id,text,summary in96fe15-a,"A Internet um ambiente propcio para os altos e baixos do corao. Isso todo mundo ficou sabendo ao acompanhar o romance entre Dara e Jlio Falco, na novela Explode Corao, da TV Globo. Na grande rede de computadores que interliga pessoas no mundo todo, o amor e o dio esto presentes, por isso, ontem, dia de So Valentim (Valentine's Day), em que se comemora o dia dos namorados em vrios pases do Hemisfrio Norte, a grande rede abriu espao para os apaixonados. Na Internet h vrios endereos dedicados ao assunto. Neles, pode-se comprar chocolate, vinho, lingeries, enviar cartes e at pedir o ser amado em casamento pela rede, de modo pblico ou no. Um dos endereos mais bvios o Valentines.com - love at first site (amor no primeiro endereo) (http://www.valentines.com). Nesse ciberlocal, o objetivo ajudar os apaixonados a manter a chama do amor acesa. H cartes de visitas, cartas romnticas. Duas pessoas respondem dvidas amorosas via correio eletrnico. Entre as dvidas dos internautas apaixonados esto: o que fazer se uma mulher lhe oferecer flores ou como confiar em algum depois de ter sido magoado em outro relacionamento. No Palcio do amor de Afrodite (http://www.purple.co.uk/purplet/love.html), alm de ligaes para vrias outras pginas regidas pelo Cupido, os enamorados encontram, entre muitos desenhos melosos e apaixonados, msicas, poemas, cartes, dicas para mimar os amantes e arquivos com sons de vrios tipos de beijo (french kiss, cyberkiss, english french kiss), alm de uma proposta de casamento on-line, em que basta preencher seu nome e nome do futuro cnjuge. Nessa pgina, h ligaes para pginas comerciais onde pode-se comprar flores, vinho, chocolate, lingeries e at um carro para presentear namorados. Tmidos - Para os enamorados tmidos ou que tm dificuldade para lidar com as palavras, o melhor apelar para o The Cyrano Server (http://www.nando.net/toys/cyrano.html). Calcada na pea teatral escrita no sculo passado pelo francs Edmond Rostan - em que o feio Cyrano de Bergerac escrevia as cartas que apaixonavam a namorada de um amigo bonito -, a pgina se prope a escrever os e-mails enquanto o usurio leva a fama. Um detalhe: as cartas so escritas em ingls. Para o computador escrever uma carta pelo internauta, a mquina pede dados como o estilo de carta desejado (indecisa, surreal, desesperada, intelectual) e adjetivos que descrevam a pessoa amada, alm da comida preferida dela. Na pgina Valentine's Day (http://www.nando.net/toys/valentine.html) h dados curiosos sobre o dia de So Valentim, santo decapitado por um imperador romano no dia 14 de fevereiro de 269. Valentim, um bispo estudioso, entrou para a histria como um protetor dos jovens, aos quais ajudava a escrever cartas de amor. Seus ossos, guardados hoje na igreja de Santo Antnio, em Madri, atraem at hoje romarias de pessoas que vo pedir ao santo felicidade no amor. At o dia 17, na Internet, tambm est sendo comemorada a Semana do dia do casamento: no endereo http://www.randomc.com/rmachan fica-se sabendo que h vrios eventos sobre o assunto e, no mesmo site, possvel votar no casal mais romntico j existente. Outras pginas da World Wide Web (parte grfica da rede) tm sugestivos ttulos como A escolha do Cupido, The Valentine's Thief: a children story, Hearts- the game, Cupid's Chapel of Love, Love Bytes Web Valentine e a Screen Saver for Valentine's Day (um descanso de tela para o dia dos namorados). Como o dia dos namorados no Brasil cai em 12 de junho, d tempo de pesquisar as dicas nos endereos internacionais e utiliz-las por aqui. Namoro no ciberspao acaba em... casamento no ciberspao. Nada mais natural. Faltava apenas um casal que se dispusesse a reconhecer a seriedade de sua relao e resolvesse subir no altar informatizado. Os americanos Joseph Perling e Victoria Vaughn aceitaram o desafio e se tornaram pioneiros do sacramento on line. Ontem, em pleno dia dos namorados nos EUA, eles disseram sim e juraram fidelidade eterna via Internet - ele, de seu laptop em Venice Beach, na Califrnia; ela de seu terminal em Hollywood, no mesmo estado. A cerimnia, realizada atravs da rede Compuserve, foi abenoada e oficializada - via computador, claro - por um padre de uma igreja em Beverly Hills, tambm na Califrnia.","So Valentim , que entrou para a histria como protetor dos jovens, o patrono dos namorados. Ontem, seu dia e dia dos namorados, a Internet abriu seu espao para os enamorados em vrios sites. Nos vrios endereos eletrnicos, prope-se a atender a todos os gostos, dvidas e ansiedades dos apaixonados. Se algum quer presentear com vinho, chocolate , lingeries, enviar cartes ou cartas romnticas s buscar um dos sites. Os tmidos tm quem lhes exprima as declaraes ao/ amado/a conforme o seu gosto. s entrar no (Http://www.nando.net/toys/cyrano.html) . Outros querem estimular a paixo ouvindo msicas , poemas, diversos sons de beijos e at propostas de cansamento on-line ; basta procurar o Palcio do Amor de Afrodite. E ,para no se acusar isso de pura realidade virtual, ontem os americanos Joseph Perling e Victoria Vaughn concretizaram sua unio --- ele no seu laptop em Venice Beach , Califrnia; e ela no seu terminal em Hollywood, no mesmo estado. Logicamente, abenoados , via computador, por um padre em Beverly Hills. " po96fe07-b,"O ex-senador Nelson Carneiro, 85 anos, um dos mais ativos legisladores da poltica brasileira durante 48 anos, morreu ontem, s 18h50, em casa, em Niteri. O governador do Rio, Marcello Alencar, e o prefeito Csar Maia decretaram luto oficial por trs dias no estado e no municpio. O corpo est sendo velado na Cmara Municipal do Rio e o enterro ser hoje, s 17 horas, no Cemitrio So Joo Batista. Sua filha, a deputada federal Laura Carneiro, contou ontem que seu pai conversava com um amigo quando morreu. Nelson Carneiro tinha recebido alta hospitalar h poucos dias, depois de serecuperar de uma anemia e submeter a cirurgia abdominal laparoscpica feita em dezembro, em So Paulo. O ex-senador h 15 anos teve um cncer no estmago. O ex-senador esteve internado de 16 a 31 de janeiro, no Hospital Samaritano, no Rio, depois de passar 40 dias no Hospital Srio Libans, em So Paulo, para se recuperar da cirurgia. Os mdicos tinham conseguido reverter um quadro de desidratao e desnutrio. Em 1980 teve que ser operado de diverticulite (inflamao na parede do intestino grosso) com urgncia em So Paulo. Em novembro de 92 foi internado na Casa de Sade So Jos, no Humait, por causa de um derrame cerebral. Em 1972 j tinha sofrido acidente vascular cerebral no Mxico, por causa da altitude. Desta vez seu diagnstico foi hipertenso. Em novembro de 94, foi internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, por causa de um stress. Fez exames de rotina. O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em Braslia, que Nelson Carneiro dedicou toda sua vida defesa e consolidao da democracia. Foi tambm um dos principais arautos dos direitos da mulher no Brasil. Sua morte nos deixa tristes. Durante longos anos, ele iluminou os debates no Congresso Nacional. A morte do ex-senador foi recebida com pesar no Congresso Nacional. A sesso plenria de hoje no ser suspensa, mas se transformar em homenagem sua memria. Ele foi a imagem do homem dedicado ao parlamento, disse ontem o presidente do Congresso Nacional, senador Jos Sarney (PMDB-AP). Os dois senadores que o derrotaram na eleio passada foram os que mais choraram o desaparecimento do ex-parlamentar. Sempre lamentei t-lo derrotado, mas no fui s eu. No se esquea da Benedita, disse o senador Artur da Tvola (PSDB-RJ). Mas a senadora petista lembrou: Nelson, junto com o PT, apoiou o PDT a meu pedido. Mas Artur da Tvola no quis relembrar as crticas feitas por Nelson ao governador do Rio, Marcello Alencar, no discurso de despedida do Senado, quando chamou o governador de judas carioca, e o acusou de prejudicar sua tentativa de reeleio. Foram resqucios da campanha eleitoral, deixou escapar Tvola. Para ele, Nelson Carneiro um dos poucos parlamentares que podem se orgulhar de ter uma obra legislativa completa, marcando a mudana na face da sociedade brasileira. A senadora Benedita da Silva (PT-RJ) reagiu com emoo: Perdemos o grande parceiro na luta pelos direitos das mulheres. Nelson deve ser lembrado como o senador amigo das grandes causas feministas, disse a senadora. Nelson Carneiro era casado com Carmem e tinha trs filhos do seu primeiro casamento: Jorge Miguel, 42 anos; Luza, 40 anos e Laura, 32 anos. Um poltico obstinado, caxias, defensor dos direitos da mulher e extremamente emotivo. Com esse perfil, os 65 anos de vida pblica de Nelson Carneiro se confundem com a histria poltica do pas. Depois de cinco mandatos como deputado, trs como senador e 32 horas como presidente da Repblica - em 1990, durante uma viagem de Jos Sarney -, Nelson Carneiro considerado um dos mais destacados legisladores, com mais de 500 projetos, a maioria convertida em leis. Mas, sem dvida, a Lei do Divrcio, aprovada em 1977, foi a mais famosa de sua biografia poltica. A conquista ocorreu depois de 30 anos de luta contra a Igreja Catlica, apesar de catlico praticante fervoroso, devoto de Nosso Senhor do Bonfim - como todo bom baiano - e at coroinha durante a infncia. Nelson Carneiro atribuiu a derrota nas eleies de 54 para a Cmara de Deputados por sua defesa obstinada ao divrcio. Tambm foi autor do projeto que previa a equiparao da mulher casado ao marido (Lei nmero 4.121) e do que assegurava penso aos filhos de qualquer condio. A derrota de 54, no entanto, no foi a maior decepo sofrida por Nelson ao longo de sua vida pblica. Ela veio 40 anos depois, quando o senador, ento filiado ao PP, concorreu reeleio na coligao PSDB/PP/PFL/PL, ao lado do ento candidato ao governdo do Rio Marcello Alencar. Em uma entrevista emocionada - que o levou s lgrimas -, no dia 7 deste mesmo ano, Nelson Carneiro anunciou seu rompimento com Marcello. Nelson Carneiro atribuiu sua derrota ao empenho do tucano em eleger somente o outro candidato ao Senado da chapa, Artur da Tvola (PSDB). Fui trado calculadamente e a sangue-frio, desabafou. Nem mesmo o ento candidato presidncia da Repblica, Fernando Henrique Cardoso, escapou da mgoa do senador, que o criticou pela omisso diante do fato. Na poca, Nelson divulgou documento desfiando uma sucesso de episdios em que Marcello favorecia Tvola. Entre as provas, o senador citou a ausncia de outdoors com fotos suas - apesar de ter posado ao lado de Marcello e Tvola - e chegou a dizer que no era convidado a participar dos eventos de Fernando Henrique que, junto com Marcello e Tvola, percorria o Rio no avio do feliz banqueiro Ronaldo Csar Coelho. Tambm no perdoou o fato de uma emissora de TV ter registrado a imagem de Marcello votando apenas em Artur da Tvola para o Senado. Depois do incidente, Nelson apoiou, no segundo turno, a candidatura do pedetista Anthony Garotinho ao governo do estado. Enxugando as lgrimas em um leno branco, ele afirmou na entrevista que esperava, at o fim do mandato, aprovar um projeto que garantia s mes o direito de escolher com quem ficaria a guarda dos filhos aps a separao. Sempre me comovo com aos causas ligadas mulher, justificou. Esta, no entanto, no foi a nica ocasio em que Nelson deixou extravasar a emoo. Chorou tambm em fevereiro de 95, ao ouvir o Hino Nacional durante sua despedida do Senado Federal. Nascido em Salvador, em 1910, Nelson cursou Direito na Universidade Federal da Bahia. L teve seu primeiro contato com a poltica, filiando-se ao Partido Democrtico Universitrio da Bahia. Em 1929, iniciou sua carreira jornalstica em O Jornal. Especialista em direito da famlia e em direito das sucesses, comeou a se sensibilizar com os dramas das famlias constitudas que no podiam ser legalizadas. Em 45, filiou-se Unio Democrtica Nacional (UDN) e foi eleito suplente de deputado pela Bahia Assemblia Nacional Constituinte. Como jornalista, Nelson fez a cobertura do evento para o JORNAL DO BRASIL, onde escreveu como colaborador at a dcada de 70. Em 47, assumiu uma cadeira na Cmara, participando da Comisso de Legislao Social e da Comisso Especial de Proteo Natalidade. Trs anos depois, foi eleito deputado federal pela Bahia. Em 53, filiou-se ao Partido Libertador (PL). Mudou-se para o Rio e, em 58, elegeu-se pelo Partido Social Democrtico (PSD) carioca. Com a transferncia da capital para Braslia, passou a representar o estado da Guanabara. Eleito vice-lider do PSD, presidiu a Comisso Parlamentar de Inqurito (CPI) sobre o petrleo e a Comisso de Constituio e Justia da Cmara. Em setembro de 61, aps a renncia do presidente Jnio Quadros, relatou e conduziu a votao da Emenda Constitucional nmero 4, que instituiu o parlamentarismo no Brasil. Continuou a carreira poltica no Movimento Democrtico Brasileiro (MDB). Nas eleies para o Congresso, em 1978, foi ele quem desafiou a proibio de se fazer campanha nas ruas, ao comandar uma passeata na Avenida Rio Branco, enfrentando o cerco de mais de mil soldados. Nesse mesmo ano ele acrescentou a sua biografia outro feito eleitoral, ao eleger-se com mais de 2,2 milhes votos. ","As manifestaes protocolares pela morte do ex-senador Nelson Carneiro contm , naturalmente, as frases feitas tpicas dos meios oficiais. Mas , entre elas, existe uma, do ex-presidente Sarney, que talvez seja a que melhor defina sua condio de homem pblico: Ele foi a imagem do homem dedicado ao parlamento. Nasceu em Salvador em 1910, cursou Direito na Universidade Federal da Bahia. No seu Estado, fez a iniciao poltica e exerceu o jornalismo. Sua experincia de 65 anos de vida pblica permitiu que ele percorresse vrias instncias do Poder Legislativo e vivenciasse mltiplas circunstncias da nossa histria poltica. Inclusive durante a Revoluo de 1964, quando comandou uma passeata na Av. Rio Branco, em 1978, desafiando uma proibio do poder militar. Mas a luta que melhor caracterizou sua persistncia e seu perfil de poltico foi aquela travada pela legalizao do divrcio, que lhe custou 30 anos de enfrentamento com a Igreja Catlica. Sua posio no era, porm, de ressentido contra a Igreja, mas de profissional consciente da legitimidade do direito pelo qual lutava. De fato, as causas que, de uma forma ou outra, envolviam os direitos da mulher mereceram dele um empenho desde muito cedo. Alm da persistncia , a emotividade --- muitas vezes extravasada em choro, publicamente---- era outro componente de sua personalidade. Parece que uma e outra esto relacionadas com as doenas que o acometeram: hipertenso , problemas vasculares, cncer de estmago podem ter sido resultado da emotividade; e o drible por muitos anos dos seus problemas de sade pode ter resultado da sua persistncia. Entre as manifestaes de pesar, esto as de concorrentes polticos que o venceram nas ltimas eleies. As do senador Artur da Tvola ---Sempre lamentei t-lo derrotado, mas no fui s eu--- disfaram mal a hipocrisia, comum no ambiente poltico. Nlson Carneiro ficou magoado com a ntida tendncia do presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador do Rio, Marcelo de Alencar, a favor de Artur da Tvola nas ltimas eleies. Se pudesse ouvir, reclamaria no tmulo " br94fe8-50,"Leia a ntegra do pronunciamento de FHC Esta a ntegra do pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, em cadeia nacional de rdio e TV: Senhoras e senhores, boa noite. Diante da inflao, que beira os 40% ao ms e das dificuldades do povo, o governo apresentou ao Congresso um programa econmico para derrubar a inflao. Este programa funciona em trs tempos: primeiro, ajusta as contas do prprio governo, cortando gastos e equilibrando o Oramento; segundo, cria um padro estvel de valor, a Unidade Real de Valor, a URV, para que os preos e a economia se ajustem; terceiro, transforma esse padro em nova moeda nacional, forte, garantida pelo Banco Central, restabelece a confiana no dinheiro e desta forma elimina a inflao. Desde a minha posse no Ministrio da Fazenda venho afirmando que no se deve enganar o pas pulando etapas. preciso primeiro equilibrar o Oramento. Sem isso impossvel conseguir que a inflao baixe definitivamente. Para acabar de vez com a inflao preciso que o governo no gaste mais do que tem. Do contrrio ter que ir aos bancos, fazer emprstimos ou fabricar dinheiro e tudo isso gera mais e mais inflao. uma conta muito simples: se eu tenho cem, no posso gastar 150. Se gastar mais do que cem a diferena ter de vir de algum lugar. Quando o governo imprime dinheiro o povo que paga, no tenham a menor iluso. Com a inflao elevada quem perde sempre a imensa maioria da populao, que no possui conta nos bancos, no tem sequer acesso caderneta de poupana, no tem como defender-se da desvalorizao do dinheiro e empobrece a cada dia que passa. O governo do presidente Itamar Franco est fazendo tudo para equilibrar as suas contas e acabar com a inflao. Meus amigos. No Oramento deste ano o governo cortou cerca de 40% das despesas da mquina administrativa e dos investimentos. Conseguimos tambm o que os pessimistas diziam ser impossvel: Estados e municpios fizeram acordo com a Unio e esto pagando as suas dvidas, conforme as regras estabelecidas pelo Congresso. Isso, sem falar do rigoroso combate sonegao, com resultados concretos. Acabamos com os 'parasos fiscais', privilgio daqueles que no eram investigados. Mas, apesar de todo esse esforo, ainda faltam bilhes em cruzeiros reais para zerar o dficit. Pior ainda, no basta cortar gastos se o governo obrigado a entregar a maior parte das suas receitas para os Estados e municpios ou para outras despesas previstas na Constituio. De cada CR$ 100 que o governo federal arrecada, CR$ 80 j tm destino certo. Esto vinculados a despesas obrigatrias. Sobram apenas CR$ 20 para atender a todos os gastos com a sade, com o combate fome, com transporte, agricultura, a cincia e a tecnologia e os outros programas essenciais. Como equilibrar as contas nessas condies? Como eliminar a inflao? A sociedade cansou de pagar impostos, porque eles recaem injustamente sobre os pobres mais do que sobre os ricos. Foi por isso que o governo props a emenda constitucional que cria o Fundo Social de Emergncia. O Fundo serve para distribuir melhor a aplicao dos recursos, no para fazer gastos novos, mas para financiar os programas sociais que no podem e nem devem sofrer mais cortes. De outra forma, o governo vai continuar a se endividar para cobrir despesas essenciais, como fizemos em dezembro passado ao emitir mais de US$ 1 bilho em ttulos a juros de 25% reais ao ano, para pagar hospitais e outros programas sociais. Dos US$ 16 bilhes previstos para o Fundo Social de Emergncia, a maior parte se destina redistribuio de recursos, apenas US$ 3 bilhes, ou seja, cerca de 20% do Fundo, viro de aumento de impostos. Aumento indispensvel para cobrir despesas inadiveis. E quem vai pagar a conta? Os que podem mais. Quem ganha acima de CR$ 5 milhes por ms, as instituies financeiras, que pagaro 30% a mais na contribuio social sobre seus lucros. Os setores mais altos da classe mdia, que tero um aumento mnimo, bem menos de 2% em suas alquotas no Imposto de Renda, e os bancos, que no esto pagando o PIS e tero de pagar. Esse esforo tributrio no vai atingir os trabalhadores, nem a maioria da classe mdia. Estamos trocando a inflao, que o imposto dos pobres, pelo imposto dos ricos. Ainda assim no faltam demagogos para dizer que o governo s aumenta os impostos e no corta os seus gastos. Vamos falar claro e sem cerimnia sem o Fundo Social de Emergncia no haver condies de combater o pior de todos os impostos, que a inflao. O governo est seguro de que esse programa o melhor caminho para alcanar a estabilizao desejada e para proporcionar o crescimento sustentado da economia. Mas, s juntos e em parceria, sociedade, governo e Congresso, superaremos as dificuldades. O governo no pode nem quer impor esse programa ao Congresso. Todos os planos dos governos anteriores, a maioria deles com choques, confiscos, congelamentos, foram endossados pelo Congresso e praticamente sem discusso. Hoje, o Congresso no assim, felizmente, pois democracia participao, nem o nosso programa tem as caractersticas dos anteriores. Nunca um ministro da Fazenda no Brasil dialogou tanto com o Congresso para a aprovao de um plano econmico. Debati horas a fio com meus colegas parlamentares. Aceitei as boas sugestes, cedi a tudo que era possvel, desde que a nossa proposta de zerar o dficit no fosse prejudicada. Admiti manter intocvel os recursos dos Estados e municpios porque eles necessitam. Fiz o que pude. Cheguei ao limite do possvel. O que vai ser votado esta semana o resultado dessa ampla negociao. um trabalho conjunto do governo e do prprio Congresso. Agora, preciso que o Congresso decida, no porque o governo quer, mas porque o Brasil tem pressa. Voltamos a crescer em 1993 e devemos crescer mais em 94. O setor privado da economia se ajustou e progrediu, o Produto Industrial cresceu 9% em 1993. As exportaes atingiram quase US$ 39 bilhes, as importaes cresceram 25% e a balana comercial apresentou um saldo de US$ 13 bilhes. A massa salarial cresceu mais do que 10% e o nvel de emprego subiu 3%. As reservas do Brasil superam hoje os US$ 33 bilhes. recorde histrico. A dvida externa com os bancos privados, cuja negociao tem que ser concluda at o dia 10 de maro, no passa de US$ 35 bilhes. A entrada de recursos estrangeiros em 1993 no mercado financeiro foi superior a US$ 12 bilhes e recebemos US$ 1,3 bilho como investimento direto. Os investidores estrangeiros do um voto de confiana ao Brasil, mas ainda falta fazer muito. Falta fazer as reformas constitucionais na rea tributria, na Previdncia e redefinir as atribuies dos Estados, dos municpios e da Unio para citar apenas alguns exemplos. Essas mudanas so fundamentais para equilibrar definitivamente as contas do governo. Falta ainda um programa mais amplo de privatizao e estou lutando por ele, a fim de consolidar a estabilizao da economia. O Brasil vive hoje uma grande contradio. O Congresso e outros setores concordam que h necessidade de se acabar com a inflao e fazer as reformas constitucionais, mas resistem s medidas necessrias. Parte das bancadas liberais querem a reviso constitucional, mas discordam dos aspectos do programa econmico. As bancadas progressistas concordam parcialmente com o programa, mas no querem a reviso. Muitos defendem o mercado, a livre iniciativa, mas no pram de pressionar os cofres pblicos. Querem a liberdade, mas temem a competio e os riscos. Alguns falam em diminuir o Estado, mas no resistem aos grupos de presso contrrios ao enxugamento da mquina. Outros boicotam as privatizaes e pregam um nacionalismo mal colocado, defendem monoplios paralisantes mesmo em reas no estratgicas. Sabem pedir e reivindicar, mas fogem s suas responsabilidades. Mas o Brasil quer hoje claramente que cada um assuma sua parcela de responsabilidade. Como disse o presidente Itamar Franco, a governabilidade responsabilidade de cada um e de todos. A mudana ou ganha fora agora ou no ocorrer to cedo. O Congresso, que por meio da CPI est restaurando a dignidade da poltica, precisa agir responsavelmente na rea econmica. preciso que decida e diga sim ou no, que no se omita, nem deixe para depois. Se no estiver de acordo com o plano proposto, recuse-o, pois no faltar quem busque outros caminhos e formule alternativas. Ao ministro da Fazenda, se o Congresso aprovar o programa tal como proposto na sua integralidade, resta uma luta imensa a enfrentar. A pacincia sempre foi virtude do nosso povo, mas o pas no pode esperar. A responsabilidade de assumir as decises e agir a tempo de cada um de ns, governo e Congresso. O Brasil tem pressa e o governo est pronto para agir. Muito obrigado e boa noite."," ntegra do pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, em cadeia nacional de rdio e TV. Senhoras e senhores: Para enfrentar uma inflao de cerca de 40% ao ms e suas dificuldades, o governo apresentou ao Congresso um plano econmico para cont-la. So trs etapas :uma de corte de gastos e equilbrio de Oramento; a outra de criao de um padro estvel de valor(URV), para que os preos e a economia se ajustem; e a terceira de transformao desse padro em nova moeda nacional. Desde quando assumi o ministrio da Fazenda ,tenho afirmado que , sem isso, impossvel baixar a inflao. E no fazer penalizar os mais pobres. O governo Itamar est empenhado em cumprir sua parte.No Oramento deste ano o governo cortou por volta de 40% dos gastos com a mquina administrativa e com os investimentos. Tambm os Estados e municpios esto pagando suas dvidas com a Unio. E ainda um duro combate sonegao e aos parasos fiscais. Mas ainda faltam bilhes para zerar o dficit. Um lado oneroso para a Unio o repasse de 80% do arrecada aos Estados e municpios. Os 20% que sobram tm que cobrir as despesas com sade, combate fome, transporte , cincia e tecnologia e com outros programas essenciais. E o que fez o governo para equilibrar as contas nessas condies? Props a emenda constitucional que cria o Fundo Social de Emergncia. Para efetiv-lo sem onerar muito com impostos, somente 20% sero arrecadados com eles e, mesmo assim, sob encargo dos que ganham CR$5 milhes por ms, das instituies financeiras e dos bancos. O governo est seguro de que s assim haver estabilizao econmica e desenvolvimento sustentvel. Como o programa , logicamente, no ser imposto ao Congresso, coube a mim , ministro da Fazenda, um intenso dilogo com seus representantes. Aceitei sugestes , fiz concesses at o ponto de no prejudicar a meta . O que os congressistas vo votar nesta semana resultou de ampla negociao. da responsabilidade deles decidir, pois o Brasil tem pressa. Os frutos da atuao do governo nesse perodo esto a para todos verem. S faltam reformas constitucionais na rea tributria , na Previdncia e redefinir atribuies dos Estados , municpios e da Unio. E tambm um plano mais amplo de privatizao , com vistas a estabilizar a economia. O que pode emperrar o sucesso das medidas a contradio vivida hoje no Brasil. O Congresso e outros setores concordam quanto a necessidade de eliminar a inflao e fazer reformas constitucionais, mas resistem s medidas para tal. Ao Congresso , cuja atuao de saneamento na poltica tem sido levada pelas CPIs , cabe a responsabilidade de agir corretamente nas decises econmicas. Aprovado o plano, resta a mim a imensa luta, j que o pas no pode esperar. " in96fe08-a,"SANTO DOMINGO - Equipes de socorro retiraram ontem das guas do Atlntico 79 corpos dos 189 ocupantes de um Boeing 757-200 que caiu no mar por volta de meia-noite de tera-feira, cinco minutos depois de ter levantado vo do centro turstico de Porto Plata, na Repblica Dominicana. O aparelho, da empresa turca Birgen-Air, fretado pela agncia alem Oeger Tours, transportava 176 passageiros, todos alemes, com uma possvel exceo de dois deles, que seriam poloneses. Levava tambm 13 tripulantes, 11 deles turcos, e duas aeromoas dominicanas, as irms Francis e Ibeyse Ramos. Segundo a Fora Area Dominicana, que est sendo ajudada nos trabalhos de resgate por unidades da Guarda Costeira dos Estados Unidos, nada indica que tenham havido sobreviventes. O avio caiu numa rea infestada de tubares, onde ontem as ondas se elevavam a mais de trs metros. Pequenos pedaos do aparelho foram vistos flutuando em meio a uma grande mancha de combustvel e leo. Helicpteros e embarcaes particulares tambm participam da busca aos corpos. Por falta de lugar suficiente no necrotrio da cidade, eles esto sendo depositados em caminhes frigorferos, para posterior identificao. Comoo - Porto Plata um balnerio dominicano muito procurado por turistas alemes. O Boeing fazia um vo charter com destino a Berlim, com escala em Frankfurt. No aeroporto de Schoenefelf, em Berlim, os parentes dos passageiros, desesperados com as notcias do acidente e a impossibilidade de haver sobreviventes, tiveram sua disposio uma sala especial onde, isolados da imprensa e dos curiosos, eram atendidos por mdicos, psiclogos e religiosos. Em Hamburgo, o proprietrio da agncia de viagens Oeger Tours, Vural Oeger, disse estar informado de que as condies meteorolgicas eram extremamente desfavorveis no momento da decolagem, e que o aparelho foi muito provavelmente atingido por um raio, que paralisou suas duas turbinas. Em Frankfurt, Oliver Will, diretor da associao Cockpit (Cabine), de aeronautas alemes, afirmou que o acidente um exemplo tpico de linhas areas exticas que entram nos mercados alemes sem que estes conheam seus padres de segurana. Riscos - De acordo com Will, as pessoas devem ser sempre lembradas de que a passagem mais barata envolve algum risco, pois os preos reduzidos so geralmente uma decorrncia de cortes nas revises dos aparelhos e reduo do tempo de treinamento das tripulaes. O representante da Cockpit recusou-se a especular sobre as causas do acidente, mas rejeitou a hiptese de este ter sido conseqncia de um raio. Para um avio desse tamanho no existe mau tempo, disse. Investigaes - Depois de ter emitido uma nota segundo o qual o Boeing no estava segurado - o que significa que no tinha condies de vo -, o Ministrio dos Transportes da Alemanha retificou essa informao, quando a Oeger Tours apresentou as aplices de seguro. Ainda assim, o aparelho no tinha permisso para entrar no espao areo alemo, acrescentou o Ministrio. Tcnicos alemes partiram ontem para a Repblica Dominicana, para participar das investigaes sobre as causas do acidente, um dos maiores da dcada. Em 20 de dezembro do ano passado, um avio do mesmo tipo, Boeing 757, da empresa American Airlines, caiu na Colmbia, causando a morte de 161 pessoas. Em 1994, a queda de um Airbus da China Airlines, de Formosa, causou 264 mortes nas imediaes do aeroporto de Nagia, no Japo. Houve sete sobreviventes. ","Um Boeing 757-200 da empresa turca Birgen-Air, fretado pela agncia alem Oeger Tours, caiu com 176 passageiros , na maioria alemes, logo depois de ter decolado do centro turstico Porto Plata na Repblica Dominicana. Segundo a Fora Area Dominicana , que prestava socorro ajudada pela Guarda Costeira americana, no deve ter havido sobreviventes . A regio da queda infestada de tubares e , no dia, as ondas se elevavam a mais de trs metros. por falta de espao no necrotrio Diferentemente de Porto Plata, onde os corpos eram depositados provisoriamente em caminhes frigorferos, no aeroporto Schoenefelf, em Berlim, os parentes das vtimas esperavam notcias atendidos por mdicos , psiclogos e religiosos. O proprietrio da agncia que fretou o avio informou que , na hora da decolagem, o tempo estava muito ruim e que , possivelmente, um raio tenha atingido a aeronave. J o diretor da associao de aeronautas alemes , sutilmente, censurou a entrada de linhas areas pouco confiveis no mercado alemo, alertou para o risco de viagens baratas e descartou a possibilidade de um raio ter afetado um avio daquele tamanho. O Ministrio de Transportes alemo retificou uma primeira notcia segundo a qual o Boeing no estava segurado. Mesmo com o seguro, ele no poderia entrar na Alemanha. Tcnicos alemes partiram para a Repblica Dominicana , a fim de participar nas investigaes. " di94mr6-16,"A grande farsa do combate aos oligoplios Plano do governo contra inflao esconde apoio aos cartis, cobrana de tarifas em dobro e outras distores ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha O Plano Real est nas ruas. Pode-se discordar, e totalmente, de suas diretrizes. Pode-se considerar um absurdo que o pas seja submetido a nova experimentao, autoritria, por vaidades e ambies de alguns. Por maior que seja a discordncia, porm, j no h possibilidade de recuo, pois a desmoralizao do governo traria consequncias imprevisveis. S resta, ento, esperar que o Congresso evite aberraes contidas no plano. E que a sociedade esbraveje, exija providncias que realmente resultem em combate inflao, e que a equipe FHC continua com dificuldades de adotar. A queda da inflao pode ocorrer, se houver mudanas de comportamento, como se segue: Alimentos - H exatos trs domingos, as linhas finais desta coluna afirmavam que, j na quarta-feira de cinzas, o ministro FHC levaria uma paulada na cabea com os preos do feijo. Base para a previso: a seca dizimou a colheita de 400 mil toneladas da regio de Irec, Bahia, reduzindo-a a 20 mil toneladas, ou 5% do previsto. Quase nada. Tradicionalmente, so essas 400 mil toneladas que garantem o consumo no Sul/Sudeste em fevereiro/maro. Elas evaporaram, os preos teriam que disparar. A equipe no tomou conhecimento da escassez para minimizar seus efeitos, nem antes -nem agora. O desastre dos preos do feijo um exemplo da grande falha das equipes de economistas que se propem a combater a inflao com choques espantosos. As equipes parecem (parecem, repita-se) muito preocupadas com oligoplios, cartis e outras distores. Mas disparadas brutais de feijo, batata, soja, legumes, tambm fazem os ndices de inflao de determinados meses explodirem, e fazem a inflao continuar em alta nos meses seguintes -porque a correo monetria, a indexao, provoca a alta dos demais preos. Sem lobby - O presidente da Repblica deveria escolher j algum para acompanhar os preos dos alimentos in natura, para evitar a repetio de episdios como o do feijo. preciso algum que se preocupe com os interesses do produtor e do consumidor, isto , no pode ser um nome ligado ao lobby agrcola, que cruza os braos diante de alta de preos, porque aumentam os ganhos dos produtores. H tcnicos, como o economista Fernando Homem de Mello, que estudam permanentemente as questes agrcolas, do plantio venda no varejo, e tm iseno suficiente para priorizar o combate carestia e no outros interesses. Ditadura - O aumento de 46% nas tarifas de energia eltrica, que provocou indignao, mostra perfeitamente a necessidade de vigilncia do Congresso e da sociedade, e mostra tambm que, ao contrrio do que a imprensa tem apregoado desde o comeo do governo Itamar, um ministro da Fazenda todo-poderoso uma distoro absurda. Uma fonte de prejuzos, ora para o Tesouro (a sociedade), ora para o consumidor. Um foco de inflao, com decises das quais acha que no precisa prestar contas. O ministro FHC concedeu reajustes na faixa dos 40% para pequenas concessionrias da Amaznia. Para a Cesp, do governo paulista, autorizou aumento de 48,9%. Em janeiro, a empresa do governador Fleury j ganhara outro aumento, de 50,2%. Em novembro, alguma coisa parecida. Na poca, esses aumentos no provocaram reao, apesar de serem um desmentido s afirmaes do ministro FHC, de que as tarifas de energia subiriam 8% acima da inflao at outubro. No palanque, a promessa de conteno. Nas negociaes com governadores, a farra. Nada como ser um ministro-ditador. Pode adotar a poltica do dando que se recebe, s custas da classe mdia e do povo. Explorao O Instituto de Economia do Setor Pblico um rgo tcnico do governo paulista. Seus clculos sobre o preo da energia eltrica cobrado pela Cesp esto de estarrecer. Em 1989, a tarifa do quilowatt/hora era de US$ 43 para as residncias (classe mdia, basicamente) e US$ 21 para a indstria. Com a poltica de recuperao das tarifas do governo Collor, a residencial subiu para US$ 62 em 91 e US$ 72 em 92. Com Fernando Henrique/Fleury, passou para US$ 92 em dezembro ltimo e US$ 97 em janeiro antes do novo salto, agora em maro. Em sntese, de 89 para 94, o preo da energia paulista para residncias passou de US$ 43 para US$ 97. Mais de 120% de aumento real, acima da inflao. Para a indstria? De US$ 21 para US$ 23. isso mesmo. Entre sorrisos, o ministro FHC diz que autorizou aumentos para a Cesp porque havia defasagem. Entre sorrisos, o governador Fleury arranca o couro do consumidor e ganha o apoio dos empresrios para seus sonhos polticos. E garante votos, na Cmara, para os projetos do ministro sonhador. Tudo, em meio conversa fiada do combate aos oligoplios.... Reviravolta O economista Jos Milton Dallari foi convidado pelo ministro FHC para cuidar da guerra dos preos, negociando e teoricamente procurando evitar aumentos abusivos dos clebres oligoplios. Ele chegou a ser o responsvel por essa mesma rea, de controle de preos, na equipe do ex-ministro Delfim Netto. Ao deixar o governo, Dallari assumiu a funo de consultor e ocupa hoje o posto de presidente executivo da Associao de Produtores e Exportadores de Carne. Espcie de presidente efetivo, com conhecimentos tcnicos, ele quem efetivamente orienta o setor sobre questes como poltica de preos (isto , que preos cobrar...), concentrao empresarial (formao de cartis e oligoplios), etc. Alm disso, Dallari tambm consultor, isto , conselhador sobre os mesmos temas, de dois setores similares: indstria de alimentao (Abia) e supermercados (Abras). Suspeio As ligaes de Dallari com setores empresariais no seriam suficientes, por si s, para colocar em dvida seu empenho em evitar abuso nos preos. Afinal, se FHC e assessores progressistas mudaram tanto (e pe tanto nisso), Dallari tambm poderia assumir novas atitudes. As evidncias no mostram isto. Cumplicidade Logo ao assumir, Dallari foi colocado diante de crticas disparada dos preos do leite e derivados. Ele reforou a verso, divulgada bobamente pela imprensa, de que a culpa era dos pasme-se padeiros, que tinham aumentado sua margem de lucro em 100%. Ora, o sr. Dallari um tcnico competente, assessor da indstria de alimentao. Sabe que o setor de leite e laticnios est sendo dominado por cartis, grandes grupos nacionais e multinacionais. Nos ltimos anos, eles at compram pequenas fbricas de queijos ou usinas de pasteurizao no interior, e chegam a fech-las para ficarem como nicos compradores do leite. Aviltam preos para o produtor. E cobram preos de ouro pela venda ao consumidor. Naquele exato momento em que o preo do leite disparava para o consumidor e chegava aos CR$ 275,00 o litro, o produtor estava recebendo menos de 10% desse valor, ou CR$ 24,00 pelo litro extra-cota... Detalhe que o sr. Dallari (tambm) no deve ignorar: a Parmalat vem avanando no mercado, comprando pequenas e mdias empresas, com financiamento. De quem? Segundo reportagem da Folha, do prprio Banespa. O governo financia a formao de cartis e oligoplios. Sorrisos de l, sorrisos de c. Na entrevista de lanamento do Plano FHC, o economista Prsio Arida fez comovente declarao de crena no funcionamento do mercado. O plano vai dar certo disse ele porque as empresas no vo poder aumentar preos, porque quem aumentar no vai conseguir vender. muita f no funcionamento de uma economia de mercado perfeita, sem cartis e oligoplios. Muita teoria. Arida poderia ter feito uma consulta, ali mesmo, ao seu colega de equipe, Dallari. Durante todo o ano passado, os preos do boi e da carne, em dlares, estiveram muito acima (de 30% a 40%) de sua mdia normal. Mesmo com a concorrncia do frango (gigantesca expanso na produo) e da carne de porco, a carne bovina encareceu tambm proporcionalmente, isto , um quilo do produto passou a comprar maior quantidade dos produtos concorrentes (preos relativos). Capacidade de impor preos. Moral da histria: o combate aos oligoplios tem sido uma farsa e nada indica que v mudar. O brasileiro s deve acreditar se, amanh, os jornais estamparem uma manchete parecida com esta: Dallari convoca Dallari para explicar especulao com preos da carne e do leite. O resto farsa. ALOYSIO BIONDI, 56, jornalista, foi diretor de redao da revista Viso e editor de economia da Folha.","A grande farsa do combate aos oligoplios Plano do governo contra inflao esconde apoio aos cartis, cobrana de tarifas em dobro e outras distores ALOYSIO BIONDI- Especial para a Folha Por mais que se discorde do Plano Real, ele est a e o recuo do governo seria uma desmoralizao de conseqncias desastrosas. S resta o Congresso evitar certas aberraes contidas nele , e a sociedade exigir providncias eficazes de combate inflao. Para que este acontea, necessrio que se atente para alguns fatos: Diferentemente da quase inao do governo , casos como a reduo da colheita de 400 mil para 20 mil toneladas de feijo , na Bahia, por causa da seca , devem ter providncias. essa colheita a responsvel pelo abastecimento do Sul/Sudeste em fevereiro e maro, e sua queda provocar aumentos . As equipes parecem mais preocupadas com oligoplios, cartis e outras distores do que com disparadas de preos de produtos agrcolas , que fazem explodir a inflao em certos meses. O presidente da Repblica deveria nomear algum para acompanhar os preos de alimentos in natura , mas que no tivesse comprometimento com o lobby do setor. Outro fato que merece ateno do Congresso o aumento das tarifas eltricas . O ministro FHC , arbitrariamente, concedeu reajustes de 40% para pequenas concessionrias da Amaznia e 48,9% para a Cesp, do governo paulista, j tendo tido esta outro aumento de 50,2% . A promessa de palanque que as tarifas de energia subiriam 8% acima da inflao at outubro. Depois, o acerto com governadores foi o que se viu acima. O economista Jos Milton Dallari foi convidado por Fernando Henrique para vigiar os preos , em tese para evitar subidas abusivas pelos oligoplios. Suas ligaes com setores empresariais no seriam motivos suficientes para suspeies. Mas , ao assumir , foi criticado pela disparada dos preos do leite e derivados. A verso foi que a culpa era dos padeiros, que aumentaram seus lucros em 100%. Como tcnico competente, ele sabe que essa rea dominada por cartis , grandes grupos nacionais e internacionais, que compram pequenas fbricas, fecham-nas para terem o controle de compra do produto. s observar que , naquele momento, o leite disparou para CR$ 275,00 o litro, enquanto o produtor recebia CR$24,00. O senhor Dallari , por exemplo, sabe que a Parmalat vem crescendo, comprando pequenas e mdias empresas, e financiado pelo Banespa. O resultado tpico de fbulas: o combate aos oligoplios constitui uma farsa sem perspectivas de mudanas. " br94ou16-16,"O jornal e seu papel MARCELO LEITE Para muita gente, em especial milhares de assinantes particularmente azarados da Folha, parecia que o mundo ia acabar. Era como se o Sol no tivesse aparecido, naquela manh, ou quem sabe os cachorros desaprendido a latir: o jornal no estava na porta. O desastre aconteceu no ltimo domingo, 9 de outubro, uma data s comparvel em importncia ao 14 de agosto em que a Folha superou a marca de 1 milho de exemplares. Desse episdio h muitas lies a tirar, sobretudo em relao febre dos fascculos que acomete a imprensa brasileira. E quero j adiantar antes de historiar alguns fatos que podem no ser do conhecimento geral que o juzo dos leitores devastador. No se concebe tragdia maior para um peridico do que deixar de circular, ainda que parcialmente. Foi o que aconteceu com 111.100 exemplares destinados a bancas do interior de So Paulo, distribudos pasme sem o primeiro caderno. Isso mesmo, sem a primeira pgina, sem editoriais, sem expediente. Outros 237.700 saram sem os cadernos Cotidiano e Finanas. O resultado dessa falha inacreditvel no poderia ter sido outro. Em dois dias, os telefones do jornal receberam mais de 7.000 chamadas de leitores indignados, ressentidos, decepcionados. Sentiam-se trados em algo bsico, a certeza de poder contar com o jornal preferido e, no caso dos assinantes, pago com antecedncia. Entornado o caldo, a Folha fez o que pde. Ao mesmo tempo em que enxugava o espao editorial (notcias e tudo o que no publicidade) at o ponto de quase desfigurar as edies ao longo da semana, a Redao tomou a nica atitude cabvel no caso: tornar pblicas as prprias dificuldades (nos dias que se seguiram, jornais como O Globo, Gazeta Mercantil e O Dia tambm trataram da questo). Em cinco reportagens extensas, publicadas na segunda, tera, quinta e sexta-feiras e ontem, a Folha escancarou a origem de suas agruras. O maior jornal do pas quase parou, atrasando em 11 horas a impresso de mais uma edio histrica, por uma razo para l de prosaica: falta de papel. Muitos leitores que ligaram para o ombudsman no se deram por satisfeitos com as explicaes publicadas resumidamente, a combinao de escassez de papel de imprensa no mercado mundial, atrasos na chegada de navios com papel importado e no-cumprimento pelas Indstrias Klabin de Papel e Celulose da entrega de cotas contratadas em julho. Segundo a direo da Empresa Folha da Manh S/A, que edita a Folha, compromissos assumidos por escrito pela Klabin exigiriam a entrega de no mnimo 204 toneladas por dia, este ms. At o ltimo dia 9, a mdia diria estava em 130 toneladas. O consumo total da Folha em outubro era projetado para 12.831 toneladas, mas dever ficar em 10.800. Com a veemncia previsvel do consumidor que se acredita ludibriado, os leitores cobravam duas definies: quais providncias seriam tomadas, e quando. Outros, ultrapassando a fronteira da simples decepo, lanavam a suspeita de uma grave falta de planejamento, de organizao ou at de responsabilidade empresarial. Quanto s definies, o leitor teve de esperar at sexta-feira para obt-las. Era o mnimo a fazer, um imperativo apontado mais de uma vez, durante a semana, na crtica interna da edio feita diariamente pelo ombudsman. Foi, assim, s na sexta que o leitor ficou sabendo que a regularizao do fornecimento deve ocorrer at o final deste ms. Sobre as providncias, o esclarecimento veio apenas na edio de ontem. Na realidade, so medidas mais para minorar os efeitos do fato consumado do que para revert-lo: um remanejamento e enxugamento geral de colunas e sees fixas, com o propsito de liberar 15% do espao disponvel para notcias propriamente ditas. Nosso objetivo tentar dar a volta por cima, fazer um produto melhor em um espao menor, diz Eleonora de Lucena, secretria de Redao encarregada da rea de Edio (e, portanto, da administrao do espao editorial). As suspeitas de alguns leitores, sobretudo a alegada falha estratgica de se lanar na rota de um aumento estrondoso das tiragens em meio a uma crise no mercado de papel, so rebatidas pelo diretor-presidente da Empresa Folha da Manh S/A, Lus Frias. Ele argumenta que, no fossem as falhas na entrega e o atraso dos navios, a Folha chegaria ao final deste ms com mais de 18 mil toneladas de papel em estoque. Ningum aqui se esqueceu de comprar o almoo de amanh, afirma. Como a Klabin aceitou engordar suas entregas Folha at o patamar de 350 toneladas dirias, tudo indica que o pior j passou. Dentro de oito dias, o espao de redao deve voltar ao normal. Hoje mesmo voc tem em mos um jornal comparvel aos dos ltimos domingos: 242 pginas, na edio So Paulo (a includas 80 da Revista da Folha); na semana passada, foram 250 pginas. E com um novo recorde de tiragem, 1.460.240 exemplares. Agora, s lies: 1. O transtorno causado ao leitor por esse curto-circuito administrativo-comercial irreparvel, mas muito mais grave o dano em sua confiana na Folha. Para reconquistar a parcela perdida ser necessrio muito mais tempo do que se consumiu em permitir que fosse desfalcada. O leitor, em particular o assinante, tem conscincia clara de que o jornal e no uma indstria de papel ou um capito de navio que tem compromisso com ele. 2. As perdas no se resumem aos exemplares no-entregues ou mutilados. Como a prpria Folha noticiou, deixaram de ser publicados quatro cadernos especiais. Entre eles, um sobre a Bienal de Artes Plsticas de So Paulo, para revolta de muitos paulistanos. Nestes casos, Ins morta. 3. Boa parte dos leitores dirige sua frustrao e mgoa contra os fascculos, como o Atlas e agora o dicionrio Aurlio (cuja circulao em bancas foi adiada para dia 24). Identificam-nos como os responsveis diretos pelos transtornos, j que sem eles no haveria o brutal aumento das tiragens. O raciocnio impecvel. Resumindo, o recado insistente dos leitores que eles querem antes de mais nada um bom jornal. Se vier com fascculos, timo. Mas se os fascculos resultarem em um jornal ruim, passaro a odi-los. Esto cobertos de razo. Escrevi esta coluna com cerca de 80% de seu tamanho normal. a minha maneira de contribuir, voluntariamente, para que o jornal leve ao leitor um pouco mais de notcias que so, afinal, o que realmente interessa. Fui informado pela Direo de Redao de que os jornalistas lvis Bonassa e Daniela Pinheiro reivindicaram espao fora desta coluna para prosseguir com nossa polmica sobre o caderno Olho no Voto (o texto deve estar publicado nesta mesma pgina). Lerei com ateno os novos argumentos. Aviso, no entanto, que s pretendo responder se representarem de fato uma oportunidade de contribuir para que se faa um caderno melhor, na prxima eleio. MARCELO LEITE o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovvel por mais um ano. Ele no pode ser demitido durante o exerccio do cargo e tem estabilidade por um ano aps o exerccio da funo. Suas atribuies so criticar o jornal sob a perspectiva do leitor recebendo e checando as reclamaes que ele encaminha Redao e comentar, aos domingos, o noticirio dos meios de comunicao. Cartas devem ser enviadas para a al. Baro de Limeira, 425, 8 andar, So Paulo (SP), CEP 01202-001, a.c. Marcelo Leite/Ombudsman. Para contatos telefnicos, ligue (011) 224-3896 entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.","O jornal e seu papel --- MARCELO LEITE No ltimo domingo, milhares de assinantes da Folha tiveram um choque: o jornal no foi entregue. O acontecimento permite um bom aprendizado, principalmente quanto fasciculomania da nossa imprensa. J adianto que o julgamento dos leitores impiedoso. Em dois dias, os telefones do jornal receberam mais de 7.000 chamadas. Consumado o acidente, a Folha empenhou-se em solues. Inicialmente, enxugou o espao dos editoriais. Mas viu que devia se expor mais: em cinco reportagens longas, falou da causa fundamental --- a falta de papel . Foi necessrio explicar a falta de papel de imprensa no mercado mundial, o atraso dos navios que traziam papel importado, do no-cumprimento da entrega das cotas pelas Indstrias Klabin de Papel e Celulose. Com veemncia, os leitores cobravam quais providncias seriam tomadas e a data. Ficaram sabendo que a regularizao se dar at o fim do ms. Quanto s providncias , alis paliativas no mento, iniciaram-se pelo remanejamento e enxugamento geral de colunas , a fim de liberar 15% de espao para notcias propriamente ditas. As suspeitas sobre falhas estratgicas relacionadas ao superdimensiomento das tiragens foram assim respondidas pelo diretor da Empresa Folha da Manh S/A: Ningum aqui se esqueceu de comprar o almoo de amanh. Quanto s lies , posso enumerar: a perda de confiana no jornal; a no-publicao de quatro cadernos especiais, entre os quais um sobre a Bienal de Artes Plsticas de So Paulo; a frustrao e mgoa dos leitores por no receberem os fascculos do Atlas e do dicionrio Aurlio. Os leitores querem principalmente um bom jornal e nisso esto cheios de razo. Da minha parte contribuo escrevendo esta coluna com cerca de 80% do tamanho normal." co94no27-17,"'Quando morrer, quero ir para o Chanterelle' J.R.DURAN Especial para a Folha O meu apartamento em N.Y. fica na Mercer St. esquina com a 4th St., perto da New York University e da Washington Square, um lugar alegre e colorido. Isto quer dizer que grande parte da minha vida l, transcorre no downtown e no Soho, mesmo porque, para fins profissionais, a situao bem prtica. O Studio One, na 23 East, 4th St., um dos melhores estdios fotogrficos para alugar em N.Y., onde voc pode cruzar com Gilles Bensimon, Michel Comte, etc. Na 65 Bleeker St., existe o US Color, o melhor laboratrio fotogrfico dos Estados Unidos. Se voc disser que meu amigo, pode ganhar desconto e atendimento preferencial. Ento, estas dicas so todas de lugares que d para ir andando (exceto uma ou duas), mesmo no inverno, o que no pouca coisa para quem conhece o inverno de New York. O caf da manh no Dean & De Luca. Tem trs deles na rea e o meu favorito o da Prince Street. o mais calmo, tem mais espao e d para ler o New York Times sem ter que ouvir a conversa de quem estiver na mesa ao lado. Alm do mais, tem uma clarabia que proporciona uma luz agradvel em qualquer poca do ano. Livros e revistas podem ser na Rizzolli, da West Broadway, ou na Tower Books, da Lafayette St. Na verdade, a Rizzolli mais agradvel, os vendedores so mais educados e ainda se pode tomar um expresso em um barzinho que tem no andar superior. A Tower Books tem mais variedade de livros, mas os vendedores conseguem sempre mostrar o mesmo olhar de peixe morto para qualquer tipo de pergunta. Na outra Tower, a Tower Records, esquina da Broadway e Mercer St., o tratamento puxa mais para o Bronx Boys'on the Hood, mas compensa pela quantidade e a qualidade dos CDs. Para comprar roupas para dar de presente para algum como rika Palomino, tem a Patricia Fields, na 8th street, entre 5 e 6 Ave. So roupas exclusivas, divertidssimas e que um ms depois estaro em matrias de moda da Details. Se por acaso as suas amizades so mais comportadas, s ir at o Gap na Broadway e 8th street e comprar todos os bsicos que voc for capaz. A minha querida Alexandra Brochen prefere fazer compras na Tehen, esquina da Prince e Greene St. Eu prefiro comprar roupas na Agnes B (o estilo Jean-Paul Belmondo blas) na Prince St., ou na APC (uma coisa assim meio intelectual chic), 131 Mercer St. Na mesma Mercer St., a duas portas da APC, existe uma livraria que tem todos os livros de fotografia que qualquer fotgrafo procura (novos e usados) e que esqueci o nome, mas que a mais completa e suja que j visitei. Para compras paralelas e diversas, tem a Kate's Papeterie, na Broadway e Prince St., que vende aqueles caderninhos com pginas brancas da Cranc's, onde se pode escrever interminveis dirios (imaginrios ou no). Como curiosidade, tem a Evolution, 120 Spring St., que vende tudo o que relacionado com a evoluo da espcie. Voc pode comprar uma belssima caixa com borboletas da Papua-Nova Guin, um crnio de macaco do deserto do Kalahari ou um dente de crocodilo. Para aqueles objetos que a gente compra compulsivamente e depois quase se arrepende, tem a AD*HOC, na esquina da West Broadway e Spring. So milhares de sabonetes, perfumes, canetas, livros, vasos, roupa de cama e coisas assim que fazem enlouquecer a minha amiga Mnica Figueiredo toda vez que entra na loja. O que tem cada vez mais na regio so bares. Alm do tradicional Fanelli's, que aparece no fim daquele filme State of Grace, de Phil Joanou com Sean Penn e Gary Oldman, tem os novos: o Temple Bar, na 332 Lafayette St., com petiscos geniais e clima de chega mais. O Merc Bar, na Mercer St., entre Houston e Prince St., mais descolado, e com gimlets perfeitos (gimlets, voc sabe, a bebida preferida de Philip Marlove). E, alguns meses atrs, foi inaugurado o Match, um daqueles lugares que as pessoas fazem fila e choram na porta para poder entrar, quase em frente ao Merc Bar. Os restaurantes so numerosos e dependem da companhia. Toda vez que saio com minha amiga Leda Gorgone, a gente acaba indo ao Jerry's, um american food a preos razoveis que fica na Prince Street, perto do correio, onde na hora do almoo se encontram quase todos os alternativos do bairro. Tem o Jour et Nuit na esquina da West Broadway e Broome St., restaurante francs bom e barulhento sempre cheio de modelos, propriedade de Frederic que o namorado da Frederique, modelo famosa de tanto aparecer nos anncios de Victoria Secret. Outro restaurante, tambm francs, o favorito de Monique Pillard, presidente da agncia de modelos Elite. o Chez Jacqueline, que fica na MacDougal na esquina da Houston. Para impressionar, sem muito dinheiro, o Kelly & Ping Wooster entre Prince e Houston, um restaurante tipo chins de San Francisco dos anos 20, que parece sado de um livro de Tin-Tin. Barulhento e divertido e com massas chinesas timas. J se voc dispe de um bom capital e quer impressionar, tem o Chanterelle, bem mais downtown, mas que um Nirvana gastronmico aliado a um clima de paz e tranquilidade. Quando eu morrer, se no for para o cu, quero ir para o Chanterelle. Em ocasies de romance, onde o tiro e queda fundamental, o lugar o Alison ou Dominick, na Dominick St. e Varick. ntimo, no preciso falar, s sussurrar, e com comida estilo americano de primeira, o que no fcil de encontrar. No toa que vem sendo considerado pelos crticos, de alguns anos para c, como um dos trs melhores de N.Y. Para ir ao cinema, s chegar na esquina da Houston com Mercer e entrar no Angelika Film Festival. Um cinema com cinco salas, onde passa o melhor do melhor. Foi l que assisti estria de Pulp Fiction, de So Quentin Tarantino. E para uma coisa mais intensa e mais cult (tipo se voc encontrou com Arto ou Duncan Lindsay) temos Film Forum, na Houston com a 8th Ave, onde voc pode assistir a coisas como Architecture of the Dome, um documentrio sobre a ascenso e queda do nazismo visto atravs das artes alems daquele poca, ou ainda, Visons of Light o delicioso filme que no me lembro quem dirigiu, mas que a respeito dos fotgrafos de cinema. Na esquina da Lafayette e Great Jones St., tem o Times Cafe, famoso pelos eggs benedict e por ter sado em um anncio da gua mineral Perrier, mas o mais interessante est no subsolo. Se trata de um bar com msica ao vivo que se chama Fez. no estilo marroquino e tem jazz do melhor. Claro que se o que voc quer um jazz mais tradicional (Thelonius Monk, por exemplo), v ao Blue Note, na 8th St., entre 6th Avenue e Macdougal, reduto de turistas e jazzmanacos do mundo inteiro. Surpresas musicais acontecem no Bottom Line, uma casa de espetculos na esquina oposta minha. Um lugar onde voc pode convidar Matinas Suzuki para assistir Jimmy Scott em uma noite e na outra assistir o pavoroso Buster Poindexter ou os Ramones. J. R. DURAN, 42, fotgrafo e s gosta de Nova York quando est fora dela."," Quando morrer , quero ir para o Chanterelle J.R.DURAN --- Especial para a Folha Moro num apartamento em N.Y. , na Mercer St. Esquina com a 4th St., perto da New York University e da Washington Square, um lugar alegre e colorido. Minha vida transcorre por ali, o que, do ponto de vista profissional, bem prtico. Dois estdios fotogrficos da melhor qualidade ficam por ali: o Studio One e o US Color. O caf da manh num dos trs Dean & De Luca , o Prince Street, calmo e espaoso, onde se pode ler o jornal. Livros e revistas podem ser encontrados na Rizzolli ou na Tower Books. Roupas para presente se encontram na Patrcia Fields . Pessoalmente, prefiro comprar as minhas na Agnes B, na Prince St. , ou na APC . Ao lado da APC, h uma livraria com uma variedade de livros de fotografia. Quem quer compras diversas pode ir Kates Papeterie, na Broadway. Curiosidades sobre a evoluo da espcie se encontram na Evolution, 120 Spring St. E as quinquilharias ,objeto de compras compulsivas , so adquiridas na AD*HOC , na esquina da West Broadway e Spring. Na regio, os bares so numerosos. O tradicional Fanellis; o Temple Bar , com petiscos geniais ; o Merc Bar . Os restaurantes tambm . O Jerrys , um american food , a preos razoveis; o Jour et Nuit, bom e barulhento restaurante francs; o Chez Jacqueline, tambm francs; o Kelly & Ping Wooster , um restaurante tipo francs San Francisco , anos 20; para quem quer impressionar e tem dinheiro, o Chanterelle, com tima comida, tranqilo. E em ocasies romance, bom ir ao Alison ou Dominick , ntimo e com boa comida americana. Cinema , encontra-se na esquina da Houston com Mercer , o Angelika Film Festival, com bons filmes; e o Film Frum na Houston com a Oitava Avenida. Para satisfazer o ouvido, deve-se ir ao Bottom Line, uma boa casa de espetculos ." di94jl17-04,"Uma agenda para o trabalho EDWARD J. AMADEO Agradeo o professor Pastore pela elegante resposta ao meu artigo O consenso sobre os encargos sociais (Folha de 04/06/94), onde mais que nada ele reafirma os pontos da sua entrevista Folha, que deu origem aos meus comentrios. Ao final de meu artigo, deixei claro que a discusso sobre a flexibilizao do trabalho no Brasil era importante, mas que no deveria ser confundida com a demanda pura e simples por reduo dos chamados encargos sociais. Mais uma vez o professor Pastore confunde as discusses sobre encargos e flexibilizao. Prefiro separ-las. Quando a empresa contrata um trabalhador por 100 unidades de salrio, ela sabe que ter que desembolsar 202, diz o professor Pastore em seu artigo. Discordo marginalmente dos nmeros. Meu principal argumento outro: dos 102 extras que a empresa paga, mais ou menos 70 vo para as mos do empregado. Isto significa que, dos 202, 170 representam a remunerao do empregado. Logo, a demanda por reduo de encargos ou se refere ao que vai para o Estado 30 dos 202, ou se refere reduo do salrio do empregado. preciso que o professor Pastore deixe claro o que tem em mente. claro que podemos pensar em formas para desonerar a folha de salrios. Isso se refere to somente aos 30 que vo para o Estado, que poderiam ter origem num imposto sobre o faturamento e no sobre a folha. Nesse caso, as grandes empresas, cuja relao faturamento/folha muito maior que nas pequenas empresas, passaro a pagar mais impostos. As pequenas pagariam menos. Uma boa idia. O professor Pastore argumenta que os encargos so responsveis pela informalidade do mercado de trabalho. Por mais atraente e difundido que seja o argumento, quero dizer que no h evidncias empricas a seu favor. Suponhamos que a empresa s pode pagar um total de 180 entre salrios e encargos. Ela poderia pagar 90 em carteira, mais 63 ao trabalhador (total 153) e recolher 27 ao governo. claro que ela pode preferir no recolher nem um tosto ao governo e pagar 180 ao trabalhador. Agindo assim, remunera seus trabalhadores melhor que a empresa que paga 170 e recolhe 30. Sonegar sempre uma opo, principalmente se no houver fiscalizao ou se os fiscais forem corruptos. Mas ser mesmo que as empresas que sonegam pagam salrios mais altos, como faz crer o argumento e o exemplo citados? No. Os trabalhos do professor Ricardo Paes e Barros, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada), no Rio, mostram que, quando comparados os salrios de trabalhadores com as mesmas caractersticas (educao, sexo, idade e regio), ganham mais os trabalhadores de empresas que assinam a carteira de trabalho. Estas empresas pagam os encargos e, alm disso, pagam salrios em carteira mais altos. No verdade, portanto, que as empresas deixam de pagar encargos para pagar salrios mais altos. A informalidade no decorre dos encargos. Como j disse antes, preciso diferenciar a discusso dos encargos da discusso sobre a flexibilidade do trabalho. O que significa flexibilidade? Flexibilidade significa tornar o mercado de trabalho e o trabalhador mais adaptveis a mudanas na tecnologia, no nvel de atividades e na composio setorial da demanda. Com mais flexibilidade, os custos sociais dos ajustes a estas mudanas so menores. H diferentes maneiras de obter flexibilidade. Uma dando s empresas o direito de demitir sem custos e sem interferncia dos sindicatos e reduzindo o nmero de leis que regem a relao de trabalho. Este o sentido convencional de flexibilidade e o sentido usado pelo professor Pastore. Ocorre que este tipo de flexibilidade, em que a empresa pode admitir e demitir livremente e em que a rotatividade do trabalho alta, gera uma situao em que as empresas no tm incentivos para investir em formao e treinamento e os trabalhadores no tm compromissos com os objetivos da empresa. Este tipo de relao entre empresas e empregados reduz outras fontes de flexibilidade, associadas capacidade do trabalhador de adaptar-se a mudanas. Simplesmente porque a adaptabilidade requer trabalhadores educados, treinados e comprometidos com a empresa. De fato, h dois modelos de flexibilidade. Um modelo liberal do qual o professor Pastore adepto, que se baseia na desregulamentao do mercado de trabalho, na descentralizao das negociaes e na reduo do papel dos sindicatos. Um modelo social-democrata, que valoriza a negociao em diferentes nveis entre patres e trabalhadores, como forma de flexibilizar o trabalho e aumentar o grau de cooperao entre empresas e empregados. O modelo liberal entrou na moda na dcada de 1980. Hoje, h inmeros estudos sobre a reforma liberal na Inglaterra e outros pases e a concluso triste, o que j torna o modelo um tanto demod. No melhorou a situao macroeconmica e a disperso salarial cresceu muito na Inglaterra. Os EUA, que sempre tiveram um modelo liberal, apesar de conseguirem gerar mais empregos que qualquer outro pas rico, tm pssimo desempenho no que se refere ao crescimento da produtividade do trabalho e enorme disperso salarial. Por isso, o ministro do Trabalho, Robert Reich, tem insistido em mudanas de natureza social-democrata. J tive oportunidade de argumentar em outros trabalhos que existem diferentes modelos de mercado de trabalho. preciso escolher entre eles. Dada a situao brasileira, em que a criao de empregos em si no um problema, mas a qualidade dos empregos e da relao capital-trabalho pssima, tenho me convencido de que a opo social-democrata a que melhor frutos traria. Isso no significa que o mercado de trabalho no Brasil no seja demasiadamente regulamentado. muito regulamentado e a Justia do Trabalho tem poder normativo, o que reduz muito o espao de negociao entre patres e empregados. preciso desregulamentar, mas, simultaneamente, aumentar o escopo de negociao. Sendo assim, reduz-se o papel da lei (da Consolidao das Leis do Trabalho e da poltica salarial, por exemplo) e em seu lugar introduz-se negociaes diretas entre patres e trabalhadores. Mas no negociaes em nvel de empresas apenas, porque a maior parte dos trabalhadores no Brasil no est organizada para negociar e tem seus direitos regidos pela CLT. Para estes, a descentralizao das negociaes e eliminao da CLT representariam uma enorme perda. Minha proposta que a negociao de condies bsicas de trabalho e reposio salarial se d em nvel nacional, depois setorial, depois nas empresas. Este o modelo social-democrata que permite coordenao na formao de salrios e preos e reduz a disperso salarial. Ao contrrio do que se imagina, o desempenho macroeconmico (medido pela inflao e o desemprego) melhor e a distribuio dos salrios muito mais igualitria em pases em que as negociaes so centralizadas, ou, pelo menos, sincronizadas no tempo, como no Japo. O princpio bsico da proposta que a flexibilizao no advm da ausncia de regras nem do enfraquecimento de uma das partes negociantes, mas de regras negociadas e que, portanto, tenham legitimidade. H outros ingredientes desta proposta que eu gostaria de ver comentados pelo professor Pastore. Em primeiro lugar, importante que haja reduo do poder normativo da Justia do Trabalho, que inibe a negociao direta. Em segundo lugar, preciso que o imposto sindical seja abolido, uma vez que este imposto est na raiz do peleguismo patronal e trabalhista, que reduz muito a representatividade dos sindicatos. Em terceiro lugar, preciso que os trabalhadores passem a ter representao formal dentro das empresas, independentemente da organizao sindical. Por ltimo, preciso que os recursos do Senai, Sesi e Sebrae tenham administrao tripartite, envolvendo trabalhadores, patres e o governo. Isto porque estes fundos deveriam ser a base de financiamento das polticas de mercado de trabalho no Brasil e, num contexto mais negocial, deveriam contar com a participao dos trabalhadores na sua gesto. Esta a agenda para o trabalho que proponho, a fim de flexibilizar o trabalho no Brasil. Flexibilizao civilizada, como quer o professor Pastore, mas negociada. EDWARD J. AMADEO, 38, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), professor do Departamento de Economia da PUC-RJ (Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro) e autor de Keynes's Principie of Effective Demand (1989) e Keynes's Third Alternative (1991) Edvard Elgar Publishing Co (Inglaterra).","Uma agenda para o trabalho EDWARD J.AMADEO Agradeo ao professor Pastore pela elegante resposta ao meu artigo O consenso sobre os encargos sociais , onde ele reafirma os pontos j expostos na sua entrevista. No final do meu artigo, deixei claro que minha defesa da flexibilizao no significava pura e simplesmente reduo de encargos sociais. Discordo dos nmeros do professor, quando diz que uma empresa, ao contratar um operrio por 100 , vai desembolsar 202. Minha posio que dos 102 extras que a empresa paga, aproximadamente 70 vo para o empregado. Os trabalhos do professor Ricardo Paes e Barros, do Ipea, no Rio, mostram que os salrios de trabalhadores com as mesmas caractersticas so melhores nas empresas que assinam carteira. Elas pagam os encargos e , ainda, salrios mais altos . No verdade, pois, que empresas que no pagam encargos remuneram melhor. Como j disse, preciso diferenciar a discusso sobre encargos das referentes flexibilidade de trabalho. Flexibilidade significa tornar o mercado de trabalho e o trabalhador mais adaptveis a mudanas na tecnologia, com custos menores dos ajustes s mudanas. H diferentes modos de alcanar flexibilidade. Uma dando o direito de demitir sem custos e sem intermediao dos sindicatossentido usado pelo professor Pastore. Ele gera uma situao que desmotiva as empresas de investir em formao e treinamento , e que reduz outras fontes de flexibilidade , relacionadas adaptao . O modelo de flexibilizao liberal que o professor Pastore defendebaseia-se na desregulamentao do mercado, na descentralizao das negociaes e na reduo da interferncia dos sindicatos. O modelo social-democrata valoriza a negociao em diferentes nveis , como forma de flexibilizar o trabalho e elevar o grau de cooperao. Os inmeros estudos sobre o modelo liberal na Inglaterra e outros pases so entristecedores . No melhorou a situao macroeconmica e a disperso salarial na Inglaterra , e nos Estados Unidos houve baixo desempenho de produtividade e grande disperso salarial. Minha convico que a opo social-democrata seria mais proveitosa. No Brasil, o mercado de trabalho muito regulamentado; convm desregulament-lo , mas tambm aumentar o objetivo da negociao, com negociaes diretas entre patres e empregados. Porm, que obedeam , no nvel de condies bsicas , uma hierarquia: em nvel nacional, depois setorial, depois nas empresas. Esse modelo permite coordenao na formao de salrios e preos e reduz a disperso salarial. Nos pases em que as negociaes so centralizadas, o desempenho macroeconmico melhor e a distribuio salarial , mais equnime . Mais alguns ingredientes da minha proposta: Que haja reduo do poder normativo da Justia do Trabalho; que o imposto sindical seja abolido, pois favorece o peleguismo patronal e trabalhista; que os trabalhadores passem a ter representao dentro da empresa ; e que os recursos do Senai, Sesi e Sebrae tenham administrao tripartite, com representao de trabalhadores , patres e governo. " co94ou29-06,"Medo de mortes pode adiar ao no Rio Itamar teme que ocupao militar dos morros provoque morte de inocentes e pode decretar estado de defesa s aps 2 turno INCIO MUZZI Do Painel, em Braslia JOSIAS DE SOUZA Diretor-executivo da Sucursal de Braslia Os ministros militares traaram, por encomenda de Itamar Franco, os cenrios de uma eventual interveno armada contra o crime organizado no Rio. Concluram que, qualquer que seja a ao, grande o risco de muitas mortes. O alerta dos militares deixou Itamar angustiado. Ele quer agir no Rio, mas passou a temer o que chama de efeito Volta Redonda'', numa referncia ao do Exrcito contra grevistas da Companhia Siderrgica Nacional, em 88. A operao resultou em trs mortos e comps o ambiente que levou eleio da petista Luza Erundina em So Paulo. O almirante Mrio Csar Flores, ministro-chefe da SAE (Secretaria de Assuntos Estratgicos), construiu, em dilogo com o presidente, uma imagem ilustrativa. Ele disse que, alvejado por um tiro disparado de um barraco num morro carioca, um policial civil tentaria localizar o atirador. Em situao semelhante, um soldado do Exrcito no perderia tempo em procurar o agressor. Ele destruiria o barraco'', disse. Segundo o raciocnio de Flores, os soldados so treinados para a guerra e no para o combate criminalidade, em reas urbanas. O Planalto passou a considerar com maior intensidade os riscos embutidos da operao. Com ndices de popularidade superiores a 80%, Itamar teme sofrer um desgaste caso a ao no Rio resulte em chacina e morte de inocentes. Itamar j no exclui a hiptese de adiar para depois do segundo turno das eleies, em 15 de novembro, a decretao de estado de defesa no Rio. At l, seriam tomadas medidas tpicas, em conjunto com o governo carioca. O Exrcito tambm receia sair do episdio com a imagem arranhada. Afirma-se na cpula que h o risco de a operao transformar-se em um fiasco. A maior parte dos oficiais militares acha que, exposto no noticirio, o plano de interveno perdeu um trunfo: o sigilo. Acredita-se que os traficantes estejam se preparando para submergir, evitando a priso e a apreenso de armamentos e dos estoques de drogas. O Planalto e as Foras Armadas esto divididos quanto convenincia do estado de defesa. Divergem tambm em relao idia de mobilizar o Exrcito para ocupar os morros da cidade. O assunto foi discutido por Itamar em vrias reunies, na ltima quinta-feira. Participaram da discusso, em momentos diversos, os ministros militares, assessores civis do presidente e o embaixador do Brasil em Portugal, Jos Aparecido de Oliveira. Itamar busca no momento a cumplicidade do Congresso, de Nilo Batista e das principais lideranas da sociedade do Rio. Alm de enviar o ministro da Justia para dialogar com o governo estadual e com as autoridades militares que servem no Rio, o presidente pediu o auxlio do embaixador brasileiro em Portugal, Jos Aparecido de Oliveira. Aparecido deixou Braslia com uma pauta de encontros que inclua o cardeal d. Eugnio Salles e o presidente da Associao Brasileira de Imprensa, Barbosa Lima Sobrinho. Itamar espera ter um relato minucioso das conversas na segunda-feira, antes do encontro que ter, tarde, com o governador carioca Nilo Batista. Prega-se na cpula do Exrcito uma soluo intermediria: a interveno apenas no comando da PM fluminense, que seria entregue a um oficial do Exrcito. Entende-se como fundamental que a polcia passe por um processo de limpeza. A proposta foi apresentada informalmente ao governador Nilo Batista, que a recusou. Mesmo assim, o presidente voltar a insistir na medida, na segunda-feira. Itamar est impressionado com o nmero de cartas e abaixo-assinados que tm chegado ao Planalto, pedindo a interveno. Um assessor chegou a sugerir uma pesquisa para aferir a opinio dos cariocas. Itamar cortou rspido. Disse no ter dvidas de que o resultado seria 80% favorvel interveno.","Medo de mortes pode adiar ao Itamar teme que ocupao militar no Rio mate inocentes e pode decretar estado de defesa s aps 2 turno. INCIO MUZZI -- Do Painel , em Braslia JOSIAS DE SOUZA- Diretor-executivo da Sucursal de Braslia Por sugesto do presidente Itamar, os ministros militares compuseram cenrios do resultado de uma ocupao militar dos morros no Rio de Janeiro. Qualquer que seja a forma de ocupao, admitem que haver muitas mortes. O presidente Itamar ficou angustiado com a previso, porque teme efeito semelhante ao que ocorreu na interveno do Exrcito na Cia.Siderrgica Nacional, quando trs operrios morreram. Isso favoreceu a eleio de Luiza Erundina para prefeita de S.Paulo. O almirante Mrio Csar Flores, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratgicos , fez uma comparao amedrontadora: um policial que recebesse um tiro vindo de um barraco, procuraria achar o responsvel; um soldado do Exrcito destruiria imediatamente o barraco. O Exrcito prepara para a guerra e no para intervenes urbanas. Com o seu ndice alto de popularidade, Itamar no quer que a morte de um inocente tire o seu brilho. At pensa em adiar a interveno das Foras Armadas para depois do segundo turno. O Exrcito tambm teme sair com a imagem arranhada , aps um possvel fiasco. O Planalto e o Exrcito divergem quanto convenincia da interveno. O assunto foi discutido pelo presidente em vrias reunies. Surgiu at uma soluo intermediria na cpula do Exrcito: a interveno apenas no comando da Polcia Militar fluminense. E uma fundamental limpeza na polcia do Rio, idia que o governador Nilo Batista recusou. Cartas e abaixo-assinados pedindo interveno assustam Itamar pela sua quantidade." td94ma01-02,"Inventores transformam idias em dinheiro `Gnios' devem pedir registro de patente para lucrar com o invento; sorte pode render at um carro 0 km NELSON ROCCO Da Reportagem Local Boas idias podem render muito dinheiro e um carro 0 km. Bastam criatividade, sorte e principalmente esperteza para assumir a paternidade da inveno. A Associao Nacional dos Inventores vai incentivar os melhores gnios do pas sorteando um Corsa no fim deste ms (leia texto ao lado). Quem no quer depender da sorte deve ter em mente que talento fundamental, mas no suficiente para ter sucesso. O principal obter o registro dos inventos. Com o registro de uma inveno (patente), o dono da idia reserva para si o direito de explorao comercial ou industrial do produto ou processo de produo. Qualquer idia ou produto patentevel. O pedido feito ao Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). O registro demora at cinco anos para sair. Ana Paula Mazzei, 32, vice-presidente da Associao Nacional dos Inventores e diretora da Fama (empresa especializada em patentes), diz que existem quatro tipos de registros. O PI (patente de inveno) destinado criao de um produto novo e acabado. A patente do tipo MU (modelo de utilidade) se refere ao uso da inveno. Ana Mazzei cita como exemplo de patente MU o aparelho de fac-smile, que criou novo uso para a linha telefnica (que j existia anteriormente). Cada modelo de fac-smile, com suas especificaes tcnicas peculiares, recebe uma patente do tipo MI (modelo industrial). No um PI porque s funciona com algo que j existia (o telefone). O registro do tipo DI (desenho industrial) diz respeito configurao e cor do produto. Como registrar Para pedir patente de uma idia ao Inpi, preciso elaborar um esquema de funcionamento ou um prottipo do produto. Deve-se fazer um desenho descritivo da inveno, juntar os projetos da pea, cpias de documentos pessoais e lev-los ao rgo. Depois de dar entrada no processo, o Inpi concede um direito pretenso de patente, vlido enquanto no houver um registro definitivo. Se no houver registro anterior da mesma idia nem qualquer pedido de patente requerido, concedida a patente. Ana Mazzei diz que o rgo edita a Revista da Propriedade Industrial, onde publicado o andamento de cada processo. necessrio acompanhar a publicao at que a patente saia. Caso a pessoa perca o registro, a patente cai em domnio pblico e qualquer um pode explor-la. Carlos Mazzei, 31, presidente da associao, diz que h vrias formas de negociar um invento. Uma delas a venda da patente. Mazzei afirma que o inventor pode conceder uma licena de explorao do produto para terceiros e receber royalties (comisses). Os royalties variam de 3% a 10% sobre o valor pelo qual a empresa vende o produto, diz. Pode-se ainda procurar um parceiro que banque os custos de produo. A associao d todas as informaes sobre a obteno de patentes. H empresas especializadas no setor. A Fama, por exemplo, cobra entre US$ 500 e US$ 1.000, para encontrar um comprador.","Inventores transformam idias em dinheiro. Gnios devem pedir registro de patente para lucrar com o invento; sorte pode render at um carro 0 km NELSON ROCCO- Da Reportagem Local Boas idias podem ser um caminho para ganhar muito dinheiro e um carro 0 km. Alm da criatividade, necessrio ser esperto e registrar a idia. No basta s o talento. Com a patente na mo, o dono da idia tem o direito explorao comercial ou industrial do produto ou processo de produo. Para encaminhar o registro de uma idia ao Inpi, necessrio elaborar um esquema de funcionamento ou um prottipo do produto. Com o desenho descritivo na mo e cpias dos documentos pessoais , o interessado d entrada no rgo. No rpido o processo, mas , se no houver registro anterior ou um pedido de patente encaminhado, ela concedida. " op94fe27-01,"Dia D, deciso ou decepo Chegou finalmente o Dia D, a hora do ataque frontal inflao. O governo batalhou nos ltimos meses para garantir as condies adequadas ao ataque. Amanh, com o lanamento da Unidade Real de Valor (URV), comea de fato a transio rumo nova moeda do Brasil. Talvez nunca se tenha alcanado, s vsperas de outros planos, condies to favorveis do ponto de vista econmico. Em primeiro lugar, destaca-se o nvel sem precedentes das reservas internacionais em poder do Banco Central. Isso significa que o governo tem poder de fogo contra os especuladores. Pode aumentar as importaes e garantir que as cotaes do dlar permaneam estveis em termos de URV. a chamada ncora cambial. Quanto s contas pblicas, deve-se reconhecer que aps vrios meses de negociao com o Congresso e outras lideranas, o esforo de aumento da arrecadao e combate sonegao, o aumento de alquotas e reduo de prazos e o Fundo Social de Emergncia tambm colocam o governo numa situao de vantagem frente s tentativas anteriores de estabilizao. Em muitos pacotes anteriores a economia foi sacudida, s vsperas, por tarifaos e maxidesvalorizaes cambiais. A muitos sempre pareceu bvio que iniciar uma etapa de estabilizao com uma mxi ou tarifao era injetar presses inflacionrias na pior hora. Dessa vez, entretanto, a situao das tarifas pblicas relativamente tranquila. A tal ponto que mesmo convertidas URV pela mdia ainda garantem s estatais a sade financeira indispensvel. Quanto taxa de cmbio, a performance do comrcio exterior brasileiro a evidncia maior de que no h nada de preocupante. Enquanto pases j estabilizados como Mxico e Argentina tm dificuldades, sem alcanar posies superavitrias no comrcio exterior, o Brasil tem reafirmado uma vocao fortemente competitiva, mesmo sob um ambiente superinflacionrio e de incremento das importaes. Finalmente, h as vantagens do compromisso com a liberdade de preos, que vem sendo respeitado pelo governo apesar das dificuldades polticas. provvel que muitos setores tenham formado, ao longo dos ltimos meses e semanas, margens de segurana que permitiro no apenas suportar a estabilidade, mas principalmente colaborar com ela, medida que a URV trouxer transparncia ao jogo real entre a oferta e a procura. H expectativas de que a demanda permanea contida. Justamente o contrrio de planos anteriores (como o Cruzado), quando se tentava estabilizar a economia com demanda aquecida. A perspectiva de juros reais ainda mais elevados nas prximas semanas refora a impresso de que, a partir de agora, as empresas vo operar numa economia com salrios estabilizados na mdia e mercados incapazes de sancionar puxadas de preos. Com todos esses fatores favorveis, no h quem duvide da capacidade do governo de obter considervel sucesso no curto e mesmo no mdio prazo. A fase de transio entre a URV e a nova moeda, cuja durao pode alcanar at 90 dias, culminaria portanto numa inflao bastante baixa -medida em URVs. Entretanto, cabe aqui uma dvida legtima, presente na conscincia de milhes de brasileiros que j tiveram de suportar as mais mirabolantes experincias de poltica econmica. Ningum duvida da capacidade do governo de derrubar a inflao. Isso j ocorreu vrias vezes. Mas o Dia D tambm o dia em que se renova a dvida: a inflao baixa, mas at quando? Amanh, a sociedade ingressar nessa nova experincia com o entusiasmo condicionado por essa dvida. Inquietao, alis, justificada no apenas pelo passado como por uma fragilidade das circunstncias a que bom estar atento. Fragilidade, antes de tudo, poltica, como revelam as sucessivas dificuldades no encaminhamento do ajuste fiscal e que esto ainda longe de se esgotar. Qual ser o valor do salrio mnimo e que impactos ter sobre o Oramento de 1994? Quando ser esse mesmo Oramento aprovado pelo Congresso? Quais as reais perspectivas de aumento da arrecadao num ano de crescimento econmico mais modesto? Como o governo tratar a entrada de recursos externos, com impactos inflacionrios? E qual a credibilidade do compromisso com a austeridade num ano eleitoral que promete disputas de virulncia indisfarvel? So incertezas, tanto tcnicas quanto polticas, que se devem contrapor com rigor s vantagens da situao atual frente a tentativas anteriores. Para que as dvidas desse Dia D decisivo no venham a ser, mais uma vez, tambm o prenncio de uma grande decepo.","Dia D, deciso ou decepo Chegou a hora do ataque frontal inflao. Foi grande o esforo do governo para garantir as condies bsicas para isso. O processo de transio para a nova moeda comea amanh com o lanamento da Unidade Real de Valor (URV). Possivelmente, nenhum plano anterior estruturou condies to favorveis. Primeiramente, destaca-se o timo nvel das reservas internacionais, o que significa poder do governo contra a especulao, facilidade de aumentar exportaes e de sustentar a estabilidade do dlar. Em relao s contas pblicas, o esforo para aumentar arrecadao e combater a inflao, a elevao de alquotas e reduo de prazos, e o Fundo Social de Emergncia aumentam as vantagens do governo. Os tarifaos e maxidesvalorizaes cambiais dos planos anteriores, pressionadores da inflao, agora no existem. A respeito da taxa de cmbio, o melhor aval o sucesso do comrcio exterior. Finalmente, o compromisso com a liberdade de preos vem sendo respeitado pelo governo. Provavelmente, muitos setores tenham se prevenido para sobrenadar durante a estabilidade e cooperar com ela. H expectativa de conteno da demanda. Com todos os esses ventos favorveis, no se duvida da capacidade do governo de obter sucesso em pequeno e mdio prazo. No entanto, cabe uma dvida : a inflao baixa , mas at quando? A nova experincia a ser vivida pela sociedade comporta essa inquietao, motivada no s por vivncias anteriores como pelas dificuldades atuais no encaminhamento do ajuste fiscal. Ficam estas perguntas: Qual ser o novo salrio mnimo e quais seus impactos sobre o Oramento de 1994? Quais as reais perspectivas de aumento da arrecadao num ano de crescimento mais modesto? Como o governo tratar a entrada de recursos internos, causadora de inflao? E que crdito o compromisso com a austeridade ter num ano eleitoral?" mu94ma22-25,"Milagre chins d sinais de esgotamento Para especialistas, mercado de mais rpido crescimento do mundo pode estar prestes a sofrer uma queda Empresrios tiram capitais da China e levam a Hong Kong e Amrica Latina Clinton pode renovar o NMF e descobrir que no h dinheiro para ganhar na China DAVE LINDORFF Do The Nation, em Hong Kong medida que se aproxima o dia 3 de junho, o prazo final para o presidente Clinton decidir se renova o status comercial de Nao Mais Favorecida (NMF) para a China, o mundo empresarial norte-americano aumenta a presso para fazer a administrao esquecer a contnua represso exercida pela China contra os ativistas pr-democracia, os nacionalistas tibetanos e outros adversrios do Estado unipartidrio chins. O argumento do empresariado simples: se os Estados Unidos no separarem os direitos humanos da poltica comercial, eles perdero bilhes de dlares em comrcio e centenas de milhares de empregos. Para Frank Martin, chefe da Cmara de Comrcio Americana em Hong Kong, se os EUA cancelarem o NMF, correm risco de se exclurem do mercado de crescimento mais rpido no mundo. Clinton, que durante sua campanha presidencial criticou Bush por mimar tiranos em Pequim, expressou aberta simpatia pelos interesses do setor empresarial e parece estar disposto a conceder o NMF a Pequim. Enquanto isso, porm, um nmero crescente de sinlogos diz que o mercado de mais rpido crescimento do mundo pode estar prestes a sofrer uma grande queda. As pessoas esqueceram que quando um pas se abre e cresce muito rapidamente, ele passa por ciclos muitos fortes de crescimento e retrao, e acho que a China vai sofrer um revs muito srio, diz Marc Faber, diretor de uma firma de assessoria em investimentos, sediada em Hong Kong. Faber observa que a China passou de um supervit comercial lquido, em 1992, a um dficit comercial no ano passado e que esse dficit est aumentando. Durante os ltimos dois anos o pas sofreu uma evaso lquida de capitais, com investidores nacionais injetando dinheiro em Hong Kong e na Amrica Latina. A maioria das pessoas que vem a China com pessimismo fazem questo de se manterem no anonimato, para no incorrer no desagrado de representantes chineses. O governo chins admite que a inflao j de 20% e que em algumas regies urbanas chega a 40%, diz um economista muito importante de Hong Kong. Alguma coisa tem de ceder. Voc tem uma moeda que est se desvalorizando internamente e a perspectiva de uma moeda que se desvaloriza tambm no exterior. Voc tem a incapacidade das estatais de competir e de pagar seus funcionrios. As perspectivas de perturbaes sociais so enormes. Um economista que fala abertamente Thomas Chan, coordenador do Centro Empresarial Chins na Politcnica de Hong Kong. Diz Chan, que tem acesso fcil s estatsticas do governo chins (Pequim utiliza suas pesquisas): Acho que a inflao chinesa est to alta que uma aterrissagem dura para a economia tornou-se inevitvel. Chan argumenta que com o crescimento das vendas no varejo em menos de 5%, comparada com um crescimento industrial de 18%, no existe base de apoio para este crescimento. Quando o crescimento comea a cair, as empresas tero que fechar ou elevar seus preos. A maioria vai elevar os preos, agravando a inflao. Com isto, segundo Chan, os responsveis pela poltica econmica chinesa se vem num impasse. Ou o governo imprime mais dinheiro ou arrocha o crdito. Com metade das estatais j tecnicamente falidas, qualquer reduo no crdito levar a enormes falncias de empresas. J faz vrios anos que o governo vem dizendo que as estatais tero de manter-se de p por conta prpria. Mas como isto significaria a demisso de milhes de trabalhadores, ningum quis dar o primeiro passo. E por um bom motivo: quando as empresas tentam demitir trabalhadores, frequentemente enfrentam violentas greves irregulares. O governo oficialmente reporta 10 mil greves legais e vrias centenas de motins em 1993. Isto num pas em que as organizaes trabalhistas independentes so ilegais e quem instiga um tumulto corre o risco de levar uma bala na cabea. Ultimamente a reao do governo tem sido de aceder s reivindicaes dos trabalhadores, e Pequim vem imprimindo mais dinheiro para subsidiar empresas que enfrentam problemas. Milhes de chineses j esto trabalhando, ou esto simplesmente inativos, recebendo meio salrio mensal. Outros milhes vm trabalhando h meses sem serem pagos. Mais de 100 milhes de camponeses e trabalhadores agrcolas so hoje migrantes desempregados que vagueiam de cidade em cidade procura de trabalho temporrio. Segundo uma estimativa o nmero total de desempregados na China talvez j supere os 200 milhes, mas esse apenas um dos muitos problemas. De acordo com um informe do Banco Mundial, desde o incio dos anos 50 cerca de 30 milhes de pessoas foram expulsas de suas terras e casas, da mesma maneira, recebendo pouca ou nenhuma compensao. A ira que esses cidados desapropriados sentem sintomtica da crise provocada por vrios anos de desenvolvimento frentico, mal planejado e cada vez mais superaquecido. Em vista das vrias crises que o pas enfrenta, Chan prev uma recesso com caractersticas chinesas, que ele define como uma queda do ndice de crescimento anual, dos 13% atuais para apenas 4%, comeando este ano e durando at o incio de 1997. Os assessores econmicos de Clinton talvez considerassem um crescimento de 4% nos EUA como o paraso, mas num pas como a China, em que 900 milhes de pessoas ainda vivem em condies primitivas e onde a populao aumenta rapidamente, um crescimento lento dessa ordem seria um desastre poltico. Com a f no comunismo e na revoluo no ndice mais baixo j visto (numa pesquisa recente, apenas 7% dos jovens disseram acreditar no comunismo e conversas particulares com quadros do governo mostram que at mesmo os membros do partido so leninistas relapsos e marxistas descrentes), a nica base de legitimao e poder do regime tem sido seu xito em expandir a economia e elevar os padres de vida pelo menos nas cidades. Um crescimento to lento quanto aquele previsto por Chan significaria ndices ainda mais altos de desemprego, desabrigo e fome e, inevitavelmente, distrbios sociais (especialmente quando uma parcela considervel dos ganhos comerciais do governo e do capital estrangeiro investido contribuem para um macio fortalecimento das reservas militares). Este retrocesso econmico que se aproxima ameaadoramente vem num momento em que o governo enfrenta uma crise poltica sobre a sucesso de sua liderana. Com a antecipada morte do patriarca enfraquecido Deng Xiaoping, que est com 89 anos, a liderana ter que vir de burocratas mais jovens, aos quais falta o prestgio associado aos combatentes da revoluo de 1949. As brigas por posies entre conservadores maostas, liberais econmicos e reformistas polticos de todas as estirpes j esto se tornando complexas e viciadas. Com os funcionrios do governo central preocupados com intrigas palacianas, os lderes provinciais e at mesmo de condados esto pura e simplesmente ignorando as diretrizes de Pequim. No ano passado, por exemplo, as autoridades de Guangdong, confrontadas com ordens de Pequim para limitar o consumo de petrleo, simplesmente assinaram contratos para a entrega de petrleo estrangeiro Provncia. Em lugar de deixar-se desmoralizar, admitindo que no tem meios de fazer implementar suas decises, o governo central hoje habitualmente as rev, transformando-as em medidas mais brandas quando confrontado com oposio regional. Num estudo publicado nesta primavera pelo Instituto Internacional de Estudos Estratgicos, sediado em Londres, Gerald Segal interpreta estes sinais como indcios de uma prxima descentralizao econmica e poltica da China, talvez at mesmo de sua fragmentao. verdade que a opinio prevalecente mantm um viso mais otimista do futuro da China. Acho que a economia vai crescer a um ndice real de 10% este ano, que uma desacelerao em relao aos 13,4% do ano passado, diz Jason Kwok, economista-chefe do Citibank em Hong Kong. No ano que vem acho que a desacelerao vai continuar, com 9% a 9,5%. Kwok diz que sua viso mais otimista do que os cticos porque eles no tm f no governo chins e eu tenho. Vale lembrar que o Citibank tambm teve muita f na economia latino-americana nas dcadas de 70 e 80. Um funcionrio consular econmico ocidental ecoa as idias de Kwok: Qualquer queda seria simplesmente parte do ciclo contnuo que vem sendo vivido desde que a poltica de reforma e abertura econmica comeou, em 1979. A queda poderia durar dois a trs anos, mas a tendncia a longo prazo na China continua sendo de crescer cada vez mais. Este observador admite que v com inquietao o dficit infraestrutural. Como diz, a falta de usinas eltricas, ferrovias e rodovias pode abater a economia chinesa a mais longo prazo. No se pode ter um crescimento contnuo de 13% quando as ferrovias j funcionam com 100% de sua capacidade. O funcionrio consular reconhece a incerteza poltica provocada pela corrupo e pelo desemprego, alm da insatisfao na zona rural, onde o crescimento econmico e a melhoria nos padres de vida no vm acompanhando a China urbana. Parte do que se ouve na imprensa chinesa e internacional sobre corrupo e perturbaes propaganda. a maneira do governo fazer saber ao povo que est ciente do problema. Mas em parte se deve ao fato de que eles realmente temem que as coisas estejam fugindo a seu controle. Wei Jingsheng, o mais famoso dissidente chins do Muro da Democracia, que acabou de cumprir 15 anos de encarceramento e voltou a ser preso em abril por acusaes no especificadas, publicou recentemente um ensaio num jornal de Hong Kong aconselhando os investidores estrangeiros na China a no se deixarem ser vistos como estando apoiando o atual regime comunista, para no virem a incorrer na ira popular mais tarde. Antes de ser preso esta ltima vez, Wei conclamou os EUA a manterem a presso econmica sobre o governo chins. Os entendidos em poltica podem discutir se ou no do interesse do povo americano e do interesse do povo chins ver a economia chinesa desabar. Mas isso no tem sido o tema da discusso sobre a renovao do NMF, que em lugar disso vem focalizando os interesses econmicos imediatos dos EUA. Seria um caso de justia potica se a administrao Clinton traindo mais uma promessa feita durante sua campanha, em nome do Realpolitik e da promoo do comrcio cortasse o vnculo entre direitos humanos e NMF e lavasse suas mos de responsabilidade pelos ativistas democrticos na China, apenas para descobrir que no h dinheiro para ser ganho. Traduo de Clara Allain","Milagre chins d sinais de esgotamento Para especialistas, mercado de mais rpido crescimento do mundo pode estar prestes a sofrer uma queda Empresrios tiram capitais da China e levam a Hong Kong e Amrica Latina Clinton pode renovar o NMF e descobrir que no h dinheiro para ganhar na China Quanto mais se aproxima o prazo de Clinton decidir sobre a renovao do status comercial Nao Mais Favorecida (NMF) conferido China , mais o empresariado americano pressiona para que o governo esquea a represso chinesa contra os adversrios do Estado chins. O argumento o de que , se isso no acontecer, os Estados Unidos perdero milhes de dlares e milhares de empregos. Clinton, apesar de crticas a Bush por mimar tiranos , est disposto a concordar com os empresrios. Mas vrios sinlogos afirmam que o mercado de mais rpido crescimento do mundo est para desabar. Marc Faber, diretor de uma firma de assessoria em investimentos, assinala que um pas que cresce muito rapidamente oscila para momentos de retrao e acredita que a China ter um revs muito srio. Um sinal que , nos dois ltimos anos, houve evaso de capital lquido para Hong Kong e Amrica Latina. . Um economista importante de Hong Kong informa que o governo chins admite que a inflao j est em 20% e em algumas regies urbanas j chegou a 40%. Ele acrescenta que a desvalorizao da moeda internamente e no exterior , a falta de competitividade das estatais e sua incapacidade de pagar funcionrios acarretam graves perturbaes sociais. Thomas Chan, coordenador do Centro Empresarial Chins na Politcnica de Hong Kong , com bases nos dados do governo chins , afirma que a inflao to alta do pas somente pode resultar numa aterrissagem dura da economia. Ele mostra o descompasso entre o crescimento de 5% no varejo e o crescimento industrial de 18% , o que significa falta de sustentao para a produo. H tempo que o governo fala que as estatais tm que andar com as prprias pernas, mas ningum assume porque a ameaa de desemprego iria provocar reaes violentas dos trabalhadores. Milhes j esto trabalhando e recebendo s meio salrio ou sem serem pagos. Milhes de camponeses e trabalhadores j so migrantes vagando pelas cidades em busca de emprego temporrio. A recesso prevista por Chan dos atuais 13% anuais para 4% resultaria num quadro alarmante. Principalmente agora, quando a crise poltica relacionada sucesso de liderana envolve brigas entre conservadores, liberais. As oposies regionais agora so enfrentadas com medidas mais brandas pelo governo central, a fim de no desmoralizar-se por no poder impor suas decises. Apesar desse quadro, ainda prevalece uma posio otimista quanto ao futuro da China . Jason Kwok, economista do Citibank em Hong Kong estima uma taxa de crescimento de 10% , mais realista do que a do ano anterior. Um funcionrio consular da rea econmica do Ocidente tem o mesmo otimismo de Kwok. S acha que h dficit na infra-estrutura no setor eltrico, rodovirio e ferrovirio. Os entendidos em poltica podem discutir se do interesse americano ou at dos chinesesver a economia chinesa ruir. O duro Clinton aps descumprir promessas de campanha no se importar com as infraes da China com relao aos direitos humanos e verificar depois que no h dinheiro para ser ganho." br94de25-11,"O efeito Gutenberg MARCELO LEITE Um leitor qualificado e perspicaz sugeriu-me outro dia uma pergunta difcil: como se comportar a Folha em relao ao governo Fernando Henrique Cardoso? No maniquesmo inerente ao jornalismo, s haveria uma alternativa: ou amor ou dio. A questo pertinente, dada a notria proximidade do jornal com o presidente eleito. At setembro de 1992, FHC mantinha uma coluna semanal na pg. 1-2, publicada s