satlite obedece MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Dficit comercial e transferncia patrimonial, regras sub-reptcias do Consenso de Washington para o ajuste dos pases perifricos, comeam a ser postas em prtica pelo Brasilcom quatro ou cinco anos de atraso em relao ao Mxico e Argentina. As regras anteriores ( vigentes na dcada de 80) eram conhecidas pelo nome de trs D. O primeiro D era de desvalorizao (cambial) , com o objetivo de criar supervit capaz de servir dvida externa; o segundo era de desregulao dos mercados, com abertura comercial e financeira das economias Todos os processos de abertura comercial e desregulao financeira , inicialmente, foram seguidos de sobrevalorizao cambial, que na dcada de 80 teve que ser combatida com regulares desvalorizaes da moeda. Estas coincidiam com especulao brusca, fuga de capitais e exploses inflacionrias. Nesse caso, eram aplicadas com rigor as recomendaes implcitas no terceiro D , que era a aplicao de uma poltica de deflao contnua , fundamentada no ajuste fiscal e monetrio no balano de pagamento. Como os desequilbrios desses balanos se davam nas contas comercial e de capitais, as polticas monetria e cambial eram incapazes de alcanar o equilbrio. Restava ento o ajuste fiscal permanente, mas tambm impotente para alcan-lo , pois os juros altos detonavam com freqncia o austero oramento fiscal . Como fruto da abertura financeira desregulada, a vinda de capitais estrangeiros especulativos ajuda a fechar o balano de pagamentos , mas repete um processo de endividamento de curto prazo Agora, o crescimento especulativo internacional est mais vinculado ao mercado de cmbio do que ao de commodities, o que significa a fuga do dinheiro a qualquer estremeo do mercado internacional. A situao favorece a privatizao patrimonial barata, que , no lugar de eliminar a dvida velha , abre caminho para novo endividamento, correspondente entrada de capitais especulativos. Os EUA agradecem por lhes permitir um maior equilbrio comercial. Da Amrica Latina se espera um movimento contrrio ao da dcada de 80, caracterizado pela sobrevalorizao cambial. Equilibrada a dvida velha , cabe agora aumentar o dficit com os EUA. O Brasil est com dificuldade em cumprir o Consenso de Washington, dando preferncia ao comrcio com os EUA, pois no discriminar as exportaes oriundas da sia e da Europa. O ajuste proposto pelo Consenso continua agora com dois S de supervalorizao e sucateamento do patrimnio pblico e um novo D- deslocamento dos concorrentes. O futuro do Brasil descortina um processo no de estabilidade mas de desajuste e instabilidade estrutural. O que quer dizer que o capitalismo brasileiro associado passa rapidamente a capitalismo subordinado. " br94ou02-14,"Pobre imprensa MARCELO LEITE Fao minha estria nesta coluna na vspera de uma eleio mais do que importante para o Brasil. Diria histrica, at, no fosse o desgaste inexorvel a que o adjetivo submetido nas pginas dos jornais. A economia, usualmente enlouquecida, comporta-se bem dentro da camisa-de-fora do real. Mais: pela primeira vez o pas vai escolher entre dois candidatos a presidente suposta ou biograficamente de esquerda. Pela primeira vez, h uma chance de que a questo social, enfim, deixe de ser caso de polcia. tudo o que muito jornalista sonhou na vida. Alm disso, uma das poucas discusses interessantes desta campanha tediosa disse respeito prpria imprensa: henricou ou no? O ombudsman a pessoa paga para criticar o jornal em que trabalha, inclusive comparando-o com os concorrentes. natural, assim, que se espere de mim, hoje, um julgamento conclusivo sobre a questo. Uma questo que, note bem, no acompanhei em minha funo atual, assumida na quarta-feira passada. Mas a segui na dupla condio de cidado interessado e jornalista com alguma experincia, ainda que absorto na geografia, no ambiente, na cincia. Por isso mesmo, por no ter estado envolvido nem com a cobertura das eleies nem como uma apreciao desse trabalho jornalstico, acho que estou em condio vantajosa para emitir um juzo. Ei-lo, sem mais rodeios: henricou, sim. Uns mais, outros menos, com maior ou menor leviandade. At a Folha o nico grande jornal a abrigar em suas pginas uma discusso pblica desses temas, nunca demais dizer andou escorregando, como teve a coragem de mostrar aqui minha antecessora, Junia Nogueira de S. Henricou, sim. O que no quer dizer grande coisa, apresso-me em dizer. Estou convencido de que no foi um compl da imprensa que levou Fernando Henrique Cardoso to perto de se eleger presidente da Repblica, amanh. Nem de banqueiros, da Rede Globo, do FMI, do imperialismo, o que for. A fora da candidatura FHC brota de outra fonte. A chamada mdia (esta palavra odiosa, assassinato norte-americano de um termo latino, uma das pragas que as escolas de comunicao nos legaram) foi mais uma coadjuvante na torrente desencadeada pelo Plano Real. A imprensa fez o que pde, claro. Deu curso a toda sorte de preconceitos, foi leniente com FHC, desprezou o fenmeno Enas. Alheou-se das campanhas para deputados e governadores. Nos poucos momentos em que desceu de seu pedestal de pesquisas de opinio sobre pesquisas de opinio e se disps a prestar algum servio, como o primeira vista primoroso caderno Olho no Voto da Folha, cometeu erros que comprometeram todo o esforo. Esteve, no entanto, permanentemente sob vigilncia. No tem precedentes recentes, por exemplo, o direito de resposta obtido pelo PT, e desperdiado num texto pfio, na capa da revista Isto do dia 28. E s quem no conhece a Folha acharia que as cartas no Painel do Leitor, a coluna do ombudsman e os telefonemas de assinantes passaram em branco, sem deixar suas marcas na orientao da cobertura diria das eleies. Paradoxalmente, foi a Folha talvez o dirio mais prximo do FHC pr-PFL, do ngulo ideolgico quem o incomodou mais, a ponto de o candidato criticar de maneira aberta o jornal. Para quem gosta de nmeros, cito o levantamento do Datafolha publicado ontem: comparado com agosto, o noticirio deste jornal que pode ser considerado negativo para o tucano passou de 22,2% do total para 39,8%, em setembro. Na semana que passou, para citar um s exemplo, o reprter de Poltica da Folha, Emanuel Neri, foi publicamente cerceado pelo candidato. Fernando Henrique tentou impedi-lo de fazer uma pergunta pertinente, com argumentos de autoridade, sobre o usineiro Joo Tenrio. O usineiro, citado na CPI do caso PC, tinha ido casa do peessedebista acompanhando o candidato a governador Divaldo Suruagy (PMDB-AL). Para minha surpresa, nenhum leitor tinha ligado at a noite de sexta-feira reclamando da ausncia de Tenrio na foto da primeira pgina da Folha, que eu anotara em minha crtica interna da edio. Nem mesmo os petistas mais vigilantes, que telefonam diariamente, deram sinal de vida (muitos ligaram para reclamar de outras supostas manipulaes, a maioria sem fundamento). A julgar pelo destempero de FHC, especulo que os tucanos teriam reagido com virulncia a uma foto de primeira pgina com Tenrio. E no haveria a menor necessidade, na minha opinio, porque o nico abalo possvel candidatura tucana teria de vir da economia. E ele no veio, para desespero dos adeptos de Lula. O plano foi uma manobra eleitoral? bvio. Mas no s isso, e a reside toda a astcia dessa construo, digamos, maquiaveliana. O real deixou os petistas sem resposta, como reconheceu o prprio Lula, ao dizer que ele no pede votos. Com efeito, ele traz votos. Foi nesse engodo provisrio dos tucanos ou prodgio provisrio, como quiser que todos os conservadores deste pas embarcaram, entusiasmados. E tambm o eleitorado, no se esquea. O prprio Fernando Henrique sempre disse que o plano depende de outras reformas profundas, mas a verdade que ningum quer saber disso agora. O mgico convenceu a platia do circo, porque no se consegue divisar o truque que derrubou a inflao (no houve congelamento). O candidato Fernando Henrique pode decerto comemorar a inacreditvel inverso das intenes de voto nas pesquisas eleitorais aps o real. Mas o socilogo, suponho, deve preocupar-se secretamente com tudo o que ela revela de inconsistncia poltica e ideolgica da sociedade brasileira. A no ser, claro, que sua evoluo poltica e intelectual o tenha convencido de que a verdade, toda ela, est do seu lado. Pois foi nesse aspecto que tambm vi a imprensa, ou pelo menos parte dela, distanciar-se de FHC. A tropa de choque do PSDB bem que tentou envolver jornais e congneres na maior das mistificaes: a de que quem ficasse contra o real estaria contra a ptria. Vi um filme muito parecido, tambm num primeiro de julho (de 1990), na famosa Alexanderplatz de Berlim Oriental. Foi a data da unificao monetria, trs meses antes da unificao poltica. Os alemes do leste beijavam as notas azuis de cem marcos, inebriadas com