quintas-feiras. Tal relao de colaborao s foi interrompida porque o senador peessedebista se tornou chanceler de Itamar Franco. (Segundo praxe da Folha, um colunista no pode simultaneamente ocupar ou candidatar-se a cargo no Executivo. Nesta condio, sua coluna correria o risco de transformar-se em tribuna para defesa de um interesse privado a reputao como governante.) Fernando Henrique no foi o nico tucano a ocupar esse espao, conhecido na Redao como coluna vertical. Depois de amanh dever ser publicado o ltimo texto do futuro ministro do Planejamento Jos Serra. Pertinente, a questo no porm nova. O prprio retrospecto das colunas de ombudsman aponta para uma simpatia espria: Durante a campanha eleitoral, minha antecessora apontou fernandohenriquismo do jornal; Ao estrear, emiti a opinio de que este e outros dirios tinham mesmo henricado; A 30 de outubro, na coluna Lua-de-mel na Europa, critiquei a condescendncia da Folha com o presidente eleito. Quando FHC enfim se lanou ao primeiro ato de governo, montar seu ministrio, temi pelo pior. No episdio da escolha de Pedro Malan para ministro da Fazenda, intencionalmente vazada para reprteres, os jornais evidenciaram sua tibieza. Com arrogncia, FHC desqualificou as manchetes de 1 de dezembro, dizendo que era um ministrio Gutenberg (referncia a Johannes Gutenberg, que inventou a imprensa de tipos mveis no sculo 15). Ficou por isso mesmo. Em outras pocas, a Folha teria posto a boca no trombone, denunciando a tentativa de manipulao. FHC seguiu a seu modo a receita do seu sucessor na Fazenda, aquele premiado com a embaixada em Roma pela ajuda ao candidato: esconder o que ruim (as presses para indicar Serra no lugar de Malan) e faturar o que bom (a imagem favorvel de Malan). No ltimo dia 14, perguntei em minha crtica interna da edio documento distribudo diariamente na Redao se o termo loteamento tambm no se aplicaria s negociaes em curso, em especial as tratativas com o fisiolgico PMDB. Afinal, eram um tanto semelhantes s entabuladas por Itamar dois anos antes e desancadas pelo jornal. Dois dias depois, uma chamada na capa do jornal anunciava: FHC cede a presso e loteia ministrio. Ao elogiar a iniciativa crtica, no entanto, fiz uma ressalva: Faltou mencionar um ponto importante, na anlise das 'presses': FHC teria condies, sem contemplar PMDB, de fazer a reforma constitucional (ou pelo menos fiscal) exigida por todos, inclusive esta Folha? uma espcie de outro lado neste caso, da questo. A necessidade de criticar o emprego de mtodos polticos atrasados, como a distribuio de cargos, no desobriga de outra, a de eventualmente reconhecer que pode no haver outra moeda no mercado para negociar a estabilidade. A palavra-chave do comportamento que a Folha deve observar frente ao governo qualquer governo equilbrio. Sem simpatia nem rancor. O perigo das relaes estremecidas, como no caso FHC-Folha, so as hiper-reaes resultantes de encontres fortuitos. Foi o que sucedeu com o socilogo Luciano Martins, amigo de FHC e organizador de um convescote acadmico em Braslia. Na vspera do seminrio, ele tinha dado entrevista Folha e falado da crise do Estado-Nao, publicada sob ttulo Acabou o Estado nacional, diz tucano. Era um exagero, mas confesso que nem me chamou a ateno. Por vaidade, ou cioso das diferenciaes que matizam o pensamento, seu ofcio, Martins chiou. Em carta ao Painel do Leitor, exps suas divergncias e levou troco imediato, na forma de uma atordoante Nota da Redao: Por serem resumos extremamente condensados, os ttulos jornalsticos quase nunca comportam filigranas como esta que tanto preocupa o missivista. Para Luciano Martins, o conceito de Estado nacional no acabou, mas est em crise. E da? A imprensa deve melhorar seus ttulos, no h dvida. Mas os intelectuais agora transformados em aprendizes de polticos ajudariam muito se comeassem a falar de maneira categrica ou, pelo menos, clara. O reflexo desse destempero pde ser visto pelo pblico no prprio Painel do Leitor, 11 dias depois: quatro cartas de protesto, nenhuma de apoio ao jornal, nenhuma nova nota justificando ou se desculpando pela anterior. Os leitores esto certos. Se o jornal acha que intelectuais no tm nada de importante ou compreensvel para dizer, no deveria insistir em entrevist-los. Se entrevista, tem de cobrar clareza durante a conversa; depois, s lhe resta ser fiel ao que dizem. Atritos como esse so exceo. No geral, a relao entre tucanos e reprteres afvel. Sua melhor expresso o off, um acordo entre fonte e jornalista para manter a primeira no anonimato. Na ltima tera-feira, o colunista Lus Nassif levantou questes pertinentes sobre o abuso dessa modalidade de investigao. Seu alvo eram as muitas reportagens abusivamente atribudas famosa equipe econmica. Aproveitei a deixa para anotar que a distoro afetava grande parte, talvez a maior, do noticirio sobre o governo Itamar Cardoso. No caso deste jornal, sem que as reportagens respeitassem norma do Novo Manual da Redao, que manda identificar o off com a expresso a Folha apurou. Foi o caso, entre outros, da notcia sobre a escolha de Malan para a Fazenda (ironizada e depois confirmada). E tambm da indicao de Bresser para o Itamaraty (manchetada e depois revista). Trata-se de uma distoro, sim. Embora a prtica jornalstica brasileira sugira o off como ferramenta bsica de reprteres, ele contraria o direito informao. Deve ser encarado como exceo, e nunca oferecido pelo prprio reprter, muito menos aceito, se o confidente no tiver motivos slidos para manter-se em sigilo. No me parece que o anncio a conta-gotas do ministrio possvel de FHC, todo ele em off, se enquadre nessa exigncia. A identificao da fonte crucial para a credibilidade de uma informao. O jornalista que admite a exceo no pode esconder do leitor que se trata de um off, pelo simples fato de que o interesse no anonimato pode comprometer aquilo que se revela. Afinal, no foi para esconder informaes que Gutenberg inventou a imprensa. O ombudsman estar de folga at o dia 2. Se voc tiver alguma reclamao, deixe recado na secretria eletrnica ou mande fax. Na volta, respondo.","O efeito Gutenberg -- MARCELO LEITE Um leitor me sugeriu uma pergunta difcil: como se comportar a Folha em relao ao governo Fernando Henrique Cardoso? Se o jornalismo maniquesta, s podia ser de amor ou dio. Faz sentido a pergunta , j que a coluna semanal de FHC na Folha condicionava uma proximidade com o jornal. Com a sua nomeao a chanceler, interrompeu-a , seguindo praxe da Folha. No foi o nico tucano a ocupar esse espao. E o retrospecto que fiz em gesto anterior do meu cargo mostrou compadrio durante a campanha eleitoral, relao que eu critiquei na Folha e em outros dirios. Na escolha de Pedro Malan para o ministrio da Fazenda, houve vazamento intencional imprensa. Dada a indiferena dos jornais , Fernando Henrique reagiu com arrogncia. Se fosse em outras pocas, a Folha teria retrucado duramente. Na minha crtica interna ---documento distribudo diariamente na Redao--- , ao tratar da questo de indicao de cargo, perguntei se o loteamento no estava sendo includo nas negociaes com o PMDB, como tinha ocorrido antes no governo Itamar procedimento to criticado pela Folha O resultado veio dois dias depois: FHC cede a presso e loteia ministrio. Elogiei a iniciativa , mas com uma ressalva : a de que a crtica aos mtodos atrasados de distribuio de cargos deveria ser acompanhada do reconhecimento de , s vezes,no h outro caminho para negociar a estabilidade. O estremecimento das relaes entre FHC e Folha resultou num desdobramento indigesto: o socilogo Luciano Martins, amigo do presidente , falou numa entrevista ao jornal sobre crise Estado-Nao. O ttulo que saiu foi Acabou o Estado nacional. A divergncia do socilogo quanto interpretao mereceu uma resposta despropositada. O reprter disse que era impossvel resumir um texto e contemplar , ao mesmo tempo, idias menores como aquela que o missivista reclamava. E acrescentou que, se a imprensa deve melhorar seus ttulos, os intelectuais aprendizes de poltico deviam expressar-se com mais clareza. Os prprios leitores no apoiaram a Folha, com o que concordo. Se o jornal acha que eles no tm algo importante a dizer , no deve entrevist-los. No entanto, esses atritos no acontecem sempre entre o jornal e os tucanos. At , com mais freqncia do que seria esperado, os reprteres preservam o anonimato dos entrevistados. " co94jl07-23,"Escolas conseguem lucro mdio de 7,52% Consultor afirma que resultado 'mais que razovel'; dono de escola diz que situao no to boa PAULO SILVA PINTO Da Reportagem Local Escolas de So Paulo tiveram lucro mdio de aproximadamente 7,52% sobre seu faturamento em maio, segundo a CNA Consultores, que atende 70 estabelecimentos de ensino de pr-escola ao 2 grau. Para julho, a previso dos consultores de que isso deve diminuir um pouco porque desaparece o ganho financeiro dos prazos de recolhimento de impostos (veja quadro ao lado). Mas, se no houver despesas imprevistas, vai sobrar dinheiro do item reserva, resultando em nmeros prximos aos de maio. Em abril a rentabilidade foi de 8,46% e em maro, de 15,19%. Para Mrcio Orlandi, 51, da Fundamental Research Consultoria, que atende empresas de outros setores, o resultado apresentado pelas escolas pode ser considerado mais que razovel. Para a avaliao ele considera o baixo risco financeiro da escola muito difcil uma fuga em massa dos alunos e da receita de um ms para outro e um risco civil um pouco maior so muitas crianas e adolescentes sob responsabilidade dos proprietrios. Mas Orlandi acha que o resultado s possvel em um modelo de escolas particulares como o brasileiro, em que predominam instalaes adaptadas em prdios alugados e improvisados para a escola. O lucro sobre patrimnio tambm bem superior ao que paga o mercado financeiro. Sobre o capital empatado do Colgio Oswald de Andrade, por exemplo, de US$ 100 mil, houve retorno de US$ 70 mil (70%) no ano passado, acima da mdia do mercado financeiro. O overnight est hoje com juros projetados para 45% ao ano. Eugnio Cordaro, 40, um dos proprietrios da CNA e do colgio Oswald de Andrade, acha, porm, que a situao no to atraente assim. Do que recebemos, tivemos que investir US$ 50 mil s em informtica com fins educacionais. Quem no fizer isso neste momento vai ficar para trs, afirma. Alm disso, no so todas as escolas que conseguem manter uma situao to estvel. Dois teros dos seus clientes da CNA esto com lucro abaixo da mdia. o caso da escola B (veja quadro ao lado), que no permitiu a divulgao de seu nome e deve fechar o ano no vermelho. Cinco das 70 escolas atendidas pela CNA esto venda desde o incio do ano, sem encontrar compradores. O consultor Joo Paulo Nogueira, 40, um dos proprietrio da CNA, afirma que pelo menos a situao financeira dos estabelecimentos de ensino melhorou. H seis anos a maioria era deficitria. Mas, para Mauro de Salles Aguiar, diretor do Colgio Bandeirantes, um indicador de que escolas continuam no sendo um negcio dos mais atraentes do mercado a ausncia de novos investimentos por parte de pessoas de fora do setor. A disparidade entre o lucro das escolas ocorre pela variao de custos que influem na qualidade mas podem no ser claros aos pais. Alm de equipamentos, h o preo da hora-aula, trabalho fora das classes (no Bandeirantes 45% da remunerao de professores para atividades como preparo de laboratrios e programas de computador etc). Entre as escolas que esto com lucro acima da mdia, h resultados supreendentemente altos, como o da escola A (que tambm no permitiu a identificao), com uma rentabilidade de 47% sobre seu faturamento. Se a remunerao dos scios fosse menor, ela daria lucro at com a MP 524 aquela que foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal e diminua em 50% a mensalidade das escolas. O presidente do Sieeesp (sindicato das escolas particulares de So Paulo), Jos Aurlio de Camargo, 45, diz que no conhece nenhuma escola nesta situao. O Sieeesp no pede a seus associados as planilhas de custos. A lucratividade resultado de competncia gerencial e indispensvel para novos investimentos, afirma. Segundo o Conselho Estadual de Educao, desde 1991 as escolas esto desobrigadas, por lei federal, a apresentar ao rgo suas planilhas de custos.","Escolas conseguem lucro mdio de 7,52% Consultor afirma que resultado mais que razovel ; dono de escola diz que situao no to boa PAULO SILVA PINTO --- Da Reportagem Local Escolas de So Paulo tiveram lucro mdio de aproximadamente 7,52% sobre o faturamento em maio.Em abril foi de 8,46$ e maro , de 15,19% , resultado mais que razovel , segundo o consultor Mrcio Orlandi, da Fundamental Research Consultoria. Para julho , a previso dos consultores de que diminua . Mas Orlandi acha o resultado s possvel no modelo, em predominam as escolas em prdio alugado. O lucro sobre o patrimnio tambm supera o mercado financeiro. Dos US$100 mil empatados no Colgio Oswald de Andrade houve um retorno de US$70 mil. Eugnio Cordaro , um dos proprietrios do CNA e do colgio Oswald de Andrade no considera to atraente a situao. Do que recebemos , tivemos que investir US$ 50 mil s em informtica com fins educacionais. Dois teros dos seus clientes esto abaixo da mdia. Cinco das 70 a que presta servios esto venda. Para o direitor do Colgio Bandeirantes , Mauro de Salles Aguiar, um sinalizador de que no tem sido um mercado to atraente a pequena presena de novos investidores. Alm dos equipamentos, h as horas-aula , trabalho fora de classe. Uma das felizardas teve lucro de 47% sobre o faturamento. Daria lucro at com a MP524, que diminua a mensalidade em 50% , se a remunerao dos scios fosse menor. Jos Aurlio de Camargo , presidente da Sieeesp( sindicato das escolas particulares de So Paulo) diz no conhecer nenhuma escola nessa situao." ce94jl31-b,"Apesar do consenso sobre a necessidade de reformular a Previdncia Social, as propostas hoje em discusso apresentam pontos divergentes. Para que as mudanas sejam feitas, o Congresso ter que realizar mudanas na Constituio. A criao de um sistema bsico e pblico de previdncia tem o apoio de parlamentares de diversos partidos. O sistema bsico concederia benefcios apenas para quem contribui. As divergncias surgem no momento de definir, por exemplo, qual o valor mximo do benefcio do sistema bsico. Variam de um a dez salrios mnimos. A proposta da Fiesp (Federao das Indstrias do Estado de So Paulo) prev a criao do VRS (Valor de Referncia Social), igual a um salrio mnimo na data da reforma. A partir da, o seu valor seria corrigido pela variao do custo de uma cesta bsica. O benefcio do regime bsico seria at trs VRS e custeado unicamente pelo trabalhador. A Febraban (Federao Brasileira das Associaes dos Bancos) defende um regime bsico com benefcios at dois salrios mnimos. A CUT (Central nica dos Trabalhadores), por sua vez, defende que o valor mximo dos benefcios do sistema bsico seja equivalente a dez salrios mnimos, o equivalente hoje a cerca de R$ 650. No caso da aposentadoria por tempo de servio, a tendncia criar no seu lugar um sistema misto. Apenas sete pases em todo o mundo adotam o sistema de aposentadoria por tempo de servio, entre eles o Brasil. A idia do sistema misto levar em conta a idade e o tempo de contribuio do trabalhador para a Previdncia. o caso, por exemplo, da frmula 95, apresentada por Wladimir Martinez, especialista no assunto. Por ela, o trabalhador se aposentaria quando a soma de sua idade e do tempo de contribuio fosse igual a 95. O deputado Reinhold Stephanes (PFL-PR), ex-ministro da Previdncia, prope que os critrios de aposentadoria sejam iguais para os homens e para as mulheres. Para ter direito aposentadoria por tempo de servio, o trabalhador precisaria de 40 anos de contribuio. A aposentadoria por idade seria concedida aos 62 anos e 35 anos de contribuio. A CUT quer a manuteno da aposentadoria por tempo de servio. A extino da aposentadoria por tempo de servio defendida pela Fora Sindical. A Febraban defende a aposentadoria por idade aos 63 anos para ambos os sexos. Outro ponto polmico a fonte de financiamento da Previdncia. A CUT quer manter a contribuio atual das empresas. A Fiesp prope que a contribuio previdenciria do empregador seja eliminada. A proposta da Febraban prev o financiamento atravs de contribuio dos segurados e das empresas at a faixa de dois salrios mnimos. As alquotas seriam diferenciadas de acordo com o tipo de benefcio, totalizando 22% para ser dividida entre empresa e empregado. A proposta baseada no modelo chileno prev um regime de capitalizao. Haveria contribuies individuais dos trabalhadores e um seguro obrigatrio de riscos e enfermidades ocupacionais. O regime seria obrigatrio para os empregados e facultativa para os trabalhadores autnomos. Para o homem se aposentar aos 65 anos e a mulher aos 60 anos, seria necessrio estarem filiados ao sistema h pelo menos 20 anos. O valor mnimo do benefcio corresponderia a 85% do menor valor base de contribuio para indviduos com menos de 70 anos e de 90% para quem estiver acima dessa idade. Para penso, o valor mnimo de 85% do menor valor base de contribuio. Est previsto ainda um benefcio de carter assistencial para a populao carente. Seria de 50% da penso mnima. No haveria aposentadoria por tempo de servio. Seriam adotadas as mesmas regras para os servidores pblicos. Para viabilizar as mudanas na Previdncia, sero necessrias mudanas na Constituio aprovada em 1988.","Apesar do consenso sobre a necessidade de reformular a Previdncia Social, as propostas em discusso apresentam pontos divergentes. Por exemplo, se h bastante consenso sobre a criao de um sistema bsico e pblico, que beneficiaria apenas quem contribui, h divergncia quanto definio do valor mximo do benefcio. As classes patronais propem menos ( Fiesp, um salrio mnimo na data da reforma; Febraban, at dois salrios); a Central nica dos Trabalhadores - CUT - defende at 10 salrios mnimos como valor mximo do regime bsico. Para substituir o sistema de aposentadoria ---que funciona s em sete pases, entre os quais o Brasil--- a tendncia criar um sistema misto ---idade e tempo de contribuio. O especialista Wladimir Martinez , criador da frmula 95, defende que o trabalhador se aposente quando a soma da sua idade e do tempo de contribuio 95. O deputado Reinhold Stephanes prope critrios iguais para homens e mulheres. A CUT e a Fora Sindical pensam diferentemente: a primeira quer a aposentadoria por tempo de servio; a segunda defende sua extino A fonte financiadora outro ponto de discordncia. A CUT quer manter a contribuio atual das empresas. A Fiesp, no. A Febraban defende a contribuio de segurados e empresas , at a faixa de dois salrios mnimos. H ainda a proposta baseada no modelo chileno, uma forma de capitalizao , com contribuies individuais e um seguro obrigatrio . Esse regime seria obrigatrio para os empregados e facultativo para os autnomos. Tambm prev o valor mnimo do benefcio para os contribuintes e um valor menor, de carter assistencial, para os carentes. " co94ma15-03,"Novo presidente do TJ quer agilizar Judicirio paulista nfase maior na proximidade do juiz com a comunidade tambm meta YURI CARAJELESCOV Free lance para a Folha O novo presidente do Tribunal de Justia (TJ) de So Paulo, desembargador Jos Alberto Weiss de Andrade, 68, quer dinamizar a atuao do Poder Judicirio paulista. O Poder Judicirio deve tomar decises mais rpidas e que atendam ao interesse da populao. Weiss de Andrade juiz h mais de 40 anos e j foi presidente do Tribunal de Alada Criminal (1980/81), corregedor-geral da Justia (1992/93), duas vezes diretor da Escola Paulista de Magistratura (1988 e 1990) e vice-presidente do TJ. Eleito com o voto de 92 dos 132 desembargadores do Estado, Weiss de Andrade substitui Francis Davis, que se aposentou em abril. Seu mandato termina no final de 95. Alm de dinamizar o atendimento jurisdicional, daremos nfase a uma maior proximidade do juiz com a comunidade, afirmou. Para o presidente, a implantao dos Juizados de Pequenas Causas representa a principal forma de garantir essa aproximao. Os Juizados de Pequenas Causas tm procedimento informal. As partes em conflito no precisam de advogados, o pedido pode ser formulado oralmente e prevalecem as tentativas de acordo. Hoje, apenas as demandas que no excederem 20 salrios mnimos (cerca de 1.280 URVs) so apreciadas por esse juizado. Weiss de Andrade sugere ainda uma mudana de mentalidade dos juzes. Para ele, os juzes existem para servir a populao e no o contrrio. A funo dos magistrados deve ser a de solucionar os conflitos, promovendo a pacificao social. O presidente criticou a postura de juzes que no recebem as partes ou seus advogados. dever dos juzes receber os advogados e as partes. Eventuais irregularidades a este respeito devem ser denunciadas. Como chefe do Poder Judicirio de So Paulo, Weiss de Andrade disse que exercer atividades polticas de representao, diferenciadas da atuao partidria. A atividade poltica do presidente do TJ deve ser entendida num sentido amplo, sem significar atividade poltico-partidria. Alm das atribuies gerais de dirigente da Magistratura do Estado, o presidente do TJ tem funes previstas no artigo 193 do regimento interno do tribunal e leis de organizao judiciria. Problemas Segundo Weiss de Andrade, o maior problema enfrentado pelo Judicirio a falta de recursos humanos e materiais. No conseguimos preencher a maior parte das vagas que oferecemos nos concursos para juiz porque os candidatos so despreparados tecnicamente. A morosidade do Judicirio deve ser combatida com medidas conjugadas. Alm da informatizao, preciso simplificar as regras procedimentais e aumentar o nmero de juzes para proferir decises, disse o desembargador. Em uma sociedade com mltiplas carncias, naturalmente os problemas se avolumam e, por consequncia, exigem solues em maior nmero. O Judicirio no cria problemas, apenas os resolve lembrou. Para o presidente do TJ, com a instabilidade econmica e social por que passa o pas aumenta o nmero de pessoas que procuram socorro no Judicirio. Democratizao O Poder Judicirio no precisa ser democratizado, isso porque, segundo Weiss de Andrade, o Judicirio j democrtico. `O ingresso na magistratura feito por concurso pblico, aberto a todas as pessoas interessadas, desde que possuam os requisitos tcnicos (formao jurdica) exigidos na Constituio. Na mesma linha de argumentao de outros chefes do Judicirio, o desembargador criticou a proposta de controle externo do Poder Judicirio. Para ele, corre-se o risco de ingerncia nas decises e liberdade dos juzes, que constitui a maior garantia do cidado. J existe controle disciplinar interno eficaz, exercido pelas corregedorias, e controle administrativo externo, feito pelo Tribunal de Contas. Alm disso, a experincia de controle externo em outros pases mostrou-se nefasta, disse. Corrupo A regra geral a probidade dos magistrados. Os casos isolados, objetos de denncia, tm sido prontamente apurados pela corregedoria, afirmou. O Poder Judicirio apura os casos de corrupo dos juzes atravs da atividade de suas corregedorias. H a necessidade de denncia e prova efetiva de irregularidades praticadas. A garantia da transparncia do Judicirio est na lei, segundo o desembargador. Todas as audincias so pblicas e de livre acesso a qualquer interessado, salvo aquelas em que a prpria lei exige segredo de justia. A fiscalizao administrativa exercida pelo Tribunal de Contas foi lembrada por Weiss de Andrade como outra forma de se garantir a transparncia do Judicirio. Sobre o sentimento de impunidade da sociedade brasileira, o desembargador declarou que o Judicirio tem contribudo para diminu-lo.","Novo presidente do TJ quer agilizar Judicirio paulista nfase maior na proximidade do juiz com a comunidade tambm meta YURI CARAJELESCOV (Free lance para a Folha) O novo presidente do Tribunal de Justia de So Paulo, desembargador Jos AlbertoWeiss de Andrade, quer dinamizar o Poder Judicirio paulista. Alm disso, aproximar o juiz da comunidade. A melhor forma para isso a implantao dos Juizados de Pequenas Causas, em que as partes no precisam de advogados, a formulao do pedido oral e as tentativas de acordo predominam. Ele prega a necessidade de mudana da mentalidade dos juzes, esclarecendo que eles devem servir comunidade e no o contrrio; e que sua funo solucionar conflitos visando a harmonia social.E critica os juzes que no recebem as partes e os advogados. Segundo o presidente, o maior problema do Judicirio a carncia de recursos humanos e de materiais, que redunda em morosidade e na conseqente acumulao de processos. Tambm de acordo com ele, o Poder Judicirio no precisa ser democratizado , porque j . E alega que o acesso magistratura feito por concurso pblico, aberto a todas as pessoas. E no concorda com a proposta de controle externo, at porque a experincia em outros pases foi nefasta. Quanto corrupo no Judicirio, diz limitar-se a casos isolados , que so apurados pelas corregedorias. E tenta confirmar a probidade dos magistrados dizendo que todas as audincias , salvo casos especficos, so abertas a quem quiser. " mu94de04-c,"Franois Mitterrand quer ser lembrado como o grande construtor da Europa. Alguns erros polticos e revelaes sobre seu passado ameaam abalar essa imagem. Sofrendo de cncer na prstata, Mitterrand vive dias difceis no fim de seu mandato e de sua vida. Sua ligao com a extrema direita na juventude, revelada este ano -em parte, por vontade do prprio presidente, que quer acertar contas com seu passado-, chocou os franceses. Mitterrand definiu suas posies do passado como erros da juventude. O fato que, aps a guerra, aos poucos ele se imps como lder da esquerda e maior adversrio do general Charles de Gaulle. Faanha Em 1965, aos 49 anos, ele alcanou a faanha de levar De Gaulle ao segundo turno da eleio presidencial. Quatro anos depois, os socialistas preferiram escolher Gaston Defferre como candidato e naufragaram, com apenas 5% dos votos. Mitterrand retomou as rdeas do partido em 1971, no congresso de Epinay. No ano seguinte, assinou com o Partido Comunista o programa comum da esquerda. A aliana durou cinco anos e s beneficiou os socialistas, que roubaram boa parte do eleitorado cativo dos comunistas. Foi com a ajuda desses votos que, finalmente, Mitterrand alcanou seu objetivo, derrotando por pouco Valry Giscard d'Estaing na eleio presidencial de 1981. Em 1988, foi reeleito facilmente. Aps dois anos de coabitao com Jacques Chirac, um premi de direita, Mitterrand bateu o prprio Chirac no segundo turno. O balano de seus dois mandatos polmico. Para uns, foi um perodo de paz em que a Frana enriqueceu; para outros, a maioria dos compromissos de campanha foi esquecida. Mesmo esquerda, muitos o vem como um homem obcecado pelo poder e impiedoso. Vacilaes Na poltica estrangeira, algumas vacilaes marcaram os ltimos anos do seu governo. O presidente no percebeu a tempo a queda do comunismo: no previu a queda do Muro de Berlim em 1989, e chegou a flertar com os golpistas de Moscou em 1991. Apesar de criticado por seus adversrios, devido s contradies que marcaram sua carreira, Mitterrand se manteve coerente em pelo menos um ponto: a defesa da Unio Europia. J em 1951, durante um congresso socialista, o futuro presidente dizia que nada possvel, muito menos a paz, se a Frana no for o agente da Europa. Treze anos depois, Mitterrand escreveu: Creio que a Europa corresponde vontade da histria. Em 1973, ameaou renunciar liderana do partido, dividido entre pr e antieuropeus. Em 1992, o presidente reviveu seus grandes momentos de campanhas do passado ao se engajar na luta pela aprovao em plebiscito do tratado de Maastricht, que prev a moeda nica na Europa. Mitterrand aceitou participar de um debate na televiso contra Philippe Sguin, deputado conservador que se opunha ao tratado. Apesar da diferena de idade (75 anos contra 49, poca), Mitterrand se mostrou jovial e foi considerado vencedor. O tratado foi aprovado por pequena margem. Mas h setores que se opem unio sem fronteiras. A Frana foi a principal responsvel pelo adiamento da livre circulao de pessoas no interior da Comunidade, prevista para janeiro de 95. O motivo alegado foram dificuldades para implantar o banco de dados de todas as polcias europias, em Estrasburgo. Os franceses receiam o trfico de drogas e a imigrao clandestina. Por fim, os agricultores so a classe social que mais se ope UE. Eles se queixam do fim de vrios subsdios, extintos por Bruxelas. comum encontrar espantalhos com cartazes de protesto nas estradas do interior francs. ","Apesar de ser um produto da direita na juventude, Franois Mitterrand se definiu politicamente na esquerda. Em 1965, levou o cultuado De Gaulle ao segundo turno. Quatro anos depois, foi preterido pelos socialistas, que escolheram Gaston Defferre e perderam. Continuou a militncia e , na eleio presidncia em 1981, venceu Giscard dEstaing , com a ajuda de votos do eleitorado comunista.. Facilmente, ainda foi reeleito em 1988. polmica a avaliao de seus dois mandatos: para uns , foi um perodo de paz e prosperidade; para outros, ele esqueceu a maioria das promessas de campanha. Sua postura poltica em relao ao mundo mostrou alguns equvocos: por exemplo, o de no ter percebido a queda do muro de Berlim e o de ter flertado com os golpistas de Moscou em 1991. No entanto, manteve coerncia na defesa da Unio Europia. Tanto que, em 1992, se engajou na luta pela aprovao do plebiscito do tratado de Maastricht, que aprovaria a moeda nica na Europa. O caminho para a estruturao da unidade europia no foi pacfico: a prpria Frana relutou em aceitar de imediato a livre circulao em todo o territrio europeu. verdade que com um argumento pondervel: no estava ainda implantado o banco de dados das polcias europias, que fiscalizaria o trfico de drogas e a imigrao clandestina. O setor agrcola francs foi o que mais se ops formao da UE, pois receava a extino de vrios subsdios " td94ja22-01,"Preo de material escolar supera inflao Pesquisa da Sunab mostra que variao em lojas de So Paulo atinge at 1.433%; perspectiva de preos altos MRCIA DE CHIARA Da Reportagem Local Tanto o material escolar como o livro didtico bateram a inflao em 93. A perspectiva de que os preos continuem em alta durante as prximas semanas, quando a procura cresce por causa da volta s aulas. A disparidade de preos grande atinge 1.433% para o papel almao em So Paulo, informa a Sunab. O Procon afirma que o preo mdio de 81 itens da lista de material escolar subiu 2.778,30% nos ltimos doze meses para uma Taxa Referencial (TR) acumulada de 2.594,85%. A Fipe aponta alta de 2.598,68% para o material escolar e de 3.269,90% para o livro didtico. A inflao acumulada foi de 2.490,99% em 93. Na segunda quadrissemana encerrada em 15 de janeiro, por exemplo, o material escolar subiu 41,56% e o livro didtico 55,83%, para uma inflao de 40,35% apurada pela Fipe. Mas os varejistas dizem que o preo real igual ao do ano passado. Antonio Martins Nogueira, 53, presidente do Sindicato do Comrcio Varejista de Materiais de Escritrio e Papelaria de So Paulo, no tem estatsticas. Ele afirma que o preo real do caderno recuou cerca de 10% em relao a 93. Essa queda resultado da entrada de novos fabricantes nacionais e dos importados no mercado. Alm disso, a indstria reduziu a variedade de capas para cortar custos e aumentar a competitividade. Caio Coube, 36, presidente da Tilibra, que produz cadernos e material de papelaria, conta que reduziu de 150 para 102 o nmero de itens fabricados. No queremos reajustes de preos acima da inflao, diz Jos Milton Dallari, assessor especial do Ministrio da Fazenda. Segundo apurou entre os prprios fabricantes do setor, o preo do caderno est dolarizado desde outubro, o que facilita a adoo da URV. O livro didtico subiu 40% acima da inflao entre dezembro e janeiro. Mas um aumento sazonal que no deve se repetir, diz Dallari. Mesmo assim, ele recomenda pesquisar preos, pois a disparidade do mesmo produto entre lojas significativa. O papel almao e o giz de cera lideram o ranking dos itens com maior diferena de preos em duas pesquisas realizadas nesta semana em So Paulo. Levantamento da Sunab constatou variao de 1.433% no preo de 10 folhas de papel almao entre as papelarias Saraiva do shopping Paulista (CR$ 60) e Dux do shopping Morumbi (CR$ 920). Pesquisa do Procon revela diferena de 625% para o mesmo produto. A caixa com 12 unidades de giz de cera foi encontrada com diferena de 580% entre as papelarias EB (CR$ 250) e Universal do shopping Penha (CR$ 1.700), ambas da zona leste, segundo a Sunab. Os nmeros do Procon indicam variao de 476,5%.","Preo de material escolar supera inflao Pesquisa da Sunab mostra que variao em lojas de So Paulo atinge at 1.433%, perspectiva de preos altos MRCIA DE CHIARA Da Reportagem Local Material escolar e livro didtico superaram a inflao em 93. Segundo a Sunab , os preos do papel almao em So Paulo variaram em at 1.433%. O Procon constatou que , nos doze ltimos meses, 81 itens do material escolar subiram 2.778,30% , para uma TR acumulada de 2.594,85%. Os varejistas contestam dizendo que o preo real igual ao do ano passado. Antnio Martins Nogueira, presidente do sindicato do ramo, informa que o preo do caderno recuou aproximadamente 10% em relao a 93resultado da competio de fabricantes nacionais e dos produtos importados. Tambm a indstria diminuiu a variedade de capas . Segundo apurou Jos Mlton Dallari, assessor especial do Ministrio da Fazenda, o aumento de 40% acima da inflao do livro didtico foi sazonal . Mas recomenda pesquisar preos, pois h variaes inexplicveis , como o caso observado do papel almao." in96ju10-a,"GDANSK, POLNIA - Os estaleiros de Gdansk, no norte da Polnia, de que emergiram ao poder o Sindicato Solidariedade e seu primeiro lder, o ex-eletricista e ex-presidente Lech Walesa, no resistiram mar capitalista. No sbado passado, a junta geral de acionistas decidiu pela liquidao da Stocznia Gdanska SA, bero histrico da luta contra o regime comunista polons a partir dos anos 80. A companhia vai falncia afogada em dvidas que podem chegar a US$ 110 milhes. Em seu lugar, o governo, que detm 60% das aes, pretende criar uma empresa que funcione por 12 meses, apenas para terminar cinco navios em construo. Para Walesa, que voltou simbolicamente a ocupar o cargo de eletricista aps perder, para os ex-comunistas, as eleies presidenciais de novembro de 1995, tudo no passa de uma manobra poltica. Finalmente, os ex-comunistas sentem a satisfao de liquidar os estaleiros de Gdansk, disse, ontem, Walesa, que liderou, em 1980, a criao, dentro as instalaes da companhia, do primeiro sindicato livre do Leste Europeu. Naquele ano, o Sindicato Solidariedade seria reconhecido por fora de uma greve geral que abalou o governo comunista. No ano seguinte, com a decretao de lei marcial, o movimento foi reprimido, e Walesa, preso. Protestos - Ainda assim o Solidariedade seria o motor das reformas democrticas na Polnia e, de algum modo, inspirao para a queda do socialismo em todo a Europa socialista no final da dcada. Em 1989, o movimento voltou legalidade e ganhou fora de partido. Walesa, que encabeou o Solidariedade por 10 anos, chegou presidncia da Repblica em 1990. O ex-presidente prometeu apoiar as manifestaes contra a falncia dos estaleiros, que os operrios - detentores de 40% das aes da empresa - prometem levar s ruas. Mas Walesa, que atualmente se ocupa de proferir palestras mundo afora, recusou-se a lideras protestes. Diriam que revanche. Mas, no lugar dos operrios, lutaria pelos estaleiros. Naturalmente, com mtodos pacficos, disse Walesa, que acusou o governo de nada ter feito pela empresa. O chefe do sindicato dos operrios de Gdansk, Jersy Borowczak, disse que os trabalhadores promovero passeatas e bloquero estradas. H meses, os operrios vm recebendo salrios com atraso e em parcelas. Amanh, devero receber 65% do salrio de maio. Somente a bancos e companhias locais, os estaleiros devem US$ 56 bilhes. Ao decidir pela falncia - com que condordaram 79% dos acionistas -, a junta alegou falta de dinheiro para cobrir as perdas da companhia no ltimo ano, estimadas em US$ 31,7 milhes. Os estaleiros tinham 18 navios encomendados por um total de US$ 580 milhes. Cinco estavam em construo, e o governo polons no descarta pretende criar uma empresa sobre as runas econmicas do velho complexo. O novo estaleiro deve herdar apenas 3 mil dos 7.300 operrios da antiga companhia. A previso de que funcione apenas por um ano, proibido de aceitar novos contratos. Ainda assim, nasce com os mesmos problemas da empresa que faliu: depende de que bancos financiem a construo dos navios e cubram as eventuais perdas.","Os estaleiros de Gdansk , que ascenderam ao poder o Sindicato Solidariedade e Lech Walesa , est em vias de liquidao , por questes econmicas. Dali surgiu a luta histrica contra o regime comunista polons e um lder operrio, que comandou o sindicato por dez anos, e que chegou presidncia do pas. O ex-presidente prometeu apoiar as manifestaes contra a falncia do Solidariedade , mas , agora empenhado em fazer palestras pelo mundo afora, diz que no vai liderar os protestos , at porque isso soaria como revanche. Mas , no lugar dos operrios, lutaria pelos estaleiros; naturalmente, com mtodos pacficos. O chefe do sindicato dos operrios, Jersy Borowczak, disse que os operrios, sem receber h meses, promovero passeatas. Diante dessa tendncia falimentar dos estaleiros, o governo v como sada a criao de uma nova empresa que cumpra a produo de 18 navios encomendados , mas que no aceite novos contratos e que , portanto , no sobreviva a um ano. " di94ju29-24,"A ncora monetria do real MRCIO G.P. GARCIA A partir da reforma monetria de 1 de julho a inflao certamente cair abruptamente. Para mant-la em nveis reduzidos, o governo recorrer a uma ncora monetria. A ncora monetria consistir em um conjunto de regras que limitar a emisso monetria pelo Banco Central (BC). Sobre a efetividade dessa ncora em manter baixa a inflao pairam algumas ameaas. A mais notria delas so as presses por maiores gastos pblicos. H, contudo, uma outra ameaa que advm do mecanismo operacional adotado pelo BC nas ltimas duas dcadas para conviver com a inflao. O regime de poltica monetria atualmente em vigor caracterizado pelo BC ter como principal objetivo de poltica monetria manter o juro real do mercado de reservas bancrias (open market) em um nvel que o BC considera adequado. Este nvel adequado no deve ser to alto de forma a impingir um custo muito elevado ao Tesouro, nem deve ser to baixo de forma a provocar fuga da moeda nacional. Tal objetivo atingido atravs das operaes dirias de compra e venda de ttulos que o BC realiza no open market, inclusive a famosa zeragem automtica. Uma das funes que a zeragem automtica realiza a de prover liquidez a baixo custo a bancos que necessitem de reservas ao final do dia. O objetivo de fazer uma dada taxa real de juros torna a oferta de moeda completamente endgena e passiva, o que uma condio sine qua non para a exploso inflacionria que observamos no Brasil. Note-se que no a fixao da taxa real de juros em geral que torna passiva a oferta monetria. Uma regra de fixao da taxa real de juros que elevasse suficientemente a taxa real sempre que a expectativa inflacionria subisse seria compatvel com um controle da oferta de moeda. Por exemplo, a poltica monetria do banco central dos EUA equivale a uma regra de fixao de taxas de juros real. Toda vez que a expectativa inflacionria se eleva em 0,5%, o banco central norte-americano eleva a taxa de juros real tambm em 0,5%, subindo a taxa de juros nominal em 1%. O que torna a oferta monetria passiva no Brasil a forma especfica de fixao da taxa real de juros que o BC segue, no elevando, ou elevando insuficientemente, os juros reais quando se eleva a expectativa inflacionria. Quando a inflao atinge os nveis elevadssimos atuais, o controle desta via elevao de juros reais torna-se invivel. Mas, para que a inflao permanea baixa aps o impacto inicial da reforma monetria, imprescindvel que a passividade da oferta monetria seja rompida. Esta deve ser uma das funes da ncora monetria. Quando a inflao cair aps 1 de julho, a demanda por M1 (a soma de depsitos em conta corrente com o papel moeda) certamente crescer. Esse aumento da demanda por moeda exige um aumento correspondente da oferta de moeda. Tal aumento da oferta de moeda no inflacionrio, pois apenas atende ao aumento da demanda. O problema que ningum sabe a quanto subir a demanda de moeda. Assim, fica difcil dizer a priori quando dever ocorrer de expanso da oferta monetria. Se expandir pouco, os juros ficaro desnecessariamente altos, diminuindo o nvel de atividade. Se expandir demais, os juros caem e a inflao recrudesce (o caso do Plano Cruzado). A ameaa que reside na implementao da meta monetria trimestral deriva do carter de quase-moeda que tm atualmente os FAFs e demais fundos. A poltica do BC acima descrita de fixar a taxa real de juros a responsvel pela proviso de liquidez a tais fundos. E precisamente a proviso de liquidez s cotas de tais fundos que permite economia brasileira funcionar com um grau de monetizao (M1/PIB) mais de dez vezes inferior ao registrado nos EUA. A queda da inflao que ocorrer com a reforma monetria aumentar a demanda por M1. De quanto ser tal aumento depender em grande medida da poltica monetria do BC. Explico atravs de meu prprio exemplo. Atualmente, mantenho meu salrio num fundo do banco mais prximo da PUC-Rio. medida que emito cheques, o banco retira os recursos necessrios do fundo, transferindo-os para minha conta corrente. Isso s possvel porque o banco sabe que pode obter liquidez barata do BC, vendendo os ttulos pblicos quando precisar de reservas bancrias sem grande perda de capital. Se tal procedimento de prover liquidez barata aos bancos no for alterado pelo BC, o banco no precisar me impor nenhuma restrio adicional, nem eu precisarei mudar meu cmodo comportamento atual. Assim, aps a queda da inflao com a reforma monetria, eu apenas andarei com um pouco mais de dinheiro na carteira (nem tanto, pois moro no Rio de Janeiro!). Se as demais pessoas e as firmas tampouco alterarem seus comportamentos atuais, no haver um grande aumento na demanda por M1. Isto pode parecer bom, pois manteria a oferta de moeda abaixo da meta estipulada. Na realidade, se a poltica monetria do BC no se alterar, isso representar a volta lquida e certa da inflao. Vejamos por qu. A forma atual do BC prover liquidez a ativos que rendem juros conduz inapelavelmente ao rompimento de qualquer meta nominal que se imponha a qualquer agregado monetrio no longo prazo. Na medida em que as taxas de juros de tais ativos contenham a expectativa de inflao (mais o juro real), aumentos na expectativa da inflao sero repassados aos juros pagos pelos ttulos. Os juros mais altos, devido poltica do BC de conferir liquidez aos ttulos, acabaro aumentando a base monetria. Ou seja, a manuteno do mecanismo operacional atual de poltica monetria do BC, o qual inclui a zeragem automtica, pode ser responsvel num primeiro momento (alguns meses) pela observncia da meta monetria, mas, no longo prazo, trar inevitavelmente de volta a inflao. Uma outra forma de entender este fenmeno se pensar no financiamento do dficit pblico. Presume-se que a meta monetria vai impedir o BC de financiar o dficit pblico. Entretanto, ao manter o mecanismo atual de poltica monetria, o BC mantm um mercado privado adicional para a dvida pblica, posto que esta pode ser usada como quase-moeda. Assim, o Tesouro, bem como os Estados e municpios que emitem dvida mobiliria, ganham um flego adicional para financiarem seus dficits via colocao de dvida mobiliria. Ou seja, sem a mudana da regra operacional do BC, a meta monetria tampouco impe limites ao financiamento do dficit pblico, que pode se dar via dvida ao invs de via expanso monetria (senhoriagem). Em suma, o que se quer aqui chamar a ateno para a necessidade que a regra monetria que venha a ser adotada imponha desde logo custos significativos de iliquidez aos bancos. Ou seja, o que se quer a eliminao da moeda indexada, da ciranda financeira, ou do substituto domstico de moeda. O crescimento da demanda por moeda depender do que os bancos acreditaro que o BC far. Se o meu banco na PUC-Rio achar que no poder mais ter liquidez barata no BC, ele no poder mais me dar a combinao de liquidez diria e proteo inflacionria no FAF e nos demais fundos. Assim, terei que deixar mais dinheiro na conta corrente para no passar cheques sem fundos. A demanda por M1 crescer mais no incio do plano, exigindo uma maior expanso da oferta de reservas bancrias, mas poder no apresentar o movimento de contnuo crescimento que certamente se registraria se mantida o atual procedimento operacional do BC. Portanto, acredito que uma meta monetria definida a priori, para ser inscrita em lei com o fim de conferir confiana plano, no necessariamente garanta os resultados pretendidos. As metas devero ser definidas adaptivamente medida que a implantao do real progredir e se souber melhor qual a demanda por moeda. Para evitar excessos nessa fase inicial, uma proposta interessante a do professor Mrio Simonsen, de congelar temporariamente o M4, atravs da imposio de um depsito compulsrio de 100% na margem. A confiana no plano ser reflexo das aes do BC. Por exemplo, o plano ganhar certamente a confiana do mercado se o BC mostrar que de fato exerce sua funo de regulador da atividade bancria, livre de ingerncias polticas, certamente muito fortes neste perodo eleitoral, agindo com rigor com qualquer banco que no cumprir as normas do BC, como o caso de algumas instituies estaduais e oficiais. MRCIO G.P. GARCIA, 34, doutor em Economia pela Universidade de Stanford (EUA), professor do Departamento de Economia da PUC-RJ (Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro) e editor da Revista de Econometria.","A ncora monetria do real MRCIO G.P. GARCIA A partir da reforma monetria de 1 de julho, a inflao certamente cair repentinamente. Para mant-la em nveis baixos, o governo se valer de uma ncora monetria, conjunto de medidas que limitar a emisso monetria . A eficcia dessa ncora sofrer algumas ameaas, a mais forte so as presses por mais gastos pblicos. A outra causada pelo fato de o Banco Central ter como principal objetivo de poltica monetria manter o juro real do mercado de reservas bancrias em nveis , segundo ele, adequados. Esse nvel no deve ser to alto a ponto de sobrecarregar o Tesouro, nem to baixo que provoque fuga da moeda nacional. Estabelecer uma taxa real de juros torna a oferta de moeda endgena e passiva, condio pressionadora da inflao. Esta a poltica seguida pelo Banco Central, que no eleva ou eleva insuficientemente os juros reais no caso de expectativa inflacionria . Quando os nveis de inflao so muito altos, o controle por meio da elevao de juros torna-se invivel. Ao cair a inflao aps 1 de julho, a demanda por M1 ( soma de depsitos em conta corrente com o papel moeda) certamente crescer. . Tal aumento no inflacionrio , pois simplesmente atende demanda. O que difcil antecipar quanto de expanso vai ocorrer. Se pequena, os juros aumentaro muito, diminuindo a aplicao produtiva; se grande, os juros caem e a inflao reacende. O que se quer aqui chamar a ateno para a necessidade de a regra monetria a ser adotada impor altos custos de iliquidez aos bancos. O que significa a eliminao da moeda indexada, da ciranda financeira, ou do substituto domstico da moeda. O crescimento da demanda por moeda depender da crena dos bancos nas medidas futuras do BC. Se determinado banco sentir que no obter mais liquidez barata no BC, no poder oferecer mais ao cliente a combinao de liquidez diria e proteo inflacionria no FAF e nos demais fundos. Assim , o cliente ter que deixar mais dinheiro na conta corrente . A demanda por moeda (M1) se elevar mais no incio do plano, exigindo maior oferta de reservas. Minha opinio que uma meta monetria pr-definida , a fim de ter configurao legal para dar confiana ao plano, no garante obrigatoriamente os resultados pretendidos. As metas devero ser definidas conforme progredir a implantao do real e se souber qual a demanda. " ce94se21-72,"Um esporte em que a terra o fim 'Trata-se de um jogo geomtrico, uma luta pelo equilibrar-se na maior inveno do homem: o retngulo' ' o nico esporte de que me lembro onde a bola um corpo celeste, mensageiro a ser acariciado' LUIZ PAULO BARAVELLI Especial para a Folha Os americanos, com sua mania de compartimentar em caixas os fenmenos da cultura, inventaram o termo spectator sports, esportes para serem observados. H esportes autocentrados (regatas, alpinismo, ralis), que so s para serem exercidos e que, embora no repudiem o espectador, no so feitos especialmente para ele. Todo esporte uma forma de simbolizar (para tentar entend-las) as foras em ao no mundo e na sociedade. Estes esportes non-spectator, se exercidos sem hipocrisia, so uma forma quase religiosa de procura, anloga aos 40 dias e 40 noites passados em meditao solitria no deserto indivduos com o melhor de sua constituio e engenho em confronto simblico com os limites maiores da natureza. So viagens particulares, inescrutveis. Em que pensa o alpinista solitrio assunto seu e no necessariamente visvel externamente. Suspenso por uma corda a 300 metros de altura, pode refletir gravemente sobre a vida e a morte, mas pode tambm estar pensando no mau negcio que fez quando trocou os amortecedores do carro. Nunca saberemos: ele no nos dir e, principalmente, no estaremos l para ver. Por outro lado, os esportes para espectadores so uma forma de arte. So encenaes, espetculos calculados para serem vistos e lidos. No so exatamente teatro porque o desfecho imprevisvel. O teatro uma caixinha de no-surpresas, mas um jogo junta os participantes, impe as regras e deixa o roteiro/enredo ser escrito ao vivo. Um jogo de futebol algo de verdade, talvez uma das nicas coisas de verdade dentre as que so feitas para serem assistidas. Se vemos na TV que a bola entrou, este um instante absoluto no foi ensaiado, no h verses pessoais, no pode ser editado, desmentido, colorizado ou receber efeitos especiais. Em um mundo onde tudo, dos ndices de inflao a quem ganhou uma guerra, depende de interpretao, uma bola na rede a epifania possvel da verdade (o quanto a presena cultural cada vez maior dos esportes influencia as artes assunto para outro artigo o que foi o modernismo seno a introduo dessa verdade futebolstica no reino anterior do artifcio e da fabricao?). Se todos os esportes simbolizam e teatralizam as relaes sociais e pessoais, cada um escolhe enfatizar uma parte delas. Imagino que o futebol seja o mais abrangente por sua complexidade, e no de surpreender sua preferncia mundial. Gosto muito, como todo mundo, mas tenho (e quero tentar entender aqui) uma atrao misteriosa pelo vlei. Pelos padres do futebol montono, imvel, repetitivo, limitado. O que h nele para ver? Ou, de outro modo, o que est sendo dramatizado ali? De todos os jogos fsicos este um dos mais geomtricos. Estamos sempre conscientes dos alinhamentos, espaamentos, paralelas e diagonais. jogado em um campo retangular, duro, liso e pequeno o suficiente para ser visto de um golpe s. um jogo que, em princpio, ocupa o campo todo o tempo todo. Ligado a isto h um longo e fascinante assunto que tento resumir em poucas palavras: talvez a grande inveno da humanidade no tenha sido nem o fogo nem a roda; os dois existiram desde sempre na natureza, nosso mrito foi observ-los e aprender como fabric-los e utiliz-los. Por outro lado (e isso deve ter interesse maior para os esportistas), ns, devido nossa antecedncia, hum... simiesca, tivemos que inventar um jeito de ficar de p. Nenhum bicho sem asas tem uma base to pequena em relao altura como os ps de uma pessoa. Isto implica em um contnuo equilibrar-se, procurando no cair, jogando o peso do corpo em torno de um eixo vertical. Por isso, tambm s estamos confortveis em uma superfcie dura, plana e horizontal. Quando deixamos de ser quadrpedes, passamos a ser um desejo ambulante pelo ngulo reto. Isso fez com que inventssemos algo que no existe na natureza, para nos simbolizar: o retngulo. Talvez essa tenha sido a inveno decisiva, porque da para a frente toda nossa civilizao foi uma ao dentro de um retngulo. nosso repdio ao mundo animal, a afirmao de nossa artificialidade. Em outras palavras, quanto mais retangular e urbano, mais civilizado. A geometria do vlei o torna um dilogo entre dois retngulos, duas salas cheias de gente autoconsciente. A entra um segundo aspecto no menos importante. Estas salas so povoadas no de gente, mas de mulheres. O vlei um jogo essencialmente feminino. claro que homens podem jogar, mas so homens jogando um jogo de mulheres fica errado, muito rpido e forte, to errado quanto mulheres jogando basquete, um jogo para rapazes, que se esbarram tentando alcanar um aro quase inatingvel, duro, mas com um interior macio, e enterrar; um sexo mecnico, repetitivo, suarento, juvenil. Os jogos sem retngulo so essencialmente aventuras masculinas e, portanto, infantis, cegas, desordenadas ( fascinante pensar que na antiguidade, enquanto homens/crianas estavam ocupados em suas guerras, viagens e caadas caticas, as mulheres estavam pacientemente inventando o quadriculado da computao em seus teares e bordados. Hoje somos todos mulheres, mas isso tambm outra histria). O jogo das mulheres pode ser furioso e concentrado, mas nunca violento; elas nunca matam, como os homens fazem. Matar no feminino. Para mim, feminino e metafsico tm mais ou menos o mesmo sentido. O vlei um jogo do ar. impossvel para seres humanos existirem no nada, mas esse jogo se passa no meio fsico menos fsico e denso que podemos habitar. O futebol essencialmente um jogo da terra, mas a terra no vlei o fim, a derrota; perde-se quando no se consegue evitar o curto-circuito da bola com a terra. Um jogador de futebol parece ter seu centro de gravidade l em baixo, no eixo dos quadris, imagino, mas uma jogadora de vlei gira em torno de um ponto entre o plexo solar e a cabea (no sei se isto mesmo assim; estou pensando no em ortopedia mas na imagem, e imagem a raiz da palavra imaginao). Falei antes na sala. Esse jogo tambm feminino, no sentido da casa. Acho que um jogo de defender sua casa e, de dentro dela, atacar a casa das rivais. A mitologia est repleta de Danaides, Musas, Amazonas, Pliades, grupos de mulheres que lutam juntas e compartilham um destino comum. Essas casas se observam atravs de uma janela, uma trama retangular (de novo a computao), e que, como na histria da inveno do retngulo ou do quadro de pintura, o reconhecimento dos limites do universo conhecido e em que, em ambos os casos, no se pode tocar. A bola passar por cima o exerccio desta metafsica a que me referi. Um saque queimar a rede uma boa metfora do que acontece quando o fsico e o metafsico se tocam. No importa qual veio antes, mas o tnis conceitualmente um primo pobre do vlei, um jogo solitrio, rasteiro, histrico (sem falar em coisas piores como pingue-pongue e badminton). No tnis, a bola um ponto, uma mosquinha amarela a ser raquetada rapidamente; no vlei uma esfera branca a ser tocada com a ponta dos dedos. O vlei o nico esporte de que me lembro em que a bola uma esfera, corpo celeste, um mensageiro a ser acariciado. E a mensagem sempre : ns conseguimos existir s no ar, mas faremos vocs terem conscincia do fim, da terra. Essa geometria simblica pode ser entendida melhor no diagrama de uma jogada tpica: saque, devoluo, largadinha. Essas trajetrias so parbolas. Os ps existem no retngulo duro; as mos, o mais alto que podem, enviam a bola mensageira em curvas elegantes, mas mortais. Uma cortada um raio (uma reta) dirigido ao reino dos ps como a nos lembrar que a derrota ser devolvido geometria bsica de tentar ficar em p. O feminino no vlei particularmente ertico porque se trata de mulheres concentradas, em luta entre si, e que no esto pensando nisso, nem olhando para ns. No h nada menos ertico do que fotos erticas nas revistas para homens. Elas sabem que esto sendo fotografadas e fazem suas caras e bocas calculadamente para ns (para brochar de vez faa uma experincia de tapar o resto e deixar apenas os olhos delas nessas fotos). O realmente ertico do vlei que ele no feito para isso. S um marido muito ingnuo acha mais excitante quando sua mulher usa lingerie preta e segura uma rosa nos dentes do que quando est pensando em outra coisa, de luvas e macaco, cuidando do jardim, suada e com o cabelo caindo na testa. Isso est subjacente na prpria organizao da quadra; o vlei um dos jogos onde se pode estar mais perto da quadra, mais perto das jogadoras. feito para se olhar de perto (sim, apesar de as regras serem feitas pelos burocratas esportivos, elas tambm embutem uma psiqu). Mulheres nunca brincam, muito menos em pblico, e sua concentrao o realmente atraente. A essncia do erotismo a mulher querer e estamos aqui para ver isso (e, por falar nisso, a essncia da pornografia a mulher no querer). essa mgica do querer que transforma um bando de varapaus mal acabadas em deusas voadoras. Na verdade, como jogo feminino, no se joga para ganhar. Creio mesmo que o jogo todo existe s para que se possa ter um eplogo, que acho encantatrio. A rede, que durante o jogo todo no pode ser tocada nem atravessada, serve, no fim, para uma cerimnia: as jogadoras dos dois times se tocam delicadamente sob o retngulo, como que reafirmando uma solidariedade e uma identificao abaixo do limite da civilizao. Tudo termina em restaurao nesse escuro simblico e vamos todos para casa pensar na vida. Luiz Paulo Baravelli, 51, artista plstico","Um esporte em que a terra o fim Trata-se de um jogo geomtrico, uma luta pelo equilibrar-se na maior inveno do homem: o retngulo o nico esporte de que me lembro onde a bola um corpo celeste, mensageiro a ser acariciado LUIZ PAULO BARAVELLI Especial para a Folha Em sua mania de compartimentar a cultura, os americanos criaram o termo spectator sports, cujo significado esportes para serem observados. H esportes autoconcentrados ( regatas, alpinismo, ralis), s para serem exercidos , embora no excluam o espectador. Todo esporte uma forma de simbolizar as foras em ao na sociedade. Os esportes non-spectator, se praticados sem hipocrisia, constituem um modo de procura , como os jejuns prolongados dos anacoretas. So viagens inescrutveis, como a do alpinista solitrio , cujo pensamento indevassvel. J os esportes para espectadores so uma forma de arte, espetculo calculado para ser visto . O futebol pertence a essa categoria. Uma bola dentro da rede uma constatao que no depende de verses pessoais; a verdade absoluta. Se todos os esportes simbolizam e teatralizam as relaes sociais e pessoais , cada um enfatiza uma parte delas. Embora eu conceba o futebol como o mais abrangente da sua preferncia mundial-- , sinto uma atrao misteriosa pelo vlei. De todos os jogos fsicos o mais geomtrico. praticado num campo retangular, duro, liso e pequeno o bastante para ser visto de uma vez. Devido nossa origem simiesca , tivemos que aprender a ficar de p. Nossa base a menor entre os animais, o que explica a necessidade de equilibrar-se constantemente. S estamos confortveis em uma superfcie dura, plana e horizontal. A nossa civilizao , desde ento, uma ao dentro de um retngulo. O afastamento do mundo animal se concretiza na busca do retngulo. E no vlei ela se realiza. E de maneira mais interessante: o dilogo entre mulheres. Embora possa ser exercido por homens, um esporte essencialmente feminino. Os jogos sem retngulo so masculinos e , portanto, infantis, desordenados. J na Antigidade, enquanto os homens caavam e guerreavam, as mulheres inventavam o quadriculado nos seus teares. Diferentemente dos jogos masculinos, os praticados pelas mulheres, mesmo quando impetuosos , no so violentos. Enquanto o futebol um jogo da terra, o vlei um jogo do ar, em que a terra representa derrota. Tambm o vlei um jogo feminino por sua relao com casa: da sua casa as contendoras a defendem atacando o inimigo. Outra simbologia importante do vlei consiste na passagem da bola por cima da rede, sem toc-la .Queimar a rede representaria o contato do fsico e do metafsico, portanto o desastre. O vlei deve ser o nico jogo em que bola , uma esfera, lembra um corpo celeste , um mensageiro a ser acariciado. J a cortada como o raio dirigido aos ps, representando a volta condio de quadrpede. A concentrao das mulheres no vlei , indiferentes a quem as rodeia, particularmente ertico. A intencionalidade das modelos quando fotografadas, a conscincia de que esto ou vo ser observadas eliminam o erotismo. No vlei, essa mgica que transforma um bando de varapaus em deusas voadoras." ce94jl11-b,"At o fim do sculo o mundo vai assistir ao fenmeno da desmetropolizao, ou seja, a tendncia desta dcada ser a desconcentrao populacional das metrpoles. Em alguns casos, espera-se crescimento negativo nas grandes cidades. Uma das razes para a guinada na expectativa de crescimento, na opinio de Elza Berqu, diretora do Nepo (Ncleo de Estudos de Populao da Unicamp), a busca macia, por parte dos habitantes dos grandes centros urbanos, de uma qualidade de vida melhor da que oferecem as metrpoles. Segundo Berqu, haver a fixao das pessoas em cidades medianas que se transformaro em plos de referncia, menores e com menos problemas que as megacidades. Algo parecido com o que est acontecendo em Campinas e Ribeiro Preto, no interior de So Paulo, que oferecem vida cultural e infra-estrutura de servios parecida com a das grandes cidades, sem, no entanto, estarem saturadas. Essa mudana na concentrao populacional estar ocorrendo ao mesmo tempo em que outra tendncia for se cristalizando: uma distribuio de renda mais harmnica e mais equitativa. O sonho de que as solues para todos os problemas esto nos grandes centros est no fim. E isso uma boa notcia. Deve-se comemorar, diz Berqu. Nmeros do Seade (Sistema Estadual de Anlises de Dados) mostram que a cidade de So Paulo, por exemplo, cresce menos a cada dcada. Nos anos 60/70, tinha sua populao aumentada anualmente na razo de 4,92%. Nos anos 70/80, o crescimento diminuiu e foi para 3,67%. De 1980 a 1991, o crescimento anual chegou a 1,15%. At o ano 2000 no deve sair desse patamar percentual. De acordo com dados do Nepo, a taxa atual de fecundidade no Brasil de 2,5 filhos por mulher. Em 1980, era de 4,5 filhos por mulher. At na regio Nordeste, onde essa taxa chegou, em 1980, a seis filhos por mulher, atualmente j baixou para 3,7. Hoje vivem no Brasil 152 milhes de pessoas. Em 2000, sero 179 milhes de brasileiros. Com exceo dos pases africanos, a taxa de fecundidade no mundo est diminuindo, com forte tendncia de estabilizao ou crescimento populacional negativo. Na frica, a mdia de fecundidade ainda de seis filhos por mulher. No caso especfico do Brasil, a expectativa dos cientistas que a partir de 2020 o pas v ter seu crescimento populacional estabilizado e, por volta de 2050, essa taxa chegar a zero. Isso significa que o nmero de mortes vai se igualar ao de nascimentos. A desacelerao populacional no Brasil poderia at ser mais rpida, no fosse o alto contingente de mulheres que ainda est se reproduzindo, segundo Elza Berqu. Se o excesso de populao um problema, a imploso demogrfica tambm. Hungria, Alemanha e Itlia, entre outros pases, enfrentam crescimento populacional negativo e envelhecimento de suas populaes. Ou seja, em breve tero que importar gente para suprir as atividades mais corriqueiras. Na Itlia, por exemplo, o nmero de bitos maior que o de nascimentos. Na Frana, a mdia de fecundidade de 1,3 filho por mulher. Para efeito de comparao, em So Paulo, segundo a demgrafa Bernadete Waldvogel, do Seade, a mdia de 2,2 filhos por mulher. Na dcada de 80, cada brasileira tinha 3,4 filhos. Na de 70, 4,2. Em cada dcada est diminuindo um filho, resume Waldvogel. Sem levar em conta essa tendncia de queda apontada pelo Seade e Nepo, um relatrio produzido pela ONU (Organizao das Naes Unidas) projeta que em 2010 a cidade de So Paulo ser a segunda maior do mundo, perdendo apenas para Tquio e na frente de Bombaim, Xangai, Lagos, Cidade do Mxico, Beijing, Dacar, Nova York e Jacarta, nessa ordem. O relatrio da ONU mostra uma So Paulo catica no ano 2000, com 25 milhes de habitantes. Estudos do Seade projetam uma cidade parecida com o que hoje, com 10,7 milhes de habitantes. No segundo semestre deste ano, no Cairo (no Egito), acontece uma conferncia internacional sobre crescimento populacional.","At o fim o ano 2000, haver uma desconcentrao populacional nas metrpoles do mundo--- em algumas , o crescimento ser negativo. Cada vez mais , as pessoas procuram cidades de porte mdio, com menos problemas que as metrpoles, sem perder na oferta de vida cultural e infra-estrutura de bens de servios. Segundo Berqu, diretora da Nepo ( Ncleo de Estudos de Populao da Unicamp) , uma das razes a busca de qualidade de vida. Paralelamente a essa desconcentrao , ocorre uma melhor distribuio de renda. Ir para a capital , a fim de fazer a vida, j no o grande sonho. Clculos do Seade indicam que as dcadas de 60 , 70, 80 apresentam , respectivamente, ndices de 4,92% , 3,67% , 1,15% , para a cidade de S.Paulo A relao mulher/filho tem diminudo, inclusive no Nordeste , onde de 6 filhos por mulher em 1980 , caiu para 3,7. Com exceo dos pases africanos, a taxa de fecundidade vem diminuindo no mundo inteiro. No Brasil, segundo cientistas, at o ano 2020 , o crescimento estar estabilizado , e aproximadamente at 2050, ser zero. Desprezando os clculos da Nepo e do Seade, a ONU apresentou um relatrio falando da exploso populacional de So Paulo, que ser a segunda maior cidade do mundo at o ano 2010. Se pavorosa essa anteviso , tambm o a imploso demogrfica, que j ocorre na Hungria, Alemanha e Itlia, que precisaro importar gente para determinados servios. " ce94jl31-c,"A taxa oficial de analfabetismo no Brasil de 18%. Isto quer dizer que, para as estatsticas, cerca de 28 milhes de brasileiros no sabem nem ao menos identificar letras. Educadores concordam que no h como comear a reverter esse quadro sem tornar novamente interessante a carreira do magistrio. Isto , pagar melhores salrios, treinar e exigir mais dos docentes. Aumentar simplesmente o nmero de escolas e vagas no prioridade. Mesmo em estados onde a cobertura escolar vagas disponveis- aceitvel, o desempenho escolar sofrvel. A situao de boa parte dos 82% 'no analfabetos' no muito melhor que a dos que nunca foram escola. O critrio oficial identifica alfabetizados pela capacidade de saber escrever um bilhete simples. Conceitos mais exigentes, no entanto, abarcariam quase 60 milhes de brasileiros na categoria de analfabetos. Para os critrios mais refinados, defendidos por pesquisadores de servios de estatsticas educacionais e educadores, a exigncia de quatro anos de escolaridade o requisito mnimo para que algum no seja considerado um analfabeto funcional. Isto , aquele capaz de aproveitar de alguma forma produtiva a instruo que recebeu e no regredir. No Brasil, quase metade da populao de mais de 10 anos de idade no completou esse ciclo. O critrio que qualifica algum que saiba rabiscar um bilhete como alfabetizado foi estabelecido pela Unesco em 1958. A revoluo tecnolgica nos sistemas produtivos jogou esse padro no lixo. Mudou o paradigma da educao. As prprias empresas chegaram concluso de que se a mo-de-obra no for melhor preparada, o pas no ter condies de competir internacionalmente, diz Clio Cunha, chefe do departamento de Projetos Educacionais do ministrio da Educao. justamente nessa rea que o governo federal investe menos. atribuio dos governos municipais e estaduais a educao bsica, mas a maioria deles no tem recursos para construir escolas que no sejam taperas, quanto mais para bancar um ensino de qualidade. Nos municpios menores, a situao da educao bsica muito ruim, tanto em termos de evaso e repetncia como em termos de nvel de conhecimentos dos alunos aprovados, diz Azuete Fogaa, professora da Universidade Federal de Viosa. Pelo menos nos ltimos cinco anos, o governo federal vem investindo cerca de 50% a 60% de seus recursos em educao no ensino superior nas instituies federais de ensino. Recursos federais quase no vo para a educao primria. O resultado que a Constituio no cumprida, diz Cunha. A Unio obrigada a investir 18% de seus recursos em educao. Boa parte desse dinheiro, cerca de 75%, gasta com a rede federal, ou seja ensino superior e escolas tcnicas. Desse dinheiro, 25% gasto com aposentadorias das universidades, afirma Cunha. Professores A Coria, em meados dos anos 60, tinha um quadro educacional to ruim ou pior do que o brasileiro. Em duas dcadas e meia conseguiu que 95% dos jovens completassem o 2 grau, diz a professora Azuete. Como a Coria fez isso? Investiu na formao e na carreira do professor. Hoje, no Brasil, o magistrio primrio a carreira de quem no tem horizontes, diz Azuete. Tanto Azuete como Clio Cunha concordam que a extenso da rede escolar brasileira tem falhas, mas satisfatria. O Brasil j conseguiu colocar cerca de 90% das crianas nas salas de aula, mas s poucas se formam e estas so despreparadas, diz Cunha. A rede atende muita gente, mas atende muito mal. S 20% dos que entram chegam s ltimas sries do 1 grau. muito dinheiro desperdiado pelo Estado e pelas pessoas, afirma Azuete. Segundo ela, um exemplo de reforma o Japo do ps-guerra. na reconstruo, o governo selecionou os melhores alunos das universidades vocacionados para o magistrio. Alguns deles viviam em internatos, para se dedicarem mais intesnsamente aos estudos, conta. A qualificao do corpo docente depende tambm de uma reforma na poltica de carreira e de salrios dos professores, segundo Azuete. No Japo, um professor ganha mais do que os tcnicos de nvel mdio. Em geral, duas vezes e meia mais. Com isso, h procura suficiente para escolher os melhores, afirma a professora.","A taxa oficial de analfabetismo no Brasil de 18% , ou seja, de 28 milhes de brasileiros que sabem escrever um bilhete simples, conforme o critrio estabelecido pela Unesco em 1958. A situao dos 82% dos alfabetizados no muito melhor. Como a proposta de critrio para se considerar algum alfabetizado , hoje, que se tenha quatro anos de escolaridade , a situao nossa mais sria. As prprias empresas no vem possibilidade de competio com o mundo globalizado , se o pas no melhorar o preparo escolar de seus trabalhadores. A falha brasileira no tanto de quantidade quanto de qualidade. Para tanto, necessrio investir na qualificao do professor e na melhoria salarial. Se se examinar a forma como o governo federal cumpre a obrigatoriedade constitucional de investir na educao , percebe-se uma distoro muito grande : 75% dos 18% reservados para a educao so aplicados no ensino superior ; e 25% desse montante destinado a pagamento de aposentadorias nas universidades. O ensino fundamental e mdio incumbncia dos Estados e Municpios. No o que aconteceu com dois pases , que servem de lio ao Brasil nesse campo: Coria e Japo. O primeiro , comeando nos meados de 60, conseguiu , em duas dcadas, que 95% dos jovens terminassem o segundo grau. O segundo , no ps-guerra, qualificou o seu corpo docente e o remunerou significativamente. O resultado foi o boom de desenvolvimento que conhecemos. O desafio continua para ns, apesar do esforo de ampliao quantitativa do ensino fundamental. " di94ag09-08,"A questo dos encargos trabalhistas RUBEN D. ALMONACID, MRCIO I. NAKANE ; SAMUEL A. PESSA Um importante debate tem acontecido neste espao e que diz respeito importncia (ou no) dos encargos trabalhistas na composio dos custos das empresas e, portanto, seu impacto sobre a gerao de empregos e competitividade das empresas brasileiras. O professor Jos Pastore, em entrevista na Folha de 23/04/94, comentando os resultados de uma pesquisa recente (Flexibilizao dos Mercados de Trabalho e Contratao Coletiva, Editora LTr, 1994), manifestava a opinio de que os elevados encargos trabalhistas constituem um forte fator de inibio na gerao de empregos no Brasil. O professor Edward J. Amadeo, em dois artigos (Folha de 04/01/94 e 04/06/94) manifestou posio diversa; enquanto este calculava encargos de 24,5% sobre a folha de salrios, o professor Pastore chegava ao total de 102,1% para os mesmos. Tal diferena deve-se ao fato de que os dois autores tm conceitos distintos de encargos. Para o professor Amadeo os encargos so a diferena entre o que o trabalhador recebe e o que a empresa paga, enquanto para o professor Pastore os encargos sociais compem o custo final do fator trabalho para a empresa. A diferena que o professor Amadeo no considera como encargos os gastos do empregador que retornam ao trabalhador como por exemplo, o 13, o abono de frias, o FGTS, o uso do dinheiro do Sesi, o vale transporte, o salrio maternidade e doena etc.. Para resumir, diremos que os gastos do empregador dividem-se em dois grupos: aqueles que no retornam ao trabalhador (por exemplo, INSS), que chamaremos de encargos; e aqueles que retornam a ele (por exemplo, repouso semanal e dcimo terceiro salrio), que chamaremos de salrio indireto. Em contraposio, chamaremos de salrio indireto ao pagamento por hora trabalhada ou por tarefa. Portanto, o professor Amadeo considera como encargo trabalhista somente o que chamamos de encargos (na sua avaliao, INSS, salrio educao e contribuio relativa a acidentes do trabalho); enquanto o professor Pastore considera como encargo trabalhista a soma dos encargos com o salrio indireto. No pretendemos nesta nota entrar no mrito da discusso emprica, qual seja, se tais encargos so ou no elevados, mas sim, chamar a ateno para alguns pontos conceituais que julgamos importantes para uma melhor compreenso da questo. Do ponto de vista econmico a discusso relevante saber o impacto destes encargos sobre a eficincia produtiva. Isto equivale a discutir qual o conceito de salrio relevante nas decises dos agentes econmicos (empresrios e trabalhadores). Quando o professor Amadeo exclui dos encargos o salrio indireto ele entende que o conceito relevante de salrio para as decises do trabalhador a soma deste com o salrio direto. Esta soma dividida pelas horas trabalhadas (ou pelas tarefas) constitui seu salrio mdio. Para que o leitor entenda o ponto que desejamos ressaltar considere o seguinte exemplo. Suponha que existam na economia dois tipos de empresas. As empresas tipo um no pagam salrio indireto, pagam R$ 1,00 por hora trabalhada e trabalha-se dez horas por dia. Portanto, seu trabalhador recebe R$ 10,00 por dia com um salrio mdio de R$ 1,00. As empresas tipo dois pagam R$ 5,00 de salrio indireto por dia, R$ 0,50 por hora trabalhada e tambm trabalha-se dez horas por dia. O salrio por dia e o salrio mdio, portanto, so idnticos para os trabalhadores de ambas as empresas. Nesta situao, diria o professor Amadeo, os trabalhadores de ambas, por receberem o mesmo salrio mdio, comportar-se-iam da mesma forma e as empresas, portanto, produziriam com a mesma eficincia. A teoria econmica ensina, contudo, que os agentes reagem a incentivos marginais, que no exemplo corresponde ao salrio por hora trabalhada. de se esperar que o comportamento dos trabalhadores em ambas as empresas seja, assim, radicalmente distinto: certamente o incentivo presena no trabalho maior nas empresas do tipo um onde a falta de um dia acarreta uma perda de R$ 10,00 do que nas empresas do tipo dois que acarreta uma perda de R$ 5,00. Um outro exemplo ajudar o leitor a entender a distino entre incentivo mdio e marginal. Imagine duas churrascarias: a primeira funciona no sistema a la carte (o consumidor paga por poro de carne pedida) e a segunda funciona no sistema rodzio (o consumidor paga uma quantia fixa e consome vontade). claro que o mesmo comensal ter comportamentos distintos nas duas churrascarias. Consumir menos carne na churrascaria a la carte ainda que o gasto seja o mesmo. No que diz respeito, portanto, eficincia produtiva o conceito relevante de salrio o marginal. Certamente, parte do salrio indireto, por exemplo, o abono de frias, salrio-maternidade, vale-transporte, por aumentar o salrio mdio, mas no o marginal, no tem impacto sobre o esforo de trabalho. claro que outros itens, como o repouso semanal remunerado, se assemelham a uma remunerao na margem e, assim, devem ser excludos dos encargos. Note que para o professor Pastore os encargos so entendidos segundo seus impactos sobre o custo do empregador. Mas se a discusso refere-se aos efeitos sobre o mercado de trabalho est correto o professor Amadeo ao afirmar que o importante a diferena entre o custo percebido pelo empregador e o salrio recebido pelo trabalhador. No entanto, ao considerar o salrio mdio e no o marginal, subestima esta diferena. Outro importante ponto o tratamento assimtrico dispensado pelo professor Amadeo ao FGTS vis--vis o INSS. O primeiro contabilizado como salrio indireto quando sabe-se que sua correo feita por ndices que subestimam a taxa de inflao e seu acesso restrito. Assim, este fundo no retorna integralmente ao trabalhador. Quanto ao INSS, parte de sua contribuio retorna a ele sob a forma de servios de sade e pagamento de penses. No se justifica, portanto, a sua total excluso do salrio indireto. Este ponto mais relevante quando se trata de comparaes entre pases: quanto maior for a eficincia do setor pblico na gesto desses fundos (aposentadoria e correlatos) e na administrao da assistncia sade maior o salrio indireto e menores sero os encargos para um mesmo montante de contribuio. Entre os itens que compem os encargos merece meno os custos de resciso contratual. Estes custos, novamente, podem ser divididos entre aqueles que retornam ao trabalhador (por exemplo, aviso prvio e indenizao de 40% calculada sobre o saldo do FGTS) e aqueles que no retornam. Nesta ltima so de particular importncia os custos para a empresa da Justia trabalhista. uma posio de senso comum (que merece um estudo mais rigoroso) que a Justia trabalhista tem um vis pr-trabalhador. Mesmo em demandas sem fundamento sua posio tem sido favorvel a ele. Esta peculiaridade faz com que o benefcio para o trabalhador de uma pendncia seja alto enquanto o custo baixo uma vez que os advogados trabalhistas cobram um percentual sobre o resultado da ao. A estrutura de incentivos clara: quer o trabalhador tenha ou no razo sente-se estimulado a entrar com a ao. Assim, apesar de difcil mensurao, tais consideraes nos levam a crer que o valor apresentado pelo professor Pastore para as despesas de resciso contratual (2,57%) encontra-se subestimado. Assim, acreditamos que uma avaliao emprica que considere os pontos aqui discutidos (distino entre salrio mdio e marginal, eficincia do setor pblico e os elevados custos da resciso contratual) ajudaro a uma melhor compreenso do real impacto sobre a eficincia produtiva dos encargos trabalhistas. RUBEN D. ALMONACID, 50, doutor em Economia pela Universidade de Chicago (EUA). Foi professor da Faculdade de Economia e Administrao da USP (Universidade de So Paulo) de 1971 a 1991. MRCIO I. NAKANE, 28, mestre em Economia e professor da Faculdade de Economia e Administrao da USP. SAMUEL A. PESSA, 31, doutor em economia pela Faculdade de Economia e Administrao da USP e professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).","A questo dos encargos trabalhistas RUBEN D.ALMONACID, MRCIO I. NAKANE, SAMUEL A PESSA Tem acontecido um importante debate sobre a relevncia dos encargos trabalhistas na composio dos custos das empresas e, portanto, seu impacto sobre gerao de empregos e competitividade das empresas. O professor Jos Pastore , ao comentar recente pesquisa, opinava sobre a relao dos encargos trabalhistas e a forte inibio de empregos no Brasil. O professor Edward J.Amadeo manifestou opinio diversa: para ele os encargos representam 24,5% da folha de salrios, enquanto que para o professor Pastore representam 102,1%. que os dois tm opinies diferentes de encargo. Para o professor Amadeo eles so a diferena entre o que o trabalhador recebe e o que a empresa paga ; para o professor Pastore os encargos sociais compem o custo final do fator trabalho para a empresa. Os gastos do empregador se distribuem em dois grupos: os que no retornam ao trabalhador ( INSS, por exemplo) , que chamaremos de encargos ; e os que retornam ( por exemplo, repouso semanal , dcimo terceiro), que denominaremos de salrio indireto. Do ponto de vista econmico , o importante saber quanto os encargos interferem na eficincia produtiva. Ao excluir dos encargos o salrio indireto, o professor Amadeo quer dizer que o conceito relevante de salrio para o trabalhador a soma deste com o salrio direto, que dividida pelas horas trabalhadas constitui seu salrio mdio. Imaginemos dois tipos de empresa: as do tipo um , que no pagam salrio indireto, remuneram com R$1,00 a hora trabalhada e em que se trabalha dez horas por dia. Seu trabalhador recebe R$10,00 por dia , com um salrio mdio de R$1,00. As do tipo dois pagam R$5,00 de salrio indireto por dia , R$0,50 por hora trabalhada e se trabalha tambm dez horas por dia. Portanto, o salrio mdio e o salrio por dia so idnticos para os trabalhadores de ambas. O professor Amadeo concluiria que , por receberem o mesmo salrio mdio, eles se comportariam da mesma forma, e as empresas produziriam com a mesma eficincia. No entanto, a teoria econmica ensina que os agentes reagem a incentivos marginais, no caso o salrio por hora trabalhada. Assim, a assiduidade maior nas empresas um,onde a perda por falta de R$10,00,enquanto nas empresas dois de R$5,00. Assim, o incentivo marginal mais relevante para a eficincia produtiva. Para o professor Pastore , os encargos so avaliados conforme seus impactos sobre os custos do empregador. Mas se a discusso se refere aos efeitos sobre o mercado de trabalho, vale a posio do professor Amadeo, quando afirma que o importante a diferena entre o custo percebido pelo empregado e o salrio do trabalho. Outro ponto importante a conceituao assimtrica de ambos os professores quanto ao FGTS e INSS. O primeiro classificado como salrio indireto , embora se saiba que sua correo frente inflao subestimada. J o INSS retorna em parte sob a forma de atendimento sade e pagamento de penses. No deve, pois, ser totalmente excludo do salrio indireto. Entre os encargos , destacam-se os custos de resciso contratual, divididos entre os que retornam ao trabalhador (aviso prvio e indenizao de 40% sobre o saldo do FGTS) e os que no retornam" td94ja23-10,"Cariocas j podem montar empresa em casa Lei permite que empresrio use residncia como local de trabalho e pague IPTU na categoria residencial Da Sucursal do Rio e da Agncia Folha O microempresrio carioca j pode montar sua empresa dentro de casa. A lei com a proposta de conciliar moradia e trabalho foi sancionada em 16 de dezembro passado pelo prefeito Csar Maia (PMDB). Uma das vantagens manter o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) do pequeno empresrio na categoria residencial mais barata que a comercial. A lei 2.062 considera 80% dos imveis do municpio como prprios para conciliar residncia e local de trabalho. As micro e pequenas empresas podem funcionar na casa de seus donos desde que no estejam situadas em local de preservao ambiental, em torno de bens tombados ou sem ordem do condomnio, no caso das reas multifamiliares. Cada uma dessas empresas pode ter, no mximo, dois empregados. Algumas atividades so vetadas pela lei, como instalaes mdicas, estabelecimentos de ensino, venda de combustveis, material qumico, armas e munio, casas de espetculos e parques de diverses. Para obter o alvar de funcionamento em casa, preciso procurar a Inspetoria Regional de Licenciamento e Fiscalizao do bairro em que o imvel foi construdo. Quem quiser fechar uma microempresa j existente e se transferir para a residncia, basta comunicar a troca de endereo inspetoria. O vereador Roberto Saturnino Braga (PSB) que apresentou o projeto que originou a lei instalou em seu gabinete na Cmara de Vereadores um balco de informaes. Os interessados podem se informar ainda atravs do telefone (021) 292-4141.EmEm So Paulo, as pequenas empresas tambm podem funcionar em residncias, mas h algumas restries. A Lei de Zoneamento do municpio prev cinco reas de instalaes, que vo da estritamente residencial at a totalmente industrial. Por determinao estadual, a microempresa que estiver funcionando na moradia deve ter entrada separada. Servio Os micro e pequenos empresrios de Belo Horizonte j tm disposio um servico de consultoria gratuita, atravs do qual podem organizar e planejar melhor os seus negcios. Trata-se da Clnica da Micro e Pequena Empresa, criada pelo Clube dos Diretores Lojistas (CDL) de Belo Horizonte em conjunto com Sebrae-MG. A clnica funciona na sede do Clube de Diretores Lojistas (CDL) de Belo Horizonte e conta com oito consultores, que do assessoria nas reas financeira, mercadolgica (administrao de material, vendas e formao de preos), organizacional, de recursos humanos, contbil, tributria, trabalhista e de informtica. O servio atende os associados do CDL e pequenos empresrios indicados pelo Sebrae. Segundo Marcos Alexandre Ricaldoni de Miranda, vice-presidente de tecnologia e gesto empresarial do CDL, a idia da clnica surgiu da necessidade de dar suporte tcnico aos associados. O servio pode fazer ainda pesquisas de mercado.","Cariocas j podem montar empresa em casa Lei permite que empresrio use residncia como local de trabalho e pague IPTU na categoria residencial Da Sucursal do Rio e da Agncia Folha A lei 2.062, sancionada em 16 de dezembro passado, permite que microempresrio carioca monte sua empresa na prpria residncia , aproveitando-se de IPTU mais barato. Desde que as residncias no estejam situadas em local de preservao socioambiental , em torno de bens tombados ou sem permisso do condomnio. Tambm restringe algumas atividades como instalaes mdicas, estabelecimentos de ensino , venda de combustveis, material qumico, armas e munio, casas de espetculos e parques de diverso. Em So Paulo, tambm h lei equivalente, com as devidas restries. Em Belo-Horizonte, os micro e pequenos empresrios contam com a Clnica da Micro e Pequena Empresa, que presta consultoria gratuita nas reas financeira, mercadolgica, organizacional, de recursos humanos, contbil, tributria, trabalhista e de informtica. " mu94de14-a,"Por exigncia da editora, as livrarias sul-africanas s comearam a vender no final da tarde de ontem Longa Caminhada para a Liberdade (Macdonald Purnell, 630 pgs., R$ 20), a autobiografia de Nelson Mandela. No foi a nica exigncia voltada a ampliar o impacto de uma obra que, sem publicidade, j tem garantia de vendas por retratar a vida de um dos polticos mais importantes da atualidade. Em entrevista anteontem rdio 702, a mais ouvida de Johannesburgo, Mandela afirmou que teve que lutar muito com a editora americana para que o livro mantivesse suas caractersticas originais. Apesar disso, ele acabou aceitando personalizar o livro, que narrado na primeira pessoa. Isso foi feito para agradar o enorme pblico leitor dos EUA e contrariou, de certa forma, a idia incial de que o livro deveria ser um registro histrico, afirmou. Mas essa declarao apenas se soma aos 115 captulos do livro para demonstrar uma das caractersticas mais marcantes do presidente sul-africano: a humildade. Mandela diz que sua politizao no se deu de repente: O acmulo de mil desfeitas, mil indignidades e mil momentos foram produzindo uma raiva, uma rebeldia, um desejo de lutar contra o sistema que aprisionou meu povo. Aps 27 anos de priso, Mandela liderou uma transio que muitos julgavam impossvel: a tomada do poder sul-africano pelos negros. Mandela disse na entrevista que quer ser considerado um santo, se por santo entendemos um pecador que continua tentando. E pediu pacincia populao para as mudanas que ainda esto por vir. O livro foi escrito em colaborao com o editor Richard Stengel, que acompanhou Mandela desde sua libertao em 1990. Apesar dos valores liberais da universidade, eu nunca me senti totalmente confortvel l. Sempre ser o nico africano, alm dos empregados, ser considerado na pior das hipteses uma curiosidade e na pior como um intruso, no uma experincia agradvel. (...) Wits abriu um novo mundo para mim, um mundo de idias e crenas e debates polticos, um mundo onde as pessoas eram passionais sobre poltica. Eu estava entre intelectuais brancos e indianos da minha prpria gerao, jovens que formariam a vanguarda dos mais importantes movimentos polticos dos anos seguintes. Descobri pela primeira vez pessoas da minha idade firmemente alinhadas com a luta pela libertao, que estavam preparadas para se sacrificar pela causa dos oprimidos. Logo depois do amanhecer do dia 5 de dezembro de 1956, eu fui despertado por uma forte batida na porta. Nenhum vizinho ou amigo bate na porta de um jeito to peremptrio e eu sabia imediatamente que era a polcia de segurana. Eu me vesti rapidamente e encontrei o chefe de polcia Rousseau, um oficial da segurana que era conhecido na rea, e dois policiais. Ele apresentou um mandado de busca, quando os trs imediatamente comearam a revistar toda a casa procurando por jornais ou documentos incriminatrios.(...) Depois de 45 minutos, Rousseau de fato disse: 'Mandela, ns temos uma ordem judicial para prend-lo. Venha comigo.' Eu olhei para a ordem e as palavras saltaram: ALTA TRAIO. O maior acontecimento do pas em 1958 eram as eleies gerais 'gerais' apenas no sentido de que 3 milhes podiam participar, mas nenhum dos 13 milhes de africanos. Debatemos sobre realizar ou no um protesto. Uma eleio em que apenas brancos podiam participar fazia diferena para os africanos? A resposta, no que dizia respeito ao CNA, era de que no podamos ficar indiferentes mesmo quando ramos deixados de fora. Ns estvamos excludos, mas no insensveis: a derrota do Partido Nacional seria do nosso interesse e de todos os africanos. Em 1969, chegou um jovem carcereiro, que parecia particularmente ansioso em me conhecer. Eu tinha ouvido rumores de que nosso pessoal do lado de fora estava organizando uma fuga para mim e tinha infiltrado um carcereiro na ilha que iria me ajudar. Gradualmente, esse homem me informou que estava planejando a minha fuga. Ouvi o plano inteiro e no revelei a ele como soou sem confiana. Eu consultei Walter e ns concordamos que este homem no merecia confiana. Nunca disse a ele que eu no faria, mas nunca tomei nenhuma das aes exigidas para implementar o plano. Ele deve ter entendido o recado porque foi logo transferido para fora da ilha. Minha desconfiana era justificada porque ficamos sabendo que o carcereiro era agente da Boss, agncia de inteligncia secreta da frica do Sul. Eu acordei no dia da minha libertao depois de poucas horas de sono, s 4h30. Onze de fevereiro era um dia sem nuvens, de fim de vero, na Cidade do Cabo. Eu fiz uma verso reduzida dos meus exerccios usuais para regime, me lavei e tomei o caf da manh. (...) Eu estava espantado e um pouco assustado. No esperava uma cena como aquela no mximo, eu tinha imaginado que haveria algumas dzias de pessoas, principalmente os carcereiros e suas famlias. Mas isso provou ser apenas o comeo. Percebi que ns no tnhamos nos preparado totalmente para o que estava para acontecer.","O lanamento da autobiografia de Nelson Mandela ,Longa Caminhada para a Liberdade, mesmo sem propaganda, trazia a expectativa de recorde de venda, dada a importncia do lder biografado. O autor, entrevistado, disse que preferia manter um tom de impessoalidade , para retratar com iseno um momento histrico, mas o fez em primeira pessoa para agradar o enorme pblico dos EUA, segundo declarou. Para ele , a prpria formao poltica se alicerou nos mltiplos sofrimentos, humilhaes, que acrisolaram uma rebeldia capaz de se exteriorizar em luta contra o sistema. Vinte e sete anos de priso foram uma escola para o lder , que posteriormente comandou a devoluo do poder aos negros. Na entrevista , ele pediu pacincia populao para aguardar as mudanas que ainda viriam. Falou de sua experincia na universidade , que, apesar de cultivar valores liberais, no era o habitat em que se via vontade: sentia-se, s vezes, um objeto de curiosidade, um intruso. No entanto, foi uma oportunidade de abertura para o mundo das idias essa convivncia com jovens intelectuais brancos e indianos, dispostos a lutar pela libertao. Seu aprisionamento em dezembro de 1956 veio de forma arbitrria por intermdio de uma ordem , que falava de alta traio. Na priso, assistiu s eleies gerais, das quais somente participaram 3 milhes de brancos. Em 1969, chegou um jovem carcereiro, que supostamente facilitaria sua fuga. Mas sua intuio lhe dizia que era um traidor: de fato, pertencia inteligncia secreta da frica do Sul . Na entrevista, falou tambm do dia de sua libertao, em que estava espantado e um pouco assustado. " td94ja23-11,"Veja como enfrentar a 'ressaca' nas vendas Para amenizar a tradicional baixa de janeiro e fevereiro, os lojistas apelam para promoes e descontos NELSON ROCCO Da Reportagem Local Para minimizar os prejuzos com a tradicional ressaca de vendas dos meses de janeiro e fevereiro, os pequenos comerciantes esto apostando em decontos e promoes. Vale tudo, desde parcelamento em duas, trs ou quatro vezes sem acrscimo, descontos que chegam a 50% sobre o preo vista, anncios em jornais e revistas e oferta de brindes. Quem ainda no escolheu suas armas no pode perder tempo, principalmente nos setores de roupas e calados que registram tradicionalmente os piores resultados (veja quadro ao lado). O Shopping das Meias, na rua Oscar Freire, nos Jardins, por exemplo, est parcelando qualquer compra em quatro pagamentos quinzenais. Com isso, tem conseguido manter as vendas em cerca de 50 peas por dia. Em dezembro, vendamos entre 150 e 200, diz Josephina Beraldi, 60, gerente. A Prola Negra Calados, no Itaim Bibi, outra que entrou em promoo no dia 10 de janeiro. Qualquer mercadoria vendida em dois ou trs pagamentos. Para compras vista, a loja oferece 15% de desconto e aceita cartes de crdito sem acrscimo. Bernadete Alves dos Santos, gerente, diz que as vendas melhoraram com a liquidao. Por dia, saem de 20 a 25 pares de sapatos, a metade de dezembro. A loja de confeces femininas Sueli Censini, do Shopping Iguatemi, manteve os preos da coleo vero iguais aos de dezembro. Alm disso, toda a linha bsica da loja pode ser paga em duas vezes. Slvia Misrahi, assessora de moda, diz que a promoo tem mostrado resultados. As pessoas vm comprar alguma coisa e acabam levando uma pea da promoo, devido ao preo baixo. Telefonar para os clientes ou enviar correspondncias informando de promoes e novos produtos que chegaram loja so tcnicas pouco usadas pelo comrcio, mas que podem trazer bons resultados. Sidnei Docal, consultor da Associao Comercial de So Paulo, diz que para enfrentar a queda nas vendas, preciso ser agressivo. Ele sugere que as empresas de pequeno porte adotem prticas comuns s de grande, como manter um cadastro atualizado dos clientes, com informaes sobre seus hbitos de consumo, e usar esses dados para contatos por telefone ou por correspondncia. preciso comear a pensar a longo prazo, diz. Melhora As vendas no comrcio em So Paulo, nos primeiros dias de janeiro, revelam uma ligeira melhora em comprarao s do ano passado considerado o pior ms desde 79. Dados da Associao Comercial de So Paulo mostram que as consultas ao sistema Telecheque (vendas vista) somaram 356.433 contra 316.906 em 93.","Veja como enfrentar a ressacanas vendas Para amenizar a tradicional baixa de janeiro e fevereiro, os lojistas apelam para promoes e descontos NELSON ROCCODa Reportagem Local Para suavizar o refluxo de vendas em janeiro e fevereiro, os pequenos comerciantes apostam em descontos e promoes. Esto parcelando em at quatro vezes sem aumento e oferecem descontos de at 50% sobre o preo vista, anncios em jornais e revistas e brindes. J tempo de os pequenos comerciantes escolherem suas armas, principalmente no setor de roupas e calados. O Shopping das Meias, na rua Oscar Freire, est vendendo em at 4 pagamentos quinzenais. A Prola Negra Calados , no Itaim Bibi, parcela qualquer mercadoria em at trs pagamentos e d 15% de desconto para preo vista. A loja Sueli Censini, do Shopping Iguatemi, segurou os preos de dezembro para a sua coleo de vero; e ainda aceita dois pagamentos. Telefonar para os clientes ou enviar correspondncias pode trazer bons resultados.E Sidnei Docal da Associao Comercial de So Paulo, sugere que as empresas de pequeno porte imitem as grandes , mantendo cadastro atualizado dos clientes , com informaes sobre seus hbitos." td94fe20-09,"Servio requer organizao e pontualidade Empresas do setor lucram com a taxa cobrada pela entrega ou com o desconto no preo dos bilhetes ROBERTA JOVCHELEVICH Free-lance para a Folha Atividade consagrada nos Estados Unidos e Europa, a entrega em casa de ingressos para shows, peas de teatro, eventos esportivos e culturais, entre outros, desponta como nova oportunidade de negcio no Brasil. Com uma linha telefnica, de preferncia com pelo menos dois ramais, possvel comear no ramo. O investimento vai variar de acordo com a infra-estrutura (funcionrios, carro ou moto para a entrega). Um computador com impressora e um aparelho de fac smile para se comunicar com as bilheterias, pois os ingressos no comercializados pelas empresas devem ser devolvidos em tempo hbil para que possam ser vendidos ao pblico tm grande utilidade na rotina da empresa. A comercializao de ingressos possvel atravs de um acerto com as produes de cada espetculo. Elas repassam uma cota de ingressos empresa, que vai funcionar como canal paralelo de venda. O lucro do negcio sai da taxa cobrada pela entrega. Em alguns casos, as produes do desconto s empresas no preo do ingresso. Dificilmente alguma empresa consegue exclusividade: os organizadores preferem distribuir os ingressos em diferentes pontos de venda. Na hora de iniciar o servio necessrio delimitar uma rea a ser atendida. Caso contrrio, dizem empresrios do setor, o custo operacional (combustvel e tempo) acaba sendo muito alto, e o preo final da taxa acaba inviabilizando o negcio. Estipular um nmero mnimo de ingressos para fazer a entrega outro ponto importante -o limite mximo vai ser dado pela cota disponvel. As empresas do ramo fazem as entregas a partir do pedido de pelo menos dois ingressos. Pontualidade e infra-estrutura de entrega, bom atendimento e uma taxa que oferea uma boa relao custo-benefcio so algumas das regras exigidas para que o negcio deslanche. Segundo Anselmo Tom, 40, scio da Tele-Ingressos Statione, a venda de ingressos com entrega em casa responde por 50% do faturamento da empresa, que atua tambm no setor de administrao de estacionamentos e de servios de entregas rpidas para pessoas jurdicas. A Tele-Ingressos cobra, atualmente, uma taxa de CR$ 850 por ingresso. Esse valor nos permite atender tanto regies prximas quanto as mais distantes, afirma Tom, que atende praticamente toda a regio da Grande So Paulo. A Fun by Phone comeou comercializando ingressos de espetculos internacionais. Desde o ano passado, a empresa passou a trabalhar tambm com a entrega em casa de ingressos para eventos nacionais. A taxa cobrada varia de acordo com o preo da entrada. Segundo Rosaly Papadopol, 37, gerente comercial da Fun by Phone, o mercado est em pleno crescimento.","Servio requer organizao e pontualidade Empresas do setor lucram com a taxa cobrada pela entrega ou com o desconto no preo dos bilhetes ROBERTA JOVCHELEVICH- Free-lance para a Folha J com tradio na Europa e nos Estados Unidos, a entrega de bilhetes para uma variedade de eventos surge como uma oportunidade de negcios no Brasil. Com uma linha de telefone, possvel iniciar. O investimento depende da infra-estrutura : funcionrios, carro ou moto, computador com impressora , fax para comunicar-se com as bilheterias. possvel um acerto com a produo do espetculo. Os produtores repassam uma quantidade de ingressos empresa, cujo lucro vem da taxa de cobrana da entrega. . No h exclusividade de empresas: os produtores preferem diversificar os pontos de venda. Dado o custo operacional, necessrio delimitar a rea de entrega e estipular a quantidade mnima de bilhetes para cada entrega. O sucesso do negcio depende da pontualidade, infra-estrutura , bom atendimento e uma taxa condizente com o custo-benefcio. Anselmo Tom, scio da Tele-Ingressos Statione, diz que a venda de ingressos com entrega responsvel por 50% do faturamento . A Fun by Phone comeou com a venda de ingressos de espetculos internacionais e , atualmente, tambm faz entrega para eventos nacionais. " co94ag28-15,"'Me preparei para levar tiros' 'Senti que ele mereconheceu. Fiqueigelado. Eu suava. Masconsegui me controlar' 'Foi o pior momentoda minha vida. Haviasido desmascaradoem plena Bolvia' Da Reportagem Local No final de 91, viajei para Corumb (MT) para tentar pegar Ramon, grande traficante boliviano que preparava a entrega de 50 quilos de cocana em So Paulo. A droga sairia da Bolvia, passaria por Corumb e da viria para So Paulo. Fiquei no hotel Santa Mnica. No registro do hotel, minha profisso: empresrio. Fiz chegar ao conhecimento de Ramon que um grande empresrio estava querendo falar com ele para comprar cinco quilos de p. No foi difcil. Nossa vantagem que que traficantes tm muito produto para poucos compradores. Quando surge um novo mercado, eles do a vida para t-lo. Ramon mandou um empregado ao hotel marcar almoo para o dia seguinte. Em vez de ficar feliz em ter atingido o primeiro objetivo, fiquei tenso. No dormi direito aquela noite. Tive pesadelos. No restaurante, foi pior ainda. Enquanto eu o esperava, minhas mos suavam, as pernas tremiam. Ramon chegou. Sentou e se apresentou. Minha sorte foi que ele gostou de mim. Foi o primeiro a falar sobre o assunto: 'Soube que trabalhamos com a mesma mercadoria', ele disse. Eu confirmei. Ramon me convidou para ir a sua casa no dia seguinte, em Porto Soares, uma cidade boliviana muito pobre a cerca de 20 km de Corumb. Mas a casa do homem era fantstica. Serviu usque. Ramon disse que preparava um carregamento de 50 kg para So Paulo e deu seu preo: US$ 2.400 por quilo. Aprovei. Marcamos novo encontro no dia seguinte, na Bolvia. Na verdade, a trabalho eu no poderia ir l. Mas fui assim mesmo. Ele me levou a um galpo perto de sua casa. Um empregado me mostrou a cocana. Mas eu no podia prend-lo. Ele no estava no Brasil. Seria ilegal. Voltei para a casa de Ramon. Combinamos que o pagamento s seria feito em So Paulo. Veio o imprevisto. Ramon quis que conhecesse o motorista que levaria a droga, Lus. Assim que Lus entrou na sala, senti que me reconheceu. No sei como... a sensao... a forma como me olhou. Fiquei gelado... Eu suava. Mas consegui me controlar. E Lus no falou nada ali. Ramon me abraou e se despediu. Eu teria que ir embora com Lus, que tambm morava em Corumb. Um txi nos esperava na porta da casa de Ramon. Assim que entramos no txi, Lus perguntou de bate-pronto: 'O patro sabe quem voc ?' Dessa vez, o meu susto foi maior. At ento eu agia e parecia um grande empresrio. Ser que ele me reconhecera? Ser que eu j havia prendido ele alguma vez? Lus reforou o tom de voz: 'Quero saber se o patro sabe que voc policial!' Foram os piores momentos da minha vida. Eu havia sido desmascarado em plena Bolvia. Tentei disfarar. 