a moeda forte. Nunca senti tanto asco. No se chegou a esse ponto, no Brasil. A biografia de FHC tem peso demais, no se pode compar-lo com um farsante. A presena do PFL na coligao tem peso demais (a biografia de ACM...), no se pode ignorar o que ela implica de contradies. As greves dos petroleiros, dos metalrgicos, dos bancrios tm peso demais, no se pode met-las no saco emprestado ao autoritarismo militar (os famigerados objetivos polticos). Por mais que se queira, impossvel sustentar a miragem da ptria unida em torno do dinheiro quando ele falta para milhes. Arrisco-me a dizer que a imprensa tem algo a ver com a vivncia concreta desses limites, um penoso e lento processo de gestao poltica. E ter muito mais a ver a partir de amanh, quando tudo indica que FHC sair coroado das urnas pois os tucanos tiveram de arquitetar uma fragilssima unanimidade monetrio-eleitoral para galgar o governo no voto, o que at ento tinham sido incapazes de fazer. Ningum, nenhum brasileiro tem o direito de desejar-lhe m sorte. Por via das dvidas, fao uma nica recomendao imprensa, e Folha em particular, no interesse dos leitores e apoiado no mais alemo dos provrbios: confiana bom, mas controle melhor.","Pobre imprensa - MARCELO LEITE (ombudsman da Folha de S.Paulo) Estrio nesta coluna na vspera de uma eleio importante. Observo que a economia , normalmente destemperada, se aquieta sob o Plano Real. E que o pas vai escolher entre dois candidatos com tradio de esquerdasonho de muito jornalista, j que isso , em outros tempos, era caso de polcia. Uma das poucas discusses interessantes sobre se a imprensa henricou ou no. Na minha condio de ombudsman , pago para criticar, posso confirmar que sim, no na mesma proporo. At a Folha , como j havia notado minha antecessora, andou escorregando. No acredito em um compl da imprensa como responsvel pela guindada de Fernando Henrique. Nem de outros grupos poderosos: banqueiros, Rede Globo, FMI, etc. A mdia foi mais uma coadjuvante para o Plano Real . evidente que a imprensa cumpriu , nesse sentido, o seu papel: alimentou preconceitos, foi branda com FHC, fez pouco caso de Enas e ficou margem das campanhas para deputados e governadores; mas esteve vigilante. Paradoxalmente , no entanto, foi a Folha talvez o dirio mais prximo de FHCquem mais o cutucou , a ponto de o candidato t-la criticado diretamente. O ndice de noticirio crtico ao presidente aumentou de 22,2% para 39,8% em setembro. Fernando Henrique tentou ainda impedir que o reprter de Poltica da Folha fizesse uma pergunta pertinente sobre o usineiro Joo Tenrio. que o entrevistado envolvido no caso PC Fariatinha feito uma visita ao candidato. Os tucanos temiam alguma foto comprometedora com o usineiro. No entanto, o que poderia prejudicar a eleio de FHC seria um abalo nos resultados do Plano Real, que no aconteceu para a frustrao dos petistas . Pelo menos parte da imprensa no quis fazer parte do coro pessedebista , que tinha no Plano sua varinha mgica. A tropa de choque do partido queria envolver a imprensa na divulgao do seu slogan: quem estiver contra o real estar contra a ptria. Mesmo com os vaivns, afirmo que a imprensa tem a ver com a gestao da realidade poltica. E o ter mais com a bastante provvel eleio de Fernando Henrique. Desejar-lhe m sorte no direito de ningum , mas cabe imprensa observar o provrbio: confiana bom, mas controle melhor. " co94se04-10,"Reforma constitucional argentina OCTAVIO BUENO MAGANO No dia 24 de agosto ltimo, completou-se a reforma constitucional argentina, de que resultou texto composto de 129 artigos, contra 245 da Constituio brasileira, aos quais se somam mais 70 integrantes das disposies constitucionais transitrias. Do ponto de vista poltico, a mudana mais importante foi a do artigo 90, que prev a possibilidade de reeleio do presidente e do vice-presidente da Repblica. Na rea social, verificou-se um bis in idem, quer dizer, repetiu-se o artigo 14 bis, gerado pela reforma constitucional de 1957. Naquela ocasio, adotara-se a nomenclatura indicada (14 bis), em virtude do sentimento de que a matria versada no novo preceito guardava estreita conexo com os direitos e garantias individuais j anteriormente previstas no artigo 14. De qualquer forma, s ento abria-se a Constituio argentina, de 25 de maio de 1853, para o chamado constitucionalismo social. Com a reforma atual, nada se inovou sobre a matria. Tais fatos contrastam nitidamente com a experincia brasileira, a respeito do constitucionalismo social. A Lei Magna de 25 de maro de 1824 tanto quanto a de 24 de fevereiro de 1891 eram silentes sobre a matria. S com a emenda constitucional de 1926 que se atribuiu Unio a faculdade de legislar sobre o Direito do Trabalho. Seguiram-se as Constituies de 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988, cada qual mais enxundiosa do que a outra na discriminao dos direitos sociais. A de 1988 tomou feies folhetinescas. Em seu artigo 7, composto de 34 itens e vrios sub-itens, cuidou at de mincias como licena-paternidade; adicional de horas extras; remunerao de frias; piso salarial, etc. O seu artigo 8, apesar de conter declarao enftica em favor da liberdade sindical, conjugado com outros, converteu-se em receptculo de tralha corporativista, composta de unidade sindical, imposto sindical, sistema confederativo rgido e Justia do Trabalho de feitio paritrio e dotada de poder normativo. No Captulo II, do Ttulo VIII, concebeu-se a Seguridade Social como panacia apta a liberar o brasileiro de toda e qualquer necessidade, assim como se fosse possvel implantar, em terras de Santa Cruz, estado paradisaco. Em contraste com isso, os argentinos ao efetuarem sua recente reforma constitucional, ao invs de se renderem a impulsos panfletrios, mantiveram, sem alterao, o artigo 14 bis, da reforma constitucional de 1957. Nesse preceito, como convm a uma regra de natureza constitucional, indicam-se apenas os princpios a serem observados na rea social, a saber: condies dignas e equitativas de trabalho; jornada limitada; descanso e frias pagas; retribuio justa; salrio mnimo mvel; igual remunerao para trabalho idntico; participao nos lucros das empresas e colaborao na direo respectiva; proteo contra o despedimento arbitrrio; estabilidade do servidor pblico; organizao sindical livre e democrtica; garantia das convenes coletivas e da seguridade social. O modelo argentino mostra-se incomparavelmente superior ao nosso, porque permite que os princpios do direito social se flexibilizem em conformidade com as vicissitudes econmico-sociais do pas. Igual comedimento mostraram nossos vizinhos do sul, no que toca relao com os ndios. O texto at ento vigente atribua ao Congresso a incumbncia de manter com eles trato especfico, convertendo-os ao catolicismo. Assim como os argentinos houveram por bem revogar a apontada obsolescncia, assim tambm deveramos ns rever todo o extenso captulo da Constituio de 1988, consagrador de obsoleto regime de segregao indgena. Em suma, o novo modelo argentino de constitucionalismo social merece ser seguido. Faz jus a igual sequela o nimo e o denodo de levar a efeito reforma constitucional. Lamentavelmente, no Brasil, a inrcia de nossos congressistas malbaratou a possibilidade de a lograrmos ainda no ano em curso. de se esperar, no entanto, que o exemplo argentino nos ponha em brios e nos possibilite efetu-la no ano vindouro. E devemos desej-la no pelo mero capricho de mudar, mas porque consabidamente a necessitamos com premncia. OCTAVIO BUENO MAGANO, 63, advogado, professor titular de direito do trabalho da Faculdade de Direito da USP (Universidade de So Paulo).","Reforma constitucional Argentina OCTAVIO BUENO MAGANO Completou-se a reforma constitucional Argentina, que resultou num texto de 129 artigos , contra 245 da nossa Constituio, que ainda tem 70 disposies transitrias. Sob o aspecto poltico, a mudana mais relevante foi a do artigo 90, que prev reeleio do presidente e do vice. Na rea social, repetiu-se o 14 bis. Nisso tudo , contrasta-se com a prtica brasileira sobre a questo social. A Constituio de 1824 e de 1891 nada falam sobre a matria. S a emenda de 1826 que atribuiu Unio a faculdade de legislar sobre Direito do Trabalho. Nas Constituies de 1934,1937,1946,1967 e 1988 aparecem vrias referncias .A ltima foi detalhista demais. Em contraste, os argentinos na sua recente reforma mantiveram, sem alterao, o artigo 14 bis , de 1957. Como prprio da natureza constitucional , limita-se a princpios a ser observados na rea social. O que permite depois flexibilizaes de acordo com as necessidades econmico-sociais do pas. Na questo do ndio , tambm foram mais comedidos. No texto anterior, atribua-se ao Congresso a incumbncia do trato especfico , convertendo-os ao catolicismo. Corrigiram a