'No contei no', disse a ele. 'No achei ser o caso. Voc acha que precisa?' Lus se enfureceu: 'Se eu acho que precisa contar?!' No havia mais sada. O taxista j manobrava o carro para voltar casa de Ramon. Eu sentia que ia morrer. Mas essa certeza, inexplicavelmente, me trouxe tranquilidade. Eu tinha que fazer algo, e fiz. Continuei meu papel, como um ator. Disse a Lus que era policial, mas tambm era traficante. E da? Falaria com Ramon, sim. Ramon achou estranho voltarmos. Na sala dele, me preparei para levar tiros nas costas. Pensei na minha mulher, filhos, nos amigos... E falei... Quando o traficante ouviu a revelao se apavorou. Mantive a calma. Por meia-hora falei que no havia problemas em ser policial, que meu esquema era perfeito. Ganhei o cara. No final, Ramon ficou tranquilo e mais feliz. Achou que tinha achado o esquema seguro dentro da polcia. Marcou a entrega para sete dias depois em So Paulo, na entrada da marginal Tiet. A carga seria transportada por Lus e pelo gerente de Ramon, Manoel. Eu sabia que no daria para pegar Ramon, mas ia desarticular uma parte da rede em So Paulo. Eles colocavam pelo menos 50 quilos por ms na cidade. Voltei para Corumb com Lus. Fiquei sabendo como ele me reconhecera. Ele trabalhou numa transportadora na zona cerealista de So Paulo e j tinha me visto vrias vezes dentro do carro da polcia. Foi muito azar e muita sorte... Na apreenso da carga, uma semana depois, tive mais sorte ainda. Quando passavam por Campinas, Lus encontrou um amigo em um posto. Manoel, que estava junto, no desceu do caminho. Mas viu a cena e estranhou que o motorista falasse com algum estranho. Quando ambos foram presos, na entrada da marginal Tiet, Manoel fez chegar ao conhecimento de Ramon, atravs de advogados, que Lus era o traidor e culpado, que havia delatado tudo a um sujeito em um posto de gasolina. Dois dias depois de presos, Ramon telefonou da Bolvia para minha casa (eu havia dado o nmero). No desconfiou de nada. Pediu mil desculpas por uma falha tcnica na entrega e disse que providenciaria nova carga para a semana seguinte. Fiz o papel de bravo e insatisfeito. Disse que desse jeito no dava para negociar e desliguei. Ainda penso que vou peg-lo. Relato do investigador Hurdt","Me preparei para levar tiros Senti que ele me reconheceu. Fiquei gelado. Eu suava. Mas consegui me controlar Foi o pior momento da minha vida. Havia sido desmascarado em plena Bolvia Da reportagem Local No final de 91, viajei para Corumb para tentar pegar Ramon, grande traficante boliviano. Mandei recado a ele dizendo que um grande empresrio estava interessado em cinco quilos de p. Ramon mandou um empregado ao hotel para marcar um almoo para o dia seguinte.Em vez de ficar feliz com a primeira etapa, fiquei nervoso. No restaurante , foi ainda pior. Ramon chegou, sentou-se e apresentou-se. Por sorte, foi com a minha cara. Me convidou para ir sua casa no dia seguinte, em Porto Soares. Disse que estava preparando uma carga de 50 quilos para So Paulo. US$2.400 o quilo. Aprovei. Ele me levou a um galpo perto da casa e um empregado mostrou a cocana. Por estar na Bolvia no podia prende-lo. Combinamos que a carga seria entregue em So Paulo, na marginal do Tiet. Ramon quis que conhecesse o motorista que levaria a droga, o Lus. Assim que o vi, senti que me reconheceu e gelei. Eu teria que ir embora com ele. No txi , ele foi direto: O patro sabe quem voc ? . Me apavorei. Ele alteou a voz: Quero saber se o patro sabe que voc policial! Tentei disfarar, neguei. No havia sada . O taxista j manobrava para voltar casa de Ramon, que estranhou. Com a minha confisso , ficou apavorado. Tranqilizei-o dizendo que o meu esquema como policial era perfeito . Na volta a Corumb com Lus, fiquei sabendo como me reconhecera: trabalhou numa transportadora na zona cerealista de S.Paulo. Quando ele e Manoel vieram entregar a mercadoria, passando por Campinas, Lus encontrou um amigo num posto. Manoel estranhou que falasse com um estranho. Esse detalhe me salvou , pois , ao serem presos na marginal do Tiet, Manoel fez chegar a Ramon a informao de que Lus os tinha trado. Ramon no s no suspeitou como me pediu desculpas . " op94ag10-a,"Um dos aspectos positivos da atual poltica cambial reside no fato de ela no pretender envolver-se na defesa de uma taxa de cmbio real potencialmente insustentvel a longo prazo. O ministro da Fazenda tem dito, com frequncia, que o compromisso com o cmbio estvel vai at dezembro. No h qualquer obrigao de interveno no mercado de cmbio, a no ser que a cotao do dlar supere um real. Essas informaes so importantes porque o nosso comrcio exterior est longe de apresentar resultados satisfatrios. Entre 1988 e 1993, com um Produto Interno Bruto revelando um crescimento mdio da ordem de 0,8% e uma ampla capacidade ociosa no setor industrial, nossas exportaes cresceram a uma taxa de apenas 2,8% ao ano, enquanto as exportaes mundiais cresciam a 6,2% ao ano. Nossa participao nas exportaes mundiais caram de 1,2% para 1% no perodo. Por outro lado, as importaes, graas desburocratizao, eliminao de barreiras no-tarifrias e dramtica reduo tarifria, cresceram taxa mdia anual de 12%. Nossa participao nas importaes mundiais passaram de 0,6% para 0,8%, forando um amplo aumento da produtividade e da qualidade da produo nacional para enfrentar a competio externa. O saldo exagerado da balana comercial foi reduzido de 19,2 bilhes de dlares, em 1988, para 13,1 bilhes, em 1993. A situao do balano de transaes correntes no , entretanto, to brilhante como se quer fazer crer. Nos ltimos seis anos (1988-1993) tivemos um saldo positivo em transaes correntes da ordem de 6,7 bilhes de dlares, praticamente construdo pelas remessas unilaterais de brasileiros que esto trabalhando no exterior e que atingiram a 6,4 bilhes de dlares no perodo. Sem essas remessas, o Brasil teria registrado equilbrio nas transaes correntes ao longo dos ltimos seis anos. A fantstica acumulao de reservas internacionais (no conceito de caixa) nos ltimos 29 meses (janeiro de 1992 a maio de 1994) da ordem de 30 bilhes de dlares deveu-se praticamente ao movimento de capitais estimulado pela maior taxa de juro real de que se tem notcia no mundo civilizado. Ela foi financiada por emisses de papel-moeda e pelo crescimento da dvida interna, num movimento de auto-reforo: juro real estratosfrico atrai capital externo, o que aumenta a dvida interna e exige juro real ainda mais alto para induzir os agentes a ret-la em suas mos. Tudo isso custa da manuteno de ampla capacidade ociosa e desemprego para milhes de brasileiros... O que acontecer quando os juros tiverem que diminuir? Provavelmente teremos no mercado de bens e servios um aumento do nvel de atividade (o que desejvel), que retirar um dos estmulos s exportaes e elevar o nvel das importaes (o que tambm saudvel). E no mercado financeiro uma reduo do fluxo de entrada. S ento saberemos se manipular a taxa de cmbio nominal pelo diferencial de juros interno e externo e esperar que a taxa de cmbio real se ajuste pela reduo dos preos internos foi uma aposta sustentvel. Mas no ser a hiptese implcita nesse modelo (flexibilidade dos preos para baixo) um pouco extravagante?","No insistir na manuteno de uma taxa cambial insustentvel a longo prazo tem sido uma boa poltica do ministro da Fazenda. Isso importante porque nosso comrcio exterior est em baixa. O crescimento do PIB medocre, a capacidade ociosa no setor industrial grande e as exportaes ( entre 1988 e 1993) s cresceram 2,8% , diante de um mdia mundial de 6,2%. Em contrapartida, as importaes cresceram , em mdia, 12%. No mesmo perodo ( 1988-1993) , o saldo da balana comercial veio de 19,2 bilhes de dlares para 13,1 . Ainda no perodo, o saldo positivo de 6,7 bilhes de dlares nas transaes correntes se deveu s remessas de brasileiros que trabalham fora do pas. J de 1992 a 1994, a acumulao de reservas de 30 bilhes de dlares veio da generosa taxa de juros oferecida ao capital internacional, com o trgico aumento da dvida interna e do desemprego de milhes de brasileiros. A reduo dos juros possivelmente estimular a produo e reduzir as importaes e o ingresso de dlares de especulao." po96fe28-a,"BRASLIA - O presidente da Central nica dos Trabalhadores (CUT), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, foi a grande estrela, ontem, na audincia pblica realizada no plenrio da Cmara dos Deputados, sobre a reforma da Previdncia. Seu discurso, de cerca de 15 minutos, foi o nico assistido pelo presidente da Cmara, deputado Lus Eduardo Magalhes (PFL-BA), e pelos 400 deputados presentes audincia. E foi diante dessa platia que Vicentinho fez crticas veementes ao substitutivo do deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM), alm de defender o fim imediato do Instituto de Previdncia dos Congressistas (IPC). Lus Eduardo Magalhes, alis, no se fez esperar. E, tambm ontem, apresentou aos lderes de todos os partidos o projeto de lei que extingue o IPC. Logo em seguida, porm, ao perceber que o clima no era favorvel, cancelou a audincia pblica que seria feita hoje, sobre a aposentadoria dos parlamentares. Pelo projeto de extino do IPC, que deve ser votado dia 6 de maro, os parlamentares que j cumpriram os requisitos para a aposentadoria - oito anos de mandato e 50 de idade - podero optar pelo benefcio ou ter suas contribuies ressarcidas. Os outros recebero o dinheiro de volta e os que j gozam do benefcio passaro a ser pagos pelo Tesouro Nacional. A periculosidade, a insalubridade e a penosidade dos parlamentares no to grande assim, para que vocs se aposentem aps oito anos de mandato. Como vamos justificar esta aposentadoria perante a sociedade?, indagou Vicentinho, que foi aplaudido por cerca de 200 sindicalistas, que estavam nas galerias. Apesar de criticar o substitutivo de Euler Ribeiro, Vicentinho enumerou os avanos conquistados pelas centrais sindicais na reforma da Previdncia - como a manuteno do teto de 10 salrios mnimos para a aposentadoria, a permanncia da aposentadoria especial de professores e trabalhadores rurais e a criao da gesto quadripartite. Euler - Os pontos de discordncia com o relatrio de Euler Ribeiro so muitos. A irritao da CUT com o deputado to grande, que a central elaborou documento - entregue de manh a Lus Eduardo - onde so feitos ataques a Euler Ribeiro. Em 29 pginas, a CUT chama o texto de confuso e, em vrios momentos, contesta o relator, dizendo que ele no cumpriu o acordo com os sindicalistas. tarde, as consideraes da CUT sobre Euler Ribeiro foram retiradas do documento, a pedido dos lderes do governo, deputado Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), e do PMDB, Michel Temer (SP). Na verso final, s ficaram os pontos que a CUT no considerou contemplados pelo relatrio, mas que fizeram parte do acordo com as centrais sindicais. O presidente da Cmara tambm est indignado com Euler Ribeiro, que pediu para no comparecer audincia pblica da Previdncia. Anteontem noite, o relator procurou Lus Eduardo, para perguntar se sua presena seria importante, pois estava querendo ir a Manaus, participar das comemoraes do centenrio do Teatro Amazonas, que contaram com a presena do presidente Fernando Henrique. Alm de Vicentinho, discursaram os presidentes da Fora Sindical, Luiz Antonio Medeiros, da Confederao Geral dos Trabalhadores (CGT), Canind Pegado, da Central Geral dos Trabalhadores (CGT), Antnio Neto, e da Confederao Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), Francisco Urbano. Todos eles defenderam a criao de um sistema nico de Previdncia para os trabalhadores privados e do setor pblico. Detalhe: Medeiros foi o nico vaiado pelos sindicalistas presentes audincia.","Ontem, no plenrio da Cmara dos Deputados, Vicentinho ,da CUT, foi destaque. Com a casa cheia, fez crticas veementes ao substitutivo do relator Euler Ribeiro e defendeu o fim imediato do IPC. O presidente da Cmara, Lus Eduardo, apresentou depois o projeto para a extino do Instituto . Mas , vendo ventos contrrios, suspendeu a audincia pblica , marcada para hoje, sobre a aposentadoria dos parlamentares. O projeto j garante o benefcio com oito anos de mandato e 50 de idade. Os outros recebero a devoluo do dinheiro. Vicentinho ironizou as duras condies de trabalho dos parlamentares para merecerem tal privilgio.Foi muito aplaudido pelos sindicalistas. Suas crticas ao substitutivo de Euler Ribeiro no impediram de notar os avanos conquistados pelas centrais sindicais na reforma da Previdncia. O documento entregue a Lus Eduardo, em que criticava o texto de Euler foi no mesmo dia expurgado dos ataques e somente manteve as referncias aos pontos que no foram contemplados pela CUT. Tambm o presidente da Cmara manifestou indignao contra Euler, por este ter pedido para no comparecer audincia pblica da Previdncia. Alm de Vicentinho, vrios outros presidentes de entidades trabalhistas se pronunciaram , defendendo um sistema nico de aposentadoria para servidores pblicos e iniciativa privada. " td94ju12-03,"Saiba como calcular o valor de um negcio Determinar o preo de uma empresa 'pronta' requer levantamento de itens como caixa, estoque e dvidas NELSON ROCCO Da Reportagem Local Saber calcular quanto vale um estabelecimento fundamental para fazer um bom negcio na hora de vender ou comprar uma micro ou pequena empresa. O procedimento tambm importante quando o objetivo buscar um novo scio. Tomar o valor do faturamento mensal e multiplicar por dez para chegar ao valor total da empresa tem sido a praxe do mercado. H uma srie de fatores, no entanto, que influenciam o valor de um negcio e devem ser levados em conta. Celso Marchi, 47, economista e consultor do Sebrae SP (Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de So Paulo), diz que preciso determinar o patrimnio lquido da empresa. Para chegar ao patrimnio, deve-se calcular ativo e passivo (veja quadro ao lado). Fazem parte do ativo todo o dinheiro em caixa, aplicaes financeiras, estoques, crditos a receber, veculos, telefones, mquinas e instalaes. Para se chegar ao valor de cada item, recomendvel fazer uma pesquisa junto aos fornecedores e revendedores. O final do ms a melhor poca para fazer os clculos, diz Marchi. Isso porque pode-se ter idia do faturamento mensal e de todas as contas a pagar. Chegando-se ao total do ativo, preciso deduzir todas as contas que a empresa tem a pagar para determinar o patrimnio lquido. Se o nmero apurado for positivo, esse o valor contbil da empresa, afirma o consultor. Se for negativo, significa que a empresa tem mais dvidas do que ela vale e, para um eventual comprador, significa um negcio de alto risco. Se o prdio fizer parte da negociao, tambm deve ter o valor includo na soma. preciso verificar na prefeitura se no h dbitos de impostos. Uma busca em cartrios de registro de imveis pode fornecer informaes sobre se o prdio est penhorado ou hipotecado em garantia de dvidas. Caso o imvel seja alugado, segundo Marchi, necessrio verificar o tempo de durao do contrato e se o proprietrio est de acordo com a troca de locatrio. Um ponto com contrato de aluguel de um ano vale menos em relao a outro com prazo de cinco anos. Segundo o consultor do Sebrae, um dos grandes atrativos em uma negociao so os estoques. muito importante verificar se eles esto pagos. Sonia Regina dos Santos, 42, est vendendo sua empresa de aluguel de roupas, a Kareni Della Firenzi Rigor, que fica em Santana (zona norte de So Paulo), por US$ 25 mil. A empresa fatura US$ 8.000 por ms e tem instalaes completas, incluindo mquinas de costura, mquina de escrever e geladeira. A empresria diz, no entanto, que o maior valor de Kareni est nos estoques. So 500 peas de roupas masculinas, femininas, infantis e vestidos de noiva. Estoque tambm o principal atrativo da Games World Locadora, do bairro de Santo Amaro (zona sul de So Paulo), que est venda por US$ 43 mil. Alm de consoles de videogame e aparelhos de TV, a locadora tem um acervo de 740 cartuchos de jogos. Marchi diz que em negociaes para a admisso de um novo scio importante levantar dados sobre o passado financeiro do candidato.","Saiba como calcular o valor de um negcio Determinar o preo de uma empresa prontarequer levantamento de itens como caixa, estoque e dvidas NELSON ROCCODa Reportagem Local Saber avaliar um estabelecimento fundamental para um bom negcio de compra ou venda de uma micro ou pequena empresa. A praxe de mercado tem sido tomar o faturamento do ms e multiplicar por dez. Mas h vrios outros fatores interferentes. Celso Marchi, economista e consultor do Sebrae SP, informa que necessrio determinar o patrimnio lquido da empresa. Para tanto, deve-se calcular o ativo e passivo. O ativo composto pelo dinheiro em caixa, aplicaes financeiras, estoques, crditos a receber, veculos, telefones, mquinas e instalaes. Depois disso, preciso deduzir as contas a pagar. Se o resultado for positivo, esse o valor contbil da empresa. Se negativo, a empresa deve mais do que vale. Caso o prdio faa parte do negcio, deve-se somar seu valor. Mas tambm necessrio verificar dbitos junto Prefeitura e pendncias no cartrio de registro de imveis. Segundo Marchi, um dos atrativos em um negcio so os estoques, mas importa verificar se esto pagos ou no." co94ou22-04,"Militares no querem subir morros Foras Armadas preferem que a ao no Rio seja como a feita na Eco 92, apenas nas ruas Da Sucursal de Braslia As Foras Armadas esto prontas para intervir no combate violncia no Rio. Em reunies fechadas, os comandos do Exrcito, Aeronutica e Marinha na cidade j traam um plano comum de ao. Mas eles trabalham para evitar que tenham de subir os morros. O ministro da Marinha, Ivan Serpa, afirmou ontem que o emprego das tropas nesta operao ter de ser intensivo para dar resultado. Ele culpou ontem a ineficcia da ao policial'' pelo aumento da criminalidade no Rio. Segundo Ivan Serpa, os fuzileiros navais do Rio esto preparados para participar de uma operao a ser comandada pelo Exrcito. Temos condies de combater um oponente armado.'' O ministro disse no haver a menor possibilidade'' de evitar mortes, se os militares subirem os morros para combater o crime. No h nenhum exagero em prever que num combate srio ao crime haver baixas.'' Ele disse que a autoridade qual a polcia subordinada tem responsabilidade pelo aumento da violncia, numa referncia ao ex-governador Leonel Brizola e ao governador Nilo Batista. Ivan Serpa disse ter motivos pessoais para estar absolutamente preocupado'' com a criminalidade no Rio: a partir de janeiro vai morar em Ipanema e os seus filhos e netos j moram na cidade. Na segunda-feira, o ministro da Justia, Alexandre Dupeyrat, passa todo o dia reunido com os comandos das trs Foras no Rio para traar as estratgias. Na tera, ele espera conversar com as autoridades da rea civil. O presidente Itamar Franco receber na quarta-feira o relato do ministro Dupeyrat. A deciso sobre as aes caber a Itamar. O ministro Henrique Hargreaves (Casa Civil) disse que Itamar vai seguir as normas legais e constitucionais para autorizar a operao. Dupeyrat adiantou que o governo tomar medidas de longo prazo. Se no, o crime organizado e a criminalidade em geral tendem a se expandir.'' Ele descartou uma interveno militar que fira a autonomia do governo estadual. O diretor-geral da PF, coronel Wilson Romo, disse ontem em Recife desconhecer solicitao feita por Dupeyrat para que a PF atue em conjunto com as Foras Armadas contra o crime organizado no Rio. Ele confirmou, porm, que a corporao j tem pronto um plano de ao nos morros cariocas. Seriam utilizados, segundo o coronel, de 2.000 a 3.000 homens'' do Exrcito e das polcias Federal e Militar e Civil no cerco aos morros. um plano simples, cercamos a rea, vasculhamos e tiramos os bandidos'', afirmou. Se reagir, ser retribudo altura.'' Segundo Ivan Serpa, uma operao militar de combate ao crime precisar estar acompanhada de uma ao constante'' da polcia. O ministro disse que o esquema montado pelo Exrcito na conferncia Rio-92 criou um hiato'' na criminalidade. Para que melhore definitivamente, a polcia tem de ter uma ao constante.'' A Folha apurou que apesar de se dizer preparada para subir o morro, a cpula das Foras Armadas trabalha para evitar que isso acontea. Os chefes das Foras Armadas temem as consequncias e preferem o que eles chamam de estilo Eco/92'': ficar porta do morro, tomar o asfalto e virar o canho para a favela. No morro sobem a PM e a PF. Os militares no querem subir por dois motivos. Motivo tcnico: militar treinado para matar, destruir, arrasar e tomar uma posio e leva tempo para saber se movimentar de forma defensiva entre barracos e no meio dos civis. Motivo poltico: eles temem que ao primeiro fogo cruzado, matem algum civil e sejam comparados PM. Um general disse ontem Folha, que, nesse momento, ningum lembrar que a morte foi acidental ou em legtima defesa. O Exrcito avisou ao Ministrio da Justia e ao governo estadual que s entrar de forma mais ostensiva no combate violncia sob ordem expressa do presidente. (Silvana de Freitas e Rui Nogueira) Colaborou FABIO GUIBU, da Agncia Folha.","Militares no querem subir morros Foras Armadas preferem que a ao no Rio seja como a feita na Eco 92, apenas nas ruas Da Sucursal de Braslia (Silvana de Freitas e Rui Nogueira) .Colaborou FABIO GUIBU, da Agncia Folha. As Foras Armadas esto preparadas para ajudar no combate violncia no Rio. J tm um plano , mas evitam subir os morros. O ministro da Marinha, Ivan Serpa , afirmou que o emprego de tropas nesse caso tem que ter continuidade. E atribuiu a culpa do crescimento do crime ineficcia policial e atuao do ex-governador Brizola e do atual governador, Nilo Batista. E acrescentou que um combate srio resultar em baixas. O ministro da Justia, Alexandre Dupeyrat, aps encontro com o comando das trs Foras para traar estratgias, entregar ao presidente Itamar Franco um relatrio. Na sua fala, adiantou que tomar medidas a longo prazo, sem o que o crime organizado tender a expandir-se. O coronel Wilson Romo, diretor-geral da PF no confirmou que foi solicitado a atuar junto com as Foras Armadas , mas adiantou que tem um plano para enfrentar os morros. E que simples: junto com as Foras Armadas, polcias Civil e Militar, fcil cercar a rea, vasculhar e prender os bandidos. Os que reagirem tero retribuio equivalente. As Foras Armadas, que relutam em subir os morros, apresentam dois motivos: um tcnico, baseado no fato de que militar treinado para matar, destruir, arrasar , e no fato de que leva tempo para agilizar-se defensivamente entre barracos com moradores; outro poltico , que consiste na possvel comparao com a PM , caso um infortnio leve um policial do Exrcito a matar um civil. " td94jl31-10,"Paulistano sonha em ter sua prpria loja Maioria abriria comrcio ligado a alimentos ou roupas se tivesse capital suficiente para montar um negcio Da Reportagem Local O comrcio , de longe, a atividade preferida pelos paulistanos. Pesquisa Datafolha mostra que 56% dos entrevistados abririam algum tipo de comrcio se tivessem dinheiro para montar um negcio prprio. A rea de servios vem em seguida, com 23% das preferncias. Apenas 6% montariam uma indstria. Ter uma loja de roupas o grande sonho do paulistano. 13% dos que abririam um comrcio gostariam de trabalhar com confeces. Lanchonete e minimercado/mercearia tambm esto em alta. Se somadas, as atividades ligadas alimentao bar, doceria, quitanda etc. aparecem como lderes de interesse (37% dos entrevistados investiriam na rea). Emlio Alfieri, 44, diretor do Instituto de Economia da ACSP (Associao Comercial de So Paulo), acredita que essas duas atividades renem negcios relativamente simples de montar e que no exigem muitos conhecimentos especficos. Basta entender um pouco. H muita informao na imprensa sobre como montar e investir nesses setores, afirma. Para Alfieri, abrir loja de roupas, mercearia ou pizzaria exige menos know-how e investimento que o comrcio de mveis ou de eletrodomsticos, por exemplo. Entre os 23% dos paulistanos que escolheriam o setor de servios, 4% abririam uma escola. Mesmo entre os 6% que gostariam de montar uma indstria, 4% afirmaram que se dedicariam a confeces. Sigmar Malvezzi, 52, professor da rea de psicologia da USP (Universidade de So Paulo), afirma que o interesse em ser empresrio varia de acordo com identidade profissional de cada indivduo. Insegurana e insatisfao com o emprego so motivos apontados por Malvezzi para que as pessoas sonhem com uma empresa. Outro fator seria a mudana nos objetivos profissionais provocada pelo aperfeioamento do mercado de trabalho e pelas demisses. Como exemplo, ele cita que, em 70, para fabricar mil carros a indstria automobilstica precisava do trabalho de 800 pessoas. Hoje, para fazer mil carros so necessrias 170 pessoas, diz. A alterao faz com que as pessoas busquem alternativas de trabalho. Capacidade A pesquisa do Datafolha revela que 12% dos paulistanos j abriram um negcio e fecharam, o que mostra que para ser empresrio no basta querer. Um estudo do Senac (Servio Nacional de Aprendizagem Comercial) aponta como caractersticas fundamentais do empreendedor a autoconfiana, a dedicao ao trabalho e a busca constante de informaes. Irani Cavagnolli, 49, diretor-superintendente do Sebrae SP (Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de So Paulo), diz que ficou surpreso com o fato de que 49% dos paulistanos gostariam de ter sua prpria empresa. uma surpresa saber que existe um esprito empreendedor em potencial to alto. Isso positivo para o pas, diz. Segundo Cavagnolli, a conjuntura econmica um dos fatores que restringem o potencial empreendedor do brasileiro. Para que o potencial se desenvolva, importante a manuteno do Plano Real, j que as empresas podem passar a pensar a longo prazo, diz.","Paulistano sonha em ter sua prpria loja Maioria abriria comrcio ligado a alimentos ou roupas se tivesse capital suficiente para montar um negcio. Da Reportagem Local Pesquisa Datafolha mostra que 56% dos paulistanos interessados em abrir um negcio prefeririam o comrcio. Em seguida, viria a rea de servios (23%) e apenas 6% optariam por uma indstria. Dos que optaram por comrcio , 13% investiriam em confeco. Todas as atividades ligadas alimentao, somadas, seriam escolhidas por 37% dos entrevistados. Segundo Emlio Alfieri, diretor do Instituto de Economia da ACSP, a preferncia por essas duas reas possivelmente se deva facilidade de montagem e menor exigncia de conhecimentos bsicos. O professor de psicologia da USP, Sigmar Malvezzi, afirma que a opo por ser empresrio varia conforme a identidade profissional de cada um e com o grau de insegurana e insatisfao com o emprego. Outro fator seria a mudana nos objetivos profissionais , resultado do aperfeioamento do mercado de trabalho. A pesquisa tambm revela que 12% dos paulistanos j abriram negcio e fecharam.Nem sempre querer poder. Um estudo do Senac seleciona como caractersticas do empreendedor: confiana , dedicao e busca constante de informaes. " br94ou09-16,"De olho no voto e no segundo turno MARCELO LEITE Uma das poucas surpresas na eleio anticlimtica por que passou o pas foi a alta incidncia de votos brancos e nulos nas eleies legislativas e para os governos estaduais. Estou certo de que isso tem muito a ver com a preponderncia da eleio presidencial sobre as demais, sobretudo com a despolitizao da campanha provocada pela fora arrebatadora do Plano Real. Se abordo este tema aqui no para arriscar-me na anlise poltica, coisa que outros faro melhor do que eu. Meu intuito tentar entender que papel teve a imprensa nessa histria. Tome-se o exemplo do Estado de So Paulo. O grande vencedor do primeiro turno no foi Francisco Rossi (PDT), que derrubou Mrio Covas (PSDB) do pedestal das pesquisas de inteno de voto e o arrastou para um segundo turno cheio de incertezas. O segundo lugar na contagem dos votos, na realidade, coube para os votos nulos e brancos. Somados, eles devero alcanar algo em redor de 24%, mais do que o azaro Rossi. Espante-se comigo: um quarto dos eleitores do Estado mais desenvolvido preferiu omitir-se na escolha do governante que decidir sobre boa parte dos impostos que tero de pagar. E isto em uma eleio livre, democrtica. Em outros Estados, a situao mostrou-se ainda mais grave. Em quatro deles Bahia, Maranho, Par e Piau, brancos e nulos foram simplesmente os campees. Em outros seis, alm de So Paulo, ficaram em segundo lugar, conforme noticiou a Folha em sua primeira pgina de quinta-feira (no sem atraso: jornais concorrentes, como O Estado de S.Paulo e o Jornal do Brasil, j tinham destacado nmeros semelhantes no dia anterior). Em maior ou menor grau, dados preocupantes como esses repetem-se nas eleies legislativas (Senado, Cmara dos Deputados e Assemblias Legislativas). At mesmo para as presidenciais observou-se uma absteno trs vezes superior ao pleito de 1989. A explicao mais comum, desencanto com os polticos, no satisfaz. Sob esse rtulo pejorativo e politicamente regressivo, que no pode e no deve ser confundido com o desenvolvimento de uma conscincia poltica crtica, compreende-se usualmente deputados e senadores, no governadores. Salvo poucas excees, estes no estiveram no centro das tempestades de escndalos. Desconfio de que essa apatia eleitoral est muito mais relacionada com desinteresse e desinformao do que com qualquer outra coisa. A imprensa pode ter um papel indutor, pedaggico, algo muito diverso da mitologia do Quarto Poder (gosto de dizer que o nico poder da imprensa o de cumprir com sua obrigao). E foi a que ela falhou, no meu entender. Em poucas palavras, ela se deixou ofuscar pelo brilho do real (o novo dinheiro, entenda-se). Concentrou quase todo seu noticirio na cobertura da corrida presidencial, cujo diapaso foi ditado exclusivamente pela moeda forte. Essa preponderncia da corrida presidencial fica evidente em levantamentos do Datafolha sobre o espao dedicado em cada um dos quatro grandes dirios aos diferentes nveis de eleio. No caso da Folha, no ms de agosto, nada menos do que 70,3% de tudo que se publicou sobre eleies no jornal se referia s presidenciais. A campanha para governador mereceu somente 7,9% do espao total (incluindo textos, fotografias e tabelas). O Congresso, ridculos 3,2% (o restante foram reportagens de interesse geral). Em setembro, a coisa progrediu um pouco: presidenciais, 54,4%; governo do Estado, 9,6%; Congresso, 16%. Note-se que o destaque para a eleio a governador na prtica no se alterou. Foi o noticirio sobre o Congresso que cresceu exponencialmente, com o combustvel farto fornecido pela grfica do Senado e pelo to alentado (28 pginas) quanto polmico suplemento Olho no Voto (leia abaixo). Em agosto, a Folha reinou solitria em sua predileo pela disputa FHC-Lula (os concorrentes ficaram em redor da casa dos 60%). De agosto para setembro, os nmeros mostram que o jornal transferiu-se para o patamar comum, em torno de 50-55%. Menos mal. Esses nmeros mostram com eloquncia o pouco caso da imprensa com as eleies legislativas e para governador. So o reflexo sobretudo de uma prioridade estabelecida fora da arena poltica, na esteira do Plano Real e chancelada pelo eleitorado, nunca demais lembrar. Tudo se reduzia a ser contra ou a favor do real. Lula ou FHC. No meio, falando sozinhos, os candidatos a governador, senador, deputado. A esse imperativo estranho se curvou docilmente a imprensa. Renunciou quase em bloco quele pouco de espao iluminista, esclarecedor, que d algum sentido profisso e a seu em grande parte injustificado prestgio social. Ao menos no caso das eleies para governador nos poucos Estados em que haver segundo turno, ainda d para recuperar parte do tempo perdido. Uma das poucas e mais srias tentativas de pr o jornal a servio das carncias do eleitor foi o caderno especial da Folha batizado como Olho no Voto, que circulou em 18 de setembro. Uma idia excelente: publicar como votaram em algumas decises importantes os deputados federais candidatos reeleio e apontar quantas vezes faltaram ao trabalho. Ocorre que a boa idia foi posta em prtica com alguns erros, de informao e de enfoque. Na coluna que escrevi na semana passada, afirmei que esses erros comprometeram todo o esforo. Essa observao motivou uma resposta dos jornalistas Elvis Cesar Bonassa e Daniela Pinheiro, da Sucursal de Braslia da Folha, que trabalharam dois meses no levantamento de mais de 30 mil informaes. Eis os trechos principais de sua contestao: Em sua coluna do ltimo domingo, o ombudsman faz referncia ao caderno Olho no Voto. Em poucas linhas, afirma que a quantidade de erros comprometeu a credibilidade do trabalho. uma crtica destituda de fundamento. At agora, houve apenas trs Erramos em relao s tabelas publicadas o que est longe de comprometer a credibilidade do caderno. O ideal seria que no houvesse nenhum erro, mas os trs erros significam muito pouco frente quantidade de dados que foram usados. (...) O ombudsman aparentemente admitiu como erros a gritaria dos deputados contra o caderno. Todas as cartas que chegaram Redao foram respondidas no Painel do Leitor. Vrios deputados tentaram apontar supostos erros, mas eles que estavam errados. As reclamaes corporativistas dos parlamentares contra uma anlise de seu comportamento, anlise esta baseada em dados objetivos e verificveis, no podem ser consideradas erros do caderno. Ao contrrio, talvez sejam o melhor ndice de seus acertos. Pelo visto, os jornalistas da Sucursal de Braslia e este ombudsman s esto de acordo em duas coisas: os deputados devem prestar contas de seus votos e faltas na Cmara; e o ideal que no haja erros. Agora, as discordncias: 1. No mencionei quantidade de erros. Mas j que a questo foi introduzida, gostaria de retificar o nmero mencionado. Os apenas trs Erramos correspondem na realidade a cinco erros, pois um deles corrige de um s golpe trs informaes. A esses cinco deve ser somado mais um, admitido em Nota da Redao de resposta ao deputado Nilmrio Miranda, nunca registrado em Erramos. E mais dois apontados em carta do deputado Fabio Feldmann que no foi respondida no Painel do Leitor, ao contrrio do que afirmam Bonassa e Pinheiro, nem objeto de Erramos. Ao todo, portanto, oito erros identificados. Sugiro que se pergunte aos que foram prejudicados por eles se significam muito pouco. 2. Nas Notas da Redao como agora na resposta dos reprteres de Braslia, a Redao adota uma postura defensiva. Pretende pr um ponto final nas crticas dizendo que as informaes so objetivas e verificveis e foram publicadas no Dirio do Congresso. Com isso, tenta castrar a nica discusso que interessa: a Folha adotou o melhor critrio para aferir a assiduidade dos parlamentares? Poderia ter includo em seu cmputo a presena em comisses e subcomisses? correto ressalvar no meio do texto que este tipo de atividade parte integrante do trabalho parlamentar e depois publicar pginas e tabelas com percentuais alarmantes de faltas em que essa ressalva no est destacada? A maioria das 14 cartas que compem a gritaria dos deputados prope essas questes, mas as Notas de Redao ignoram-nas olimpicamente. 3. H certa ironia na tentativa de desqualificar as crticas como corporativistas. A julgar por ela, passa a vigorar a seguinte regra: quanto mais pessoas reclamarem de uma notcia, mais correta ela ser. Para encerrar, s me ocorre dizer que o trabalho de um ombudsman se baseia em premissas exatamente opostas. E que nove leitores ligaram ou escreveram para o da Folha com o propsito de comentar o Olho no Voto. S trs a favor. Recebo carta do colunista Giba Um em resposta nota Desinformao, publicada domingo passado nesta coluna. Ele nega que a newsletterpor ele editada seja annima: o primeiro boletim com informaes reservadas distribudo, diariamente, por fax a seus assinantes e tem, na primeira pgina, a editora. Prossegue: No rodap da primeira pgina de transmisso, h mais dados sobre o expediente e o nome de seu Editor e Publisher, Gilberto L. Di Pierro (...) que, propsito (sic), no guarda `quaisquer rancores' com referncia empresa onde trabalhou cerca de 25 anos. O colunista pede ainda, com mais falhas de portugus, que sejam identificados os erros que cometeu em sua nota delirante. Eis aqui uma relao incompleta, acompanhada da sugesto de que os dirija diretamente para os quase mil assinantes de seu boletim: minha antecessora, Junia Nogueira de S, no foi afastada nem demitida, saiu por vontade prpria; seu mandato, como o meu, de um e no de dois anos (renovvel por outro ano); o estatuto da funo regido por norma interna da Folha, no por conveno internacional. MARCELO LEITE o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovvel por mais um ano. Ele no pode ser demitido durante o exerccio do cargo e tem estabilidade por um ano aps o exerccio da funo. Suas atribuies so criticar o jornal sob a perspectiva do leitor recebendo e checando as reclamaes que ele encaminha Redao e comentar, aos domingos, o noticirio dos meios de comunicao. Cartas devem ser enviadas para a al. Baro de Limeira, 425, 8 andar, So Paulo (SP), CEP 01202-001, a.c. Marcelo Leite/Ombudsman. Para contatos telefnicos, ligue (011) 224-3896 entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.","De olho no voto e no segundo turno MARCELO LEITE O que chamou a ateno nessas eleies foi a quantidade de votos brancos e nulos para o Legislativo e governos estaduais.Boa parte da razo foi o destaque dado eleio presidencial por via do Plano Real. Veja-se So Paulo: o segundo lugar na contagem coube aos votos nulos e brancos 24% -- , acima de Francisco Rossi. Em outros estados, a situao foi mais grave. Nas eleies legislativas, com variaes, a situao foi to diferente. A justificativa no pode ser atribuda ao desencanto com os polticos. Na minha opinio, antes tem a ver com o desinteresse e com a desinformao. A imprensa pode exercer um papel pedaggico e insinuante e , ao meu ver, foi nesse aspecto que falhou . Ela ficou encantada com o real e enfatizou excessivamente a campanha presidencial. No ms de agosto , 70,3% do que se publicou relacionou-se com a campanha federal; somente 7,9% com a estadual e 3,2% com a legislativa. Em setembro melhorou um pouco. Esses nmeros mostram muito bem a pouca relevncia dada s eleies a governador e legislativas. Para governador, ainda haver uma chance nos estados em que houver segundo turno. Uma das poucas e srias tentativas da Folha de informar o leitor foi o caderno Olho no Voto , com a idia de mostrar a posio dos deputados federais quanto a questes importantes, a sua assiduidade . Mas admiti tambm que continha alguns erros de informao e enfoque, que comprometeram todo o esforo. Essa observao motivou a resposta dos jornalistas da Sucursal de Braslia, que trabalharam no levantamento de dados. Revendo dados em que eles se basearam, no concordo com as argumentaes. Acho at que essa postura defensiva pretende pr fim s crticas , em lugar de abrir o caderno para melhorar a qualidade das informaes. " di94fe20-10,"Afinal, o Plano FHC tira sua mscara Projeto que ser enviado ao Congresso Nacional mostra quem vai ser sacrificado. A sociedade vai reagir? ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Segunda-feira de Carnaval. Nos jornais, a manchetinha simptica: Caderneta de poupana escapa da URV. Vale dizer: a poupana continuar a pagar correo monetria de acordo com os ndices de inflao hoje existentes. No sofrer, portanto, o achatamento em seus rendimentos, inevitvel com o uso da Unidade Real de Valor, j que a criao da nova moeda prev que os reajustes sero feitos pela inflao mdia de meses anteriores. Para milhes de brasileiros, a manchetinha parece tranquilizadora e agradvel. Mostra que o ministro Fernando Henrique Cardoso e sua equipe so sensveis, querem evitar prejuzos aos milhes de pequenos investidores com dinheiro na poupana. Quem ler o noticirio at o final, porm, vai ver que a realidade muito diferente. A manchetinha simptica, sim, ao ministro e sua equipe, pois ela claramente manipula a informao, ao sugerir que a poupana vai ter um tratamento diferenciado. E no nada disso. A reportagem um furo. Traz uma sntese das decises tomadas, em pleno Carnaval, pela equipe econmica, para implantao da URV, isto , para reajustes de acordo com a inflao mdia. A poupana, como se viu, fica de fora. E as demais aplicaes financeiras, de interesse dos especuladores e participantes da ciranda? Vamos dar a palavra ao noticirio, para que no haja dvidas: Demais aplicaes continuam com seus indexadores atuais. E os impostos? A Receita Federal no quer usar a URV... A Ufir pode continuar indexando os impostos... E o Oramento da Unio? A MP manda no (sic) usar no Oramento Geral da Unio. At aqui, portanto, esto fora do achatamento a poupana e todas as demais espcies de jogos de ganhar juros, sem trabalhar um dos maiores focos da inflao brasileira. Tambm esto de fora os impostos e o Oramento. Ento, o que que a URV vai achatar para derrubar a inflao? Os preos das empresas? Santa ingenuidade. A reportagem revela que a MP fala em mecanismos de induo para a converso dos preos de cruzeiros reais em URV. Traduzindo em portugus: a dupla Cardoso/Serra mantm os compromissos assumidos com os empresrios. O uso da URV, isto , os reajustes limitados pela inflao mdia, no sero obrigatrios. As empresas continuaro fazendo o que bem desejarem. Como os empresrios brasileiros raramente cooperam mesmo com os ministros altamente cooperativos a equipe FHC prev mecanismos de induo ou, pode-se apostar, a concesso de prmios, como a reduo de impostos, para empresas que reajustarem preos abaixo da inflao passada. Ento, isso. Esto fora do achatamento: o mercado financeiro, as empresas e empresrios, e o prprio governo (impostos). O que sobra? Ora, caros ingnuos: evidentemente sobra a massa trabalhadora. A MP prev que o salrio mnimo ser devidamente achatado pela URV. Os vencimentos do funcionalismo, idem. Os salrios em geral, ibidem. E, claro, as aposentadorias mais ainda. Ento, isso. O Plano FHC no existe. uma grande empulhao. Est provado, pela prpria Medida Provisria da equipe FHC, que seu nico objetivo achatar mais ainda os salrios, os ganhos da massa trabalhadora. O resto encenao. O ministro e seus assessores poderiam simplesmente ir TV e anunciar ao pas que, a partir de amanh, os ganhos do trabalhador sero ainda mais achatados (no se esquea que eles j esto sendo achatados, com os reajustes dez pontos percentuais abaixo da inflao e apenas at certas faixas. E que o trabalhador de salrio mnimo e os aposentados sero outra vez massacrados, vtimas de genocdio (fome, doenas, mortes) como na fase Marclio. Claro que esse anncio poderia provocar reaes. Ento, lana-se mo de um estratagema: inventa-se um plano mirabolante, arriscadssimo, capaz de lanar a economia no caos. Tudo, para encobrir a verdade. Por que a equipe FHC vai aprofundar o achatamento? Claro que no por sadismo (embora o deslumbramento trazido pelo poder costume justific-lo). A equipe FHC, simplesmente, aderiu s teorias ortodoxas, antigamente chamadas de conservadoras, que indicam a recesso como forma de derrubar a inflao. A sociedade no se apercebeu, mas o ministro quer levar o pas a uma recesso. aritmtico. O povo brasileiro ainda no se deu conta de que, sem a obrigatoriedade da URV, o consumidor vai continuar pagando a correo monetria da inflao velha nas prestaes da casa prpria, nas mensalidades escolares, nas tarifas de nibus, nos juros do credirio, nos contratos de aluguel, nos impostos etc.. E enfrentar a inflao nova, de hoje em dia, nos demais preos. Tudo isso com os salrios e aposentadorias devidamente achatados. Claro que o brasileiro vai comer menos. Comprar menos. Claro que o consumo vai cair, abrindo caminho a novo perodo recessivo. Fome, doenas, mortes. A sociedade brasileira no precisa aceitar bovinamente esse caminho. H alternativas para o combate inflao e um deles, repita-se, a prefixao de reajustes, negociada com empresrios e trabalhadores. A reao deve sensibilizar o Congresso pois ele detm a representao popular e no meia dzia de economistas. Para essa virada, outros sofismas e mentiras precisam ser urgentemente rebatidos: Salrios H exatos 30 anos, os ministros tentam combater a inflao com o simples achatamento dos salrios. O ministro Barelli, antes de ingressar na equipe tucana de FHC, chamou a ateno para o que parece bvio, mas sempre foi ignorado nas anlises econmicas: quando se retira uma fatia dos salrios para combater a inflao, as empresas deveriam tambm retirar uma fatia proporcional do reajuste de seus preos e a inflao deveria declinar. Lucros Na teoria, o achatamento dos salrios tem sido adotado para derrubar a inflao. Na prtica, as empresas continuam a reajustar preos, no mnimo de acordo com a inflao do ms anterior, ou de acordo com as expectativas da inflao futura. Resultado: a fatia retirada dos salrios vira nova fatia de lucro das empresas. E a inflao, em alta. Massacre Estudo divulgado pelo Dieese durante a semana mostra queda brutal dos salrios nos ltimos anos. Na mdia, seu poder de compra recuou em 50%, chegando aos 70% em algumas categorias. Vale achatar mais? Genocdio Numa encenao eleioeira srdida, ministros fingem que defendem um salrio mnimo de US$ 100, outros fingem que s d para pagar US$ 65. E t tudo combinado: no final, anuncia-se um valor de US$ 80 a US$ 85 e repete-se a cantilena de que tudo foi decidido democraticamente. . Milhes de famlias devem at festejar. Elas vo passar ainda mais fome, verdade. Mas tudo com democracia la FHC. Previdncia A equipe FHC quer achatar o salrio mnimo alegando que se ele fosse a US$ 100 a Previdncia quebraria, j que as aposentadorias acompanham o seu valor. Mistificao. Chantagem para forar o Congresso a aprovar mudanas na Previdncia, na reviso constitucional. A verdade? A gesto Britto mostrou, nestes ltimos anos, que tambm no caso da Previdncia no h falta de recursos, e sim falta de combate sonegao. E, ainda, excesso de bondade de ministros para com sonegadores, que tiveram suas dvidas parceladas em at 15 anos. Impostos Revelao da semana: a Receita Federal no recebeu verbas do Ministrio da Fazenda, nem para imprimir os formulrios do Imposto de Renda, nem para comprar o selo nos Correios. Por isso, o Leo precisa usar a Caixa Econmica Federal e o Banco do Brasil para entregar os formulrios de declarao anual. E se at esses tostes so negados, com atrasos e adiamentos previsveis na arrecadao, o que ser que est acontecendo com as verbas necessrias para reequipar, informatizar a Receita e combater a sonegao? Ao que tudo indica, persiste a poltica, adotada pelos ministros nos ltimos anos, de destruir a fiscalizao e impedir o combate sonegao. E da? s aumentar impostos. E achatar os vencimentos do funcionalismo. Nesta Quaresma, pare para pensar. Existe outro povo que aceitaria bovinamente todas essas contradies e desmandos? O brasileiro otrio? Ou otrio? ALOYSIO BIONDI, 56, jornalista, foi diretor de Redao da revista Viso e editor de Economia da Folha.","Afinal, o Plano FHC tira sua mscara Projeto que ser enviado ao Congresso Nacional mostra quem vai ser sacrificado. A sociedade vai reagir? ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Caderneta de poupana escapa da URV . a manchetinha simptica ao pequeno investidor , que no sofreria achatamentos nos seus rendimentos , previstos pela URV. Ela parece indicar a sensibilidade do ministro FHC e de sua equipe .Mas a leitura plena da reportagem mostra que o privilgio um engodo. Alm da poupana , ficam de fora do clculo da inflao mdia as demais aplicaes financeiras, os impostos e o Oramento da Unio. Ento, o que que a URV vai achatar para derrubar a inflao? Os preos das empresas? A MP fala em mecanismos de induo para conter os preos , o que , traduzindo, significa que elas continuaro a seguir o prprio nariz , ou ter prmios, como a reduo de impostos, para fazer reajustes com base na inflao passada. O que sobra? Sobra a massa trabalhadora , cujos salrios, segundo a MP ,sero achatados , inclusive os dos funcionrios pblicos. O Plano FHC no existe, um engodo. Seu objetivo achatar os salrios. Se o ministro e seus assessores fossem TV anunciar essa verdade, provocariam uma reao. Ento, inventa-se um plano mirabolante, capaz de levar a economia ao caos. Ele calcada em teorias ortodoxas, que defendem a queda da inflao com a recesso. Com seus salrios achatados, a classe trabalhadora vai continuar pagando correo nas prestaes da casa prpria, nas mensalidades escolares, nas tarifas de nibus, nos credirios , nos impostos, etc. A sociedade no precisa submeter-se a isso, pois h alternativas para reduzir a inflao, entre as quais a prefixao de reajustes negociada com empresrios e trabalhadores. O achatamento salarial ,considerado o caminho antiinflacionrio , negado pelo prprio ministro Barelli antes de tucanar. Ele diz que a frao subtrada do salrio para combater a inflao deveria ter como correspondente a subtrao equivalente no reajuste dos preos. Na prtica , o que acontece que a fatia tirada dos trabalhadores soma-se ao lucro da empresa. A equipe de FHC diz que a convenincia de achatar o salrio-mnimo est na ameaa de quebra da Previdncia, pois os reajustes dos aposentados so feitos com base no mnimo. No verdade. Na sua gesto, Britto mostrou que, nos ltimos anos , no faltam recursos Previdncia , mas falta combate sonegao. Onde esto as verbas para reequipar, informatizar a Receita visando combater a sonegao? A poltica adotada pelos ministros no caminha nessa direo. Basta aumentar impostos e achatar salrios. " ce94jl11-c,"O ano 1000 da era crist foi comemorado apenas numa pequena regio do planeta, por uma frao reduzida da humanidade. A data s tinha significado para uma cristandade sitiada, numa parte da Europa, por pagos do Norte, invasores nmades ao Leste e muulmanos ao Sul. Meio milnio mais tarde, a cristandade comeou sua conquista do mundo rebatizando-se aos poucos de Ocidente e impondo seu calendrio. O ano 2000, embora longe de gerar a ansiedade da virada anterior de milnio, suscitar uma comemorao mais ou menos planetria. O ano 1000 foi precedido de profecias apocalpticas. O que acontecer no ano 2000 e depois tem sido tema para escritores, economistas, politiclogos e cineastas. Todo um gnero literrio nasceu dessas especulaes: a fico-cientfica. Dois de seus primeiros praticantes, o francs Jules Verne e o ingls H.G. Wells, fizeram predies interessantes. Verne concentrou-se na evoluo da tecnologia e os desenvolvimentos que tematizou concretizaram-se antes do que se previa. A viagem lua de Wells tambm coisa do passado. Mas este, em A Mquina do Tempo, abordou as possveis consequncias de um aprofundamento do abismo entre as classes, imaginando que ele chegaria a gerar uma mutao que subdividiria a humanidade em duas espcies distintas. Num pas como o Brasil, isto talvez no esteja to longe de acontecer. No entanto, as trs obras de antecipao mais discutidas pertencem ao que poderamos chamar de fico cientfico-poltica. A primeira delas Ns do russo Ievguni Zamitin que, por sua vez, inspirou as duas outras, Admirvel Mundo Novo, de Aldous Huxley, e 1984, de George Orwell, ambos autores ingleses. As trs imaginavam qual seria o destino do homem num mundo concebido segundo as frmulas dessa inveno particularmente moderna: a engenharia social. Seu pano de fundo era o totalitarismo e todas se mostravam profundamente pessimistas. Hiroshima e Nagasaki, em 1945, realimentaram a fico-cientfica com o elemento central da ansiedade do primeiro milnio, pois a Bomba transformara, durante a Guerra Fria, o apocalipse numa possibilidade real. Mas em 1989 aconteceu o que nenhum escritor do ramo ousara profetizar: o bloco comunista comeou a desmoronar e, pouco depois, Leningrado foi desrebatizada, voltando a se chamar So Petersburgo. Nos Blcs, o futuro voltou ao passado, primeiro a 1941 e, agora, a 1912 ou mesmo antes. No Cucaso e na frica Central o que est ocorrendo um renascimento do neoltico ou talvez do paleoltico, com guerras tribais de todos contra todos, como j dizia, sculos atrs, Thomas Hobbes. Isso, novamente, quase ningum previu. O passado, alis, tornou-se no sculo 20 um assunto muito mais palpitante do que o futuro, principalmente porque a arqueologia produziu mais novidades do que a poltica ou a cincia. No a toa, portanto, que os livros dedicados a recontar a histria de acordo com novas teorias e conhecimentos O Nome da Rosa de Umberto Eco, ou Memrias de Adriano de Marguerite Yourcenar obtiveram mais sucesso que obras profticas e/ou especulativas. Assim, as fantasias futuristas deslocaram-se dos livros para o cinema. No h uma nica obra literria desse gnero que tenha conseguido a repercusso do 2001 - Uma Odissia no Espao, filme de Stanley Kubrick. No entanto, seu porvir assptico e seu imenso computador rebelde parecem hoje obsoletos. Afinal, os anos 80 domesticaram definitivamente o computador e a nova conscincia ecolgica faz muita gente imaginar o prximo milnio como algo superpovoado, poludo e sujo. A encarnao mais durvel, at o momento, da fantasia futurista se encontra em Blade Runner de Ridley Scott, que tematiza no apenas a degradao ambiental, mas tambm a engenharia gentica. O autor do livro em que se baseou o filme, Phillip K. Dick, foi dos poucos que, na fico-cientfica, aproximou-se da profecia ao tratar tanto desses assuntos como da importncia crescente das drogas no mundo moderno. As previses mais exatas, contudo, foram recentemente realizadas no por um futurlogo profissional nem por um roteirista hollywoodiano, mas pelo poeta e ensasta alemo Hans Magnus Enzensberger. O posfcio ao seu A Outra Europa uma reportagem ficcional extrada do The New New Yorker de 21 de fevereiro de 2006. O reprter americano que a escreve fala de Ceausescu, o ditador comunista da Romnia: Aquele velho gngster demoliu o que pde, at ser morto tiros por seu prprio pessoal. S que Enzensberger escreveu de fato seu texto em 1987, enquanto Ceausescu foi morto em fins de 1989. A reportagem refere-se tambm s runas do muro de Berlim e abolio do tabagismo nos EUA. Tal clarividncia rara, mas existe. E onde menos se espera.","O ano 1000 foi comemorado s numa parte da Europa , exatamente aquela em que contexto histrico mostrava a Igreja Catlica sitiada por trs foras invasoras ,que a ameaavam. No toa que ele foi precedido de profecias apolpticas, divulgadas pela prpria Igreja , com finalidade estratgica. A chegada do ano 2000 veio antecedida de previses de outra natureza, sem descartar ameaas apocalpticas comprovadas. Jlio Vernes e H.G. Wells previram acontecimentos fantsticos com base na evoluo tecnolgica, que de fato aconteceram. Mas as trs obras de previso com carter mais polmico esto ligadas fico cientfico-poltica. So elas: Nsdo russo Ievguni Zamitin , que inspirou as duas outras --- Admirvel Mundo Novode Aldous Huxley e 1984 , de George Orwell. As trs mostram a atuao totalitria do poder sobre a sociedade , numa viso muito pessimista. As bombas lanadas sobre Hiroshima e Nagasaki trouxeram as antevises apocalpticas para o plano real. Mas as surpresas que nenhum escritor do ramo conseguiu anunciar foram o desmantelamento da Unio Sovitica , e as guerras tribais que esto acontecendo no Cucaso e na frica Central. Esse retorno ao passado, no ano 2000, mais palpitante do que o interesse pelas conquistas do futuro. Mais recentemente, as fantasias futuristas foram incorporadas pelo cinema, por exemplo, em 2001 - Uma Odissia no Espao , cujo contedo j parece, hoje, obsoleto. O filme que mantm mais atualidade quanto a essa fantasia futurista Blade Runner . Alm de focalizar a degradao ambiental e a engenharia gentica, mostra a importncia crescente das drogas na atualidade. No entanto , as previses mais exatas vm pela sensibilidade do poeta e ensasta alemo, Hans Magnus Enzensberger. O posfcio do seu livro A Outra Europa uma reportagem ficcional de um americano , que fala dos abusos de Ceausescu e da sua morte a tiros pelo seu prprio pessoal. O curioso que seu texto de 1987 e a morte de Ceausescu de 1989. " co94de16-28,"Governo dos EUA sorteiam 55 mil vistos em janeiro SRGIO MALBERGIER * Da Reportagem Local O governo dos EUA abre em janeiro de 95 mais uma loteria para concesso de vistos para residncia permanente no pas, conhecidos como green card. Ao todo sero concedidos 55 mil vistos para todo o mundo. Para a Amrica do Sul, sero sorteados 2.407 vistos em 95. Se os brasileiros tiverem muita sorte, podem ficar com todos. O sorteio, feito por um computador, por regio, no por pas. Neste ano, 477 brasileiros foram sorteados. Os portadores do green card podem viver e trabalhar nos EUA e, depois de cinco anos, ganham a cidadania americana. Se durante esses cinco anos se ausentarem por mais de 12 meses do pas, perdem o visto. A quota de vistos por regio baseada no nmero de green cards concedidos nos ltimos cinco anos. A loteria parte do Programa de Diversificao da Imigrao, do Departamento de Estado, cuja inteno equilibrar o fluxo imigratrio. Por isso, alguns pases esto excludos do sorteio este ano, j que forneceram elevado nmero de imigrantes aos EUA recentemente. So eles: China, Taiwan, ndia, Filipinas, Vietn, Coria do Sul, Reino Unido (exceto Irlanda do Norte), Canad, Mxico, Jamaica, El Salvador, Colmbia e Repblica Dominicana. As inscries devem chegar ao Departamento de Estado entre 31 de janeiro e 1 de maro do ano que vem. Elas devem conter nome, data, local de nascimento e endereo. As instrues de como se inscrever, inclusive sobre o tamanho do envelope, devem ser seguidas risca (ver quadro nesta pgina). Qualquer irregularidade implica a desclassificao. O nico pr-requisito para a inscrio nesta primeira fase ter segundo grau completo ou experincia de trabalho. S ser preciso apresentar prova de que atende ao pr-requisito aps a seleo. O escolhido dever atender aos requisitos normais para receber o green card, como ter prova de bons antecedentes, boa sade e de que no cometeu fraude contra o governo americano. At 1 de julho de 1995, um computador far a escolha aleatria dos candidatos para cada uma das seis regies geogrficas determinadas (Amrica do Sul, frica, Oceania, Europa, sia e Amrica Central). Os sorteados sero avisados pelo correio, no endereo escrito por eles na inscrio, e recebero as instrues de como dar prosseguimento ao processo. Pessoas no selecionadas no sero notificadas. As embaixadas e consulados dos EUA no exterior no tero listas com os ganhadores em sua regio. A inscrio gratuita e o governo americano ressalta que no h necessidade de recorrer a intermedirios para enviar as inscries. 477 sorteados A loteria do green card sorteou 477 brasileiros este ano. Eles ainda tero que apresentar uma srie de documentos e se submeter a uma entrevista no consulado, no Brasil, antes de receber o visto. O Departamento de Estado dos EUA comunicou os vencedores por carta. A lista dos nomes sigilosa e nem os consulados norte-americanos tiveram acesso. Sero concedidos green card para 2.589 dos 9.475 sorteados pelo computador para toda a Amrica Latina. O nmero maior para garantir que todos os Green Cards sejam distribudos, j que o departamento prev a desclassificao de parte dos concorrentes. Qualquer irregularidade ou inverdade nas informaes prestadas na primeira fase da loteria podem desclassificar o sorteado. Ficam de fora as pessoas que j cometeram alguma crime, tiveram ligao com o trfico de drogas ou praticaram fraude contra o governo norte-americano. Tambm so desclassificados os polgamos (pessoas que tm mais de um cnjuge) ou quem no preencher corretamente os novos formulrios distribudos pelo departamento. Os documentos obrigatrios com cpias que todos os sorteados devero apresentar na segunda fase so carteira de identidade, passaporte, declarao de imposto de renda, certido de nascimento, diploma de 2 grau ou comprovante de trabalho, atestado de antecedente e comprovante de servio militar, alm de duas fotos coloridas. Os casados tambm devem apresentar certides de casamento e de nascimento dos filhos (se houver). Aqueles que conseguirem o visto tm direito de levar marido ou mulher e os filhos solteiros menores de 21 anos para os EUA. Caso mais que 2.589 pessoas preencham os requisitos necessrios para receber o Green Card, sero contemplados apenas os primeiros na ordem de sorteio. Mundo Foram concedidos 55 mil vistos para o mundo todo este ano. Segundo o Departamento de Estado, 6,4 milhes de pessoas concorreram no sorteio. * Colaborou PATRICIA DECIA","Governo dos EUA sorteia 55 vistos em janeiro Da Reportagem Local (Colaborou PATRCIA DECIA) O governo americano sorteia, em janeiro de 95 , concesso de vistos para residncia permanente nos pas, chamados green card. Os portadores dos green card , aps 5 anos de moradia e trabalho nos EUA , recebero cidadania americana. Para a Amrica do Sul sero sorteados 2.407 em 95. O sorteio por regio . Neste ano, 477 brasileiros foram contemplados. A loteria faz parte do Programa de Diversificao de Imigrao, do Departamento de Estado, para equilibrar o fluxo imigratrio. Por isso, alguns pases esto excludos este ano , por excesso de contingente nos EUA. Para a primeira fase , s exigido certificado de segundo grau ou de experincia de trabalho . Os escolhidos devero atender estes requisitos: prova de bons antecedentes, boa sade, e no ter cometido nenhuma fraude contra o governo americano. At 1 de julho de 1995, um computador selecionar aleatoriamente os candidatos de cada uma das seis regies. Sero avisados pelo correio. Os 477 brasileiros contemplados neste ano tero que apresentar uma srie de documentos e ser entrevistados no consulado no Brasil. Para toda a Amrica Latina sero concedidos 2.589 green card dos 9.475 selecionados pelo computador. O exagero devido possvel desclassificao de alguns concorrentes. Sero desclassificados os que cometeram algum crime, que tiveram ligao com o trfico, praticaram irregularidade contra o governo americano e os polgamos. Segundo o Departamento de Estado, dos 6,4 milhes que concorreram , 55 mil receberam o visto. " di94ma15-18,"O plano, a URV, o real e os economistas Com a taxa de inflao projetada de 50% para maio, a perda acumulada pelos assalariados considervel MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha O economista Delfim Netto de vez em quando faz crticas ao plano do governo com as quais sou obrigada a concordar, por sua objetividade, apesar de seu passado e de sua atual condio: um dos deputados mais atuantes da direita deste pas. Na ltima quarta-feira, porm, o ex-ministro escreveu nesta Folha um artigo intitulado Os economistas e a URV, no qual mistura um didatismo, herdado de sua condio de ex-professor, com meias verdades sobre a natureza do plano de estabilizao e que termina com um pito nos seus colegas do atual governo. Duas frases demonstram claramente o seu apreo ao lado conservador do plano e sua continuada adeso aos princpios do autoritarismo. Diz ele, textualmente: Estabelecendo que o salrio real mdio em URV permaneceria constante, as perturbaes distributivas mais perigosas foram neutralizadas e, no final do artigo, faz as seguintes consideraes: O lamentvel que o governo no consiga controlar os partidos que o apiam. Eles deveriam ficar quietos... Nestes ltimos 45 dias o silncio ouro! Evidentemente, o deputado gostaria de regressar ao silncio de chumbo da ditadura onde ele fazia o que queria e negociava com a bancada rural sem que a imprensa pudesse noticiar como agora os acordos que o governo est fazendo para ver aprovada a MP. A imprensa igualmente publicou os protestos do deputado Paulo Paim, do PT, contra um novo artigo, includo na reedio da MP, que probe a correo automtica dos salrios convertidos em URV em prazo inferior a um ano. Tambm publicou, meses atrs, embora sobre ataque geral dos editoriais e dos articulistas conservadores, uma proposta do mesmo deputado sobre a indexao mensal dos salrios ao dlar, destinada a evitar justamente que a distribuio de renda, j de si pssima, piorasse mais ainda com a acelerao inflacionria. Naquela altura, o deputado Delfim Netto foi um dos primeiros a atacar a proposta do PT que, no entanto, se destinava apenas a tentar garantir a neutralidade distributiva da dolarizao disfarada que estava a caminho. curioso que hoje Delfim reconhea em seu artigo que, afinal, o plano de estabilizao previu uma acelerao inflacionria que tenta mimetizar os efeitos de uma hiperinflao controlada e, apesar disso, acha perfeitamente legtimo que, nas suas prprias palavras, 1) A correo cambial seja praticamente coetnea com a inflao `projetada'; 2) que a correo salarial tenha uma defasagem de apenas duas ou trs semanas. Com a acelerao inflacionria ocorrida a partir de novembro e uma inflao projetada pelo mercado financeiro de 50% ao ms para maio, a perda acumulada pelos assalariados considervel e para os que no dispem de conta corrente remunerada, que so a maioria, intolervel. Devo dizer que, apesar de minha admirao pelo plano Cavallo ser muito remota, tenho de admitir que quando a Argentina se aproximou da hiperinflao o seu ministro teve pelo menos a hombridade de fazer um acordo que comprometia os empresrios argentinos a fixar os preos em dlar dos bens transveis de primeira necessidade (em particular os alimentos), fixando tambm o salrio mnimo em torno de US$ 125, cifra que era compatvel com o custo da cesta bsica familiar. Ou seja, a dolarizao argentina, ao ser instantnea, impediu a deteriorao contnua do poder de compra dos salrios e evitou uma catstrofe social. Como sabemos, o nosso plano de estabilizao no fez tal coisa. Manteve a liberdade de preos em cruzeiros reais e em dlar e no fixou sequer em URV os preos da cesta bsica, a qual alcanou em maro mais de US$ 90. Teve, porm, a audcia inominvel de fixar em URV (no-reajustvel durante um ano) o valor do salrio mnimo pelo equivalente, em 1 de maro, a pouco mais de US$ 60. Como os salrios no so pagos em dlar nem em URV, mas em miserveis cruzeiros reais, estamos assistindo ao maior arrocho salarial da histria recente do Brasil, com este inteligente experimento de hiperinflao controlada. Prosseguindo o meu dilogo com o prof. Delfim Netto, fao um apelo sua memria no que diz respeito aos oligoplios. Lembro-lhe que foi no seu seminrio da USP, em 1961, que tive o privilgio de ser apresentada, por seu intermdio, ao falecido economista polons Kalecki, que ensinou, a ns dois e a muitos economistas brasileiros e latino-americanos ali presentes, vrias coisas que nunca deveriam ser esquecidas por nenhum economista. Por exemplo: que no eram os salrios reais (s conhecidos como um resultado ex-post), mas as margens de lucro dos oligoplios que determinavam tanto os nveis de preos praticados em mercado pelos vrios setores quanto, em termos agregados, a distribuio de renda entre lucros e salrios. Assim, o oligoplio no um inimigo imaginrio, mas um dado da realidade contempornea que no se elimina por uma abertura externa pseudo-liberalizante, como ambos sabemos h muito tempo, em particular no que se refere ao preo da cesta bsica. A cesta bsica de nenhum pas pode ser inteiramente importada. No caso brasileiro, grande produtor e exportador de alimentos, o preo das importaes afeta sobretudo os preos internos dos insumos, em particular os energticos, que so um componente de custo muito importante na produo e transporte dos alimentos. Ora, os preos da energia, graas existncia de monoplios de Estado que permitem subsdios cruzados (ordenados por prioridades estratgicas e para equalizar os preos em um mercado continental), esto entre os mais baratos do mundo, para desgosto das elites financeiras que tanto gostariam de v-los privatizados. Infelizmente, a taxa de cmbio que o governo pretende converter em ncora contra a inflao joga sempre um papel perverso nas atuais condies de estagnao do mercado interno e acirrada concorrncia internacional. Se a taxa de cmbio sobe, encarece o custo das importaes de insumos bsicos, da produo de alimentos e do transporte e o custo da dvida externa expressa na mesma moeda. Se, pelo contrrio, baixa, como inteno do governo ao deixar atrasar a taxa real de cmbio e pretender congelar a nominal por certo perodo depois do real, ou as empresas deixam de exportar ou buscam formas de compensar essas perdas externas. Quais so as formas conhecidas de compensao? Subir a margem de lucro interna, expressa em dlares. Seja atravs da elevao das taxas de juros cobrados para comprar dvida pblica em troca das divisas entregues ao Banco Central, seja atravs de preos administrados internos mais altos em dlar, URV ou real. Qualquer observador no muito sagaz reconhece que esta ltima soluo foi a escolhida nos ltimos meses (da a chamada inflao em URV ou em dlar). Por todas essas razes, os ex-ministros e o atual deveriam reconhecer que as etapas do plano de estabilizao esto longe de ser neutras em qualquer sentido e que o candidato do governo teve cerca de um ano para corrigir o salrio mnimo, o que muito mais difcil de fazer depois de introduzir a nova moeda. Alis, todos os economistas que se pretendem srios esto cansados de saber que no existe poltica econmica neutra. Assim, a poltica econmica, para ser eficaz, requer negociao e no imposio, nem silncio, muito menos o silncio dos tanques. A necessidade de silncio na terceira fase do plano decorre de que, uma vez descartada por decreto a questo dos salrios, pelo menor poder de revide dos assalariados, o que est em tela de juzo a distribuio intercapitalista de lucros e a conta a pagar pelo Tesouro para comprar o silncio das classes dominantes e lev-las a apoiar o candidato do governo. Evidentemente, custa caro silenciar a bancada rural e, mesmo em silncio, difcil negociar, por debaixo do pano, o artigo 36 da MP, que tanto preocupa os banqueiros. O ex-ministro Delfim Netto, afinal, tem razo: nos prximos 45 dias, o silncio vale ouro! Ou ser que vale at chumbo? MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, economista, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).","O plano , a URV, o real e os economistas Com a taxa de inflao projetada de 50% para maio, a perda acumulada pelos assalariados considervel MARIA DA CONCEIO TAVARES- Especial para a Folha Delfim Netto , vez outra, faz crticas ao plano do governo, com as quais sou forada a concordar, pela objetividade. Porm, no seu artigo da ltima quarta-feira Os economistas e a URV ,com meias verdades sobre a natureza do plano de estabilizao e com um pito nos seus colegas do governo, demonstra seu conservadorismo e sua afinao com princpios autoritrios. Diz ele: Estabelecendo que o salrio real mdio em URV permaneceria constante, as perturbaes distributivas mais perigosas foram neutralizadas , com as seguintes consideraes no final: O lamentvel que o governo no consiga controlar os partidos que o apiam . Eles deveriam ficar quietos... Nestes ltimos 45 dias o silncio ouro! Certamente, o ex-ministro preferiria retornar aos anos de chumbo da ditadura, quando ele mandava e desmandava , negociava com a bancada rural sem a liberdade que a imprensa tem agora. A imprensa publicou os protestos do deputado Paulo Paim, do PT, contra um novo artigo que probe a correo automtica dos salrios convertidos em URV em prazo inferior a um ano. Tambm publicou uma proposta dele sobre a indexao mensal dos salrios ao dlar, para impedir que a distribuio de renda piorasse mais. Naquele momento, o deputado Delfim atacou a proposta, que somente tentava garantir a neutralidade distributiva da dolarizao disfarada a caminho. Com o avano da inflao a partir de novembro e uma inflao projetada de 50% para maio, a perda salarial descomunal. Diferentemente da dolarizao argentina , que impediu uma deteriorao constante dos salrios, nosso plano no tomou tal medida. Porm ousou fixar em URV (no-reajustvel durante um ano) o salrio mnimo no equivalente a US$60. o maior arrocho salarial da nossa histria recente. Indicado por Delfim, conheci o economista polons Kalecki , que ensinou que no eram os salrios reais mas as margens de lucro dos oligoplios que determinavam a alta dos preos e a distribuio de renda entre lucros e salrios. A taxa de cmbio que o governo pretende converter em ncora contra a inflao sempre exerce um papel malvado durante a estagnao do mercado interno e a dura concorrncia internacional. Se ela sobe, eleva o custo das importaes de insumos bsicos, da produo de alimentos e do transporte e o custo da dvida externa; se baixa, as empresas ou no exportam ou buscam formas de compensar as perdas, subindo a margem de lucro interna soluo escolhida nos ltimos meses. Os ex-ministros e o atual deveriam reconhecer que as etapas do plano de estabilizao no so neutras e que o candidato do governo teve um ano para corrigir o salrio mnimo , o que dificilmente ser feito aps a nova moeda. " ce94mr27-29,"Nem tudo foi treva e martrio na cultura Lembrado como um perodo de silncio e medo, o ciclo cultural durante o regime militar tambm teve Alegria, Alegria e gerou o tropicalismo, um movimento que continua influenciando a melhor cultura do pas MARCOS AUGUSTO GONALVES Editor da Revista da Folha A memria que se ergue do pasado cinzenta, sufocante, opressiva: censura, exlio, desespero a cultura brasileira nos anos do regime militar projeta-se na imagem dilacerante de um heri prometico condenado ao suplcio pela onipotncia do leviat autoritrio, irracional, devastador. Obras banidas ou mutiladas, autores presos, leituras clandestinas, universidades sob interveno. Silncio e medo. A imagem no falsa, mas considerada homognea e genericamente falseia o relevo e aplaina o terreno para que se erga no horizonte a miragem das mitificaes. Se impossvel pensar a cultura da poca sem a sistemtica ao autoritria do Estado contra o trabalho de artistas e intelectuais, igualmente foroso reconhecer que nem tudo resumiu-se ao glorificado herosmo da resistncia. Nem tudo foi choro e ranger de dentes, nem tudo foi treva e martrio, e por paradoxal que parea, ao longo dos anos da ditadura, a cultura esteve longe de ser condenada estagnao: por caminhos muitas vezes insuspeitados e tortuosos, seguiu a vereda da modernizao e da internacionalizao, aperfeioou suas tcnicas, desenvolveu novos instrumentos, confrontou-se com o consumo e desprovincianizou-se. A idia de que cultura e regime caminharam sempre em sentido oposto e conflitante e de que a atuao do Estado e de seu sistema voltou-se monoliticamente para a destruio do meio cultural elimina, pelo maniquesmo, nuances que podem ser esclarecedoras. No se trata de refazer a histria e dotar o perodo autoritrio de um vetor positivo em seu confronto com a produo cultural, mas de se reconhecer que houve etapas diferentes, com graus diversos de interveno, e que o modo pelo qual o Estado relacionou-se com a cultura no se restringiu negatividade da represso. Se do ponto de vista poltico e econmico, o governo militar apresentou-se para viabilizar, a ferro e fogo, a insero do Brasil numa nova etapa do mundo capitalista, que j se desenhava nos anos do desenvolvimentismo, sua estratgia diante da rea cultural no foi a da mera e brutal aniquilao, mas a de promover uma crescente institucionalizao do sistema de produo artstica e intelectual, seja sob o patrocnio do Estado (como nos casos da Embrafilme ou da Funarte), seja na organizao de uma indstria cultural moderna e bem aparelhada cujo caso exemplar a Rede Globo. Neste sentido, o perodo autoritrio correspondeu passagem de uma cultura de forte inclinao antimercadolgica, marcada pela experimentao esttica ou pela preteno revolucionria (com todos os seu cacoetes populistas) para um regime de criao cultural cada vez mais voltado para o mercado e o consumo. Duas atitudes bsicas, nem sempre distantes entre si, mas diversas em seus programas e projetos , caracterizaram a resposta do setor cultural ao advento do Brasil sob governo militar. De um lado, acirrou-se a reao marcadamente militante, mais diretamente identificada com as propostas poltico-ideolgicas das esquerdas organizadas, cujas manifestaes procuravam realar o que se entendia na poca por cultura nacional e popular, rechaando a influncia imperialista e suas armas culturais entre as quais incluiam-se a televiso voltada para o consumo e para a alienao, as formas artsticas americanizadas, a cultura pop e at... a guitarra eltrica. Esta vertente, francamente conteudista, derivava das experincias realizadas no perodo pr-64 pelos Centros Populares de Cultura (CPCs), ligados Unio Nacional dos Estudantes, que privilegiavam a mensagem e procuravam falar uma idealizada linguagem do povo. A cultura, neste caso, deveria submeter-se ao imperativo maior da transformao poltica e evitar a qualquer custo e combater as formas identificadas com o domnio ideolgico do imperialismo, com a elitizao e o formalismo. De outro lado, fixava-se a vertente que, igualmente em confronto com o regime autoritrio e com o obscurantismo oficial, considerava inevitvel e mesmo desejvel que o pas mantivesse seus ponteiros acertados com a contemporaneidade, abrindo-se para as influncias da cultura de massa, para a modernizao tecnolgica e para os movimentos internacionais. Herdeira do modernismo antropofgico de Oswald de Andrade, inclinada a experimentaes de vanguarda e vos formais, esta vertente, nem por isso descurava da inspirao popular. Foi este ramo da genealogia cultural dos anos 60, muito mais do que o tronco conteudista, que melhor soube trabalhar esteticametne e, neste sentido, politicamente as novas informaes do Brasil ps-64, produzindo uma cultura ao mesmo tempo sensibilizada pelos temas ligados desigualdade social e liberdade (no apenas poltica, mas tambm comportamental) e interessada em inovar, expandir, reler e reelaborar o repertrio formal da poca. Seu ponto alto e de ebulio aconteceu com a ecloso do tropicalismo em 1968, que catalizou, formalizou e dotou de um sentido orgnico, em torno da proeminncia da msica popular, manifestaes de reas diversas, anteriores ou paralelas ao movimento propriamente dito. O tropicalismo, antes de uma inveo original e especfica de um grupo liderado pelos compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, foi a elaborao no terreno da cano popular universitria de um sentimento de poca e de uma esttica que se j no estava pronta, certamente tinha seus traos nitidamente delineados em momentos da tradio moderna brasileira e em obras marcantes do perodo, como os filmes do cinema novo, especialmente de Glauber Rocha, o teatro de Jos Celso Martinez Correa e a arte de Hlio Oiticica que cunhou o termo tropiclia, ttulo de uma obra sua, adotado por Caetano Veloso na cano-manifesto do movimento. Num Brasil em que se exacerbavam os emblemas do arcasmo ideolgico (a carolice conservadora, o bacharelismo de provncia, a cafonice de sala de jantar, triunfantes no primeiro momento ps-golpe); onde sobressaam os contrastes entre o atraso e a modernizao; e onde propunha-se como alternativa cultural o nacionalismo purista e retrgrado, coube ao tropicalismo, em sentido amplo, retomar a linha evolutiva da cultura e apresentar uma resposta crtica, custica, alegre e alegrica, ao direitismo oficial e ao populismo de esquerda. O movimento incorporou as sugestes dos novos meios, quebrou preconceitos diante da TV e da comunicao de massa, abriu-se informao internacional, absorveu cdigos do repertrio erudito, bebeu na fonte popular e produziu um momento raro de refinamento esttico na cultura brasileira recente. Seus efeitos atingiram a prpria reflexo universitria, s voltas com a interveno saneadora do regime, e sensibilizaram representantes da alta cultura casos dos conflitantes Roberto Schwarz, crtico que dedicou, no calor da hora, um ensaio ao movimento (que ali qualificado de um esnobismo de massas) e dos poetas e ensastas ligados ao movimento da poesia concreta, especialmente Augusto de Campos, cujo livro Balano da Bossa e Outras Bossas frequentou a cabeceira de mais de uma gerao. Olhados com extrema desconfiana por setores da esquerda, mas tambm pela direita no poder, os principais protagonistas do movimento, Caetano Veloso e Gilberto Gil, hoje unanimidades nacionais, acabaram presos em 1969 e obrigados a um exlio em Londres. Expresso de uma crise, o movimento que lideraram foi a expolso e o estilhaamento da bomba de energias criativas dos artistas e intelectuais dos anos 60 que, a partir da dcada seguinte, se veriam s voltas com um longo, complexo e espinhoso processo de esfacelamento de suas utopias e de adequao de seus projetos ao realismo do mercado e do consumo. Este novo momento, que se desenhou com nitidez a partir do governo do general Ernesto Geisel, foi precedido por um perodo de recrudescimento da represso e de radicalizaes no campo das esquerdas e do movimento cultural. Aqui quando a guerrilha e a luta armada seduziam jovens militantes, um setor da juventude, ainda sob influncia da radiao tropicalista, fez florescer um controverso, mas interessante movimento de contracultura, voltado para produes marginais influenciado pelo iderio da revoluo interior e da rebeldia comportamental. poca de sufoco (para usar uma expresso ento corrente), de experincias com drogas e de muitas viagens algumas boas, outras ms, outras tantas fatais. O fato de que artstas daqueles idos permaneam iluminando jovialmente a cena cultural do pas demonstra que aquela foi uma gerao como poucas entre as que amaram e fizeram arte sob a constelao do Cruzeiro do Sul.","Nem tudo foi treva e martrio na cultura Lembrando como um perodo de silncio e medo, o ciclo cultural durante o regime militar tambm teve Alegria, Alegria e gerou o tropicalismo, um movimento que continua influenciando a melhor cultura do pas. MARCOS AUGUSTO GONALVES- Editor da Revista da Folha A lembrana do passado comandado pelo regime militar cinzenta e asfixiante . A censura, o exlio , o desespero fazem da cultura brasileira um novo Prometeu dilacerado e impotente diante da prepotncia . A caa s bruxas se estendeu a obras literrias, a peas teatrais, a msicas , a autores e centros culturais. Se verdade que a cultura nessa poca sofreu o peso do taco autoritrio do Estado, tambm verdade que nem tudo o que foi produzido levou o selo da resistncia; Apesar de nos parecer que , durante a ditadura militar, a cultura se estagnou ou se limitou ao grito da dor, ela tambm se modernizou , se internacionalizou , aperfeioou tcnicas e instrumentos , desprovincianizou-se. No se trata de resgatar a atuao do Estado militar quanto ao seu procedimento diante da cultura, mas sua estratgia no foi de pura aniquilao ; foi tambm a de institucionalizar a produo artstica e intelectual , quer sob o patrocnio do Estado, quer por via de uma indstria cultural modernaexemplificada principalmente pela Rede Globo. A cultura transitou de uma tendncia antimercadolgica , caracterizada pela experimentao esttica e pela pretenso revolucionria , para um culto do mercado e do consumo. Duas atitudes bsicas se confrontaram: de um lado , a reao militante, a posio poltico-ideolgicas da esquerda organizada que lutava contra o imperalismo e seus meios de alienao; de outro lado, a vertente que , embora continuasse combatendo o autoritarismo obscurantista, achava necessrio um salto para a contemporaneidade , uma abertura cultura de massa, modernizao tecnolgica e aos movimentos internacionais. E foi esta tendncia que melhor aproveitou as nossas experincias ps-64. Seu pice se deu com o tropicalismo em 68. Liderado pelos compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil , o movimento elaborou um sentimento de poca e uma esttica que tinham traos bem delineados em momentos de nossa tradio moderna , e em obras marcantes , como os filmes de Glauber Rocha, peas de Jos Celso Martinez Correia e a arte de Hlio Oiticica, criador do termo tropiclia. Num Brasil, marcado pelo arcasmo ideolgico , pelos contrastes entre o atraso e a modernizao, pelo nacionalismo purista retrgado nas artes, o tropicalismo significou a retomada da linha evolutiva da cultura e uma resposta crtica , alegre e alegrica tanto ao direitismo oficial quanto ao populismo de esquerda. Os dois lderes , malvistos por ambos os lados, acabaram presos e exilados em 69. Mas o movimento liderado por eles foi uma exploso de energias criativas na dcada de 60 " ce94ab10-26,"Operrios da sade tocam a 'cidade' HC MAURICIO STYCER Da Reportagem Local Cidade habitada por 10.500 funcionrios, o Hospital das Clnicas abriga personagens que ficariam mais vontade em uma epopia do que numa casa de sade. Escondem-se no HC, por exemplo, artesos capazes de construir cadeiras de rodas, mveis ou muletas, entre outros objetos utilizados por pacientes enfermos. Em plena era da terceirizao, o hospital resiste como um ncleo produtor dos mais variados bens e servios. Cozinheiros produzem 40 diferentes dietas, servidas todo dia nas 26 unidades do hospital. Funcionrios que ganham CR$ 80 mil por ms so responsveis pela lavagem das 12 toneladas de roupas que o hospital suja diariamente. Infelizes ou entusiasmados pelo trabalho que fazem, esses personagens se espalham por todos os 282 mil metros quadrados do HC. Sangue Sorriso de orelha a orelha, Hlio Otvio da Silva, 47, h 21 anos faz coleta de sangue no HC. Desde 1984, s tira sangue de crianas. Como os demais funcionrios da coleta, Hlio trabalha sentado num banquinho. Faltam cadeiras. Ach-lo ali, entre duas dezenas de auxilares de anlises clnicas, fcil: ao seu redor, concentram-se uma dezena de mes espera da hora de entregar suas crianas. Em 1991, uma paciente calculou que Hlio j havia tirado o sangue de 350 mil pessoas. No seu atual ritmo 60 crianas por dia, ele deve estar prximo dos 400 mil pacientes. Por duas vezes, o seu nico filho, hoje com 3 anos, sentou-se a sua frente: Na segunda vez, ele ameaou chorar. Eu disse que era importante para ele fazer o exame e ele no chorou, diz. Hlio no revela qual o seu segredo como consegue recolher sangue de Eric, um menino de 4 anos e 10 meses que sofre de cncer, sem provocar choro ou gritaria. S tiro com tio Hlio. Ele no deixa doer, diz Eric. Cozinha Um cartaz na entrada da cozinha tenta conquistar os 305 funcionrios que preparam as 6.000 refeies servidas todo dia no hospital: Ningum est vendo se voc lavou as mos. Mas voc sabe... Por culpa dos baixos salrios, a fbrica no consegue preencher 15 vagas, abertas h um ano. Um cozinheiro ganhou CR$ 83 mil em fevereiro o que d para comprar no mais de 30 quilos de alcatra. O HC consome 1.930 quilos de carne por semana. Isso aqui uma indstria. Pegamos a matria-prima, processamos e servimos os clientes. Nossa responsabilidade enorme, diz a diretora da fbrica, a nutricionista Janete Maculevicius, h 36 anos no HC. Est escrito na minha linha da vida: vou ser nutricionista do HC at morrer. Relgios Relojoeiro h 29 anos, Matias de Matos acerta os relgios do HC desde 1982. Entre relgios de parede e de ponto, ele calcula haver 700 aparelhos espalhados pelo hospital. Todo dia tem relgio para consertar. Se no tem, fao manuteno preventiva. Matias tambm conserta cronmetros usados em exames de laboratrio. S no conserta relgios de pulso. O pessoal vem pedir, mas dispenso, diz. O relojoeiro tem conscincia que nenhum de seus quatro filhos seguir sua profisso: uma funo que est sendo extinta pelos relgios digitais, diz. Pronto-Socorro Joanninha Amaro da Silva entrou no HC no dia 16 de maio de 1946, como escriturria. H 30 anos caminha com passos curtos, mas apressadssimos, por entre as macas espalhadas pelos corredores do Pronto-Socorro. conhecida ali como santa Joaninha. Arruma um pijama para um paciente, troca o vidro de soro de um outro, resolve a burocracia necessria para a internao de um recm-chegado com quadro de derrame, substitui uma enfermeira que saiu para almoar. Joanninha nunca almoa. O seu horrio de trabalho das 6h s 16h. Nunca vai para casa antes das 23h. Por causa de um problema nos rins, no poderia fazer esforo. No tomo conhecimento. Voc no pode se entregar doena. preciso ter fora de vontade para viver, diz, aos 69 anos. As pessoas saudveis no tm noo do que um hospital. Isso choca. Dar uma vrgula de ateno para um doente, aqui, j muito. Vesvio A maior lavanderia da Amrica do Sul processa todo dia at 12 mil quilos de lenis, pijamas e panos usados em cirurgias. Trs vezes por semana, as sete mquinas de lavar do HC, com capacidade para 200 quilos cada uma, funcionam 46 horas sem parar. Quando a caldeira eltrica precisa de reparos, acionada uma caldeira movida a leo e a, os vizinhos do hospital gritam. A chamin de 45 metros por onde sai a fumaa da caldeira ganhou o sugestivo apelido de Vesvio (o vulco que destruiu Pompia, na Itlia, no ano 79). A fumaa negra do Vesvio paulistano atinge os fundos de um prdio na rua Oscar Freire. No tem soluo. No podemos parar, diz a diretora da lavanderia, Maria Trito, 58 anos (e 33 de HC). Pijamas Entre os 200 funcionrios da lavanderia, h 5 deficientes visuais e 16 costureiras. Os cegos trabalham dobrando pijamas recm-lavados. Eles so mais felizes que os que enxergam, diz Maria Trito. As costureiras, comandadas por Catarina Greco, 55 anos (e 21 de HC), produzem e reparam aventais, camisolas para obesos e capas. Tambm produzem e se orgulham especialmente disso manguitos (braadeiras para aparelhos de presso) a serem usados em braos de criana. Artesos Por causa da crise, os cerca de 170 funcionrios que trabalham nas nove sees da Diviso de Construo e Conservao do HC hoje mais conservam do que constroem, explica o chefe deles, Manoel Fabiano, 65 anos (e 43 de HC). Apesar disso, ainda h muito trabalho para esses artesos. Ernando Cezario, por exemplo, tem 58 anos e h 37 faz chaves e troca fechaduras no hospital. No dia em que conversou com a Folha havia trocado trs fechaduras. Tem muita porta que no pode ficar aberta de jeito nenhum. Gavetas onde so guardados psicotrpicos tambm do trabalho. Eu pego a fechadura, trago aqui correndo, troco e volto voando. Cadeira de rodas Na serralheria, Jos Vilemar, 40, trabalha h duas semanas na construo de uma cadeira de rodas especial, capaz de suportar o peso de um paciente de mais de 400 quilos, aguardado pelo hospital para os prximos dias. Procuro fazer o mximo para ajudar as enfermeiras, diz. Os pacientes tambm usufruem do trabalho dos tapeceiros, funileiros e, especialmente, dos marceneiros, como Jos Cipriano, 59 (h 18 anos no HC), que faz muletas, bengalas e macas em sua oficina. Craniotomia Uma placa na entrada de uma sala no terceiro andar do Instituto de Psiquiatria informa: Artes mdicas. Descobre-se entrando ali que a sala , na verdade, um ateli. Fao um trabalho de artes plsticas voltado para a medicina, diz Jos Falcetti, 44. O artista assistiu inmeras cirurgias e dissecaes de cadveres antes de comear a fazer desenhos representando partes internas do corpo humano, em 1980. O trabalho de Falcetti, que j fez uma exposio no prprio HC, muito utilizado em aulas e congressos de medicina. Gosto muito de desenhar o abdmem, muito rico em detalhes. O corao muito simples. O mais difcil desenhar uma craniotomia, uma cirurgia de crnio, diz. O sonho de Falcetti montar uma escola de artes mdicas no HC. H quatro anos apresentou projeto nesse sentido direo do hospital, orado em US$ 70 mil, mas no teve resposta. Seria interessante que algum continuasse esse trabalho, diz. Hot-dogs H 12 anos, Therezinha Rodrigues Pereira, 70, vende cachorros-quentes na porta do HC, na rua Enas de Carvalho Aguiar. Therezinha uma das 36 ambulantes cadastradas pela Prefeitura de So Paulo para atuar na rua do hospital. Atualmente, eles enfrentam problemas por causa das cadeiras que instalaram em frente s barracas. s vezes, o doente est sentando aqui comendo e o fiscal chega e leva a cadeira, reclama. Os mdicos no tm medo. Comem aqui, sentadinhos. Alm do mais, no tm perigo. Se passar mal, a gente leva para o hospital.","Operrios da sade tocam a cidade HC MAURICIO STYCER -- Da Reportagem Local O Hospital das Clnicas uma verdadeira cidade com os seus 10.500 funcionrios que o fazem funcionar atuando em vrias reas de bens e servios. Sempre risonho, Hlio Otvio da Silva coleta sangue , atualmente s de crianas , que no outro, pois ele no deixa doer. Segundo uma paciente , ele deve ter coletado sangue de 350 mil pessoas at hoje. Na cozinha 305 funcionrios preparam diariamente 6.000 refeies. Um cartaz lhes serve de alerta: Ningum est vendo se voc lavou as mos. Mas voc sabe.... As 15 vagas a no so preenchidas por causa dos baixos salrios. H 29 anos, Matias de Matos acerta e conserta variados tipos de relgios e cronmetros de laboratrio. O Pronto-Socorro, entre outras funcionrias, tem a santa Joaninha , que , apressadssima e incansvel , percorre as macas cumprindo uma srie de atividades. O seu horrio das 6h s 16h, mas no sai antes das 23h. A lavanderia do hospital a maior da Amrica do Sul. Processa at 12 mil quilos diariamente. No ritmo alucinante , a caldeira eltrica pra e substituda por uma a leo, para desespero dos vizinhos , que a apelidaram de Vesvio. Entre os 200 funcionrios da lavanderia, h cinco deficientes visuais e 16 costureiras, que produzem e reparam. Nas nove sees da Diviso de Construo e Conservao do HC , trabalham 170 funcionrios, que , neste momento de crise, mais reparam do que constroem. Ernando Cezario, por exemplo, faz chaves e fechaduras. Na serralheria, Jos Vilemar , no momento, constri uma cadeira de rodas para um paciente de mais de 400 quilos. " td94ab03-08,"Maquetes crescem com mercado imobilirio Trabalhos so vendidos por at US$ 15 mil e podem ser tambm usados em projetos educacionais e artsticos CLUDIA RIBEIRO MESQUITA Free-lance para a Folha Maquetes so como bolas de cristal que antecipam, de forma tridimensional, edifcios, parques, usinas, cenrios, projetos educacionais e culturais e os mais variados tipos de produtos. Seu grande filo o mercado imobilirio, que, quando aquecido como est ocorrendo este ano, agita freneticamente os artesos das oficinas. Maquetes de prdios e conjuntos residenciais respondem por mais de 80% dos pedidos e so as mais bem pagas. Uma maquete simples, de um prdio de 20 andares, por exemplo, pode custar entre US$ 4.000 e US$ 7.000. Outros modelos mais complexos chegam a valer o dobro, como uma maquete do projeto de um conjunto residencial em Campinas (interior de So Paulo), o Bougamville, encomendada Kenji Maquetes por US$ 15 mil. O objetivo desse tipo de modelo promocional, para auxiliar na venda dos imveis. A funo da maquete, nesse caso, elucidar ao leigo o que foi projetado em duas dimenses e instig-lo, diz Kenji Furuyama, 61. H 32 anos no mercado, Kenji conta com 15 empregados e fatura por ms cerca de US$ 30 mil, 20% dos quais computados como lucro. Segundo ele, as despesas com mo-de-obra ficam em quase 70%. Meus funcionrios recebem um salrio e uma comisso de 30% em cada trabalho que executam, diz. Kenji comeou a trabalhar com maquetes aos 19 anos na Kevel, uma das poucas maquetarias de So Paulo no ano de 1954. Por ali passaram tambm dois outros maquetistas da cidade, Adhemir Fogassa e Achiles Maimoni. Os trs aprenderam o ofcio na prtica. A formao de um maquetista aleatria, afirma o professor Jlio Katinsky, do departamento de histria da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Segundo ele, muitos comearam com aeromodelismo e, hoje, so profissionais bem remunerados. So poucos os que se dedicam a essas miniaturas. Em So Paulo, de acordo com os maquetistas, deve haver cerca de 60 profissionais. Quem est no ramo no reclama. Um autnomo, em um bom ms, pode faturar at US$ 6.000. Mrio Segall, 39, abriu seu escritrio em 93. Segundo ele, o investimento para montar a oficina ficou em torno de US$ 10 mil. Alguns equipamentos foram trazidos de Londres. Sua capacidade de produo de quatro a cinco maquetes por ms. Em meses de pico, Segall afirma que fatura cerca de US$ 6.000, e seu lucro beira os 25%. As maquetes, em Londres, so respeitadas como parte do projeto, conta. Aqui, nem tanto. Roberto Cardoso, arquiteto recm-formado, comeou a fazer maquetes para os projetos de faculdade e, hoje, a maior parte de sua renda vem delas. Segundo ele, d para lucrar, em mdia, US$ 1.000 por ms. Mas em 92, por exemplo, ele e mais um grupo de maquetistas receberam, cada um, US$ 5.000 por 45 dias de trabalho para a produo de uma maquete do projeto de despoluio do rio Tiet, apresentada na Eco 92.","Maquetes crescem com mercado imobilirio Trabalhos so vendidos por at US$15 mil e podem ser tambm usados em projetos educacionais e artsticos CLUDIA RIBEIRO MESQUITA- Free lance para a Folha Maquetes so antecipaes tridimensionais dos mais variados tipos de construes e produtos. Seu carro-chefe o mercado imobilirio, que responde por mais de 80% dos pedidos. Uma maquete comum de um prdio de 20 andares oscila de US$4.000 a US$7.000. A maquete auxilia a venda , esclarecendo ao leigo o que foi projetado. Kenji Furuyama, h 32 anos no mercado, com 15 empregados, fatura mensalmente cerca de US$30.000 , com um lucro de 20%. Segundo ele, as despesas com mo-de-obra oram em quase 70%. O professor Jlio Katinsky , do departamento de histria da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP , afirma que o maquetista tem formao aleatria, muitos comeando pelo aeromodelismo. So profissionais bem remunerados. O mercado no concorrido em So Paulo. Um autnomo pode ganhar US$6.000 num ms . Mrio Segall abriu seu escritrio em 93, investindo na oficina cerca de RS$10 mil. Num bom ms , fatura US$6.000 , com aproximadamente 25% de lucro. Roberto Cardoso, arquiteto recm-formado, comeou a fazer maquetes para os projetos da faculdade e, hoje, tem nelas uma razovel fonte de renda." br94ma15-33,"ntegra do discurso que FHC no quis ler Faz parte da marca do PSDB o fato de que, entre ns, os projetos pessoais vm sempre depois daquilo que entendemos ser melhor para o nosso partido e principalmente para o pas. Chego a esta conveno certo de que vamos mais uma vez reforar esta marca que nos orgulha e nos diferencia positivamente perante a opinio pblica. O PSDB, por intermdio de expressivas lideranas, manifestou seguidamente o desejo de que eu assumisse a candidatura Presidncia da Repblica. Pouco antes do prazo final para minha desincompatibilizao do cargo de ministro da Fazenda, recebi apelos neste sentido da Executiva Nacional, de direes regionais, de parlamentares e filiados do partido. Antes disso, tanto eu como a direo do partido tentamos criar uma situao poltica que permitisse outra candidatura, capaz de assegurar a continuidade da recuperao econmica iniciada com atual Programa de Estabilizao e que possibilitasse aquilo que verdadeiramente conta: abrir o pas um caminho no s de esperana como de competncia e seriedade na gesto da coisa pblica, condies indispensveis para o resgate da imensa dvida social. Minha candidatura no nasce, portanto, de um ato de vontade pessoal, mas de uma situao objetiva que colocou nas mos do PSDB a possibilidade, e com ela a responsabilidade, de liderar a caminhada do pas na direo de suas aspiraes. No momento em que assumo minha parcela dessa responsabilidade, quero me dirigir aos convencionais e a todos os companheiros de partido, para expor de maneira muito direta e franca aquilo que considero fundamental sobre o papel que nos est reservado nestas eleies e no quadro poltico que ir emergir delas. Comeando pelo princpio: o PSDB um partido, j diz o nome, social-democrata. Para ns, social-democracia muito mais do que um par de palavras a enfeitar uma sigla. O PSDB cr profundamente na democracia e na necessidade do avano social. Por isso nosso primeiro e mais fundamental compromisso com a erradicao da misria que condena o conjunto da sociedade brasileira ao atraso. O PSDB entende que, na sociedade moderna, o mercado s funciona a contento quando contrabalanado pela existncia de um governo eficiente, a servio do interesse pblico e no das burocracias nem das oligarquias. Ao contrrio daqueles que pregam o Estado mnimo e, sob a bandeira do livre mercado, defendem na verdade os altos lucros e os salrios exagerados dos executivos do setor privado, sem contrapartida social, ns trabalhamos a favor de um Estado enxuto, mas forte, para corrigir as distores do mercado e executar polticas em favor dos mais pobres. Por isso combatemos com a mesma energia o clientelismo e o corporativismo, que minam a eficcia do Estado e o atrelam aos interesses de minorias. Mas o PSDB tambm sabe que o mercado instrumento indispensvel na regulao econmica. Reconhece a importncia da poupana e do investimento para gerar emprego, aumentar a produtividade do trabalho e assentar as bases materiais do bem-estar social. Sabe que a economia hoje est internacionalizada e que melhor ser orientarmo-nos nesse processo segundo nossos interesses do que ignor-lo e depois sermos, sem saber, objeto inerme de uma ao globalizadora nossa revelia. Por isso somos um dos poucos partidos a preconizar a vinda de capitais estrangeiros para aumentar a acumulao produtiva e a absoro de novas tecnologias. E no nos inibem falsos pruridos ideolgicos na negociao com os investidores nacionais ou estrangeiros. J provamos nossa firmeza e competncia para defender, diante deles, os interesses nacionais e populares pelos quais nos pautamos. Esta a viso da social-democracia moderna, que se distingue tanto do neoliberalismo dogmtico e conservador como do nacional-corporativismo arcaico. Coerentemente com ela, entendo que hoje, no Brasil, nosso combate principal duplo: inflao e misria. Permitam-me repetir aquilo que venho dizendo desde que assumi o Ministrio da Fazenda: estas so as duas caras da mesma moeda, da qual o lado da inflao como um placar que marca as sucessivas frustraes do pas tentando se livrar das teias do atraso social e poltico no outro lado. Minha j longa vivncia poltica e a intensa participao na conduo recente do governo me convenceram de que o Brasil chegou a um ponto extremo desorganizao e falta de perspectivas. O pas, custa de amargas desiluses, no espera mais remdios mgicos para a inflao crnica e as mazelas sociais. Mas anseia como nunca por rumos claros e sustentados que lhe devolvam a confiana no futuro, mesmo sabendo que o futuro s se constri com trabalho rduo e persistente. Propor esses rumos, dar-lhes sustentao firme, a misso dos polticos que, como ns do PSDB, tm esprito pblico, quaisquer que sejam suas opinies especficas sobre os problemas do pas. E isto ns no conseguiremos no isolamento sobranceiro, nem dos partido, nem muito menos da sociedade. Porque nasceu com a vocao de mudar concretamente o Brasil, e sabe que a envergadura das mudanas necessrias supera em muito a capacidade de qualquer fora poltica isolada, o PSDB nunca cultivou uma atitude de arrogncia nem se furtou cooperao com outros partidos. Foi assim em 1989, quando, mesmo enfrentando dissenses internas e a quase nenhuma flexibilidade dos virtuais aliados na discusso programtica, optamos claramente pelo apoio ao candidato do PT no segundo turno das eleies presidenciais. Foi assim no processo do impeachment de Collor de Mello, quando tivemos um papel decisivo na articulao de uma maioria parlamentar para sustentar a deciso reclamada pelo pas de afastar o presidente e para dar condies de governabilidade ao seu sucessor legal. Dentro da mesma linha de conduta, empenhamo-nos desde cedo na busca de alternativas a uma candidatura exclusiva do PSDB na prxima sucesso presidencial, partindo do princpio de que sempre melhor negociar alianas s claras antes das eleies do que no recesso dos gabinetes depois. No hesitariamos em oferecer a cabea de chapa a outro partido se fosse esta a condio para viabilizar uma coligao baseada baseada num programa de recuperao nacional, sem concesses ao atraso poltico nem demagogia. Com esse propsito, mantivemos conversaes com diferentes foras polticas. Conversamos longamente com o PT. Este, no entanto, mostrou reiteradamente que reservava ao PSDB uma posio subalterna, com certo ar auto-suficiente de quem est bafejado momentaneamente pelas pesquisas eleitorais. Alianas, para o PT, somente sob sua hegemonia. Mais grave ainda, o PT nunca aceitou uma postura realmente radical no sentido de ir raiz das questes. Em vez de assumir qualquer parcela de responsabilidade pelas medidas necessrias para conter o dficit pblico, quebrar a ciranda financeira, reduzir o desemprego atravs do aumento do investimento, combater o clientelismo dentro da mquina do governo, e assim por diante, o PT tem preferido sempre a demagogia dos aumentos meramente nominais dos salrios, imediatamente corrodos pela inflao, do atendimento das presses corporativistas, da ingenuidade absoluta no trato de questes como a da dvida externa. No se mostrou altura de enfrentar os problemas reais do pas. Tambm conversamos com o PMDB. O dilogo fluiu franco e fcil. A direo do PMDB no pde, entretanto, conduzir o processo de escolha do seu candidato presidencial sem que houvesse fragmentao e atropelo da discusso programtica por postulaes pessoais. Isto terminou por inviabilizar uma aliana, na medida em que lideranas peemedebistas com as quais temos maior afinidade passaram a ser contestadas e marginalizadas pelo neocoronelismo dentro de seu prprio partido. Quando eu ainda estava no Ministrio da Fazenda, depois das tentativas j mencionadas, a direo do PSDB foi procurada pelo PFL, com vistas a uma possvel aliana eleitoral, cabendo ao PSDB indicar o candidato a presidente da Repblica. Posteriormente, as conversaes se estenderam ao PTB, que tambm veio a se incorporar aliana. A essa altura, as lideranas dos trs partidos no Congresso identificavam uma ampla pauta de preocupaes comuns em relao reviso constitucional, que procuravam viabilizar junto com outras foras polticas e em face da obstruo encarniada do PT e PDT. Ns do PSDB fomos co-autores importantes da Constituio e disso nos orgulhamos: os avanos democrticos e as garantias sociais que l esto foram escritos com nosso apoio (e s vezes, diga-se de passagem, sob acirrada crtica do PT, que se recusou a assinar a Constituio sob a alegao utpica de que estava aqum do desejvel). Mas isso no nos impede de, responsavelmente, ver as limitaes que a Constituio possui e defender modificaes, sobretudo no campo fiscal, para dar maior viabilidade ao governo e ao pas. O insucesso da reviso constitucional nos inquieta, desse modo, como um sintoma grave da desorganizao e falta de rumos j mencionadas, e principalmente como prenncio das dificuldades que o futuro governo ter de enfrentar. O que s refora nossa preocupao com a necessidade de compor uma maioria ampla o bastante, no s para ganhar as eleies nacionais, mas para dar curso s mudanas necessrias, tanto na esfera do Executivo como do Legislativo. Nesse sentido, tanto eu como a direo partidria continuamos conversando com outras foras polticas, como o PP, o PPS, o PV e setores do PMDB. Assim como gostaramos de voltar a conversar com o prprio PT, pensando nas condies de governabiLidade do pas depois das eleies, se o PT no rechaasse qualquer tentativa de dilogo que no tenha por suposto a adeso a candidaturas. Trazemos para essa articulao a fora das nossas convices social-democratas e as diretrizes de combate inflao e misria, reorganizao do Estado e modernizao da economia em que elas se traduzem diante dos desafios do Brasil. Com base nelas iniciamos a elaborao do nosso programa de governo, onde especificaremos nossas metas e solues para a gerao de empregos, que ser o eixo da nossa ao; a revoluo educacional e a recuperao do sistema pblico de atendimento sade; a descentralizao radical dos servios pblicos, aumentando a autonomia de estados e municpios; o enxugamento da mquina estatal, precisamente a fim de evitar seu desmantelamento e aumentar sua eficcia; o estmulo ao investimento produtivo, nacional e estrangeiro e o fomento competivividade da economia brasileira. As mesmas diretrizes programticas norteiam nossas conversaes sobre alianas eleitorais. este o passo a ser dado agora, antes da discusso mal posta, quando no posta de m f sobre supostos riscos de nos aliarmos a partidos com histria distinta da nossa, como se em funo dela o PSDB pudesse vir a se despreocupar de sua histria e de seus compromissos programticos. Aos de boa f respondo: alianas, quando so srias, so feitas base da definio de objetivos comuns, com o propsito de assegurar votos para ganhar eleies e dar sustentao ao futuro governo. Unindo partidos diferentes na sua histria, na sua composio e no seu estilo, pois unio entre os que pensam do mesmo jeito seria mais propriamente incorporao ou adeso do que aliana. Acreditar que o PSDB sozinho vai eleger o Presidente e uma maioria de governadores e parlamentares que lhe permita governar o pas, ignorar os fatos mais elementares da realidade poltico-eleitoral. com apenas dois minutos no horrio eleitoral gratuito de televiso e sem uma rede de diretrios municipais suficientemente densa, buscar o voto sem aliados nesta eleio seria como tentar romper pedreiras com as prprias mos. De outra parte, acreditar em desvirtuamento do nosso programa, da nossa ao de governo, do nosso estilo, porque fazemos alianas com outras foras, equivale a no acreditar em ns prprios. E por acaso no temos histria enquanto partido? Acaso no temos biografia? O governo Itamar Franco deu a oportunidade de mostrar ao pas que o PSDB capaz de imprimir sua marca, apesar da diversidade e at das incongruncias das foras polticas em presena. Sem diminuir a importncia da colaborao dos outros partidos, fomos capazes de propor ao pas uma alternativa econmica cuja implantao, ora em curso, abriu no mnimo um horizonte de esperana. Por que, agora, quando o PSDB encabea uma coligao com seu candidato a Presidente, seramos menos marcantes? No nos desfiguraremos nas alianas porque objetivos so claros e porque podemos afirmar sem medo que ns sabemos o que fazer e como fazer, pois j o fizemos. Estou certo, por isso, que o PSDB continuar a agir de maneira responsvel e realista. O realismo exige o conhecimento das verdades eleitorais. A responsabilidade exige determinao na consecuo dos objetivos programticos. E tudo isso exige firmeza da direo do partido. A costura de alianas na poltica nacional nunca ser fcil num pas to grande e diversificado como o Brasil, ainda mais com a colcha de retralhos que o nosso sistema partidrio. Quem tiver dificuldades regionais, contar com nossa compreenso para a busca de solues polticas. Mas, a partir do momento em que a algazarra interna passa a ser usada contra ns pelo competidor, a escolha se impe: quem for tucano nos apoiar. O PSDB j provou, tanto na oposio como no governo, que no tem medo de escolhere o caminho mais difcil para ser coerente com seus princpios. Soubemos dizer no s benesses do poder quando o poder dava as costas para os interesses maiores do pas e para o sentimento das ruas. Soubemos dizer sim aos desafios da governabilidade e da estabilizao econmica quando os cnicos e os puros, numa s voz, nos aconselhavam a empurrar os problemas do pas com a barriga at as prximas eleices (como se eleies e democracia fossem uma ddiva dos cus e no uma conquista que tem de ser renovada a cada dia pela capacidade dos democratas de tomar decises). Hoje a linha de coerncia com essa trajetria nos conduz diretamente ao reconhecimento popular. O povo cansou de politiquice, de falsos argumentos ideolgicos, de alegadas purezas doutrinrias. Tanto quanto a corrupo, no suporta mais a ineficincia, a demagogia e a falta de deciso. Exige de quem pretende govern-lo que tenha firmeza e convico para, sendo necessrio, dizer no e enfrentar as foras contrrias. E ao dizer sim, cumprir o prometido. O que se faz com um programa realista de governo aliado seriedade, competncia e respaldo poltico para lev-lo prtica. Esta a marca do PSDB. Esta ser a marca da minha candidatura. Com ela vamos para a vitria, que no ser s nossa e dos nossos aliados mas do povo que soube conservar a f na democracia espera do momento em que ela comear a se traduzir em emprego, salrio e dignidade para todos os brasileiros. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Contagem, MG, 14 de maio de 1994","ntegra do discurso que FHC no quis ler. O PSDB prioriza os interesses do partido e do pas aos pessoais. O partido , em repetidas e expressivas manifestaes, insistiu na minha candidatura Presidncia.Antes de eu me desincompatilizar do cargo de ministro da Fazenda, tentamos criar um clima poltico para outra candidatura que desse continuidade recuperao econmica iniciada com o Plano de Estabilizao . Portanto, minha candidatura no surge de vontade prpria, mas da inteno do partido em liderar a caminhada do pas. A conscincia democrtica marca do PSDB , que v no avano social ---com a forosa erradicao da misriaum objetivo intransfervel. O partido tambm entende o mercado s funciona com a presena eficiente de um governo que coloca o interesse pblico acima das burocracias e das oligarquias. Trabalhamos por um Estado enxuto , mas forte a fim de corrigir das distores do mercado. Tambm sabe que a regulao econmica depende do mercado ; que a poupana importante , assim como o investimento para gerar emprego; que vivemos num mundo globalizado e no adianta fechar os olhos para isso e ser pegos de surpresa. Por isso, estamos abertos ao capital estrangeiro, para aumentar a produo e para a absoro de novas tecnologias. Hoje, no Brasil, inflao e misria so nossos piores inimigos. O pas, a duras penas, entende que no se devem esperar remdios mgicos para enfrent-los. Propor rumos nessa direo misso de todos os polticos bem intencionados. E no conseguiremos trabalhando isoladamente. Procuramos , desde cedo, buscar alianas compatveis com nossos objetivos fundamentais. As longas conversas com o PT no prosperaram , porque o partido insistia numa posio subalterna para o PSDB. Tambm algumas posies do partido contrariavam metais fundamentais para ns. Por exemplo, a luta a qualquer preo por aumentos nominais do salrio impediria o controle da inflao. Com o PMDB , o dilogo no foi adiante porque havia o risco de fragmentao do partido. Fomos , posteriormente, procurados pelo PFL com objetivo de uma aliana eleitoral , cabendo ao PSDB a indicao do candidato a presidente. A conversa se estendeu depois ao PTB, que tambm veio compor a aliana. A essa altura, as lideranas dos trs partidos organizavam uma ampla pauta de preocupaes relacionadas com a reviso constitucional, fundamentalmente no campo fiscal. Essa uma das nossas inquietaes bsicas e , por isso, em formar uma ampla maioria . Iniciamos a elaborao do nosso plano de governo, em que especificaremos nossas metas: gerao de emprego, revoluo educacional, recuperao do sistema pblica de atendimento sade, descentralizao do servio pblico, enxugamento da mquina estatal, estmulo ao investimento produtivo, nacional e estrangeiro, e aumento da nossa competitividade econmica. Aos que criticam nossa aliana com partidos de base histrica to diferente respondo: alianas, quando srias, so feitas com base em objetivos comuns, visando ganhar as eleies para dar continuidade aos planos governamentais. E o PSDB tem conscincia de que sozinho no conseguir; basta ver nossa histria poltico-eleitoral. Mas tambm tem conscincia de que tem personalidade poltica para no ser desvirtuado.Soubemos dizer no s benesses do poder quando este contradizia os interesses do pas e do povo. Soubemos enfrentar os desafios da governabilidade , da estabilizao econmica quando nos aconselhavam a empurrar os problemas com a barriga at as prximas eleies. com essa trajetria que temos o reconhecimento popular. " mu94de09-a,"Comea hoje em Miami, costa leste dos EUA, a maior e mais importante reunio de chefes de Estado e de governo j realizada nas Amricas. At domingo, os presidentes e primeiros-ministros de 34 pases do hesmisfrio ocidental (todos menos Cuba) discutiro temas ligados a comrcio, democracia e desenvolvimento sustentado. Espera-se que, no seu final, eles anunciem a inteno de colocar em operao at o ano de 2006 a rea de Livre Comrcio das Amricas (Afta, na sigla em ingls), para promover a integrao comercial de toda a regio. Esta a terceira vez que lderes do continente realizam uma reunio de cpula. As outras duas foram em 1956, na Cidade do Panam, e em 1967, em Punta del Este, Uruguai. Mas a Cpula das Amricas em Miami a primeira em que todos os governantes presentes foram eleitos democraticamente em seus pases e tambm a primeira de que o Canad participa. Cuba ausente O governo de Cuba no foi convidado pelos EUA sob a justificativa de que seu presidente, Fidel Castro, no foi eleito. Mas a questo cubana vai estar presente. Amanh, 300 mil cubanos e seus descendentes devem fazer a Marcha pela Liberdade nas ruas principais de Miami. O presidente da Argentina, Carlos Sal Menem, tambm pretende levantar o assunto de Cuba durante a reunio, embora ele no conste da agenda oficial. A idia da Cpula das Amricas foi lanada no incio do ano pelo vice-presidente dos EUA, Al Gore, durante a solenidade de ratificao do Acordo Norte-Americano de Livre Comrcio (Nafta), na Cidade do Mxico. A princpio desorganizada e sem pauta, a cpula parecia destinada a ser mero exerccio coletivo de relaes pblicas. Em especial porque os norte-americanos queriam deixar as questes comerciais fora da pauta. Presso conjunta dos principais pases da Amrica Latina acabou forando a incluso dos temas de comrcio na agenda do encontro. Os organizadores prometem fazer com que todas as deliberaes tomadas pelos 22 presidentes e 12 primeiros-ministros em Miami sejam acompanhadas de cronograma para que possam de fato colocadas em prtica. Entre as decises a serem tomadas esto o lanamento de um esforo regional para acabar com o analfabetismo e incentivos para a participao de empresas privadas no provimento de assistncia mdica bsica, em particular para crianas. Alm disso, devem decidir por expanso do intercmbio multinacional para a explorao dos recursos biolgicos, medidas de combate ao narcotrfico e lavagem de dinheiro e desenvolvimento de esforos para preveno de poluio. Clinton, Gore e Hillary O presidente Bill Clinton e o vice-presidente Gore chegaram ontem noite a Miami e seu primeiro compromisso hoje ser um encontro com milhares de voluntrios que esto trabalhando na cpula. A primeira-dama Hillary Clinton estar coordenando um simpsio sobre a situao das crianas nas Amricas, ao qual estaro presentes as primeiras-damas do continente. O Brasil ser representado pela embaixatriz em Washington, Lcia Flecha de Lima. O primeiro governante do Exterior a chegar a Miami foi o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle, na quarta-feira. O presidente Itamar Franco deve chegar hoje s 13h. O Brasil ser o nico pas representado por dois presidentes, Itamar e Fernando Henrique Cardoso o qual, no entanto, do ponto de vista formal, ser apenas um membro da delegao do pas. Cerca de 5.000 jornalistas foram credenciados para cobrir a Cpula das Amricas (75 deles do Brasil). As reunies de trabalho da cpula tm incio amanh s 8h e se prolongam at a tarde de domingo. Haver duas recepes, uma de boas-vindas, hoje noite, e outra de gala, amanh noite.","Presidentes e primeiros-ministros de 34 pases do hemisfrio ocidental se reuniro em Miami para discutir temas ligados a comrcio, democracia e desenvolvimento sustentado, com vistas a implantar a Afta at 2006. a terceira reunio de cpula de lideranas do continente , da qual s no participa Cuba, que no foi convidada pelos EUA , sob o pretexto de seu presidente no ter sido eleito . Apesar disso, a questo cubana estar presente , na forma de uma passeata em Miami de 300 mil cubanos e seus descendentes, e na fala do presidente argentino, Carlos Menem. A idia de reunio de Cpula das Amricas foi do vice norte-americano, Al Gore, e estaria fadada a um exerccio diplomtico, pois a questo comercial no foi inicialmente colocada em pauta. A presso dos pases da Amrica Latina obrigou a incluso do tema. Entre as decises a serem deliberadas , constam : um esforo regional para eliminar o analfabetismo; incentivo a empresas privadas para subsidiar assistncia mdica bsica , principalmente para crianas; intercmbio multinacional para explorao de recursos biolgicos; combate ao narcotrfico, lavagem de dinheiro; preveno da poluio. Haver um simpsio coordenado pela primeira-dama Hillary Clinton , que tratar da situao das crianas nas Amricas, com a presena das primeiras-damas do continente. Cinco mil jornalistas credenciados cobriro o evento. " mu94de07-a,"Os baixos salrios pagos na maior parte dos pases latino-americanos tendem a ser um foco de profundas divergncias entre os EUA e seus vizinhos do Sul, quando se iniciarem as negociaes concretas para o estabelecimento da Afta (Zona Americana de Livre Comrcio, em ingls). A Afta ser proposta formalmente nos dois documentos a serem assinados domingo, em Miami, pelos 34 chefes de governo dos pases americanos, reunidos na chamada Cpula das Amricas, que se inicia sexta-feira. Mas, nas discusses preliminares sobre ambos os textos, a questo dos baixos salrios foi uma das mais difceis de se contornar, para se chegar a uma convergncia nos documentos j prontos para a assinatura dos governantes. A tese dos norte-americanos (e tambm dos europeus) a de que os salrios baixos pagos em quase toda a Amrica Latina configuram uma espcie de dumping social. O dumping convencional caracteriza-se pelo lanamento, no mercado internacional, de produtos a preo de custo ou at abaixo, para conquistar mercados. Com o baixo nvel salarial dos pases ao Sul do Rio Grande, cria-se, na viso norte-americana, uma concorrncia desleal com a produo dos EUA, obviamente encarecida pelo fator salrio. Mas os latinos, capitaneados pelo Brasil, presidente de turno do Grupo do Rio, rejeitaram a tentativa norte-americana de vincular o tema salarial abertura comercial inerente Afta. O argumento utilizado o de que essa questo ainda est sendo discutida em organismos multilaterais, como o Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comrcio, a ser substitudo em janeiro pela Organizao Mundial de Comrcio) e a OIT (Organizao Internacional do Trabalho). Chegou-se a uma conciliao tipicamente diplomtica: o tema salrios no mais figura na parte de proposies operativas do documento batizado de Plano de Ao. Mas bvio que a manobra serve apenas para jogar para o futuro a discusso, dado que a diferena de enfoque bastante grande. Os EUA pretenderam vincular tambm o respeito ao meio ambiente como pr-condio para o livre comrcio, o que foi igualmente rejeitado pelos latinos. No que eles sejam contra o respeito ao meio ambiente (ningum, alis, diz que ). So contra a vinculao entre um tema e outro, porque criaria o que a diplomacia brasileira chama de neoprotecionismo. Traduzindo: a pretexto de que os baixos salrios e o desrespeito ao meio ambiente representam uma concorrncia desleal com a produo norte-americana, os EUA (e a Europa) poderiam impor medidas protecionistas. O Plano de Ao o documento mais substantivo dos dois a serem assinados em Miami. O outro uma Declarao Poltica, que, como tal, d apenas as diretrizes gerais, em tom bastante genrico. Exemplo: o documento diz que os presidentes e chefes de Estado eleitos nas Amricas comprometem-se a promover a prosperidade, os valores democrticos e institucionais e a segurana no hemisfrio. No Plano de Ao, entram propostas de medidas concretas para que se atinjam as metas expostas no texto poltico. Na questo principal da reunio, a criao da Afta, o documento poltico limita-se a dizer que as Amricas esto unidas na busca da meta de prosperidade por meio do livre mercado, da integrao hemisfrica e do desenvolvimento sustentado. J o Plano de Ao dever fixar uma data concreta (talvez 2005), no para estabelecer a Afta, mas para concluir os preparativos, a serem iniciados em 1995, com vistas sua criao.","As negociaes para a criao da Afta entre os Estados Unidos e os seus vizinhos do Sul vm com um impasse: Os EUA consideram que os baixos salrios pagos pelos pases latino-americanos constituem uma concorrncia desonesta. Dada a reao dos pases do Sul, os americanos tiraram a questo salrio das discusses do Plano de Ao ( que contm as questes concretas sobre a negociao) . A inteno , certamente, adiar a discusso para outro momento, e no abandonar o tema. Os americanos , tambm, querem vincular o respeito ao meio ambiente aos pr-requisitos do livre comrcio, com o que no concordaram os parceiros. Estes vem nas duas exigncias um pretexto para futuro protecionismo , pelo lado americano e europeu, caso algum pas sul-americano desrespeite uma das clusulas. H ainda a proposio de um outro documento a ser assinado junto com o Plano de Ao , em Miami. uma Declarao Poltica , com diretrizes genricas , pela qual os representantes eleitos se comprometem promover a prosperidade, os valores democrticos e institucionais, e a segurana no hemisfrio. " ce94ja21-d,"O deputado Joo Alves de Almeida (ex-PPR-BA) no est conseguindo andar nas ruas: Fui fazer compras com a proteo de um delegado e um safado gritou pega ladro. A coisa esquentou e eu tive que voltar para casa, disse Alves em seu apartamento. O poder poltico e econmico, Brasil afora, criou e aferrou-se a um mundo prprio, com regras e costumes particulares. Alves apenas um rosto que se tornou mais visvel em meio a este conglomerado de poder at h pouco invisvel. Um rosto sem rugas, o de Alves, graas plstica da clnica brasiliense Daher.e Joo Alves chegado a cirurgias corretivas. Nascido em So Miguel dos Campos (AL), declara ser natural de Macei. Os cabelos so negros? Tintura Tabletes Santo Antonio. As cirurgias so, s vezes, delicadas. Grace, aos l7 anos, a razo da vida do deputado. Na sala do apartamento, acima do piano Schneider e da estatueta de Franz Wagner, est o retrato de Grace. Que j foi neta e hoje filha de Alves. Nascida do amor de Joo com um sobrinha, Maria, Grace foi registrada inicialmente como filha de Carlos Almeida, filho do deputado. Quando ela tinha quatro anos, Joo Alves fez nova cirurgia corretiva. Foi ao cartrio e Grace deixou de ser neta para se tornar filha. Os olhos se enchem de lgrimas quando Alves fala de Grace. Com os gritos de pega ladro o deputado se trancou em seu mundo particular, mas os ecos fizeram mal filha. Perturbada, quando a CPI se iniciava foi atropelada e quebrou a bacia. Deitada na cama, o pai no conseguia afast-la dos telejornais. Ela no diz nada. Todo dia ela me d um abrao, um beijo, mas no diz nada, conta o deputado. Em Salvador o irmo, Ccero, assiste aos telejornais: horrvel, choca, voc no tem o que dizer. Ccero l3 anos mais novo, mas sabe que o irmo passava pouco dos 12 anos quando deixou o interior de Alagoas e rumou para Macei, onde trabalharia no comrcio por 8 anos at a mudana para Salvador. Em 1942 Joo Alves se tornava inspetor nacional da Previdncia. Da Previdncia viria o salto para a poltica. Ambicioso, Alves frequentava o Palace Hotel, na avenida Chile, o grande ponto de encontro de polticos e poderosos em Salvador. Atravs do senador e futuro governador Landulfo Alves, conheceu Getlio Vargas. Candidato a deputado federal, foi derrotado. Getlio, a pedido de Landulfo, nomeou-o delegado do Instituto de Aposentadoria e Penso dos Bancrios da Bahia.Getlio era um grande homem, muito amigo meu, diz Alves. Com Getlio, conheceu Joo Goulart. Com Jango chegou ao poder. Frequentava o Palcio do Catete, viajou com Jango pelo interior da Bahia montando o PTB e nesse partido obteve o primeiro dos seus oito mandatos em 1962. Empregava mdicos e funcionrios na Previdncia. o autor da emenda que permite aos mdicos a acumulao de dois cargos. dele a emenda que instituiu o 13. salrio para aposentados e pensionistas da Previdncia. ainda o responsvel pela legalizao do trabalho temporrio, das frias para trabalhadores avulsos, e pela lei que obriga o reajuste das aposentadorias e penses a cada elevao do salrio mnimo. O Joo Alves dos anos 60 chegou a ser um radical -e chegou a defender um golpe com Jango. Recordou Alves em sua conversa com a Folha: Eu cobrava do Jango uma aliana com os generais, no com cabos e soldados. Talvez pela explicitao de suas alianas preferenciais, o golpe dos generais, quando veio, passou ao largo do deputado radical. Nos governos militares e j nos anos 80, ele, na Arena e sucedneos, se tornaria o homem forte do Oramento. O deputado deixava escapar sinais exteriores de riqueza no final da dcada. A Mercedes-Benz cor de ouro comeou a ser usada mesmo para atravessar os 100 metros que separam os anexos 3 e 4 na Cmara dos deputados. O Learjet foi, repetidamente, oferecido aos amigos. Joo Alves de Almeida tem obsesso por tentar parecer aquilo que no , assim como imagina no ser o que . Eu no sei porque tudo isso, diz, na porta do elevador, pedindo um favor ao reprter, o nico em duas horas de conversa: Meu filho, v se bota uma foto onde eu t bonito.","Joo Alves de Almeida , um dos anes do Oramento, um representante bem tpico do mundo diferente do poder poltico, cujas normas de vida seguem padro prprio , diferente do da maioria dos mortais. Fez um esforo para colocar-se na fronteira do poder. Trabalhou inicialmente no comrcio, depois se tornou inspetor nacional da Previdncia. A ambio o levou a freqentar o ponto de encontro de polticos e poderosos de Salvador Esse convvio rendeu uma aproximao com Getlio Vargas, que , posteriormente, o nomeou delegado do IAPB ( Instituto de Aposentadora e Penso dos Bancrios) da Bahia. Depois , conheceu Jango e com ele chegou ao poder. A partir da, iniciou sua carreira de oito mandatos como deputado. Ao sabor dos seus interesses, defendeu um golpe com Jango, mas que fosse com o apoio dos generais e no com cabos e soldados. Esse feeling poltico , possivelmente, o tenha preservado depois do golpe de 64. Coerente com o princpio de Maquiavel, segundo o qual os fins justificam os meios, aps o golpe embarcou na Arena e se tornou o homem forte do Oramento. J ento, no continha a exposio de sinais de riqueza, exibindo a sua Mercedes-Benz e o Learjet, que freqentemente servia os amigos. Na vida particular, tambm, revelou estranhezas de comportamento , prprias da tica desse mundo do poder : do relacionamento com uma sobrinha, teve uma filha (Grace) , que inicialmente foi registrada como filha de Carlos Almeida, filho do deputado. Com o escndalo do Oramento, a tranqilidade do deputado foi ameaada, a ponto de no poder andar impunemente pelas ruas. Sua filha , perturbada pelos acontecimentos, foi atropelada e ficou imobilizada. Com o enclausuramento a que foi condenado, ela passou a ser sua razo de vida. Hoje, o trao que talvez o mantenha mais ligado ao mundo exterior a sua vaidade de manter a eterna juventude. " td94mr13-09,"Feiras mostram novos equipamentos Mquinas nacionais e importadas permitem montar ou ampliar negcio nos setores de lavanderias e confeces NELSON ROCCO Da Reportagem LocalCom capital em torno de US$ 20 mil possvel equipar ou modernizar uma confeco com produtos expostos na 25 Fenatec (Feira Internacional de Tecelagem), realizada semana passada, no Anhembi, em So Paulo. Equipamentos para lavanderia expostos na 1 Interlav (Feira Internacional de Equipamentos, Produtos e Servios para Empresas de Lavanderia) podem ser vistos e comprados at hoje, tambm no Anhembi. A coreana Soosan que tem escritrio em So Paulo esteve na Fenatec com trs modelos de mquinas para fazer meias em tecido liso com preo em torno de US$ 21.500 cada. Para o acabamento, a empresa tem um equipamento que sai por US$ 7.000. As mquinas de costura representaram a maior concorrncia no evento, depois dos fabricantes de tecido. A Mitsubishi mostrou uma linha completa para a fabricao de jeans, tnis e calados. Nlio Pacces, da Tempo, representante da Mitsubishi, diz que os preos vo de US$ 7.000 a US$ 20 mil. A Phonner Industrial, de Santa Catarina, e a China Mquinas, que vende produtos do Japo e da China, ofereceram opes de mquinas de costura por preos entre US$ 600 e US$ 3.000. A Yamacom mostrou mais de 20 mquinas de costura japonesas. Um dos destaque da Fenatec foi a presena da espanhola Investrnica. Ela desenvolve sistemas informatizados para modelagem e encaixe de roupas, e para a rea de criao e estamparia. Segundo Nrcio Fernandes, diretor da empresa no Brasil, os preos dos programas variam de US$ 3.500 a US$ 30 mil. Para quem quer comear ou j atua em bordados para confeces, a Todima, representante da Melco norte-americana, apresentou a EP1, por US$ 11.250. Para concorrer com a mquina da Melco, a Marbor mostrou um modelo que opera com cartes de memria para os desenhos, por US$ 3.000. A Mold Plast trabalha com todos os produtos e equipamentos necessrios para o setor de confeces. Decio Zilberkan, dono, afirma que oferece mais de 800 itens. Temos de uma agulha at vrios tipos de software, diz. A Interlav apresenta vrios equipamentos para quem pretende abrir lavanderias. A Danvic representante de empresas norte-americanas est vendendo mquinas de lavar self-service, com capacidade de 8 kg a 18 kg de roupa, por preos entre US$ 2.500 e US$ 4.000. A paranaense Suzuki est lanando a linha Compacta Plus. So mquinas com capacidade de 10 kg at 30 kg, por preos a partir de US$ 2.700 (lavagem normal) e US$ 5.100 (lavagem a seco). A novidade da Electrolux o Euroclean, para lavar carpetes e tapetes. Parecido com um aspirador de p, tem dois reservatrios com capacidade para 38 litros cada. O preo US$ 3.800.","Feiras mostram novos equipamentos Mquinas nacionais e importadas permitem montar ou ampliar negcio nos setores de lavanderias e confeces NELSON ROCCODa Reportagem Local Com aproximadamente US$20 mil , possvel equipar ou modernizar- com produtos expostos na 25 Fenatec , realizada na semana passada , no Anhembi, So Paulo. A tambm podem ser comprados , at hoje, equipamentos para lavandeira expostos na 1 Interlav. No evento, as mquinas de costura s perdem em concorrncia para os fabricantes de tecidos. A Mitsubishi mostrou uma linha completa para a fabricao de jeans, tnis e calados com preos de US$7.000 a US$ 20 mil. A Phonner Industrial , de Santa Catarina, e a China Mquinas , que vende produtos do Japo e China , tinham opes com preos entre US$ 600 e US$3.000. A Interlav oferece vrios equipamentos para quem quer abrir lavanderias. A Danvic- representante de empresas americanas- vende mquinas de lavar self-service, com capacidade para 8 a 18 kg de roupa, com preos entre US$ 2.500 e US$4.000 A paranaense Suzuki vende mquinas com capacidade de 10 a 30 kg de roupas, por preos que variam de US$2.700( lavagem normal) a US$ 5.100 ( lavagem a seco)." td94ju26-05,"Franqueado brasileiro jovem e tem pouco dinheiro Experincia profissional fator positivo para quem entra no sistema Da Redao O franqueado brasileiro jovem, tem instruo, experincia profissional e pouco dinheiro no bolso para investir no negcio. com esse perfil que os consultores elaboram projetos de franquia para empresas interessadas em crescer atravs do sistema. Os dados so da Cherto & Rizzo Franchising e do Instituto Franchising, segundo pesquisa com 484 participantes de seminrios sobre investimentos no setor. O sistema de franquia consiste em uma empresa repassar a tecnologia e o mtodo de trabalho de um negcio que comprovou ser eficiente, mediante o pagamento de taxas e royalties. O trabalho mostra que a maioria dos franqueados homem (71%), da regio Sudeste (58%), e quer entrar no sistema para ganhar dinheiro (58,9%). Os dados indicam que o franqueado jovem. 29,5% esto na faixa de 36 a 45 anos e 21,8% tm entre 30 e 35 anos. Marcelo Cherto, 40, diretor do Instituto Franchising, diz que a faixa entre 35 e 45 anos se destaca. quando as pessoas esto cansadas da atual atividade e ainda tm coragem de enfrentar mudanas. O que mais me impressiona, no entanto, o percentual de pessoas com at 25 anos (19,2%). Cherto afirma que durante suas aulas na FGV (Fundao Getlio Vargas), em So Paulo, tem notado que menos de 10% dos formandos saem com emprego garantido. Esse fator, segundo ele, justifica a quantidade de pessoas nessa faixa de idade que entram no sistema. As pessoas saem da faculdade sem garantia de emprego e decidem montar um negcio ou comprar uma franquia e aproveitar a experincia dos outros. A pesquisa mostra que os recursos que as pessoas tm para investir na franquia varia de US$ 15 mil a US$ 46 mil (63,2%). Esse o fator que inibe a expanso do setor no pas, segundo Cherto. A grande maioria das franquias custa mais do que as pessoas tm no bolso, diz. Segundo os clculos do diretor do Instituto, o preo mdio total de uma franquia de US$ 107 mil. Apesar do custo e do fator de inibio o sistema tem crescido de forma acelerada. Em 93, cresceu 37%. Para este ano, as estimativas do Instituto apontam para 30%. Para resolver a equao, o Instituto est fazendo uma parceria com um banco privado para a criao de um fundo de investimento. Cherto destaca que a pesquisa indica que o franqueado est preparado para entrar no segmento. At h alguns anos, as franquias eram compradas por executivos para a mulher ou para os filhos. Hoje, o prprio executivo que est deixando o cargo em busca de uma nova atividade que entra no setor, afirma. (NR)","Franqueado brasileiro jovem e tem pouco dinheiro Experincia profissional fator positivo para quem entra no sistema Da Redao O perfil do franqueado brasileiro inclui juventude, instruo, experincia profissional e pouco dinheiro para o empreendimento. assim que os consultores elaboram projetos de franquia, conforme dados da Cherto & Rizzo Franchising e do Instituto Franchising. Franquia o repasse de tecnologia e de mtodo de trabalho de um negcio que foi comprovado eficiente , mediante pagamento . A maioria dos franqueados so homens (71%), do Sudeste (58%) e buscam uma forma de ganhar dinheiro(58,9%) Cherto diz que tem notado em suas aulas na FGV que menos de 10% dos formandos saem com emprego e decidem montar um negcio ou comprar uma franquia aproveitando a experincia de outros. Na pesquisa, observou-se que recursos disponveis pelos candidatos variam de US$15 mil a US$46 mil (63,2%) , fator que inibe a expanso do setor, pois a maioria das franquias ultrapassa esse montante. Apesar disso , o sistema tem crescido bastante. E para eliminar parte dos empecilhos, o Instituto est fazendo uma parceria com um banco privado. " in96ab19-a,"BEIRUTE - O confronto entre Israel e a guerrilha fundamentalista do Hisbol (Partido de Deus) completou ontem oito dias de forma sangrenta. Bombardeios da artilharia israelense contra o Sul do Lbano provocaram dois massacres: o primeiro, em Nabati, matou 10 pessoas, entre elas um beb de trs dias. O segundo, horas depois, atingiu uma base das Naes Unidas transformada em acampamento em Can, nos arredores de Tiro, matando pelo menos 100 pessoas e ferindo mais de 190, quase todos civis, a maioria mulheres e crianas, que se haviam refugiado no local para escapar dos bombardeios israelenses. O bombardeio israelense aconteceu em resposta a um ataque com foguetes Katyusha, lanados pelo Hisbol de uma posio a 300 metros da base. A rota dos foguetes foi refeita por radares israelenses, e 15 minutos depois Israel bombardeou em resposta, errando o alvo. O Hisbol negou que tivesse lanado foguetes de posies prximas base da Fora Provisria das Naes Unidas no Lbano (Unifil, das iniciais em ingls), acusando Israel, num comunicado divulgado em Beirute, de espalhar boatos falsos. Mas o ataque do Hisbol foi confirmado por um porta-voz das Naes Unidas. O massacre deixou indignada a populao, arrasados at mesmo fotgrafos e cinegrafistas acostumados a registrar cenas semelhantes, e provocou imediata e vigorosa reao internacional. Parentes da vtimas gritavam ao lado dos corpos, culpando Israel mas tambm acusando o Hisbol, por ter atirado de local to prximo ao campo sabendo que Israel costuma rastrear os ataques. O primeiro-ministro israelense, Shimon Peres, disse lamentar o bombardeio, mas responsabilizou o Hisbol pelo episdio. O nico culpado o Hisbol, e se os srios e os libaneses no impedirem ele vai provocar uma tragdia no Lbano, afirmou o primeiro-ministro, durante entrevista coletiva imprensa, em Tel Aviv. Israel acusa o Lbano e a Sria de serem coniventes com os terroristas instalados em territrio libans, de onde atacam constantemente alvos civis no Estado judeu. Em entrevista televiso francesa Antenne 2, o primeiro-ministro libans, Rafic Hariri, declarou-se verdadeiramente comovido pelas declaraes de Peres, e desafiou o premier israelense a mostrar coragem, reconhecendo que o bombardeio foi um erro. Carnificina - Quinhentos civis libaneses se haviam refugiado no campo para fugir dos bombardeios israelenses ao Sul do Lbano. O reprter Brent Sadler, da rede de TV a cabo CNN, falou de cenas terrveis de carnificina. Sadler, que esteve no local, contou que muitos fotgrafos e cinegrafistas baixaram as cmeras e comearam a chorar diante dos corpos mutilados de homens, mulheres e crianas. Os feridos, entre eles alguns soldados da ONU, foram levados para hospitais de Tiro. Antes do bombardeio contra Can, um ataque da aviao israelense contra Nabati, tambm no Sul do Lbano, destruiu uma casa, matando 10 pessoas, entre elas uma me e sete filhos. Uma das crianas era um beb, de apenas trs dias. O pai, em peregrinao a Meca, no chegou a conhecer o filho. Apesar do choque provocado pela morte de tantos civis, Israel afirmou que pretende continuar os bombardeios. Acredito que a operao v continuar, pelo menos por alguns dias, mas impossvel fixar um prazo. Pode levar uma semana ou 10 dias, disse o ministro do Exterior, Ehud Barak, ex-comandante militar, rdio do exrcito israelense. Alvos - Um porta-voz do governo israelense, Uri Dromi, reiterou que Israel no tem outra escolha, pois a prioridade interromper os ataques de Katyushas contra o pas. Dromi afirmou que as operaes parariam se foguetes parassem de cair. Mas o Hisbol aumentou os ataques, em vez de cess-los, afirmou. Os israelenses acusam o Hisbol de se esconder atrs de civis. Questionado por um reprter da CNN sobre o ataque a Nabati, o chanceler Barak disse que Israel bombardeou a casa onde morreram vrios civis porque momentos antes avies israelenses tinham sido alvejados exatamente daquele local. Quando o reprter perguntou a Barak sobre a promessa de no atacar o Hisbol se houvesse perigo de matar civis, Barak respondeu que o piloto que bombardeou a casa no podia saber que havia civis l. Shimon Peres, que se reuniu com o presidente palestino Yasser Arafat ontem, reagiu ao ataque de Nabati (o outro no havia ocorrido ainda) dizendo que pensava que a cidade estava vazia, que todos foram instrudos a deixar suas casas. Mas os libaneses responderam a isso dizendo que no tinham para onde ir com seus filhos e perguntaram que direito Peres teria de mand-los sair de suas casas. O primeiro-ministro israelense disse que est disposto a aceitar o cessar-fogo proposto pelos EUA se o Hisbol se comprometer a parar de atirar contra o Norte de Israel. Em entrevista CNN, de Damasco, na Sria, o primeiro-ministro libans, Rafic Hariri, acusou Israel de obstruir as negociaes. No o Lbano que est recusando uma soluo poltica, Peres, disse Hariri. Veja o que est acontecendo. Ele est matando inocentes e deixando o Hisbol intacto, afirmou. Os ataques de Israel foram iniciados h nove dias, depois que foguetes Katyusha lanados pelo Hisbol feriram 36 civis na cidade israelense de Kiriat Shmona. Desde ento, Israel vem bombardeando sistematicamente o Sul do Lbano, sem ter conseguido impingir grandes danos ao grupo terrorista - as baixas so praticamente todas civis. ","Em resposta aos foguetes Katyusha do grupo fundamentalista Hisbol , Israel bombardeou o Sul do Lbano, matando mais de 100 pessoas e ferindo cerca de 190 --- a maioria mulheres e crianas, que ali estavam refugiadas numa base. O massacre deixou indignada a populao , e os reprteres e cinegrafistas, apesar de acostumados a tais cenas ficaram arrasados. A reao internacional veio rpida e vigorosa. A auto-defesa dos responsveis pode ser resumida no simplismo irresponsvel das brigas de moleques: ---Foi voc! / ---No, foi voc! / ---Voc comeou primeiro! / ---No, foi voc! Apesar dos lamentos oficiais pelo bombardeio, um porta-voz do governo israelense disse que o pas no tem outro jeito, pois a prioridade a interrupo dos ataques dos foguetes Katyushas. Em nenhum momento , as declaraes oficiais priorizaram a vida humana --- de civis inocentes. " mu94ab02-b,"Sete pessoas foram assassinadas em Los Angeles num final de semana, nmero to normal que nenhum deles mereceu destaque nos principais jornais da cidade. Mas no Japo, onde assassinatos so um fenmeno quase desconhecido, dois deles provocaram comoo nacional. Dois estudantes japoneses morreram com tiros na cabea na semana passada no estacionamento de um supermercado prximo ao Marymount College (zona sul), onde eles estudavam. O assassinato de Takuma Ito e Go Matsuura o terceiro ataque fatal a japoneses em visita aos EUA em trs anos. Esses incidentes suscitaram temor numa nao que envia 50 mil estudantes e trs milhes de outros viajantes aos EUA todos os anos. S em LA, os turistas japoneses gastaram cerca de US$ 480 milhes em 93. As autoridades qualificaram o crime de sequestro de automvel. Os analistas de notcias de Tquio tiveram que explicar o que isto significava. No ano passado ocorreram apenas 100 homicdios em Tquio, cidade com 13 milhes de habitantes e que durante o dia tem uma populao de mais de 20 milhes. Estima-se que no Japo inteiro no existam mais que 100 mil armas de fogo -s concedidas com licena especial. Nos EUA, h cerca de 200 milhes de armas. O ndice de assalto nos EUA cerca de 130 vezes superior ao do Japo. Em 1992, de um rapaz de 16 anos em Baton Rouge, Louisiana, pelo dono de uma casa. O rapaz se confundiu com a casa em que estava sendo realizada uma festa de Halloween, para onde se dirigia. O dono da casa foi absolvido, tendo sido considerado que ele agira em defesa prpria. No ano passado, um japons de 25 anos foi baleado e morto numa estao ferroviria de Concord, Califrnia, durante um assalto. O caso ainda no foi resolvido. Desta vez o governo japons aconselhou seus cidados que pretendem viajar aos EUA ter prudncia na escolha dos lugares que pretendem visitar. Autoridades tursticas americanas prevem queda no nmero de visitantes do Japo. Mas a maioria dos especialistas acha que a reduo seria temporria; os EUA ofereceriam tantas atraes que alguns assassinatos no seriam o suficiente para afastar os turistas. O cnsul-geral japons Seiichiro Noboru diz que os assassinatos no vo 'mudar o amor que os japoneses sentem pela ensolarada Califrnia. Crimes acontecem em qualquer lugar do mundo. J as autoridades americanas esto pregando o perdo. Mil policiais extras no teriam conseguido evitar algo to brutal e sem sentido, disse o sargento Steve Foster, da polcia de Los Angeles. As autoridades americanas pedem desculpas e exortam os japoneses a no terem medo, mas a verdade que eles deveriam ter medo, sim. Todos sabemos que h lugares onde jamais iramos noite, e talvez nem mesmo de dia. Est na hora de os EUA, de todos ns, enfrentarmos esse problema, disse Jimmy Takeshi, da Liga dos Cidados Nipo-Americanos em Los Angeles. Ele encontrar apoio para suas posies no Japo. Depois do caso da Louisiana, muitos japoneses criticaram os EUA por suas leis permissivas referentes ao porte de armas. Os pais da vtima circularam um abaixo-assinado pela proibio do porte de armas nos EUA. O incidente recente deve suscitar um clamor ainda maior. As duas vtimas, de 19 anos, eram muito populares na universidade. Um cara fantstico e timo aluno, como John Escandan descreveu Ito, seu colega de quarto. Nenhum dos dois morreu instantaneamente. O Japo acompanhou a chegada de seus pais, que autorizaram os mdicos a desligarem os aparelhos. O prefeito de Los Angeles, Richard Reardon, sugere folhetos descrevendo a hora mais segura para se sair de casa e os locais onde (os japoneses) no devem ir. Mas provvel que o local onde foram assassinados os dois estudantes no constaria de uma lista desse tipo. A vizinhana de Marymount agradvel e tem baixo ndice de criminalidade. A faculdade diz que os alunos esto chocados com a tragdia. As bandeiras esto hasteadas a meio pau, em sinal de luto. Estudantes e amigos vm colocando rosas e velas onde eles foram baleados.(Richard Price e Jonathan Lovitt) ","O nvel de apreo vida tem indicadores bem significativos: sete pessoas assassinadas em Los Angeles num fim de semana no mereceram destaque em nenhum dos principais jornais da cidade; dois estudantes japoneses, mortos perto do seu colgio , Marymount College, provocaram uma comoo no Japo. Em todo o Japo, avalia-se que existem 100 mil armas; nos EUA, cerca de 200 milhes. O ndice de assalto nos EUA , aproximadamente, 130 vezes superior ao do Japo. O Japo, que envia 50 mil estudantes e trs milhes de turistas aos EUA, anualmente, est aconselhando-os a serem prudentes na escolha de lugares que vo visitar. Autoridades tursticas americanas at acreditam na queda de visitantes; mas a maioria supe que seja temporria , dada a variedade de maravilhas que o pas pode oferecer. As autoridades americanas pedem desculpas e continuam estimulando os japoneses a perder o medo, mas a prudncia da Liga dos Cidados Nipo-Americanos em Los Angeles alerta para o problema ." op94ju01-10,"Os partidos e a sucesso JOS ALVARO MOISS ...o eleitor no quer saber se um partido bom ou ruim, ele v quem so as pessoas de determinado partido que funcionam. Fernando Henrique Cardoso, 9.04.94, Folha de S.Paulo O sistema partidrio brasileiro um dos mais frgeis dentre os existentes em pases que se democratizaram recentemente. Ainda assim, os partidos esto concluindo o processo de escolha de seus candidatos Presidncia e, apesar da duvidosa deciso do STF permitindo que as microlegendas tambm possam faz-lo, tudo indica que a disputa ser entre os nomes hoje em campo. Resta, no entanto, uma preocupao: a campanha eleitoral de 94 ajudar ou atrapalhar a consolidao de um sistema de partidos no pas? A preocupao justifica-se caso se leve em conta, por um lado, a experincia profundamente disruptiva para o sistema de partidos representada pela eleio presidencial de 1989; e, por outro, a atitude que, surpreendentente, alastra-se entre setores das elites polticas do pas e, mesmo, em parte da mdia. Aos poucos, mesmo candidatos oriundos da luta democrtica permitem-se desqualificar os partidos e trat-los como se fossem legendas destinadas exclusivamente a viabilizar suas candidaturas Presidncia. Em 1989, em decorrncia da atitude irresponsvel de parte da liderana auto-intitulada democrata, o pas chegou s eleies com um sistema partidrio praticamente destrudo, apesar de existirem sinais favorveis sua reorganizao desde meados da dcada. Prova eloquente foi o fato de um partido que no existia 12 meses antes da eleio, o PRN, ter vencido o pleito, enquanto o PMDB e o PFL, fiadores da transio poltica, no alcanaram juntos mais que 5% dos votos. A distoro de 1989 explica-se, em parte, pela existncia de uma legislao partidria impeditiva da organizao dos partidos em sistema mas, alm disso, um erro isentar o ex-presidente Jos Sarney e as lideranas da Aliana Democrtica de sua responsabilidade. Eles atrelaram a sorte dos seus partidos administrao eleitoral da crise social e econmica, atravs dos rumos tortuosos do Plano Cruzado e das negociaes em torno da durao do mandato do presidente. Nos ltimos anos, as tentativas de se enfrentar os problemas da legislao partidria foram malsucedidas, chegando-se a pior-la no caso do financiamento das campanhas eleitorais. So cruciais, portanto, as iniciativas das lideranas polticas. Aps a experincia traumtica com Collor de Mello e o envolvimento de lderes do PMDB e membros do PFL, entre outros, nos escndalos de corrupo, ensaiaram-se alguns passos. Partidos como o PT esforaram-se mais, nos ltimos cinco anos, para tornar conhecida a sua concepo governativa atravs da elaborao do seu programa de governo. Outros, como o PSDB e setores do PDT, procuraram definir de modo mais ntido seu compromisso contra o clientelismo, o favoritismo e a corrupo. Mesmo se insuficientes, essas iniciativas valem por apontar caminhos para a constituio de um efetivo sistema de partidos no pas. A concepo moderna de democracia a da democracia representativa (e, lembra Bobbio, isso no exclui que ela se complemente com formas de participao semidireta); mas o princpio da representao implica que, atravs dos seus representantes eleitos e das instituies de mediao entre o Estado e a sociedade, os cidados representem-se no governo. No se trata, apenas, de os cidados controlarem os governos atravs de eleies (embora isso seja decisivo) mas, tambm, de que, atravs de mediaes como os partidos, seus interesses e aspiraes sejam canalizados nas arenas onde as decises so tomadas. Nas democracias consolidadas, os partidos so pea fundamental da estrutura que obriga governos e polticos a se responsabilizarem por suas aes diante do pblico. So, portanto, referncia indispensvel para a definio das preferncias dos eleitores. Bem ou mal, o regime democrtico sinaliza isso para os cidados, mesmo quando eles so parte de uma estrutura imperfeita de informao e de conhecimento sobre a poltica. Prova disso o que vem acontecendo no Brasil em torno da relao dos cidados com os partidos polticos: apesar do seu desempenho rudimentar, nos ltimos cinco anos a taxa dos eleitores que manifestam alguma preferncia partidria cresceu de 41% para 56%. Alm disso, como atestam as pesquisas do Datafolha, h uma extraordinria consistncia nas opinies: as taxas mais altas de preferncia por candidatos correspondem aos eleitores que, ao mesmo tempo, tm preferncia pelo partido do candidato; at a queda recente e simultnea, por exemplo, do apoio pblico ao Plano Real e a FHC mediada pela preferncia dos eleitores por partidos. Formam-se assim, no Brasil, condies subjetivas favorveis consolidao de um sistema de partidos: cabe, agora, s lideranas fazer a sua parte. Por isso to decepcionante a estranha posio embora elucidativa de candidatos que, supondo serem os detentores do monoplio de modernidade poltica, manifestam-se com desprezo ou raiva diante dos partidos e de suas dissidncias. Se o zigue-zague de Sarney, nas ltimas semanas, mostrou que a sua lealdade ao PMDB nunca foi sria, FHC suscita outras dvidas ao repetir declaraes como a do epgrafe acima. Aos crticos da aliana do PSDB com o PFL, chegou a recomendar, at, que apoiassem o candidato do PT, Luiz Incio Lula da Silva. O apoio , certamente, benvindo, mas a posio do candidato do PSDB/PFL sobre o lugar que reserva aos partidos na democracia representativa precisa ser mais esclarecida. Esse ponto, por certo, no escapar ao debate dos que, legitimamente, do tanta importncia ao tema da representao. JOS ALVARO MOISS, 48, cientista poltico, professor do Departamento de Cincia Poltica e coordenador do Programa de Poltica Comparada da Universidade de So Paulo. membro do Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contempornea).","Os partidos e a sucesso JOS LVARO MOISS ...o eleitor no quer saber se um partido bom ou ruim, ele v quem so as pessoas de determinado partido que funcionam. Fernando Henrique Cardoso, 9/04//94 , Folha de S. Paulo Dentre os partidos de pases de democracia recente, o sistema brasileiro um dos mais frgeis. Mesmo assim, nossos partidos esto se preparando para a escolha do seu candidato presidncia e , apesar da hesitao do STF sobre a permisso para microlegendas, parece que disputa se dar entre os nomes atuais. A preocupao se campanha de 94 ajudar ou no a consolidao de nossos partidos. desalentador ver que mesmo candidatos com retaguarda de luta democrtica desqualificam os partidos como se fossem simplesmente canal para eleger-se. A maior prova disso a vitria do candidato eleito pelo PRN, partido com menos de um ano, enquanto o PMDB e o PFL no obtiveram juntos mais que 5% dos votos. Ultimamente , as tentativas de enfrentar os problemas da legislao partidria foram infrutferas, chegando a pior-la na questo do financiamento das campanhas. Aps a trgica experincia com Collor de Mello e o comprometimento de lderes do PMDB e membros do PFL com corrupo , houve alguma reao. O PT avanou ao expor sua concepo de governo por intermdio do seu programa. Outros, como o PSDB e setores do PDT, buscaram ser mais claros no seu compromisso contra clientelismo, favoritismo e corrupo. No muito , mas um comeo . O conceito moderno de democracia se fundamenta na sua representatividade e implica que seus representantes e as instituies medeiem os interesses dos cidados com o Estado. As aspiraes do povo devem ser canalizadas para a arena das decises oficiais. a funo primordial dos partidos nas democracias slidas. Uma tendncia alvissareira a manifestao dos eleitores, nesses cinco ltimos anos, por determinado partido. Ela cresceu de 41% para 56%. J esto sendo construdas as condies subjetivas pr consolidao dos partidos ; que as lideranas faam sua parte, afastando-se do pensamento de FHC expresso na epgrafe. " op94ma28-02,"Pele de cordeiro Na histria da humanidade, no so raros os exemplos de movimentos sociais de grande aceitao e respeitabilidade que acabam dando margem para deturpaes e desvios, ou mesmo que so utilizados por grupos ou setores especficos para travestir a defesa de interesses corporativos exclusivos. inegvel, por exemplo, que o anseio por moralizao na esfera pblica que se vem disseminando representa um alentador avano na trajetria cvica e poltica do pas. Isso no significa contudo que qualquer iniciativa que alegue ter um carter moralizador seja automtica e necessariamente correta, adequada ou mesmo desejvel. O difcil, mas essencial, distinguir o objetivo alegado para cada ato do seu significado concreto. Assim que causa profunda inquietao a notcia de que o Movimento pela tica na Poltica acaba de aprovar a criao de um comit destinado, entre outras tarefas, a fiscalizar o trabalho da mdia durante a campanha e apontar ao pas comportamentos alegadamente antiticos por meio de boletins. A questo delicada e merece anlise cuidadosa. Chama a ateno, desde logo, que num regime democrtico j facultado a todos os cidados fiscalizar se a imprensa, o governo ou qualquer outra entidade esto ou no cumprindo a lei. A apreciao de eventuais denncias, por sua vez, bem como a deciso sobre a ocorrncia ou no de efetiva irregularidade, ainda numa democracia, de competncia exclusiva do Poder Judicirio. O comit proposto pelo Movimento pela tica na Poltica representa um precedente muito perigoso e que deve ser evitado porque passa ao largo dessa indispensvel estrutura institucional de fiscalizao e cria uma instncia privada, particular e potencialmente parcial de julgamento da mdia. Por mais que no tenham fora legal, as opinies pessoais do membros desse comit _pois a isso que se resumiro seus boletins_ vo se aproveitar da aura de legitimidade do Movimento, adquirindo carter mesmo de uma condenao espria porque feita por rgo no competente e sem qualquer tipo de garantia de iseno. Perigo ainda maior o decorrente de uma iniciativa assemelhada originria da Federao Nacional dos Jornalistas. A Fenaj aprovou no seu mais recente congresso nacional _evento, alis, de representatividade questionvel_ e depois enviou ao procurador-geral da Repblica proposta de instituio de um ombudsman e de comisses de vigilncia da mdia para garantir uma suposta iseno desta durante a campanha eleitoral. No bastasse o fato de a entidade ser notoriamente ligada a um partido poltico especfico, o prprio texto da proposta to escancarado no seu facciosismo, to primariamente panfletrio, to ideologicamente viciado e tendencioso que torna ridcula _para no dizer grotesca_ a pretenso da entidade de arrogar-se paladina da iseno e da imparcialidade. A pea de fato fervilha de sofismas infantis como ...o governo Itamar Franco perpetuou a lgica neoliberal do governo Collor em sua poltica de privatizaes, de abertura da economia brasileira, de arrocho de salrios e de submisso s regras do sistema financeiro internacional, que, insistindo em permanecer na contramo da histria, tenta falaciosamente confundir movimentos estruturais de alcance global com o desastre collorido. Ao menos a chancela da Procuradoria-Geral essa aberrao no ter, j que em boa hora o titular do rgo rejeitou a proposta. Lev-la adiante, de fato, seria colcoar em risco a prpria independncia e liberdade da imprensa no pas. Cumpre notar, por fim, que para a imprensa essa liberdade j implica uma responsabilidade correspondente. H mecanismos legais que protegem a sociedade contra eventuais abusos e irregularidades da mdia, e o recente caso do direito de resposta obtido pelo governador carioca, Leonel Brizola, contra a Rede Globo _lido no ar por locutor do prprio Jornal Nacional_ deixa patente que esses mecanismos realmente funcionam na prtica. J no que se refere ao aspecto apenas ideolgico _e no puramente jurdico_ a avaliao da conduta da imprensa, esta cabe aos prprios leitores. nas mos destes que est o juzo do comportamento e da credibilidade dos rgos de informao, assim como o poder de rejeitar aqueles que considerar indignos da sua confiana. Um poder, alis, mortfero.","Pele de cordeiro Na histria da humanidade, muitos movimentos sociais de aceitabilidade e respeitabilidade so aproveitados por grupos ou setores especficos para a defesa camuflada dos prprios interesses. O anseio por moralizao pblica , por exemplo, representa um avano cvico e poltico. Mas iniciativas que se arvorem em defensores dessa linha no so necessariamente corretas ou desejveis. fundamental distinguir teoria da prtica. Causa preocupao , portanto, a notcia da criao de um comit pelo Movimento de tica na Poltica destinado, tambm, a fiscalizar a atuao da mdia durante a campanha e apontar suas falhas por meio de boletins. Num regime democrtico, esse trabalho fiscalizador envolvendo inclusive governo ou outra entidade pode ser feito por qualquer cidado. E a apreciao de irregularidades de competncia do Poder Judicirio. As opinies pessoais dos membros desse comit esto querendo aproveitar a aura de legitimidade do Movimento. Outro perigo ainda maior a iniciativa da Federao Nacional dos Jornalistas que prope a instituio de um ombudsman e de comisses de vigilncia da mdia para garantir suposta iseno na campanha. Alm de ser ligada a um determinado partido poltico, a entidade apresenta um texto por si faccioso, panfletrio e tendencioso. Nele aparecem sofismas infantis como ... o governo Itamar Franco perpetuou a lgica neoliberal do governo Collor em sua poltica de privatizaes, de abertura da economia brasileira, de arrocho de salrios e de submisso s regras do sistema financeiro internacional .O texto insiste em confundir movimentos estruturais globais com os desacertos de Collor. Felizmente, a Procuradoria-Geral rejeitou a proposta. Ela representa um risco para a liberdade da imprensa. J existem mecanismos para conter eventuais abusos e irregularidades da mdia . Reparos sua linha ideolgica devem ser feitos pelos leitores. " ce94mr1-09,"Leia o texto integral do pronunciamento de FHC Eu quero agradecer a presena, nesta tarde, aqui conosco, dos ministros que aqui se encontram. Ministro Barelli, ministro lcio lvares, ministro Arnaldo, o secretrio Mauro Durant, ministro Mauro Durant, ministro Cutolo, ministro Stepanenko, ministro Canhim, advogado geral da Unio, que aqui nos honram com a sua presena, dr. Quinto, srs. secretrios, srs. presidentes de federaes governamentais, senhoras e senhores. Eu disse h alguns meses que eu considerava que a inflao e a misria eram os dois grandes problemas que afligiam o povo brasileiro. Ns hoje estamos dando mais um passo nesta guerra contra a inflao, para que isso nos permita continuar a combater a misria e para que ns possamos ter um xito nessa dupla luta contra esses dois males. Os brasileiros, todos sabem, tm assistido, que no fcil. Ns estamos vindo de dcadas de um comportamento inflacionrio, no qual houve uma imensa concentrao de renda, comportamento inflacionrio que levou aqueles que no tinham a capacidade econmica de proteger seus haveres, seus ganhos, seus salrios, colocando-os na moeda remunerada, mas que estavam desabrigados de qualquer defesa e que no dia-a-dia mal conseguiam fazer frente s suas necessidades. Esse comportamento que se cristalizou no Brasil precisava ser rompido e precisa ser rompido. Este um processo, uma luta. uma luta que tem que ser uma luta de todos ns. Fomos dando os passos iniciais no governo do presidente Itamar Franco, que com muita determinao, resolveu que ao invs de cruzar os braos e ao invs de se preocupar simplesmente com a conjuntura e com aquilo que pode afligir um governo, que por sua prpria natureza passageiro e no dispe de um grande perodo de tempo, tomou outro rumo, resolveu enfrentar pela raiz essas questes. E ns diagnosticamos esses dois males, a misria e a inflao, e ns os estamos atacando. Ao ministro da Fazenda e aos ministros das reas econmicas cabe a responsabilidade principal, sempre dentro das diretrizes do governo e do presidente da Repblica, no combate inflao. Mas isso no quer dizer que esses mesmos ministros, ao lado de outros da rea social, possam desinteressar-se do combate fome, pobreza, ao desemprego e misria. um processo convergente. No front de luta direto da rea econmica, ns lutamos por refazer o oramento da Repblica em 93 e 94. No vou entrar em detalhes, por uma razo muito simples. Se o governo gasta mais do que ele ganha, mais do que ele recolhe de impostos, ele obrigado a emitir ttulos, a pedir dinheiro emprestado, a pagar juros altos e ele ento passa a ser o principal alimentador da ciranda financeira, que mantm o pas em estado de perplexidade, vendo uma grande expanso da massa dos financiamentos a juros elevados e no sendo o governo capaz de fazer frente s suas necessidades, as mais elementares. Foi uma batalha dura e ns no a fizemos se no que com a parceria do Congresso. O Congresso fundamental nessa luta, o governo no pode se queixar. Com as dificuldades normais desses processos, o Congresso nos deu os instrumentos para o combate inflao, iniciando pelo oramento. Refizemos o oramento com enormes sacrifcios dos congressistas, dos ministros, que foram solidrios. No nada fcil cortar despesas quando j se parte de um patamar muito apertado. Agora, ns j temos condies de dizer que o Brasil est entrando num regime de equilbrio fiscal, ns podemos dar um outro passo. esse passo que est sendo dado a partir de amanh, cujas diretrizes foram assinadas pelo presidente da Repblica e publicadas no Dirio Oficial de hoje. Passo to difcil quanto os anteriores, mas aqui no buscamos o caminho da facilidade. Ns anunciamos cada etapa e mesmo antecipamos as etapas seguintes, sabendo muitas vezes que ao antecipar criaramos obstculos e reaes. Mas esses ministros que aqui esto, o presidente da Repblica e os que aqui no esto porque no puderam vir ou no so das reas diretamente concernidas, no tm medo de obstculo e preferem dizer que h obstculo, lutar, negociar, tentar vencer do que esconder. E tambm no querem fazer nenhuma mgica. No somos ilusionistas. No fizemos o caminho de primeiro dar aquilo que a todos agradaria, que seria a queda abrupta da inflao, eventualmente com congelamento. Eventualmente congelamento sempre significa tambm congelamento de salrio, comea pelos preos e pelos salrios, termina s no salrio. No foi esse o nosso caminho. Ns achamos que preciso que haja um outro caminho no Brasil. Um caminho no quel o pas no seu conjunto assuma solidariamente a tarefa de lutar contra a inflao, para que ns possamos, tambm juntos, lutar contra a pobreza e a misria. Daqui por diante, esse programa do governo Itamar Franco ou um programa do pas, no para um partido, no para um candidato, no para uma faco, no para uma classe, para o pas e a prpria cidadania tome em suas mos a responsabilidade de continuar esse combate ou no h programa. O Congresso foi solidrio em algumas decises. Vamos precisar dele de novo. Precisamos que o Congresso no se esquea de promulgar o Fundo Social de Emergncia, que componente vital do programa de equilbrio das finanas pblicas. Precisamos da solidariedade do Congresso, da compreenso do momento para que ns possamos levar adiante as novas medidas, que esto comeando a ser tomadas agora. O importante que ns no perdemos a rota. E ns temos sido fiis quilo que anunciamos. H dificuldades. Quem no percebe? Quem nega isso? Certamente no os ministros, certamente no o presidente. Mas, ns decidimos enfrent-las. Terminada a etapa de reformulao dos oramentos, ns temos que entrar agora no grande dilogo nacional. E ao enfrentar o grande dilogo nacional, ns estamos propondo ao Brasil uma referncia mais estvel, estvel, firme de valor. Qual o brasileiro hoje que sabe o preo relativo? Quanto custa um sapato? Quanto custa uma bicicleta? Quanto custa uma televiso? Quanto custa um automvel? Nem mesmo uma casa. Passamos a recorrer a moedas estrangeiras para ter alguma idia do valor relativo. O nosso pobre cruzeiro, chamado real, ia se dismilinguindo em nossas mos, virava sorvete, desaparece. Ns precisamos nos reacostumar a que os preos tm que estar estabelecidos, duradouramente, numa certa unidade de conta, por isso estamos criando a Unidade Real de Valor. Esta URV hoje parte do sistema monetrio. Esta Unidade Real de Valor vai servir de base fundamental para aferir tanto o preo quanto o salrio. Tanto o preo da mercadoria quanto o salrio e isso uma novidade muito importante. At hoje, nunca nenhum governo deu ao trabalhador, ao assalariado, a garantia no ponto de partida que o dinheiro que ele pensa que recebe no dia 1 do ms vai ter a mesma capacidade de compra no momento em que ele recebe de fato no fim do ms. Agora ter. Agora, o salrio cem, fixado em cem no dia 1 de maro vai ser recebido no dia 1 de abril com o mesmo valor de 100 URV. No dia 1 de maro, se fosse o salrio mnimo, ele valeria cerca de CR$ 55 mil. Quando chegar no dia 1 de abril ele vai valer CR$ 58 e qualquer coisa, no vai perder a capacidade de compra. O aposentado, que recebe num espao de tempo, aquele que recebe no 10 dia, 12 dia do ms, que realmente quando recebia o dinheiro, o salrio mnimo que fosse, pensando que era cem, na verdade quando chegava l isso j era 80 e mais no fim do ms 60. Agora no. Agora o aposentado que recebia no 12 dia do ms, se a inflao for de 40%, toda inflao entra no salrio dele e se ele tiver salrio mnimo de CR$ 55 mil, quando chegar no 12 dia til, que ele vai receber, ele vai receber CR$ 7O mil. Por qu? Porque o salrio est referido Unidade Real de Valor. E os preos? O pas inteiro clama e o ministro tambm, contra a especulao, o abuso dos oligoplios, daqueles que no querem entender que o momento hoje no o de espoliar ainda mais esse povo, o de apoiar um programa decente, limpo, claro. Por que ns no fizemos a URV para os preos? Porque ns no queremos dar aos preos a garantia que damos aos salrios. Hoje, o assalariado est com uma couraa protetora, que a URV. Se o preo sobe eu espero que no suba e vou ver, vou ver, os que tm abusado da pacincia desse povo. Pois bem, pois bem, quando subirem, se subirem os preos automaticamente sobem os salrios. Por qu? Porque a URV medida por trs ndices de preo e, portanto, automaticamente qualquer subida passa para os preos. Mas, ns no vamos congelar, porque isso no resolve. Isso somente serve para aular ainda mais a gana daqueles que querem ganhar no mercado negro, daqueles que vo jogar pelo desabastecimento. No haver congelamento, porque isso no funciona para com o povo. Haver a crena em que, na competio, ou os preos baixam ou no encontram quem compre. E quando o preo for de monoplio ou de oligoplio encontrar pela frente o governo instrumentado para uma negociao muito firme, que os levem a compreender que nesse momento de transio ns precisamos da unio de todos. No so palavras, o Brasil cansou. O Brasil cansou de mgica, cansou da explorao. O governo do presidente Itamar Franco, que se manifestou sempre com sensibilidade social sabe que o crescimento econmico importante. Ns no estamos fazendo um programa para recesso. Ns estamos fazendo um programa para o equilbrio. No se faz equilbrio com desemprego. Existem normas, na prpria medida provisria, que tornam mais difcil a dispensa injustificada. Mas ns queremos que, ao invs de pensar em dispensa, se pense em mais do que isso, se pense em emprego, se pense no aumento de oportunidades. Este programa vai permitir, em breve tempo, um investimento mais seguro, mais firme. As Bolsas so um exemplo disso. Ns no tomamos aqui nenhuma medida que venha a prejudicar o investidor, pelo contrrio, ns queremos investidor. Queremos investidor daqui e de fora. Queremos que realmente haja uma gerao de oportunidades. Queremos mais empregos. E ns no vamos descuidar tampouco dos programas especficos como o da fome, como disse aqui, do problema de emprego. Ns estamos mostrando a cara do Brasil na sua realidade. Nossa moeda nova vai se chamar real. Esse processo, esse programa um programa realista. Ns no estamos oferecendo iluses. Ento descobrimos, ou melhor, realamos talvez, algumas injustias que j existem e que vo deixar este pas ainda mais ansioso por resolv-las. Estamos dando um passo. Vamos buscar caminhos que melhorem a base da sociedade. Neste momento, o ministro da Fazenda, o que ele est fazendo, no uma poltica salarial, at porque h outros ministros que faro a poltica salarial. Ele est simplesmente fazendo uma converso de moeda e fazendo de modo que dento do possvel e assim , possvel, os grficos esto a disposio de todos, que o governo faa isso garantindo os salrios, a renda real. Ento, tenho certeza, que quando chegar o momento dos outros passos, da transformao da URV em real, em moeda de circulao livre no pas, vamos fazer do mesmo modo, como fizemos at agora. Faremos isso anunciando, pr-anunciando, no nos desviando dos objetivos, negociando. No creio que jamais tenha havido um programa de estabilizao to aberto quanto este. Quando foi oportuno e possvel conversei com as lideranas sindicais, praticamente todas as centrais sindicais. Aqui estiveram neste Ministrio os mais importantes lderes, o Jair Meneghelli, o Vicentinho, o Medeiros, o Pegado, o Urbano, da Contag, o Neto, nunca me furtei a conversar, a mostrar os dados, a pedir sugestes, a dizer que o governo estava e est aberto, mas quer sadas, no quer impasses, porque o Brasil no pode esperar que simplesmente se paralise tudo porque h uma reivindicao que momentaneamente no possa ser atendida. Fizemos a mesma coisa com o Congresso, quando abrimos totalmente o oramento para o Congresso. Faremos a mesma coisa com toda a sociedade. Esta fase da Unidade Real de Valor uma fase na qual os contratos vo se acomodar livremente. Ns s regulamos o que era necessrio regular. Quando definimos uma regra de converso dos salrios foi para proteger o assalariado. Quem compra faremos a mesma coisa. Daremos um espao negociao, negociao de aluguis, negociao das mensalidades escolares, dos planos de sade. Esperamos que a sociedade se acomode. Quando o contrato for escrito em URV e a partir de 15 de maro todos os contratos novos tero de s-lo a partir desse momento o contrato vale por um ano, sem reajuste, estvel em URV. Quando for renegociado, repactuado livremente pela sociedade, aplica-se a mesma regra. um momento de grande negociao na sociedade brasileira at que se veja que est madura para a definio da nova moeda. Eu sou perguntado todos os dias pela imprensa, e eu preciso da imprensa escrita, falada, televisiva, para que o povo entenda o programa, todos os dias eu sou perguntado quando que vem o real. Ele vir quando o povo quiser. Ele vir quando o pas estiver amadurecido e sentir que entendeu as regras, que j no vamos fazer nenhuma injustia aqui e ali e que o momento de passar para o real. Se ns fizssemos j a transformao, uns estariam ganhando muito, outros poucos, porque no teria havido essa acomodao. E aquilo que no momento parecia pico, vira vale no momento seguinte porque os preos podem subir e arrebentam o plano. Por isso no fizemos. A idia de que preciso ajustar pelas mdias para proteger a possibilidade da manuteno de um programa e para que essa mdia seja piso na negociao seguinte. Ns no estamos congelando o salrio de ningum. Est livre a negociao. Est livre a negociao e eu acredito que ns temos que aprender todos a negociar cada vez mais. Daqui para a frente o assalariado, o funcionrio pblico, ao qual demos uma data base 1 de janeiro, vai ter que discutir ajustes em termos reais. No se trata mais de recuperar a perda, a perda est automaticamente recuperada pela URV. Daqui por diante corrigir injustias. acertar as injustias e trabalhar mais, aumentar a produtividade. ganhar mais. fazer o Brasil crescer, porque o Brasil tem condio e vai crescer. E quando vier o real, ele ser a expresso desse novo pas. Um pas que, como eu disse aqui nesta sala no meu discurso de posse, tem que voltar a ter dignidade, tem que acreditar em si, no tem que ter uma moeda que se derrete, tem que ter uma pataca, uma moeda forte, firme, com a qual ele vai pagar o trabalho daqueles que suaram o tempo todo, que no vo mais ser iludidos por um ganho que desaparece. Daqui para a frente o trabalho vai ser muito grande, mas eu tenho confiana. Tenho muita confiana. Essa confiana eu a tenho, porque eu sinto no povo, com todas as dificuldades, com todas as agruras, o povo avana firme, negocia, discute. Eu sinto no governo. Esse governo democrtico, eu nunca vi talvez um governo to democrtico. A caracterstica do presidente da Repblica, Itamar Franco, essa. Ele ouve. Ouve muito, permite que se acomodem as divergncias. No pode haver governo onde um s fale, nem o presidente e muito menos um ministro qualquer. Todos ns temos o nosso direito, nosso dever de opinar. Uma vez decidido, est decidido e cumpra-se. Essa a democracia. Democracia muita discusso, consenso e fora solidria para que as coisas avancem, esse o nosso caso. E vo avanar, e vo avanar. Eu vou terminar dizendo que, embora este ano, talvez por suas peculiaridades histricas de eleies, seja um ano difcil para a estabilizao econmica, quem sabe por isso mesmo, num pas cansado de tanta corrupo, num pas cansado de tanta falta de que os responsveis assumam riscos, decidam e sejam firmes, talvez por isso mesmo, tenha chegado a hora de, efetivamente, ns estabilizarmos a economia. E que no haja um processo poltico interferindo nas decises nacionais. Poltico sim, mas partidrio no, candidaturas no podem interferir nas decises. Ou ns acreditamos realmente que h ainda esprito patritico, vocao de servir, isto vale tanto para os civis como para os militares, aqui esto civis e militares, que discutimos dentro de critrios democrricos e decidimos juntos. Ou ns acreditamos que assim ou ento seria grave. Mas ns acreditamos. Ns acreditamos. Ns temos certeza de que assim. Ns temos certeza de que no haver ganncia eleitoreira capaz de destruir o rumo econmico. Ns acreditamos que o Congresso sensvel, como foi ao clamor das ruas, e as ruas no querem clientelismo, as ruas no querem o dinheiro jogado em coisas desnecessrias para fins eleitorais. As ruas no querem que o ministro diga sim quilo que deve ser recusado porque no bom para o pas. As ruas querem outra coisa. As ruas querem o que elas j so, gente simples, decente, que trabalha, que acredita. Dentro do possvel os ministros que aqui esto fazem um grande esforo na mesma direo. E ns somos assim. Podemos errar aqui e ali, mas no conjunto, o prprio presidente da Repblica estimula essa atitude. No conjunto ns nem temos a convico de que s ns temos a verdade, nem somos pessoas que no lutamos por nossas convices. No somos dados a mordomias, somos dados ao trabalho, como todo o povo brasileiro. Esse programa feito para ser positivo, afirmativo para os que trabalham, no para os que ganham na usura, no para os que especulam, no para os que fazem os ganhos de monoplio, no para aqueles que no tm preocupao com o seu semelhante, no para quem no tem solidariedade, no para quem no acredita que este pas tem condies de acabar com a fome e a misria, mas feito precisamente para se a estabilizao puder servir e vai servir, ela h de servir para aumentar o crescimento, desenvolver mais o pas e dar um ganha-po justo e honrado a todos os brasileiros. Muito obrigado.","Texto integral do pronunciamento de FHC Quero agradecer a presena dos ministros , dos secretrios , dos presidentes de federaes governamentais. Senhoras e senhores. H alguns meses , disse que a inflao e a misria so os dois grandes males do Brasil. Hoje estamos dando mais um passo contra eles. No fcil , pois estamos vindo de um comportamento inflacionrio que concentrou a renda em poucos, desprotegendo os de menor poder aquisitivo. Esse comportamento precisa ser combatido com a luta de todos. No governo de Itamar Franco iniciamos os primeiros passos. Ao ministro da Fazenda e aos da rea econmica cabe a responsabilidade maior . Lutamos por refazer o oramento da Repblica em 93 e 94. Se o governo gasta mais do que arrecada , obrigado a emitir ttulos, a pedir dinheiro emprestado a altos juros, o que alimenta o jogo financeiro e, conseqentemente, a inflao. Para esta dura batalha contamos com a parceria do Congresso, que nos deu instrumentos para combat- la. Refizemos o oramento com enormes sacrifcios dos congressistas, dos ministros. difcil cortar despesas num patamar j apertado. Agora, podemos partir para outro passo, que muito difcil, mas para o qual os ministros presentes , os impossibilitados de vir, o presidente esto preparados, quaisquer que sejam os obstculos. E sem mgicas. Somos de opinio de que deve haver outro caminho para o pas, que os brasileiros devem assumir em conjunto: o do combate pobreza e misria. Do Congresso esperamos a promulgao do Fundo Social de Emergncia, componente vital do programa de equilbrio das finanas pblicas. A etapa seguinte a de criar um ponto de referncia estvel. Para isso, estamos criando a Unidade Real de Valor (URV) , que servir de base para avaliar preos e salrios.Com ela , o salrio determinado para um ms ser recebido no incio do outro com o mesmo poder aquisitivo. E como ficam os preos? Se subirem, automaticamente subiro os salrios , porque a URV medida por trs ndices de preos. Chegar um momento em que os especuladores , os oligoplios devem desistir, ou porque os salrios pagos por eles acompanham ou porque no tero para quem vender. O governo do presidente Itamar Franco sabe que o crescimento econmico importante e que no se consegue equilbrio com desemprego. Nessa linha , o programa vai ser interessante porque permite investimento mais seguro. O realismo deste programa est indicado no prprio nome da nova moedao real . Quando chegar o momento da transformao da URV em real , vamos anunciar com antecedncia, negociar sem nos afastarmos dos objetivos. J conversei com as lideranas sindicais, para expor-lhes dados , pedir sugestes, mas tambm para dizer que os trabalhadores no podem esperar atendimentos de reivindicaes que resultariam na inviabilizao do plano. Fizemos o mesmo com o Congresso . E estenderemos o mesmo recado populao. Daremos um espao negociao de aluguis, de mensalidades escolares, de planos de sade. A idia de ajustar pela mdia visa proteger o programa e fazer dela um piso para negociaes seguintes. No h congelamento de salrio. A negociao livre. Embora seja grande o trabalho daqui para a frente, tenho confiana . que , apesar das agruras sofridas, vejo no povo a disposio de ir em frente, negociar, questionar. E isso democracia. Num ano de eleies como este, reconheo ser difcil propor estabilizao econmica, mas, por outro lado, o fato de termos uma longa experincia com corrupo , com irresponsabilidade de quem comanda sirva de estmulo para cumprirmos meta to importante como esta. O programa positivo. No foi feito para os usurrios, para os especuladores , para os insensveis s dores do prximo, para os que no acreditam que o Brasil tem jeito. " ce94de09-23,"Caetano lembra 'exuberncia esmagadora do talento de Tom' Da Redao Caetano Veloso escreve sobre Tom Jobim no press release de Antonio Brasileiro, ltimo disco do compositor. Leia a seguir o texto de Caetano: CAETANO VELOSO Como na cano de Chico Buarque, que, falando por ns, o classifica de maestro soberano, ele aqui se chama Antonio Brasileiro. A exuberncia esmagadora do seu talento tem sido, para os que crescemos sua luz, mais estimulante do que inibidora. que a criao da bossa nova, a par de uma subida do nvel de exigncia, trouxe muitas sugestes de rotas a explorar, que incluam do olhar para a tradio ao profundo dilogo internacional, do apuro tcnico ao desvendamento do Brasil. , ns atendemos ao chamado: de Edu Lobo a Paulinho da Viola, de Joo Bosco a Roberto Carlos, de Gilberto Gil a Milton Nascimento, de Hermeto Pascoal a Herbert Viana, de Lobo a L Borges, de Morais Moreira a Guinga, enfim, tantos que nos reconhecemos menores diante do grande mestre, no nos sentimos, no entanto, meramente redundantes ou necessariamente suprfluos: nos momentos de bom humor, reconhecemos estar cumprindo tarefas para as quais as ordens estavam embutidas nas harmonias, nas decises, nas recusas da bossa nova. por isso que ouvimos cada disco novo de Tom com um ouvido a um tempo privilegiado e comprometido um ouvido sensvel s referncias e cheio de responsabilidades. Para gente como ns, por exemplo, ouvir uma verso to ajustada do modern-jazzstico S Dano Samba, seguida da fortemente tradicionalista Piano na Mangueira, significa uma meditao sobre Orfeu da Conceio e o Beco das Garrafas. Sobre como a musicalidade de Tom cobriu esse amplo espectro que vai de um ao outro, levando cada segmento do longo caminho dignidade de seu som e ao refinamento de sua concepo pessoal. Que Piano na Mangueira seja uma composio mais complexa do que S Dano Samba e tambm, de certa forma, mais moderna do que esta s confirma a histria do homem que comps as canes-manifesto Desafinado e Samba de uma Nota S, mas que fez a revoluo com Chega de Saudade, a mais melodicamente tradicional das canes inaugurais do movimento. Insensatez na voz de Sting (que aqui soa um pouco Nat King Cole) faz pensar em todos os curiosos encontros e desencontros entre bossa nova e rock'n roll: no apenas nos inocentes enganos da cultura pop americana do incio dos anos 60, que tentou catalogar a bossa nova entre as danas da moda, mas tambm na new bossa inglesa dos anos 80 e, sobretudo, em como o que h de sofisticado na msica popular brasileira atrai os roqueiros que se aproximaram do jazz e tambm aqueles que se interessaram pela produo musical de pases no pertencentes ao Primeiro Mundo ou ao mundo de lngua inglesa. Faz pensar em Milton Nascimento e em como sua msica tem sido o mais claro exemplo disso. Nesse contexto, fascinante ouvir o Trem Azul de L Borges e Ronaldo Bastos cantado em ingls, na excelente verso feita pelo prprio Tom: fica mais evidente que o modo como os mineiros trataram o legado dos Beatles, ou seja, o que se ouve no universo sonoro de Milton e sobretudo nas solues composicionais de L, faz destes os precursores do estilo que justamente Sting viria a desenvolver anos mais tarde. Que isso se d exatamente num disco de Tom prova no s de sua receptividade, mas tambm do lugar vital que ele ocupa no organismo da msica brasileira. Por mais que ele ironize a solenidade de sua posio, fica patente que tudo passa por ele. Jobim carioca. No levar-se muito a srio faz parte da concepo de elegncia que lhe foi ensinada tacitamente. Seguramente enganosa a impresso de falta de rigor que ele deixa transparecer. Muitos jornalistas j meteram os ps pelas mos por causa disso. A expectativa do mercado americano em relao bossa nova como mais uma dana da moda no foi de todo frustrada porque em 66 Srgio Mendes lanou uma verso ultracomercial da msica popular brasileira moderna para o mundo. Bom msico, Srgio apresentou um produto fcil (de ouvir), mas de boa qualidade. O esquema utilizava vozes femininas. Logo tornou-se um som padro de samba moderno pra gringo, para o qual o bom gosto nacional torcia o nariz. Tom Jobim, nos ltimos anos, tem-se apresentado com um grupo de moas vocalistas. o bastante para que jornalistas afoitos ouam apenas a exterioridade dos sons que lhes lembra Srgio Mendes e se recusem a ouvir o que interessa. Eis o que interessa: o toque nico de Tom, cuja sabedoria a respeito do peso dos prprios dedos d uma voz inconfundvel ao seu piano; o refinamento dos contrapontos; a complexidade das harmonias que, no entanto, so sempre construdas sem que se percebam intenes no inspiradas; o desenvolvimento do seu estilo pessoal, de arroubos para sinfnicos e grandiloquentes que o livram das vinculaes histricas com a bossa nova. Quanto ao canto das moas sempre tranado com os outros sons que compem os arranjos, este surge como uma afirmao da leveza e da alegria, um modo despreocupado e sem pose de mostrar-se entre amigos que gostam da companhia feminina e de reconhecer que as mulheres parecem tornar todas as coisas mais agradveis. Talvez no seja muito fcil admitir que o nosso maior compositor possa combinar seriedade com o desejo de ser agradvel. Quando, num programa de televiso que eu comandava com o Chico Buarque, Piazzola e Jobim se apresentaram juntos, esse trao era o que mais contrastava entre eles. Eu pensei nas diferenas do Rio e Buenos Aires. Mas o fato que quando as moas do Tom entravam cantando aquele trecho do tema de Gabriela meus olhos se enchiam d'gua. claro que Tom tambm pode se enganar. Mas seus enganos sempre dizem mais, ensinam mais do que os acertos de muitos. Quando a gente, ouvindo as intervenes do vocal feminino de Tom, se lembra de Srgio Mendes, no que isso barateie Tom, isso dignifica Srgio. Para que a msica seja boa preciso que o msico seja grande mas tambm que o ouvinte no seja pequeno. Aqui, neste disco, as moas esto perfeitamente afinadas e a faixa Querida parece falar delas, tanto do ponto de vista afetivo quanto do esttico, muito melhor do que eu poderia aqui. Surfboard a mostra mais clara da altitude em que paira a msica de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. tambm a mais veemente confirmao do argumento do pargrafo anterior. Toda vez que eu ouo Surfboard eu penso que se trata de uma composio que ao mesmo tempo O Barquinho de Menescal e Samba de Vero de Marcos Valle, mas com a densidade de uma Estrada Branca. Como aquelas, uma crnica sonora da vida praieira carioca, mas, diferentemente delas, tambm uma experincia trgica da grande alegria e do perigo, da vertigem de estar dentro de uma paisagem demasiado intensa: vem-se ondas crescendo como montanhas, sente-se o Sol ressurgir na solido da manobra, observa-se o ritmo com que se alternam os tons das cores da gua e do ar; por outro lado, compartilha-se da nostalgia de quem olha tudo isso de longe e sabe que entende a msica oculta dos gestos do surfista que a executa sem pensar. O modo como os acordes se encadeiam no ritmo que traz essa densidade. E, no entanto, no haveria Roberto Menescal nem Marcos Valle se no tivesse chegado antes Jobim. Quer dizer, Surfboard a maneira de o velho sbio confirmar as observaes dos meninos que ele criou. Aqui as vozes das mulheres falam da alegria e da leveza com redobrada convico. E fica melhor dito o que eu tentei expor no pargrafo anterior. E que o Samba de Maria Luiza na voz da filha homenageada reduz ao essencial. Duas homenagens a Radams uma delas dividida com Pel so declaraes de identidade e de identificao na excelncia. Um poema de Bandeira tratado Villa Lobos o modo encontrado por Tom para definir sua insero no corpo do modernismo brasileiro. Dois duetos com Caymmi so a reafirmao do seu lugar na msica popular, da sua praia. Talvez a combinao de Caymmi com Radams complete um auto-retrato de Tom: Caymmi sendo o msico de formao popular que melhor ouve os clssicos e Radams, o msico de formao erudita que melhor ouve o popular. Depois de tantos anos sem gravar um disco seu, Jobim, nesse to variado e mltiplo Antonio Brasileiro, mostra acima de tudo sua generosidade. Os cuidados timbrsticos e o bom gosto das linhas, assim como o imaginoso das composies, asseguram que o Sol da nossa msica est na potncia total de sua luminosidade. Na fotografia que Aninha fez para a capa parece que se pode ver com os olhos o essencial da beleza de um homem cuja exterioridade fsica, na juventude, revelava de cara o que de divino havia de ser descoberto em sua msica, em sua percepo, em seu estilo. E ela o captou no momento de uma chama acesa. Mas o Tom que volta to cheio de parentescos estticos (e no s estticos) expostos, to enobrecedor de linhagens brasileiras e internacionais, to enriquecedor de passados e futuros, esse o que mais nos impressiona aqui. Ele no nos d apenas suas canes e seus sons. Ele prova ser excelente reprodutor biolgico, trazendo ao mundo filhos e netos que produzem boa msica, inclusive junto com ele. O violo e os arranjos de Paulinho, os teclados de Daniel (filho de Paulinho que divide com este a produo do disco) so outras tantas belezas que a gente deve indiretamente? a Tom. Como tambm as vozes de Maria Luiza e Elizabeth. No nepotismo: amor e talento. O amor de que o corao de Tom Jobim o maior repositrio: o amor pela msica, pelos homens humanos e pela travessia do Brasil.","Caetano lembra exuberncia esmagadora do talento de Tom Da Redao Caetano Veloso escreve sobre Tom Jobim no press release de Antonio Brasileiro, ltimo disco do compositor. Leia a seguir o texto de Caetano: CAETANO VELOSO Na sua cano , Chico Buarque classifica Tom de maestro soberano; aqui ele denominado Antonio Brasileiro. Ns, gerao de compositores influenciada por ele, no sentimos o peso de seu talento, mas uma fonte de estmulos . A bossa nova um leque de inspiraes .Seus discpulos Edu Lobo, Paulinho da Viola, Joo Bosco, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Hermeto Pascoal , Herbert Viana, Lobo , L Borges, Morais Moreira, Guinga, -- reconhecemos nele um mestre , mas no vemos nosso trabalho como uma redundncia ou superfluidade. Da o privilgio e o senso de responsabilidade, ao ouvirmos um disco dele. Neste temos S Dano Samba, Piano na Mangueira, Insensatez(por exemplo) , que faz pensar nos encontros e desencontros entre bossa nova e rockn roll. Um disco de Tom no s prova sua receptividade mas tambm o seu destaque na msica brasileira. Quando ele ironiza sua posio, no fundo est demonstrando uma concepo de elegncia a ele ensinada . No falta de rigor que alguns jornalistas apressados tentam passar. Em 1966 , Srgio Mendes lanou um disco comercial de msica brasileira moderna. Eram msicas fceis de ouvir, mas de qualidade. Utilizou vozes femininas. Para o pblico americano constituiu padro de samba moderna, contrariando o bom gosto nacional. Tom tambm tem se apresentado com vocalistas femininas. Isso fez alguns jornalistas relacionarem-no a Srgio Mendes , atentando mais para as exterioridades e menos para o fundamental. Deveriam ver a essncia: a voz inconfundvel do seu toque ao piano; o refinamento dos contrapontos; a complexidade das suas harmonias. A presena das moas nos seus arranjos constitui uma afirmao da leveza e da alegria, uma forma descontrada de mostrar-se entre amigos. Essa presena feminina como em Srgio Mendes no deprecia Tom; enaltece Srgio. Surfboard , outra msica do disco, tambm comprova a excelncia do compositor. como se fosse uma crnica da vida nas praias cariocas, mas tambm uma experincia trgica da alegria e do perigo, da vertigem de sentir-se numa paisagem intensa. Esta msica como se Tom se manifestasse nos seus discpulos Roberto Menescal e Marcos Valle. No disco , ainda, aparecem duas homenagens a Radams , que so declaraes de identidade e de identificao quanto excelncia. Dois duetos com Caymmi reafirmam seu lugar na msica popular. Caymmi , um msico de raiz popular que ouve clssicos; e Radams , msico de formao erudita que ouve msica popular , talvez completem um retrato de Tom. A capa do disco mostra a foto feita por Aninha , em que aparece um homem de beleza fsica harmonizando com o tom divinal da msica. " di94fe13-14,"Se o presidente atacar a nova fantasia... Inflao cai e mostra que a equipe FHC no sabe fazer previses. Ainda tempo de vetar a nova moeda ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Os ndices de inflao recuaram quase dois pontos percentuais, para a faixa dos 38%, na primeira quadrissemana de fevereiro. Vitria da equipe FHC? Ao contrrio. Prova de sua falta de conhecimento do que acontece com os preos, no pas. E prova de que, mais uma vez, economistas cheios de teorias e pretenso provocam mais inflao como nos tempos de Mailson, Sayad, Abreu, Marclio e seus assessores/especuladores. Era perfeitamente possvel prever que a taxa de inflao entraria em queda no comeo de fevereiro. A previso foi feita nesta coluna, h trs, quatro semanas, como qualquer leitor pode testemunhar. No questo de chute, ou bola de cristal. Conforme j explicado milhares de vezes, a forma de calcular as taxas de inflao no Brasil cria distores, mostra na verdade a inflao velha, de quatro semanas ou um ms atrs. Ela se baseia na comparao dos preos mdios das ltimas quatro semanas, com os preos mdios da quadrissemana anterior e, com isso, h sempre esse prazo at que uma alta de preos (ou baixa) puxe o ndice. Em poucas palavras: a taxa de inflao do comeo de janeiro refletia na verdade as altas de preos ocorridas no comeo de dezembro, assim como a taxa de inflao (mais baixa) de fevereiro est refletindo a desacelerao das remarcaes em janeiro. A equipe FHC igual s anteriores. Os economistas falam todos os dias sobre o que est acontecendo no seu entender com a economia, mas detestam acompanhar os fatos, a conjuntura. Ou os preos, no caso. Por isso a equipe errou e voltou a provocar mais inflao neste comeo de ano, e no apenas por omisso. A responsabilidade da equipe bvia. Na virada do ano, com as remarcaes de dezembro, comearam a surgir os ndices assustadores (mas que refletiam remarcaes velhas, insista-se). Desprezando essa realidade, o ministro e assessores nada fizeram para esvaziar a histeria e consequente clima de altas que tomaram conta da economia. Ao contrrio: embarcaram na canoa de que a inflao estaria em alta, e o Banco Central elevou terrivelmente as taxas de juros. E a bola de neve continuou: os juros altos puxaram a TR (que calculada com base nas taxas dos CDBs, e no com base na inflao); por isso, surgiram as notcias de remunerao de 50% para as cadernetas, provocando mais histeria; os custos financeiros das empresas tambm subiram, puxando os preos, e assim por diante. Concretamente: a equipe econmica comportou-se como se fosse incompetente, como se ignorasse que a inflao do comeo de janeiro era velha, exagerada, e estava caindo naturalmente naquele momento. Criou, concretamente, especulao e insegurana, que leva a mais inflao. Criou inflao. A clebre inflao burra, desnecessria, que assola o Brasil. guas passadas? No adianta mais falar nisso pois agora a queda da inflao j est garantida, com a aprovao do pacote fiscal de FHC pelo Congresso? Engano total. O episdio mostra que a sociedade tem que defender-se contra a onda de mistificaes que est dominando a economia e a poltica nos tempos recentes. Se o Carnaval o reino em que a fantasia substitui a realidade, o Brasil vive mesmo um Carnaval permanente. Alternativa - Com a maior hipocrisia, os defensores do plano esotrico FHC dizem que ele tem que ser implantado de qualquer forma, porque ningum apresentou nenhuma alternativa... Falta de memria. Por volta de julho, surgiu a proposta de segmentos empresariais (PNBE entre eles) e at de ministros (Barelli, Andr Vieira) para o uso da prefixao, isto , um acordo para reajustar preos com uma reduo de cerca de dois pontos percentuais em relao inflao do ms anterior. Mas a equipe j dispunha de um roteiro do plano de criao da nova moeda, esboado pelo deputado Jos Serra, segundo revelao de seu admirador, Lus Nassif. Em julho, a inflao estava em 30% ao ms. Se a prefixao tivesse sido adotada, com reduo de 2% ao ms, a taxa hoje estaria abaixo dos 15%. Deuses Ningum duvide, pois verdade: basta ler a mensagem do ministro FHC enviada ao Congresso (escrita por economistas at com alguns termos do mais puro portunhol), acompanhando a proposta do ajuste fiscal, no final de dezembro. Est l, com todas as letras: o ministro e seus inspiradores admitem que a prefixao poderia derrubar a inflao. Mas seria tudo lento, gradual, e diz ele! a sociedade brasileira no suportava mais conviver com a carestia. Era preciso derrub-la rpido, com planos sofisticados. Incrvel. Ento, a equipe FHC acredita que a prefixao poderia derrubar a inflao com segurana, eliminando-a sem criar problemas que, estes sim, j massacraram de forma insuportvel a sociedade brasileira: achatamento de salrios, de aposentadorias, falta de dinheiro para hospitais, destruio da mquina de fiscalizao do Estado, tablitas, etc.. Mas agindo como verdadeiros deuses, que decidem o que bom para milhes de mortais, vetaram a prefixao. Conseguiram, com a ajuda da imprensa, calar a boca dos outros ministros um deles, irreconhecvel, hoje, totalmente afinado com esses descaminhos. Cegueira, s? Ou os interesses dos brasileiros, da classe mdia e do povo, foram sacrificados porque uns e outros queriam aparecer, como os pais de planos salvadores para chegar a postos mais altos? Democratas em sua mensagem-chantagem pela TV, o poltico FHC insistiu em que nunca houve um debate to democrtico entre governo e Congresso, quando como com este ajuste fiscal. Passei horas e horas conversando com deputados e senadores, repetiu. Democrtico, mesmo. A equipe conseguiu calar a boca at do presidente da Repblica, (tristemente irreconhecvel, depois que abriu mo de todas as suas posies (corretas). Durante sete a oito meses, trabalhou em segredo no Plano. Ateno: rejeitou qualquer alternativa, como se fosse dona absoluta da verdade. Democracia, isso? Ou o seu avesso? Ditadores Em resumo, o ministro e equipe gastaram umas horinhas para forar o Congresso a aprovar aquilo que eles, desde o incio, achavam que era bom. Para o pas? Ou para eles? Inverso total de processo. Numa democracia, o debte comearia pela prpria discusso dos objetivos que a sociedade coloca como prioritrios. A equipe no discutiu com a sociedade se ela considera inteligente zerar o dficit, eliminar a dvida do governo. Decidiu que isso deveria ser feito, traou seu plano. E chegou com tudo mastigado ao Congresso, admitindo discutir apenas como zerar. Congresso O ex-ministro Dornelles, conservador respeitado, realizou estudos, para o Congresso, mostrando que a equipe FHC estava manipulando as previses de arrecadao para 1994. Ela ser muito maior. O deputado Alosio Mercadante, progressista respeitado, realizou estudos mostrando que o tal rombo do Tesouro no existe, e em 1993 houve gigantesco superavit. A imprensa? Publica em manchete todas as impresses e ataques do ministro. Mas dedicou exatas trs linhas ao deputado Mercadante, e um pouco mais a Dornelles. Isso, um nico jornal. Os demais, nem registraram. Na opinio pblica, reforou-se a impresso de que o Congresso leviano. Reforou-se, na desmoralizao. No se deu sociedade chance de conhecer o teor das acusaes de manipulao contra o ministro e sua equipe. o avesso do comportamento da imprensa nos tempos da ditadura, quando se fazia qualquer malabarismo tentando abrir espao para opinies divergentes da oficial lembra-se, Jabor? Lembra-se, Mrcio Moreira Alves? Lembram-se, Bacha, Malan e outros ex-IPEA? O presidente da Repblica talvez possa usar os dias de Carnaval para reler a mensagem assinada por FHC e enviada ao Congresso. Constatar que h o elogio prefixao. E adot-la, j, antes que a expectativa de criao da URV faa os ndices de inflao subirem de novo. A, s haver Carnaval nos dias de Carnaval. Menos avessos em cena. PS.: O ministro voltou a dizer que no cuidar do feijo-com-arroz. Algum assessor (se ele tiver algum no-sofisticado, que acompanhe preos) deve avis-lo: ele que vai levar terrvel paulada na cabea, com os preos do feijo. Essa leguminosa, que como alguns sabem alimento tradicional, j chegou a CR$ 40.000 a saca no atacado. Triplicou em pouco tempo. A equipe? Fala de URV. Preos? Isso baixaria, brother. ALOYSIO BIONDI, 56, jornalista, foi diretor de Redao da revista Viso e editor de Economia da Folha.","Se o presidente atacar a nova fantasia... Inflao cai e mostra que a equipe FHC no sabe fazer previses. Ainda tempo de vetar a nova moeda ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Os ndices de inflao recuaram quais dois pontos percentuais para a faixa dos 38%- na primeira quadrissemana de fevereiro. Ao contrrio do que pareceria uma vitria da equipe de FHC, significou que ela desconhece o que ocorre com os preos. Era completamente previsvel a queda da inflao no incio de fevereiro, conforme esta coluna j tinha anunciado. que a forma de calcular a inflao no Brasil cria distores ela mostra na verdade a inflao velha. Na verdade , a taxa correspondente ao comeo de janeiro revelava da alta de preos do comeo de dezembro, assim como a inflao mais baixa de fevereiro reflete a desacelerao de preos de janeiro. Os economistas falam sempre do que est ocorrendo com a economia, mas no acompanham os fatos; por isso, a equipe errou e voltou a acelerar a inflao. Com as remarcaes de dezembro, comearam a aparecer ndices alarmantes ( na verdade, da inflao velha). Desprezando a realidade, o ministro e assessores tomaram isso como aumento da inflao, e o Banco Central elevou muito a taxa de juros. A bola de neve continuou. O episdio mostra que a sociedade precisa se proteger contra essa onda de mistificaes contaminadora da economia e da poltica atualmente . Fingidamente, os defensores do plano FHC insistem na sua implantao imediata , at porque nenhuma alternativa foi apresentada. No verdade: setores do empresariado e at ministros propuseram a prefixao. Inclusive a mensagem do ministro FHC ao Congresso confirma: o ministro e seus inspiradores admitem que a prefixao poderia derrubar a inflao. Mkas seria tudo lento, gradual ... e a sociedade brasileira no suportava mais conviver com a carestia. Como seres superiores, vetaram a prefixao. Pela TV o poltico FHC declarou que estabeleceu um debate democrtico com o Congresso . Na verdade, o ministro gastou umas poucas horas para convencer o Congresso a aprovar o seu plano. A equipe econmica no discutiu com a sociedade a convenincia ou no de zerar o dficit, de acabar com a dvida do governo. Simplesmente decidiu que isso deveria ser feito. Em seus estudos, o ex-ministro Dorneles, conservador respeitado, mostrou que a equipe de FHC estava manipulando as previses de arrecadao para 1994, que seria bem maior. Aloysio Mercadante , progressista tambm respeitado, desclassificou o chamado rombo do Tesouro e informou que houve enorme supervit em 1993. A imprensa alardeou o que disse o ministro e reservou mseras linhas para as declaraes dos dois economistas. " co94jl12-46,"Adolescente viaja em roda de avio a -40C Garoto entrou no compartimento do trem de pouso de um Boeing da Transbrasil no Rio e foi descoberto em SP VICTOR AGOSTINHO Da Reportagem Local O adolescente M.A.C. foi retirado com vida na madrugada de sbado do compartimento do trem de pouso de um Boeing 767-200, da Transbrasil. O rapaz viajou do Rio para So Paulo, no vo 927, encolhido ao lado da roda traseira direita do avio. Ele teve que suportar, durante 45 minutos, temperatura de 40 graus negativos. Nessa rota, o avio viaja a cerca de 8,5 mil metros de altitude. Apesar da temperatura e do risco de ser esmagado pela roda, o adolescente no se feriu, passa bem e deu entrevista ontem no Juizado de Menores de Guarulhos para onde foi levado. A aventura de M.A.C. comeou em Princesa Isabel, no serto da Paraba, na quarta-feira passada, s 10h. Cansado de trabalhar com a enxada no campo, o rapaz decidiu ir para o exterior tentar um emprego, qualquer emprego. Cala jeans, camiseta, botina, jaqueta preta de napa, 17 anos que aparentam 14 e nenhum dinheiro no bolso, pegou carona numa caminhonete at a cidade de Tavares. De l, outra carona o deixou em Teixeira. Uma nova caminhonete e estava em Campina Grande. Assim foi vencida a primeira etapa de um plano traado dois anos antes, enquanto plantava e colhia arroz, feijo e mandioca junto com trs irmos, o pai e me na roa da famlia. M.A.C., ento, burlou os fiscais da Itapemirim em Campina Grande e entrou num nibus da companhia que estava indo para Rio. Foi descoberto em Feira de Santana, j na Bahia, mas os fiscais fizeram vistas grossas, segundo conta o garoto. Chegando ao Rio, foi direto ao Aeroporto Internacional do Galeo. Entrei ali pela lateral, onde ficam os avies pequenos, e fui indo. O motorista de uma perua me viu, mas no falou nada, disse. M.A.C. contou que subiu no primeiro avio que viu, o 767-200 da Transbrasil, com capacidade para 208 passageiros, que fazia a rota Manaus, Braslia, Rio e So Paulo: Tentei entrar onde ficam as cadeiras, mas percebi que no ia dar. Ento, pisei na roda e subi para dentro. Foi fcil. Fiquei enganchadinho l dentro. Mas quando o avio comeou a tremer e a roda a entrar, quase esmagou minha perna. Ele no sabia o destino do avio, mas devia ir para o exterior. M.A.C. afirmou que sentiu muito frio, medo e que ficou durinho. O garoto acredita que, se demorasse mais dez minutos, no iria aguentar. Achei que ia morrer. Aquele negcio comeou a ficar gelado e eu no conseguia me mexer. Ave Maria, eu congelei. Se desse para pular para fora, eu pulava. M.A.C., que cursou at a 5 srie em Princesa Isabel, continua querendo ir para o exterior qualquer exterior, menos o Japo, mas nunca mais de avio. O final da aventura de M.A.C. foi no Aeroporto Internacional de Guarulhos, meia hora depois de o avio ter aterrissado. Quando o moo veio me tirar, eu estava gelado. S depois de um tempo consegui andar. O adolescente seguiu andando para a sala do Juizado no aeroporto, onde passou o sbado e viu o jogo do Brasil contra a Holanda pela TV. Em Princesa Isabel, sua famlia no tem TV, s um radinho. M.A.C. disse que est preocupado com a reao dos pais. E no toa: quando deixou sua cidade, no avisou ningum que estava indo embora, simplesmente fugiu e, se conseguisse ir para o exterior, no ia avisar ningum, no. Acho que o pai agora vai me dar uma bronca. O rapaz afirmou tambm que no desistiu de ir para o exterior. S pretende esperar mais um pouco. De acordo com o juiz da Vara da Infncia e Juventude, Marcelo Matias Pereira, 26, M.A.C. deveria ser transferido ontem mesmo para o S.O.S. Criana e depois enviado Paraba. O juiz tentou ontem localizar os pais do rapaz, Maria do Socorro Casusa e Jos Santana da Silva. Como a famlia no tem telefone, acabou ligando para a rdio Princesa e pediu para um locutor anunciar o paradeiro de M.A.C.. Para a assessoria de imprensa da Transbrasil, foi um milagre o garoto ter sobrevivido. A companhia area destacou um piloto para conversar com M.A.C. e descobrir onde ele ficou instalado. Segundo Jorge Honrio, assessor da Transbrasil, a empresa daria mais declaraes depois da conversa do piloto com o rapaz. ","Adolescente viaja em roda de avio a 40C Garoto entrou no compartimento do trem de pouso de um Boeing da Transbrasil no Rio e foi descoberto em SP VICTOR AGOSTINHO Da Reportagem Local O adolescente M.A.C. foi retirado com vida do compartimento do trem de pouso de um Boeing. Ele viajou do Rio a So Paulo, encolhido ao lado de uma das rodas. Teve que suportar , durante 45 minutos, a temperatura de 40C. Apesar da temperatura e do risco de esmagamento, no se feriu. Sua aventura comeou no serto da Paraba. Cansado do trabalho na roa, decidiu ir para o exterior em busca de trabalho. Com os seus 17 anos e aparncia de 14, sem dinheiro, foi de caronas at Campina Grande. A , burlando fiscais, pegou um nibus que estava indo para o Rio. Foi direto para o aeroporto do Galeo . Disfarou , entrou pelo trem de pouso no primeiro, que iria para So Paulo. Sua aventura terminou em Guarulhos. Felizmente para ele, que estava enregelado e achou que ia morrer. Seguiu andando at o Juizado no aeroporto, onde passou um dia e viu um jogo pela TV. Segundo ele, sua famlia s tinha um radinho. A sua preocupao agora era com os pais, pois fugiu sem avisar ningum. Mas a idia de ir para o exterior continuava, desde que no fosse para o Japo. Mas , acordo com o juiz da Vara da Infncia , ele seria transferido no mesmo dia para o S.O.S. Criana e de l retornaria Paraba." co94ou02-30,"Bahia faz 'liquidao' de animais em extino VICTOR AGOSTINHO Enviado especial ao sul da Bahia Com alguma lbia e pouco dinheiro qualquer pessoa pode comprar animais silvestres no sul da bahia. Apesar de caa e comrcio serem proibidos por lei federal crime inafianvel, a captura desses animais dentro das reservas faz parte do cotidiano da regio. Os animais vendidos nas cidades de Eunpolis, Barrolndia, Porto Seguro, Cabrlia e Itabela vm basicamente das reservas de Monte Pascoal e Vera Cruz. Mais do que a afronta lei, o maior problema que algumas espcies comercializadas pelos caadores so raras e outras esto ameaadas de extino, segundo levantamento feito pela S.O.S. Mata Atlntica. Uma jaguatirica (felino ameaado de extino) pode ser encomendada aos caadores por R$ 100 (no mximo R$ 150, se der muito trabalho), o mesmo preo do papagaio-de-cabeavermelha. Manuel Carlos Viana, caador que retira animais em Belmonte, explica que o preo da jaguatirica o mesmo do papagaio porque a ave tem muita procura. Todo mundo quer papagaio. Quem que vai ficar com a jaguatirica?, pergunta Viana. O caador ensina como captura o felino e a ave: A gente faz uma arataca (buraco no cho coberto por uma trama de gravetos) e coloca um leitozinho no centro. Quando a jaguatirica for comer o leito, a gente pega a bicha. J os papagaios so pegos com visco. Deixo fruta ou semente de dend num galho com visco (uma gosma). Ele fica grudado, diz. Alvani Lacerda, ex-caador, hoje cria, livres, nove micos-de-cara-branca atrs de sua casa, vizinha reserva Vera Cruz, em Porto Seguro. De vez em quando vende algum. A ttica para manter a criao sempre perto de casa: Peguei um casal e criei na gaiola. Quando tiveram filhotes, fui criando soltos e dando comida (frutas e bolo). Hoje, os filhotes j tiveram outros filhotes e todos ficam aqui por causa da comida. Se precisar, vendo. Eullio Ferreira dos Santos cria ilegalmente pacas na periferia de Eunpolis. At a semana retrasada, mantinha dez animais num cercado. Mas cinco fugiram. Agora vou ter que pegar algumas na mata para aumentar a criao. Ferreira dos Santos afirma que o pessoal do Ibama sabe das pacas, mas no faz nada. No estou criando para vender. Eu dou de presente. s vezes como uma. Ao norte de Eunpolis, perto da reserva de Monte Pascoal, Jos dos Santos mantinha em engradados trs periquitos jandaia. Ele oferecia as aves, por R$ 25, aos motoristas que passavam pela BR-101 e dizia que o periquito era papagaio. um papagaio beb. Com esse trambique, Jos conta que ele e um colega conseguiram vender 25 jandaias num domingo. Todos os caadores disseram saber que o que fazem crime. Os 2,24% de Mata Atlntica que sobraram no sul da Bahia correm risco de ser desmatados. S Eunpolis, que tem 15 serrarias em operao mas j abrigou 300, derruba todos os meses cerca de 5.000 rvores centenrias. A madeira retirada de forma irregular na regio. Quando h documentao autorizando o transporte das toras, geralmente falsificada, reconhece o Ibama. De acordo com denncias do Gamb (Grupo Ambientalista da Bahia), a madeira nobre retirada do sul da Bahia exportada para Europa e Estados Unidos. A menos valorizada vira carvo. Segundo o carvoeiro Ovdio de Deus, de Cabrlia, enquanto as serrarias cobram US$ 500 pelo metro cbico do jacarand, o peo contratado para fazer o desflorestamento irregular recebe R$ 22,50 por cada hectare (um campo de futebol) derrubado. Gilbercy Caminha, superintendente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis) na Bahia, afirma saber da ao dos caadores e que h desmatamento. Caminha diz que a partir desta semana o cenrio de caminhes repletos de toras circulando pelas estradas deve ser modificado: Retirei o escritrio regional de Porto Seguro e transferi para Eunpolis, no entroncamento das rodovias. Haver mais fiscalizao.","Bahia faz liquidaode animais em extino. VICTOR AGOSTINHO ---Enviado especial ao sul da Bahia No difcil comprar animais silvestres de caa proibida no sul da Bahia . Os que so vendidos nas cidades de Eunpolis, Barrolndia, Porto Seguro , Cabrlia e Itabela provm das reservas de Monte Pascoal e Vera Cruz. O pior algumas das espcies so raras e em via de extino. Uma jaguatirica pode ser comprada por R$100, o mesmo preo do papagaio-de-cabea-vermelha, que, por ser muito procurado, tem o preo da jaguatirica. Alvani Lacerda , cria , livres, no fundo da casa, nove micos-de-cara-branca. Vende , se precisar. Eullio Ferreira dos Santos cria pacas e afirma que o pessoal do Ibama, mesmo sabendo, no o incomoda , porque no comercia, doa, ou come. Todos os caadores confirmam que conhece a lei, que probe essa caa. Quanto ao desmatamento da Mata Atlntica continua. Das 300 , 15 serrarias continuam funcionando em Eunpolis, onde so derrubadas mensalmente 5.000 rvores centenrias. A madeira nobre exportada para a Europa e Estados Unidos. Segundo o carvoeiro Ovdio de Deus , de Cabrlia, o peo que desmata recebe R$22,50 por hectare, mas as serrarias vendem por US$500 o metro cbico de jacarand. Enquanto isso, Gilbercy Caminha, superintendente do Ibama na Bahia , afirma desconhecer a caa e desmatamento predatrios. " br94ab14-59,"Leia a ntegra do pronunciamento do ministro da Fazenda na TV Boa noite. Voc trabalhador brasileiro, de qualquer nvel ou atividade, acaba de receber o seu primeiro salrio em URV. Na prtica, foi a primeira vez que sentimos o efeito do Programa de Estabilizao na renda dos assalariados. Mas sei que as pessoas ainda tm muitas dvidas, inclusive porque muito se tem falado sobre supostas perdas na converso dos salrios. A verdade, no entanto, que ningum at agora conseguiu demonstrar que de fato essas perdas aconteceram. Ao contrrio. Em alguns casos, houve at ganhos. Por isso, acertei com o presidente Itamar Franco que falaria esta noite ao pas, para explicar um pouco mais o programa econmico. Para o trabalhador, para a maioria de ns que recebemos salrio para enfrentar as despesas da famlia, o programa traz muitas vantagens. Receber o salrio em URV receber um salrio corrigido diariamente, de acordo com a inflao. Ao contrrio de outros planos, o nosso programa comeou pela proteo do salrio. A dona de casa que vai ao supermercado ou feira sabe melhor que ningum que os salrios sempre correram atrs dos preos. Por mais que houvesse reajustes e gatilhos, eles nunca serviram para proteger o salrio. Desta vez diferente. Com a URV o salrio passa a correr lado a lado com os preos em cruzeiros reais, na mesma velocidade. Alm disso, nesta etapa, os industriais e os comerciantes, alm do prprio governo, estaro convertendo contratos, preos e tarifas para a URV. Bem, mas a vocs podem perguntar: e o preo em cruzeiros reais, no continua aumentando todos os dias? verdade. Como eu disse antes, nesta etapa, os preos em cruzeiros reais continuam ainda correndo, e o salrio correndo ao lado. O que preciso parar essa corrida dos preos, pois s alguns poucos privilegiados ganham com ela. Neste momento, o salrio j est em URV e os preos tambm convertidos esto parando de aumentar. Por qu? Porque quem contrata em URV pra de reajustar, e assim o valor das coisas fica igual. E o governo est vigilante, como no caso da cerveja e dos remdios. Com o salrio de abril, voc poder comprar as mesmas coisas que comprou com o salrio de maro, o primeiro a ser corrigido. Hoje muitos produtos e servios j tm dois preos, um em cruzeiros reais, que ainda continua sofrendo aumentos, e outro em URV, que fica estvel e que tambm a medida do valor do seu salrio. O resultado que o comrcio j est aumentando as suas vendas e j se pode comprar a crdito em URV, sem inflao e sem gio. Dentro de pouco tempo, como o salrio e os preos estaro ambos em URV, os preos em cruzeiros reais no vo querer dizer mais nada. E logo vamos chegar ao momento esperado: em vez de s mudar o nome do dinheiro, vamos agora mudar o prprio dinheiro. Mas isso quando a URV j tiver cumprido o seu outro papel, que o de dar ao produtor e ao comerciante condies de prever os seus custos e assim estabilizar os preos. A idia uma s: o novo dinheiro vem quando a URV tiver completado o seu trabalho. E nesse momento vai entrar em campo o real, que substitui a URV, acaba com o cruzeiro real e ser o novo dinheiro de um Brasil sem inflao. Ser uma moeda forte, como a dos pases desenvolvidos. Um dinheiro que vale porque a inflao baixa, a economia funciona, e os salrios tm poder de compra. Estamos fazendo essa mudana sem surpresas, sem sustos, sem correrias, discutindo cuidadosamente sobre cada um dos prximos passos do programa. E vamos anunciar a chegada do real pelo menos com 35 dias de antecedncia. Temos agora uma grande chance, uma chance talvez nica de acabar de uma vez por todas com uma inflao que est destruindo o Brasil. Comeamos arrumando a casa, equilibrando as contas do governo, cortando gastos e indo atrs dos sonegadores de impostos para aumentar a arrecadao. Todos gostaramos de ter um salrio mnimo mais alto. E que todos os salrios pudessem ter ganhos ainda maiores. Mas vamos ser honestos. Neste momento, esses aumentos seriam uma iluso, pois iriam aumentar ainda mais a inflao. Alm disso, desequilibrariam gravemente o Oramento do governo. S para dar uma idia, um aumento do salrio mnimo agora acabaria de arrebentar o caixa da Previdncia Social e de muitos governos estaduais e prefeituras. O governo Itamar Franco nunca acreditou que pode salvar o pas sem o apoio de cada brasileiro trabalhador, empresrio, dona de casa, estudante, lder poltico. A responsabilidade deve ser de todos. Aos lderes polticos, aos candidatos, aos membros do Congresso, ao Poder Judicirio, fao mais uma vez o apelo para que compreendam a necessidade de manter o programa de estabilizao. Dem uma chance ao programa. Os pacotes econmicos que trouxeram choques, congelamentos, feriados bancrios e at confisco da poupana foram aprovados pelo Congresso, que lhes deu essa oportunidade de serem testados na prtica. Seria uma enorme injustia o primeiro plano realmente democrtico, sem choques, sem surpresas, sem violncias no merecesse o mesmo voto de confiana. O Congresso Nacional, que conhece os sentimentos, as angstias e as esperanas dos brasileiros, sabe que deve viabilizar um programa que rene todas as condies para dar certo, que s precisa de uma chance para provar isso. No vamos nos iludir, nem tentar iludir a opinio pblica. Sem a estabilizao da economia, no ser possvel melhorar os salrios e corrigir as injustias, nem dar ao governo condies para atender a sade, a educao, a segurana pblica, os aposentados, como seu dever. Esta a primeira vez que um governo, em ano eleitoral, ao invs de gastar mais, faz um plano que corta os seus prprios gastos, para que o prximo governo, seja ele qual for, possa receber a economia em ordem. preciso que todos os que querem governar este pas a partir do ano que vem compreendam que no podero cumprir suas promessas se assumirem com a economia em crise, com inflaoelevada, com o governo incapacitado de executar suas funes mais elementares. Os brasileiros no aceitaro que interesses menores impeam o programa de funcionar nestas semanas decisivas. Na verdade, todos ns sabemos disto, o interesse do eleitor est em acabar com a inflao. E no em ouvir, mais uma vez, promessas que no vo resolver os problemas do pas. E o maior problema social e econmico do Brasil de hoje a inflao. Esse o grande desafio, a razo da nossa luta. Com a ajuda de Deus e de todos os brasileiros, vamos alcanar o que buscamos e construir um pas melhor e mais justo, sem inflao e onde o dinheiro e o salrio recompensem o esforo de quem trabalha. Obrigado e boa noite.","Pronunciamento do ministro da Fazenda na TV Dirigindo-se aos trabalhadores , o ministro aborda a questo das dvidas e crticas ao plano econmico.Nega que tenha havido perdas para os trabalhadores, e afirma que os opositores no conseguiram provar isso. Na sua argumentao, lembra o fato de que o salrio corrigido diariamente--ao contrrio do que acontecia com os outros planos ficando, portanto, protegido o seu poder de compra.Com essa correo, aos preos acelerados em cruzeiros reais correspondero os ajustes de salrio. Isso desestimula aumentos desenfreados , at porque os contratos , j sendo feitos em URV, no sofrem reajustes. A experincia com a URVdiz o ministro--- mudar uma cultura inflacionria e permitir a mudana para uma nova moedao real--- , que j est em andamento. A idia no usar surpresas milagrosas. Antes, as contas do governo esto sendo equilibradas por meio de corte de gastos e da caa aos sonegadores de impostos. O ministro tambm alerta os trabalhadores para que no cultivem esperana de aumento de salrio, o que , no momento, deflagaria o aumento da inflao, exatamente o oposto do esperado com o plano. Com o seu pronunciamento, ele conclama , alm dos trabalhadores, as lideranas polticas, os candidatos, os membros do Congresso e do Poder Judicirio. O empenho repartir a responsabilidade pelo sucesso do plano. Lembra que planos anteriores foram aprovados pelo Congresso , ainda que fossem acompanhados de seqelas desconfortveis e provisrias: congelamento , confisco de poupana. Procura tambm mostrar a iseno do governo quanto a interesses eleitoreiros, dizendo que o governo, em vez de gastar mais naquele ano de eleies, propunha cortes . Mas tambm lembra aos candidatos que qualquer deles que vena as eleies , se quiser governar , deve ajudar a eliminar a inflao , apoiando a implementao do plano econmico." po96ju13-a,"OSASCO, SP - O primeiro levantamento feito pelos peritos do Instituto de Criminalstica de Osasco no local da tragdia aponta para uma provvel negligncia da direo do Osasco Plaza Shopping. Como antecipou o JORNAL DO BRASIL, as exploses foram provocadas por vazamento de gs liquefeito de petrleo (GLP, gs de cozinha) numa tubulao subterrnea que passava por dentro de uma galeria - conhecida por caixa perdida - construda revelia do projeto original e que se estendia, entre o piso e o aterro, por toda a estrutura do shopping. Os indcios constatados pelos peritos derrubam a verso do superintendente do shopping, David Rocha que, anteontem, garantia que a rede de gs de cozinha era externa. Segundo os peritos, o gs foi vazando ao longo do tempo e formando bolses na rea subterrnea, que no tinha ventilao. Houve pelo menos dois locais em que as quatro exploses foram mais fortes. O primeiro foi na casa de mquinas, a seis metros da galeria onde ficam os botijes. O segundo, em baixo da loja Amor aos Pedaos, na Praa da Alimentao, atingindo, em seguida, uma rea de cerca de mil metros quadrados. Os peritos encontraram no local parte de uma rede de tubulao que teria se rompido e provocado o vazamento. Essa conexo deveria ter sido melhor elaborada, disse o perito Celso Rodrigues Maimone. Apesar dos indcios de negligncia, os peritos tm evitado acusaes precipitadas. O chefe da equipe, Ronaldo Egydio dos Santos, afirmou, no entanto, que a rede de tubulao no foi feita pela Construtora Wyslling Gomes. Ns precisamos analisar as plantas para ver de quem a responsabilidade, diz Ronaldo, que j descarta a possibilidade das exploses terem sido provocadas por gs metano - que se acumula em decorrncia de matria orgnica em decomposio -, conforme a suspeita levantada no dia da tragdia. Dvida - Temos quase certeza de que foi o GLP, afirmou. A dvida, no entanto, ser tirada hoje por uma percia a ser feita por tcnicos da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), que ontem coletaram amostras de gs na rea atingida. A rede de distribuio do gs sai de uma galeria construda na lateral do prdio - de frente para a Rua Batista de Azevedo -, em baixo do estacionamento. A tubulao tem uma elevao pelas paredes externas e depois segue por dentro da laje por uma extenso de 60 metros at o centro do shopping. Partem desse entroncamento outros ramais de tubulao que abastecem os comerciantes da rea mais atingida pelas exploses. O mais impressionante que a concentrao de gs, apesar das sucessivas queixas de forte cheiro h vrios dias, no foi detecada pela segurana do shopping, pela fiscalizao da prefeitura e nem pelo Corpo de Bombeiros que, segundo os peritos, estiveram no local h um ms e nada encontraram. bvio que houve falha na manuteno, disse um dos peritos. Freqentadores e lojistas do shopping fizeram vrias denncias e nenhuma delas foi confirmada. Os peritos explicaram ontem que a tragdia poderia ter sido bem maior: que o gs continuaria se acumulando e, como a laje oca subterrnea se estende por toda a estrutura da obra, as exploses seriam maiores e poderiam ter matado mais gente. A provvel causa da combusto foi uma fasca que partiu da casa das mquinas, provocada, segundo os peritos, por um interruptor ou um isqueiro. No exato local onde se supe ter comeado a tragdia foi encontrado o corpo de um funcionrio da rea de segurana, que os peritos supem ter sido a primeira vtima da tragtdia. O problema que a distribuio do GLP feita por forte presso e quando h qualquer vazamento, por menor que seja a fresta, ele vai se acumulando e formando bolses, diz Celso Maimone. O dia de ontem foi marcado por informaes desencontradas sobre nmeros de vtimas fatais na tragdia de Osasco. A duplicidade de registro em hospitais e no IML e a confuso com os nomes fez com que o nmero de mortos oscilasse entre 37 e 55. No final da tarde a Defesa Civil e o IML de Osasco confirmavam apenas 37 mortes.","Conforme levantamento do Instituto de Criminalstica de Osasco, a exploso no Osasco Plaza Shopping se deu por negligncia da direo, que no detectou a tempo o vazamento de gs na tubulao subterrnea , construda revelia do projeto original. De acordo com os peritos, o gs foi-se acumulando em bolses na rea subterrnea , sem ventilao. Da as exploses em mais de um ponto. Os peritos no tm feito acusaes precipitadas, apesar dos sinais de negligncia. Esto procura do responsvel pela construo da rede de tubulao , toda ela distribuda debaixo do shopping, em vez de percorrer a parte externa. A falha de manuteno fica evidenciada pelo fato de no ter sido tomada nenhuma providncia para as denncias de freqentadores, que reclamavam do cheiro de gs. Segundo os peritos , uma fasca de interruptor ou de isqueiro precipitou as exploses. Adiantaram que o desastre seria muito maior , se o gs continuasse a vazar por mais tempo. No dia do acidente, as informaes sobre a quantidade de vtimas eram desencontradas: de 37 a 55 mortos. " td94no20-01,"'Pool' viabiliza franquia com pouco capital Sistema, que permite dividir o investimento inicial, j adotado por redes como Micheluccio e Pastel & Amor NELSON ROCCO Da Reportagem Local Abrir uma franquia com um pool ou cooperativa de investidores uma alternativa para quem tem pouco dinheiro, mas sonha com o negcio prprio. O sistema, que comea a ser adotado por algumas redes, prev a diviso do capital inicial entre os participantes e delega a responsabilidade de operao para um ou dois scios. Ana Cristina Nogueira, 24, apostou na novidade. Investiu US$ 20 mil e abriu, com nove scios, a Pastel & Amor do shopping Ibirapuera, em So Paulo. A casa funciona desde outubro e Ana Cristina que participou com 10% do total investido responsvel pela operao. Para ela, o pool foi a sada para poder ter uma loja. Sozinha no teria condies de abrir um negcio, diz. Mnica Pedrassi, 28, e a cunhada Silvia Helena Pedrassi, 28, investiram US$ 6.500 e US$ 13 mil, respectivamente, e hoje so scias de uma franquia da pizzaria Micheluccio, no largo do Arouche (regio central de So Paulo). Inaugurada em 20 de setembro, a casa tem 11 scios, que, juntos, investiram US$ 130 mil, fora o ponto (US$ 60 mil). Mnica e Silvia so as operadoras do negcio (administram a pizzaria) e recebem R$ 1.000 cada uma, a ttulo de pr-labore. As duas dizem estar satisfeitas com a atividade. O faturamento de outubro ficou em R$ 50 mil, acima das perspectivas iniciais de R$ 30 mil determinadas pelo franqueador. O sistema de cooperativa de franqueados uma criao brasileira e ainda est em fase de adaptao. A maioria das casas que funcionam dessa forma tem menos de um ano. Hugo Crespi, 37, diretor da consultoria Franchise & Associados, diz que j auxiliou a criao de 40 cooperativas de franqueados. Segundo ele, a procura por informaes sobre franquia sempre grande entre pessoas com menos da metade do capital para entrar em um negcio, da a viabilidade do consrcio. Pesquisa realizada em 1993 pela consultoria Cherto & Rizzo Franchising, com 150 interessados em abrir franquia, mostra que 21,2% afirmaram ter at US$ 15 mil para comprar uma franquia. Outros 42% disseram ter entre US$ 16 mil e US$ 46 mil. Nos grupos montados pela Franchise & Associados, o nmero de scios sempre dez e o investimento dividido em dez partes. Cada scio deve ter ao menos 10% e no permitido que uma pessoa entre com mais de 40%, diz Crespi. Os contratos definem as regras de funcionamento da cooperativa, o papel do operador, dos investidores e suas responsabilidades. O operador recebe um rendimento mensal, que contado como despesa da empresa. Como responsvel pela administrao, caso o negcio d lucro, ele quem determina o valor que ser dividido entre os scios.","Poolviabiliza franquia com pouco capital Sistema, que permite dividir o investimento inicial, j adotado por redes como Micheluccio e Pastel & Amor NELSON ROCCO - Da Reportagem Local Organizar uma cooperativa de investidores para abrir uma franquia uma boa opo para quem tem pouco dinheiro. O sistema prev a diviso do capital inicial entre os participantes e delega a responsabilidade de operao para um ou dois deles. Ana Cristina Nogueira investiu US$20 mil e abriu com nove scios a Pastel & Amor do shopping Ibirapuera . Ela participou com 10% e a responsvel pela operao. Esse sistema de cooperativa criao brasileira e ainda est engatinhando no ramo. Hugo Crespi, diretor da consultoria Franchise & Associados, diz ter assessorado a criao de 40 cooperativas de franqueados. E diz que a procura por informaes a respeito grande entre quem possui menos da metade do dinheiro necessrio para o negcio . Os grupos que a consultoria forma so de 10 pessoas e cada scio deve ter pelo menos 10% , mas no mais que 40% do capital. O operador tem um recebimento mensal, que computado como despesa da empresa." mu94de25-07,"Droga ameaa estabilidade do Quirguisto Pas considerado 'Sua da sia Central' agora teme se tornar a 'Colmbia' da regio, diz presidente Askar Akaiev Todos os dias rezamos a Al para que na China haja paz, tranquilidade e prosperidade Temos uma moeda muito estvel. Nossa inflao em setembro foi de apenas 0,2% JAIME SPITZCOVSKY Enviado especial ao Quirguisto Depois de ganhar a etiqueta de a Sua da sia Central graas sua estabilidade e paisagens, o Quirguisto enfrenta o fantasma de se transformar na Colmbia da sia Central. O pas, produtor de drogas e rota do trfico de pio, pede socorro, conforme enfatiza o presidente quirguiz, Askar Akaiev. Em 1991, o imprio sovitico se despedaou em 15 pases, com o extico Quirguisto entre eles. O presidente Akaiev defende seu modelo, espelhado nos conceitos do Fundo Monetrio Internacional, e promete dias melhores. Alm da turbulncia da droga, a velocidade espantosa do milagre chins tambm assusta Akaiev, um ex-comunista transformado em muulmano e que diz rezar atualmente trs vezes ao dia para pedir tranquilidade e paz na China. Lembre-se que temos laos com eles ao longo de 22 sculos, observa o presidente. Akaiev recebeu a Folha no seu gabinete em Bishkek, a capital, e se esforou para repetir a hospitalidade tradicional dos antigos nmades quirguizes. Ofereceu ch com leite. A seguir, os principais trechos da entrevista. Folha - As ex-repblicas soviticas gostam de olhar para o Ocidente em busca de modelos econmicos, idias e assessores para guiarem as reformas. Mas a economia que mais rapidamente cresce no mundo, a da China, est aqui ao lado do Quirguisto. Por que a China no um modelo a ser seguido? Akaiev - verdade que estamos mais voltados para o Ocidente, mas tambm estamos estudando a experincia chinesa. A China o nosso grande vizinho. A experincia chinesa tem sido muito til para ns na agricultura. Assim como a China, aceleramos a reforma no campo, comeamos por a. Todos sabem que as reformas na agricultura foram a locomotiva que levou a China a seu estado atual. Por isso, j em 1991, comeamos a introduzir a propriedade privada da terra, desmontando o sistema socialista. Hoje ns temos o maior setor agrcola privado entre os pases da Comunidade de Estados Independentes (aliana que substituiu a URSS). Convidamos tcnicos chineses para nos ensinarem, por exemplo, a aumentar a produtividade em nossos cultivos de hortalias. Tambm foram criadas vrias empresas sino-quirquizes, sobretudo na rea de processamento de alimentos. Assim vamos trocando nossas experincias. Folha - E dos pases ocidentais, o que o Quirguisto est copiando? Akaiev - Tentamos usar aquilo que j se mostrou eficiente, queremos evitar erros cometidos, por exemplo, na Rssia. Estudamos com ateno a experincia dos pases da Europa Oriental, que comearam suas reformas em condies semelhantes s nossas. Refiro-me Polnia, Repblica Tcheca, Bulgria. Aproveitamos a experincia tcheca na rea de privatizaes e hoje temos o programa de privatizaes mais amplo de todas as ex-repblicas soviticas da sia Central. Estudamos a terapia de choque aplicada na Polnia, discutimos muito com o professor Jeffrey Sachs (economista norte-americano). Mas, em resumo, estamos criando nosso prprio modelo, sem copiar ningum e ao mesmo tempo buscando assimilar experincias positivas. Folha - Mas o seu modelo tem muito a cara das recomendaes do Fundo Monetrio Internacional, ou seja, priorizar estabilizao financeira, eliminar inflao, mesmo que ao preo de desemprego e queda na produo industrial. Akaiev - Bem, o sr. tem razo, mas quando o FMI e o Banco Mundial demonstraram interesse em nos ajudar, j estvamos trabalhando num programa econmico elaborado por aqui e que realmente estava de acordo com os conceitos do FMI. A primeira fase de nossas reformas tiveram sucesso. Temos uma moeda muito estvel. Em setembro, nossa inflao foi de apenas 0,2%, um recorde. Devemos fechar o ano com uma inflao anual em torno de 90% e para 1995, a meta consiste em baixar a taxa para 30% ou 40%. Trata-se de nossa prioridade para o ano que vem. Ao mesmo tempo, iniciamos a segunda fase das reformas: a reestruturao de nossa economia, de nossa indstria. Esse perodo deve durar trs anos. Folha - A oposio o acusa de ter tendncias ditatoriais. Atravs de um referendo, o sr. conseguiu se livrar do antigo Parlamento para tentar eleger, em fevereiro, um que seja mais submisso ao governo. E o sr. tambm mandou fechar um jornal oposicionista. Akaiev - Eu acho que para haver democracia so imprescindveis alguns fatores. Sou defensor da liberdade de imprensa, um forte poder judicirio que defenda os direitos e liberdades do indivduo, forte poder para autoridades e poderes locais, e oposio forte. Sem isso no h democracia. O problema que nossa oposio ainda uma oposio nomenklatura (elite do desaparecido Partido Comunista). Eles dividem todos em democratas e partocratas. Eu no concordo com isso. Todos fomos comunistas. Se eu no fosse comunista, filiado ao PC, no teria feito a minha carreira acadmica e me tornado presidente da Academia de Cincias (do Quirguisto). Eu prefiro dividir as pessoas entre aquelas que apiam as reformas e aqueles que so contra as reformas. Nossa oposio no construtiva, no apresenta alternativas. Mas sem liberdade de imprensa ou oposio no se pode falar em democracia. Teremos eleies livres, com a participao de 12 partidos. Ento por que ns fechamos um jornal? Eu mesmo tomei a iniciativa. Fiz atravs dos caminhos da lei, democraticamente. O jornal Svboda Gorai (Liberdade das Montanhas) fazia uma defesa sistemtica do anti-semitismo. Isso era inaceitvel. Publicava textos que comprometiam nossas relaes com outros pases, por exemplo, com a China, Israel. At o presidente do Turcomenisto (Saparmurad Nianzov) me ligou para reclamar de reportagens daquele jornal, que o teriam ofendido. Eu dizia, vocs (jornalistas) podem me criticar quanto quiserem, mas respeitem o presidente do Turcomenisto. Folha - O sr. descreveu seu pas como a Sua da sia Central, orgulhando-se da estabilidade e das paisagens. Mas o Quirguisto enfrenta o problema srio de ser um pas produtor de drogas, em especial pio. O sr. no teme que a etiqueta mude para Colmbia da sia Central? Akaiev - Essa questo me preocupa especialmente. Os quirguizes nunca consumiram drogas, embora produzissem certa quantidade. At os anos 70, 90% do pio da ex-URSS eram produzidos no Quirguisto. Eu mesmo trabalhei nesse cultivo. Durante as frias escolares, nos levavam para as fazendas para ajudar na colheita da papoula. Foi bom que nos anos 70 decidiram parar a produo de pio. No Quirguisto h fontes de matria-prima para drogas. Quando nos tornamos um Estado independente, muitos levantaram a questo de voltar a plantar papoula porque seria uma fonte de divisas. Um verdadeiro ouro. Mas fui categoricamente contra a volta dessa plantao. Mas agora muito do pio vem do Afeganisto, passa por aqui e segue para a Rssia e os pases da Europa ocidental. Trata-se de um impressionante trfico de drogas. Conseguimos apreender algo, mas no so quantidades muito expressivas, devo reconhecer. A maior parte da droga passa. Existem as autoridades locais que so corruptas e at pessoal das foras de segurana colaboram com o trfico. Tomara que essa mfia das drogas no consiga se estabelecer de forma mais organizada. Se eles conseguiram se estabelecer, ento combat-los ser impossvel. E para ns, com nossas prprias foras, muito difcil resolver o problema. No temos a experincia necessria, no temos os recursos financeiros. Por isso me dirigi comunidade internacional. J temos um programa de combate ao trfico feito em conjunto com a ONU. A ONU em 1994 j nos forneceu US$ 600 mil para comprarmos equipamentos, mas isso insuficiente. Tambm tive que me dirigir a outros pases, em busca de mais ajuda. E para evitar que abandonemos o sonho suo e tenhamos que enfrentar um quadro colombiano, ns dirigimos a Sua, que se tornou um de nossos principais doadores de ajuda financeira. A polcia sua muito forte, competente e agora est trabalhando num projeto para nos ajudar no combate ao trfico. Tambm fomos falar com os Estados Unidos e agora estamos combinando esforos com os pases da Comunidade de Estados Independentes. Folha - No Brasil, as Foras Armadas entraram em cena para combater o trfico. O sr. favorvel atuao dos militares nessa questo? Akaiev - Eu acho que podemos formar unidades policiais de elite para combater o trfico, mas no sou a favor de lanar mo das Foras Armadas para essa empreitada. Elas podem usar essa etapa como degrau numa tentativa de expandir a sua influncia, particularmente em pases como os nossos, recm-independentes. Pode ser que no Brasil no haja esse problema. Folha - Quando da independncia, em 1991, o Ocidente se mostrou assustado com a possibilidade de o fundamentalismo islmico se expandir nos pases muulmanos da ex-URSS. Por que isso no aconteceu, em especial no Quirguisto? Akaiev - O povo quirguiz muito tolerante. A crena religiosa por aqui sempre foi um elemento cultural, nunca houve fanatismo. Por exemplo, no construamos mesquitas e por isso quando os soviticos chegaram e impuseram o atesmo, os quirguizes disseram: Tudo bem. Eu me encontro frequentemente com lderes muulmanos e cristos e eles me ajudam a manter um clima de paz nacional. Mas temos alguns problemas na regio de fergana, onde vivem as minorias tadjiques e uzbeques. Eles tambm so muulmanos, mas muito mais militantes. L, existem mais mesquitas do que escolas, as mulheres devem andar com vus. E eles comeam a influenciar parte da populao quirguiz, dizendo que no lugar de um Estado democrtico devemos ter um Estado islmico, defendem a poligamia. Estamos preocupados com isso. Folha - O que preocupa mais: o fantasma do fundamentalismo islmico ou a instabilidade no gigante vizinho que a China? O patrono das reformas chinesas, Deng Xiaoping, j tem 90 anos e uma sade debilitada. Akaiev - Temos muito medo de instabilidade na China. Veja, daqui a 10, 15 anos a China ser uma incrvel potncia econmica e que Deus no permita turbulncias por ali. Todo dia, trs vezes ao dia, rezamos a Al para que na China haja paz, tranquilidade e prosperidade. A China ser um catalisador para o crescimento econmico do Quirguisto. Lembre-se que temos laos com eles ao longo de 22 sculos.","Mu10 Mu94de25-07.doc Droga ameaa estabilidade do Quirguisto Pas considerado Sua da sia Central agora teme se tornar a Colmbia da regio, diz presidente Askar Akaiev Todos os dias rezamos a Al para que na China haja paz, tranqilidade e prosperidade Temos uma moeda muito estvel. Nossa inflao em setembro foi de apenas 0,2% JAIME SPITZCOVSKY Batizada de Sua da sia Central por causa da estabilidade e paisagens, o Guirguisto est na iminncia de trocar para Colmbia da sia Central. , por causa produo e trfico de droga nos dizeres de seu presidente, Askar Akaiev. Alm da agitao da droga, o mpeto desenvolvimentista da China assusta Akaiev, que reza com freqncia para no haver transtornos no pas vizinho. Seguem trechos da entrevista: Folha- As ex-repblicas soviticas olham para o Ocidente em busca de modelos econmicos, idias e assessores. Por que no olham para a China , um modelo bem mais prximo? Akaiev- Estamos voltados para o Ocidente, mas tambm nos inspiramos na China, por exemplo,para acelerar a reforma no campo. Convidamos tcnicos chineses para ajudar a incrementar a produo de hortalia. Folha- Em quais pases ocidentais o Quirguisto est se inspirando? Akaiev- Fundamentalmente nos pases da Europa Oriental, como Polnia, Repblica Theca, Bulgria. Mas , apesar da influncia , estamos elaborando nosso prprio modelo, sem copiar. Folha- Mas o dedo do FMI est muito presente no seu modelo. Akaiev- De fato, mas antes de o FMI e o Banco Mundial abrirem as portas , j estvamos desenvolvendo um programa econmico. A nossa moeda muito estvel. Em setembro, a inflao bateu o recorde de 0,2% e pretendemos chegar em 95 com 30 ou 40% ao ano. Folha- A oposio o acusa de tendncias ditatoriais, ao desfazer o antigo Parlamento e fechar um jornal. Akaiev- Para haver democracia , so necessrios alguns fatores: liberdade de imprensa, forte poder judicirio, forte poder para autoridades e poderes locais, e oposio forte. O problema que nossa oposio ainda conserva o vezo da antiga Unio Sovitica. Eles dividem todos em democratas e partocratas. Eu prefiro dividir as pessoas entre as que apiam as reformas e os que no as apiam. Folha- O que o senhor tem a dizer da possvel transio do seu pas , nomeado de Sua da sia Central para a Colmbia da sia Central? Akiev- Isso nos preocupa certamente. At os anos 70, 90% do pio da ex-URSS vinha daqui. Com a independncia, houve quem quisesse incrementar a produo por causa do timo lucro. Fui contra. O que acontece que o pio vem do Afeganisto e passa por aqui. Infelizmente, algumas autoridades locais so corruptas , e o pessoal das foras de segurana contribuem para isso. Temos tomado providncias. Por exemplo, h um programa de combate ao trfico feito em conjunto com a ONU. Folha- No Brasil , as Foras Armadas entraram nesse confronto. O que o senhor acha de fazer o mesmo a? Akiev- Aceito uma contribuio , mas no um empenho total das Foras Armadas. Folha- Quando da independncia, em 1991, o Ocidente no via com bons olhos a possibilidade de expandir o fundamentalismo islmico nos pases muulmanos da ex-URSS. Por que isso no aconteceu , principalmente no seu pas? Akiev- A crena religiosa aqui sempre foi um elemento cultural, nunca manifestao de fanatismo. Basta ver, por exemplo, que no construmos mesquitas. Temos alguns problemas na regio de fergana, onde vivem os tadjiques e uzbeques, tambm muulmanos mas muito mais militantes. A sua influncia na populao j nos preocupa. Folha- E qual a preocupao maior, o fundamentalismo islmico ou a instabilidade da China? Akaiev- A instabilidade da China nos amedronta mais. " ce94ja25-b,"Para a maioria dos paulistanos que no estuda ou ensina l, a Universidade de So Paulo (USP) parece ser no muito mais que um parque Ibirapuera na zona oeste da cidade. Mas a USP se integra na cidade atravs de projetos que vo desde nibus a gs para a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos at o de coleta seletiva de lixo, alm de outros 3 mil servios especficos como atendimento veterinrio e cursos de aperfeioamento de executivos. Mas ao completar sessenta anos de fundao, no mesmo dia do aniversrio da cidade, a universidade responsvel por quase metade dos doutoramentos do pas pretende ampliar mesmo sua participao nos grandes debates nacionais. Atravs do Instituto de Estudos Avanados (IEA), a USP pretende discutir e apresentar propostas para questes como a Amaznia e o sistema Judicirio do pas. No vamos de modo algum diminuir o atendimento a solicitaes especficas da sociedade, mas vamos aumentar a ateno, na universidade, a propostas estruturais para o pas, como j fizemos no frum capital-trabalho ou no projeto para a reviso constitucional, diz Jacques Marcowitch, novo pr-reitor de Cultura e Extenso Universitria. Marcowitch vai apresentar seu projeto para a rea de extenso da USP no prximo dia dez de maro, no Conselho Universitrio. Servios A USP no pode tapar buracos na rea de servios sociais e de sade, diz Eduardo Siqueira Barbosa, diretor de projetos da Coordenao Universitria de Cooperao Universitria e Atividades Especiais (Cecae) da USP. Segundo Siqueira, o atendimento ao pblico em geral tem que estar relacionado ao aperfeioamento de pessoal e do conhecimento. O cuidado de Siqueira se transforma em susto quando se fala em divulgar mais os servios de laboratrio ou atendimento especializado de sade, por exemplo. Procurada pela Folha para confirmar o telefone do departamento, uma funcionria de um dos servios de sade da USP disse: Voc vai botar isso no jornal? Meu Deus, isso aqui vai virar o pronto-socorro das Clnicas. Na verdade, o atendimento de massa e genrico na rea de sade deve ser prestado por centros como as Clnicas -que se chama, por extenso, Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. E o atendimento mdico, psicolgico ou mesmo odontolgico na USP nas unidades de ensino mais dirigido s necessidades de ensino e pesquisa -em suma, trata-se de uma troca entre a populao, estudantes e pesquisadores. Mesmo assim, pessoas com problemas raros ou de baixa renda podem recorrer universidade (veja alguns exemplos no quadro ao lado). Siqueira, o diretor da Cecae, rgo que coordena e divulga muitos dos servios da universidade, diz que a USP no investe em divulgao de massa do atendimento que ela pode oferecer e talvez nem seja o caso de faz-lo. No teramos condies de receber todo mundo. Em alguns casos, deve haver uma seleo natural da procura. De qualquer modo, quem quiser procurar a USP para resolver algum problema pode se dirigir Cecae (tel.: 815-0163 ou 818-4165). Alguns dos servios so gratuitos, outros, como os de laboratrio e anlises clnicas, so cobrados. O atendimento em veterinria mais barato do que o das clnicas particulares.","Embora a maioria da populao no saiba, a USP presta servios fundamentais cidade, como projetos relacionados a nibus a gs, a coleta de lixo, alm de outros 3 mil servios , como atendimento veterinrio e cursos de aperfeioamento de executivos. Sem diminuir os atendimentos especficos sociedade , o novo pr-reitor de Cultura e Extenso Universitria, Jacques Marcowitch, atravs do Instituto de Estudos Avanados ( IEA) pretende que a Universidade se envolva com grandes projetos nacionais , por exemplo , a questo da Amaznia , o sistema judicirio do pas . Isto sem abandonar a sua responsabilidade por quase metade dos doutoramentos do pas. Eduardo Siqueira Barbosa, diretor de projetos do Cecae esclarece que o atendimento na rea de servios sociais e de sade deve estar relacionado ao aperfeioamento do pessoal e ao conhecimento. No se trata de mais um posto de sade. Tanto que a Universidade no alardeia publicidade sobre essa prestao de servio , a fim de no ser asfixiada por excesso de procura. " td94mr27-09,"Venda ao exterior exige adaptao e cautela Produtos e embalagens devem ser remodelados; estratgia comprometer apenas uma parte da produo Da Reportagem Local Colocar a produo no mercado externo exige cuidados especiais. A empresa deve verificar se tem produo suficiente para atender novas encomendas e disponibilidade para fazer as adaptaes necessrias no produto. Confeces, por exemplo, devem ter uma modelagem especial para conseguir entrar no mercado europeu. Calados vendidos nos EUA tm medidas diferentes dos usados no Brasil. No incio, deve-se reservar um percentual da produo para atender encomendas externas. Joo Dias Neto, 30, dono da DPA consultoria na rea de comrcio exterior, afirma que o ideal vender em torno de 20% do que se fabrica. Normalmente, os importadores fazem uma primeira encomenda como teste e, quando satisfeitos, fecham contratos de longo prazo. Exportar no uma deciso de oportunidade, mas uma opo gerencial da empresa, diz. O empresrio deve elaborar folhetos explicando qual o produto, para que serve e com que materiais fabricado, entre outras informaes bsicas, e envi-los ao importador. A maioria das empresas internacionais exigem uma amostra do produto. A embalagem deve ter inscries, no mnimo, na lngua do pas para onde se destina. Segundo Mauro vila, 44, do Sebrae SP, deve-se pensar tambm em como acondicionar o produto para o meio de transporte que ser usado na operao, que pode ser areo, martimo, fluvial ou terrestre. Fazer seguro de toda mercadoria transacionada no comrcio externo fundamental. Alm da promoo da empresa no exterior, deve-se ter cautela quanto a determinao de preos e as formas de pagamento. Silvrio Rosa, 45, coordenador de comrcio exterior do Sebrae SP, afirma que durante a negociao com o importador o empresrio pode conseguir o pagamento antecipado ou uma Carta de Crdito. Ela deve ser, de preferncia, em carter irrevogvel. Efetivada a venda, a parte financeira da operao deve ser acertada com um banco que atue no comrcio internacional. Eles esto organizados para dar todas as informaes necessrias. A parte comercial da transao exige uma srie de documentos, da a necessidade de contatos com um despachante. O exportador tem que emitir uma Proforma Invoice para o importador, em ingls ou no idioma do pas do importador. Wellington Soares Campanha, 28, da Market & Co., diz que esse documento um espcie de oramento detalhado, com preos, condies de pagamento e at o nome da transportadora que ser usada. Ao receber o documento, o importador emite um pedido. Com o pedido nas mos, o empresrio brasileiro toca a produo e retira o Registro de Exportao no Banco do Brasil, em bancos comerciais ou corretoras de cmbio. Quando o material estiver pronto para ser exportado, deve-se emitir uma fatura comercial com as mesmas informaes do oramento, que dever acompanhar o produto e com a qual se far a cobrana do importador. (NR)","Venda ao exterior exige adaptao e cautela Produtos e embalagens devem ser remodelados; estratgia comprometer apenas uma parte da produo Da Reportagem Local. Exportar um produto exige cuidados especiais. A empresa deve certificar-se de que tem capacidade de atender as novas encomendas e disponibilidade de fazer adaptaes necessrias. Por exemplo: confeces devem obedecer a modelagem especial para o mercado europeu; os calados devem atender aos tamanhos do cliente americano. Logo de incio, deve reservar um percentual da produo para atender s encomendas .Os importadores costumam fazer uma importao-teste; se satisfeitos, firmam contratos mais longos. O exportador deve elaborar folhetos explicativos sobre o produto, sua finalidade , material de que feito e envi-los aos clientes. A maioria das empresas estrangeiras exigem uma amostra . As embalagens devem ter inscries pelo menos na lngua do destinatrio. Alm da promoo no exterior, preciso ser cauteloso quanto determinao de preos e s formas de pagamento. Efetivada a venda, a tramitao financeira deve ser feita por meio de um banco que atue internacionalmente, que sempre saber dar as informaes necessrias. Um despachante tambm importante, dada a srie de documentos envolvidos. " in96ab18-b,"TQUIO - O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, formalizou ontem uma parceria militar mais ativa com o Japo, que passar a partilhar com os EUA a responsabilidade pela defesa do Pacfico. De acordo com analistas polticos, o acordo pode abrir caminho para que o Japo participe no futuro de operaes militares no exterior (a Constituio do pas s permite que as Foras Armadas sejam usadas em defesa prpria). Clinton afirmou que os americanos vo continuar no Pacfico, ressaltando que a aliana entre Japo e EUA uma pea chave para a paz na regio. A parceria de segurana fundamental para manter a paz no Pacfico, especialmente nessa poca de profundas mudanas na regio, disse o presidente americano, durante uma entrevista imprensa concedida ao lado do primeiro-ministro japons, Ryutaro Hashimoto. O primeiro-ministro e eu concordamos firmemente em que, como duas das democracias mais fortes e economias mais importantes do mundo, Japo e Estados Unidos tm uma responsabilidade especial de liderana, acrescentou Clinton. Soldados - O acordo entre os dois pases prev a permanncia da fora americana na sia - 100 mil soldados, dos quais 47 mil esto no Japo. Os dois pases tero maior cooperao em reas como inteligncia e transferncia de tecnologia militar - esto previstos o desenvolvimento de novas armas, como os avies F-2, e o estudo de um novo sistema de defesa de msseis. Alm disso, Japo e Estados Unidos se comprometem a fornecer munio e servios em tempos de paz. Para que possa honrar este ltimo compromisso, o Japo far uma exceo proibio de exportar armas e componentes blicos, adotada em 1967. Uma outra declarao, assinada separadamente, amplia a cooperao em temas globais, incluindo o combate falta de alimentos, ao terrorismo, a doenas infecciosas e a desastres naturais. Para analistas polticos, o acordo firmado ontem muda substancialmente a relao entre EUA e Japo. At agora, os papis de segurana dos dois pases eram muito claros - o Japo era um escudo protegendo-se apenas a si prprio e os Estados Unidos eram a espada, comparou Tetsuo Meda, professor de poltica da Universidade Internacional de Tquio, para a agncia Reuters. Mas as declaraes de hoje [ontem] mostram que esses papis esto superados e que o Japo pode ser levado a fornecer algum tipo de espada. Restrio - O texto da declarao evita cuidadosamente qualquer sugesto de que os Estados Unidos estejam pedindo ao Japo para revisar sua Constituio de 1947, compreensivelmente pacifista depois do passado militarista do pas, exacerbado durante a Segunda Guerra. A Carta japonesa probe o uso de meios militares para resolver disputas internacionais - o que vem sendo interpretado, h vrios e sucessivos governos, como uma proibio a integrar foras de paz em outros pases. As boas vindas ao presidente americano, que viaja acompanhado da mulher, Hillary Clinton, foram dados pelo imperador Akihito e pela imperatriz Michiko. Clinton chegou a Tquio na tera-feira. Hoje de manh discursa no Parlamento, onde dever explicar o acordo assinado ontem, e tarde visita uma sucursal da montadora de automveis americana Chrysler. Depois, parte para So Petersburgo e Moscou, onde participar da cpula do G-7 (grupo dos sete pases mais ricos). Durante a estadia de Clinton em Tquio, o trabalho da imprensa foi bastante restringido, para evitar o registro de situaes como o que envolveu o ento presidente George Bush, em 1992 - que vomitou durante uma recepo. ","O presidente norte-americano, Bill Clinton, e o primeiro-ministro japons, Ryutaro Hashimoto, assinaram um acordo militar , com o que o Japo se compromete com a defesa do Pacfico. Esse acordo pode levar o Japo a operaes militares no exterior , contrariando a sua Constituio , que estabelece que suas Foras Armadas sejam usadas em defesa prpria. O trato prev a permanncia da fora armada americana na sia , a cooperao em tecnologia militar , a produo de armas de ataque e defesa. Uma outra declarao, assinada separadamente, amplia a cooperao em temas como combate fome, ao terrorismo , a doenas infecciosas e a desastres naturais. Os analistas polticos vem no acordo uma mudana substancial na relao entre os dois pases. Apesar das evidncias, o texto evita explicitar que os Estados Unidos querem que o Japo mude sua Constituio ----fundamentalmente pacifista desde o fim da guerra. A agenda de viagem do presidente americano, que est acompanhado da esposa, Hillary Clinton, inclui as boas-vindas do imperador e da imperatriz, uma visita ao Parlamento, onde explicar o acordo assinado e uma montadora americana Chrysler." po96fe26-a,"PORTO ALEGRE - A Comisso Especial dos Desaparecidos Polticos, que ter sua quarta reunio na quinta-feira quando ir estudar 20 novos casos, est reescrevendo para a Histria do Brasil as pginas mais obscuras da ditadura militar de 64: as das torturas, mortes e dos desaparecidos. Documentos e verses divulgados na poca pelas autoridades esto sendo desmentidos, formal e legalmente, um a um. Caem por terra todas as verses oficiais da poca, afirma o representante das Foras Armadas na comisso, general Osvaldo Pereira Gomes, 65 anos. O general Gomes se diz tranqilo e isento para ajudar a reescrever, com seus votos, os anos de chumbo da histria brasileira. Por isso, tambm com tranquilidade, o general Gomes apia totalmente a segunda e futura etapa dos trabalhos da comisso - tentativa de localizao dos corpos - por estar na lei de indenizao dos desaparecidos. Alm disso, uma questo humanitria, o direito de os familiares enterrarem os restos mortais dos seus entes queridos. Contraditrio - Nas reunies da comisso, fao o contraditrio, pois h muita paixo poltica envolvida. Alguns militares podem no gostar como atuo, mas ajo com iseno e independncia. Nunca recebi presses de quem quer que seja, nem aceitaria, garante o general. O presidente da comisso, Miguel Reale Jr, 52 anos, destaca que o regime militar autorizou e deu guarida a todas as violncias, mesmo quando a verso oficial era mentirosa, at bisonha. Ao reescrevermos essa parte da Histria brasileira, estamos resgatando a credibilidade sobre o conceito pblico de civilidade e dando o exemplo s novas geraes. Ao darmos nossos votos, ficaram e ficaro registradas as responsabilidades de todos nesse perodo perante a Histria. Suzana Lisboa, 44 anos, representante na comisso dos parentes de desaparecidos, confessa imensa emoo que j a fez chorar nas reunies, por ver restabelecida a verdade histrica que as famlias vm denunciando h tanto tempo, mostrando que a verso oficial sobre supostos atropelamentos, tiroteios ou suicdios era mentirosa. Responsabilidade - Os governos da poca tinham responsabilidade por aquela situao, j que a poltica oficial era essa, do aparato do Estado por trs dos rgos de segurana. Presidentes e ministros - com exceo talvez de alguns - sabiam o que estava acontecendo, completa. As antigas e falsas verses continuam a fazer parte de documentos da rea militar - como nos relatrios sobre desaparecidos entregues pelos ministros da Marinha e Aeronutica ao ento ministro da Justia Maurcio Correa (governo Itamar Franco) - alerta Suzana. Por isso, ela sugeriu comisso que, ao fim dos trabalhos seja publicado em livro o relatrio final. At 9 de maio a comisso, instalada no prdio Anexo II do Ministrio da Justia, estar recebendo novos pedidos de indenizao de famlias de mortos e desaparecidos, cifras que variam de R$ 100 mil a R$ 150 mil. Embora a comisso no tenha poder para responsabilizar individualmente os torturadores devido Lei da Anistia, Suzana alerta que as famlias podero utilizar futuramente as documentaes obtidas e aprovadas para, por exemplo, processar mdicos legistas que deram laudos falsos para acobertar torturas.","A Comisso Especial dos Desaparecidos Polticos est reescrevendo as verses sobre torturas, mortes durante a Revoluo de 64, convicta de que os relatos oficiais da poca esto cheios de mentiras. O general Osvaldo Pereira Gomes, representante das Foras Armadas, diz que nas reunies atua como contraditrio, procurando atenuar com iseno as paixes polticas . O presidente da comisso, Miguel Reale Jr. , destaca as arbitrariedades cometidas pelo regime militar, e tem a certeza de que o grupo est resgatando a verdade histrica e passando posteridade o exato conceito de civilidade pblica. Suzana Lisboa, representante dos parentes dos desaparecidos, fala da sua emoo ao ser esclarecida a verdade que as famlias vinham buscando h tempo. E , dada a continuidade de verses oficiais falsas, sugeriu que este trabalho da comisso se concretize em um livro. O trabalho da comisso inclui os pedidos de indenizao para as famlias dos mortos e desaparecidos. " mu94ab03-a,"A economia mundial ingressou numa fase nova. Anteriormente a locomotiva norte-americana era a nica fora operante que freava a recesso na Europa e no Japo. Mas at pouco tempo atrs a recuperao dos Estados Unidos havia sido fraca e incerta. Agora tudo isso chegou ao fim. A era do dinheiro fcil nos Estados Unidos acabou. O Federal Reserve (o banco central dos EUA) de Alan Greenspan foi levado a adotar uma poltica monetria restritiva. No incio de fevereiro, elevou repentinamente as taxas de juros de curto prazo; de l para c, os bnus de longo prazo entraram em queda contnua em Wall Street e este choque norte-americano desencadeou ondas de fraqueza financeira nos mercados de bnus do mundo inteiro. H muito tempo no ocorria pnico e temor to difundido. Meu telefone, na universidade, vem tocando a toda hora, com ligaes de jornalistas ansiosos por entrevistas ou alguma coisa que os ajude a entender melhor a situao. provvel que tudo isso seja apenas o comeo. provvel que o Federal Reserve ainda venha a impor mais apertos. A tendncia de alta do mercado de aes nos EUA e no resto do mundo no conseguir evitar este difcil teste. Ser que o Federal Reserve americano comprometeu as to longamente esperadas recuperaes na Europa e no Japo? Por que tudo isso aconteceu? Quais seriam as reaes desejveis no campo macroeconmico por parte das autoridades da Europa e do Japo? Apresento a seguir minha anlise do que aconteceu e tambm minhas recomendaes aos bancos centrais de pases importantes, que hoje precisam repensar suas polticas. Em primeiro lugar, preciso que compreendam que o Federal Reserve no sofreu uma simples mudana repentina de humor. O que move os mercados e move as autoridades do Fed o estupendo crescimento do PIB real dos Estados Unidos, que chegou a 7% anuais no ltimo trimestre de 1993. Ningum, racional ou irracionalmente, poderia ter previsto este acontecimento. Praticamente todos os analistas econmicos elevaram suas projees referentes ao crescimento econmico deste ano nos Estados Unidos. Taxas de 3% ou 4% hoje parecem plausveis, baseando-se apenas no mpeto atual. O prognstico consensual que estava sendo feito antes apontava para algo entre 2% e 3%. Observem que todos, de fato, esperam uma considervel desacelerao do crescimento, prevendo que ele no manter os picos recentes. As piores nevascas do sculo nos Estados Unidos, somadas ao grave terremoto na Califrnia, vo mascarar temporariamente a fora da economia no primeiro trimestre. Mas mesmo assim bem possvel que nos prximos 18 meses nosso ndice de desemprego caia para 6% ou menos, enquanto nossos nveis de produo comeam a tensionar nossa capacidade manufatureira. Poderamos perguntar: Por que um crescimento norte-americano mais forte implicaria problemas para a recuperao global? Com uma renda maior, os norte-americanos oferecero mercados de exportao mais fortes para a Europa em geral, para os pases do Sudeste Asitico e para o mundo em vias de desenvolvimento. Por que os mercados acionrios de Madri, Londres, Frankfurt, Tquio, Milo ou Cingapura no prosperam com a notcia da nova fora econmica dos EUA? assim que as pessoas costumavam argumentar. Aes e bnus costumavam ser investimentos alternativos. Um servia como hedge (proteo) para o outro. Quando a produo aumentava, as aes tambm disparavam e os bnus caam com o aumento induzido nas taxas de juros. No tem sido assim nos ltimos 15 anos. Com frequncia cada vez maior, as aes e os bnus parecem mover-se juntos. Quando os bancos centrais derrubam os preos dos ttulos, as aes tendem a acompanh-los -mesmo quando o aperto do crdito foi desencadeado pela perspectiva de lucros e produo em alta. Vimos um exemplo disso em 1987. A queda de Wall Street ocorreu na segunda-feira negra, 19 de outubro. As aes em Nova York caram 22% num nico dia. O exemplo norte-americano foi seguido imediatamente por um massacre financeiro no exterior, onde as aes caram em mdia ainda mais do que nos EUA. Foi uma fraqueza do PIB norte-americano ou sua fora que causou a queda de outubro de 1987? Evidentemente foi sua fora, e no sua fraqueza: no ltimo trimestre de 1987 os EUA tiveram uma taxa de crescimento econmico anual de 6% -a maior taxa de crescimento desde 1983, e que no voltou a ser equiparada novamente at o final de 1993. Ser que o Federal Reserve est um pouco paranico diante dos perigos atuais da inflao? Sim. Todos os presidentes de bancos centrais so dados a essa fobia. Ser que o dr. Greenspan e seus colegas vo terminar por exagerar no aperto ao crdito? Sim, bastante provvel. Mas, sendo realista, sou obrigado a admitir que nossas taxas de juros tendero a aumentar at que comecem a surgir sinais de fraqueza indubitvel na demanda. Os investidores norte-americanos vm aprendendo a enxergar a longo prazo: a comprar aes e conserv-las por dcadas, em lugar de tentar prever os altos e baixos do ciclo empresarial. Por essa razo, talvez no ocorra uma queda em Wall Street em 1994. Por outro lado, em comparao com os custos de reproduo de fbricas e instalaes, as empresas norte-americanas esto sendo avaliadas generosamente depois de nosso extenso perodo de alta das aes. E qualquer tendncia contnua a quedas futuras nos principais ndices de aes far com que os investidores voltem a adotar a ansiosa perspectiva de curto prazo. O que me preocupa a sia e a Europa. Hoje em dia, os mercados monetrios mundiais tendem a estar estreitamente vinculados. Os aumentos nas taxas de juros nominais e reais que os EUA podem suportar poderiam ser prejudiciais para uma recuperao sadia em 1994-95 para o resto do mundo. Sempre fcil fazer recomendaes de prudncia ao Federal Reserve: No exagere na histeria antiinflacionria. Se e quando ocorrerem sinais de que as restries monetrias estiverem sufocando a recuperao dos Estados Unidos, prepare-se para voltar ttica de manter baixas as taxas de juros. Tambm tenho recomendaes a fazer aos governos estrangeiros. Os bancos centrais europeus, individualmente e em conjuno informal, fariam bem em no deixar que suas taxas de juros aumentem proporcionalmente ao aumento norte-americano. Para isso ser preciso um pouco mais de relaxamento no crdito. Sim, isso poderia ocasionar uma certa fraqueza das paridades monetrias europias em relao ao dlar. Mas isso no negativo. E se vrios pases atuassem em conjunto -Espanha, Itlia, Frana e Reino Unido-, uma modesta apreciao do dlar melhoraria a competitividade europia, de maneira muito oportuna. Com um bom ajuste de suas polticas, a fora norte-americana pode acabar se mostrando benfica para a Europa.","A fase em que a economia americana freava a recesso na Europa e Japo chegou ao fim. O Federal Reserve ( Banco Central dos EUA)restringiu o crdito e elevou repentinamente as taxas de juros a curto prazo. Os negcios com bnus a longo prazo deterioraram dentro e fora do pas. H uma histeria no meio jornalstico , em busca de informaes para entender o que acontece. possvel que o Fed venha impor apertos , apesar da alta no mercado de aes , nos EUA e no resto do mundo. Seguem uma anlise do que aconteceu e recomendaes aos bancos centrais de pases importantes, que precisam repensar suas polticas. Primeiramente, preciso entender que , na raiz da deciso do Fed, est o enorme crescimento do PIB norte-americano, que chegou a 7% anuais no ltimo trimestre de 1993. O prognstico era de 2% a 3%. Mesmo que as fortes nevascas e o terremoto na Califrnia reduzam o mpeto econmico americano, nos prximos 18 meses a situao deve mudar. No faz muito tempo que pessoas do mundo econmico estranhavam que o crescimento norte-americano no propiciava recuperao dos pases europeus e do Sudeste asitico. Costumava-se ver o mercado de aes e de bnus como investimentos alternativos e que funcionavam como os pratos da balana: enquanto, por exemplo, as aes subiam , os bnus caam. Hoje, parecem funcionar na mesma direo. Em 1987, a queda de 22% num s dia, nas aes em Nova York teve reflexo foi imediato no resto do mundo. No entanto, esse fato no ocorreu por fraqueza do crescimento norte-americano: neste mesmo ano, o PIB foi de 6%. O Federal Reserve demonstra uma fobia da inflao , assim como os demais bancos centrais do mundo. Pode at ser que o presidente do Fed continue com o aperto de crdito, via aumento aumento de juros, mas a queda de demanda , certamente, abrandar a restrio. Essa observao deve servir como um conselho ao Federal Reserve, no sentido de que no exagere a preocupao antiinflacionria. E certamente valer para seus congneres europeus , que, alm disso, no devem vincular-se umbilicalmente ao aumento dos juros norte-americanos. " op94ab26-a,"Estudei engenharia, fui apaixonado por matemtica e acabei doutor em economia. No tenho, portanto, formao jurdica. Nessa rea toco de ouvido e com parcimnia. Ainda assim me arriscarei a questionar algumas teses jurdicas sobre a reviso constitucional, pela relevncia do tema. Para comear, reafirmo minha convico de que o Brasil no conseguir retomar seu desenvolvimento a mdio e longo prazos, nem consolidar a democracia, sem reformar amplamente a Constituio de 1988. Alis, o prprio texto constitucional previu a reforma. Uma das teses mais estapafrdias levantadas por alguns juristas que a reviso no poderia ser feita, pois estaria vinculada ao plebiscito sobre sistema de governo. Mantido o presidencialismo, nada haveria a revisar na Carta. A tese estapafrdia porque: 1) os dispositivos sobre o plebiscito e a reviso so independentes; 2) nada no texto constitucional restringe a reviso ao sistema de governo. Outra tese jurdica implausvel do ponto de vista lgico que apenas o Congresso atual, eleito em 1990, poderia fazer a reviso. Mas onde est dito ou subentendido que a reviso s poderia ser feita por um mesmo Congresso? O texto constitucional diz apenas que a reviso deveria ser feita aps 5 de outubro de 1993, ou seja, poderia comear nessa data ou no ano 2000. Apesar da advertncia de que, comeando em 5 de outubro, a reviso certamente iria fracassar por causa do ano supereleitoral de 1994, que alimenta o ausentismo dos parlamentares, a organizao dos contras e o desinteresse do governo, a maioria do Congresso decidiu inici-la logo, em vez de transferi-la para 1995. As previses sombrias foram confirmadas e no se aprovou praticamente nada at agora. O prazo termina em 31 de maio e ainda se tenta votar algumas emendas, mas o fundamental ficar de fora. Que fazer? O lgico no seria encerrar a reviso, mas apenas desativ-la at serem feitas as eleies ou at o comeo de 1995. Mas o relator Nlson Jobim acha que isso no possvel, porque uma emenda j foi promulgada, a do Fundo Social de Emergncia. O Supremo Tribunal Federal no aceitaria a prorrogao, argumentando que o Congresso estaria adotando um novo mtodo permanente de mudar a Lei Magna e, assim, a reviso no acabaria nunca. De fato, o Supremo nunca deliberou sobre o assunto. E a argumentao no convence, pois o Congresso Revisor poderia at alterar as normas de mudar a Constituio, que no configuram nenhuma clusula ptrea. Poderia, portanto, introduzir na Constituio uma data encerrando a reviso. Li ou ouvi a opinio de numerosos juristas sobre a possibilidade de adiamento para 1995. A mais recente o brilhante artigo do professor Miguel Reale no jornal O Estado de S. Paulo de sbado ltimo. Tambm opinam na mesma direo Miguel Reale Jr., Fbio Comparato (embora prefira o Congresso revisor exclusivo), Saulo Ramos, Trcio Sampaio Ferraz, Celso Bastos e Manoel Alceu Afonso Ferreira. Parece que as nicas coisas que esses juristas tm em comum serem paulistas e julgarem que a reviso pode ser adiada. Ser que todos esto errados? Parece-me improvvel, pois nenhum deles formado em economia...","Apesar de no ter formao jurdica ---s algumas informaes de autodidata--- , arrisco a questionar algumas teses sobre a reviso da Constituio de 1988. De incio, insisto na impossibilidade de o pas retomar o desenvolvimento sem essa reviso --- alis, j prevista no prprio texto. Uma das teses absurdas de alguns juristas que a reviso dependeria do plebiscito sobre o sistema de governo a ser adotado. Nada no texto a condiciona a um sistema de governo. Outra tese indefensvel logicamente a de que apenas o Congresso atual, eleito em 1990, poderia proceder reviso. O texto constitucional s diz que ela poderia ser feita aps 5 de outubro de 1993. A insistncia dos contras e o desinteresse do governo fizeram que ela comeasse logo em 5 de outubro. Com as eleies de 1994 e a conseqente ausncia de deputados , no se aprovou praticamente nada --- e o tempo est para terminar. A lgica mandaria desativar a reviso e recome-la depois, mas o relator , alegando j ter sido promulgada uma emenda, o STF rejeitaria o adiamento. A argumentao no procede , pois o prprio Congresso Revisor poderia alterar as normas de mudana da Constituio. Sobre o adiamento , pronunciaram-se favoravelmente vrios juristas respeitveis , o que dificulta aceit-lo como improcedente. " mu94ma15-18,"Interesses alimentam a guerra de Ruanda Pases como Egito, Rssia, frica do Sul e Frana lucram com venda de armas e jogam lenha na fogueira do conflito FRANK SMYTH Do The Nation A queda de avio que matou os presidentes de Ruanda e do Burundi, em 6 de abril, apenas o ltimo ato da violncia sofrida por esses pases centro-africanos vizinhos. possvel que o avio tenha sido derrubado propositadamente. Nos ltimos anos, cerca de 100 mil pessoas morreram e mais de 1 milho fugiram de ataques tnica e politicamente motivados. Integrantes do Exrcito do Burundi, dominado pelos tutsis, assassinaram o presidente anterior do pas, um hutu, em outubro. O Exrcito de Ruanda, dominado por hutus, responsvel pela maioria dos abusos cometidos nesse pas, segundo a Human Rights Watch-Africa. Uma em cada oito pessoas em Ruanda est beira da morte pela fome, segundo relatrio de organismos assistenciais. O terror recomeou em Ruanda num momento em que o pas tateava em busca de uma soluo pacfica da guerra civil, que durou trs anos e terminou em agosto passado. O conflito foi acirrado por governos de pases que forneciam armas a Ruanda, num exemplo tpico do dumping acelerado de armas para pases subdesenvolvidos ps-Guerra Fria. Em outubro de 1990, guerrilheiros da Frente Patritica Ruandesa (FPR), procurando derrubar o presidente Juvenal Habyarimana, invadiram o pas a partir de Uganda. De vrias partes do mundo chegava um fluxo constante de armas, incluindo fuzis Kalashnikov, morteiros de 120 mm, obuses de 122 mm e lanadores de foguetes mltiplos de fabricao sovitica. Milhares de civis e combatentes morreram e 1 milho de pessoas foram expulsas de suas casas. Acho que todo mundo quer entrar nesse tipo de mercado, disse em 1993 o ministro da Defesa de Ruanda, James Gasana, acrescentando que a maioria dos pases e dos fornecedores independentes de armas estavam menos interessados em quem ganharia a guerra do que em ganhar dinheiro com ela. Hutus e tutsis As foras governamentais so compostas de hutus e a guerrilha, de tutsis. O conflito entre as duas etnias data do sculo 17, quando o Reino de Ruanda foi implantado como Estado organizado e estratificado. A maioria dos aristocratas, chefes militares, altos funcionrios e criadores de gado eram tutsis, hoje 14% da populao. O resto da populao eram hutus, predominantemente agricultores de subsistncia. As divergncias no eram tribais, mas tnicas e sociais. Os tutsis historicamente se acham superiores aos hutus. A monarquia tutsi dominou Ruanda at ser derrubada pelos hutus, em 1961, um ano antes de o pas tornar-se independente da Blgica que no decorrer dos anos havia se aliado aos tutsis, mas trocara de lado no final dos anos 50. Um dos primeiros atos do novo governo foi a execuo de cerca de 20 lderes tutsis proeminentes; multides hutus massacraram 20 mil cidados tutsis. Em 1973 o ministro da Defesa, o hutu Habyarimana, tomou o poder fora, prometendo ser justo com hutus e tutsis. Mas, em lugar disso, distribuiu a maioria dos recursos do pas e dos cargos-chaves a familiares, amigos e associados vindos de sua regio natal, no noroeste de Ruanda. Habyarimana governou o pas como Estado unipartidrio e os ministros eram em sua maioria seus parentes. Depois da invaso dos guerrilheiros, o regime distribuiu fuzis a autoridades municipais, operando em cooperao com os milicianos de seu partido. Lideradas por altos funcionrios do governo, essas milcias organizaram multides de hutus agitados, que percorreram aldeias e campos caa de tutsis. Roubavam feijo e matavam cabras e gado. Antes de incendiar as choupanas de bambu, dividiam a carne e as roupas. Cerca de 2.000 pessoas morreram, a maioria a golpes de faco. O regime de Habyarimana prendeu arbitrariamente pelo menos outras 8.000. Centenas de pessoas foram espancadas, estupradas e torturadas. Os guerrilheiros tambm cometeram abusos, executando centenas de civis suspeitos de colaborao com o regime de Habyarimana. Tambm foraram um nmero desconhecido de civis ao trabalho escravo, como carregadores de suas tropas. Embora os abusos cometidos por ambos os lados tenham sido documentados por uma comisso internacional, tanto o governo quanto a guerrilha negam que isso tenha acontecido. Mercado lucrativo A maioria dos pases e dos fornecedores de armas que facilitaram a carnificina em Ruanda tambm se nega a dar informaes. A Rssia e outros ex-integrantes do Pacto de Varsvia so hoje prolficos fornecedores de armas. O colapso do controle central em Moscou conferiu ampla liberdade de ao tanto aos governos quanto os funcionrios encarregados dos estoques de armas. Como essas armas j foram pagas, elas podem ser colocadas no mercado mundial a preos abaixo do custo. Os mercados e as guerras na frica e na sia vm sendo inundados de Kalashnikovs. Em maro de 1992, as partes em conflito na frica central podiam compr-los no atacado por US$ 220 a pea; de l para c, os preos caram para menos de US$ 200. Entre os combatentes uniformizados, a maioria usava uniformes camuflados vindos da ex-Alemanha Oriental. Fornecedores africanos de armas vivendo em Bruxelas aparentemente facilitam a entrega de material de ex-pases do Pacto de Varsvia frica oriental. Na frica do Sul, a estatal Armscor vem h anos fabricando armas de alta qualidade para suas foras de defesa e segurana, que no podiam comprar no exterior devido ao embargo imposto pela ONU. A resoluo que proibia vendas frica do Sul era respeitada, mas no a proibio s compras de armas desse pas. Segundo faturas da Armscor datadas de 19 de outubro de 1992, a frica do Sul vendeu a Ruanda pelo menos US$ 5,9 milhes em armas leves, metralhadoras, morteiros e munio. Hoje, cerca de 3.000 soldados ruandeses esto equipados com fuzis R-4, superiores aos Kalashnikovs. Contrato secreto Um contrato de venda de armas assinado em 30 de maro de 1992 diz: Comprador e fornecedor concordam em no revelar o contedo deste contrato a terceiros. O comprador era Ruanda e o fornecedor o Egito, numa transao de US$ 6 milhes que incluiu fuzis, minas, explosivos plsticos, morteiros e artilharia. Outros documentos indicam que a venda foi financiada por um banco internacional de primeira categoria aprovado pelo Egito. Ruanda pagou US$ 1 milho vista e prometeu pagar mais US$ 1 milho com dinheiro a ser obtido com a venda de 615 toneladas de ch, alm de US$ 1 milho anuais durante os quatro anos seguintes. Poucos bancos privados, operando por lucro, assumiriam esse risco. Mas o Crdit Lyonnais o assumiu. Embora possa ser privatizado em breve, em maro de 1992 ele ainda era um banco estatal francs. Na verdade, a venda foi um crdito sigiloso de assistncia militar da Frana para Ruanda. O crdito virou subsdio. O Crdit Lyonnais e Ruanda no esperavam a ofensiva da FPR em fevereiro de 93, na qual a guerrilha tomou a plantao de ch de Mulindi. O ch no foi colhido. Quanto dvida com o Egito, o Crdit Lyonnais por extenso a Frana obrigado a arcar com ela. A disposio do governo francs de apoiar Habyarimana militarmente vem de sua determinao de manter credibilidade na frica francfona. Desde a independncia de Ruanda, em 1962, at o incio da guerra, em 1990, o principal parceiro comercial, aliado poltico e patrono militar do pas era a Blgica. Com o incio da guerra, a Frana assumiu esse papel. A Blgica o nico pas da Otan cujas leis o probem de fornecer armas a um pas em guerra. Pouco aps a invaso da FPR, em 1990, a Blgica cortou sua assistncia militar a Ruanda. No ano passado, aps a publicao do relatrio sobre direitos humanos, a Blgica chamou seu embaixador de volta. As acusaes de que a Blgica teria ajudado a FPR so falsas e se devem ao ressentimento do regime de Habyarimana contra a neutralidade belga. Novo Vietn Representantes franceses, porm, defendem o regime Habyarimana. Foram mortos civis, como em qualquer guerra, disse o coronel Cussac, adido militar em Kigali e chefe da misso francesa de assistncia militar. Voc diz que a assistncia militar uma violao dos direitos humanos?, ele perguntou, afirmando que funcionrios da embaixada dos EUA em Kigali apiam a poltica francesa. A Frana e os EUA tm uma histria comum por exemplo, no Vietn. Na verdade, todos os diplomatas ocidentais no-franceses em Kigali criticam o papel da Frana. Imediatamente depois do incio da guerra, a Frana deslocou pelo menos 300 soldados da Repblica Centro-Africana para Ruanda. Tambm apressou-se a enviar assessores, peas de helicpteros, morteiros e munies. Depois da ofensiva da FPR, em fevereiro, o nmero de soldados franceses em Ruanda aumentou para pelo menos 680, abrangendo quatro companhias e incluindo pra-quedistas. As tropas francesas esto aqui para proteger cidados franceses e outros estrangeiros, disse Cussac. Mas diplomatas ocidentais, funcionrios de organismos humanitrios e oficiais ruandeses disseram que os franceses vm fornecendo apoio de artilharia para a infantaria ruandesa. O embaixador da Frana afirmou que a presena do pas necessria para defender Ruanda contra uma agresso de Uganda. verdade que Uganda no tem se mantido imparcial durante o conflito, embora seu governo negue isso categoricamente. Temos um compromisso com a FPR, declarou um oficial do Exrcito de Uganda, em Kampala. Se eles no tivessem nosso apoio, no estariam dando to certo quanto esto. Juntamente com os refugiados tutsis que serviram no Exrcito ugandense, cerca de 200 mil outros tutsis vivem em Uganda. Enquanto o presidente Yoweri Museveni tenta reconstruir o pas, depois da destruio sofrida sob o governo de Idi Amin, esses refugiados vm competindo com os ugandenses por gua, terra e outros recursos. Ao apoiar os guerrilheiros, o presidente Museveni parece menos interessado em conquistar territrio ruands do que em facilitar a repatriao dos tutsis. Enquanto Uganda abrigava e ajudava a armar a FPR, o Egito, a frica do Sul e especialmente a Frana armavam o regime Habyarimana, responsvel maior pela recente carnificina. Uganda nega, Egito e frica do Sul se recusam a comentar e a Frana ainda no revelou inteiramente seu papel. Frank Smyth autor de Arming Rwanda: The Arms Trade and Human Rights Abuses in the Rwandan War (Armando a Ruanda: o Comrcio de Armas e as Violaes dos Direitos Humanos na Guerra Ruandesa), que pode ser obtido junto ao Arms Project da Human Rights Watch. Traduo de Clara Allain","Interesses alimentam a guerra de Ruanda Pases como Egito, Rssia, frica do Sul e Frana lucram com venda de armas e jogam lenha na fogueira do conflito FRANK SMYTH- Do The Nation A morte dos presidentes de Ruanda e do Burundi com a queda (ou derrubada) de um avio apenas o ltimo ato de violncia sofrida por esses pases africanos vizinhos. Nos ltimos anos, aproximadamente 100 mil pessoas morreram e mais de 1 milho fugiram de ataques . Integrantes do Exrcito do Burundi, dominado pelos tutsis assassinaram o presidente anterior, um hutu. O exrcito de Ruanda , dominado por hutus, responsvel pela maioria dos abusos cometidas no pas. Uma em cada oito pessoas passa fome absoluta. O terror comeou num momento em que o pas tentativa uma soluo pacfica para a guerra civil, acirrada por pases fornecedores de armas. Em outubro de 1990, guerrilheiros da Frente Patritica Ruandesa (FPR) invadiram o pas , na tentativa de derrubar o presidente Juvenal Habyarimana. Armas chegavam de vrias partes do mundo. O resultado foi a morte de milhares de civis e combatentes e a expulso de suas casas de 1 milho de pessoas. As foras oficiais so formadas por hutus e a guerrilha, por tutsis. O conflito entre as duas etnias secular. A maioria dos aristocratas, chefes militares , altos funcionrios e criadores de gado eram tutsis- hoje 14% da populao. Os demais eram hutus, predominantemente agricultores de subsistncia. Os tutsis sempre se consideraram superiores . A monarquia liderada por eles dominou Ruanda at 1961 , quando foi derrubada pelos hutus, um ano antes de independer-se da Blgica, que se aliara a eles no final dos anos 50. Apesar de ter prometido ser justo com hutus e tutsis , o hutu Habyarimana , aps tomar o poder, distribuiu os recursos do pas e os postos-chave a parentes, amigos e associados provindos da sua regio. Entre as arbitrariedades , o seu regime prendeu cerca de 8.000 pessoas e espancou, torturou e estuprou centenas de pessoas. Os guerrilheiros reagiram cometendo tambm violncias. O conflito alimentou um comrcio lucrativo de armas , sempre negado e silenciado pelos fornecedores . A Rssia e pases ex-integrantes do Pacto de Varsvia forneceram muitas armas.Uniformes vinham da Alemanha Oriental . Na frica do Sul , a estatal Armscor produziu armas de alta qualidade, j que a ONU embargou compras no exterior . O Egito fez uma transao de armas para Ruanda financiada pelo banco francs Crdit Lyonnais, com promessa em contrato de ningum revelar o contedo do negcio. Para manter sua credibilidade na frica francfona , a Frana decidiu apoiar Habyarimana militarmente. Logo depois do incio da guerra, deslocou pelo menos 300 soldados para Ruanda , alm de enviar assessores , peas de helicpteros , morteiros e munies. Diplomatas ocidentais, funcionrios de organismos humanitrios e oficiais ruandeses confirmam esse apoio. Segundo o embaixador da Frana, a presena necessria para proteger Ruanda contra uma agresso de Ruanda. Alm de refugiados tutsis que serviram no exrcito ugandense, aproximadamente outros 200 mil tutsis vivem em Uganda e competem com os habitantes locais por gua, terra e outros recursos. Ao apoiar os guerrilheiros, o presidente Yoweri Museveni parece menos interessado em conquistar o territrio ruands do que repatriar os tutsis. " mu94ag09-a,"Israel e Jordnia abriram ontem a primeira passagem de fronteira entre os dois pases depois de 46 anos de estado formal de guerra. O premi de Israel, Yitzhak Rabin, entrou em territrio jordaniano e depois navegou com o rei Hussein da Jordnia no iate real em guas territoriais de Israel. A abertura da fronteira consolidou o acordo de paz assinado por Rabin e Hussein em Washington no ms passado. Ns esperamos 46 anos. Passamos por guerra, dor e sofrimento. Para evitar mais perdas, no podemos esperar nem mais um dia, disse Rabin em seu discurso. Ele respondia a crticos israelenses que consideram que o processo de paz est indo rpido demais. A fronteira entre Eilat, em Israel, e caba, na Jordnia, s estar aberta, por enquanto, para pessoas com passaportes estrangeiros. Sentimos que somos amigos e parceiros indo com determinao, viso, empenho em direo ao estabelecimento de fundaes de uma paz abrangente nesta regio, disse Hussein na cerimnia de inaugurao da fronteira. Hussein, que atravessou o espao areo e navegou em guas territoriais israelenses, disse pretender visitar santurios islmicos de Jerusalm e Hebron, na faixa de Gaza. As duas reas so parte do territrio ocupado por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 67. Depois de seu primeiro encontro pblico em territrio jordaniano, Rabin e Hussein admitiram que se conhecem h 20 anos. Oficialmente, a primeira vez que os dois lderes se viram pessoalmente foi na reunio de cpula de Washington. Quando nos encontramos os trs na Casa Branca, o presidente (dos EUA, Bill) Clinton, o rei Hussein e eu, Clinton virou-se e perguntou: 'Digam-me a verdade, h quanto tempo vocs se conhecem?' , contou Rabin. Eu olhei para o rei. Ele no respondeu. Eu respondi: 'H 21 anos'. Ento ele corrigiu: '20'. E ele estava certo, disse. O secretrio de Estado dos EUA, Warren Christopher, disse na abertura de fronteiras que Israel e Sria tm uma longa distncia a percorrer para a paz. Christopher esteve negociando com srios e israelenses e disse que Rabin e o presidente srio, Hafez al Assad, comearam a pavimentar a base para o progresso em direo paz. O chanceler israelense, Shimon Peres, disse que os recentes incidentes entre Israel e o Hizbollah, milcia xiita pr-Ir do Lbano, cessaram e atribuiu Sria uma influncia no fato. Segundo Peres, Israel disse a Christopher que a Sria poderia exercer influncia sobre o Hizbollah. Os EUA acreditam que a Sria no controla o Hizbollah, mas, como tem cerca de 30 mil soldados no Lbano, pode exercer presso.","Aps 46 anos de estado formal de guerra, Israel e Jordnia o acordo de paz, assinado por Rabin e Hussein, abrindo a primeira passagem de fronteira entre os dois pases--- inicialmente reservada s para quem portasse passaportes estrangeiros. O cerimonial constou de demonstraes pblicas da concretizao do acordo: entrada de Rabin em territrio jordaniano, navegao em guas territoriais de Israel, juras de paz eterna e promessas de Hussein de visitar santurios islmicos, em territrio ocupado por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 67 Apesar de se conhecerem h 20 anos --- segundo declarao dos prprios--- oficialmente, a primeira vez que se viram pessoalmente foi na reunio de cpula de Washington , durante o governo Clinton. O secretrio de Estado dos EUA afirmou que entre Israel e Sria a paz ainda est distante. E acrescentou que , na sua conversao com os dois pases, j percebeu um encaminhamento propcio. Nessa linha de boa vontade, est o reconhecimento, por parte do chanceler isralense, de que a Sria contribuiu para o cessamento de incidentes entre Israel e o grupo Hizbollah." co94ag28-09,"Estado de Direito Brasileira JACY DE SOUZA MENDONA Foi muito sofrido para a humanidade ultrapassar a fase da histria na qual a vontade do detentor do poder pblico tinha fora de lei. No poucos sofreram e at perderam a vida sob as injustias que o arbtrio pode produzir. Como legado da superao desse perodo, importantes princpios polticos e jurdicos foram descobertos pela inteligncia humana e passaram a ser implantados nas sociedades. Aprendeu-se a colocar a lei em lugar da vontade do prncipe. Lei, no sentido formal, deliberao tomada por maioria, num grupo de representantes da sociedade, por ela eleitos para essa funo. Hoje se repete, em quase todas as Constituies do mundo, que ningum pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei. Ou seja, a vontade do prncipe ou do presidente, a vontade de ministros ou governadores, no cria obrigao para ningum, nem quando revestida da forma de decreto, portaria ou resoluo. S a lei obriga. Aprendeu-se tambm que o poder de administrar a sociedade precisa estar separado do poder de legislar. Quem administra no pode legislar, quem legisla no deve administrar. a nica forma de fazer com que a lei no fique submetida vontade da autoridade, mas que a autoridade fique a ela submissa. A lei universal, gera direitos e obrigaes para todos, mesmo para o presidente. Na maioria dos pases politicamente desenvolvidos essa mxima levada a tal ponto que nem se reconhece ao chefe do Poder Executivo a iniciativa legislativa, ou seja, a faculdade de encaminhar ao Parlamento projetos de lei. No Brasil, nunca nos livramos do vis de nossos presidentes, ministros e autoridades em geral acreditarem ter poderes para impor sua vontade como se fossem fonte de lei, e j vivemos perodos em que o presidente da Repblica assumia suas funes de administrar, legislar, sob a forma de atos institucionais ou decretos-lei. Mas, pior que