obsolescncia . Assim tambm deveramos proceder na Constituio de 1988, corrigindo o obsoleto regime de segregao indgena." td94ja30-10,"Escolas so grande mercado para informtica Cresce demanda por empresas que preparam colgios para usar microcomputadores como instrumento de ensino MARIA EDICY MOREIRA Free-Lance para a Folha Levar a informtica s escolas pode ser um grande negcio para quem est buscando novas reas de investimento. A multimdia tecnologia que integra textos, imagens estticas e vdeo no computador abriu um imenso mercado para a indstria de informtica voltada para a educao. Entre 1991 e 1995, os EUA esperam movimentar US$ 3,3 trilhes com a multimdia. Desse total, o mercado educacional deve contribuir com 34%. Capaz de modernizar o ensino, facilitando o apredizado, a implantao da multimdia requer empresas habilitadas a treinar os professores a usar os programas e equipamentos abrindo boas perspectivas de mercado para quem entende do setor. Em 1993 planajvamos ter dez franqueados e chegamos ao final do ano com 26. At maro sero 85, diz Luis Antonio Namura Oblacion, 37, dono da franquia master da empresa norte-americana Futurekids, que prepara as escolas para usar programas educativos no ensino de crianas at 12 anos. Segundo ele, o mercado brasileiro imenso. So 270 mil escolas de 1. e 2. graus e o nmero de empresas especializadas em informtica na educao ainda muito baixo. No caso das Futurekids, o custo para se tornar um franqueado de US$ 47 mil, incluindo taxa de franquia, marketing e montagem do laboratrio (compra e instalao de mesas, cadeiras e programas). A Datapro, dos mesmos scios da Futurekids, se dedica preparao das escolas para usar a informtica no ensino de adolescentes e adultos (12 a 25 anos). A empresa tambm trabalha com franquia. Os valores e regras para se tornar um franqueado so idnticos aos da Futurekids. People Multimdia outra que est crescendo atravs de franquia. A diferena que a empresa visa mais o ensino da informtica propriamente, que o uso da tecnologia como instrumento educacional. Para ser franqueado preciso pagar uma taxa de US$ 10 mil, mais US$ 30 mil para compra e instalao de mveis e equipamentos. Os franqueados so habilitados para dar cursos de processadores de textos, planilhas, bancos de dados entre outros. Alm disso, usam a linguagem Logo para ensinar crianas at 12 anos a lidar com figuras geomtricas. O mercado oferece ainda boas chances para empreendedores independentes. A piscopedagoga Melanie Grunkraut, por exemplo, aproveitou sua experincia no uso do computador para ajudar crianas a superar dificuldades de aprendizado e passou a atuar como consultora de escolas e fornecedora de programas. J a Central Line uma empresa que atende s escolas e d cursos sobre o uso da informtica na educao. Ela capacita as pessoas interessadas a abrir uma empresa nessa rea. Segundo Silvia Fichimann, diretora da Central Line, os custos do treinamento, variam de US$ 50,00 a US$ 100,00 por hora. Para abrir a empresa, alm do aluguel de uma sala, o empreendedor ter de investir aproximadamente US$ 12 mil na compra de mveis, micros e programas.","Escolas so grande mercado para informtica Cresce demanda por empresas que preparam colgios para usar microcomputadores como instrumento de ensino MARIA EDICY MOREIRAFree-Lance para a Folha O investimento em informtica para a escola pode ser um negcio bastante promissor. A multimdia descortinou imenso mercado voltado para a educao. Os americanos esperam movimentar US$ 3,3 trilhes com a multimdia , entre 1991 e 1995, para os quais o mercado educacional deve contribuir com 34%. Se a multimdia moderniza o ensino e facilita o aprendizado, as empresas do ramo devem preparar professores para utilizar os programas e equipamentos. O dono da franquia master da empresa norte-americana Futurekids, Lus Antonio Namura Oblacion , faz isso e acredita na potencialidade do mercado brasileiro com suas 270 mil escolas de 1 e 2 graus. Para se tornar um franqueado da Futurekids, o custo de RS$47 mil, incluindo taxa de franquia, marketing e montagem de laboratrio. A Datapro, dos mesmos scios da Futurekids , se dedica preparao de escolas para usar a informtica no ensino de adolescentes e adultos . A People Multimdia visa mais o ensino da informtica propriamente dita do que sua aplicao rea educacional. E ainda h boas chances para os empreendedores independentes. "