tudo isso, nosso regime constitucional, num lamentvel retrocesso histrico, assegura ao presidente da Repblica funes legislativas. As medidas provisrias foram previstas pelo constituinte para atender a casos de relevncia e urgncia, conceitos de tal forma elsticos que neles tudo cabe. Deveriam perder a eficcia se no fossem convertidas em lei no prazo de 30 dias, mas a generosidade interpretativa possibilita sua reedio tantas vezes quantas agradar a vontade do presidente. Os interesses polticos dos parlamentares, a incompetncia de alguns, a irresponsabilidade e a preguia de outros, tudo conspira para transformar o presidente da Repblica no maior, seno o nico verdadeiro legislador do pas. J tivemos que assistir envergonhados espetculos ridculos como o presidente ameaando o Congresso com a edio ou reedio de medida provisria ou parlamentares pedindo licena ao Poder para modificar o texto de medida provisria. Triste recada brasileira no regime arcaico e h muito superado pelos pases civilizados de submisso da sociedade vontade plenipotenciria do prncipe, com total inverso do sistema legislativo. No regime da lei, o parlamento prope, discute e aprova dispositivo legal para depois submet-lo aprovao ou rejeio do presidente; no regime das medidas provisrias, o presidente, sem discutir com ningum, impe um texto de lei e deixa ao Congresso a funo de rejeit-lo se puder. Grave risco para o exerccio das liberdades individuais, pois a amplitude das matrias disciplinadas pelo presidente tal que, mesmo se um dia fossem rejeitadas pelo Congresso, muitas poderiam j ter causado danos jurdicos irreparveis para os cidados. JACY DE SOUZA MENDONA, 63, diretor do Instituto Roberto Simonsen da Fiesp (Federao das Indstrias do Estado de So Paulo), vice-presidente do Instituto Liberal de So Paulo e membro honorrio do Grupo das Empresas Brasileiras de Capital Estrangeiro. Foi presidente da Anfavea (Associao Nacional dos Fabricantes de Veculos Automotores) de 1989 a 91.","Estado de Direito Brasileira JACY DE SOUZA MENDONA Ultrapassar a fase histrica do eu sou a lei foi muito sofrido para a humanidade. Muitos foram penalizados at com a morte por causa do arbtrio do prncipe. O homem superou esse perodo com a criao de importantes princpios polticos e jurdicos. Aprendeu a colocar a lei acima da vontade de quem governa. Tanto que em quase todas as Constituies do mundo reza que ningum pode fazer ou deixar de fazer algo que no esteja previsto na lei. Aprendeu tambm que quem governa no pode legislar e vice-versa. Nos pases mais evoludos o chefe do Executivo no pode ter iniciativa legislativa. No Brasil , no conseguimos nos livrar do autoritarismo conhecido como voc sabe com quem est falando? . O pior nosso regime constitucional permite ao presidente editar medidas provisrias para casos de relevncia e urgncia, conceitos muito vagos em que tudo cabe. Teoricamente, se no aprovadas pelo Congresso em 30 dias, perderiam a eficcia. Mas o nosso jeitinho permite sua reedio at que o Congresso seja convencido. No h dvida de que um arbtrio que traz srio risco para as liberdades individuais. " in96ab30-a,"PARIS - Est em ponto de ebulio na Frana a polmica provocada pelo apoio do Abade Pierre, considerado o homem mais popular do pas, a seu velho amigo o filsofo Roger Garaudy - ex-comunista e ex-catlico convertido ao islamismo - em torno das teses de reviso do Holocausto que este sustenta em seu livro Os Mitos fundadores da poltica israelense. A simpatia hipotecada pelo sacerdote ao polemista - e no necessariamente a todo o contedo de suas teses - repercutiu mal no momento em que Garaudy processado com base na lei que pune a negao de crimes contra a humanidade, e semeou a confuso na comunidade judaica e na opinio pblica. nimos - O tema no podia ser mais delicado, e os nimos, mais facilmente exaltveis. Militante islmico, Garaudy considera no livro que genocdio e holocausto so palavras exageradas para os pogroms nazistas; prope uma histria crtica dos crimes hitleristas; e assume posio combatente contra o dogma dos seis milhes de judeus exterminados, que segundo ele usado para justificar os excessos da poltica de Israel na Palestina e para deixar o Estado judeu acima das leis internacionais. Garaudy apresenta os historiadores crticos - ou negacionistas - como pesquisadores perseguidos cujos trabalhos no foram contestados cientificamente. E se aventura numa tentativa de relativizar o horror: segundo ele, gente de outros povos foi morta tambm pelos nazistas e nem todos os judeus morreram em cmaras de gs, mas tambm de fome, em marcha forada ou a bala. A questo poderia ser: aonde semelhante linha de pensamento levaria? Mas o fato que, relativizao, reviso ou negao, o que escreve Garaudy passvel, na Frana, das penas da lei Gayssot, que no seu caso foi invocada pelo Movimento Contra o Racismo e pela Amizade entre os Povos. O pensador foi indiciado e poder passar um ano na cadeia. Onde a porca torceu o rabo, no entanto, foi na interveno do Abade Pierre, o homem que espalhou pelo mundo as Comunidades de Emas, que ensinou os franceses a pensarem mais nos pobres, que renunciou fortuna pessoal, ajudou judeus a escaparem para a Sua durante a Segunda Guerra e membro da Liga Contra o Racismo e o Anti-semitismo (Licra). Calnia - Tambm simpatizante da causa palestina, o sacerdote de 83 anos foi solicitado por Garaudy a sair em sua defesa, como outros amigos. Comeou por considerar uma calnia confundir teu livro com as teses revisionistas. Mais adiante, reconheceu no ter lido o livro, mas um resumo, insistindo porm em argumentos como o do nmero de mortos no campo de concentrao de Auschwitz, onde se afirmou inicialmente que houve 4 milhes de vtimas, nmero corrigido posteriormente para 1 milho; mesmo considerando que a abominao a mesma, o abade sustenta haver a uma demonstrao de que o tema deve ser objeto de investigao imparcial. O Abade Pierre foi chamado a explicaes na Liga contra o Racismo. Recuou, disse que no entra no mrito do livro nem apia suas teses, mas repisou o argumento da integridade intelectual de Garaudy e da necessidade de debater livremente este tema. Os jornais esto cheios de contestaes, respostas e desafios ao abade. E ontem, enquanto a hierarquia catlica mantm cauteloso silncio, ele voltou carga em entrevista ao Libration, dizendo-se satisfeito com a polmica: Muita gente me tem dito obrigado pela coragem de questionar um tabu. preciso parar de chamar de anti-semita quem questiona a histria do Holocausto. No nos deixaremos mais chamar de antijudeus ou anti-semitas por dizer que um judeu canta mal. ","Est quente na Frana a polmica provocada pelo apoio do Abade Pierre ao filsofo Roger Garaudy, convertido ao islamismo, que , no seu livro Os mitos fundadores da poltica israelense, prope uma reviso do holocausto judeu , considerado por ele uma forma de justificar os excessos israelenses contra os palestinos. O filsofo v exagero na atribuio a Hitler dos crimes contra os judeus , quer na quantidade quer na qualidade. Mesmo no inocentando o ditador, ele passvel de infringir a lei Gayssot, invocada pelo Movimento Contra o Racismo e pela Amizade entre os Povos para indici-lo. A questo se acende mais, porque o Abade, de 83 anos, conhecido pelo seu desapego aos bens, por ajudar judeus a escapar, por ser membro da Liga Contra o Racismo e o Anti-Semitismo . Mas tambm simpatizante da causa palestina , e, por isso, Garaudy pediu que o defendesse. E na defesa, mesmo dizendo s ter lido um resumo do livro , insiste em argumentos que pem em cheque a quantidade de judeus mortos. Chamado a dar explicaes na Liga contra o Racismo, o abade recuou dizendo que no entrava no mrito do livro e nem apoiava as suas teses, mas reforou sua convico na integridade intelectual de Garaudy e a necessidade de um debate despreconcebido sobre o tema. " ce94ja25-a,"Aos 440 anos So Paulo j foi cantada em pelo menos 1.800 msicas. Essa histria de citar a cidade comeou em 1750, quando dois compositores (Calixto e Anchieta Arzo) decidiram fazer Missa So Paulo, partitura recuperada e gravada pela primeira vez em 1970 com regncia de Jlio Medaglia. Depois disso, parece que no foi mais possvel conter homenagens e desiluses musicais dos compositores pela que hoje a terceira maior metrpole do mundo. At a primeira frase do Hino Nacional menciona So Paulo: Ouviram do Ipiranga... Esses dados foram pesquisados por um paraibano de Joo Pessoa, radicado em So Paulo desde 75, que h cinco anos levanta a histria musical da cidade em sebos e livrarias. O escritor e jornalista Assis Angelo, 41, est agora preparando o que ele chama de a primeira enciclopdia musical sobre So Paulo. Os primeiros 300 verbetes j esto escritos. Angelo acredita que o material resultante da sua pesquisa suficiente para 900 verbetes e umas 600 pginas de livro, espera de patrocinadores. E como seu trabalho enciclopdico, vale dizer que a cidade j foi cantada de A a Z, passando por X e Y, por intrpretes e compositores de todos os Estados brasileiros. Por exemplo, com Z, Zona Leste Total (de Luiz Carlos, 1991); com X, Xamego Paulista (de Arlindo Bettio e Nhozinho, 1987); com Y, Yay do Peruche (de L. Correa e Rodolfo Vila) e com A, entre outras, A Baixada do Glicrio (de Enerdino Ortiz, Joo Marques e Manoel Loureno). Se quantidade significar amor, Adoniram Barbosa foi o mais apaixonado dos cantores. Adoniram lidera o ranking com nada menos que 22 msicas sobre So Paulo. Tom Z e a dupla Tonico e Tinoco tambm tm l sua quedinha pela cidade. Cada um gravou 11 msicas. Quem pensa que Caetano Veloso parou na arroz de festa Sampa quando quis falar da cidade, mostra ou que no entende nada desta cidade ou que no sabe nada de Caetano. O doce brbaro fala de So Paulo em outras cinco msicas, menos que Itamar Assumpo (dez msicas) e mais que Alvarenga e Ranchinho, que gravaram quatro composies. O ano em que mais se cantou So Paulo foi o do 4. Centenrio, 1954. Foram gravadas 72 msicas, com verses at japons enaltecendo a cidade. Nem Hebe Camargo deixou de gravar a sua. A Hebe vai ficar uma arara, mas a msica que ela gravou, Paulicia em Festa, era um horror, muito ruim, diz o pesquisador Angelo. J a composio IV Centenrio, de Mrio Zan e J. M. Alves, fez tanto sucesso na poca, que vendeu, numa So Paulo quase provinciana, mais de cinco milhes de discos. S para registro, Mrio Zan o autor do bolero que s estourou e ficou bastante conhecido depois de gravado em espanhol. A estrofe esta: Dizem que os homens/ no devem chorar/ por uma mulher/ que no soube amar... Se o Campeonato Paulista algum dia for definido pela quantidade de msica composta para os times, s vai dar Corinthians. Das 140 msicas compostas para os clubes paulistas, 85 foram dedicadas ao time do Parque So Jorge.","Nos seus 440 anos , So Paulo j mereceu , pelo menos, 1.800 msicas. A primeira , Missa a So Paulo, de l750, foi gravada pela primeira vez por Jlio Medaglia. O Hino Nacional tambm registrou a presena da cidade: Ouviram do Ipiranga... O jornalista Assis Angelo est organizando uma enciclopdia musical sobre So Paulo, j com material suficiente para 900 verbetes e 600 pginas. Percorrendo o alfabeto , constam msicas cujas letras iniciam at com as menos provveis letras. Por exemplo: Zona Leste Total, Xamego Paulista , Yay do Peruche. Entre os compositores , Adorinam Barbosa bate o recorde , com 22 msicas falando da capital paulista; Tom Z e dupla Tonico e Tinoco, cada um com 11 msicas; Caetano Veloso , com 6 ; Itamar Assumpo, com 10 ; Alvarenga e Ranchinho com 4 composies. No entanto, Mrio Zan e J.M. Alves marcaram poca com o IV Centenrio, que vendeu na poca mais de cinco milhes de discos , um exagero a So Paulo de 1954. Mas se se for colecionar instituies celebradas, o Corinthians ganha de goleada: de 140 msicas dedicadas a clubes paulistas, 85 so para ele. " td94ja9-02,"Empresa pode dar benefcios e lucrar Gastos com vale-alimentao e vale-transporte podem ser abatidos do Imposto de Renda Da Reportagem Local Dar benefcios aos funcionrios no significa apenas aumentar as despesas de uma empresa. Alm de elevar indiretamente os salrios, os chamados benefcios podem ser usados como uma estratgia para melhorar as condies de trabalho, diminuir a rotatividade da mo-de-obra e aumentar a qualidade dos servios prestados. Vale-transporte, vale-refeio, assistncia mdica, cesta-bsica e prmio produtividade so os benefcios mais comuns entre as pequenas e micro empresas (veja quadro ao lado). A exceo do vale-transporte, no h lei que obrigue a concesso de benefcios. Mas as empresas podem se beneficiar de vantagens fiscais se oferecerem algum subsdio ao funcionrio. o caso do vale-refeio e vale-transporte, que podem ser deduzidos diretamente do Imposto de Renda. Alm disso, os gastos com esses benefcios podem ser lanados na contabilidade da empresa como despesa, o que reduz o lucro e, consequentemente, o imposto a pagar. Esse procedimento pode ser adotado tambm em relao aos convnios mdicos e seguros-sade, caso todos os funcionrios sejam includos no programa. Os dois benefcios, no entanto, no do direito abatimento direto no IR. Antonio Teixeira Bacalhau, consultor da IOB Informaes Objetivas, diz que as empresas de pequeno porte, que optem pagar Imposto de Renda com base no lucro presumido ou estimado, podem deduzir mensalmente 5% dos gastos com alimentao ou 8% da despesa com transporte de empregado no valor do imposto a pagar. Se a empresa mantiver os dois benefcios, s pode abater 8%, afirma. O vale-transporte foi institudo em 1987 e prev que o empregado pague at 6% do seu salrio com conduo. O que exceder esse percentual de responsabilidade da empresa. Vale-refeio, cesta-bsica, refeies em restaurante prprio ou de terceiros so regulamentados pelo PAT (Programa de Alimentao do Trabalhador), do Ministrio do Trabalho, desde 1976. Para aproveitar as dedues, a empresa precisa se inscrever no programa e subsidiar a alimentao dos funcionrios que ganham at cinco salrios mnimos. O trabalhador no deve pagar mais que 20% do gasto total. As refeies menores, como lanches e caf da manh, de acordo com o programa, devem conter o mnimo de 300 calorias e tambm so dedutveis de imposto. Para o almoo ou jantar so necessrias 1.400 calorias. O PAT no determina a quantidade dos itens que compem a cesta-bsica. Em muitos casos, os acordos coletivos entre empregados e empregadores que fazem essa determinao. As microempresas, no entanto, no tm como aproveitar as dedues proporcionadas pelo PAT, vale-transporte ou as despesas com convnios mdicos, j que so isentas do pagamento de Imposto de Renda. (Nelson Rocco)","Empresa pode dar benefcios e lucrar Gastos com vale-alimentao podem ser abatidos do Imposto de Renda Da Reportagem Local Os benefcios aos funcionrios no devem ser vistos pela empresa como custos , mas como forma de obter trabalho mais qualificado e de reduzir a rotatividade de mo-de-obra. Alm disso, alguns benefcios como vale-refeio e vale-transporte podem ser deduzidos diretamente do Imposto de Renda e , ainda, contabilizados como despesa, o que reduz o lucro e , portanto, o imposto a pagar. Este procedimento pode tambm adotado no caso de convnio mdico e seguro-sade , desde que incluam todos os funcionrios. Podem-se enumerar outros benefcios como cesta-bsica e prmio produtividade , que , junto com os outros, melhoram as condies de trabalho e , conseqentemente, redundam em vantagens para a empresa. " po96fe15-a,"BRASLIA - Preocupado com a repercusso negativa da manuteno da aposentadoria privilegiada dos parlamentares, o presidente da Cmara, Lus Eduardo Magalhes (PFL-BA), decidiu ontem que o Instituto de Previdncia dos Congressistas (IPC) ser extinto. A idia acabar com o instituto atravs de lei ordinria a ser votada nos prximos 60 dias. Apesar de ter o apoio de todos os lderes, Lus Eduardo encontra fortes resistncias dos deputados. Acabar com o IPC inaceitvel. Os lderes no esto suficientemente respaldados para decidir a extino imediata do instituto, afirmou o vice-lder do PPB, deputado Grson Peres (PA). Causa espanto tratar como um privilgio o instituto de previdncia parlamentar. Isso existe em todos os pases onde h democracia, disse o deputado Prisco Viana (PPB-BA). uma loucura extinguir o IPC. uma posio radical e precipitada, argumentou o presidente do instituto, deputado Herclito Fortes (PFL-PI). Depois do carnaval, Herclito vai mandar um questionrio para cada um dos 513 deputados com o objetivo de saber sua posio sobre o fim do IPC. Os deputados e os lderes esto com medo da imprensa. frescura achar que o IPC um privilgio, argumentou o deputado Agnaldo Timteo (PPB-RJ). O coro dos descontentes foi engrossado pelo deputado Nlson Gibson (PPB-PE), que comeou a recolher assinaturas para a apresentao de um destaque mantendo o instituto. Vamos ver no painel de votao quem quem. Aqui h estrelas que so vestais e que fazem discursos contra o IPC, mas por baixo do pano trabalham pela manuteno do instituto, disse o relator da reforma da Previdncia, deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM). Pito - A operao para acabar com o instituto comeou ontem cedo pela manh, logo depois que Lus Eduardo leu os jornais. O presidente da Cmara ficou particularmente irritado com as declaraes de Euler Ribeiro. Para manter o IPC em seu substitutivo, Euler alegou que o lder do PMDB, Michel Temer (SP), tinha sofrido presses de vrios parlamentares. Como voc d um entrevista dessas?, cobrou Lus Eduardo do relator. Imediatamente, todos os lderes foram convocados para uma reunio no gabinete do presidente da Cmara. Na avaliao dos lderes e de Lus Eduardo, a polmica em torno do IPC poderia prejudicar a tramitao da reforma da Previdncia. Alm disso, o presidente da Central nica dos Trabalhadores (CUT), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, foi enftico ao defender o fim das aposentadorias privilegiadas dos parlamentares. E a manuteno do instituto poderia ser um pretexto para CUT sair das negociaes da reforma da Previdncia. Sou a favor do fim do IPC. bom que a Cmara d o exemplo. Isso um assunto menor que no pode empatar a reforma, afirmou Lus Eduardo. At ontem noite, trs partidos - PT, PDT e PSDB - fecharam questo a favor da extino do IPC. O PFL e o PMDB, os dois maiores partidos da Cmara, vo consultar suas bancadas para tomar uma posio. O lder do PFL, deputado Inocncio Oliveira (PE), garantiu, no entanto, que o partido tambm ser a favor do fim do IPC. No tem fora humana que salve o instituto. J consultei 30 deputados pefelistas e apenas um protestou, afirmou. Direitos - Cauteloso, Michel Temer alegou que a extino do IPC no depende apenas dos lderes. A aposentadoria um direito individual e, portanto, as bancadas tm que decidir sobre o fim do instituto, disse Temer. A lei propondo o fim do IPC preservar direitos adquiridos. Todos os parlamentares que tiverem oito anos de mandato e 50 anos de idade tero direito aposentadoria ou, se preferirem, recebero devoluo das contribuies pagas. Os outros recebero de volta as contribuies. Estima-se que os deputados que optarem pela devoluo recebero cerca de R$ 40 mil por mandato. Pelos clculos do governo, se todos os parlamentares optarem pela devoluo sero gastos R$ 97 milhes. O IPC tem hoje patrimnio de R$ 150 milhes. Atualmente, o instituto gasta mensalmente R$ 3,8 milhes com o pagamento de 2.757 penses a 793 ex-parlamentares, 506 parentes de ex-parlamentares, 995 ex-funcionrios e 463 parentes de ex-funcionrios. Existem apenas 17 deputados e senadores que recebem o benefcio mximo - R$ 8 mil - pago pelo instituto.","Por causa da repercusso negativa da aposentadoria privilegiada dos parlamentares, o presidente da Cmara , Lus Eduardo Magalhes, decidiu que o IPC ser extinto. E o seria por lei ordinria. Apesar do apoio de todos os lderes , h fortes resistncias. Os argumentos contra a extino do Instituto de Aposentadoria foram vrios : no privilgio, pois existe em todos os pases democrticos; uma posio radical e precipitada; os deputados e os lderes esto com medo da imprensa; h vestais , que parecem contra , mas so favorveis. O presidente da Cmara irritou-se com a entrevista do relator Euler, em que dizia ter Michel Temer sofrido presses de vrios parlamentares. Convocou os lderes para uma reunio e, na avaliao deles, a polmica prejudicaria a tramitao da reforma da Previdncia. Ainda mais que a posio de Vicentinho, presidente da CUT, contrria ao IPC poderia levar a central sindical a sair das negociaes da reforma . Trs partidos - PT, PDT e PSDB-j se definiram contra o Instituto; O PFL e o PMDB vo consultar suas bases. Michel Temer, do PMDB, acha que no cabe s lideranas decidir, mas s bancadas. A lei que prope sua extino prev os direitos adquiridos. " mu94ab17-25,"Ameaa nuclear far EUA favorecer chineses JAMES BAKER Se a crise suscitada pelo programa nuclear norte-coreano no for resolvida, a administrao Clinton no ter opo seno recomendar que o Congresso renove o status comercial de Nao Mais Favorecida (MFN) concedido China quando o prazo expirar, em junho. A razo simples: a cooperao de Pequim crucial se os EUA e seus aliados quiserem frustrar a tentativa da Coria do Norte de renegar as obrigaes que assumiu sob o Tratado de No-Proliferao Nuclear e desobedecer salvaguardas da Agncia Internacional de Energia Atmica (AIEA). A promoo dos direitos humanos na China importante para os princpios dos EUA, mas impedir a nuclearizao da Coria do Norte essencial para nossos interesses vitais. A crise da Coria do Norte torna imperativa a prorrogao do status de MFN. Graas aos liberais no Congresso dos EUA, o governo chins h muito tempo vem sendo alvo de vinculao entre direitos humanos e comrcio. Agora, devido crise norte-coreana, a China est em condies de virar a mesa e usar a vinculao contra os EUA desta vez, entre a renovao do status de MFN e a cooperao chinesa quanto Coria do Norte. possvel que as negociaes mantidas entre EUA e Coria do Norte nos ltimos meses tenham agravado a situao. Ao transmitir aos norte-coreanos a impresso de que estvamos dispostos a aceitar algo menos do que a obedincia integral s salvaguardas da AIEA, demos sinais de fraqueza. Agora, a administrao Clinton est mudando de ttica. Os EUA despacharam msseis Patriot de defesa area Coria do Sul, incrementaram suas foras navais e pediram a retomada do exerccio militar EUA-Coria do Sul, Team Spirit (Esprito de Equipe). Essas medidas j deveriam ter sido tomadas h mais tempo. Os norte-coreanos precisam compreender que um ataque seu Coria do Sul significa guerra com os EUA. As medidas militares tomadas recentemente pela administrao devem reforar esse recado. Dissuaso nuclear A administrao deveria considerar a possibilidade de ir ainda mais longe, informando Pyongyang de que os EUA faro o que for preciso para defender a Coria do Sul. Devemos fortalecer a dissuaso, fazendo a Coria do Norte saber que se ela tentar transformar Seul num mar de fogo ns no excluiramos o recurso ao mesmo instrumento estratgico de dissuaso nuclear que durante quatro dcadas impediu a agresso stalinista Europa Ocidental. Uma atitude militar mais afirmativa dos EUA pode ajudar a deter a agresso. Mas no reverter o caminho resoluto por Pyongyang em direo opo nuclear ambio esta que ameaa a paz na pennsula coreana, a estabilidade na sia Oriental e a viabilidade dos esforos feitos para controlar as armas de destruio macia. Em Teer, Trpoli e Bagd, governos inescrupulosos esto observando para ver como o Ocidente vai resolver sua primeira crise de proliferao nuclear ps-Guerra Fria. possvel que a Coria do Norte abra sua instalaes a uma inspeo completa da AIEA. Mas os EUA no devem contar com isso. Qualquer estratgia para coibir as ambies nucleares de Pyongyang deve incluir a imposio de sanes econmicas internacionais. Aparentemente, a administrao Clinton j optou por uma estratgia desse tipo. Presume-se que seu plano seja comear modestamente, com uma simples condenao, e depois ir levando as resolues do Conselho de Segurana da ONU em direo s sanes se, como se prev, Pyongyang continuar a opor obstculos. Uma coisa certa: a China ser crucial. Em primeiro lugar, a China faz parte do Conselho de Segurana e poder vetar, ou diluir atravs de uma ameaa de veto, quaisquer sanes. Em segundo, a China mantm um relacionamento especial com a Coria do Norte. A China a maior parceira econmica da Coria do Norte, com um volume de comrcio estimado em quase US$ 900 milhes em 1993. A China responde por 75% da energia e dos alimentos importados pela Coria do Norte o que impede a economia norte-coreana, j cambaleante, de desmoronar completamente. Para que sanes funcionem, a ativa participao chinesa indispensvel. A China no tem qualquer interesse em uma Coria do Norte nuclearizada. A perspectiva de uma nova potncia nuclear na sia Oriental preocupante para Pequim o que me foi revelado pelos dirigentes chineses, quando visitei a China como secretrio de Estado, em 1991. E a cooperao chinesa foi de grande ajuda nos esforos para obrigar a Coria do Norte a aceitar as salvaguardas da AIEA, em janeiro de 1992. Mesmo assim, os EUA fariam bem em no pressupor que os pontos de vista norte-americano e chins em relao Coria do Norte so idnticos. Seja qual for a posio de Pequim em relao Coria do Norte, os dirigentes chineses faro o possvel para vincular sua cooperao na questo norte-coreana a concesses dos EUA quanto a direitos humanos. A administrao se mostra otimista em relao perspectiva de cooperao chinesa. Mas difcil imaginar essa cooperao sobrevivendo a uma revogao do status de MFN pelo Congresso dos EUA. A administrao Bush nunca se sentiu vontade para vincular o status de MFN com os direitos humanos. Acreditvamos que uma vinculao demasiado estreita no apenas solaparia os interesses comerciais americanos num dos mercados maiores e de mais rpido crescimento do mundo, como tambm, perversamente, atrasaria a implementao das reformas de livre mercado na China. Acreditvamos que no longo prazo a reforma econmica levaria liberalizao poltica, a maneira mais garantida de assegurar direitos humanos para todos os chineses. A poltica norte-americana era evitar tanto o isolamento direto quanto o aval exagerado da liderana chinesa. Durante as eleies de 1992, essa posio tornou-se alvo de muito desprezo por parte de deputados democratas e de vrios candidatos incluindo Bill Clinton. Opo desagradvel Apesar da retrica de campanha, a administrao vem emitindo sinais pouco claros desde que assumiu o governo. No vero passado, apoiou a renovao do status de MFN para a China, apesar das evidncias de que os abusos aos direitos humanos continuavam. Recentemente, altos funcionrios dos Departamentos do Tesouro e do Comrcio recomendaram que a nfase sobre direitos humanos fosse diminuda, em prol dos interesses comerciais norte-americanos. Hoje a administrao se confronta com uma realidade dura: Washington precisa da China para implementar sua poltica em relao Coria do Norte e Pequim sabe disso. A prorrogao do status de MFN ser, com quase certeza, parte do preo a ser pago para assegurar a cooperao chinesa em sanes contra Pyongyang. pouco provvel que tudo isso assuma a forma grosseira de um toma-l-d-c. Se os dirigentes chineses forem sbios, oferecero concesses superficiais a soltura de um ou dois dissidentes, o fim de uma restrio mal-vista, mesmo que pouco importante antes de os funcionrios da administrao serem obrigados a ir ao Congresso para enfrentar os defensores radicais dos direitos humanos em seu prprio partido. No ser uma experincia agradvel. A administrao ver conservadores comentando o quanto sua poltica em relao China se aproximou daquela praticada pela administrao Bush. provvel que setores liberais citem a retrica da prpria administrao Clinton como evidncia de hipocrisia. Mas, por mais desagradvel que seja para a administrao defender o status de MFN, ela no ter opo. Os argumentos continuam sendo poderosos: milhares de empregos norte-americanos esto em jogo. No h evidncias de que negar a renovao ter qualquer efeito alm de causar prejuzos economia chinesa e a seus reformadores e levar Pequim a opor-se ainda mais democratizao. A administrao Clinton, confrontada com uma daquelas opes desagradveis entre realidade e retrica, ser obrigada a renovar o status de MFN para a China. JAMES BAKER foi secretrio de Estado dos EUA no governo George Bush. Copyright Los Angeles Times Syndicate. Traduo de Clara Allain","Droga ameaa estabilidade do Quirguisto Pas considerado Sua da sia Central agora teme se tornar a Colmbia da regio, diz presidente Askar Akaiev Todos os dias rezamos a Al para que na China haja paz, tranqilidade e prosperidade Temos uma moeda muito estvel. Nossa inflao em setembro foi de apenas 0,2% JAIME SPITZCOVSKY Batizada de Sua da sia Central por causa da estabilidade e paisagens, o Guirguisto est na iminncia de trocar para Colmbia da sia Central. , por causa produo e trfico de droga nos dizeres de seu presidente, Askar Akaiev. Alm da agitao da droga, o mpeto desenvolvimentista da China assusta Akaiev, que reza com freqncia para no haver transtornos no pas vizinho. Seguem trechos da entrevista: Folha- As ex-repblicas soviticas olham para o Ocidente em busca de modelos econmicos, idias e assessores. Por que no olham para a China , um modelo bem mais prximo? Akaiev- Estamos voltados para o Ocidente, mas tambm nos inspiramos na China, por exemplo,para acelerar a reforma no campo. Convidamos tcnicos chineses para ajudar a incrementar a produo de hortalia. Folha- Em quais pases ocidentais o Quirguisto est se inspirando? Akaiev- Fundamentalmente nos pases da Europa Oriental, como Polnia, Repblica Theca, Bulgria. Mas , apesar da influncia , estamos elaborando nosso prprio modelo, sem copiar. Folha- Mas o dedo do FMI est muito presente no seu modelo. Akaiev- De fato, mas antes de o FMI e o Banco Mundial abrirem as portas , j estvamos desenvolvendo um programa econmico. A nossa moeda muito estvel. Em setembro, a inflao bateu o recorde de 0,2% e pretendemos chegar em 95 com 30 ou 40% ao ano. Folha- A oposio o acusa de tendncias ditatoriais, ao desfazer o antigo Parlamento e fechar um jornal. Akaiev- Para haver democracia , so necessrios alguns fatores: liberdade de imprensa, forte poder judicirio, forte poder para autoridades e poderes locais, e oposio forte. O problema que nossa oposio ainda conserva o vezo da antiga Unio Sovitica. Eles dividem todos em democratas e partocratas. Eu prefiro dividir as pessoas entre as que apiam as reformas e os que no as apiam. Folha- O que o senhor tem a dizer da possvel transio do seu pas , nomeado de Sua da sia Central para a Colmbia da sia Central? Akiev- Isso nos preocupa certamente. At os anos 70, 90% do pio da ex-URSS vinha daqui. Com a independncia, houve quem quisesse incrementar a produo por causa do timo lucro. Fui contra. O que acontece que o pio vem do Afeganisto e passa por aqui. Infelizmente, algumas autoridades locais so corruptas , e o pessoal das foras de segurana contribuem para isso. Temos tomado providncias. Por exemplo, h um programa de combate ao trfico feito em conjunto com a ONU. Folha- No Brasil , as Foras Armadas entraram nesse confronto. O que o senhor acha de fazer o mesmo a? Akiev- Aceito uma contribuio , mas no um empenho total das Foras Armadas. Folha- Quando da independncia, em 1991, o Ocidente no via com bons olhos a possibilidade de expandir o fundamentalismo islmico nos pases muulmanos da ex-URSS. Por que isso no aconteceu , principalmente no seu pas? Akiev- A crena religiosa aqui sempre foi um elemento cultural, nunca manifestao de fanatismo. Basta ver, por exemplo, que no construmos mesquitas. Temos alguns problemas na regio de fergana, onde vivem os tadjiques e uzbeques, tambm muulmanos mas muito mais militantes. A sua influncia na populao j nos preocupa. Folha- E qual a preocupao maior, o fundamentalismo islmico ou a instabilidade da China? Akaiev- A instabilidade da China nos amedronta mais. " in96fe13-a,"ROMA - O rigor da polcia do aeroporto internacional de Roma no impediu que Silvana Saturnina Santos - uma alagoana esperta - chegasse a Brescia, perto de Milo, no norte da Itlia, para apresentar o pequeno Lucas, de oito meses, ao pai italiano de dois de seus filhos. Depois de permanecer retida e isolada por quase 30 horas numa sala do posto policial do Leonardo da Vinci, aeroporto romano de Fiumicino, Silvana, 29 anos, artes e empregada num escritrio de advocacia em Caraguatatuba, So Paulo, acompanhada de suas trs crianas - Slvia, 11 anos, filha de um pai brasileiro; Brbara, 5, e Lucas, 8 meses, filhos de Davide Parziale, que conheceu h 6 anos quando o italiano trabalhava como pintor na cidade paulista, foi finalmente autorizada a terminar sua aventura em Brescia, como hspede da famlia Parziale. As 30 horas mais longas e angustiantes da vida de Silvana - como ela qualificou sua deteno no aeroporto de Roma - comearam s 7 horas de domingo, quando se apresentou, com os trs filhos, ao controle de passaportes da polcia italiana. A presena de uma jovem mulata, com crianas em idades de adoo, foi suficiente para tornar os policiais romanos suspeitosos, exigentes e intratveis. Esquecendo que a Itlia no exige vistos de entrada nos passaportes dos cidados brasileiros, sem levar em conta o fato de que Silvana possua quatro passagens com data marcada (o prximo 8 maio) de volta ao Brasil e uma documentao que confirmava a paternidade italiana de Brbara e Lucas, os policiais insistiam numa nica exigncia: que a brasileira exibisse US$ 1.000, quantia que consideravam indispensvel para as despesas de uma breve estadia na Itlia. Em vo, Silvana tentou explicar, em portugus, que viajava pela primeira vez Itlia a convite do pai e dos avs italianos de Brbara e Lucas, que seria hospedada na casa deles de Brescia. Nenhum dos policiais quis comunicar-se com os nmeros de telefones da famlia Parziale. O mais nervoso deles no queria perder tempo em conversas, gritando para que seus colegas expulsassem logo questa puttana (esta puta) da Itlia, Silvana contou mais tarde. A alagoana comeou a vencer sua guerra contra a intolerncia da polcia italiana recorrendo a uma espanhola que conhecera no vo da Alitlia de So Paulo a Roma. A ela, Silvana pediu que informasse aos Parziale de Brescia do drama que estava vivendo no aeroporto romano. A resposta a esse pedido de socorro chegou com um conselho de Davide, o italiano de 30 anos que a alagoana conhecera em Macei h seis anos. Diga que est se sentindo mal, faa-se internar num hospital. Silvana seguiu o conselho, mas no hospital, depois de vrios exames, os mdicos disseram que ela no tinha nada, era mais saudvel do que um peixe. De volta ao aeroporto, Silvana soube que seria reembarcada para So Paulo no vo noturno da Alitlia. Com a desculpa de comprar gua e biscoitos para os filhos, obteve autorizao para sair do isolamento - e esconder-se da polcia, por mais de trs horas, dentro das lojas do aeroporto. De onde ouviu tambm os diversos avisos lanados pelos alto-falantes de que o vo da Alitlia no podia mais retardar sua decolagem. Sem qualquer queixa contra o pessoal da companhia area, ontem noite, falando pelo telefone da casa dos pais de Davide Parziale em Brescia, Silvana no queria esquecer os momentos de discriminao, humilhao e de toda sorte de descortesias que viveu no aeroporto at a manh de ontem,quando seu caso se tornou notcia da primeira pgina do Corriere della Sera e o consulado geral do Brasil em Roma procurou saber do inspetor Pronabi, da polcia do aeroporto Leonardo da Vinci, que tratamento estava sendo dispensado cidad brasileira Silvana Saturnino Santos, me de duas crianas com direito cidadania italiana. Dois episdios que mudaram da gua para o vinho o tratamento dispensado moa morena das Alagoas, que ontem tarde pde ser recebida e abraada calorosamente por Davide, sua me e sua irm no aeroporto Linate de Milo, de onde seguiram para Brescia.","Silvana Saturnina Santos, alagoana , viajou para a Itlia a convite do pai e avs de dois de seus trs filhos--- o mais novo, de oito meses, ainda no apresentado ao pai. No aeroporto de Roma, foi detida no posto policial , apesar de todos os documentos em ordem, e tratada com descaso e ofensivamente. Os policiais no quiseram se comunicar com a famlia do marido, apesar de ela lhes ter dado o telefone. Queriam que ela comprovasse que tinha US$ 1.000 para uma pequena permanncia no pas. Caso contrrio , tinha que retornar a So Paulo. Sem poder se ausentar do aeroporto, recorreu a uma espanhola com quem viajou de So Paulo a Roma. Esta telefonou para a famlia de Davide, para cuja casa iria. Por conselho dele, fingiu estar passando mal, para ser internada no hospital. Infelizmente, os mdicos constataram que ela no tinha absolutamente nada. A estratgia no deu certo. Retornou ao aeroporto e tentou a ltima cartada: com a desculpa de comprar gua e biscoito para os filhos, obteve permisso para sair do isolamento. Conseguiu esconder-se da polcia por mais de trs horas, ali mesmo nas lojas do aeroporto. Com o truque , chegou ao destino. Sem queixas contra a companhia area, confessou-se humilhada pela polcia italiana. A notcia chegou primeira pgina do Corriere della Sera , e o consulado geral do Brasil em Roma cobrou do inspetor policial esclarecimentos sobre a arbitrariedade . Aps isso, o tratamento foi outro. " td94jl31-02,"Falta de capital emperra novas empresas Pesquisa Datafolha revela que paulistanos no recorrem a emprstimos para viabilizar seu prprio negcio Da Redao A falta de capital a maior barreira para o surgimento de novos empreendedores. o que revela pesquisa Datafolha feita na cidade de So Paulo com 1.080 pessoas. Segundo o estudo, 26% dos entrevistados nunca pensaram em abrir um negcio prprio. Desse total, 45% apontam como motivo a falta de condies financeiras. Entre os entrevistados que demonstraram real interesse em montar uma empresa, o capital inicial tambm aparece como a principal dificuldade para 68%. Segundo a pesquisa, 49% dos paulistanos gostariam de montar um negcio, mas apenas 50% tm planos concretos de efetiv-los 40% desses querem estar com as portas abertas no prazo de at um ano. Para os outros 50% trata-se mais de um sonho. Entre os que efetivamente planejam virar empreendedores, a maioria (68%) pretende utilizar dinheiro guardado ou que vai guardar. A venda de bens tambm aparece como alternativa vivel. Um total de 10% esperam ter ajuda da famlia e 10% contam com indenizaes como Fundo de Garantia por Tempo de Servio. Apenas 9% afirmam que vo recorrer a emprstimos para comear uma empresa. Idade Jovens com idade entre 16 e 25 anos puxam a fila dos interessados em se tornarem patres (55%). Quanto mais a idade avana, diminui o grau de interesse: 41% entre as pessoas com 41 anos ou mais e 53% e entre 26 e 40 anos. O mesmo ocorre com a relao diminuio da escolaridade e da renda mensal. Os homens demonstraram mais disposio concreta de se tornarem empreendedores que as mulheres (58% contra 44%). Aumentar a renda e no ter mais patro so os principais motivos apontados pelos entrevistados para apostar nesse tipo de projeto. Garantia de trabalho e a possibilidade de no ter horrio tambm foram razes mencionadas. SociedadeA tradicional sociedade com parentes est em baixa. 51% das pessoas com objetivos de montar uma empresa no pretendem ter scios. Entre os que pretendem se associar, 14% preferem amigos e conhecidos e 13%, cnjuges. Apenas 9% apostam nos irmos como parceiros ideais. O comrcio aparece como a atividade preferida para 56% dos paulistanos. A venda de roupas e de alimentos lideram o ranking. O setor de prestao de servios fica com 23%. Montar uma indstria vontade de apenas 6% dos paulistanos entrevistados pelo Datafolha. A pesquisa do Datafolha um levantamento estatstico por amostragem estratificada, com sorteio aleatrio, tendo como universo a populao adulta da cidade de So Paulo. O levantamento foi realizado no dia 19 de julho de 1994 com 1080 pessoas, com idade a partir de 16 anos. A margem de erro de 3 pontos percentuais, dentro de um intervalo de confiana de 95%. A direo do Datafolha exercida pelos socilogos Antnio Manuel Teixeira Mendes e Gustavo Venturi, tendo como assistentes Mauro Francisco Paulini, Emilia de Franco e a estatstica Renata Nunes Cesar.","Falta de capital emperra novas empresas Pesquisa Datafolha revela que paulistanos no recorrem a emprstimos para viabilizar seu prprio negcio. Da Redao Segundo pesquisa da Datafolha feita na cidade de So Paulo, a falta de capital o maior empecilho para novos empreendedores. Dos 26% dos entrevistados que nunca pensaram em negcio prprio, 45% alegaram falta de condies financeiras. Dentre os que efetivamente querem seu prprio negcio , 68% pretendem utilizar dinheiro poupado ou a ser guardado. A venda de algum bem aparece alternativa vivel. 10% esperam ajuda da famlia, outros 10% se fiam em indenizaes , e somente 9% se arriscam a fazer emprstimos. Jovens entre 16 e 25 anos so os que desejam ser empresrios (55%). Com o avano da idade, o interesse diminui. O mesmo se d com a diminuio da escolaridade e da renda. Por 58% contra 44% , os homens superam as mulheres no desejo de autonomia empresarial. Mais renda e no ter patro so os motivos alegados. Tambm houve mudana quanto a firmar sociedade: 51% no pretendem ter scios. E entre os que pretendem ter, 14% optam por amigos e conhecidos e 13%, por cnjuges. Apenas 9% escolheriam sociedade com irmos. O comrcio a atividade preferida entre os entrevistados(56%); prestao de servio fica com 23% ; montar um indstria , com apenas 6%. " di94se19-16,"No vale a pena provocar o caos para depois reconstruir A reduo tarifria pode ser catastrfica se implementada imperialmente OSIRIS LOPES FILHO Especial para a Folha O pas tem sido objeto (talvez seja mais apropriado dizer paciente tolerante) de polticas inspiradas por formulaes nobres, dotadas de boa-f, concebidas com os melhores propsitos, que obtm adeso da populao e terminam por no alcanar os resultados pretendidos, ou, o que pior, apresentam consequncias perversas, em contradio com seu objetivo generoso. Que cupim poderoso ou sava tenaz corri estas polticas altrustas? A constatao inicial a ser feita a de que a nobreza ou generosidade de sua concepo no garantia de xito. O planejar e o executar envolvem uma rdua e penosa tarefa de cuidar do detalhe, desprezada, regra geral, por nossos governantes e administradores. Cuida-se mais do grandioso, do espetacular, do que dos detalhes. Mas so estes que, superpostos, possibilitam a concluso feliz do projeto ou da obra. Muitas vezes o governante formulador da poltica se entusiasma em to elevado grau com a sua concepo, envolve-se em tal intensidade com o processo, que abandona, em transe, a racionalidade e adquire a dimenso de figura redentora e messinica. J no to somente o lder, o chefe, o planejador, mas pessoas iluminada por sapincia absoluta, sem vacilaes, intolerante s crticas e s contribuies que no sejam aplausos calorosos, que numa recorrncia lusitana de sebastianismo considerar-se o salvador. s vezes essas polticas bem-intencionadas provocam piores danos, do que aquelas formuladas com tendenciosidade original, pois estas ltimas, tendo vcios evidentes de concepo ou de finalidade, podem ser denunciadas e corrigidas, e, por consequncia, seu processo e rumo so suscetveis de aperfeioamento. As polticas bem-intencionadas, justamente por estarem impregnadas de generosidade de objetivos e convico de acerto, so mais difceis de serem corrigidas, at por que os projetos caracterizados por boa inteno so absorvidas com facilidade pela sociedade, que os apoia e legitima. Nestes dias, as autoridades do pas esto divulgando, atravs da imprensa, uma nova poltica tarifria para as importaes, dotada aparentemente de inspirao generosa, mas que tem srios riscos de produzir efeitos catastrficos, se implantada imperialmente, com a urgncia e amplitude anunciadas. Repete-se uma auto-suficincia normativa, tpica da superficialidade com que problemas complexos tem sido enfrentados no Pas. D-se valor absoluto alterao da lei, abstraindo-se que ela se dirije uma realidade. Pratica-se um reducionismo simplrio e monocular. Est-se aprofundando a liberao das importaes iniciada no perodo Collor, em contraposio exarcebao do protecionismo aduaneiro ocorrida na dcada de 70, quando se estabeleceram alquotas do imposto de importao elevadssimas, acima de 100%, em alguns casos em torno de 200%, para os produtos que poca foram chamados de suprfluos. Pretendia-se tornar proibitiva a importao de produtos considerados no-essenciais, para aliviar a crise cambial decorrente da elevao dos preos do petrleo. Ocorreu que com a superproteo tarifria os investimentos foram direcionados para a produo no pas desses produtos suprfluos, com toda a gama de bens eletroeletrnicos, aparelhos de som, de vdeo, televisores, invertendo-se a prioridade de investimentos baseada nos interesses e nas necessidades nacionais. Proteo elevada, produo cara, preos finais exorbitantes acarretaram como negcio prspero o contrabando, dada a vasta margem de preferncia que os produtos estrangeiros contrabandeados passaram a ter em matria de preos. Agora, para atender ao abastecimento da populao, forar um rebaixamento dos preos da produo nacional, conter a alta de preos, frear os ganhos excessivos dos fabricantes, acelerar a concorrncia e melhorar a produtividade nacional, tudo em nome da proteo do consumidor nacional e da salvaguarda do plano de estabilizao econmica e de fortalecimento da moeda, iniciou-se um processo temerrio e ambicioso de reduo tarifria das mercadorias estrangeiras importadas para o pas. Alguns pontos no tem sido avaliados adequadamente. A alquota do imposto de importao, como o prprio nome indica, representa uma parte da base de clculo. A base de clculo do imposto de importao o preo de transao da mercadoria. Se este preo subfaturado, prtica significativa e atual, a tarifa aduaneira perde totalmente a sua funo de proteger a indstria nacional. A determinao dos preos reais de importao de produtos estrangeiros , hoje, tarefa impossvel de ser realizada pelos rgos governamentais, de uma forma consistente. A alfndega no Brasil rgo integrante da Secretaria da Receita Federal e, desde a dcada de 50, ficou alienada do controle dos preos de importao. Tal funo foi atribuida CEXIM, e, posteriormente sua sucessora, a CACEX, e, finalmente, SECEX, rgo integrante da estrutura do Ministrio da Indstria, Comrcio e Turismo. Um sistema de controle de preos que era praticado valentemente pela CACEX, ainda que com tcnicas superadas, esfacelou-se administrativamente quando transferido para a Secretaria de Comrcio Exterior de um ministrio recm recriado. De que adiantam intenes eivadas de boa vontade, se a estruturao administrativa quase que inexistente e inadequada, e se so utilizadas tcnicas da idade da pedra em plena era espacial? Em suma, a fixao pelo governo dos preos de importao dos produtos estrangeiros um trabalho de difcil execuo no momento. Medida provisria editada recentemente reorganizou parcialmente a Secretaria da Receita Federal dotando-a de uma Coordenao de Inteligncia Fiscal, para investigao dos ilcitos tributrios, entre os quais o contrabando, impossveis de serem provados atravs da auditoria tradicional. Nessa linha, criou-se tambm a Coordenao de Valorao Aduaneira, com a finalidade de determinar os preos das mercadorias importadas, principalmente para identificar as prticas de subfaturamento e de superfaturamento nas atividades de comrcio exterior, bem como, os preos de transferncia realizados com frequncia por empresas multinacionais. Tudo isso, ainda se encontra em fase inicial. Muito trabalho deve ser feito para materializar esses rgos recm-criados. O que tem sido constatado que as fraudes na importao se avolumaram, principalmente com a utilizao de preos vil, estando o governo desaparelhado material e institucionalmente para reprimir, com consistncia, essas operaes danosas economia nacional e s finanas governamentais. Para agravar a situao, a base de clculo do imposto de importao, fixada no Cdigo de Valor do GATT, adotada pela legislao brasileira, agride aos interesses dos pases terceiro-mundistas, como o Brasil. O valor da transao, declarado pelo importador, pela regra adotadas de difcil descaracterizao. Vale dizer, mesmo tendo a administrao governamental o preo real da importao, para descaracterizar juridicamente o preo declarado pelo importador, h toda uma hierarquia de procedimentos que tornam difcil a exequibilidade da ao controladora do governo. No aceito o preo da transao, passa-se ao da mercadoria equivalente, que, inexistente, provoca a utilizao da mercadoria similar, e, se no identificado esse, implica a adoo de um sistema de reconstruo do preo da mercadoria no pas exportador, evidentemente quase que impossvel de ser realizado pela administrao alfandegria brasileira, pois agora que se est tentando solidificar sua atuao no territrio nacional em tal matria. Uma reforma tarifria deve se inspirar no princpio da publicidade, inscrito no artigo 37 da Constituio Federal. Deve-se discut-la aberta e democraticamente com os setores produtivos nacionais, com os sindicatos operrios, produto por produto, sem auto-suficincia arrogante e totalitria, em audincias pblicas, com a presena de todos os setores interessados, desde os mais poderosos ao pequeno produtor. A proteo da tarifa aduaneira essencial manuteno e crescimento do nvel de emprego no Pas e estabilidade do sistema produtivo nacional. A fixao das alquotas do imposto de importao demanda necessariamente uma calibragem, tendo-se em conta a preservao da economia nacional, o seu nvel de emprego e o bem-estar do consumidor nacional. No vale a pena inspirar-se na criao do mundo, em matria tributria, criando-se o caos, para ento comear a reconstruo. um caminho demasiado custoso, que, seguramente ser penoso trilhar. OSIRIS LOPES FILHO, 55, professor de Direito Tributrio da Universidade de Braslia e ex-secretrio da Receita.","No vale a pena provocar o caos para depois reconstruir A reduo tarifria pode ser catastrfica se implementada imperialmente OSIRIS LOPES FILHO Especial para a Folha Muitas de nossas polticas ,inspiradas nos melhores propsitos , bem recebidas pelo povo acabam no alcanando os objetivos declarados ou apresentando resultados avessos a eles. A nobreza ou generosidade da sua concepo no garantia de sucesso. Para planejar e executar , necessria a penosa tarefa de cuidar de detalhes, em geral desprezada por governantes e administradores. s vezes, polticas bem-intencionadas acabam sendo mais danosas do que as envolvidas com tendenciosidades, pois estas podem ser mais facilmente ser detectadas a tempo e corrigidas. As primeiras, at por serem bem aceitas pelo povo, so difceis de corrigir. No momento, as autoridades do pas esto divulgando uma nova tarifa para importaes, de inspirao generosa, mas que oferece riscos. Constitui-se num aprofundamento da liberao iniciada por Collor, em contraposio ao exagero protecionista da poca da revoluo militar. Naquele perodo, a sobretaxao tarifria incrementou a produo nacional de certos produtos , antes importados. S que a proteo elevada, produo cara e preos finais exorbitantes incentivaram o contrabando. Agora, para atender o abastecimento interno , reduzir os preos da nossa produo, frear lucros abusivos , acelerar a concorrncia e melhorar nosso produtosempre com o fito de proteger o consumidor e dar segurana ao plano de estabilizao--, tomou-se uma medida temerria de abaixar as tarifas de mercadorias importadas. A base de clculo do imposto o valor da mercadoria . Se ele subfaturado , hoje prtica comum, a reduo tarifria perde sua funo de proteger a indstria nacional. As boas intenes so incuas quando a estrutura administrativa est muito defasada na sua competncia de fiscalizar a prtica de importao. O valor da transao, declarado pelo importador, dificilmente pode ser verificado a ponto de ter suporte jurdico. O processo envolve uma hierarquia de procedimentos que dificulta o controle do governo. Uma reforma tarifria deve se inspirar no princpio da publicidade, conforme o artigo 37 da Constituio Federal. A proteo que ela exerce fundamental para a manuteno e crescimento do nvel de emprego e estabilidade do sistema produtivo. A fixao das alquotas exige uma calibragem , tendo em vista a preservao da nossa economia, do nvel de emprego e do bem-estar do consumidor. " mu94de27-a,"Quatro terroristas morreram e 25 pessoas ficaram feridas na operao policial que ps fim a 54 horas de sequestro de um avio da Air France, no aeroporto de Marselha (Frana), em Marignane. Um grupo de elite da polcia invadiu o aparelho no fim da tarde de ontem e matou todos os sequestradores. Estes haviam assassinado trs refns no aeroporto de Argel, onde o sequestro comeara. O Grupo Islmico Armado (GIA), formado por radicais muulmanos que combatem o governo argelino e pregam um regime fundamentalista semelhante ao do Ir, reivindicou a autoria. Estavam no Airbus, no instante do desfecho, cerca de 170 pessoas. J haviam sido soltos 65 refns. Treze passageiros, trs tripulantes e nove policiais foram feridos no resgate, segundo o Ministrio do Interior francs, que considerou a operao um sucesso. O ministro das Relaes Exteriores da Frana, Alain Jupp, disse que a violncia civil na Arglia vai durar muito tempo e que ataques contra interesses franceses ainda vo ocorrer. Um policial perdeu uma das mos. Dois dos passageiros feridos teriam sido baleados. O GIA, que combate o governo argelino, afirmou que o sequestro visava acabar com o apoio incondicional, poltico, militar e econmico da Frana a Argel. O GIGN (Grupo de Interveno da Polcia Nacional), especializado em situaes do gnero, iniciou o resgate s 17h15 (14h15 em Braslia), pouco antes do anoitecer. Membros do GIGN entraram por vrias portas do avio. Ouviram-se tiros e exploses por alguns minutos. Parte dos passageiros pde escapar do aparelho pelos tobogs de emergncia. Um membro da tripulao saltou da cabine do piloto e quebrou o brao na queda. Os sequestradores tinham dinamite e queriam explodir o avio, disse um refm, o cantor Ferhat Mehenni, 51, inimigo dos radicais muulmanos. Era impossvel deixar o avio decolar, explicou Hubert Blanc, chefe da polcia de Marselha. O sequestro O avio ia decolar de Argel s 11h15 de sbado (8h15 em Braslia), com destino a Paris, quando foi tomado por quatro homens vestidos como o pessoal do aeroporto. Eles comearam a controlar os passaportes dos passageiros, que no desconfiavam de nada. Em seguida, levaram porta do avio um policial argelino e um diplomata vietnamita, mortos com uma bala na cabea cada um. Os sequestradores obrigaram as mulheres a cobrir o rosto maneira islmica e, por rdio, revelaram suas reivindicaes. A principal delas era a libertao de dois ex-lderes da FIS (Frente Islmica de Salvao), Abassi Madani e Ali Benhadj, em priso domiciliar. Os terroristas tambm queriam ir para a Frana. Em grupos pequenos, foram libertados 63 passageiros. O governo argelino assegurou Frana cerca de 40 passageiros eram franceses que conseguiria resolver o problema. Mas, noite, um refm francs foi assassinado: Yannick Beugnet, cozinheiro da embaixada francesa. O corpo foi jogado do avio. O crime irritou o governo francs, que decidiu resolver o problema por conta prpria e pressionou Argel a permitir a decolagem do avio. Ele chegou a Marselha s 3h33 de ontem (0h33 em Braslia). tarde, dois refns foram soltos. Os terroristas pediram o reabastecimento do avio, provavelmente para ir a Paris, ao Sudo ou ao Ir. Eles ameaaram matar mais um refm, caso essa reivindicao no fosse atendida. s 17h, ouviram-se tiros. Aparentemente, os sequestradores dispararam na direo da torre de controle do aeroporto, onde haveria atiradores de elite. A operao de resgate comeou logo em seguida. Durante toda a fase de negociaes no aeroporto de Marselha, o resgate pelos policiais do GIGN vinha sendo planejado. Segundo as autoridades francesas, no entanto, o plano era intervir apenas caso houvesse risco de vida iminente para um dos refns.","O GIA ( Grupo Islmico Armado), que combate o governo argelino, seqestrou em Argel um avio da Air France, com destino a Paris. O grupo luta , entre outras coisas, pelo fim do apoio incondicional dos franceses ao governo da Arglia. O principal objetivo do seqestro era a libertao de dois ex-lderes da FIS ( Frente Islmica de Salvao) . Os seqestradores, logo de incio, mataram um policial argelino e um diplomata vietnamita. Durante as demoradas negociaes , foram libertados 63 passageiros; mas o impasse provocou o assassinato de mais um , cozinheiro da embaixada francesa. Foi a gota d gua para que o governo francs pressionasse Argel a liberar o vo. Em Marselha , os terroristas queriam que o governo francs reabastecesse o avio . Enquanto negociavam, sob ameaas, o GIGN (Grupo de Interveno da Polcia Nacional) , especializado em misses do gnero, iniciou o resgate. Muitos passageiros escaparam pelos tobogs de emergncia, mas houve vrios feridos, tanto de passageiros quanto de policiais e de tripulantes. Com esse saldo e quatro terroristas mortos , o Ministrio do Interior francs considerou um sucesso a operao. " ce94jl10-a,"O capitalismo tem proporcionado oportunidades para pessoas que desejam entrar, de alguma forma, no mundo dos negcios. Cada vez mais jovens, executivos, profissionais liberais e trabalhadores se transformam em empreendedores movidos por seus sonhos e pelas oportunidades oferecidas pelo mercado. Quanto mais aberto o mercado, mais oportunidades para que pessoas se arrisquem no mundo dos negcios. O livre mercado a fonte natural de novas oportunidades para empreendedores. E, ao contrrio do que alguns apregoam, cada vez mais existiro novas e notveis alternativas de empreendimento, em funo da entrada de novos atores no palco dos negcios. Como o mercado possui suas prprias leis e se move com grande velocidade preciso estar alerta. O mercado bondoso e recompensa os empreendedores que, atravs de sua inteligncia e trabalho, demonstrem competncia para competir. Por outro lado, o mercado enrgico e no hesita em penalizar aqueles que se estabeleceram, mas no adquiriram ou trouxeram novas formas para se autoproteger da concorrncia. Estes, que so a maioria, acabaram rotulados pelo fracasso. Com a velocidade do mercado, inmeros produtos, servios e negcios simplesmente desapareceram pela incapacidade de percepo ou adaptao s novas expectativas de consumo. Por outro lado, surgem novas e fantsticas alternativas para produtos, servios ou negcios que pela mudana de hbitos de nossa sociedade, proporcionam um terreno frtil para novos empreendimentos. No basta apenas sonhar para que um novo empreendedor obtenha sucesso. So inmeras as variveis para se garantir o sucesso de um empreendimento: capital, a nova idia, o ponto, a experincia anterior, o nicho, o grau de inovao, o nvel de diferenciao, a forma de atendimento, o horrio de funcionamento, o timing para entrada no negcio, o volume de trabalho despendido, a equipe e muito mais. Sugiro a anlise de um s item. Em j havendo o sonho, a experincia a principal pea para o acerto ou, pelo menos, para minimizar o insucesso. Muitas vezes, pela precariedade do sonho, que beira mais fantasia, e pela ansiedade do novo empreendedor -somado autoconfiana-, arrisca-se um novo negcio, sem qualquer experincia anterior. Movido, geralmente, pela errnea anlise da fruta do vizinho. Se fosse possvel, o sonho teria que acontecer com os ps no cho. A partir da, entra-se no processo de dominar a ansiedade, que, na maioria das vezes, determina o insucesso do empreendimento pela incapacidade de uma anlise mais detida sobre o assunto. A autoconfiana, que um fator altamente positivo, aliada ansiedade pode provocar um desastre. Pode-se evitar tudo isso com a experincia, preferivelmente, na atividade a ser exercida. Experincia fundamental para minimizar desacertos. S existe uma coisa pior do que a falta de experincia: um empreendedor desprovido de conhecimento anterior bsico para o novo negcio, mas com capital. Inexperincia, somada a capital, no garantia de xito. Se no for possvel contar com a experincia, o convvio indireto com a nova atividade e um conhecimento mnimo do mundo dos negcios podero proporcionar bons passos rumo ao sucesso. O que deve ser lembrado que cada caso um caso e no existe receita de sucesso. O que existe, sim, so fatores que podem evitar o fracasso. ","O capitalismo , nos dias de hoje, oferece inmeras oportunidades para quem sonha entrar no mundo dos negcios , tem competncia e soma experincia no ramo. A mobilidade dos hbitos sociais est sempre oferecendo novas alternativas para os iniciantes. necessrio, porm, que no sejam ingnuos, que se informem o quanto podem, que se dediquem em perodo integral . preciso vigiar cada lado traioeiro dos negcios, pois o mercado no perdoa. Quem se arrisca nos negcios deve estar atento a estas condies para o sucesso: capital, a nova idia, o ponto , a experincia anterior, o nicho, o grau de inovao, o nvel de diferenciao, a forma de atendimento, o horrio de funcionamento, o timing para entrada no negcio, o volume de trabalho despendido , a equipe. Mesmo assim, a garantia no total . At o que qualidade pode servir de tropeo. Por exemplo, a autoconfiana, fator altamente positivo, se contaminada pela ansiedade, pode provocar o fracasso. " td94ab03-01,"Despreparo 'derruba' empreendedor novato Passagem de assalariado para empresrio exige planejamento e persistncia; retorno demora, em mdia, um ano JOS VICENTE BERNARDO Editor-interino do Tudo A realizao profissional, financeira e pessoal em outras palavras, a felicidade de quem deixa a condio de assalariado para tentar a sorte em um negcio prprio est intimamente ligada maneira como feita a preparao para essa mudana. O domnio de aspectos psicolgicos como a conscincia de uma possvel perda de status, materiais estar preparado para investir durante pelo menos um ano e estratgicos pesquisar o mercado e avaliar sua afinidade com ele o principal fator de sucesso do novo empreendedor. possvel dividir os empreendedores em duas categorias, segundo Silvio Passarelli, 43, diretor da Faculdade de Economia da Fundao Armando lvares Penteado (Faap) e consultor de planejamento e marketing do Sebrae (Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas). Uma delas engloba profissionais entre 40 e 45 anos de idade que tiveram sucesso em suas carreiras como assalariados. Eles acumularam capital e conhecimento e dominam o funcionamento do negcio e do mercado. Mas sentem-se rfos com a perda da estrutura e da segurana que o velho emprego garantia, diz Passarelli. Eles sofrem um pnico inicial dois ou trs meses depois de inaugurar a empresa, pois trabalham mais, ganham menos e tm que se alternar em funes de diretor e de office boy, diz o consultor. Por outro lado, suas chances de crescimento no tm limites. No ficam presos a promoes, planos de carreira ou demisses de colegas para subir de posto. Quem vai julgar sua competncia o mercado, onde no h paixes, perseguies ou privilgios. Ele frio e justo e premia quem trabalha direito, diz Laerte Leite Cordeiro, 62, especialista em orientao profissional. O Sebrae estima que 90% dos empreendedores dessa categoria prosperam e se sentem felizes. O segundo tipo de empreendedor formado por profissionais que no atingiram cargos executivos, tm pequeno capital acumulado, forte desejo de liberdade e sentem-se maiores do que os cargos que normalmente ocupam. A mortalidade nesse grupo elevada cerca de 80% das microempresas fecham antes do primeiro ano de funcionamento. Sua maior dificuldade a falta de conhecimentos de gesto administrativa, de produo, finanas, recursos humanos e vendas. A sensao de frustrao e perda aparece quando o bolso vai mal, diz Passarelli. Em compensao, as ambies desses profissionais so menores. Quem conhece o mercado acaba se dando bem. Carlos Alberto de Siqueira Bueno, 34, abriu h dois anos a Helm Representaes Comerciais, depois de trabalhar como analista de sistemas e vendedor em grandes empresas. A sensao de realizao varia conforme o dia, diz ele. Mas, em geral, gratificante.","Despreparo `derrubaempreendedor novato Passagem de assalariado para empresrio exige planejamento e persistncia: retorno demora, em mdia, um ano JOS VICENTE BERNARDO Editor-interino do Tudo A realizao profissional, financeira e pessoal de quem passa de empregado a empregador depende fundamentalmente do modo como foi feita a transio. O controle de aspectos psicolgicos , materiais e estratgicos a pedra fundamental do sucesso. Os empreendedores podem ser classificados em duas categorias: a dos profissionais entre 40 e 45 anos, bem sucedidos como assalariados, que se sentem inseguros com a perda das garantias do emprego. Inicialmente , ficam apavorados , pois trabalham mais, ganham menos e tm que bancar um facttum. Por outro lado, as chances de sucesso no tm limites. Segundo o Sebrae , 90% dessa categoria prospera. A segunda categoria composta por quem no atingiu cargos executivos, tem pequeno capital, anseio de liberdade e se consideram acima dos cargos que ocupam. A sobrevivncia muito pequena. Faltam a esses empreendedores conhecimentos de administrao, de produo, finanas, de recursos humanos e de vendas. " ce94jl31-a,"Um estudo realizado com 25 municpios do interior paulista mostra que as prefeituras se esforaram em compensar o corte no financiamento federal assistncia mdica. Entre 1987 e 1992, houve uma queda de 39% nos gastos do governo federal em sade. No mesmo perodo, os 25 municpios aumentaram em 155% suas despesas com atendimento mdico, de acordo com um relatrio ainda a ser publicado pelo Cepam (Centro de Estudos e Pesquisa de Administrao Municipal), na USP. A municipalizao um dos princpios bsicos do SUS (Sistema nico de Sade). Criado com a Constituio, em 1988, o SUS d a todos os cidados o direito sade o que tambm foi uma grande conquista: antes de 1988, para ser atendido pelo extinto Inamps, o paciente precisava mostrar sua carteira de previdencirio. Como era de se esperar, a municipalizao que significa descentralizao de decises e distribuio de verbas, ou, em outras palavras, de poder encontrou e encontra muitas resistncias comparveis s encontradas no programa de privatizao. Mas apesar das resistncias, a extino do Inamps e a absoro de suas instalaes e funcionrios pelos Estados e municpios, fundamental descentralizao j est quase terminada. Praticamente todas as instalaes do Inamps que tinha 125 mil funcionrios e 670 unidades j foram transferidas aos Estados e municpios. As resistncias vieram e vm de todos os lados. Mas, de acordo com o Ministrio da Sade, a principal est dentro do prprio governo federal. Para que a descentralizao d certo, os municpios precisam ser responsveis no s pela assistncia mdica mas tambm pelo uso sensato das verbas de sade. O maior incentivo a essa otimizao financeira um decreto que d direito aos municpios receberem do governo federal, automaticamente e sem negociaes polticas, recursos proporcionais a suas populaes. Com verba fixa, eles vo precisar se virar como podem para custear as necessidades de seus pacientes e no simplesmente cuidar dos cidados e depois cobrar, atravs das AIHs os famosos cheques em branco da sade pelo servio prestado. O decreto, elaborado pelo ministrio, est h quatro meses na mesa do presidente da Repblica, Itamar Franco, esperando para ser assinado. Outro foco de resistncia so os funcionrios que fazem as auditorias do extinto Inamps. O SUS previa um sistema descentralizado de auditoria, em que os municpios e os prprios usurios do sistema de sade deveriam atuar na fiscalizao. No foi o que aconteceu. De acordo com tcnicos do ministrio, o grupo de auditores, cerca de 500, conseguiu fazer prevalecer um sistema centralizado de auditoria, o recm-criado Sistema Nacional de Auditoria que traz semelhanas com o sistema que fiscalizava o Inamps, to conhecido pelos escndalos e fraudes. Foi um revs para SUS, informou um tcnico do ministrio. As resistncias no vieram s de dentro do governo federal. Pea-chave na atomizao do poder, o conselho estadual tem a funo de formular as estratgias de sade nos Estado (veja figura). Metade dele composta por representantes dos usurios de sade e a outra metade por representantes dos segmentos do governo, prestadores de servios e profissionais da sade. Dos 5.000 municpios do pas, 1.400 j se integraram ao SUS. O Rio de Janeiro foi o que mais resistncia apresentou (leia texto abaixo). No coincidncia que o Rio a cidade que mais tem unidades do Inamps 27. O SUS est no caminho certo, pois investe em quem mais tem condies de tratar de sade os municpios. O que falta vencer as resistncias implantao e, com isso, permitir que os municpios corrijam as distores herdadas do antigo sistema federal.(Cludio Csillag)","A criao do SUS ( Sistema nico de Sade) com a Constituio de 1988 ampliou o direito de atendimento mdico a todos os cidados, eliminando a limitao imposta pelo sistema anterior , o Inamps , que exigia a apresentao da carteira de previdencirio. O novo sistema prev a municipalizao , com a conseqente descentralizao de decises , e distribuio de verbas , sem que os prefeitos tenham que ir de chapu na mo ao governo federal. Sem dvida, o processo agiliza o atendimento. Apesar da reaes contrrias , --- possivelmente por interesses polticos contrariados e por controle de verbas mais transparente --- , as instalaes e funcionrios do Inamps , praticamente, j foram transferidos para os Estados e Municpios. Houve, tambm, resistncia por parte dos funcionrios responsveis pelas auditorias no Inamps. Contrariando previso do SUS, conseguiram fazer prevalecer o Sistema Nacional de Auditoria, semelhante ao do antigo Inamps, famoso pelos escndalos e fraudes. O SUS est no caminho certo, pois delega aos municpios uma competncia que lhes mais prpria. O fato de s 1.400 dos 5.000 terem se integrado ao novo sistema , sem dvida, vai por conta de vantagens pessoais contrariadas. " op94ag07-a,"Vem ocorrendo, nos ltimos dias, uma sensvel mudana nas estratgias das duas principais coligaes que disputam a Presidncia. As agremiaes aglutinadas em torno da candidatura de Luiz Incio Lula da Silva assustaram-se com o surpreendente desempenho nas pesquisas eleitorais de seu maior rival, Fernando Henrique Cardoso. claro que o crescimento de FHC que assombrou at os tucanos est ligado percepo popular de xito do Plano Real. Assim, o PT optou por deixar de criticar o real e passou a defender a nova moeda, censurando porm os altos preos e baixos salrios. Parece difcil acreditar que o PT e seus aliados mudaram de posio em relao ao plano depois de ter procedido a uma reavaliao puramente tcnica das medidas. evidente que fizeram uma anlise poltica e concluram que no rende votos colocar-se contra uma bandeira que tem apoio da populao. Mesmo com a mudana de discurso, o PT se encontrava na posio incmoda de ter o Plano Real um projeto que no seu e ao qual se ops como principal ponto de discusso da campanha. Interessava a Lula encontrar outros temas para debater. A deixa foi dada pela prpria coligao tucana. Assim como ocorrera com Jos Paulo Bisol, ex-vice de Lula, uma srie de acusaes tornou a situao do senador Guilherme Palmeira insustentvel e a aliana PSDB-PFL teve de substitu-lo. O escolhido foi o tambm senador Marco Maciel. E, se Maciel de fato um candidato a vice sobre o qual no pesam graves acusaes de improbidade e que, em termos de peso poltico, oferece mais a FHC que Palmeira, seu passado sombra do regime militar foi o pretexto de que o PT precisava para tentar mudar o enfoque do debate eleitoral. Neste ponto, Maciel um perfeito representante do PFL. Sempre se manteve no poder. Nos governos militares, foi um dos articuladores do Pacote de Abril. Aps o fim do ciclo castrista, ocupou ministrios na administrao Sarney e foi lder do governo na gesto Collor. claro que a carreira de Maciel um bom ponto para ser explorado pelo PT, ainda que com resultados incertos. O passado do senador incomoda at certos setores do PSDB. H informaes de que seu nome fora vetado como vice por FHC antes da escolha de Palmeira. Para rebater as crticas petistas, entretanto, o PFL optou por uma ttica quase infantil. Pefelistas dizem que o vice de Lula, Aloizio Mercadante (PT-SP), est mais ligado aos militares do que Maciel porque filho de general. Quando se trata de analisar o passado poltico de algum, bvio, valem suas decises e aes, no sua rvore genealgica. De resto, o PFL se esqueceu de que seu candidato, FHC, filho de general e neto de marechal. bom que os partidos procurem diversificar mais o debate em torno do qual gira a campanha; afinal, embora a inflao seja um dos grandes males que hoje afetam o pas, o prximo governante ter inmeros outros problemas a enfrentar e convm que eles sejam levantados e discutidos. Resta a lamentar entretanto as sbitas mudanas de posio sem explicaes convincentes e, principalmente, a pura parvoce.","As coligaes que apiam, respectivamente, as candidaturas de Lula e Fernando Henrique tm , ultimamente, mudado a sua estratgia . Para o grupo de Lula , no d dividendos falar contra o Plano Real, pois a avaliao positiva que dele faz o povo que explica o sucesso do seu mentor. . Passou, ento , a defender a nova moeda, mas a condenar os altos preos e baixos salrios. Fica evidente a uma deciso poltica e no com fundamentos tcnicos. Mesmo com essa mudana, seria incmodo para o PT continuar centralizando os debates no Plano Real. O grupo adversrio que deu a deixa: o vice de FHC, Guilherme Palmeira, teve que ser substitudo. Foi escolhido Maciel, sobre cujo passado no pesam grandes acusaes de improbidade. Mas sua vinculao fiel ao regime militar foi a pista para o PT. O PFL , ingenuamente, quis atribuir ao vice de Lula , Aloizio Mercante , maiores ligaes aos militares por ser filho de general . Alm da bobagem em si, esqueceu-se de que Fernando Henrique filho de general e neto de marechal. importante que as discusses extrapolem mediocridades e o tema nico ---inflao--- , para subsidiar as futuras decises do vencedor. " td94mr13-03,"Corra para lucrar com ovos de Pscoa Produo em pequena escala exige pouco investimento; lucro chega a 100% sobre o preo do material ROBERTA JOVCHELEVICH Free-lance para a Folha Faltam apenas trs semanas para a Pscoa, mas ainda d tempo para lucrar fazendo ovos e coelhos de chocolate sem sair de casa. Quem no conhece a tcnica, pode aprender em pouco mais de duas horas, fazendo um curso. importante ter uma geladeira exclusiva para colocar as frmas -o chocolate absorve odores muito facilmente, o que compromete a qualidade e o sabor. Todo o material necessrio barras, frmas e embalagens pode ser adquirido em lojas especializadas, que tambm do cursos. Quem vai entrar no negcio deve comear a divulgao primeiro, para trabalhar sob encomenda, evitando prejuzos desnecessrios. A propaganda pode ser feita no prprio trabalho, em clubes e na vizinhana. O uso de produtos de primeira e cuidados com a higiene na hora de manusear o chocolate so itens fundamentais para o bom desempenho das vendas. Segundo os fabricantes, para que o negcio seja vivel necessrio trabalhar com uma produo de pelo menos 50 quilos de chocolate, incluindo ovos, ovinhos, bombons para o recheio e coelhos. Os tamanhos dos ovos devem ser os tradicionais 250 gramas, 350 gramas, 500 gramas e 1 quilo. Para Geiza Saad Lemos Basto, 41, proprietria da Barra Doce, o preo de venda do ovo deve ser estabelecido de acordo com o quilo da barra. Na opinio dela, o fabricante no deve cobrar menos de CR$ 9.000 (considerando CR$ 3.500 o preo mdio do quilo de uma barra), pelo quilo do ovo ao leite. Ovos crocantes e demais variaes levam mais ingredientes e devem ter preo mais alto. Cristina Serafim, 43, funcionria de uma multinacional da rea de minerao e h oito anos comeou a fazer chocolate na Pscoa, depois que fez o curso da Barra Doce. Atualmente, ela tem uma produo de 600 quilos de chocolate na forma de ovos e coelhos. D trabalho, mas o lucro de mais de 100% compensa, afirma. Para poder atender todas as encomendas, muitas dos prprio colegas de trabalho, Cristina diz ter que, s vezes, trabalhar durante 24 horas seguidas. Segundo ela, a maior vantagem da fabricao do ovo caseiro, sob encomenda, a possibilidade de variar. Se o cliente pedir, eu tenho condies de fazer um ovo com uma casca crocante e a outra lisa. Porm, Cristina adverte para o cuidado que se deve ter com certos produtos. Coco, leite condensado e creme-de-leite se estragam muito rpido. S uso desde que a pessoa garanta que ir consumir logo ou guardar na geladeira. Outra que comeou a fazer chocolates na Pscoa e fez da atividade sua profisso foi a publicitria Paula Lima, 32. H cerca de dez anos, Paula resolveu promover uma degustao de ovos em sua casa. Convidou amigos, que acabaram gostando e levando amostras. As encomendas comearam a surgir e Paula se viu fazendo chocolates durante o ano inteiro. H sete anos, ela abriu a Sweet Brazil, que hoje conta com 12 funcionrios. A marca da loja, segundo Paula, so as embalagens sofisticadas, como fita de tule e papel encerado, e o uso de frmas originais. Nessa Pscoa, estou aproveitando a proximidade da Copa do Mundo e lanando coelhos com a camisa do Brasil e coelhinhas torcedoras, diz. Produtos diferenciados tambm so o segmento da Anusha Chocolates nesta poca. Os ovos trufados so o forte da empresa, que optou por no fazer o tradicional. O nosso nico ovo ao leite vem com a cara de um coelho desenhada, afirma a scia Ana Maria de Arruda Castanho, 39.","Corra para lucrar com ovos de Pscoa Produo em pequena escala exige pouco investimento; lucro chega a 100% sobre o preo do material ROBERTA JOVCHELEVICHFree-lance para a Folha A Pscoa j est a , mas para os interessados ainda h tempo de lucrar com ovos e coelhos de chocolate sem sair de casa. Os nefitos podem fazer um curso em aproximadamente duas horas. preciso ter uma geladeira exclusiva, pois o chocolate facilmente assimila odores. Lojas especializadas vendem todo o material necessrio: barras, formas e embalagens. Os interessados devem comear com a propaganda, para evitarem prejuzos desnecessrios. Tambm devem utilizar produtos de primeira e cuidar da higiene no manuseio : o cliente olha isso. Os fabricantes informam que , para a viabilidade do negcio, a produo mnima deve envolver 50 quilos de chocolate. A proprietria da Barra Doce diz que o preo de venda deve ser calculado de acordo com o quilo da barra. Os ovos cocrantes e outras variaes ficam mais caros. Cristina Serafim, funcionria de uma multinacional de minerao, faz ovos de Pscoa h oito anos e diz que, apesar do trabalho, o lucro de 100% compensa. Ela atribui outra vantagem ao ovo caseiro--- a possibilidade de variar. Mas adverte que h ingredientes muito perecveis e o cliente deve ser alertado. " po96fe09-b,"BRASLIA - No preciso desta m....! Com este grito de independncia e vrios outros palavres, o presidente da Comisso Especial da reforma da Previdncia, deputado Jair Soares (sem partido-RS), renunciou ontem ao cargo e impediu que o relatrio do deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM) fosse votado. Jair deixou tambm o PFL - do qual era presidente regional - e, conseqentemente, a vice-liderana do partido na Cmara. A atitude de Jair foi uma resposta s presses do lder do PFL, Inocncio Oliveira (PFL-PE), para que ele desrespeitasse o regimento interno da Cmara e abrisse o processo de votao de qualquer maneira. A ttica havia sido acertada na noite de anteontem, mas Jair denunciou o acordo e terminou o dia como um mrtir da oposio. Minutos depois de saber que Jair iria acatar um requerimento do lder do PDT, Miro Teixeira (RJ) - pedindo tempo, pelo menos at tera-feira, para que o plenrio da comisso analisasse os pontos novos do relatrio -, Inocncio comeou a agredir verbalmente o colega. De onde se encontrava, ao lado do lder do governo, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), e do deputado Benito Gama (PFL-BA), empinou o dedo para Jair, que ainda presidia a sesso, e xingou: Seu safado! Imediatamente, Jair suspendeu os trabalhos e saiu do plenrio, seguido pelo lder do governo e por Inocncio. F. d. p. nenhum vai me obrigar a nada, reagiu irritado. Inocncio voltou carga: Voc vai votar, porque eu estou mandando, f. d. p.! Eu sou o lder do maior partido da Cmara e voc vai fazer! Quando sentiram a presso sobre o presidente, os deputados da oposio saram em seu socorro. Comearam a gritar no plenrio, a ponto de constranger os outros lderes de partidos governistas, que bateram em retirada. Estadista - Numa sala ao lado, Jair Soares fazia um discurso de estadista: Tenho 62 anos de idade, 40 de vida pblica, e no me importo se ficar no ostracismo. No preciso de presidncia, de PFL, de m.... nenhuma! Morro pobre, com minha conscincia! Enquanto isso, Inocncio bufava, cerrava os dentes e detonava: Ele s foi presidente porque eu deixei! Eu poderia ter nomeado a mim mesmo para a presidncia da comisso! Quando conseguiu entrar na sala, onde Luiz Carlos tentava convencer Jair a retomar a sesso, Inocncio ofereceu mundos e fundos - conforme o prprio Jair relataria mais tarde - para salvar a votao. At viagem com o presidente Fernando Henrique entrou na negociao. Me ofereceram coisas imaginveis e inimaginveis, contou. Inocncio se ofereceu at para pedir desculpas pblicas por t-lo agredido. E ainda com esperanas de reverter a deciso de Jair, impedia o deputado de voltar sala da comisso e renunciar oficialmente. Voc diga o que quer, para no renunciar, implorava Inocncio. Mas foi em vo. Pensando estar livre, Jair voltou sala da comisso, onde foi apoiado por membros do PT, PDT, PC do B e PPS, que o receberam com aplausos. Sentou-se, mas, antes de renunciar, Inocncio o arrancou da cadeira, para outra conversa na sala da liderana. Novo fracasso. Na porta, parte do PT j cantava vitria e elogiava at a quarta gerao de Jair Soares. Isso que atitude de estadista e gacho macho!, bradava Paulo Paim (PT-RS). Protesto - A parte do PT favorvel ao acordo - ou seja, o deputado Jos Genono (SP) - entrou correndo no gabinete da liderana do governo, onde Inocncio tentava seduzir Jair Soares. O que o lder do PFL desconhecia que a atitude de Jair era um protesto contra tudo - inclusive contra o presidente Fernando Henrique. Se o governo quisesse fazer acordo, tinha que ter feito na comisso. Ou ento, o presidente deveria retirar a emenda e abrir o dilogo com as centrais, disse Jair. O deputado precisou simular uma fuga, para se livrar de Inocncio. Disse que ia ao banheiro. Quando percebeu que havia perdido o relator de vista, Inocncio gritou: Volta aqui, Jair! Eu confiei em voc, Jair! Quando conseguiu voltar ao plenrio e, finalmente, renunciar, Jair foi novamente recebido com aplausos pela oposio. E quase saiu dali carregado como heri. No final, j na sala da Comisso de Constituio e Justia (CCJ), o deputado se viu cercado por mais de 100 jornalistas e cinegrafistas, aos quais fez um relato de todo o processo de aprovao da reforma. Reafirmou sua postura contrria ao acordo - O governo no podia diminuir a comisso com este acordo -; fez crticas emenda da Previdncia - Quero a reforma verdadeira, no quero saber de falcia, engodo e meias-verdades -; e atacou o ministro Reinhold Stephanes (PFL-PR) - Ele no tinha clima na comisso. E no digo isso porque tenha desejado ser ministro... Se fiz campanha para o Esperidio Amin, vocs acham que eu teria a cara-de-pau de querer ministrio? Jair atacou a negociao - Pau que nasce torto, torto permanece - e denunciou as presses sobre o relator. Por fim, com ar de vitorioso, proclamou: No Rio Grande, todo mundo sabe uma frase: se quiser montar em mim, monta pelo lado certo. Porque, se montar errado, saio corcoveando... ","A presso do lder do PFL, Inocncio de Oliveira , para que o presidente da Comisso Especial da reforma da Previdncia, Jair Soares, votasse a emenda de qualquer jeito, provocou uma revolta incontida e a sua renncia da presidncia da comisso e da presidncia regional do PFL. Dois dias antes , tinha havido um acordo para que a votao fosse realizada revelia do regimento interno. Foi o que Jair denunciou. O presidente da Comisso suspendeu os trabalhos e se retirou dizendo palavres. Inocncio de Oliveira devolveu no mesmo nvel, assumindo atitude autoritria. Na sala ao lado, Jair discursava insistindo na sua dignidade ofendida . Depois, o prprio Inocncio tentou convenc-lo a mudar de deciso. Fez promessas, suplicou. Inutilmente. O retorno de Jair Soares ao plenrio para oficializar sua deciso foi recebido com aplausos pela oposio. Nem o deputado Genono , da oposio, mas que aceitava o acordo, conseguiu demov-lo, pois a sua atitude inclua ,tambm, um protesto contra Fernando Henrique. Achava que a discusso do acordo com as centrais sindicais no podia passar por cima da comisso presidida por ele. No final, viu-se cercado por mais de 100 jornalistas e cinegrafistas, aos quais relatou todo o processo de aprovao da reforma. " di94ja16-14,"Conflito distributivo e capitalismo selvagem H muito mais Brasis sob a face do sol do que a teoria ou a imaginao so capazes de abranger MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha O conflito distributivo brasileiro permanente e abrange todos os nveis da sociedade e do Estado. A disperso de rendimentos do trabalho, a variedade de formas de acumulao espria de capital e a proliferao dos podres poderes exprimem um tamanho grau de iniquidade que verdadeiramente difcil de imaginar sua superao a curto prazo. Hoje est claramente aceita at pelos poderes da Repblica a expresso ciranda financeira. Mas falta uma, cunhada tambm nos tempos da ditadura, por alguns intelectuais e pela prpria imprensa, que a expresso capitalismo selvagem. A pssima distribuio de rendas no Brasil e a superinflao, que so a manifestao mais gritante desta iniquidade, no podem ser atribudas, porm, apenas ao dos oligoplios ou monoplios, que sempre existiram, nem heterogeneidade da estrutura produtiva que tambm vem de longe. O atual grau de selvageria de nosso capitalismo deve-se profunda crise que atravessa a nossa sociedade, expressa na desorganizao e na fragmentao de interesses dos vrios poderes econmicos e polticos, que passaram a ter um comportamento predatrio. A desintegrao social brasileira atual no pode ser apreendida pela imagem dos dois Brasis, a famosa Belndia. H muito mais Brasis sob a face do sol do que a teoria ou a imaginao so capazes de abranger. Nem mesmo o olhar atravessado de um Nelson Rodrigues, mais dado crtica dos costumes do que crtica social, daria conta, hoje, da profundidade de nossa patologia social e dos conflitos potenciais latentes. A diversidade de situaes sociais de poder, de prestgio, de condies de trabalho e de vida expressa na maior desigualdade de distribuio de renda e de riqueza do mundo capitalista de tal natureza que no h qualquer ordem ou modelo de engenharia social conservadores capaz de resolv-la. Vale dizer, so necessrias reformas profundas no Estado e na sociedade para tornarmo-nos viveis como nao. O problema que nunca houve acordo mnimo entre as elites e a sociedade sobre a natureza das reformas. Enquanto isso, a biodiversidade da nossa selva social vem requerendo periodicamente, para no transformar-se num estado permanente de luta aberta e de desespero, um imaginrio coletivo que envolva a tolerncia e a negociao. O problema que hoje no basta o famoso pacto das elites. Quando a situao se torna dramtica demais e nenhuma negociao global parece possvel, necessrio buscar algum ponto de encontro, identificvel no territrio do simblico ou do sagrado, que v da redeno ao sentimento de transcendncia, como vem ocorrendo agora com a campanmha do Betinho. As lutas recentes passaram por fundos movimentos de massas que tiveram a anim-los um sentimento de alegria, felicidade e solidariedade de que foram exemplos a campanha das Diretas J ou a campanha de Lula de 1989. Sobre a precariedade e o desejo persistente da alegria e da felicidade, a nossa msica popular est cheia de versos poticos que penetram no corao de todos. A memria potica e a esperana na capacidade de transformao da realidade o que permanece, por cima das diferenas sociais e ideolgicas da maioria da populao que teima em acreditar que o Brasil um pas vivel. Brasileiro, profisso esperana e levanta, sacode a poeira e d a volta por cima foram duas das mais belas imagens criadas pela produo cultural deste nosso pas. Dadas as razes opressoras e autoritrias das elites dominantes brasileiras, que no fizeram seno sofisticar-se, e a violncia social dos mercados formais e informais, o imaginrio do homem cordial est hoje desacreditado. Mas ainda est profundamente enraizado na cultura tanto do povo como das classes dominantes o desejo ou a crena em solues mgicas ou simplesmente moralizadoras para nossos graves problemas. Independentemente das conjunturas esta foi uma das maiores dificuldades polticas que tiveram de enfrentar quase todos os presidentes eleitos legitimamente na histria do aps guerra. As aspiraes populares de justia social mnima, juntam-se sempre demandas contraditrias das elites, acompanhadas de resistncias surdas ou explcitas mudana social. Estas caractersticas estruturais tm conduzido sistematicamente a impasses (Vargas, Jango, Jnio e Collor). No se trata, como se tem sugerido, de obter alianas majoritrias no Congresso para poder governar ou da capacidade de deciso e coragem dos presidentes. A maioria deles se elegeu com alianas majoritrias dominadas pelas foras conservadoras e no entanto cada vez que tentaram empreender qualquer reforma que ameaasse o status quo ou se viram na impossibilidade de arbitrar os interesses mais pesados, econmicos ou regionais, foram sistematicamente acusados de populismo e levados a um impasse, mesmo quando sua aliana originria tivesse poderosas foras conservadoras e algumas das elites chamadas morais e bem pensantes. O regime autoritrio, apesar de seu aparente poder inconstratvel tambm no foi capaz de enfentar as desigualdades, a questo agrria e a educao de base. Apenas conseguiu fazer as reformas conservadoras e operacionais capazes de pr de acordo, por um perodo limitado, as fraes mais importantes das classes dominantes. Este acordo terminou antes mesmo da crise da dvida externa. Em compensao, a sua gesto macroeconmica contraditria, a criao da ciranda financeira e o endividamento externo excessivo criaram alguns vcios estruturais no Estado e no mercado pelos quais pagamos at hoje. O regime autoritrio no criou os monoplios (privados ou pblicos), os oligoplios, as construtoras, os banqueiros, os especuladores, apenas permitiu que o Estado fosse usado por eles de forma predatria, numa extenso at ento desconhecida. No criou as condies originrias do capitalismo selvagem, apenas as exarcerbou com a convivncia perversa de seus representantes mais poderosos, em decises secretas nos principais gabinetes e desvos dos sucessivos governos, sem controle social de qualquer espcie. A crise do modelo de desenvolvimento e da ideologia do Estado autoritrio comeou no final da dcada de 70 e contribuiria em muito para a sua derrocada. Infelizmente a ideologia neoliberal no contribuiu em nada para reformar o Estado e regenerar o setor pblico na direo dos interesses das grandes massas. No que se refere ao mercado, a idia da liberdade irrestrita da concorrncia ilimitada como mecanismo de eficincia, a privatizao desordenada, o desmantelamento de empresas estratgicas e dos sistemas de infra-estrutura que abrangem todo o territrio nacional, esto minando nossas possibilidades de competitividade internacional futura e agravando o desemprego e a injustia social. Estamos jogando fora as poucas vantagens sistmicas que o regime autoritrio anterior conseguiu com tanto sacrifcio do povo. Estamos liquidando o sistema de planejamento e a burocracia de Estado sem colocar nada no lugar; estamos contribuindo assim para um novo tipo de capitalismo selvagem que ultrapassa o herdado de nossas condies histricas. E, o que pior, pretendem legitim-lo sob a forma de uma doutrina neoliberal em que foram adotadas radicalmente as teses do livre mercado e confundidas, de boa ou m f, com o conceito de democracia. Assim, na crise atual, partidos, organizaes patronais, sindicais e burocrticas, empresas e bancos, travam entre si uma luta desordenada, sem qualquer possibilidade de construir um novo pacto hegemnico conservador e muito menos construir um novo projeto nacional. Lutam nos seus territrios menores sem quartel, sem tica, sem projeto, numa verdadeira ciranda poltica em que as alianas duram apenas o tempo de uma conjuntura particular. a guerra de todos contra todos, entrecruzada por alianas parciais e temporrias que no conduzem a nada. A nica novidade poltica a persistncia de um candidato de extrao popular nas intenes de voto de uma parte substancial da populao. Contra ele esto comeando a articular-se um conjunto de foras poderosas. Como proclamou esta semana, em manchete e com certa ironia, a Gazeta Mercantil (11/01/94): Procura-se um adversrio para Lula. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, economista, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Unicamp.","H muito mais Brasis sob a face do sol do que a teoria ou a imaginao so capazes de abranger. MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha O conflito da distribuio de renda brasileiro permanente e abrange os vrios segmentos sociais e nveis do Estado. A sua gravidade tal que dificilmente se enxerga uma soluo a curto prazo. Alm da expresso ciranda financeira , est cunhada uma outra tambm da poca da ditadura: capitalismo selvagem , que bem traduz a nossa pssima distribuio de renda. No se pode atribuir essa iniqidade apenas aos oligoplios e monoplios , nem heterogeneidade da estrutura produtiva . Ela advm da crise social que a sociedade atravessa ,cuja desorganizao e fragmentao dos interesses econmicos e polticos redundaram em comportamento predatrio. Hoje, no somos dois mas vrios Brasis. A diversidade das situaes sociais de tal natureza que no h modelo de engenharia social capaz de resolv-la. Isso porque nunca houve acordo entre as elites e a sociedade sobre a natureza das reformas. E para amenizar a situao , nossa selva social requer periodicamente um imaginrio coletivo que envolva tolerncia e negociao. Numa situao dramtica, necessrio buscar sintonia no territrio simblico ou religioso, como vem ocorrendo com a campanha de Betinho. O mundo das artes tambm fornece estmulo para a permanncia da esperana na capacidade de transformao da realidade .Brasileiro, profisso esperana e levanta, sacode a poeira e d a volta por cima so duas belas imagens da produo cultural. As razes opressoras e autoritrias das elites desacreditaram a definio do brasileiro como homem cordial. Mas tanto entre o povo quanto nas classes dominantes, persiste o ideal de solues mgicas ou moralizadoras. Essa foi a grande dificuldade dos polticos: conciliar as aspiraes populares com as das elites. Ter ou no aprovao da maioria no Congresso nunca foi o problema . que as foras conservadoras que subsidiaram qualquer candidato nunca permitiram qualquer reforma que ameaasse seu status quo. O regime autoritrio tambm no foi capaz de enfrentar as desigualdades , acelerando a reforma agrria e a educao bsica. Apenas conseguiram acordos provisriso de setores importantes das classes dominantes. A sua gesto macroeconmica contraditria , a criao da ciranda financeira, o endividamento externo excessivo criaram vcios estruturais no Estado , que ainda duram. O regime no criou monoplios, oligoplios , banqueiros , mas permitiu que fossem predatores do Estado . A sua derrocada teve incio na dcada de 70 com a crise de desenvolvimento e da ideologia do Estado autoritrio. Mas tambm a ideologia neoliberal no contribuiu para reformar o Estado e atuar no setor pblico rumo aos interesses de massa. Estamos desprezando uma das poucas vantagens sistmicas do regime militar : a liquidao do sistema de planejamento e da burocracia do Estado , sem compensaes ; portanto, contribuindo para um novo capitalismo selvagem. A nica novidade poltica a constncia de um candidato de origem popular capaz de captar os votos populares. Mas j esto maquinando contra eles. " mu94de11-a,"Existem muitas maneiras de enxergar os ltimos acontecimentos no Mxico: fim de um regime ao qual a populao j estava acostumada, renovao sexenal, continuidade reformadora e modernizante, perpetuao autoritria. Da anlise que cada um escolher decorrero as concluses prticas, polticas e pessoais s quais ir chegar. Poderamos aventar duas vises, por enquanto: uma, ctica e alarmada, que detecta na conjuntura mexicana uma crise profunda, sem soluo vista. Outra que, sem negar os problemas, considera que sua soluo relativamente simples e consiste em uma tranquilizante continuidade de fundo, ajustada por mudanas isoladas: no h nada que no possa ser consertado com o tempo. Essa segunda viso , ao que tudo indica, a que inspirou o presidente Ernesto Zedillo a formar sua equipe de colaboradores e a expor, em seu discurso de posse, no dia 1 de dezembro, seu projeto de governo para os prximos anos. Prevaleceu um enfoque ortodoxo e continusta. Nem o gabinete, nem a mensagem foram elaborados com um sentido de ruptura com o passado: em nenhum dos dois casos pretendeu-se dar a impresso de que se parte de um senso de crise aguda. Mais alm das individualidades algumas das quais se sobressaem, enquanto outras so lamentveis, o gabinete de Zedillo se distingue por um sinal crucial de mudanas e um carter continusta e conservador que destoa dele. O elemento de mudanas , evidentemente, a incluso de um representante do principal partido de oposio num cargo-chave a Procuradoria Geral da Justia, abrindo assim caminho para um eventual governo de coalizo, algum dia. Por mais que se diga que a indicao de Antonio Lozano no foi partidria, e sim individual, o fato que ele faz parte do novo governo por sua militncia no PAN e no por alguma capacidade individual socialmente reconhecida, embora esta possa existir. S podemos elogiar essa nomeao e as perspectivas que ela abre para o Mxico no mdio prazo: o incio do fim do monoplio do poder poltico por um partido. Uma andorinha no faz vero e, parafraseando Sartre, preciso mais de um panista (poltico do PAN) para corrigir dcadas de abuso, corrupo e violncia. O restante do gabinete, infelizmente, no reflete a mesma audcia. Presidiram a sua formao os critrios que classicamente ditam a escolha das equipes governamentais no Mxico: uma dose de lealdade toda prova; uma pitada de amizade distante, de preferncia universitria ou dos primeiros escales do funcionalismo; vrias colheradas de representao do velho governo, para que o presidente anterior no se sinta ameaado nem rechaado; e alguns gramas de proximidade a foras polticas excludas, mas ainda toleradas. Em todo caso, no um gabinete de guerra, isto , um governo de personalidades excepcionais. Vem da a deduo de que, j que Ernesto Zedillo poderia recorrer a esta alternativa e a descartou, ele simplesmente no a considerou imprescindvel. Ele no precisa de uma equipe de emergncia pela simples razo de que tal emergncia no existe. Menos triunfalismo A mesma convico parece permear o discurso inaugural do novo presidente. Ele incluiu vrios trechos felizes, em particular sobre a corrupo e as fortunas que devem ser feitas fora de seu governo, no dentro dele; sobre o presidencialismo, o trato com a oposio e a necessidade de consumar a democratizao; e, sobretudo, no tocante reforma do Judicirio. Inclusive sua nfase no combate pobreza, apesar de ocupar lugar de destaque na liturgia das posses presidenciais mexicanas, conferiu um toque menos triunfalista do que aquele ao qual Carlos Salinas vinha acostumando os mexicanos. De modo geral, o texto de Zedillo reflete uma avaliao mais realista e at certo ponto nova da situao. Mas no foi uma grande pea oratria que tenha partido de uma anlise dilacerante da realidade mexicana. O discurso de Zedillo indica problemas e aceita carncias; de nenhuma maneira reflete um reconhecimento da deteriorao do sistema poltico e da desesperana de boa parte da sociedade. Seu programa se baseia em um diagnstico crtico, mas no terminal, do regime poltico sob o qual o pas vive desde o final dos anos 20. Nem o levante de Chiapas, nem os assassinatos de Luis Donaldo Colosio e Jos Francisco Ruiz Massieu, nem o ceticismo que as eleies continuaram gerando, nem as denncias e as lutas internas do PRI, nem mesmo, em suma, a armadilha legada por Carlos Salinas desembocaram numa viso de ruptura e transformao. O programa de Zedillo, assim como seu gabinete e os discursos de posse de todos os seus predecessores, partem do sutil e tradicional jogo de sempre entre continuidade e mudanas em que o sistema mexicano se fundamenta: muda tudo o que secundrio, para que permanea o essencial. Provavelmente foi assim porque Zedillo e seus colaboradores no consideram que a situao exija mais. E eles podem ter razo: uma leitura vlida e verossmil dos resultados eleitorais de agosto de 1994, do triunfo esmagador e surpreendente conquistado pelo PRI nas urnas e, possivelmente, do estado de nimo da populao. muito possvel que, depois dos sustos do ano, os mexicanos anseiem por tranquilidade, segurana e o retorno normalidade morna dos tempos passados. Se for assim, o subestimar deliberado da gravidade da crise vai render politicamente: os mexicanos agradecero ao governo por ter desfeito o pnico que poderia ter se espalhado ao longo de 1994. Custo da vitria A outra leitura das eleies e do momento que vive o pas pode resumir-se a uma metfora histrica. Em 1918, a Frana, ao cabo de quatro anos de guerra, 1 milho de mortos, o holocausto de Verdun e a quase queda de Paris na batalha da Marne, se imps mquina de guerra alem. O esforo nacional, popular e das elites francesas foi extraordinrio. Mas a sobremesa revelou que o custo do triunfo foi exorbitante: a Terceira Repblica ficou exaurida. As consequncia seriam medidas nos anos 30, quando a sociedade francesa revelou-se incapaz de levar a bom termo as reformas da Frente Popular, em 1936, e em 1940, quando a classe poltica, empresarial, militar e intelectual francesa capitulou desavergonhadamente diante dos nazistas. Ameaado de morte em vrias ocasies este ano, o sistema poltico mexicano conseguiu sobreviver mediante um supremo esforo de unidade e concentrao Depois da insurreio de Chiapas, dos assassinatos, das divises, dos sequestros e das incertezas do primeiro semestre, e das previses e fraquezas das semanas que antecederam as eleies, o aparelho, o PRI e o governo souberam se unificar e sair garbosos de um transe que at o final se supunha ser insupervel. Mas a consequncia foi, como na Frana, excessiva: o sistema ficou exaurido. Comearam os confrontos, alguns a bala, outros fora de recriminaes. A inrcia se imps e a terrvel crise que o pas vive oprimiu pesadamente o sistema poltico mexicano e o PRI. Aps sua vitria veio o colapso interno: esgotaram-se as foras que lhe davam vida. Se consideramos vlida esta hiptese, a serenidade de Zedillo, de seu discurso e de sua equipe no emanariam de uma anlise fria da realidade mexicana. Viria da impossibilidade de agir de outra forma e do esgotamento. Neste caso, a inteno do novo governo de gerar uma sensao de serenidade ser frustrada, em pouco tempo, pelos efeitos da crise: novas surpresas e golpes abalaro, daqui a muito pouco tempo, a calmaria que hoje impera. O fato de ter feito da necessidade uma virtude no beneficiar muito a Zedillo: teria sido prefervel alarmar os mexicanos a tranquiliz-los. Os prximos dias e meses diro qual foi a viso acertada: a da crise light ou a de la France ternelle, prostrada por seus mortos em Verdun. JORGE CASTAEDA, 39, socilogo e economista mexicano, professor visitante da Universidade de Princeton (EUA) e catedrtico da Universidade Autnoma do Mxico (Unam).","A observao da realidade mexicana atual, aps to longa dominao do partido PRI, permite duas anlises: uma pessimista , que v uma crise profunda ; e outra otimista , que, apesar de no negar os problemas, v solues para eles sem ser preciso mexer nas estruturas bsicas. . A escolha de colaboradores feita pelo novo presidente eleito, Ernesto Zedillo, est de acordo com a segunda viso. O nico representante que acena para mudanas o Procurador Geral da Justia, Antonio Lozano, do partido da oposio (PAN). Mesmo assim, escolhido como possvel necessidade de aliana poltica futura. O restante foi indicado segundo tradicionais formas entre os eleitos pelo PRI: uma dose de lealdade a toda prova; amizade distante; preferncia universitria ou dos primeiros escales do funcionalismo; representao do governo anterior ,e um pouco de foras polticas excludas, mas toleradas. Talvez o ministrio escolhido esteja adequado a um momento de susto e intranqilidade da populao, que viveu o levante de Chiapas, os assassinatos de Luis Donaldo Colosio e Jos Francisco Ruiz Massieu . O programa do novo governo, certamente, est mais voltado para acertos secundrios do que para mudanas na essncia. Foi com essa mornidade que o PRI sempre governou. at possvel que o povo se contente com as reformas perifricas que amenizem a fome , a misria---sem resolv-las--- , mas que restaurem a tranqilidade. A histria tem mostrado que um esforo ingente para subverter estruturas continustas de privilgios tem um preo elevado e exaustivo. Mas , por outro lado, os remendos deixam aberta a possibilidade prxima de exploso das crises. A eleio de 1994 permitir , em breve, ver qual caminho percorrer o povo mexicano. " po96ab09-a,"BRASLIA - A Cmara dos Deputados vai gastar R$ 12,25 milhes em 1996 para conservar e reformar os 420 apartamentos funcionais ocupados pelos deputados federais. Com esse dinheiro possvelcomprar 68 apartamentos de quatro quartos em reas nobres de Braslia. A conta envolve desde reformas em apartamentos at a compra de eletrodomsticos e o pagamento de empresas que fazem vigilncia e limpeza nos prdios. O oramento da Cmara prev que a conservao de cada apartamento vai custar R$ 2.400 mensais, em mdia. Em 1995, o gasto da Cmara com os apartamentos dos deputados foi de R$ 10,57 milhes. Como so apenas 420 apartamentos para 513 deputados, a Cmara paga auxlio-moradia aos restantes. Neste caso, a conta ainda mais cara. Segundo a diretoria-geral da Cmara, o auxlio-moradia de R$ 3 mil mensais por parlamentar. O deputado tem duas maneiras de aproveitar este auxlio. A primeira apresentar Cmara notas fiscais comprovando gastos com aluguel, condomnio ou dirias de hotel. Neste caso, o parlamentar pode usar os R$ 3 mil por ms sem pagar qualquer imposto. A outra alternativa simplesmente ficar com o dinheiro, sem dar comprovao nenhuma Cmara. Fazendo isto, o deputado paga Imposto de Renda de 25%, mas ainda consegue somar R$ 2,25 mil mensais lquidos ao seu salrio de R$ 8 mil mensais. Pagar o auxlio moradia aos 83 deputados que no tm apartamento funcional consome mais R$ 2,98 milhes anuais da Cmara. O deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) fez o levantamento dos gastos da Cmara com imveis no Siafi, o sistema informatizado que controla todos os gastos pblicos da Unio. Carvalho diz que o valor que gasto na manuteno dos apartamentos funcionais e no pagamento do auxlio-moradia muito alto. Se a Cmara quer manter os imveis para os parlamentares deveria deixar que eles pagassem as despesas de condomnio, como vigilncia e limpeza. O auxlio-moradia tambm deveria seguir os valores de mercado da cidade, argumenta. Em Braslia, um apartamento de quatro quartos como os da Cmara pode ser alugado por um valor entre R$ 1.300 e R$ 1.500mensais. Carvalho tentou abrir mo do auxlio-moradia, mas teve o pedido negado pela buracoracia da Cmara. Optou ento por entregar o valor recebido a uma creche de Braslia. A Cmara equipa os imveis funcionais dos parlamentares com mveis e eletrodomsticos. Em 1995, comprou 406 foges marca Dako-Magister, pagando R$ 160 mil pelo lote. Tambm foram comprados 376 refrigeradores, por R$ 206 mil, e 350 mquinas de lavar roupas, ao custo de R$ 244 mil. Lus Eduardo -Outra fonte de gastos a reforma peridica dos apartamentos. Notas de empenho de despesa encontradas por Augusto Carvalho mostram que no ano passado a Cmara gastou R$ 212 mil com reformas e reparos em 18 apartamentos funcionais. Os maiores gastos so com despesas que em prdios normais caberiam ao condomnio, como a contratao de empresas de vigilncia, limpeza e zeladoria dos imveis. Em 1995, estas despesas consumiram R$ 2,7 milhes, segundo o levantamento feito pelo deputado Augusto Carvalho. Outros R$ 3,66 milhes foram gastos na conservao dos prdios. A empresa Dinmica Servios Gerais, encarregada da conservao, limpeza, portaria, zeladoria e controle das garagens dos prdios em que ficam os apartamentos funcionais da Cmara, recebeu em 1995 R$ 147 mil por ms. No final do ano, o contrato foi prorrogado e o valor reajustado para R$ 202 mil mensais. Outra empresa, a Ipanema Servios Gerais e Transportes, ganhou o contrato para servios de copa, cozinha, limpeza e conservao da residncia oficial do presidente da Cmara, Lus Eduardo Magalhes (PFL-BA), por R$ 3 mil mensais. A Cmara paga at mesmo o gs de cozinha consumido nos apartamentos funcionais dos deputados. ","Em 1996, a Cmara dos Deputados gastar, para a conservar e reformar os 420 apartamentos funcionais ocupados por deputados, o equivalente para comprar 68 apartamentos de quatro quartos em reas nobres de Braslia--- uma mdia de CR$2.400 mensais. Para os que no conseguem esses apartamentos, gasta-se um pouco mais com o auxlio-moradia de CR$3.000 mensais, o que totaliza R$ 2,98 milhes por ano. O deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) , que fez o levantamento dos gastos , acha esse valor muito alto e sugere que , pelo menos, os gastos de condomnio deviam ser pagos pelos deputados, e que o auxlio-moradia devia acompanhar os preos do mercado. Ele prprio quis recus-lo , mas no pde. Optou por do-lo a uma creche de Braslia. A compra de foges , refrigeradores, mquinas de lavar , reformas peridicas dos apartamentos , contratao de empresas de vigilncia, limpeza e zeladoria constituem outras despesas onerosas mantidas por dinheiro pblico. " po96ab09-c,"Dois meses depois de amargar a reprovao de 86% dos cariocas - que o consideraram omisso quando da enchente responsvel pela morte de 67 pessoas -, o governador Marcello Alencar conseguiu recuperar, em parte, a credibilidade junto ao eleitor. A pesquisa JB-Vox Populi feita nos dias 30 e 31 de maro com 697 moradores da capital apontou um ndice de 54% de avaliao positiva do governo do Rio de Janeiro. Sem dvida, uma recuperao, mas a administrao do governador teve muito mais conceito pssimo (18%) do que timo (4%). A maior parte dos eleitores ouvidos (32%) classificou o governo de regular positivo. Outros 18% consideraram bom; 17% optaram pela avaliao regular negativa; e 10% disseram que a administrao Marcello Alencar ruim. Procurado pelo JORNAL DO BRASIL, o governador no quis comentar o resultado da pesquisa. O diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra, chama a ateno para o fato de os eleitores da capital serem mais normalmente mais exigentes e crticos com os governantes do que os do interior. No Rio de Janeiro, ento, o resultado no de se estranhar, porque a cidade tem uma tradio oposicionista intensa. Marcello Alencar sofre oposio tanto direita quanto esquerda, analisa Coimbra. Na avaliao do socilogo, o carioca reage imediatamente a situaes extremas. O eleitor da capital foi decisivo para eleger Marcello Alencar no segundo turno. O atual governador teve 56% de votos na cidade do Rio, contra 32% de seu adversrio, o pedetista Anthony Garotinho. Mas, diante de uma calamidade como a enchente de fevereiro deste ano, o carioca protestou: em pesquisa feita tambm pelo Vox Populi para o JB, 86% consideraram regular, ruim ou pssimo o desempenho do governador na poca. E 78% disseram que no votariam em Marcello para prefeito. Entre os cariocas ouvidos, 68% garantiram que no votariam em um candidato apoiado por ele. Passada a indignao com a tra gdia causada pelas chuvas, parte do eleitorado carioca voltou a ver pontos positivos na administrao de Marcello. O governador tucano comeou o governo em alta junto ao governo federal. Logo no incio do ano passado, conseguiu do presidente Fernando Henrique Cardoso a promessa de investimentos no Rio, para obras como ampliao do Porto de Sepetiba e concluso do metr. Alm disso, conseguiu trazer para o Rio a primeira fbrica de caminhes da Volkswagen, o que lhe garantiu grande prestgio com a populao. Nem tudo, porm, foi bem no governo Marcello Alencar. A onda de seqestros, a partir de junho de 1995, levou os cariocas a cobrar uma polcia mais eficiente e menos corrupta. E as chuvas de fevereiro ajudaram a afundar a popularidade de Marcello, agora parcialmente recuperada. Hoje, Marcello equilibra-se em uma corda bamba. Teve a aprovao de pouco mais da metade dos entrevistados. Em uma comparao com os demais governadores tucanos, ficou bem atrs (54%) de Tasso Jereissati (76%) e Eduardo Azeredo (70%), mas saiu-se melhor do que Mrio Covas, de So Paulo, que teve 47% de avaliao positiva. ","A enchente responsvel pela morte de 67 pessoas levou o governador do Rio de Janeiro, Marcello Alencar, a ser reprovado por 86% dos cariocas. Passados dois meses, j obteve 54% de avaliao positiva. uma recuperao, mas que ainda convive com 18% de pssimo contra s 4% de timo. O diretor do Vox Populi , Marcos Coimbra, alerta para o fato de ser comum essa maior exigncia nas capitais , com nfase na cidade do Rio de Janeiro. O mesmo carioca que foi decisivo para lhe dar a vitria no segundo turno (56% contra 32% de Garotinho) foi intransigente depois da tragdia das chuvas. No incio de 1995, Alencar conseguiu do presidente Fernando Henrique promessa para investimentos no Rio: ampliao do Porto de Sepetiba e concluso do metr. Tambm trouxe a primeira fbrica de caminhes da Volkswagen , o que ampliou seu prestgio com a populao. Mas logo a onda de seqestros motivou a cobrana de uma polcia eficiente e menos corrupta. Em comparao com outros governadores tucanos, equilibra-se: 54% , contra 76% de Tasso Jereissati, 70% de Eduardo Azeredo . Mas cima de Covas , que teve 47%." in96jl02-a,"MOSCOU - Aps um sumio de quatro dias, o presidente da Rssia, Boris Yeltsin, reapareceu ontem para um pronunciamento de dois minutos pela televiso. A mensagem - que leu no teleprompter - era um pedido aos eleitores para que no deixem de votar amanh no segundo turno que ele e o comunista Guenadi Ziuganov vo disputar. Sei exatamente o que fazer, tenho fora, desejo e deciso. O que preciso agora de seu apoio, afirmou Yeltsin com a voz cansada. Vocs no devem ficar em casa. No votar uma opo contra a Rssia. Praticamente sem se mover, mexendo apenas os lbios, Yeltsin era uma sombra do candidato que h semanas danou rock durante um showmcio para jovens eleitores. Se ontem tranquilizou o eleitorado (j se especulava que sofrera outro ataque cardaco e morrera) mostrando que est vivo, o presidente, que busca a reeleio, deixou muitas dvidas sobre sua sade e sua capacidade para governar a Rssia por mais quatro anos. Gripe - A explicao oficial para os quatro dias de sumio, quando deixou de comparecer a cerimnias oficiais e abandonou a campanha, foi dada pelo primeiro-ministro Viktor Chernomirdin: Yeltsin estava com laringite. Mas Yeltsin no parecia rouco e, rapidamente, a verso oficial passou a ser que ele est muito gripado. Foi o bastante para a imprensa russa especular sobre o ocorrido nas dcadas de 70 e 80 com Leonid Brejnev, Yuri Andropov e Konstantin Chernenko, que permaneceram no Kremlin, apesar de incapacitados. Quem tambm se lembrou dos velhos tempos foi o adversrio Ziuganov. No vemos o Senhor Yeltsin h quatro dias. Assim, o comunista comeou um pronunciamento pela televiso, antes do reaparecimento do presidente. Quero ver o laudo oficial sobre o estado de sade do Senhor Yeltsin. Gostaria de saber o que est acontecendo. Por que todos os compromissos oficiais foram cancelados? No Parlamento, Stanislav Govorukhin, deputado nacionalista partidrio de Ziuganov, disse que Yeltsin parecia um zumbi durante sua fala pela televiso. Sumiu durante dias e o que nos mostraram hoje (ontem) foi uma mmia pintada e esto pedindo que votemos nela. Govorukhin exigiu do Kremlin o adiamento das eleies por duas, trs semanas ou at um ms para dar a Yeltsin a chance de se recuperar. Em sua opinio, os assessores de Yeltsin esto se comportando como geraes de funcionrios do Kremlin que escondem a verdade at que seja tarde demais. Vocs se lembram que quando Stalin morreu, s anunciaram trs dias depois. Leis - Com Yeltsin parecendo estar na ante-sala da UTI, no se sabe o que pode acontecer de hoje para amanh. A Constituio diz que se o presidente ficar doente, o primeiro-ministro assume e convoca nova eleio em trs meses. Mas a lei sobre as eleies presidenciais diz que, se um dos candidatos ao segundo turno se retirar, ser substitudo pelo terceiro colocado no primeiro turno. No caso o general Alexander Lebed, atual responsvel pela segurana nacional. Aos 65 anos, Boris Yeltsin j viveu mais do que a mdia de seus compatriotas. Cardaco desde 1987, o presidente russo nos ltimos 18 meses esteve internado pelo menos trs vezes: em dezembro de 1994, no fim de julho de 1995 e em outubro passado. Da primeira vez, Yeltsin passou duas semanas no hospital, oficialmente para extrao de tumor benigno no nariz. Mas em julho de 1995, aps nova internao, o Kremlin foi obrigado a informar que ele sofrera uma isquemia do miocrdio (falta de oxignio no msculo cardaco) e ficaria 15 dias se recuperando. Trs meses depois, novo ataque cardaco e 60 dias no hospital. Os problemas cardacos do presidente russo datam de novembro de 1987 e so agravados pela cirrose, causada pela bebida. Alm disso, Yeltsin sofre de depresso e insnia e tem problemas de coluna, desde um acidente em 1990 na Espanha.","A aparncia do candidato Boris Yeltsin, ontem, no seu pronunciamento de dois minutos pela televiso indicava um pssimo estado de sade. Aos 65 anos, cardaco, o presidente esteve internado pelo menos trs vezes nos ltimos 18 meses. O sumio de quatro dias antes do seu pronunciamento foi explorado pela imprensa e , certamente, um prato cheio para a oposio , principalmente para o concorrente Ziuganov. Alm disso , as explicaes oficiais truncadas, a respeito do afastamento de quatro dias, permitem vos ao passado russo , durante o apogeu do comunismo, quando se escondiam informaes sobre a situao de sade de ocupantes do poder. A Constituio do pas diz que , se o presidente adoecer, o primeiro-ministro assume e convoca nova eleio em trs meses. Mas a lei sobre as eleies presidenciais informa que, se um dos candidatos ao segundo turno se retirar, ser substitudo pelo que ficou em terceiro no primeiro turno. No caso, o general Alexander Lebed, responsvel pela segurana nacional. " in96fe29-b,"NAES UNIDAS - Decidido a capitalizar no terreno diplomtico a crise surgida com a derrubada de dois avies civis americanos, no ltimo sbado, o governo de Cuba - visado na tera-feira por uma declarao do Conselho de Segurana da ONU que lamentava a derrubada dos avies - pediu a democratizao do organismo multilateral e denunciou a ascendncia poltica que nele exercem as potncias atmicas, e em especial os Estados Unidos. Negociando a apresentao das razes cubanas na Assemblia Geral, e no no Conselho, Cuba jogou suas cartas na tese da defesa da soberania de seu espao areo e de suas guas territoriais, freqentemente invadidos por organizaes anticastristas sediadas nos EUA. O que no discutiremos com este organismo [o Conselho de Segurana] nem com especialistas de organizao alguma nosso direito e nosso dever de proteger a soberania de nosso pas, disse Robaina ao chegar a Nova Iorque e anunciar que seu governo deseja que a investigao encomendada pelo Conselho Organizao de Aviao Civil Internacional (OACI) se estenda a incurses anteriores dos anticastristas. Para o chanceler cubano, o Conselho est sendo transformado pelos EUA numa espcie de tribunal universal para julgar qualquer pas que desobedea a seus desgnios; tornou-se uma dependncia do Departamento de Estado. Adversidade - Uma circunstncia adversa, para os cubanos, foi o fato de o Conselho estar (at amanh), sob presidncia americana. Presidindo os trabalhos, a embaixadora americana, Madeleine Albright, no conseguiu na tera-feira a desejada resoluo condenando Cuba, mas manteve o Conselho reunido por 16 horas at extrair dele pelo menos a declarao mais branda - apesar do pedido cubano de que Robaina fosse ouvido primeiro. O Ministrio cubano das Relaes Exteriores tambm considerou que a atuao do Conselho de Segurana da ONU demonstra o preo que representa, para os pases pequenos, viver num mundo unipolar sob a hegemonia dos Estados Unidos, encarecendo a urgncia de trabalhar pela democratizao das Naes Unidas e para encontrar formas de tornar mais representativo e imparcial o Conselho de Segurana. O Conselho formado por 10 pases que nele tm assento rotativamente e pelas cinco potncias nucleares oficiais (EUA, Rssia, China, Frana e Gr-Bretanha), nicas com poder de veto. Os cubanos decidiram - no se sabe ainda em que nvel administrativo ou governamental - derrubar os dois Cessna com quatro tripulantes da organizao anticastrista Irmos pelo Resgate apesar de a chamada Conveno de Chicago, sobre segurana no espao areo, rezar que avies civis no podem ser alvo de ataques militares em circunstncia alguma. Mas o governo de Cuba disse ontem que necessrio definir bem o que um avio civil, pois com avies supostamente civis procedentes dos Estados Unidos se cometeram muitos crimes contra nosso pas. Em entrevista ontem noite, Robaina disse que Cuba j obteve o apoio do Movimento dos No-Alinhados - formado por 110 pases - para convocar a Assemblia Geral onde Cuba expor suas posies. O chanceler cubano tambm afirmou que os EUA sero responsabilizados por quaisquer novas provocao e violaes do espao areo cubano.","A derrubada de dois avies civis que saram de Miami e invadiram o territrio cubano levou o Conselho de Segurana da ONU a exigir explicaes do governo de Fidel. O governo cubano pediu que o Conselho se democratizasse e no fosse porta-voz somente das potncias nucleares, fundamentalmente dos Estados Unidos. Por infelicidade de Cuba, naquele momento o Conselho estava sendo presidido pela americana Madeleine Albright. . Mesmo assim , ela no conseguiu extrair uma condenao de Cuba. O embaixador cubano procurou negociar suas razes na Assemblia Geral e no no Conselho. Insistiu na tese do direito do seu pas em defender o seu espao areo. Diante do argumento de que a Conveno de Chicago probe qualquer ataque militar a avies civis, Cuba contraps dizendo que necessrio distinguir avio civil de avio supostamente civil. E acrescentou que vrias outras incurses tinham sido feitas por elementos anticastristas provindos de Miami. O chanceler cubano tambm que os EUA seriam responsabilizados por novas violaes. " td94fe27-02,"Informao por telefone tem bom mercado Com investimento inicial de US$ 20 mil em equipamentos, empresa pode comear operao no sistema 900 NELSON ROCCO Nova alternativa de negcio em So Paulo, a primeira empresa comeou em 91, o servio de teleinformaes pelo sistema 900 tem feito muito sucesso junto ao pblico. Alguns operadores afirmam receber mais de 100 mil ligaes por ms. H uma srie de tipos de servios em funcionamento (veja quadro ao lado), mas existem muitos setores inexplorados. Ivan Humberto Carrato, 38, dono da WCR do Brasil, empresa com 25 tipos de servios de teleinformaes, afirma que no incio, o sistema 900 ficou muito ligado ao sexo, mas agora as caractersticas esto mudando para a utilidade pblica. Uma alternativa para quem no trabalha com informaes, segundo ele, contrat-las de terceiros. Carrato diz que em abril ter novos servios, como condies de trnsito, meteorologia e cotao de preos de bens durveis. Para comear no sistema, preciso elaborar um projeto e encaminhar companhia telefnica do Estado onde est sediada a empresa. Aprovada a proposta, o interessado ter que ficar em uma fila de espera. Em So Paulo, segundo a Telesp (Telecomunicaes de So Paulo), h 160 propostas aguardando para entrar em operao. As linhas so alugadas pela companhia telefnica, que oferece uma central onde feita a triagem das ligaes e a transferncia para o prestador solicitado. O preo de cada ligao determinado pelo prprio empresrio e a companhia fica com um percentual. Segundo Tomas Burguete Santos, 30, dono da Surf Information, que oferece o servio Disque Surfe, a Telesp cobra 25% sobre o valor das ligaes. A cobrana feita pela companhia na conta telefnica de quem liga para o servio de informaes. As mensagens podem ser gravadas no disco rgido do computador ou transmitidas por um funcionrio. As gravaes podem ser feitas em um aparelho de som simples ou em um pequeno estdio. Neste caso, o prprio empresrio pode ser o operador. Se no tiver boa voz, melhor contratar um locutor. As mensagens ficam 24 horas no ar e so trocadas todo dia. Na Surf Information, o sistema operado por Santos, mas ele conta com 12 reprteres espalhados pelo litoral de So Paulo, que transmitem informaes sobre o clima, condies do mar para surf e outros esportes nuticos, e tambm das estradas. Ele diz que o faturamento da empresa est em US$ 8 mil mensais. necessrio ter no mnimo um computador tipo PC 386 ou 486, com placas de memria especficas para o sistema de audiotexto, o que permite a ligao de at 30 linhas. Com capital entre US$ 20 mil e US$ 25 mil d para comprar os equipamentos. Mrio Merson, 47, dono da Zeos Tec, alm de operar no ramo, fornece equipamentos e softwares para os concorrentes. Ele tem dez servios em funcionamento, como o Disque Tempo, que recebe mais de 100 mil ligaes por ms. A empresa pretende ampliar a atuao no sistema 900, com mais 36 opes at o final do semestre, incluindo informaes do mercado imobilirio e de material de construo. Segundo ele, preciso receber no mnimo 60 mil ligaes por ms para o negcio se tornar rentvel. Para divulgar o servio, deve-se investir em publicidade em rdio, TV e anncios classificados em jornais e revistas, dependendo do segmento de atuao.","Informao por telefone tem bom mercado Com investimento inicial de US$ 20 mil em equipamentos, empresa pode comear operao no sistema 900 NELSON ROCCO O servio de teleinformaes pelo sistema 900 tem sido uma alternativa de negcio bem sucedida junto ao pblico. Ivan Humberto Carrato, dono da WCR do Brasil, afirma que no incio predominava o interesse por sexo, mas os assuntos de utilidade pblica vm atraindo mais. Diz que em abril no leque de servios desponta: trnsito, meteorologia e cotao de preos de bens durveis. Para ingressar no sistema, preciso encaminhar um projeto companhia telefnica do Estado em que est sediada a empresa. As linhas so alugadas pela companhia telefnica , que dispor de uma central de triagem das ligaes e da transferncia para o prestador. O preo da ligao determinado pelo empresrio, e a companhia fica com um percentual. As mensagens , ou ficam gravadas no disco rgido, ou so transmitidas por um funcionrio. Exige-se , pelo menos , um computador PC386 ou 486 , com placas especficas para audiotexto. No total , os equipamentos custam entre US$ 20 mil a US$25 mil . Mrio Merson, dono da Zeos Tec, informa que , para o negcio ser rentvel, preciso receber pelo menos 60 mil ligaes por ms" di94ma15-05,"O enigma da inflao em URV GUSTAVO H. B. FRANCO Conta-se que no Alasca existem mais de 50 palavras diferentes para designar neve. A profuso da lngua reflete neste, como em outros casos, a riqueza da experincia cotidiana. No Brasil, da mesma forma, no so poucas as maneiras de se expressar um aumento generalizado nos preos. As pginas econmicas dos jornais trazem, regularmente, uma vasta coleo de misteriosas siglas, seno vejamos: IGP e IPA, ambos da FGV-RJ (cada qual nas suas verses DI e OG; bem como M, com seus respectivos decndios, e 10). H tambm o IPC-Fipe e o IPC-Ipead-BH, o INPC (RJ e SP) e o IPCA (RJ e SP), ambos do IBGE, todos apresentando variaes quadrissemanais, e ainda o INCC-FGV, o CUB, o IPC-FGV-Brasil, o INPC-Brasil e o IPCA-Brasil (tambm encontrados na verso E), o IRSM e o IPC-Dieese. Existem muitos outros, de cobertura regional ou setorial, e tambm diversas unidades fiscais estaduais e municipais. Ainda que se possa justificar esta sopa de letras pelo fato de que cada qual apurado de acordo com metodologia prpria, procurando enfocar diferentes ngulos do fenmeno inflacionrio, inevitvel o desespero do cidado comum que, ao observar este verdadeiro lxico em javans e, em especial, as discrepncias entre os resultados, no pode deixar de pensar que a vida poderia ser mais simples e que estamos, talvez, desperdiando energia demais na coexistncia com a inflao. Todavia, no chega a ser surpreendente este interesse deformado pelos ndices de preos e sua hermtica tecnologia. Advinhar a inflao mais que simplesmente um frvolo esporte nacional: boa parte das aplicaes financeiras feita a partir de taxas nominais de juros e, portanto, o incentivo a acertar a inflao se torna monumental. No por outro motivo que, hoje em dia, pelo menos 30 instituies financeiras e pelo menos uma dzia de consultores privados montaram gigantescos departamentos de acompanhamento de ndices de preos, pagando fortunas pelos servios de especialistas de primeira linha, muitos com passagem pelo governo ou pelos prprios institutos de pesquisa e contando com extraordinrios recursos informticos. Muitos desses produzem ndices de preos em bases dirias, cobrindo diversas capitais, conseguindo antecipar, por vezes com incrvel preciso, o comportamento dos principais ndices e tambm, com frequncia, logrando identificar erros dos prprios institutos. As reputaes assim construdas so de tal ordem que as previses de alguns alteram substancialmente as expectativas e os negcios nos mercados financeiros. Enfim, trata-se de uma verdadeira indstria, essa da previso de inflao, da qual muitos derivam o seu sustento e outros tantos notvel prosperidade. Certamente, no por acidente ou idiossincrasia, vrios desses revelam evidente preocupao com o fim da inflao. Muitos no sabem fazer outra coisa e, secreta ou mesmo abertamente, torcem para as coisas darem errado. A criao da URV, primeira vista, seria apenas um a mais desses verbetes. Mas a realidade foi bem outra. A URV veio para simplificar uma das atividades mais conspcuas da vida desse pas: a utilizao de um indexador. Conceitualmente, foi definida como uma moeda de conta predominantemente contratual, com o objetivo adicional de permitir uma transio suave para nveis reduzidos de inflao, desintoxicando o organismo econmico dos vcios da inflao. Tal como a herona passa a compor o equilbrio orgnico de um dependente, a inflao penetra nas relaes econmicas, desfigurando preos e relaes contratuais, transferindo riqueza, de tal sorte que a sbita privao da droga provoca privaes de natureza imprevisvel. No h dvida que viciados em estgio avanado precisam de um tratamento cuidadoso a gradualizado. Para isso, a URV. Misteriosa ou no, A URV pegou. A credibilidade da URV incontestvel, bem como a percepo de que se trata de um estgio transicional para nos trazer de volta a uma realidade econmica h muito perdida. Sua adoo no ocorreu por voluntarismo ou pela disposio patritica de alguns. Os agentes econmicos a utilizam porque de seu prprio interesse, este sendo, possivelmente, um dos grandes segredos deste programa: oferecer sociedade, no mbito do esforo de estabilizao, mecanismos consistentes com os incentivos econmicos naturais em uma economia de mercado. Naturalmente, a partir da introduo da URV como moeda de conta surgiu, de imediato, a questo da inflao em URV. Que quer dizer isso? Tendo em vista que a URV evolui aproximadamente de acordo com uma mdia de trs ndices de inflao, no seria uma redundncia a inflao em URV? Ter significado econmico? Ser uma prvia da inflao em real? Vrios equvocos tm sido cometidos ao se tentar, precipitadamente, entender todas as nuances dessa matria. Certamente, no se deve dizer, de um preo estabelecido em cruzeiros reais, que, no momento de um aumento efetuado, digamos, quinzenalmente, houve aumento em URV. Este mesmo preo, convertido em URV dia-a-dia, mostra os j populares picos e vales ao longo do ciclo de reajuste. Pode haver mesmo deflao em URV, em se comparando preos mdios com URVs mdias. Os iniciados sabem que os resultados dos ndices considerados para a fixao da URV produzem, conjuntamente, um indicador que poderia, com certa liberalidade, ser interpretado como a mdia da variao dos preos em 30 dias, centrados no dia 4 de cada ms. Assim sendo, comparando-se a evoluo mdia dos preos no perodo atual com a variao mensal projetada pelos valores da URV, obtm-se percentuais diferentes, dos quais resulta a inflao em URV. Face metodologia empregada, a inflao em URV est correlacionada com a acelerao dos preos em cruzeiros reais. Essa correlao s seria evitada se, mediante bola de cristal, os tcnicos que definem a URV soubessem exatamente a inflao no perodo presente. tentadora, no obstante, a interpretao de que a inflao em URV reflete o que h por sobre a chamada inrcia inflacionria. Seria um indicador das verdadeiras presses latentes sobre os preos e, portanto, um indicador da inflao em real, caso fossem eliminadas as presses fiscais potenciais que emergem quando a inflao cai para nveis baixos e os mecanismos de represso fiscal, to amplamente utilizados no passado, se tornam ineficazes. razovel imaginar que a inflao em URV deve, em alguma medida, expressar coisas desse tipo, mas no se deve perder de vista que os fatores estatsticos anteriormente aludidos so de grande importncia. Os nmeros para a inflao em URV desde janeiro de 1993, reproduzidos na tabela, foram calculados pelos prprios institutos de pesquisa, mediante solicitao do Banco Central. A partir do ms de abril, esses ndices sero publicados regularmente pelos respectivos institutos e devero servir para que a sociedade se oriente durante a transio que nos levar ao real. Os nmeros no so surpreendentes. A mdia mensal da inflao em URV nos ltimos 12 meses esteve entre 0,51% e 1,50%, ou seja, entre 6,3% e 19,5% em bases anuais. Nada mal se chegarmos a isto depois de 1 de julho. evidente, contudo, que, em julho, com a chegada do real, altera-se substancialmente o comportamento dos preos na nova moeda. No sero mais to importantes as vicissitudes estatsticas na determinao da inflao em real, se medida de modo a que as bases de comparao sejam compostas de preos em URV. Os determinantes da inflao estaro ligados aos verdadeiros fundamentos do programa de estabilizao, aos quais o governo atribuiu enorme nfase desde o comeo: o equilbrio fiscal e a solidez das instituies e da poltica monetria. A inflao ir experimentar uma queda extraordinria e, nunca demais relembrar, sem choques, confiscos, congelamentos, tabelamentos e tablitas, mas atravs de um processo transparente de adaptao, mobilizando a sociedade atravs de um debate aberto e democrtico acerca dos caminhos a seguir. GUSTAVO H. B. FRANCO, 36, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil. Foi secretrio-adjunto de Poltica Econmica do Ministrio da Fazenda (governo Itamar Franco).","O enigma da inflao em URV GUSTAVO H.B. FRANCO No Alasca consta haver 50 palavras para designar neve , o que demonstra a relao entre as particularidades da realidade e a expresso lingstica. No Brasil , o mesmo se d em relao maneira de indicar aumento generalizado de preos. Vejamos: IGP , IPA , IPC-Fipe, IPC-Ipead-BH, INPC (RJ e SP) IPCA (RJ e SP) e outras siglas. Ainda que essa multiplicidade de designaes se justifiquem pela variao de metodologias, o desespero do cidado no iniciado o leva a pensar que a vida poderia ser mais simples. Na verdade, imaginar a inflao no um esporte inconseqente: muitas aplicaes financeiras so feitas a partir de taxas nominais de juros , o que torna desmedido o esforo para acertar a inflao. No outra a razo de haver , hoje, por volta de 30 instituies financeiras acompanhando o ndice de preos e cobrando fortunas por isso. Muitas o fazem diariamente, at com razovel preciso, chegando a corrigir os erros dos institutos. Muitas instituies at se preocupam com o fim da inflao , fonte do seu ganha-po. A URV , primeira vista, seria apenas mais uma sigla. No entanto, ela veio para simplificar a utilizao de um indexador, como uma moeda predominantemente de contratos , tambm com o objetivo de temperar a passagem para reduzir a inflao. O papel da URV assemelha-se ao da droga para o viciado. Com uma inflao elevada , ela constitui um amenizador. O fato pegou. Os agentes econmicos a utilizam porque do seu interesse: oferecer sociedade , na busca de estabilizao, mecanismos consistentes com os incentivos econmicos naturais em um economia de mercado. O que significa calcular inflao em URV? Vrios enganos tm sido cometidos , ao se percorrer os meandros da questo. Os iniciados sabem que os ndices considerados para a fixao da URV levam a um indicador , grosso modo, equivalente mdia de variao dos preos em 30 dias. Diante da metodologia empregada, a inflao em URV se correlaciona com a acelerao dos preos, o que seria evitado se os tcnicos identificassem a inflao no presente. convidativa, porm, a interpretao de que a inflao em URV retrata o que h por cima da inrcia inflacionria . Seria um indicador das verdadeiras presses subjacentes sobre os preos e, por isso, um indicador da inflao em real. Os nmeros para a inflao em URV desde janeiro de 1993 foram calculados pelos prprios institutos de pesquisa. A partir de abril, sero publicados regularmente para a orientao da sociedade durante a transio. Os nmeros no causam surpresa. A mdia mensal dos ltimos 12 meses variou entre 0,51% e 1,50%, ou seja, entre 6,3% e 19,5% em bases anuais. evidente, no entanto, a alterao substancial dos preos com a chegada do real. A inflao sofrer uma grande queda e sem choques, confiscos, congelamentos, tabelamentos, etc. " mu94ab09-a,"Em maio do ano passado, assistentes sociais de Monticello, Kentucky (EUA), descobriram que o garotinho Daniel Reynolds apresentava hematomas. Em junho os mdicos disseram que a perna direita do garoto, que estava quebrada, parecia ter sido torcida at quebrar. Daniel foi colocado sob os cuidados de uma famlia adotiva temporria. Em agosto, com o consentimento dos assistentes sociais, Daniel voltou a viver com a me. E no incio de dezembro, segundo a polcia e os promotores, Daniel morreu de um soco na cabea. Quando voc v uma coisa como essas, fica doente, diz o promotor Robert Bertram, que acusou o padrasto pelo assassinato e a me e quatro assistentes sociais por cumplicidade na morte do menino de 22 meses de idade. Os casos de abuso e maus-tratos de crianas continuam a chegar com persistncia desalentadora -cerca de 3 milhes de casos em 1993, segundo um relatrio entregue do Comit Nacional de Preveno do Abuso Infantil (NCPCA). O relatrio inclui os casos de 1.300 crianas que sofreram maus-tratos e negligncia que levaram morte. Algumas dessas mortes poderiam ter sido impedidas. De cada dez crianas que morreram, pelo menos quatro eram conhecidas dos funcionrios dos servios de proteo infantil. Muitas delas, como Daniel, foram retiradas de suas casas, mas depois enviadas de volta. A crise americana de abuso infantil cresce quando as crianas nascem no mesmo ambiente de pobreza, dependncia de drogas e abuso em que seus pais foram criados. Ela cresce quando organizaes com financiamento insuficiente enviam assistentes sociais com carga excessiva de trabalho a lares infelizes e pobres, para salvar famlias. este ciclo de maus-tratos e falta de cuidados -os 33% dos relatrios que citam reincidentes que j maltrataram crianas outras vezes- que suscitam o maior ultraje e indignao. Se eu estuprar ou espancar a criana do vizinho, no so assistentes sociais que cuidam de meu caso - a polcia, diz Patrick Murphy, cujo escritrio de guardio pblico do condado de Cook (Illinois) representa crianas que sofreram maus-tratos. Mas, se eu estuprar minha prpria filha ou espancar meu prprio filho, os assistentes sociais viro conversar comigo sobre como cumpro meu papel de pai ou como minha me cuidou de mim. E as estatsticas mais recentes sobre abuso de crianas talvez reflitam apenas 50% dos casos que realmente acontecem, diz Philip McClain, dos Centros para o Controle de Enfermidades. um problema gravssimo. Problemas insolveis Desde que um estudo feito em 1962 identificou pela primeira vez a Sndrome da Criana Espancada, o plano de combate ao abuso infantil foi modificado repetidas vezes. No final dos anos 70 a assistente social tirava a criana do lar em que era maltratada, diz David Mitchell, juiz da Corte Juvenil de Baltimore, por onde passam centenas de casos de abuso todos os anos. Nos anos 80 chegaram os advogados e os grupos de defesa, contestando aquela posio. Nos anos 90, diz ele, passamos a adotar o 'modelo dos direitos dos pais', priorizando sempre que possvel a opo de deixar as crianas com seus pais. Mas, segundo Mitchell, essa tica est mudando, medida que se torna mais claro que alguns pais talvez representem problemas insolveis. Quer se trate de abuso fsico, sexual, emocional ou falta de cuidados, muitos casos de destaque assombram a memria do pblico. As 19 crianas de Chicago encontradas num apartamento srdido. As meninas da famlia Schoo, cujos pais as deixaram sozinhas em casa enquanto tiravam frias no Mxico. Lisa Steinberg, de Nova York, espancada por seu pai adotivo at morrer, aos seis anos de idade, de danos cerebrais. por isso que o pblico se sente revoltado, diz Joy Byers, do NCPCA. A verdade que ele parece ver as mesmas histrias se repetindo sempre. ","Os casos de abusos e maus-tratos contra crianas nos Estados Unidos espantam pela quantidade e qualidade. Cerca de 3 milhes em 1993, segundo um relatrio entre ao Comit Nacional de Preveno do Abuso Infantil. Em maio do ano passado, em Kentucky , assistentes sociais descobriram hematomas num garotinho. Em junho, mdicos notaram que ele estava com a perna quebrada e que parecia ter sido torcida at quebrar. Em dezembro , segundo a polcia e promotores , ele morreu de um soco na cabea. Muitos casos poderiam ter sido evitados. Muitos foram tiradas dos pais, mas depois devolvidas. O ambiente de pobreza , de dependncia de drogas e de abusos dos prprios pais potencializa as ocorrncias .Tambm organizaes com financiamento insuficiente mantm funcionrios com excesso de trabalho , e o resultado previsvel. Estatsticas mais recentes sobre abuso infantil talvez no reflitam nem 50% dos casos. Desde um estudo de 1962, quando se identificou a Sndrome da Criana Espancada, os critrios de combate a abusos se modificaram vrias vezes. De incio, retirava-se a criana da famlia; depois , advogados e grupos de defesa contestaram; em seguida, passou-se a defender o direito dos pais , sempre que possvel. Enquanto isso, o pblico continua a assistir a casos escabrosos e se revoltar . " di94ju19-08,"Lies de Cartagena JORGE CASTAEDA Cartagena das ndias foi um lugar apropriado para a realizao da 4 Cpula dos Chefes de Estado e de Governo Ibero-americanos, encerrada na ltima quinta-feira, dia 16. Seu simbolismo resplandece na cidade amuralhada, jia da colnia, nos hotis modernos de origem financeira duvidosa, no mar do Caribe, povoado de navios repletos de turistas de meia-idade e do meio-oeste americano. No outro lado do morro, a outra cidade: negra, pobre, intransitvel noite ou debaixo de chuva. Os presidentes perceberam sem dvida que nada na Amrica Latina est isento de contradies, que tudo que vive e se move no continente est possudo como Sierva Maria, a jovem de Cartagena apaixonada e exorcizada do ltimo romance de Garcia Marquez por mltiplos demnios: os da imaginao e os da prpria realidade. Presa entre a democracia e a desigualdade, entre a abertura econmica e a necessidade de industrializar-se, a Amrica Latina vive momentos de grande alento e de conscincia cada vez mais aguda da gravidade de seus problemas. Primeiro, o lado bom. A democracia representativa deita razes na Amrica Latina. Nada eterno nem seguro. J surgiram conjunturas anlogas que demoraram pouco para desvanecer-se, mas no se pode negar as evidncias. Com as excees lamentveis e diferentes entre si do Haiti, de Cuba e do Mxico, a Amrica Latina hoje desfruta o encontro mais longo que j teve na histria com a democracia representativa. Em todo o hemisfrio prevalece a liberdade de imprensa, de manifestao e de organizao. A sociedade civil floresce, os Estados se vem obrigados a prestar contas e a internacionalizao em temas to diversos quando o meio ambiente e os direitos humanos refora vigorosos processos internos de mobilizao cidad. Grande novidade: pela primeira vez governantes corruptos so legal e institucionalmente tirados do poder. Um deles vai priso, outro perde o cargo e talvez sua fortuna. Muitos assistem com assombro e nervosismo. Existe tambm outro motivo de satisfao, menos exaltante porm igualmente crucial. Trata-se, evidentemente, do fim do perodo de ajuste econmico e do reatamento dos fluxos de capital para a Amrica Latina. O ajuste foi, sem dvida, pavoroso. Fez-se pelo lado dos gastos, no das receitas, em recesso e no em crescimento, exportando capitais via a fuga destes e via juros da dvida externa, em lugar de ser realizado captando-se dinheiro poupado vindo do exterior. Os estragos so visveis: mais de dez anos de estagnao, redues impiedosas dos gastos sociais, infra-estrutura desintegrada. Os nmeros falam por si: com exceo do Chile, da Colmbia, do Uruguai e da Costa Rica, a renda per cpita hoje, em dlares constantes, inferior ou igual de 1980 em todos os outros pases. Mas o pior j passou. Na maioria dos casos, a inflao foi controlada. As finanas pblicas foram saneadas. Em alguns pases, a dvida externa diminuiu, inclusive em termos reais, e em duas naes a reconverso microeconmica foi levada a cabo com sucesso. Graas em parte ao ajuste consumado, em parte aos menores rendimentos reportados pelas inverses nos pases industrializados, a regio voltou a receber recursos do exterior. J era tempo: ningum entendia como naes em via de desenvolvimento poderiam crescer sem dinheiro alheio. Agora h financiamento abundante e barato. O uso que dele for feito outro problema, mas pela primeira vez em 15 anos a Amrica Latina est importando capital. Se h inquestionveis pontos positivos, as coisas comeam a se complicar. O capital chega, o ajuste se consolidou, mas bem ou mal o crescimento no vem (Mxico, Bolvia, Venezuela, Amrica Central), ou vem com uma desigualdade crescente e intolervel (Brasil, Argentina, Colmbia, Chile). Pior ainda, uma das condies do ajuste a liberalizao comercial se transforma numa dificuldade aparente para a etapa seguinte: o crescimento. A ausncia deste ltimo, ou suas prprias caractersticas, acentua a desigualdade lacerante do continente, que por sua vez solapa a viabilidade destas precrias democracias. A abertura das fronteiras e a imposio das leis das vantagens comparativas surtiram alguns efeitos indubitavelmente benficos. Um teto foi imposto inflao: os preos dos bens e servios produzidos localmente no podem ultrapassar os preos dos bens e servios procedentes do exterior. Algumas empresas, incentivadas pela concorrncia estrangeira e beneficiadas por insumos mais competitivos, conquistaram novos mercados (embora o pas que menos liberalizou seu comrcio exterior, o Brasil, o que realizou o ajuste microeconmico mais bem-sucedido). E o imposto regressivo que era o protecionismo se abateu. Mas a moeda tem seu reverso. A regio est se desindustrializando, centenas de milhares de latino-americanos se no forem milhes perdem seus empregos, e o hemisfrio continua procurando, sem encontrar, os nichos nos quais seus recursos e fatores lhe permitam ser competitivo. Ningum com olhos abertos e conscincia tranquila pode manter-se indiferente diante do sentido da citada busca, aparentemente infrutfera, com o inegvel boom do narcotrfico em quase todos os pases ao sul do rio Bravo. A regio se aventurou na destruio de boa parte de suas atividades produtivas anteriores sem dvida protegidas e ineficientes sem saber quanto tempo levaria para encontrar novos nichos, nem quais estes seriam. No existe nada de graa no mundo. A abertura dos mercados de consumo de classe mdia na Amrica Latina onda de produtos provenientes dos Estados Unidos encerra suas prprias contradies. Alguns dos que antes trabalhavam ou investiam na indstria ou na agricultura ento protegidas agora investem ou trabalham em empresas concorrentes. Outros integram os diversos cartis do narcotrfico (Cali, Ciudad Jurez) ou foram trabalhar em... Los Angeles. Se as exportaes latino-americanas no crescerem de forma durvel num ritmo elevado e se a poupana interna no aumentar, as economias latino-americanas no crescero. Se no crescerem, ser impossvel reduzir a abismal desigualdade latino-americana, embora o crescimento no constitua condio suficiente para isso. Mas sem comear a reduzir a injustia ancestral vigente em pases como o Brasil, o Mxico e o Peru e, mais recentemente, na Venezuela, Argentina e no Chile, as democracias no iro sobreviver. No se deve confundir lua de mel com estabilidade conjugal. A sada da ditadura (no Chile ou no Uruguai), o triunfo sobre a hiperinflao (na Argentina ou no Peru), ou a luta contra a corrupo e o vigor da sociedade civil (Brasil e Venezuela) no so eternos antdotos contra a desigualdade. A democracia representativa no vivel quando o fosso que separa maioria pobre e minoria rica aumenta a cada dia. Todos os setores marginalizados, cujas aspiraes foram postergadas por tempo indefinido, aproveitam a liberdade que a democracia lhes proporciona para expressar suas exigncias. Aceitam uma demora limitada, devido necessidade de salvaguardar essa democracia incipiente, ou diante do imperativo de derrotar a hiperinflao, mas no aceitam esperar para sempre. A combinao explosiva: uma pobreza enorme, o sufrgio universal e a ausncia de perspectivas (o efeito tnel de Albert O. Hirschman) desembocam sempre na violncia e na instabilidade. J proliferam os indcios destes fenmenos: a revolta indgena em Chiapas, o ressurgimento do movimento operrio e dos professores no Chile, a revolta em Santiago del Estero, na Argentina, no final do ano passado, e as duras greves dos trabalhadores na indstria eletrnica na Terra do Fogo. Nenhum destes brotos de agitao social constituem ato alarmante por si s. No obstante, refletem processos de fundo que recorrem na regio inteira. Assim, os chefes de governo e de Estado tm motivos para reflexo. Seus pases e seus povos no vivem tranquilos; seus governantes, por isso, no podem dormir sossegados. Os demnios que perambulam pelas vielas antigas da velha cidade colonial no habitam apenas as maravilhosas pginas do filho prdigo do litoral colombiano. Perturbam o sono e se apossam das almas de milhes de latino-americanos, que ainda no encontraram o exorcista capaz de acabar com nossos males, antes que eles acabem conosco. JORGE CASTAEDA, 39, socilogo e economista mexicano, professor visitante da Universidade de Princeton (EUA) e catedrtico da Universidade Autnoma do Mxico (Unam). Traduo de Clara Allain","Lies de Cartagena JORGE CASTAEDA Cartagena das ndias foi o lugar adequado para a realizao da 4 Cpula dos Chefes de Estado e de Governo Ibero-americanos. Cidade amuralhada, preciosidade colonial, com hotis modernos construdos com dinheiro duvidoso, navios repletos de turistas. Em contraposio, a outra cidade negra, pobre , intransitvel noite ou sob chuva. Para os presidentes era o carto-postal das contradies da Amrica Latina, que vive entre a democracia e a desigualdade, entre a abertura econmica e o anseio de industrializar-se e, portanto , entre o entusiasmo e a conscincia de seus graves problemas . O lado bom o florescimento da democracia , cujas evidncias, embora no eternas, no podem ser negadas. Com as excees do Haiti, Cuba e do Mxico sob formas diferentes, vive seu mais longo perodo de representao democrtica. Em todo o hemisfrio , prevalece a imprensa livre e o direito de manifestao e de organizao. Os Estados so obrigados a prestar contas , e a internacionalizao em temas como meio ambiente, direitos humanos substanciam processos de cidadania. E ainda uma novidade: j ocorre a cassao de governantes corruptos , por meios legais. Tambm se concretizam o ajuste econmico e a entrada de capital na Amrica Latina. fato que o ajuste foi horroroso: deu-se com gastos e no com receitas , nem crescimento, mas com a fuga de capitais e de pagamento de juros . O interregno de mais de dez anos deixou fortes estragos na produo , no investimento social e na infra-estrutura. Mas o pior j passou. Controlou-se a inflao e sanearam-se as finanas pblicas. O retorno de capital externo satisfez o estranhamento dos que achavam impossvel o desenvolvimento sem dinheiro de fora. O crescimento, porm, no veio na mesma onda ( por exemplo, no Mxico, Bolvia, Venezuela, Amrica Central) , ou veio acompanhado de desigualdade crescente ( no Brasil, Argentina, Colmbia, Chile). A abertura de mercados e a imposio das leis de vantagens comparativas trouxeram alguns efeitos , mas com a inconvenincia da desindustrializao e do desemprego. A abertura dos mercados incentiva a onda de consumo de produtos norte-americanos , esfriando nosso processo produtivo. E , se no houver um crescimento durvel e crescente , e se a poupana interna no aumentar, impossvel reduzir o fosso social no hemisfrio; garantir a solidez das nossas democracias. A combinao de uma pobreza enorme, do sufrgio universal e da ausncia de perspectivas s pode desencadear violncia e instabilidade. A permanecer esse quadro, os chefes de governo tm muito com que preocupar-se. Se seus povos no esto satisfeitos, eles no podem dormir tranqilos." br94mr20-44,"Preos sobem sob controle de oligoplios Eles esto em todos os setores da economia e tm poder para garantir aumentos reais acima da inflao MARISTELA MAFEI Da Reportagem Local Jorge Benjor j disse que canja de galinha no faz mal a ningum. Mas o caldo, com certeza, faz. O preo do produto ficou 34,67% acima da variao do dlar comercial no ano passado. O que fez o caldo de galinha, junto com o leite, maionese e leo de soja, estar bem acima da inflao medida pela Fipe (Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas) em 93? E ainda o sorvete, margarina, presunto e salame; cigarro, cerveja e refrigerante; sabonete, creme dental e sabo em p? Antes que se arrisque uma resposta, um alerta: eles tm algo em comum. Todos pertencem a setores onde um nmero reduzido de fabricantes domina percentual que varia de 48% a 98% do mercado, e vendem seus produtos para uma infinidade de compradores. So conhecidos, por isso, pelo nome de oligoplios, e atingem todos os segmentos da economia. Da lista dos oligoplios com reajustes elevados consta tambm os fabricantes de antiinfecciosos, analgsicos e medicamentos para o sistema cardiovascular; fsforos e lmpadas; automveis e latas de alumnio; ao e vidro plano. Extensa, trata-se de uma lista desconhecida. Os que deveriam t-la em mos, como o secretrio especial de Poltica de Preos, Jos Milton Dallari, e o superintende da Sunab, Celsius Lodder, desconversam quando a imprensa a solicita. No o caso divulg-la, isso no contribuiria para nada, diz Lodder. As empresas citadas poderiam alegar constrangimento ilegal e entrar com ao na Justia, afirma Dallari. O fato de um nmero reduzido de empresas dominar o mercado de um determinado produto no significa necessariamente que elas combinam entre si patamar de preo abusivo. Quando isso acontece, o oligoplio torna-se cartel. Como muito mais fcil combinar e impor preos quando so poucos os que dominam o mercado, geralmente essa prtica a-tica acaba se concentrando nos oligoplios. Eles conseguem sustentar preos para seus produtos mesmo em pocas de recesso, atravs do controle da oferta. No caso da lista da Fipe, por exemplo, o item alimentos industrializados, no conjunto, apresentou queda de preos de 2,32% em 93. As baixas mais expressivas foram nos setores onde as participaes de mercado de cada fornecedor no chega a 10%, como o caso do macarro e do fub. Galinha e presunto No caso do caldo de galinha, 92% do fornecimento do produto feito pela Nestl (linha Maggi) e Refinaes de Milho Brasil RMB, (linha Knorr). Os supermercados dizem que funciona assim: em um determinado ms a RMB solta a tabela primeiro, e na sequncia vem a Nestl, com percentual pouco abaixo. No ms seguinte, a ordem se inverte. Essa uma prtica comum. Acontece muito de o segundo ou terceiro maior fabricante esperar o lder soltar a tabela. A partir daquele patamar, os outros vm na sequncia. um sinal para o mercado que aquele patamar de preo foi aceito, conseguiu pegar, diz um executivo de um oligoplio que pediu para no ser identificado. Pelo mesmo critrio da Fipe, o presunto subiu outros 24,27% reais em 93. Seu primo-irmo salame foi ainda mais longe: alta de 36,74%. Juntas, Sadia e Perdigo respondem pelo abastecimento de 68% da produo de presunto e 51% pela de salame. Leite e leo de soja No setor leiteiro, tm-se um oligoplio irmo-gmeo de um oligopsnio. A industrializao do leite pausterizado era relativamente pulverizada at o incio da dcada de 90. Com a entrada agressiva da multinacional italiana Parmalat no mercado, e a fuso das empresas Leco, Vigor e Flor da Nata em uma s (grupo Mansur), perto de 85% do abastecimento do produto na Grande So Paulo ficou, quatro anos depois, em mos de trs empresas. Alm das duas j citadas, domina o sistema a Cooperativa Central de Laticnio (Paulista). So Paulo ficou, assim, com um oligoplio no setor de abastecimento. Na ponta da captao do produto, tambm houve concentrao de empresas que dominam o mercado. A nvel de Brasil, formou-se um oligopsnico, com poucos compradores para uma matria-prima de mltiplos produtores. Atualmente, Nestl, Parmalat, Paulista, Itamb e Mansur compram 15 milhes do total de 20 milhes de litros de leite captados diariamente pelos laticnios. Pela Fipe, o preo do leite tipo C subiu 20,13% em termos reais em 93. O setor alega que est recuperando margens depois de 45 anos de tabelamento. O leo de soja outro exemplo de oligopolizao recente. Hoje os grupos Ceval (Soya), Cargill (Liza) e Sadia controlam 48% do abastecimento interno, com preos que subiram, acima da inflao, 18% no ano passado. Cerveja e refrigerantes exceo da Pepsi-Cola, que no atua no setor de bebidas alclicas, os fabricantes de cerveja e refrigerantes no Brasil formam basicamente o mesmo grupo. Juntas, Brahma, Antarctica e Kaiser (onde a Coca-Cola detm parte do controle acionrio) respondem por 94% do fornecimento de cerveja e 77,5% do de refrigerante (trocando-se Kaiser por Coca). Em 93, houve alta real de 1,7% nos preos da cerveja e 16,01% nos de refrigerantes. Mesmo perdendo mercado para marcas menores, os lderes sustentaram preos. O setor de cerveja esteve em meio a uma polmica que apontou suspeita de concorrncia desleal, de um lado, e indcios de unio dos lderes de mercado para derrubar marcas menores, de outro. A Schincariol, marca que conquistou 4,9% do mercado antes dividido pela Brahma e pela Antarctica, foi alvo de vrias denncias junto Secretaria da Fazenda do Estado de So Paulo por prtica de sonegao do ICMS. Blitz da Coordenadoria de Assistncia Tcnica (CAT) na sede da empresa em Itu (SP) no encontrou irregularidades, segundo informou o governo estadual. A Folha apurou, na ocasio, que a denncia havia surgido por presses da Brahma e da Antarctica que no quiseram se pronunciar sobre o assunto. Creme dental A Anakol, dona da Kolynos, a Colgate-Palmolive, da marca Colgate, e a Gessy Lever, com o Signal e a Aim, respondem por 100% da pasta de dente consumida no pas. O preo real do produto subiu 2,15%. J a margarina, um mercado abastecido em 80% pela Gessy Lever, Sanbra, Sadia e Ceval, teve acrscimo real de 7,30%. Sabo em p O setor tem um nome expressivo: Gessy Lever, dona de 74% do mercado de sabo em p e de 62% dos sabonetes. O sabo em p subiu 3,36% acima do dlar e, segundo a Lever, ainda assim custa menos aqui do que na Europa. A alta do sabonete foi na mesma faixa: 3,72%. Cigarros e sorvetes Juntas, Souza Cruz e Phillips Morris respondem por 98% da produo de cigarros no pas. Tabelas com os novos reajustes chegam quinzenalmente ao varejo, em dias e percentuais prximos. Na ltima quinta-feira, ambas anunciaram reduo de prazo no recebimento de suas faturas ao comrcio, como modo de compensar reduo de prazo para pagamento de impostos. Pelo estudo da Fipe, o produto ficou 8,46% acima da variao do dlar comercial em 93. O sorvete outro exemplo de expressiva concentrao de fornecedores. A Kibon, marca da Phillip Morris, e a Gelato/Yopa, da Nestl, abastecem 96% do mercado no pas. Em 93 o consumo de sorvete no pas recuou, levando os dois grupos a realizarem mudanas internas e de reorganizao societria. Os preos, no entanto, tiveram alta real de 34,28%. s vezes, produtos oligopolizados registram expressivas baixas de preos. Em 93, o preo do leite em p caiu 15,45% e o do leite condensado, outros 5,47%. Em ambos os casos, a Nestl, que detinha mais de 50% do mercado para esses produtos, passou a enfrentar a concorrncia agressiva da Parmalat, at ento ausente desses segmentos. Mas analistas do setor observam que, posteriormente, um furador de oligoplios poder enquadrar seus preos pelo pico.","Preos sobem sob controle de oligoplios Eles esto em todos os setores da economia e tm poder para garantir aumentos reais acima da inflao. MARISTELA MAFEI O que fez o caldo de galinha, o leite, maionese e leo de soja estarem acima da inflao em 93? Acompanhados do sorvete, margarina, presunto, salame, cigarro, cerveja, refrigerante, sabonete, creme dental e sabo em p? Todos pertencem a poucos fabricantes, que vendem para muitos compradores (oligoplios) . Os oligoplios dominam de 48% a 98% do mercado. Nesta lista , esto os fabricantes de antiinfecciosos, analgsicos e medicamentos para o sistema cardiovascular, fsforos, lmpadas, automveis , latas de alumnio, ao e vidro plano. A pequena quantidade dos que dominam o mercado facilita a prtica desonesta de sustentar preos pelo controle da oferta. Na lista sob controle da Fipe, alimentos industrializados apresentou queda de 2,32% em 93. Queda mais expressiva aconteceu com o macarro e fub , onde a participao de cada fornecedor no chega a 10% O contrrio acontece com o caldo de galinha , cujo fornecimento (98%) feito pela Nestl e pela Refinaes de Milho Brasil; com o presunto e salame , monopolizados pela Sadia e Perdigo. Todos esses produtos tiveram forte elevao de preos. No setor leiteiro, com a entrada da multinacional Parmalat e a conseqente fuso da Leco, Vigor e Flor da Nata , formou-se, junto com a Cooperativa Central de Laticnio, um oligoplio que controla perto de 85% do mercado na Grande So Paulo . A situao se agrava mais com a formao de um oligopsnio (grupo de poucos compradores) na captao do leite. O leite de soja tem seu abastecimento nas mos da Ceval, Cargill e Sadia. Os preos subiram 18% alm da inflao no ano passado. Brahma, Antarctica e Kaiser basicamente controlam o fornecimento da cerveja e dos refrigerantes.Circulou at uma polmica em torno de uma possvel presso sobre concorrente menor. A Schincariol foi acusada de sonegao de ICMS. Na ocasio, a Folha de So Paulo apurou que foi fruto de presso da Brahma e Antarctica. Souza Cruz e Phillips Morris, que respondem por 98% da produo de cigarros no Brasil, fazem reajustes quinzenais O mercado do sorvete (96% ) est nas mos da Kibon(Phillips Morris) e da Gelato. E quando algum produto oligopolizado tem queda expressiva (em 93, aconteceu com o leite em p e o leite condensado) , que houve presso de um concorrente forte. o que aconteceu com a Nestl, sob presso da Parmalat. Os preos, depois, retomam o patamar mais alto." td94ou16-01,"Grficas de convenincia agilizam negcios Birs de editorao eletrnica fazem desde diagramao de manuais a transparncias e recuperao de fotos antigas MARIA EDICY MOREIRA Free-lance para a Folha Usar servios dos birs de editorao eletrnica espcie de grficas de convenincia pode facilitar o trabalho de pequenas empresas e profissionais liberais. A gama de servios bastante ampla e a produo costuma ser rpida, s vezes, leva minutos. Em So Paulo, j existem dezenas de grficas de convenincia, que oferecem servios como digitao de textos e digitalizao de fotos transferncia de imagens do papel para a tela do computador, o que permite alteraes de cor, retoques etc.), edio de manuais e cpias em cores. A AlfaGraphics, por exemplo, faz cartes de visita, cpias coloridas, digitao e criao de logotipos. Na Akad, a especialidade a digitalizao de desenhos tcnicos e impresso de psteres. A Art & Byte tambm trabalha com desenhos tcnicos e edio de manuais. A Graphic Vision cria slides para a apresentao de negcios, faz logotipos, tratamento de imagens e trabalhos de digitao e diagramao. A Paper Express e Ponto & Meio oferecem ainda a produo de transparncias e fotolitos. Imagens O tratamento de imagens um recurso que tem sido bastante procurado por quem precisa colorir, mudar caracterstica de imagens e recuperar fotos antigas. Segundo Ivete Pugliesi, 34, dona da Graphic Vision, mdicos costumam recorrer ao sistema para melhorar imagens usadas em aulas e conferncias. Na Ponto & Meio, o recurso foi usado para recuperar as fotos antigas publicadas no livro Sadia 50 anos construindo uma Histria. Tecnologia Alm de tornar os negcios mais geis, os birs so uma alternativa para facilitar o acesso de pequenas empresas a tecnologias de alto nvel. Os pequenos empresrios no tm condies de manter-se atualizados tecnologicamente, da a importncia dos birs, diz Cezar de Almeida, dono da CZ Publicidade, que virou adepto das grficas de convenincia. Ele afirma que a contratao de uma grfica permite que a agncia mantenha o foco na sua atividade principal, no perdendo tempo e dinheiro com a operao e atualizao de equipamentos. O estdio grfico C & D tambm virou cliente dos birs, para a produo de provas e fotolitos. Segundo William Coracho da Torre, diretor de arte, a grande vantagem a agilidade e a rapidez com que os trabalhos ficam prontos. O empresrio Wagner Loyola Borba, 45, dono da Borba Negcios Imobilirios, outro que acredita que os birs aceleram os negcios. Ele imprime porta-flios na AlphaGraphics. O servio que demorava at 15 dias agora sai em 20 minutos com a computao. Borba usa os porta-flios para mostrar aos clientes imveis venda ou disponveis para aluguel. O sistema permite que o interessado saia do escritrio sabendo o que vai encontrar, diz.","Grficas de convenincias agilizam negcios Birs de editorao eletrnica fazem desde diagramao de manuais a transparncias e recuperao de fotos antigas. MARIA EDICY MOREIRA- Free-lance para a Folha Os servios dos birs de editorao eletrnica- espcie de grficas de convenincia- podem facilitar o trabalho de pequenas empresas e de profissionais liberais. Alm da extrema rapidez, a gama de servios bastante ampla. Em So Paulo, j existem vrias , que oferecem servios de digitao de textos e digitalizao de fotostransferncia de imagens para a tela do computador , o que permite vrias alteraes- edio de manuais e cpias em cores. O tratamento de imagens um servio bastante procurado por quem precisa colorir, mudar caracterstica de imagens e recuperar fotos antigas. Alm da agilizao, os birs permitem s pequenas empresas tomar contato com alta tecnologia. Cezar de Almeida, dono da CZ Publicidade, afirma que a contratao de uma grfica libera sua agncia para a atividade fundamental e permite a economia de tempo e dinheiro." mu94ag06-a,"Avies da Otan bombardearam ontem posies srvias ao norte de Sarajevo. O ataque foi uma represlia tomada por srvios de armamentos pesados, retirados da zona de excluso da ONU em torno da cidade. Foi a primeira ao da Otan contra srvios desde o ataque areo s suas posies no encrave de Gorazde, em abril. Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse que dois avies norte-americanos e dois franceses bombardearam s 18h35 (13h35 em Braslia) posies srvias ao redor de Sarajevo. Porta-vozes militares disseram que um total de 12 aeronaves, com a participao tambm de holandeses, saram de bases da Otan na Itlia para realizar os bombardeios. A ONU disse que aps o ataque os srvios se comprometeram a devolver imediatamente as armas. O comandante do Exrcito srvio garantiu ao comandante das tropas da ONU em Sarajevo, general Michael Rose, que todas as armas retiradas da zona de excluso seriam devolvidas at hoje. Rose disse que se a promessa no for cumprida haver novos ataques. Ele informou que um blindado srvio foi destrudo no bombardeio. Segundo ele, foi escolhido um alvo isolado, para evitar que civis fossem atingidos. Por causa do mau tempo no foi possvel atingir as armas. Na manh de ontem, tropas srvias retiraram um tanque, dois veculos blindados e um canho antiareo de um depsito da ONU. Um helicptero da ONU tentou perseguir os srvios, que responderam a tiros. Em fevereiro, a ONU criou uma rea de excluso de 20 km em torno de Sarajevo, na qual foi proibida a presena de armas pesadas. Os srvios entregaram suas armas depois de ameaas de bombardeios pela Otan. Desde ento, foram registradas vrias tentativas pelos srvios de recuperar as armas. As tropas das Naes Unidas em Sarajevo entraram em estado de alerta aps o ataque. Por causa dos incidentes de ontem, a ONU voltou a suspender a ponte area de ajuda humanitria a Sarajevo. A retirada das armas ocorreu um dia depois de a Iugoslvia formada por Srvia e Montenegro ter interrompido todos os laos com os srvios da Bsnia, por causa da rejeio por eles de um plano de paz internacional para a regio. Centenas de caminhes que iam da Srvia para regies da Bsnia sob controle srvio foram impedidos ontem de cruzar a fronteira. A Srvia a principal fonte de armas e suprimentos para os srvios da Bsnia. O lder srvio Radovan Karadzic disse aps o rompimento que seu povo deve se preparar para lutar sozinho. Estamos preparados a ficar com fome, nus e descalos, mas temos de lutar por nossa liberdade, afirmou.","Em represlia tomada de armamentos pesados, avies da Otan bombardearam ontem posies srvias ao norte de Seravejo. O bombardeio no atingiu mais armas alm de blindado isolado, para evitar atingir civis e por causa do tempo. O comandante srvio garantiu ao comandante da ONU, general Michael Rose, que as armas seriam devolvidas. Em fevereiro, a ONU tinha criado uma zona de excluso em torno de Seravejo, em que foi proibida a presena de armas pesadas. Os srvios, sob ameaas , tiveram que entregar suas armas. Desde ento, tentam recuper-las. As tropas da ONU , por causa do incidente de ontem, voltaram a interromper a ajuda humanitria a Seravejo e passaram a vigiar melhor a fronteira que d passagem para a regio da Bsnia controlada por srvios. A Srvia a principal fonte de armas e suprimentos para os srvios da Bsnia. " co94ag28-16,"'No dia D fiquei apavorado' 'Traficantes contavampiadas sobre policiais.Eram piadas ridculas,mas eu tinha que rir' 'Ele nunca vaiesquecer que foipreso no dia doaniversrio do filho' Da Reportagem Local Aps seis meses investigando, no incio de 92 fiquei sabendo que Alba (nome verdadeiro), conhecida intermediria de traficantes bolivianos, estava em So Paulo. Atravs de um informante, mandei um recado a ela: eu era um sujeito muito rico que trabalhava no 'ramo'. Queria encontr-la. Dois dias depois, marcamos um jantar num restaurante fino em So Paulo. Cheguei com o informante num Escort XR-3 vinho, conversvel. Eu estava vestido impecavelmente. Durante o jantar, notei que Alba estava visivelmente flertando comigo. Era recm-divorciada, devia estar carente. Isso deixava as coisas mais fceis e aproveitei essa deixa tambm. Jantamos juntos mais duas vezes durante a semana e marcamos viagem para o Mato Grosso, Corumb (MT). Ela cada vez mais tentava se aproximar. Nos hospedamos no hotel La Siesta. Usei meu nome mesmo. Ficou uma situao difcil. Discutimos asperamente no hotel porque ela queria ficar no mesmo quarto que eu. No deixei. Para Alba, eu era um rico exportador de cocana para a Europa. Em dois dias ela j havia feito contato com dois traficantes. Eles nos encontrariam no hotel. Quando chegou o dia D, fiquei apavorado. sempre assim... Eles nos encontraram beira da piscina no hotel. Pediram bebidas. Eu no gosto de beber. Tomei um usque e j me sentia zonzo. Enquanto isso, os traficantes (Carlos e Antonio) contavam piadas de policiais, que eles chamam de cachorros. Eram piadas ridculas, mas eu tinha de rir. Ria por fora, mas, por dentro, queria mat-los. Depois comearam as suas lamrias: que perdem muita mercadoria, que no d para confiar nos empregados, que os compradores pechincham muito... Cobravam US$ 3.500 o quilo. Fizeram uma proposta: para cada um quilo que eu conseguisse colocar na Europa eles me dariam dez quilos em So Paulo. Aceitei. Antes de se despedirem, insistiram que eu tinha de ir a um churrasco na Bolvia, no dia seguinte. Seria um encontro de amigos. Recusei, com certo medo at. No sabia como eles iriam reagir. Eu disse que tinha de voltar a So Paulo no dia seguinte. Ficamos de combinar a entrega por telefone. Trs dias depois, me encontrei com Alba em So Paulo, num shopping. Ela iria telefonar para o responsvel pela entrega, Joo, gerente de uma transportadora da regio de Campinas. Quando ela discava, marquei o nmero. A ficou fcil. Ns grampeamos esse telefone. Quando a primeira carga chegou, sabamos sua rota. Pegamos tudo (18 kg), perto do pico do Jaragu (Grande So Paulo). Prendemos o motorista. Como a minha carga no chegara na data marcada, telefonei cobrando os traficantes. Me disseram que estavam chateados, mas a carga havia rodado (sido apreendida). Iriam mandar outra, mas s no ms seguinte. Pegamos de novo: 14 quilos num ms, e mais 16 quilos na semana seguinte. Os traficantes otrios no desconfiavam de nada, que ns tnhamos a escuta na sede da transportadora deles. Depois disso, perdi o contato com eles. Alba sumiu (no incio deste ano fiquei sabendo que havia sido presa na Espanha). Ficamos quase um ano sem nos comunicar. Fiz o papel do empresrio desiludido. No final do ano passado, retomei o contato com eles. Ficaram de mandar um casal para falar comigo em So Paulo. Eles vieram: Marcos e Joana. Eles tinham um filho de um ano. Passei a me encontrar com eles pelo menos duas vezes por semana. Eles me visitavam no flat em que eu me hospedava. O filho deles, de um ano, acabou se apegando tanto a mim que os dois decidiram me convidar para ser o padrinho do garoto. Essa hora di muito mesmo... A criana no tem culpa do que os pais so... Eu no podia aceitar, mas tambm gostei do garotinho. Tenho uma filhinha... Mas acabei dando uma desculpa para recusar. Marcamos nova entrega, mas dessa vez eu queria tratar com o prprio gerente da transportadora. Fui para o interior de So Paulo e o conheci: Jorge. Ele tinha uma carga para enviar e entregaria minha encomenda no mesmo dia. Marcamos o estacionamento de um shopping de So Paulo para a entrega. No dia marcado, nos encontramos. Jorge estava com pressa porque tinha que voltar para casa. Seu filho fazia um ano naquele dia. Apareci no local com um amigo (outro policial) e pedi licena para ir ao banheiro do shopping. Enquanto isso, Jorge mostrou ao meu amigo onde estava a droga. Imediatamente foi preso. Ele chorou muito e hoje est na Casa de Deteno. At hoje no sabe que eu era um policial, mas sei, atravs de informantes dentro do Carandiru, que ele jurou que vai descobrir quem eu sou e que vai me matar quando cumprir a pena (em 1999). s vezes eu sinto medo s de andar na rua. Sei que se ele me cruzar na rua vai me reconhecer e vai querer me matar. Ele nunca vai esquecer que foi preso no dia do aniversrio do filho. Relato do investigador Wladimir"," No dia D fiquei apavorado Traficantes contavam piadas sobre policiais. Eram piadas ridculas, mas eu tinha que rir. Ele nunca vai esquecer que foi preso no dia do aniversrio do filho. Da Reportagem Local Depois de seis meses de investigao , tive informao de que Alba , intermediria de traficantes bolivianos, estava em S.Paulo. Mandei um recado a ela como sendo um indivduo rico e que traficava. Queria encontra-la. Marcamos encontro num restaurante fino. Durante o jantar, percebi que ela estava me paquerando. Jantamos juntos mais vezes e combinamos uma viagem a Corumb. L , discutimos no hotel porque ela queria ficar no meu quarto, com que no concordei. Para Alba eu era um rico comerciante de droga para a Europa. Em dois dias, ela j contactara dois traficantes.Eles nos encontraram no hotel beira da piscina. Ficaram bebendo e contando piadas ridculas de policiais. Eu ria forado. Fizeram-me a proposta de que para cada quilo vendido na Europa eu teria dez em S.Paulo. Topei. Ficamos de acertar a entrega por telefone. Encontrei com Alba num shopping . Quando ela ligava para o responsvel pela entrega---Joo, gerente de uma transportadora nas cercanias de Campinas---, consegui ver o nmero e o grampeamos. Quando a primeira carga chegou, pegamos tudo. Telefonei depois cobrando a minha carga, que no chegara. Eles no desconfiaram de nada.Prometeram mandar outra. Fiquei um tempo sem contato e com eles e o retomamos no final do ano passado. Prometeram mandar um casal amigo para me visitar em S.Paulo, Marcos e Joana. Encontramos algumas vezes e acabei afeioando-me com o seu filho. A ponto de me convidarem para padrinho , ao que recusei . Marcamos nova entrega , mas exigi tratar com o prprio gerente da transportadora., o Jorge. Ele tinha uma carga para entregar e mandaria a minha junto. Apareci no shopping onde tnhamos marcado o encontro, junto com um amigo. Enquanto fui ao banheiro, ele mostrou a encomenda ao meu amigo; imediatamente foi preso. Indignado por ter sido preso no dia do aniversrio do filho, promete me matar assim que cumprir a pena. " mu94no27-18,"EUA buscam ingresso no 'Sculo Pacfico' Americanos se preparam para ajudar pases como China e Coria do Norte a enfrentar desafios no Extremo Oriente O desafio mais importante a emergncia de Pequim na era ps-Deng Xiaoping Os laos econmicos entre a China e o mundo externo so a garantia de atitude responsvel Infelizmente, o perigoso jogo norte-coreano de gato e rato nuclear parece ter dado resultado JAMES A. BAKER Ser que o ano 2000 vai marcar o incio do Sculo Pacfico, como prevem muitos especialistas? E ser que a ascendncia asitica oriental, como afirmam muitos especialistas, significar o eclipse dos Estados Unidos enquanto potncia dominante na regio? Busquei respostas a estas perguntas numa viagem que fiz recentemente a Cingapura, Taiwan e Japo. Para estas e outras naes dinmicas do Extremo Oriente, o Sculo Pacfico j comeou. Isto verdade, sem dvida alguma, no campo econmico. Apesar da recesso japonesa, as economias do Extremo Oriente continuam provocando inveja em seus competidores e funcionando como exemplo para os pases menos desenvolvidos do mundo inteiro. Mas os EUA no tm nada a temer de um Sculo Pacfico. Na realidade, estamos muitssimo bem posicionados para promover nossos interesses estratgicos, polticos e econmicos tanto na regio, quanto internacionalmente. Mas s poderemos faz-lo se estivermos preparados para usar nosso poderio militar e nossa influncia diplomtica para ajudar a enfrentar desafios crticos do Extremo Oriente, nos anos vindouros. Possivelmente o desafio mais importante a emergncia de Pequim na era ps-Deng Xiaoping transio que tem ramificaes enormes, no apenas para a China mas para a regio inteira. A abordagem de Deng liberalizao econmica, combinada com o autoritarismo poltico, rendeu resultados notveis em termos de crescimento de curto prazo. A longo prazo, porm, no sustentvel. Na verdade, o adiamento da transio a um governo de bases mais populares implica no risco de tumultos quando a gerao atual de lderes sair de cena. O cenrio mais provvel ser um perodo de calma, que durar possivelmente entre seis meses e dois anos, enquanto as figuras lderes da nova gerao dividem o poder com os lderes velhos. Depois disso, comearo as disputas internas para assegurar posies. Uma possibilidade a emergncia de uma ditadura militar disposta a reprimir a insatisfao poltica e recorrer ao aventurismo regional. Existe outra possibilidade mais perigosa: que a China reverta ao caos que viveu na dcada de 20, quando chefes militares rivais lutavam pela supremacia. Os Estados Unidos e seus aliados na sia Oriental tm grande interesse na estabilidade de longo prazo da China. Esta estabilidade estar melhor servida por uma abordagem que equilibre os vnculos econmicos prximos com a China e a manuteno de uma presena militar americana digna de crdito no Extremo Oriente. Os relacionamentos de defesa especiais que temos com o Japo, a Coria do Sul e os pases da Asean (Associao das Naes do Sudeste Asitico) continuaro sendo peas fundamentais da segurana asitica no como parte de uma aliana anti-chinesa, mas como fora favorvel estabilidade regional. Os crescentes laos econmicos entre a China e o mundo externo constituem a melhor garantia de um comportamento chins responsvel em relao aos pases vizinhos. Os EUA, especialmente, precisam ficar atentos para evitar confrontos contraproducentes como aquele que a administrao Clinton evitou por pouco, sobre o status de nao comercial mais favorecida. Nada poderia servir mais diretamente aos interesses dos potenciais representantes da linha dura ps-Deng. Um segundo desafio-chave no Pacfico a instabilidade representada pela pennsula coreana. Infelizmente, o perigoso jogo norte-coreano de gato e rato nuclear parece ter dado resultados. O recente acordo entre a administrao Clinton e o regime de Kim Il Jong representa um reconhecimento ttico do status nuclear da Coria do Norte. Como tal, solapa tanto o regime internacional de no-proliferao nuclear quanto a paz no nordeste da sia. As armas nucleares norte-coreanas, seja qual for seu nmero, constituem uma ameaa direta Coria do Sul e s tropas norte-americanas ali estacionadas. Ao recompensar a busca norte-coreana irresponsvel por capacidade nuclear e fortalecer o regime cambaleante de Kim, a administrao Clinton pode ter garantido uma pequena trgua. Mas o fez a um custo real. As consequncias estratgicas a mdio e longo prazo do acordo podem muito bem ser um risco aumentado, e no diminudo, de conflito na pennsula coreana. Isto refora a necessidade de se manter e possivelmente fortalecer a presena militar dos Estados Unidos na pennsula coreana e na regio circundante. Ademais, a ameaa que uma Coria do Norte continua a representar exige que os EUA revejam sua atual poltica de desenvolvimento dos sistemas de msseis antibalsticos tticos. Se estivermos dispostos a abrir mo da anuncia total ao regime de no-proliferao internacional e, infelizmente, a administrao Clinton parece estar disposta a isso, ento precisamos tambm estar preparados para criar os instrumentos necessrios para proteger as foras dos EUA contra um ataque nuclear. A mensagem do acordo da administrao Clinton com a Coria do Norte no passar desapercebida de outros pases no confiveis interessados em adquirir capacidade nuclear. Um terceiro desafio com que o Extremo Oriente vai se defrontar ser a transformao econmica da regio. Seguindo o modelo japons liderado pelas exportaes, as economias asiticas orientais se transformaram, num prazo de poucas dcadas, em foras mundiais que merecem respeito. Mas a experincia do Japo tambm demonstra os limites do crescimento liderado pelas exportaes. Com o tempo, os constantes supervits comerciais no substituem uma demanda interna forte. Os crnicos desequilbrios comerciais provocam tenses internacionais e tm custos, em termos de padres de vida. Hoje o Japo est avanando lentamente em direo a uma abordagem econmica mais equilibrada. Outras economias asiticas orientais enfrentam uma transio semelhante. Mas elas esto bem posicionadas para isso. A maioria das naes asiticas orientais conseguiu atingir o crescimento econmico sem sofrer desigualdades extremas de renda. A existncia de uma classe mdia emergente constitui um bom indcio para um crescimento baseado no consumo. Apesar disso, ainda resta muito a fazer em termos de abrir os mercados domsticos e incentivar a demanda. Seno, os desequilbrios econmicos iro semear o conflito poltico. Isso, por sua vez, pode reduzir a necessidade do engajamento americano em questes crticas de segurana asitica. A liberalizao adicional do comrcio e dos investimentos internacionais ser uma parte crtica desse processo. A concluso, j muito atrasada, da Rodada Uruguai do Gatt deve marcar a transio para uma liberalizao ainda mais ampla do comrcio e dos investimentos entre as naes do Extremo Oriente. O frum de Cooperao Econmica sia-Pacfico constitui um poderoso veculo para tal liberalizao. Recentemente, o presidente Clinton participou da reunio da Apec na Indonsia, onde ele e outros chefes de Estado se comprometeram com uma agenda ativa de liberalizao comercial e de investimentos. do interesse dos EUA que a abordagem da Apec seja inclusiva, no exclusiva. O premi malasiano Mahathir Mohammad vem promovendo a idia de uma organizao multilateral asitica que incluiria o Japo, mas excluiria os EUA. Isso perigoso. Quase 50 anos aps a 2 Guerra Mundial, seria trgico tentar mais uma vez traar uma linha arbitrria atravessando o Pacfico. O prejuzo para as relaes EUA-Japo, pedra de toque da paz e da prosperidade no Pacfico, seria irreparvel. O mercado norte-americano vem funcionando h dcadas como motor do crescimento de pases como o Japo e a Malsia. Se o Japo ingressasse num agrupamento comercial asitico que exclusse os EUA, isso seria no apenas uma traio lealdade, mas um convite aberto a uma guerra comercial. Tendo em vista o que est em jogo, a administrao Clinton deve opor-se a qualquer esforo desse tipo, e no deve hesitar em pressionar o Japo a dizer no. Em lugar disso, os Estados Unidos e o Japo devem continuar a trabalhar, atravs da Apec, para desenvolver e implementar um quadro flexvel que permita que seus membros ofeream comrcio e investimentos mais livres no apenas entre pases membros, mas tambm com outros pases, incluindo a Rssia. A liberalizao econmica tambm vai fortalecer a tendncia regional a governos de base popular mais ampla. As populaes do Extremo Oriente, cada vez mais prsperas, anseiam por uma participao maior nas decises pblicas. A experincia do Taiwan, que hoje tem um PNB per capita de US$ 11 mil e um sistema pluripartidrio ativo, revela a relao simbitica existente entre livres mercados e governos livres. O desafio da transformao econmica apenas um dos testes cruciais que os EUA e as naes da sia Oriental tero que enfrentar. Esta comunho de interesses, por sua vez, reflete outra verdade fundamental: os EUA continuam sendo uma potncia Pacfica, como o so desde o final do Sculo passado. Os asiticos orientais reconhecem esse fato, e na verdade o apreciam. Em todo lugar onde fui, os lderes asiticos pediram mais engajamento norte-americano e no menos. Eles percebem como tambm os americanos deveriam perceber que para que o Sculo Pacfico seja pacfico e prspero, os Estados Unidos precisam fazer parte dele. JAMES A. BAKER foi secretrio de Estado dos EUA de 1989 a 1992. Traduo de Clara Allain","EUA buscam ingresso no Sculo Pacfico Americanos se preparam para ajudar pases como China e Coria do Norte a enfrentar desafios no Extremo Oriente O desafio mais importante a emergncia de Pequim na era ps-Deng Xiaoping Os laos econmicos entre a China e o mundo externo so a garantia de atitude responsvel Infelizmente, o perigoso jogo norte-coreano de gato e rato nuclear parece ter dado resultado. JAMES A.BAKER Se o ano 2000 ser o incio do Sculo Pacfico , como prevem muitos especialistas, e se a ascendncia asitica oriental marcar , segundo outros, a perda de hegemonia americana na regio teve resposta na minha viagem recente a Cingapura, Taiwan e Japo. Para estas naes e outras do Extremo Oriente o sculo pacfico j comeou. Mas os EUA nada tm a temer. Talvez o desafio maior seja a emergncia de Pequim na era ps-Deng Xiaoping , com implicaes na regio inteira. Xiaoping conseguiu resultados excelentes com a liberao econmica acompanhada de autoritarismo. Adiar a transio para um governo de bases mais populares significar risco de tumultos depois que as atuais lideranas sarem de cena. Para os Estados Unidos e seus aliados na sia Oriental muito importante o prolongamento da estabilidade da China , que pretendem conservar com a manuteno de vnculos econmicos e uma fora militar respeitvel no Extremo Oriente . Os relacionamentos de defesa que mantemos com o Japo , Coria do Sul e os pases da Asean (Associao das Naes do Sudeste Asitico) so fundamentais para essa estabilidade. Tambm os vnculos econmicos da China com o mundo externo so a garantia de sua atitude responsvel em relao aos pases vizinhos. Um segundo desafio a instabilidade na pennsula coreana. A Coria do Norte , usando o seu jogo, conseguiu um acordo com a administrao Clinton , que reconhece o seu status nuclear. Essas armas constituem ameaa direta sua vizinha do Sul e s tropas norte-americanas ali sediadas. O reconhecimento tambm servir de mau exemplo para outros pases no confiveis interessados nesse ncleo fechado. Um terceiro desafio para o Extremo Oriente ser a transformao econmica da regio Seguindo o modelo exportador japons, as naes da regio se transformaram rapidamente , merecendo o respeito internacional. Mas o prprio Japo demonstrou que esse tipo de crescimento firmado na exportao no substitui o mercado interno, havendo necessidade de incentivar essa demanda para evitar conflitos. Recentemente, o presidente Clinton participou da reunio da Apec na Indonsia, onde ele e outros chefes de Estado se comprometeram a abrir mercado e a investir na regio. Para os EUA a palavra importante incluso . Tanto que o pas no v com bons olhos a atitude do premi malasiano Mahathir Mohammad , que pretende promover uma organizao multilateral asitica que incluiria o Japo , mas no os EUA. No caso de anuncia do Japo, o governo americano veria a uma infidelidade e um convite para um confronto comercial. Clinton, certamente, desestimular qualquer iniciativa desse tipo e no hesitar em pressionar o Japo a recusar. " td94fe20-03,"Incubadoras ajudam 'parto' de empresas Candidatos obtm local subsidiado para iniciar atividades, alm de orientao burocrtica e tecnolgica CLUDIA RIBEIRO MESQUITA Free-lance para a Folha Mesmo sem dinheiro para investir, possvel comear um empreendimento com alto uso de tecnologia. O segredo est nas incubadoras. Mantidas por universidades, empresas privadas e pelo governo, elas auxiliam a abertura da empresa, desde o registro na Junta Comercial at a assessoria tecnolgica. O candidato a empresrio dispe tambm de infra-estrutura local na prpria incubadora para o incio de suas atividades, luz, gua, telefone com taxas subsidiadas. O desconto inicial chega a 80% do valor real. O custo aumenta com o tempo, at que se torne vantajosa a sada da incubadora. H um limite de permanncia de trs anos. O incentivo financeiro decrescente para que a empresa sofra o menor choque possvel assim que ela sair da incubadora, afirma Jos Adelino Medeiros, professor visitante da USP e assessor de incubadoras e plos tecnolgicos da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Desenvolvimento Econmico do Estado de So Paulo. A idia livrar o empresrio dos entraves burocrticos, tcnicos e comerciais, orientando-o em seus primeiros passos, explica Medeiros. Segundo ele, h 19 incubadoras em funcionamento no Brasil quatro delas no Estado de So Paulo e mais uma dezena em fase de implantao ou ainda em estudos, como a da USP. H incubadoras especializadas em diversas reas (veja quadro ao lado). No Brasil, h mais de 200 micro e pequenas empresas geridas ou ainda em gestao nesse tipo de redoma, especialmente configurada para estimular a criao de empresas e transformar idias em produtos, processos e servios. Os setores abrangidos so bastante diversificados. Empresas nascidas em incubadoras atuam, por exemplo, no setor qumico, na fabricao de produtos odontolgicos, em informtica, em biotecnologia e muitos outros. Nas Ietec (Incubadoras Empresariais Tecnolgicas, a denominao oficial das incubadoras), empresrios, ou futuros empresrios, ganham mais tranquilidade para desenvolver seus projetos porque so subsidiados pelas entidades que as apiam universidades, prefeituras, governo do Estado, associaes comerciais e industriais e institutos de pesquisa isoladamente ou em conjunto. De acordo com Medeiros, o principal objetivo das incubadoras incentivar a criao de empresas, com a possibilidade de gerar novos empregos. Os candidatos s vagas em uma Ietec so selecionados por concurso pblico. No so aceitas empresas poluentes. Uma vez aprovadas e instaladas, tm acesso aos servios que as universidades e centros de pesquisa oferecem, como laboratrios para testes e toda a assessoria de especialistas. Esses servios, opcionais, so pagos. Os preos, por hora de trabalho do consultor, costumam ser mais baixos do que os cobrados no mercado. Podem entrar nas incubadoras tambm empresas j em funcionamento ou novos departamentos de empresas em atividade. Cada Ietec ocupa, em mdia, rea de 800 m2, em galpes, antigas instalaes industriais ou prdios adaptados, com um mdulo de cerca de 40 m2 para cada empresrio. O restante do espao comum a todos os condminos e pode ser utilizado para show room, sala de reunies, banheiros, depsitos, almoxarifados e secretaria. Cada Ietec tem capacidade para cerca de dez empresas.","Incubadoras ajudam partode empresas Candidatos obtm local subsidiado para iniciar atividades, alm de orientao burocrtica e tecnolgica CLUDIA RIBEIRO MESQUITA- Free-lance para a Folha possvel iniciar um empreendimento com tecnologia avanada , sem dinheiro. O caminho so as incubadoras , que facilitam a abertura da empresa, a partir do registro at a assessoria tecnolgica. O candidato a empresrio usufrui de espao na prpria incubadora, de luz, gua, telefonea preos mdicos. O professor Jos Adelino Medeiros, assessor de incubadoras da Secretaria de Cincia, Tecn. E Desenv. do Est. de S.Paulo , diz que o incentivo financeiro decrescente para que no haja surpresa. A idia livrar o candidato de entraves burocrticos, tcnicos e comerciais. No Brasil , h mais de 200 micro e pequenas empresas em gestao , em setores bastante diversificados. Nas Ietec (incubadoras) ,os futuros empresrios tm mais tranqilidade para desenvolver seus projetos. O prof. Medeiros diz que , paralelamente com seu objetivo de criar empresas, as incubadoras ajudam a abrir novas fontes de trabalho. Os candidatos so selecionados por concurso pblico , sendo descartadas as empresas poluentes. Selecionadas as empresas, logo elas tm acesso aos ncleos que patrocinam as incubadoras, a preos sempre mais baixos do que os do mercado. " ce94jl11-a,"Uma legio que varia entre 30 e 35 milhes de fiis brasileiros acredita que o juzo final, ou o dia do apocalipse, pode acontecer entre hoje e o ano 2000. Esse coro, suficiente para lotar 185 Maracans, estimado por entidades to diversas como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e o Instituto Cristo de Pesquisas (ICP). Os apocalpticos so compostos por uma horda de fiis intitulada evanglicos, que inclui membros de igrejas como a Presbiteriana, Batista, Metodista, Assemblia de Deus, Deus Amor e Universal do Reino de Deus. Considerada uma das caractersticas do nosso esprito de poca, essa crena no fim do mundo nasceu de mltiplas leituras que os fiis fizeram de axiomas bblicos, retirados sobretudo dos textos de Mateus, Habacuque e do Livro dos Provrbios. A Folha percorreu o centro de So Paulo por dez dias, em busca das leituras que cada fiel fez dessas frases. Mario Silva Ramos, por exemplo, pregador presbiteriano que frequenta a praa Ramos de Azevedo (centro de So Paulo). Diz que acredita no fim do mundo para o ano de 1999 -graas a uma frase que ele retirou do livro do Apocalipse: um raio branco varrer os no convertidos do centro da terra e s sero arrebatados ao Paraso os merecedores. At alguns catlicos tm sustentado que o fim do mundo pode acontecer a qualquer momento, antes do clssico 1999. Segundo a Confederao Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Igreja Catlica perde em mdia, s no Brasil, 600 mil fiis para outras religies, sobretudo as apocalpticas. E alguns desses dissidentes do catolicismo, atormentados pelo fantasma do juzo final, saem para as ruas pregando o fim do mundo -sem abrir mo dos cnones catlicos mas tambm sem aceitar integralmente a idia das religies adventistas. o caso de Maria de Lourdes Batistella, 45, que h cinco anos torra sua existncia no centro de So Paulo alertando os pedestres como sobre se salvar dos pecados. Olhos azuis, vestida de branco como uma freira, trazendo em punho um megafone de ltima gerao, ela distribuiu santinhos de metal dourado, na inteno de salvar os paulistanos do mal. Um dos sinais do apocalipse que os padres deixaram de usar batina e que eles mesmos tm medo de falar sobre o fim do mundo, sustenta a pregadora. A nica forma de salvao seria rezar um rosrio mais de 40 vezes por dia, diz Maria de Lourdes, que prega carregando um retrato de Nossa Senhora. Assim como ela, h membros de seitas que esperam o fim do mundo para qualquer hora, a partir de agora. Em 1992, por exemplo, as seitas coreanas Bank ik Ha e Misso Taber, do Brs (zona leste), anunciaram o fim do mundo para o dia 28 de setembro daquele ano -tambm escolhido como o ano final pela seita carioca Auto-Clamor. O mais curioso de tudo que a Misso Taber sustentava que a lngua dos anjos que desceriam do cu seria o coreano. E que as bestas do apocalipse poderiam ser identificadas por trazerem o cdigo de barras na testa. Segundo pesquisador Paulo Romeiro, do Instituto Cristo de Pesquisas, a diversidade de datas e meios pelo qual vir o juzo final reside em vrias interpretaes do captulo 4, versculo 18, onde se faz meno vinda da luz, que arrebatar os fiis aos cus. Cada seita diz que essa luz vir numa data e, com esse tipo de ameaa, conseguem extorquir dinheiro de seus fiis, que se sentem ameaados. Em 1994, apenas uma igreja marcou data para o fim do mundo. Trata-se da seita Family Radio, dos EUA, comandada por Harold Camping, um pastor da Califrnia. No incio do ano, ele enviou ao Brasil 50 discpulos que se hospedaram no Othon Palace Hotel, em So Paulo. Passaram 100 dias no Brasil distribuindo a obra 1994, um calhamao de 556 pginas, que pode ser encontrado em qualquer livraria da cidade. Detalhe: l-se pgina 524 que a vinda de Cristo Terra j teria sido anunciada em 1994 no primeiro dia do stimo ms. E mais: na pgina 528, est escrito que o dia do juzo final est marcado para o prximo dia 15 de setembro. Diz o pesquisador de religies Joaquim de Andrade, 32, que alguns membros dessas seitas tm sustentado que, quando finalmente o apocalipse chegar, s haver vagas no cu para um nmero justo de 144 mil pessoas puras. Agora eles vm dizendo que a maioria dessas vagas j foi preenchida e que s vai haver lugar mesmo para 8.000 pessoas.","Segundo o IBGE e o Instituto Cristo de Pesquisa (ICP) , entre 30 e 35 milhes de fiis brasileiros acreditam que o juzo final pode se dar de hoje at o ano 2000. Entre esses crentes , denominados de evanglicos, esto membros de igrejas como a Presbiteriana, Metodista , Assemblia de Deus, Deus Amor, e Universal do Reino de Deus. Seguidores dessas seitas, com base na leitura de certas passagens bblicas, apregoam o fim do mundo, alguns at com data marcada. H muitos dissidentes do catolicismo que , influenciados por esses pregadores, tambm fazem coro com eles nas suas pregaes de rua. Todos esses pretensos profetas querem salvar os que ainda no assimilaram a sua verdade. Alm da tragdia apocalptica , muitos deles pressionam alertando para o limite de vagas no cu :s 144 mil , algumas j preenchidas, segundo alguns . uma frmula fcil de convencer os crdulos e, conseqentemente, de tirar dinheiro deles. Uma seita americana , Family Radio, chegou a marcar data para o juzo final. Na poca , mandaram 50 discpulos ao Brasil, que se hospedaram no Othon Palace Hotel, em So Paulo. Passaram aqui 100 dias distribuindo a obra 1994" co94ag07-09,"Gogol e o novo estatuto dos advogados CAETANO LAGRASTA NETO; SNIA DAS DORES DIONSIO Elaborar uma nova lei no quer dizer, necessariamente, que estaremos adquirindo uma mentalidade moderna. O pssimo vezo do brasileiro de pensar que, em formulando novas leis, talvez consiga novas almas, lembra-nos Gogol: o Brasil precisa parar de colecionar almas mortas. Um novo estatuto profissional deve se constituir em documento hbil legalmente, moderno e avanado, voltado para as necessidades sociais com enfoque cientfico, visando o aprimoramento da classe (por exemplo, incentivando cursos, estgios e reformulando exames de Ordem). Lavrar-se mais um libelo corporativista apenas demonstra a fragilidade de um segmento profissional e a incapacidade para criar novos mecanismos de defesa da prpria sociedade. Neste diapaso, a atitude do procurador-geral da Repblica de questionar apenas um dos incisos do novo Estatuto dos Advogados revela-se, quando nada, falha. Basta enfocar, para tanto, apenas dois pontos, onde avultam a falta de tcnica legislativa e agresses Constituio Federal. O artigo 1, inciso I, da lei 8.906, de 04 de julho de 1994 (Estatuto da Advocacia), afirma ser atividade privativa desta a postulao a qualquer rgo do Poder Judicirio e aos Juizados Especiais. Nesse ponto, a lei afronta, dentre outras, a que criou os Juizados Especiais de Pequenas Causas (7244/84), a CLT (artigos 791 e 839 e lei 5.584/70), a Lei de Alimentos (5.478/68), todas, normas de carter instrumental e absolutamente especiais, sobressaindo nesse passo a ofensa ao artigo 5, inciso LXXIII, da Constituio Federal (Ao Popular), numa tentativa de garantir o monoplio do mercado, em detrimento do acesso Justia e moralidade administrativa. Neste conflito entre normas consagrado o princpio segundo o qual no poder haver prevalncia de norma especial sobre outra, tambm especial, diante da escala estabelecida pelo artigo 59, da CF/88, uma vez que a lei 8.906/94, alm de ser norma de carter eminentemente estatutria especfica, no disciplina integralmente a matria, quer quanto ao jus postulandi, quer quanto, especificamente, aos Juizados. Desta forma, havendo outras que o faam, como mencionado, a nova lei no revoga nem modifica a anterior (artigo 2, pargrafo 2 da Lei de Introduo ao Cdigo Civil). Ao pretender ser corolrio do princpio constitucional estabelecido no artigo 133, no demasia observar, com o ministro Orlando Teixeira da Costa, do TST, que esse dispositivo, no objeto de lei reguladora, reserva aos advogados uma condio de servidor da justia e no de monoplio, da decorrendo que o art. 839 da CLT continua em plena vigncia (Rev. LTR n 53-3/271). Assim, inexistindo lei que regulamente o citado artigo 133, evidente que a lei de estatuto no poder excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito (CF, artigo 5, inciso XXXV). Por fim, quando a lei diz juizados especiais, dirige-se queles do artigo 98, inciso I, da CF/88, o que, evidentemente, no inclui os de Pequenas Causas, porque previstos em artigo diverso (artigo 24, X), o que impede qualquer interpretao extensiva. O segundo ponto refere-se sustentao oral, aps o voto do relator (artigo 7 IX), onde, mais uma vez, infringe o legislador ordinrio a determinao constitucional, invadindo a competncia privativa dos tribunais, conforme dispe o texto da Carta Magna, na letra a do artigo 96, que diz competir aos tribunais dispor sobre o funcionamento dos respectivos rgos, e repete atitude desastrada da Lei Castilho Cabral (2.970/56), que naquela poca, como hoje, em 48 horas, teve declarada a inconstitucionalidade pelo Superior Tribunal Federal. Estas questes no se coadunam com o disposto no item I, do artigo 44, do prprio estatuto, que diz ser finalidade da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) defender a Constituio, a ordem jurdica do estado democrtico de direito, os direitos humanos, a justia social e pugnar pela boa aplicao das leis, pela rpida administrao da Justia e pelo aperfeioamento da cultura e das instituies jurdicas. Ser possvel desta forma? CAETANO LAGRASTA NETO, 51, juiz do 2 Tribunal de Alada Civil do Estado de So Paulo. SNIA DAS DORES DIONSIO, 37, juza do Trabalho Substituta da 4 Junta de Conciliao e Julgamento de Vitria (ES).","Gogol e o novo estatuto dos advogados CAETANO LAGRASTA NETO; SNIA DAS DORES DIONSIO Uma nova lei no atualiza, necessariamente, uma mentalidade. Um novo estatuto profissional deve ser juridicamente hbil, avanado, capaz de defender as necessidades sociais sob um enfoque cientfico , direcionado ao aprimoramento da classe. Elaborar um regimento corporativista sinal de fragilidade do segmento profissional a que ele se destina e de sua incapacidade de criar novos mecanismos de defesa. A atitude do procurado-geral da Repblica de questionar apenas um dos incisos do novo Estatuto dos Advogados mostra-se falha. Basta examinar dois pontos, que revelam falha tcnica e desrespeito Constituio. O artigo 1 , inciso I, da lei 8.906 (Estatuto da Advocacia) afirma ser atividade privativa desta a postulao a qualquer rgo do Poder Judicirio e aos Juizados Especiais. Nesse ponto, a lei se choca contra a que criou os Juizados Especiais de Pequenas Causas (7244/84), a CLT (art.791 e 839, e a lei 5.584/70), a lei de Alimentos (5.478/68).Em caso de conflito entre normas, prevalece o princpio de que uma no se superpe outra O segundo ponto diz respeito sustentao oral, aps o voto do relator (art.7 IX ) , em que o legislador ordinrio desrespeita a Constituio que diz competir aos tribunais dispor sobre o funcionamento dos respectivos rgos. So questes que conflitam com o que diz o prprio Estatuto , que afirma ser finalidade da OAB defender a Constituio. " di94ma04-07,"O Rio Grande do Sul e a interao latino-americana RICARDO ANTNIO SILVA SEITENFUS Devemos ser criterios os com o que o governo federal nos oferece No ano de 1960, Leonel Brizola, poca governador do Rio Grande do Sul, envia dramtica mensagem ao presidente Juscelino Kubitschek, denunciando que o Brasil est prestes a firmar acordo internacional que pode trazer efeitos os mais danosos e injustos para labor honesto e fecundo do povo riograndense, sem permitir nossa opinio sobre assunto que interfere com nossos mais altos e sagrados interesses. O telegrama, datado de 6 de fevereiro, refere-se criao da Associao Latino-americana de Livre Comrcio (ALALC), promovida pelo ento ministro das Relaes Exteriores, Horcio Lafer. Brizola reivindica que o Rio Grande do Sul possa examinar e se fazer ouvir durante a elaborao do Tratado de Montevidu, designando, para tanto, Manoel Luzardo de Almeida, economista especializado no setor primrio. A imprensa brasileira, mordaz ao noticiar o episdio, descreveu o governador gacho como ridculo, fanfarro e administrador irresponsvel do Rio Grande do Sul (Correio da Manh, 10/02/1960). Diante das declaraes oriundas do Itamaraty, que informa ter enviado ao Rio Grande do Sul todos os documentos atinentes ao acrodo, predomina nos peridicos uma interpretao superficial: a de que, antes de fazer ameaas, Brizola deveria pr em ordem sua administrao. Efetivamente, o governador afirma estar tomando conhecimento, atravs da imprensa, que o governo brasileiro prepara-se para assinar acordo para construo de Mercado Comum sul-americano. No entanto, a ALALC visava unicamente fomentar o comrcio intra-regional, lanando de forma conjunta as bases da industrializao, para torn-la mais eficiente. Estava totalmente excluda de sua pauta a diminuio tarifria dos produtos oriundos da agricultura e da pecuria. A cena protagonizada por Brizola repetir-se- 28 anos mais tarde, em abril de 1988, novamente atravs do governo do Rio Grande do Sul, agora exercido por Pedro Simon. Em Braslia, quando da assinatura de mais uma rodada de acordos entre Brasil e Argentina, ponto fundamental da poltica de aproximao instaurada pelos presidentes Sarney e Afonsn, Simon declara que tomou conhecimento, atravs da imprensa, do teor de um dos documentos: o Protocolo 22, semente do Mercado Comum do Sul (Mercosul), criado pelo Tratado de Assuno, em 1991. Com o recuo do tempo, torna-se evidente que, assim como para a ALALC combatida por Brizola tais questes no estavam em jogo, no caso do Protocolo 22 que mereceu feroz reao de Simon no houve invaso dos produtos argentinos: ao contrrio a economia primria gacha demonstrou sua competitividade no mercado argentino. O Rio Grande do Sul alou-se ao segundo lugar das exportaes brasileiras (crescimento de 12,10% em 1992 para 13,44% em 1993), menor apenas que a de So Paulo, inclusive com a exportao de produtos primrios. A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econmico e Social divulgou, em fevereiro de 1994, levantamento pelo qual conclui que as exportaes gachas para os pases membros do Mercosul cresceram 68,52% em 1993. Na verdade, h dois aspectos realmente importantes na atitude dos dois governadores. Em primeiro lugar, a identificao dos interesses pblicos do Rio Grande do Sul com as idias de alguns segmentos arcaicos do setor da produo primria, pelos quais arriscam-se at mesmo a combater algo que desconhecem. Apesar do profundo processo de urbanizao e industrializao pelo qual passou o Rio Grande do Sul, at os dias de hoje, quando h no horizonte qualquer mudana, positiva ou negativa, que possa tangenciar tais interesses, de imediato o poder poltico mobiliza-se. Por outro lado, os polticos gachos tradicionais esto impregnados de uma viso regionalista das relaes entre o Brasil e a Amrica Latina, cujo calcanhar-de-aquiles seria precisamente o relacionamento do Rio Grande do Sul com a Bacia do Prata. O territrio gacho detm toda a fronteira brasileira com o Uruguai e grande parte dos limites com a Argentina. Do ponto de vista militar e estratgico, aparenta ser um escudo contra o Sul. De fato, muito da histria do Rio Grande fez-se com ou contra os pases platinos. O perfil da produo econmica, do acesso aos fatores de produo, especialmente a terra, e a prpria cultura (iclusive poltica, pois Getlio Vargas costumava dizer que se sentia mais prximo de Buenos Aires do que do Rio de Janeiro), moldam os gachos para que no sejam indiferentes em relao aos seus vizinhos. Assim, todas as iniciativas do governo federal referentes a questes latino-americanas, sero muito mais sentidas no sul do pas do que nos demais Estados da Unio. Note-se que, assim como Brizola, Simon fez a poltica do alarde, apresentando os temores de alguns gachos como interesses sagrados de todo o Rio Grande do Sul e, o que mais grave, prescindindo de um srio estudo que avaliasse as consequncias do acordo para a economia gacha. Ironicamente, alguns meses depois do episdio aqui narrado, tendo observado o processo integracionista em desenvolvimento, Simon consagrou-se como artfice da integrao, sendo ovacionado pela imprensa e pelos setores classistas do Estado, eis que os protocolos outrora combatidos por ele, pela imprensa e os mesmos setores foram assinados durante a sua gesto. A prpria participao dos Estados membros em questes de poltica externa foi assegurada pelo Protocolo 23, elaborado pela Secretaria de Assuntos Internacionais do Rio Grande do Sul e assinado em 1988. Pela primeira vez criou-se um canal, juridicamente reconhecido pelo governo federal, de participao do Estado nas questes que envolvem nossas relaes com a Argentina. Diga-se de passagem, chegado o momento de fazer o mesmo com relao ao Uruguai. O exemplo de Simon serve para introduzir tema bem mais amplo. No Rio Grande do Sul, passamos do repdio abertura do mercado ao ufanismo integracionista. H, atualmente, adeso imediata e inquestionvel ao Mercosul, considerado uma questo gacha e no um projeto nacional, sobretudo pelos setores que dantes contestavam o Protocolo 22. A euforia decorre de uma impreciso: no se percebe que os ganhos so conjunturais e podem ser alterados, por exemplo, com uma mudana da poltica econmica argentina. A tal ponto, e to superficialmente, o senso comum assimilou o princpio da integrao, que a opinio pblica condena, de pronto, qualquer crtica formulada conduo das negociaes do Mercosul, como se os seus emissores fossem adversrios no da forma de conduzi-lo, mas do prprio processo. Quando Lula visitou a fronteira gacha com sua caravana e nela demonstrou sua preocupao com o encaminhamento dado pelo governo federal ao Mercosul, registraram-se reaes implacveis, inclusive afirmaes de que no governo petista o sonho de um mercado comum estaria acabado. Ora, Lula apenas expressou conhecimento sobre o tema, o que indito entre os candidatos Presidncia da Repblica. No se ope, apenas reflete: props a reviso de prazos, o que traria maturidade e preciso ao processo. Questionou os seus atores, eis que o Itamaraty centraliza o encaminhamento do Mercosul, dele excluindo precisamente os consumidores, os pequenos produtores rurais e os representantes da fronteira, entre muitos outros interessados. Seguramente, a pressa e a irreflexo, tantas vezes presentes em nossa histria, que so os coveiros da integrao. Desta forma, o que h de comum entre a anterior rejeio e o ufanismo do presente de fato a precipitao. Evidente que o moderno Rio Grande do Sul no pode prescindir de um projeto amplo de integrao latino-americana, pois somente assim o extremo Sul do Brasil ter condies de tornar-se um dos plos do novo sistema sul-americano que se desenha. Contudo, um projeto mal concebido ou executado inadequadamente pode causar, e j tem causado, prejuzos inestimveis. Favorveis ao pressuposto da integrao, devemos ser criteriosos, no descartando e nem acatando, de pronto, tudo o que nos oferece o governo federal. Os exemplos de Simon e Brizola revelam que a precipitao e a busca de resultados polticos imediatos constrem o pior caminho para o desenvolvimento e so vcios que o curso da histria no tarda a desnudar. RICARDO ANTNIO SILVA SEITENFUS, 45, doutor em Relaes Internacionais pelo Instituto de Altos Estudos Internacionais em Genebra, coordenador do curso de mestrado em Integrao Latino-americana da Universidade Federal de Santa Maria (RS). Foi secretrio especial para Assuntos Internacionais do Rio Grande do Sul (governo Pedro Simon).","O Rio Grande do Sul e a interao latino-americana RICARDO ANTNIO SILVA SEITENFUS Devemos ser criteriosos com o que o governo federal nos oferece No ano de 1960, o governador do Rio Grande do Sul, Brizola, envia uma dramtica mensagem ao presidente Juscelino Kubitschek denunciando que o Brasil estava em vias de firmar acordo internacional com possveis efeitos desastrosos para o povo sul-riograndense, sem ouvir sua opinio. O telegrama referia-se criao da Associao Latino-americana de Livre Comrcio (ALALC), encaminhada pelo ento ministro das Relaes Exteriores, Horcio Lafer. A mordacidade da imprensa brasileira classificou o governador de ridculo, fanfarro e administrador irresponsvel do Rio Grande do Sul (Correio da Manh , 10/02/1960) Apesar do susto do governador, a ALALC tinha em mira somente incrementar o comrcio intra-regional, organizando as bases da industrializao para aumentar sua eficincia. Nada de reduzir a tarifa dos produtos agropecurios. Vinte e oito anos depois, a cena se repete , agora comandada pelo ento governador do Rio Grande do Sul, Pedro Simon. Quando da assinatura de uma rodada de acordos entre Brasil e Argentina, dentro da poltica de aproximao encaminhada pelos presidentes Sarney e Alfonsn , Simon declara que s tomou conhecimento , atravs da imprensa, do teor de um dos documentos o Protocolo 22, semente do Mercosul . Como no episdio anterior, agora no houve a suspeitada invaso de produtos argentinos . A economia gacha mostrou competitividade , e o Estado alcanou o segundo lugar nas exportaes brasileiras , somente superado pelo Estado de So Paulo. Os dois episdios permitem uma reflexo importante. Primeiro, a identificao dos interesses do Rio Grande com as idias arcaicas de alguns segmentos da produo primria. Apesar do processo de urbanizao e industrializao pelo qual passou o Estado, h sempre um frisson na classe poltica, quando ocorre uma conversa de mudana. que muito da histria do Estado aconteceu com ou contra seus confrontantes platinos. O perfil da produo , a terra e a cultura no permitem que sejam indiferentes entre si. O alarde em ambos os episdios certamente resultado da precipitao ocasionada pelo sentimento regionalista. No entanto, passado alguns meses e encaminha o processo de integrao, foi o prprio Simon quem o consagrou , sendo elogiado pela imprensa e pelos setores classistas do Estado. Pela primeira vez, estabeleceu-se um canal reconhecido pelo governo federal , com a participao do Estado nas relaes com a Argentina. O salto entre a rejeio e a adeso ufanista advm da falta de amadurecimento capaz de mostrar a convenincia de uma medida. Quando Lula visitou o Estado e manifestou a sua preocupao com a forma de encaminhamento da questo do Mercosul , logo recebeu crticas como se ele se opusesse sua implantao. O que questionava eram as imprecises como ele estava sendo implantado. O moderno Rio Grande do Sul no pode abrir mo de um projeto amplo de integrao latino-americana, altamente benfico a ele, mas tem que avaliar o prejuzo de um projeto mal elaborado. " op94ag21-a,"Os dados da pesquisa Datafolha publicada hoje acerca das intenes de voto para a eleio presidencial abrem um novo cenrio para o debate poltico e ensejam um breve exerccio especulativo acerca do futuro do pas. De fato, a manuteno do crescimento da candidatura de Fernando Henrique Cardoso e da queda de Luiz Incio Lula da Silva comea a tornar plausvel a hiptese de que a corrida presidencial se encerre j no primeiro turno. claro que essa uma perspectiva incerta, e a prpria ascenso de Fernando Henrique Cardoso alerta para a volatilidade das preferncias pr-eleitorais. Ainda assim, a especulao faz sentido medida que no se vislumbram, at agora, novos fatos polticos de impacto e que o grande fator diferencial desta campanha, o Plano Real, dever, segundo especialistas, apresentar taxas declinantes de inflao ao menos at o prximo ms. Lembre-se ademais que a mera perspectiva de vitria j basta para atrair adeses. Como esta Folha vem revelando nos ltimos dias, cada vez mais polticos, das mais varidadas tendncias, procuram a candidatura tucana em busca de alianas. Esse afluxo pode reforar a imagem de favorito, o que por sua vez acaba atraindo mais adeses e assim por diante, num possvel efeito bola-de-neve. Ainda que sempre no campo da especulao, bvio que uma eventual vitria de Fernando Henrique no primeiro turno lhe daria um importante capital poltico. O vasto espectro de apoios que FHC tem recebido vem-se somar a declaraes do prprio candidato no sentido de sugerir a possibilidade de uma ampla frente, de um governo como que de aliana nacional. E se certo que uma juno de foras dspares apresentaria naturalmente problemas de coeso, tambm verdade que uma vitria no primeiro turno poderia dar ao eleito fora bastante para contrapor-se a presses, direcionando mesmo um bloco heterogneo para seus objetivos. Outras indagaes que surgem nesse panorama referem-se ao futuro de partidos no pas. O PT, por exemplo, tender a ser engolfado por uma crise se for derrotado novamente. No surpreenderia se a ala radical da legenda responsabilizasse o comedimento do discurso eleitoral pelo fracasso e tentasse tomar as rdeas do partido; tampouco causaria espanto se os membros mais moderados recusassem o jugo xiita. H que acrescentar a isso o fato de que no h no PT, at agora, um nome capaz de suceder Lula na liderana da agremiao. E duvidoso se o atual cacique petista ter condies de permancer no posto aps duas derrotas sucessivas. No caso do PMDB a situao algo semelhante. Seu atual lder, Orestes Qurcia, parece caminhar para uma derrota de propores at surpreendentes. Tal derrocada, se efetivada, abriria um vcuo para o qual, como no PT, no h at aqui um nome de consenso embora seja provvel que o governador paulista Luiz Antonio Fleury Filho tente preench-lo. incerto, porm, se o PMDB conseguir manter-se intacto: as divergncais internas so notrias e j h adeses a Fernando Henrique ocorrendo de forma desorganizada. Mas, se conseguir sobreviver unido, o PMDB dever dispor de fora pondervel no futuro quadro poltico. Assim como ocorre com Lula e Qurcia, de se indagar se Leonel Brizola no acabar tambm afastado do cenrio poltico com mais essa derrota o que afetaria duramente o PDT, partido muito mais vinculado figura do seu caudilho que os outros acima. Parece esboar-se assim sempre no caso de manuteno das atuais tendncias um cenrio ps-eleio de enfraquecimento de algumas das principais lideranas polticas dos ltimos anos que no exclui a possibilidade de uma grande aliana em torno do vencedor. Um cenrio, portanto, de enormes mudanas e transformaes na vida poltica nacional.","As intenes de voto para a presidncia que o Datafolha publica ensejam uma especulao sobre o futuro poltico do Brasil. Com o crescimento de Fernando Henrique Cardoso e a queda de Lula , pode haver uma definio no primeiro turno. verdade que essas prvias em poltica no tm estabilidade obrigatoriamente, mas a ausncia de fatos novos que indiquem mudana pode deixar o sucesso do Plano Real como nico motivador dos votos, principalmente se a inflao declinar , como sugerem os especialistas. E esse clima de vitria atrai adeses, como j vem acontecendo em torno de FHC, at revelia de decises de cpulas de partidos. Se acontecer a vitria no primeiro turno, Fernando Henrique capitalizar um trunfo poltico capaz de anular as presses e facilitar suas decises de governo. Ainda especulando, o PT pode cair em crise , e os seus radicais assumir as rdeas do governo. E o pior que no h, por enquanto, quem substitua Lula na liderana do partido. Caso idntico ocorre com o PMDB, se o seu atual lder, Orestes Qurcia, concretizar uma derrocada que parece certa. Antonio Fleury Filho pode querer assumir a liderana , mas no h consenso em torno dele. O mesmo pode se dar em Leonel Brizola , cacique do PDT, que no deve resistir a mais uma derrota. " di94no06-16,"Os ltimos continuam sendo os primeiros O pressuposto que o povo brasileiro pagar qualquer preo para ter estabilidade, at custa do desemprego MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Na semana passada, em Santiago do Chile, consegui tomar distncia das mltiplas desgraas que assolam o Rio de Janeiro e fazer uma anlise serena do Plano Real. Fui ajudada pela obrigao de fazer duas exposies para um pblico seleto de experts da Cepal e para o presidente do Banco Central do Chile. Trata-se de gente que conhece as experincias de estabilizao da Amrica Latina. A perplexidade que reinou foi em relao poltica cambial e monetria. As perguntas mais difceis de responder foram: 1 - Por que deixaram o real sobrevalorizar-se nominalmente em 15% em menos de dois meses, em cima de uma inflao residual de cerca de 12%? 2 - Levando em conta o repique da inflao em outubro para cerca de 3%, se esta se mantiver, a sobrevalorizao do real entre 30 de junho e 30 de dezembro pode alcanar cerca de 40%. Esta a mais rpida e brutal sobrevalorizao de todas as experincias recentes de estabilizao que escolheram o cmbio como ncora. Por acaso, o objetivo provocar uma abertura externa com dficit comercial, em tempo recorde para os padres latino-americanos, que levaram em mdia mais de trs anos para obter esse resultado? 3 - Por que puseram uma meta monetria to estreita, sabendo que no detinham o controle do crdito interno e muito menos o do crdito externo? A monetizao brusca, os vasos comunicantes do mercado financeiro e a desregulao da conta de capital do balano de pagamentos no iriam anular qualquer possibilidade de poltica monetria ativa e eficaz? 4 - As expectativas de volta da inflao no tenderiam a restabelecer a reindexao voluntria? Tive dificuldade de responder s perguntas e algumas s pude faz-lo com meras hipteses. Em relao s medidas corretivas que acabaram de ser anunciadas, ocorreram as inevitveis comparaes com o invernadero chileno e as dvidas sobre se o IOF seria um instrumento eficaz para regular a entrada de capitais. O simples manejo para cima do IOF no poderia ser repassado taxa de arbitragem dos agentes financeiros que operam em dlar, seguindo-se um aumento do spread bancrio e uma elevao da taxa de juros nominal interna, que apenas sancionaria o aumento das expectativas inflacionrias? Os fatos da semana passada parecem confirmar a pergunta. Sobre a dinmica futura do plano, podemos pensar em duas fases. Na primeira, a sobrevalorizao continuar como mecanismo de abertura radical da economia. Dado o grande fechamento histrico, parece querer-se chegar, com um atraso de um a dois anos, a um dficit comercial. Este seria julgado essencial para que a absoro de recursos externos seja compatvel macroeconomicamente com o supervit da conta de capitais. Trata-se de uma hiptese convencional, defendida pela maioria dos economistas do Consenso de Washington (ver, por exemplo, o artigo de Arminio Fraga na Gazeta Mercantil de 14/10/94). Esta poltica foi adotada pelo plano de estabilizao do Mxico, com a diferena de que a sobrevalorizao foi mais lenta (dado o mecanismo de deslizamento do peso em relao ao dlar). No Mxico, a destruio da indstria tradicional pela concorrncia externa (decorrente da abertura tarifria e da sobrevalorizao cambial) foi em parte compensada pelo crescimento fortssimo da indstria maquilladora da fronteira que transaciona diretamente em dlar com os EUA. O processo de privatizao acelerou a entrada de capitais (e a sobrevalorizao cambial), a qual continuou depois acompanhando o ciclo de negcios e a demanda por crdito do setor privado. A entrada de capitais, para ser esterilizada monetariamente, teve de ser absorvida pelo crescimento da dvida pblica, o que por sua vez requereu um supervit fiscal primrio crescente. H mais de um ano, o Mxico encontra-se numa situao de desequilbrio potencial permanente no balano de transaes correntes e no oramento fiscal, que foi compensado mais recentemente por um endividamento crescente do setor pblico nas praas financeiras internacionais, em particular na Bolsa de Nova York. As expectativas de entrada e sada de capital financeiro so dificilmente manejveis em condies de desequilbrio macroeconmico crescente e de especulao na Bolsa de Valores. Assim, no Mxico, mais do que em qualquer parte da Amrica Latina, o rabo financeiro especulativo balana continuamente o cachorro. Estruturalmente, o ciclo de negcios mexicano depende cada vez mais do ciclo de negcios dos EUA, j que o Nafta, ao contrrio do Mercosul, no um acordo de livre comrcio, mas sim um acordo de proteo de investimentos de origem americana. Isso d uma certa solidariedade ao pacto das elites mexicanas, ficando com o governo do Mxico a tarefa de tentar sentar em cima das flutuaes da conjuntura e conter as presses sociais atravs das chamadas polticas sociais compensatrias ou, de outro modo, mais violento, conforme a natureza e a localizao dos conflitos. Portanto, a experincia do maior pas latino-americano do Norte indica que a mexicanizao da economia ou da poltica brasileira no so de nenhum modo recomendveis para o Brasil. No caso do Brasil, passado um certo estgio de reestruturao microeconmica, podemos passar a uma segunda fase, onde as presses dos exportadores manufatureiros, que no aguentam a concorrncia, induzam expectativas de desvalorizao. Essas expectativas sero agravadas se a recente elevao de preos das commodities (que representam 50% das exportaes) e a tendncia desvalorizao do dlar no se mantiverem. Como as importaes reagem lentamente enquanto no houver um crescimento interno suficiente para reativar a demanda interna de insumos e bens de capital para investimento, as presses por desvalorizao cambial e reindexao podem se tornar insustentveis, desestabilizando o plano. Para dar nova fora ao plano seria preciso uma nova onda de privatizaes, o que estimularia a entrada de capitais e sustentaria a sobrevalorizao cambial. Desta vez, seriam provavelmente envolvidos os setores estratgicos protegidos pela Constituio e recomendado o estabelecimento de uma nova paridade fixa entre o real e o dlar, com plena conversibilidade e depsitos em dlar, desembocando em alguma verso do Plano Cavallo. Dada a dimenso do Brasil, o seu maior grau de industrializao e os seus gigantescos bolses de pobreza, os resultados desse tipo de polticas seriam piores que os verificados em outras experincias de liberalizao latino-americanas. Do ponto de vista operacional, o mercado financeiro deixado a si mesmo no vai parar de pressionar no sentido da especulao cambial, como na semana que antecedeu as medidas de interveno. Mas o BC (alm de ter de jogar o jogo de gato e rato, em que os operadores da mesa de cmbio conseguem vrias vezes ganhar o jogo derrotando um ou outro especulador mais afoito) deveria ter uma poltica cambial de longo prazo mais coerente com metas mais lentas e coordenadas de abertura econmica e absoro de capitais, sem o que no haver poltica monetria nem poltica fiscal compensatria possveis. Os mentores da poltica econmica brasileira devem conhecer a experincia internacional recente em matria das dificuldades e contradies que derivam da opo por uma poltica de cmbio fixo ou flutuante que leva continuamente sobrevalorizao, usando-se o cmbio nominal como ncora antiinflacionria permanente. Restou-me, assim, uma possvel resposta sobre o porqu da poltica to agressiva de sobrevalorizao cambial, acompanhada de reduo de tarifa externa e antecipao das regras do Mercosul: a equipe quer aproveitar a lua-de-mel da eleio e o prestgio do novo presidente para dar um tratamento de choque em matria de poltica de abertura. Tratar-se-ia de malhar o ferro enquanto est quente para evitar a organizao e arregimentao de interesses a favor de uma abertura lenta, gradual e segura. Como caracterstica da histria das elites, tudo ser feito em nome da estabilidade duradoura, da modernizao e da eficincia (com as devidas salvaguardas microeconmicas para os agentes mais relevantes). O pressuposto que o povo pagar qualquer preo para ter estabilidade de preos, mesmo custa do desemprego e da anomia social. Assim, (como ocorreu com a industrializao), o ltimo pas a se ajustar ao modelo vigente da nova ordem continental seria o primeiro em termos de impacto nos destinos da modernizao conservadora latino-americana. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).","Os ltimos continuam sendo os primeiros O pressuposto que o povo brasileiro pagar qualquer preo para ter estabilidade, at custa do desemprego MARIA DA CONCEIO TAVARESEspecial para a Folha Na semana passada , em Santiago do Chile, tive a chance de uma anlise serena do Plano Real. A situao favorvel foi a obrigao de fazer duas palestras a um pblico seleto de especialistas da Cepal e para o presidente do Banco Central do Chile. O interesse maior estava voltado para a poltica cambial e monetria . As perguntas mais difceis foram: 1- Por que deixaram o real sobrevalorizar-se nominalmente em 15% em menos de dois meses, em cima de uma inflao residual de cerca de 12%? 2- Se esta se mantiver , a sobrevalorizao do real entre junho e dezembro pode chegar a 40%. A inteno provocar uma abertura externa com dficit comercial? 3- A monetizao brusca , a interligao do mercado financeiro e a desregulao da conta de capital do balano de pagamentos no anulariam qualquer possibilidade de poltica monetria ativa e eficaz? 4- A possibilidade do retorno da inflao no tenderia reindexao voluntria? Nas respostas , fiquei s vezes em hipteses. Quanto s medidas corretivas , ficaram as dvidas sobre se o IOF seria eficaz para regular a entrada de capitais. A anlise da dinmica futura do plano pode ser pensada em duas fases. A primeira , admitindo a continuidade da sobrevalorizao como mecanismo de abertura da economia, com o possvel objetivo de chegar-se a um dficit comercialessencial para captao de recursos. Essa poltica foi adotada pelo plano de estabilizao no Mxico. O processo de privatizao estimulou a vinda de capitais que, para ser esterelizada monetariamente, precisou ser condicionada ao crescimento da dvida pblica , exigindo , por sua vez, supervit primrio crescente. O Mxico encontra-se numa situao de desequilbrio potencial permanente no balano de transaes correntes e no oramento fiscal. difcil operar com entrada e sada de capital financeiro em situao de desequilbrio macroeconmico e de especulao na Bolsa. Estruturalmente, os negcios mexicanos esto cada vez mais dependentes dos EUA. Para o pacto das elites mexicanas relativamente confortvel, cabendo ao governo segurar as presses sociais, por bem ou por mal. No so medidas para o Brasil. Passada a experincia de reestruturao microeconmica , pode-se ceder presso dos exportadores manufatureiros, facilitando a desvalorizao, expectativa cada vez mais agravada se os preos das commodities e a tendncia de desvalorizao do dlar no se mantiverem. Uma nova onda de privatizaes , que estimulariam a entrada de capitais e sobrevalorizariam o cmbio, seria uma fora para o plano. Mas, dadas as dimenses do Brasil, no seria uma boa poltica. O BC deveria ter uma poltica cambial de longo prazo com metas mais lentas e coordenadas de abertura econmica e absoro de capitais. Nossos gestores da poltica econmica devem conhecer as dificuldades de uma experincia internacional derivada de uma poltica de cmbio fixo ou flutuante , usando-se o cmbio nominal como ncora antiinflacionria permanente. " op94ab02-a,"O compromisso do cristo de amar a Deus sobre todas as coisas e ao prximo como Jesus nos ensinou. Atravs das semanas da quaresma, viemos caminhando at a Pscoa, a festa da vitria de Cristo sobre o pecado e a morte. Agora, tudo nos fala de vida nova que nos vem da ressurreio de Cristo. Pscoa esperana, certeza de que com a morte no terminar a nossa existncia. Somos chamados a participar para sempre, pela misericrdia de Deus, da ressurreio de Jesus. Da nasce a alegria profunda em nossos coraes. Nada pode destruir a confiana, que Deus infunde em nosso ntimo, de que nos destina felicidade na comunho plena com ele e os irmos. No entanto, Deus nos mantm ainda nesta terra por um tempo que pode durar muitos anos. De ns deseja o testemunho dos valores cristos na construo de uma sociedade justa e solidria. A Pscoa no nos deixa desanimar diante da tarefa de vencermos o mal, o dio, a ganncia, a sede desenfreada de prazer e toda forma de pecado. A esperana comea agora, em nossa vida e na misso de comunicar aos outros a vitria de Cristo. Faz parte desta misso o direito e o dever de procurarmos a concrdia, a justia social e a promoo integral de cada pessoa humana. Aproximam-se no Brasil as eleies. Comea a apresentao de programas pelos partidos e de candidatos aos vrios cargos de governo. Qual deve ser a expresso de nossa cidadania, luz dos valores cristos? Requer-se a anlise das propostas dos partidos e candidatos. Precisamos, tambm, oferecer os valores cristos para que possam beneficiar a sociedade. Quais so estes valores? A honestidade, a justia, a paz e a promoo do bem comum que a todos deveriam atrair. Para o cristo tem como fundamento o amor gratuito e universal que Jesus nos ensina. Assim, na base da justia social deve estar o amor que leva ao apreo e respeito a toda pessoa humana, sem discriminaes de classe, raa e origem. O cristo, a exemplo de Jesus, precisa ainda assegurar a solicitude pelos mais carentes, no anseio de a eles oferecer condies dignas de vida, reduzindo as distncias que separam ricos e pobres, at chegarmos a uma vivncia verdadeira da fraternidade. Sem esta ateno maior aos carentes, partidos e candidatos podero, ao melhorar os resultados econmicos, agravar, no entanto, a brecha entre pobres e ricos, resvalando na tentao de eliminar os excludos, sejam eles nascituros ou sofredores de rua. luz da Pscoa de Jesus, o compromisso poltico do cristo expressa nosso dever para com um novo tipo de sociedade solidria, empenhados em promover a felicidade de cada irmo, sem excluir ningum. A esperana para todos. A ressurreio de Cristo ilumina toda nossa vida e at o discernimento sobre nossa participao poltica. Torna-se mais forte o dever da orao pessoal e comunitria. Vamos, nesta Pscoa, atrair as bnos de Deus sobre nosso povo e nossos governantes na delicada situao poltica que atravessamos.","Amar a Deus sobre todas as coisas e ao prximo como a si mesmo so dois mandamentos fundamentais para o cristo. A festa da Pscoa , que agora comemoramos, nos acena com um vida nova de superao do pecado e da morte. Isso motivo de alegria . No plano terreno, um apelo solidariedade com o prximo, a fim de que a exultao religiosa no fique no discurso, ou numa transcendncia que desconhece as necessidades humanas. O reconhecimento de que existem injustias sociais faz parte da essncia dos valores cristos. E participar de sua soluo sem olhar classe, raa e origem apreender bem a mensagem do Cristo. E com a aproximao das eleies, essa coerncia crist deve ajudar o eleitor na anlise das propostas dos candidatos e interferir na seleo deles. " ce94ab24-e,"Ao primeiro minuto da prxima quarta-feira as nove capitais provinciais da frica do Sul ouviro pela primeira vez, ao menos oficialmente, os sons de Nkosi Sikeleli Afrika (Deus Abenoe a frica). o novo hino nacional oficial, depois de ter sido, anos a fio, o hino clandestinamente cantado pela maioria negra, submetida ao apartheid, o nefando regime de segregao racial. Bem que a frica do Sul vai necessitar das benos dos deuses depois das eleies marcadas para os dias 26 a 28. Em seus 1,22 milho de quilmetros quadrados, vo ensaiar uma difcil convivncia 40,4 milhes de pessoas, divididas entre 5,1 milhes de brancos, 3,4 milhes de mestios e 30,7 milhes de negros, por sua vez, subdividos em 11 etnias diferentes. Desde que, em 1652, a Companhia Holandesa das ndias Orientais estabeleceu sua primeira colnia na costa sul-africana, brancos e negros amaram odiar-se. Antes e depois, negros de uma tribo matavam os de outra. Em 1990, depois de 338 anos de cruentos conflitos, seus lderes decidiram trocar os fuzis pelo dilogo, em busca de um fim negociado do apartheid. O processo reduzira misria uma majoritria fatia da populao negra e conduzira ao fausto a elite branca. As eleies desta semana so o ponto de chegada dessa negociao, um desses raros momentos que de fato merecem a qualificao de histricos. At banqueiros, habitualmente frios, recorrem retrica incandescente para avaliar a situao. O processo de transio em andamento envolve, talvez, o mais substancial realinhamento de poder poltico, militar, social e econmico jamais completado em uma mesa de negociao, em vez de no campo de batalha, incluindo o Oriente Mdio, a Europa Oriental e a antiga Unio Sovitica. A avaliao foi publicada em folheto do Salomon Brothers, banco internacional de investimento. Tarefa to ciclpica no se limitou, no entanto, mesa de negociao. Por indefinidos campos de batalha ficaram, nesses quatro anos de dilogo, os corpos de 13.724 pessoas, conforme o mais recente cmputo da Comisso de Direitos Humanos. Quase dez mortos por dia, s pela violncia poltica, sem contar a elevada cota da criminalidade comum (16 mil assassinatos apenas no ano de 1992). Seria otimismo desmesurado supor que a realizao da primeira eleio multirracial, por mais histrica que seja, basta para pr fim violncia, poltica ou comum. Os conflitos tribais que ensaguentam boa parte do mapa africano e as guerras tnicas em plena Europa assombram uma frica do Sul democrtica. As experincias da frica independente, da Iugoslvia e da ex- URSS demonstraram claramente como difcil substituir identidades tnicas individuais por um compromisso com um nico e abrangente nacionalismo, admite Zola Skweyiya, advogado do partido Conselho Nacional Africano (CNA), o mais provvel ganhador da eleio. O perodo pr-eleitoral d razo a ele. Pelo menos uma parcela dos brancos comea a se concentrar em reas do Transvaal e do Estado Livre de Orange, na zona centro-oriental do pas. um ensaio para se criar um Volkstaat (ptria para os afrikners, os brancos sul-africanos). Tambm a fatia dos zulus, a maior etnia negra (8,3 milhes), pretende fazer do KwaZulu (literalmente o lugar dos zulus) um pas independente. essa presso de fundo tnico, soma-se a presso social. Marginalizada durante sculos, a maioria negra dificilmente ter pacincia para esperar muito tempo para ter a uma vida melhor. Na edio que foi anteontem s bancas, o semanrio The Weekly Mail and Guardian publica histria na popular tira Madame e Eva. Um casal de negros apresenta-se na casa de uma senhora branca, afirmando estar caando casa para depois da eleio. O casal encanta-se com o lustre de cristal, quando a dona avisa: Sinto, mas a casa no est venda. Os negros retrucam: E quem disse algo sobre comprar? O alto nvel de expectativas da maioria negra com a troca de guarda no palcio governamental admitido pela cpula do CNA. No h crime em as pessoas desejarem coisas que lhes dem uma vida melhor, afirma Cyril Ramaphosa, secretrio-geral do partido. De fato no h crime em querer melhorar de vida. Mas tampouco h resposta para a pergunta que o Ramaphosa faz a respeito do futuro imediato: Seremos capazes de satisfazer tais expectativas? Pelo menos no papel, o CNA promete muito: criar, em dez anos, 2,5 milhes de empregos, por meio de um programa nacional de obras pblicas; construir 1 milho de casas, em cinco anos; no mesmo prazo, colocar eletricidade em 2,5 milhes de residncias; prover dez anos de educao grtis e de qualidade para todos, dentro de meros 365 dias. Se conseguir tudo isso e, ainda, controlar os previsveis conflitos tnicos, a frica do Sul nem precisar cantar Nkosi Sikelele Afrika, porque j ter sido abenoada pelos deuses. Se no, ser apenas mais um inferno africano.(CR)","A frica do Sul est prestes a ouvir pela primeira vez, pelo menos oficialmente, o seu hino nacional Nkosi Sikeleli Afrika( Deus Abenoe a frica) . Depois das prximas eleies , aps secular perodo de apartheid , ela vai precisar , mesmo, de proteo divina. A primeira colnia na costa sul-africana , em 1652, implantada pela Companhia Holandesa das ndias Orientais inaugurou um longo perodo de dio entre brancos e negros e de extermnio fratricida. O enriquecimento dos brancos custa da espoliao dos negros alimentou esse dio , que, infelizmente, contaminou as 11 etnias negras diferentes. Enfim, em 1990, os lderes decidiram negociar o fim do apartheid , certamente no por esprito humanitrio , mas por falta de lucro nos conflitos e por presso. At os prprios banqueiros , habitualmente frios, se entusiasmam com a magnitude da negociao. Se milhares de corpos tombaram neste longo e cruento conflito, no de se esperar que a soluo venha pacfica, como num passe de mgica. Tambm difcil supor que essas 11 etnias negras se organizem tranqilamente num nico pas. Pelo menos parte dos brancos, neste perodo pr-eleitoral, j comea a agrupar-se em reas do Transvaal e do Estado Livre de Orange , certamente preocupada em se isolar para proteger-se. E do lado dos negros, principalmente os zulus , a etnia dominante, procuram recuperar o que lhes foi tomado e garantir melhor qualidade de vida. Certamente prevendo as tenses criadas pelas novas expectativas, a cpula do partido promete muito na rea social. Mas o prprio secretrio-geral do partido tem suas dvidas sobre a possibilidade de satisfaz-las. fcil imaginar os resultados de uma frustrao generalizada. " td94ma08-13,"Interior paulista frtil para pequena empresa Da Reportagem Local A reduo de despesas e de pessoal empregado em grandes empresas de plos produtores do interior do Estado de So Paulo tem provocado um boom de abertura de pequenas empresas. o caso de cidades como So Jos dos Campos (97 km a nordeste de So Paulo), Franca (401 km ao norte) e So Carlos (244 km a noroeste). Em So Jos dos Campos, apenas a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronutica) reduziu o total de empregados de 12.500 para 5.700 de 1990 para c. Segundo Juarez de Siqueira Wanderley, diretor de produo da Embraer e diretor do Ciesp regional (Centro das Indstrias do Estado de So Paulo), desde 86 as grandes empresas da cidade dispensaram 15 mil pessoas. Muitos foram embora e outros procuraram uma nova atividade, diz. A Akros Engenharia e a Mectron Engenharia so empresas de ex-funcionrios da Embraer que resolveram ficar em So Jos. Csar Augusto da Silva, 39, scio da Akros, diz que a empresa nasceu h dois anos fazendo projetos de engenharia aeronutica e mecnica. O contrato com a Embraer veio depois. Ela acabou de entregar projetos para o EMB-145 (o primeiro jato comercial brasileiro) e j tem novos pedidos em carteira. A Mectron tambm faz projetos para a Embraer, mas tem contratos com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e j lanou produtos prprios. Fornecer para um nico cliente um risco. Por isso baseamos nossa produo em um trip: servios aeronuticos, de automao industrial e produtos prprios, afirma Rogrio Salvador, 36, scio da empresa. Parceiros integrados A Saltos Francs, de Franca, uma das pequenas empresas que fornecem para os mais de 400 grandes fabricantes de calados da cidade. Srgio Rodrigues Peixoto, dono, diz que vende 60% de toda a produo de saltos para a Sambinos, uma grande fabricante de solados. A integrao entre empresa-me e empresa-filha tal que a Sambinos mantm um centro de qualidade com dois funcionrios dentro da Saltos. Segundo Carlos Brigago, 47, dono da Sambinos, as duas empresas esto investindo na interligao dos computadores para tornar o envio de papis e pedidos menos burocrtico. A metalrgica Genarex, de So Carlos, fornece peas e componentes para a Climax e para a Sincom, segundo Federico Confolonieri, 24, gerente. As encomendas da Sincom representam 70% da produo da empresa. A Genarex est lanando um bebedouro de gua, de fabricao prpria. Para desenvolver o produto, diz Confolonieri, a Sincom cedeu seu laboratrio para as pesquisas e est vendendo componentes. Eles passaram a ser nossos fornecedores tambm, diz ele. (NR)","Interior paulista frtil para pequena empresa Da Reportagem Local Grandes empresas do interior do estado de So Paulo, para conter despesas e reduzir funcionrios, tm provocado o surgimento de vrias pequenas. Tem acontecido em So Jos dos Campos, Franca e So Carlos. A Embraer , em So Jos, reduziu seu quadro de 12.500 para 5.700 empregados, a partir de 1990. A Akros Engenharia e a Mectron Engenharia foram fundadas por ex-funcionrios da Embraer. A Akros , que j fazia projetos de engenharia aeronutica e mecnica , firmou depois contrato com a Embraer. A Mectron, alm de projetos para a Embraer, presta servios para o Inpe. Diversificar clientes mais seguro. Em Franca, a Saltos Francs uma das muitas fornecedoras de grandes fabricantes de calados .E a integrao tal entre ela e a Sambinos , que esta mantm um centro de qualidade dentro da Saltos. Em So Carlos, a metalrgica Genarex fornece peas e componentes para a Clmax e Sicom .E seu lanamento prprio , um bebedouro de gua, recebeu ajuda da Sicom , que lhe cedeu seu laboratrio." di94mr20-20,"Os custos sociais do liberalismo suicida Pases centrais tomam conscincia da gravidade dos problemas gerados por uma poltica liberal irresponsvel MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Finalmente, polticos e intelectuais dos pases centrais comeam a se dar conta da gravidade dos problemas sociais e econmicos gerados por mais de uma dcada de um liberalismo irresponsvel, dogmtico e anrquico. Esta tardia tomada de conscincia se manifesta no encontro de cpula dos ministros do Trabalho dos pases centrais em Detroit (o Job Summit) e em recentes declaraes de renomados e respeitveis economistas conservadores. Pela primeira vez, o G-7 se rene para discutir o problema do desemprego em massa nos pases desenvolvidos, que no pra de crescer, lanando uma parcela cada vez maior da populao na marginalidade. Intimamente ligada a este processo est a questo da deslocalizao, onde setores e at comunidades inteiras so destrudas, pois suas indstrias deixaram de ser competitivas num ambiente de globalizao financeira e abertura comercial indiscriminada. A combinao de taxas de desemprego crescente com a decadncia econmica de regies onde ocorre a deslocalizao gera um quadro social terrvel, cujas consequncias so bem conhecidas. No falam, claro, os liberais como os da revista The Economist, que ainda no nmero da semana passada repetem a ladainha de que o problema do desemprego resultado da rigidez do mercado de trabalho dos pases desenvolvidos, em particular os europeus. A soluo, como sempre, seria aumentar a flexibilidade do mercado de trabalho, com a retirada do seguro-desemprego e demais empecilhos ao livre jogo das foras de mercado. Em outras palavras, o problema do desemprego viria do fato de que as economias centrais, no que diz respeito ao mercado de trabalho, so liberais de menos e a soluo seria mais liberalismo. Depois de anos de crescente flexibilizao do mercado de trabalho, acompanhado de grande aumento e no de diminuio do desemprego, natural que os governos e at alguns liberais de renome comecem a desconfiar que a soluo para os males sociais causados pelo liberalismo irresponsvel no seja mais liberalismo. Em um artigo recente, o professor Maurice Allais, que recebeu o Prmio Nobel de Economia em 1988 por suas contribuies teoria neoclssica (teoria de onde a f liberal busca obter credibilidade cientfica), faz um ataque frontal aplicao, nas condies contemporneas, da doutrina das vantagens comparativas. Segundo ele, esta s aplicvel sob condices altamente restritivas, particularmente se as taxas de cmbio correspondem ao equilbrio das balanas comerciais e se as vantagens comparativas so permanentes, o que em geral no o caso. Allais, talvez por vcio profissional, ou sentimento de impotncia ante a realidade, se esqueceu de mencionar a necessidade da hiptese de pleno emprego. Na maioria dos casos, o resultado da poltica liberal foi uma enorme destruio de empregos locais, em troca de uma pequena reduo no preo do produto para o consumidor e um grande custo fiscal para a sociedade toda, sobretudo para os prprios consumidores que mativeram-se empregados. Os custos sociais esto hoje em evidncia em toda parte. Um relatrio recente da OIT prev para o final da dcada taxas de desemprego em torno de 30% para os pases desenvolvidos. Esta situao e a falta de perspectiva para os mais jovens cria um caldo de cultura propcio marginalidade e aos movimentos de extrema direita, visveis em toda a Europa. Frente a esta situao de catstrofe social, o ex-liberal Maurice Allais recomenda o fechamento comercial do mercado comum europeu, atravs do controle quantitativo de importaes dos pases extra-comunitrios. No caso de a CEE no adotar francamente uma poltica de bloco, frontalmente contrria s regras do Gatt, recomenda que a Frana o faa sozinha. Na verdade, apesar da retrica liberal, esta a prtica corrente nos Estados Unidos e no Japo em matria de comrcio de mercadorias que ameaam suas indstrias. De outro lado, renascem tambm as propostas utpicas onde h os que, como Ricardo Petrella em recente artigo no Le Monde Diplomatique, esperam que a ONU no seu prximo encontro de cpula sobre a questo social, a ser realizado em Copenhague em 1995, estabelea as bases para uma nova ordem econmica e financeira mundial! Independentemente do carter conservador ou utpico e da viabilidade tcnica ou poltica de quaisquer destas propostas, um consolo saber que as pessoas esto reaprendendo que a soluo para o problema do desemprego, resultante da modernizao conservadora e dos excessos do liberalismo, no pode ser simplesmente mais liberalismo. Enquanto isso, chega ao Brasil lady Margaret Thatcher, smbolo do que h de pior no liberalismo socialmente irresponsvel e aplaudida de p pela nata do empresariado brasileiro. As classes produtoras brasileiras no tomam juzo. Pagam US$ 100 mil para ouvir um show requentado da pseudo-rainha de um ex-imprio, cuja indstria entrou em decadncia h 100 anos. Enquanto isto, sabotam, em nome do livre mercado, mais um plano de estabilizao, apesar de supostamente apoiarem o ministro como candidato. Melhor fossem em caravana a Washington (e no a Nova York) verificar in locu as duas caras do consenso na capital do imprio. Na verdade, o que deviam escutar e estudar so os planos de reestruturao da indstria e a reforma do sistema de sade, privado e pblico, que o governo dos Estados Unidos est aplicando para melhorar a situao interna do seu pas. No deveriam impressionar-se tanto com as receitas e presses do FMI e do secretrio do Tesouro norte-americano sobre o Brasil e muito menos deslumbrar-se com a performance de uma atriz coadjuvante. Se prestassem ateno ao que est ocorrendo com as mudanas na economia norte-americana, ficariam surpresos, por exemplo, com o grau de estatizao do novo programa de telecomunicaes. Talvez aprendessem tambm que o aumento de produtividade sistmica incompatvel com o sucateamento do Estado e no implica, do lado empresarial, simplesmente aumentar o desemprego e subir os preos. Finalmente, concluiriam que o governo americano no est baixando os impostos nem desregulando sua economia, mas regulando-a mais intensamente do que nunca, para enfrentar a concorrncia dos pases asiticos e do Japo. Ao mesmo tempo, o Consenso de Washington pretende obter da Amrica Latina um dficit comercial, atravs de uma sobrevalorizao da nossa moeda, o que permitiria aos Estados Unidos reequilibrar a curto prazo suas contas externas. Isto significa que o Brasil, o ltimo pas a resistir ao novo ajuste, que o oposto do de 1982/83, deve submeter-se dolarizao e promover a toque de caixa e no segredo dos gabinetes a reforma constitucional, no captulo da ordem econmica, numa direo supostamente liberal, o que sustentaria novo ciclo de endividamento. Mas seria pedir demais s classes produtoras brasileiras, interessadas apenas no botim imediato, que tomassem conscincia do seu destino e do destino da nao. Provincianos e deslumbrados pela mdia, parecem no saber o que acontece no mundo e so incapazes de pensamento estratgico. Continuam viciados numa ideologia liberal suicida, preocupados apenas com os seus desejos incontidos de ganncia especulativa e patrimonial, que vo custar ao governo, este ano, mais de US$ 10 bilhes em juros internos. Somando os juros da dvida externa (cuja negociao ainda no terminou), o prprio FMI estima em 5,7% do PIB (mais de US$ 22 bilhes) a conta global de juros, uma cifra inacreditvel, cuidadosamente oculta pela equipe econmica, e superior ao impacto fiscal ocorrido no auge da crise da dvida externa! por isso que o ajuste fiscal nunca termina e que o processo de privatizao uma farsa sinistra. Na verdade, como disse recentemente Clovis Rossi nesta Folha, estamos precisando mesmo de uma ruptura democrtica que exponha o nosso empresariado aos ventos da negociao e da verdadeira produtividade e que termine de vez com o seu carter de parasitas financeiros. O saneamento do Estado e o cuidado com o povo, seguramente no cabem a eles e sim ao avano da conscincia e do desejo de cidadania do prprio povo, particularmente na escolha de seus representantes no Congresso e dos futuros governos da nao. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, economista, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).","Os custos sociais do liberalismo suicida Pases centrais tomam conscincia da gravidade dos problemas gerados por uma poltica liberal irresponsvel MARIA DA CONCEIO TAVARES- Especial para a Folha At que enfim , polticos e intelectuais dos pases centrais comeam a se conscientizar da gravidade dos problemas sociais e econmicos gerados por mais de uma dcada de um liberalismo irresponsvel e dogmtico. Foi o que se observou no encontro de cpula dos ministros do Trabalho dos pases centrais em Detroit e em recentes declaraes de respeitveis economistas conservadores. Pela primeira vez, o G-7 se rene para discutir a questo do desemprego em massa, marginalizando grande parte da populao. Isso fruto da perda de competitividade de muitas empresas, vtimas da globalizao financeira e da abertura comercial indiscriminada. Os liberais no falam sobre isso e atribuem o desemprego rigidez do mercado de trabalho dos pases desenvolvidos. Propem a flexibilidade do mercado do trabalho, retirando vantagens j conquistadas pelos trabalhadores. Mas , depois de anos de flexibilizao com aumento do desemprego, governos e at alguns renomados liberais comeam a desconfiar que mais liberalismo no cura liberalismo. O professor Maurice Allais, Prmio Nobel de Economia, ataca a aplicao, nas condies contemporneas, da doutrina das vantagens comparativas.Segundo ele, ela s aplicvel sob condies altamente restritivas. Na maioria dos casos, a poltica liberal s destruiu empregos. Um relatrio recente da OIT prev taxas de desemprego por volta de 30% para os pases desenvolvidos . Com a falta de perspectiva para os mais jovens desenvolve-se um clima de marginalidade propcio aos movimentos de extrema direita. Diante desse quadro catastrfico, o ex-liberal Maurice Allais recomenda o fechamento comercial do mercado comum europeu, atravs do controle quantitativo das importaes dos pases fora da CEE. Enquanto isso, Margaret Thatcher, o que h de pior no liberalismo socialmente irresponsvel, vivamente aplaudida pelo nosso empresariado. Se nossos empresrios prestassem ateno no que ocorre nos EUA , se surpreenderiam , por exemplo, com a estatizao do novo programa de telecomunicaes. Compreenderiam que o governo americano est , mais do que nunca, regulando sua economia para enfrentar a concorrncia dos pases asiticos e dos japoneses. Tambm o Consenso de Washington quer ampliar o dficit comercial da Amrica Latina com a sobrevalorizao da nossa moeda, para reequilibrar suas contas externas. Para tanto, o Brasil deve submeter-se dolarizao e promover a reforma constitucional no captulo sobre a economia , numa direo supostamente liberal. Esses empresrios , anestesiados pela ideologia liberal, continuam preocupados somente com a ambio especulativa e patrimonial, que vai custar ao governo, s neste ano, mais de US$ 10 bilhes de juros internos. Como disse o jornalista Clovis Rossi na Folha , precisamos de uma ruptura democrtica que d um banho de negociao e de verdadeira produtividade nos nossos empresrios e elimine de vez seu carter de parasitas financeiros." td94ja23-02,"Bugigangas importadas geram novos negcios Lojas que vendem produtos com preos entre US$ 1 e US$ 100 despontam como boa opo de investimento ROBERTA JOVCHELEVICH Free-lance para a Folha A abertura de mercado est trazendo ao pas uma verso tipicamente americana de negcio: as lojas de bugigangas. So casas que trabalham basicamente com produtos importados, que custam de US$ 1,00 a US$ 100,00. um tipo de comrcio que no tem pblico-alvo difinido e procura atender indiscriminadamente crianas e adultos. Em uma mesma loja possvel encontrar brinquedos, utenslios domsticos, cosmticos, ferramentas e artigos de papelaria e de escritrio. Como em lojas norte-americanas, os preos so fixados em dlar. Terminais de computador ou cartazes, atualizados diariamente, indicam o valor correspondente em cruzeiros reais. A Dollar Days uma das poucas casas que explora esse mercado. Inaugurada em outubro do ano passado, j conta com quatro unidades espalhadas pela cidade de So Paulo. No Natal passado, se transformou em uma verdadeira mania, devido sua grande variedade de produtos. Cada loja vende cerca de 600 itens 98% importados com preos de US$ 1,00, US$ 2,00 ou, no mximo, US$ 3,00. A estratgia da rede ganhar no giro, isto , vender um volume alto de mercadorias a preos baixos. Nesse caso, a variedade fundamental, assim como a renovao constante do estoque. Segundo Moacyr Bittencourt, 38, scio da Dollar Days, a inteno que o cliente sempre tenha uma nova opo de compra. A rede conta com mais dois scios, Dulio Montanarini e Marcos Croce, que j tinham experincia na rea de importao. Croce mora em Chicago e o responsvel pela importao dos produtos, que vm em grande parte de pases do Oriente (China, Tailndia, Taiwan, Indonsia e Hong Kong). Outra casa, com perfil mais sofisticado, a Dollar Store, inaugurada em dezembro, no bairro de Higienpolis (regio central). A loja s trabalha com importados. Tem mil itens dispostos nas prateleiras, desde um chicl at uma cafeteira eltrica. Segundo Perla Joldzac, 40, antes de abrir a Dollar Store com a scia Paulina H. Fridrich, 43, as duas viajaram para o exterior atrs de idias e novidades. Fizemos uma longa pesquisa de produtos e fornecedores, diz. As compras so realizadas em feiras especficas nos Estados Unidos e Europa e junto a representantes de mercadorias do Oriente. Atualmente, elas recebem catlogos com lanamentos e tambm compram de importadores brasileiros. Apesar de pouco explorado, o mercado de quinquilharias importadas no para qualquer um. Alm de conhecimentos dos trmites da importao, o empreendedor deve ter capital suficiente para montar uma loja relativamente sofisticada (afinal, so produtos destinados classe mdia e alta) e bancar transaes de longo prazo, no caso de importaes diretas do exterior. Uma compra de produtos do Oriente chega a demorar seis meses, diz Bittencourt. J compramos mercadoria que s vai chegar s nossas lojas em maio, afirma. Perla estima em US$ 150 mil (fora o ponto) o investimento mnimo para montar uma casa do gnero.","Bugigangas importadas geram novos negcios Lojas que vendem produtos com preos entre US$ 1 e US$100 despontam como boa opo de investimento ROBERTA JOVCHELEVICHFre-lance para a Folha Na onda de abertura de mercado, esto entrando as lojas de bugigangas verso tipicamente americana de negcios. Basicamente , trabalham com produtos importados , que variam de US$1,00 a US$100,00. A clientela indefinida e inclui crianas e adultos. A Dollar Days uma das poucas lojas do ramo. No Natal passado, virou mania com sua variedade de produtos e preos que iam de um a trs dlares . Para ela, a estratgia ganhar com o giro. Outra lojacom perfil mais sofisticado a Dollar Store, inaugurada em dezembro, no bairro Higienpolis. Suas proprietrias, antes de abrir, pesquisaram novidades no exterior . Fazem suas compras em feiras especficas dos Estados Unidos, Europa e com representantes de mercadorias do Oriente. O mercado de quinquilharias importadas exige conhecimentos da burocracia de importao e capital suficiente para montar loja com certo apuro e para realizar transaes a longo prazo " td94mr13-13,"Armarinho se sofistica e vai para shoppings CLUDIA RIBEIRO MESQUITA Free-lance para a Folha Armarinhos aquelas lojas de miudezas, repletas de produtos para costura podem ser boa alternativa de negcio para quem se mantm atualizado sobre moda e sabe cultivar clientes. O retorno para o investimento para comear, so necessrios cerca de US$ 30 mil chega em mdio prazo. Nessa rea, o sucesso tambm est na diversificao de produtos e de servios. Renato Debellis, 38, um dos proprietrios da filial do Rei dos Aviamentos no shopping Iguatemi, diz que fatura US$ 5.000 por ms, com um lucro em torno de 20%. Segundo ele, se a idia for vender apenas aviamentos a melhor opo ir para um shopping. Esse pblico, afirma, exige sempre produtos de primeira qualidade. Os kits de costura em ponto cruz, a nova coqueluche de seus clientes, so responsveis por 30% de suas vendas. Num shopping h um fluxo intenso de pessoas, condio fundamental para o sucesso de um armarinho, afirma Jos Mancuso Sobrinho, 48, consultor financeiro do Sebrae SP (Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de So Paulo). O grande nmero de clientes, de acordo com Mancuso, o que torna a atividade trabalhosa. A loja de Debellis, inaugurada h 12 anos, atende uma mdia de cem pessoas por dia. H dez anos tnhamos cerca de 400 clientes, lamenta-se. Alm disso, necessrio administrar o estoque. Ele deve ser bastante diversificado e precisa estar em constante reposio. A miudeza faz com que o lucro por pea seja pequeno, afirma Ana Maria Buairide, 38, consultora de marketing do Sebrae SP. Por isso, segundo ela, para provocar vendas de maior expresso importante estar atento s ltimas novidades da moda e agregar servios ao negcio, como divulgar receitas e manter cursos de costura. interessante resgatar o antigo conceito de lojinha, um ponto de encontro onde se podem obter dicas da rea, diz Buairide. No ramo dos armarinhos, a interao com o cliente primordial. Os meus clientes so conhecidos, pedem sugestes, e quem compra uma agulha merece a mesma ateno que a pessoa que leva um nmero maior de peas, afirma a fisioterapeuta Marli Viotti, uma das scias do armarinho Botes e Cia., no shopping Jardim Sul. Ela e a ex-secretria Solange Gaspar abriram a loja h um ano e faturam, em mdia, US$ 3.000 por ms. O principal comprar na hora certa, saber o que o cliente quer e dar ateno a ele, aconselha Marli. Reformas de roupas e aplicao de monogramas engordam o oramento em mais US$ 2.000. O carro-chefe da nossa loja so os botes e os consertos, conta Marli. Alm disso, para atrair o pblico do shopping, cerca de 50% dos 6.000 itens que elas oferecem so importados. A apresentao das instalaes da Botes e Cia. tambm exerce um papel importante. O investimento para criar luxuosas vitrines, ao estilo das joalherias, foi de US$ 40 mil. Outros US$ 30 mil foram investidos na formao do estoque.","Armarinho se sofistica e vai para shoppings CLUDIA RIBEIRO MESQUITAFree-lance para a Folha Para quem se mantm atualizado sobre moda e cultiva empatia com cliente, armarinho pode ser boa alternativa de negcio. Com aproximadamente US$ de 30, o interessado pode comear e ter um retorno a mdio prazo. Renato Debellis, scio da filial do Rei dos Armarinhos no shopping Iguatemi, diz que fatura US$5.000 por ms , com lucro de 20%. O consultor financeiro do Sebrae SP, Jos Mancuso Sobrinho, aconselha um shopping , dado o fluxo de pessoas. Debellis fala da necessidade de administrar o estoque e diversific-lo bastante. A consultora Ana Maria Buairide informa que o lucro por pea pequeno e , por isso, necessrio estar atento s novidades e agregar servios. Marli Viotti , scia do armarinho Botes e Cia, no shopping Jardim Sul, alerta para o bom tratamento ao cliente, mesmo que s leve uma agulha.E tambm para o momento certo de comprar. " ce94ou04-84,"FHC ajudou a debelar golpe militar Tentativa ocorreu no incio deste ano; livro 'A Histria Real' conta bastidores desta eleio presidencial Da Sucursal de Braslia Documentos confidenciais do Exrcito revelam que o pas correu o risco de uma interveno militar em fevereiro deste ano. O motivo: as cenas do Sambdromo, onde Itamar Franco foi fotografado ao lado da modelo Lilian Ramos, sem calcinha. Fernando Henrique Cardoso, ento ministro da Fazenda e j candidato Presidncia, foi um dos personagens centrais da operao que acalmou os militares. A idia de golpe frequentou tambm os gabinetes do Palcio do Planalto. Integrantes do Grupo de Juiz de Fora discutiram com Itamar a proposta de aplicar no Brasil um autogolpe Fujimori. Os episdios so detalhados no livro A Histria Real'', da Folha, editado pela tica. O texto, baseado em pesquisa de um ano, foi preparado por Gilberto Dimenstein e Josias de Souza, diretores da Sucursal de Braslia. O livro, que comea a circular hoje, conta segredos da sucesso presidencial, transmitidos pelas fontes sob a condio de que s fossem divulgados depois da votao de hoje. Ao localizar no tempo as candidaturas de Lula e Fernando Henrique, A Histria Real'' desvenda, simultaneamente, detalhes ainda inditos das gestes dos presidentes Sarney e Collor. Mostra, por exemplo, como o cronograma do Plano Real encaixou-se com o calendrio das eleies, definido em reunies sigilosos entre tcnicos do Ministrio da Fazenda e polticos do PSDB. Um dos que palpitaram na operao que encaixou economia e poltica foi o ministro das Finanas da Argentina, Domingo Cavallo. O livro expe documentos reservados que embasaram toda a estratgia de marketing de Fernando Henrique. Outro texto, formulado pela assessoria de Lula, esboa um plano para manter o PT no poder at o ano 2000. Traa a estratgia para a sucesso presidencial de 1998. Antes de viabilizar-se como candidato favorito, Fernando Henrique e Lula reuniram-se em 1992, para estabelecer uma aliana em que o PSDB ajudaria a eleger o candidato do PT. Abaixo, alguns trechos do livro: O CONVITE O convite de Itamar para que Fernando Henrique fosse ministro da Fazenda no foi de todo inesperado. Estava em Nova York, na casa do embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Sardenberg. tarde, FHC tinha recebido um telefonema de seu scio e amigo Srgio Motta. Este lhe fez um relato dos boatos de que Eliseu Resende iria cair. Disse-lhe que seu nome frequentava as cotigaes do Palcio do Planalto. Acho bom voc voltar. Essa merda vai estourar na sua mo. O Itamar no vai ter outra alternativa'', disse-lhe Srgio Motta. Fernando Henrique cortou: Voc est maluco. Eu no aceitaria essa coisa jamais.'' PT 2000 Intitulado Projeto PT 2000'', um texto de oito pginas, elaborado pelo assessor Ricardo Kotscho, em 1992, estudado pela alta cpula do partido e aprovado por Lula, partia de um pressuposto: a conquista do poder em 1994 seria apenas um comeo. As reformas necessrias ao pas exigiriam pelo menos dez anos. Seria fundamental, portanto, que todos se preparassem para a sucesso seguinte. O objetivo exposto no relatrio, sem meias palavras: A idia criar condies, desde j, para o PT no s se consolidar como uma real alternativa de poder. preparar o caminho para o PT conquistar a maioria da nao, num amplo movimento ao mesmo tempo de massas e de articulao poltica, nica forma de vencer em 1994 e governar o pas em paz, com a sustentao mais ampla possvel, de tal forma que se possa fazer o sucessor em 1998''. ALIANAS O primeiro gesto ousado de Lula na busca de alianas aconteceu no primeiro semestre de 1992. Ele participou de encontro no apartamento de Fernando Henrique Cardoso, na rua Maranho, em Higienpolis, abastado bairro de So Paulo. Tasso Jereissati, ento presidente do PSDB, tambm estava presente. Se uma palavra do que se tramava ali vazasse para a imprensa, o plano afundaria instantaneamente. A trinca discutia o plebiscito, que poderia transformar o Brasil em uma nao parlamentarista, em abril do ano seguinte(...). Do encontro saiu um plano concreto: Lula e Tasso viajariam pelo pas, defendendo o parlamentarismo (...). Essas viagens destinavam-se a ir amaciando aos poucos os radicais do PT, presos aos conceitos da revoluo socialista, preparando-os para um ousado lance: a unio de petistas e tucanos na sucesso presidencial. No apartamento de Fernando Henrique, nascia a idia de que o PSDB apoiaria a candidatura Lula. Os tucanos indicariam o vice. As duas legendas negociariam o nome do primeiro-ministro. OJERIZA AO PFL Numa das ocasies em que Collor convidou o PSDB para ingressar no seu governo, Fernando Henrique manteve com o ento presidente um dilogo sugestivo: Est difcil de aceitar, presidente. Seu programa se encaixa muito bem com o nosso. Mas fica complicado participar de um governo que tenha o PFL. O partido a encarnao do atraso, simboliza tudo de ruim que h no pas.'' Embora alimentasse esperanas, Collor suspeitava que a negociao naufragaria. Suponho que o senhor no possa prescindir do PFL agora'', testou Fernando Henrique. No, realmente no posso abrir mo da participao do PFL. As condies polticas no me permitem'', descartou Collor. Dias depois, Collor teve um segundo encontro com Fernando Henrique. O senador tucano, na poca lder do PSDB no Senado, lanou a ponte para um eventual futuro entendimento com Collor. Pode contar conosco em 94.'' O presidente fez ar de espanto. Fernando Henrique foi, ento, mais explcito: Conte conosco para evitar que, na sua sucesso, o PFL queira impor o nome de Antnio Carlos Magalhes.'' MODELO FUJIMORI Chegou-se a tramar algo mais srio do que a renncia no Palcio do Planalto. Integrantes do chamado grupo de Juiz de Fora realizaram, com o presidente, um debate sobre a possibilidade de se aplicar no Brasil um golpe Fujimori. Propunha-se que, em sociedade com os militares, Itamar fechasse o Congresso, exatamente como fizera Alberto Fujimori no Peru, em abril de 1992. O idelgo da operao, que jamais saiu do campo da teoria e no chegou a entusiasmar Itamar, era o advogado Jos de Castro Ferreira, amigo ntimo do presidente. EFEITO ELEIO Em setembro de 93, a equipe econmica reuniu-se secretamente com a nata do PSDB, no apartamento de FHC, em Braslia. Os tcnicos explicaram aos polticos os detalhes do plano econmico, quela altura apenas um estudo. A reunio comeou s 22h. Em determinado instante da conversa, Mrio Covas explodiu: Vou embora'', disse, perto de 2h da manh. Se isso a o que temos, acabou.'' Candidato ao governo de So Paulo, Covas temia que um fracasso de Fernando Henrique terminasse por contaminar a sua prpria imagem. Edmar Bacha, segurando-o pelo brao, pediu: Senta a, Mrio. Vamos conversar.'' Mais uma hora de explicaes. E Covas voltou carga: Tudo muito bonito. Mas quero saber o seguinte: quando que a inflao vai baixar de verdade?'' No antes de maio de 94'', respondeu Bacha. DOMINGO CAVALLO Na escolha da data do lanamento do real, um palpite veio de fora. Em abril, o ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, ligou para seu colega Bacha, que conheceu em Harvard. Encontrou-o em sua casa, no Rio, de manh. Vocs tm de introduzir a nova moeda em junho'', sugeriu. E apelou para a linguagem eleitoral: Tem de ser em junho, porque a inflao demora a baixar. O impacto eleitoral s vem no terceiro ms. As nossas pesquisas s mudaram no terceiro ms. Vocs no podem permitir que os percalos acadmicos atrapalhem o caminho. Faam logo.'' O dia escolhido foi 1 de julho. SACANAGEM'' O noticirio sobre a folia de Itamar no sambdromo ainda frequentava as pginas dos jornais. O senador Pedro Simon, lder do governo no Senado, abordou o assunto de forma bem-humorada: E a, Itamar, como essa histria?''. Isso pura sacanagem da imprensa. Eu t l, quieto no meu canto. Botam a mulher do meu lado. Eu vou l adivinhar que ela est sem calas! Posso ser tudo, menos adivinho'', disse Itamar. Simon complementa: Ainda se fosse num fusquinha, vocs dois sozinhos...'' O senador insistia em tratar o tema com humor. Mas Itamar, retomando a tese da conspirao dos jornalistas, lembrou de uma foto em que Fernando Henrique aparecia em situao constrangedora. No rveillon, durante um passeio pelo calado de Copacabana, o ministro fora flagrado pelos fotgrafos no instante em que um travesti o abraava. Na opinio de Itamar, os jornais no dispensaram ao auxiliar o tratamento descorts de que se julgava vtima: Ali ningum falou nada. Ningum criticou. Mas comigo sempre do contra. Se o Fernando Henrique sai com um mulhero daqueles, vai ganhar uma baita manchete favorvel. Vo dizer que o tal, que faz tanto sucesso com as mulheres que elas chegam a tirar as calas quando esto do seu lado. Mas se um veado me d um beijo, vo dizer que uma bicha beijou a outra. No tem jeito.'' O GOLPE Fernando Henrique afundou na cadeira. O relato do general Romildo Canhim deixou-o impressionado. No tinha imaginado que a noitada de Itamar Franco no Sambdromo repercutira to mal nos quartis. A ponto de pr em risco a prpria democracia. E tudo acontecendo uma semana aps a aprovao de seu Fundo Social de Emergncia. O ministro foi da euforia profunda preocupao. Canhim tivera uma longa conversa com o ministro do Exrcito, general Zenildo de Lucena. Soube ento que os quartis estavam em polvorosa. To agitados que os ministros militares haviam se reunido secretamente, para analisar a amplitude da crise. Relatrios ultraconfidenciais vinham bater na mesa dos chefes militares. Avolumavam-se, especialmente sobre a escrivaninha do general Zenildo de Lucena. Uma estranha agitao se espalhava pela oficialidade, contaminando a cadeia de comando, num movimento que envolvia sargentos e tenentes da ativa. (...) Sentindo o cheiro de plvora, Fernando Henrique foi ao encontro de Itamar assim que o presidente, finda a folia, retornou a Braslia. A ansiedade convenceu o ministro de que no deveria esperar por um dos vrios despachos de rotina com Itamar. Correu ao encontro do chefe na Base Area de Braslia. Num gabinete reservado, ao lado do salo de desembarque da base, derramou sua preocupao: Itamar, voc deve ter informaes mais precisas do que as minhas. Os militares esto muito aborrecidos com toda essa histria''. Ao contrrio do que supunha, o presidente estava desinformado. Passou-lhe os detalhes. E chegou ao ponto: Eles querem a cabea do Maurcio Corra'' (o ministro da Justia havia bebido demais no Sambdromo). Diante do quadro pintado por Fernando Henrique, o presidente pareceu convencido de que deveria ceder. Tinha, inclusive, um nome para substituir o titular da Justia: Alexandre Dupeyrat, um advogado que o assessorava na Presidncia. Fernando Henrique deu o retorno a Canhim. BANHO DE POVO Escolhido vice de Fernando Henrique, Guilherme Palmeira sentia-se na obrigao de ajudar Fernando Henrique no trato com o eleitorado nordestino. Ministrou-lhe vrias aulas'', ilustradas com histrias verdadeiras. Disse que, candidato ao governo de Alagoas, foi convidado para almoar na casa de um correligionrio. Orgulhoso, o dono da casa no desgrudou de Palmeira. Casa cheia, todos comiam de p. Ao aproximar o prato do rosto, para a primeira garfada, Palmeira levou um susto. Seus olhos o haviam trado. As passas eram, na verdade, moscas mortas. Vrias delas, ali mesmo, no seu prato. No sabia o que fazer. J tinha me servido. Separei alguma coisa, mas tive de comer uma parte do arroz. No se deve fazer desfeita ao eleitor'', ensinou. Fernando Henrique torceu o nariz, fez cara de nojo. E, taxativo, adiantou: A demais. A esse ponto no chego''. APOIO IRRESTRITO Antes de descartar o nome de Lus Eduardo Magalhes para o posto de vice, Fernando Henrique teve com o filho de ACM um dilogo decisivo: Voc quer ser vice?'', perguntou FHC. No, no quero'', respondeu Lus Eduardo. Est bem. Mas quero que voc saiba que ser o que quiser em meu governo. Se quiser ser ministro, pode escolher a pasta. Se quiser ser presidente da Cmara, ter todo o nosso apoio. S no digo que ser eleito porque quem faz a escolha a Cmara. Mas, se eu for presidente, me empenharei muito para isso.'' ESPELHO MEU Um sigiloso documento para orientao da campanha, pilotado por Srgio Motta, elaborado em 22 de junho de 1994 pelo comando de marketing de Fernando Henrique, pintava um quadro vigorosamente realista: As pessoas esto comparando a situao de 1994 com a de 1989 e constantando que a vida mudou para pior. Se j queriam mudana quando elegeram Collor, devem estar pensando agora que a mudana de verdade era Lula. Hoje, boa parte dos eleitores desencantados vem Lula como a nica certeza de mudana. At porque Fernando Henrique no fala sobre isso e no sinaliza s pessoas que ele pode significar a mudana desejada. Fernando Henrique construiu uma grande aliana com a direita, na expectativa de ganhar votos, principalmente no Nordeste. Pode terminar perdendo alguns votos que j eram seus se no assumir um discurso mais esquerda.'' MODELO COLLOR Em seu primeiro encontro com Nizan Guanaes, uma das estrelas da publicidade brasileira, tambm convidado para fazer sua propaganda eleitoral, Fernando Henrique Cardoso encomendou: Preciamos criar um mito.'' Lembrou que Fernando Collor vencera porque criou e manipulou com habilidade o mito dos marajs'', privilegiados funcionrios pblicos de Alagoas. Aos marajs, Collor acoplou a defesa dos descamisados'', atacou polticos e empresrios. Apresentou-se como o anti-poltico. Nesse embate, ele reproduzia a simbologia universal do bem'' contra o mal'', to usada e abusada nas telenovelas e filmes de faroeste. O eleitor, prosseguia, precisa identificar o mocinho e o bandido para amar e detestar. Entremeando argumentos com lies de antropologia, tema que, graas sua mulher, Ruth, entupia as estantes do apartamento e da casa de campo em Ibina, Fernando Henrique disse que Lula no tinha mais essa preocupao: Ele o prprio mito'', sintetizou.","FHC ajudou a debelar golpe militar Tentativa ocorreu no incio deste ano; livro A Histria Real conta bastidores desta eleio presidencial Da Sucursal de Braslia Documentos confidenciais do Exrcito revelam que o pas correu o risco de uma interveno militar em fevereiro deste ano. O motivo foi o presidente Itamar ter sido fotografado no Sambdromo ao lado de uma modelo sem calcinha.[ Fernando Henrique Cardoso, ento ministro da Fazenda , foi um dos que acalmaram os militares. Este e outros episdios so detalhados no livro A Histria Real, da Folha . Conta segredos da sucesso presidencial em que disputavam Lula e Fernando Henrique ,e ainda detalhes inditos das gestes de Collor e Sarney. Correlaciona o Plano Real com as eleies presidenciais, ao lado de documentos confidenciais que alimentavam a estratgia de marketing de FHC. Antes de ser candidato presidncia , Fernando Henrique e Lula reuniram-se para estabelecer uma aliana em que o PSDB apoiaria o candidato do PT. Seguem outros trechos do livro: O convite de Itamar para que Fernando Henrique fosse ministro da Fazenda. Como estava em Nova York, seu amigo Srgio Motta lhe telefonou. FHC foi radical, dizendo que jamais aceitaria. Outro trecho fala do Projeto PT 2000 , texto elaborado pelo assessor Ricardo Kotscho, em 1992, aprovado por Lula, que fala das pretenses do partido de ir muito alm da conquista do poder em 1994. Alm desse, o objetivo era criar condies para que o PT conquistasse a maior parte da nao, num amplo movimento de massas e de articulao poltica. O livro continua ,ainda, revelando um gesto ousado de Lula na busca de alianas. Foi um encontro no apartamento de FHC em So Paulo, do qual participou Tasso Jereissati, ento presidente do PSDB . Temiam qualquer vazamento, pois discutiam o plebiscito propondo o parlamentarismo. Segundo o plano, Lula e Tasso viajariam pelo pas, defendendo a idia. E , ainda, que o PSDB apoiaria a candidatura de Lula e escolheria o vice. As duas legendas escolheriam o primeiro-ministro. Outra inconfidncia do livro fala do convite de Collor para que o PSDB ingressasse no seu governo. Fernando Henrique disse ser difcil, pois, apesar de identidades entre os programas de ambos, a presena do PFL complicaria sua participao. O partido (PFL) a encarnao do atraso, simboliza tudo de ruim que h no pas. No segundo encontro Collor , Fernando Henrique mais explcito: Conte conosco para evitar que, na sua sucesso, o PFL queira impor o nome de Antnio Carlos Magalhes. Outra passagem confidencial foi a proposta do chamado Grupo de Juiz de Fora para que Itamar , junto com os militares, desse um golpe Fujimori fechando o Congresso." op94ou30-02,"Violncia no Rio A questo da violncia no Rio de Janeiro costuma despertar paixes. H desde os quevem na divulgao do tema uma campanha para destruir a imagem da cidade at os que consideram que a bandidagem tomou conta do Rio e hoje s pode ser combatida pelas Foras Armadas e sob estado de defesa. Em primeiro lugar, a violncia urbana no , ao contrrio do Po-de-Acar, monoplio do Rio. Chacinas, trfico, contrabando e corrupo policial ocorrem em qualquer grande centro urbano do pas. De outro lado, foroso reconhecer, as condies histricas e topogrficas da capital fluminense deram a todos esses problemas comuns maioria das metrpoles uma dimenso indita, alarmante. De fato, desde que deixou de ser a capital federal, o Rio como que perdeu sua vocao econmica. Passou por um perodo de desindustrializao (em 50 a indstria fluminense respondia por 25% da produo do pas; em 80 essa cifra j havia cado para apenas 12%) que agravou os desnveis sociais. Uma vez que a geografia carioca tende a colocar a populao carente em reas montanhosas prximas a bairros mais nobres, o morro passou a conviver lado a lado com os edifcios da classe mdia. Esse cenrio no s agua o conflito distributivo como faz com que at os mais ricos vivam a violncia dos morros, amplificando uma barbrie que, em outras cidades, est mais ou menos restrita periferia. Pode-se dizer que uma soluo duradoura para a questo da violncia no Rio passa no s pela melhoria da distribuio de renda isso vale para qualquer municpio brasileiro como tambm por um programa especfico de recuperao da economia da cidade, que, com as alarmantes notcias sobre criminalidade, sofre ainda mais. claro que a busca de uma soluo duradoura no deve impedir que se enfrente o problema em seu aspecto emergencial. E no h dvida de que ele emergencial, ainda que parea difcil discordar de que a mdia em geral, principalmente a eletrnica, tenha colocado seus holofotes sobre o tema. No se pode esquecer de que o eleitor carioca definir no s seu governador como tambm refar a votao para os cargos proporcionais. E vrias propostas vm surgindo para fazer frente criminalidade no Rio. Parece correto, por exemplo, que as Foras Armadas dem algum tipo de contribuio. No se trata, bvio, de substituir policiais por soldados. No h nenhuma razo para acreditar que os militares no acabassem corrompidos da mesma forma que os policiais. Ainda assim, as Foras Armadas poderiam, por exemplo, dar apoio logstico necessria operao de depurao das polcias cariocas. Outra importante colaborao seria na vigilncia de fronteiras, j que a maior parte das drogas e armas que provocam tanta violncia no so nem mesmo produzidas no Brasil. Pode-se at admitir que os militares participem de uma ou outra operao de maior envergadura nos morros, desde que estejam claros os objetivos e a durao da misso. Nunca demais alertar para os riscos de as Foras Armadas atolarem numa operao do tipo Vietn, invencvel e intoleravelmente sanguinolenta. Soldados so treinados para matar, no para policiar. Uma outra idia que surgiu mais recentemente, a de decretar estado de defesa, parece de fato um exagero. Evidentemente, no a dificuldade de apanhar os traficantes em flagrante ou o sigilo telefnico que esto impossibilitando uma ao eficaz da polcia. Assim, no h nenhuma razo para suspender garantias individuais, sobretudo num momento pr-eleitoral. Remdios extremos costumam provocar indesejveis efeitos colaterais. Como se v, a questo da violncia no Rio um problema complexo que tem de ser enfrentado tanto em suas causas como em seus sintomas mais agudos. A inevitvel lentido da primeira frente no deve ocultar a urgncia da segunda batalha. H pessoas morrendo.","Violncia no Rio A questo da violncia no Rio divide as opinies entre os que vem uma forma de difamar a cidade e os que defendem a interveno das Foras Armadas ou o estado de defesa. A verdade que o quadro que alimenta essa violncia no exclusividade do Rio , mas ocorre em qualquer grande centro do pas. Tambm preciso analisar as condies histricas e topogrficas da cidade. Depois que perdeu o status de capital federal, decaiu de sua vocao econmica. Em 50 a indstria fluminense respondia por 25% da produo nacional; em 80, por apenas 12%. Outra razo topografia montanhosa da cidade , que aproxima a populao carente dos edifcios de classe mdia . Esse convvio agua a diferena econmica . Uma soluo duradoura para o problema da violncia requer melhoria da distribuio de renda como em qualquer lugare um programa especfico de restaurao da economia local. Vrias outras propostas vm surgindo, sempre sujeitas a ponderao. A presena das Foras Armadas pode ser bem vinda em forma de apoio logstico necessria depurao das polcias cariocas; e de vigilncia das fronteiras , j que drogas e armas vm de outros pases. Podem at participar de alguma interveno maior, porm com objetivos claros e prazos definidos. Recentemente, tem-se sugerido o estado de defesa. Parece exagero. Monitorar e identificar traficantes , apanh-los em flagrante no a dificuldade. Suspender as garantias individuais no o caminho. " di94se04-17,"Os pontos mais crticos do Plano Real IPC-r mostra efeito do choque de preos do fim de junho no poder de compra de quem ganha at oito salrios mnimos MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha As contradies do Plano FHC, depois denominado Plano Real, comearam de novo a ficar manifestas esta semana. A inflao medida pelo IPC-r, do IBGE, alcanando a 12% nos ltimos dois meses, destampou uma srie de inquietaes que foram estampadas na grande imprensa. A ironia est nos lamentos, argumentos e contra-argumentos dos economistas simpatizantes do plano. A maldio dos ndices (uma suposta lei Mailson) fez com que a equipe econmica escolhesse o pior dos ndices para medir a inflao oficial, proclamaram os analistas de planto. Ora vejamos, que ndice os senhores analistas desejavam escolher para verificar a perda do poder de compra da esmagadora maioria da populao trabalhadora brasileira, desde o dia 15 de junho? Um ndice calculado pela FIESP, o ndice encomendado pelo setor financeiro FGV, ou quem sabe o ndice de variao do dlar comercial? O que o ndice do IBGE mostra o que qualquer economista deveria saber: o efeito do choque de preos ocorrido nas duas ltimas semanas de junho sobre o poder de compra da populao que ganha entre um e oito salrios mnimos e que esta modesta e velha economista j tinha previsto e anunciado com dois meses de antecedncia. A saber: que o choque de oferta de fins de junho levaria para o espao o ganho proveniente da famosa diminuio do imposto inflacionrio, obtida com a reforma monetria. uma maneira interessante e nova (heterodoxa?) de diminuir o imposto inflacionrio, fazendo pagar previamente a conta aqueles que sofrem esse imposto (os que no tem conta remunerada). No tem problema, diro os economistas de planto. Em setembro, na data do dissdio, algumas categorias importantes podero reaver as perdas dos ltimos dois meses e assim sucessivamente para os dissdios subsequentes. Claro! Com o detalhe adicional de que s podero modificar o seu contrato de trabalho ao fim de um ano para evitar indexao e no recuperaro as perdas passadas. No resta dvida que uma maneira interessante de calcular a estabilidade do salrio mdio ao longo de um ano! Esta idia no ocorreu ao dr. Mrio Henrique Simonsen, quando aplicou pela primeira vez a frmula da mdia, em 1964. Ele estimou a inflao esperada, depois do primeiro plano de estabilizao do governo militar, em 5%, o que se verificou rapidamente ser um equvoco, pois a inflao daquele ano foi de 40%. Mas, enfim, o primeiro grande arrocho salarial foi feito pelo menos com alguma compostura terica. Qual ser o modelo dos atuais tecnocratas de planto? a hiptese sobre a inflao esperada durante o prximo ano ser zero? Ou os trabalhadores devem contentar-se impvidos com mais um arrocho salarial programado a frio? Moeda mais forte que o dlar, inflao zero ou quem sabe negativa vo compensar a nova queda da mdia? De mdia em mdia ainda acabaremos na paz dos cemitrios. E o juros? Ah, os juros esto no momento extrapolando uma inflao anual que varia de 48% para os pequenos aplicadores at 600% para os que se endividam recorrendo ao credirio. Alguns analistas (que temporariamente no esto de planto) comeam a se preocupar com os efeitos do arrocho salarial e do endividamento sobre os oramentos das famlias de baixa renda. Todas essas preocupaes surgem em meio a grandes discusses sobre a necessidade de juros altos para conter o consumo. Desta vez, pelo menos, no podem atribuir a to temida e ainda por vir bolha de consumo ao abono salarial, como no Plano Cruzado. Este, como alguns estaro lembrados, puxou todos os salrios para o dia D e deu um abono salarial de 8%, correspondente a uma inflao esperada de 20% (que foi o que acabou ocorrendo at dezembro), o que permitiu manter o poder de compra dos salrios at o fim do ano, isto , mesmo depois de o plano ter fracassado. Agora, neste Plano Real, a mdia salarial j est caindo firme para quem no pertence s grandes empresas industriais da amostra Fiesp (ou IBGE) e continuar caindo mesmo que os dissdios supostamente reponham as perdas dos ltimos dois meses e a inflao se mantenha entre 1% e 2% nos prximos meses. A partir de fevereiro, na melhor das hipteses, a nova perda salarial j dever ter ultrapassado os 20%. Assim, para explicar qualquer aumento de consumo, tero mesmo de se contentar com o efeito riqueza, iluso monetria ou a maldio dos ndices que afugentou os pequenos poupadores das cadernetas de poupana e os leva a gastar mais do que deviam! J que no h controle de preos nem poltica de rendas, clama-se pelo bom senso dos consumidores de baixa renda, tenta-se ensinar-lhes matemtica financeira, apela-se para seu patriotismo! Finalmente, terminar-se-h intervindo no mercado de crdito ao consumidor, uma vez mais por decreto, j que o aumento do compulsrio dos bancos no resolver a questo. No so eles que emprestam aos consumidores, mas sim os comerciantes, para quem o credirio um excelente negcio. Enquanto o emprego, a sade e o aumento de salrio no vm, cantemos em prosa e verso a moeda forte, que deve durar ao menos um ano, ancorada no cmbio. Fixo em cima e flutuante embaixo, o mercado de cmbio livre comporta-se como um iceberg derretendo ou congelando segundo as presses dos fluxos financeiros de entrada e sada de capitais especulativos. O teto continua firme, mas os que transacionam em dlar sabem que o terreno escorregadio. Alguns economistas, como o deputado Delfim Netto, esto preocupados com a sade dos exportadores e com as rachaduras do plano. No se preocupe, deputado, seno vo acabar dizendo que o sr. um xiita da oposio. Alguns governadores de boa vontade cedero, pressionados pelo Governo, parte dos impostos de exportao; sero dados alguns subsdios creditcios e outras isenes fiscais e os recursos para a sade e educao ficam para quando Deus quiser. Alm disso, como todos sabemos, indispensvel que haja uma saudvel competio, em que os nossos sapatos, txteis e confeces demonstrem que os seus preos em dlar so iguais ou menores que os dos chineses em Nova York, embora em reais estejam pela hora da morte. Ento, ameaa-se com uma reduo geral de tarifas de importao. E dizem que no esto programando desemprego e recesso! No seria melhor tentar levar srio estas eleies, cair na real e escolher de vez um caminho diferente ao de outras eleies e planos fracassados, para evitar uma vez mais a frustrao do povo? Todo mundo sabe que a estabilidade da moeda no se obtm por decreto e a etapa final de um longo processo negociado. Por qu tanta f em ncoras artificiais? No seria melhor deixar que o mundo de trabalho organizado (o segundo mundo) negociasse com o empresariado (o primeiro mundo) as suas condies de trabalho, o regime salarial, a produtividade, os preos e os tecnocratas apenas ajudassem nessas negociaes? No seria melhor tentar assumir politicamente a tarefa de resgatar os excludos do nosso terceiro mundo cobrando dos mais ricos o custo do plano de estabilizao e o cumprimento das leis? A propaganda do Plano Real vem ofuscando as condies reais de sobrevivncia dos trabalhadores. Fazer-lhe pagar mais uma vez a poltica de estabilizao no mnimo antitico, alm de ser ineficaz, porque no so eles que produzem a inflao. No so eles que controlam a riqueza financeira, nem a formao de preos. O prprio governo deixou solta os cachorros da inflao, desregulando os mercados cambiais, financeiros e especulativos. Pretende controlar os meios de pagamento na nova moeda (M1), sem controlar a ciranda financeira (M4) aviso de Simonsen). Deixa que os capitais especulativos passeiem vontade entre as Bahamas, os fundos lastreados em dvida pblica e a Bolsa de Valores (anexo 4) e paga juros escandalosos aos senhores do dinheiro (aviso de Andr Lara Rezende), comprometendo assim o oramento que deveria ser pblico e social. Tudo isso, meus caros leitores, apenas no que diz respeito chamada poltica macroeconmica. Quanto ao resto, fao minhas as palavras de Otavio Frias Filho, em seu artigo de quinta-feira passada: Gostaria que os adeptos de FHC, da nova ordem internacional, do Consenso de Washington, da qualidade total, que algum, enfim, explicasse onde est o admirvel mundo novo que eles anunciam. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).","Os pontos mais crticos do Plano Real IPC-r mostra efeito do choque de preos do fim de junho no poder de compra de quem ganha at oito salrios mnimos MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Nesta semana, voltaram em cena as contradies do Plano FHC. A inflao medida pelo IPC-r , do IBGE, nos seus 12% nos ltimos dois meses, provocou inquietaes , destacadas na grande imprensa. O que soa irnico so os lamentos , argumentos e contra-argumentos dos simpatizantes do plano. O ndice do IBGE mostra que o choque de oferta de fins de junho anularia o ganho proveniente da famosa diminuio do imposto inflacionrio. Fica a dvida de qual o modelo pretendido pelos tecnocratas: se a hiptese de inflao zero no prximo ano; ou se os trabalhadores devem mesmo ficar com mais um arrocho salarial. Moeda mais forte que o dlar, inflao zero vo compensar a nova queda da mdia? E os juros? No momento , ultrapassam uma inflao anual que varia de 48% para os pequenos aplicadores a 600% para os que compram em credirio . Esse cenrio j preocupa alguns analistas, que vem o comprometimento dos oramentos das famlias mais pobres. Agora, no Plano Real, a mdia salarial j est em queda para quem no pertence aos grandes grupos da Fiesp. A partir de fevereiro, a perda salarial deve ultrapassar 20%. Se impossvel controlar os preos , clama-se para o bom senso dos pequenos consumidores . E depois intervm-se no mercado de crdito ao consumidor , j que so eles , na prtica, os que emprestam aos consumidores. Nestas eleies, no conviria mais buscar outro caminho , diferente dos traados em planos anteriores, que no frustrasse o povo? Se a estabilidade no se obtm por decreto , mas o resultado de longa negociao, por que tanta f em ncoras artificiais? No seria melhor inocentar os excludos e passar aos mais ricos a conta do plano de estabilizao? O plano est parecendo uma venda que ofusca as condies reais de sobrevivncia dos trabalhadores. Faz-los pagar a dvida antitico, ineficaz , at porque no so eles que produzem a inflao, que controlam o dinheiro e a fixao dos preos." in96ju18-a,"JERUSALM - O novo lder de Israel, Benjamin Netaniahu, conseguiu o apoio de partidos religiosos e de imigrantes russos para formar um novo governo de direita que, os rabes temem, poder interromper o processo de paz no Oriente Mdio. Os 120 deputados do Knesset (Parlamento) eleitos no fim de maio foram empossados ontem, mas Netaniahu no confirmou seu ministrio devido a problemas de ltima hora envolvendo a participao do controvertido ex-ministro Ariel Sharon. De manh, o prprio Sharon anunciou que integraria o novo gabinete como ministro da Habitao e da Infra-estrutura, mas, depois que os deputados da 14 legislatura tomaram posse, informou-se que esse ministrio - estratgico por envolver as colnias em terras rabes - ficar a cargo do prprio Netaniahu e do deputado Meir Porush, do Partido do Judasmo da Bblia, que iria aderir ao novo governo. O general Sharon, de 68 anos, foi um dos artfices da vitria eleitoral da frente direitista Likud-Tsomet-Guesher em maio. Sua participao no governo no bem vista pelos Estados Unidos, devido poltica de assentamentos que desenvolveu na dcada passada, quando ocupou a pasta da Habitao em outro governo do Likud. Terrorista - Antes de ser ministro da Habitao, Sharon ocupou a pasta da Defesa, quando foi o arquiteto da invaso do Lbano, em 1982. Em 1983, foi forado a renunciar depois de ser responsabilizado pela matana de centenas de palestinos pelas milcias crists aliadas de Israel nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, em Beirute. Logo depois da eleio de maio, quando a vitria do Likud foi confirmada, o general deu uma entrevista chamando Yasser Arafat de terrorista. Netaniahu reagiu, dizendo que s ele poderia falar de poltica no governo. Com ou sem Sharon, o gabinete de Netaniahu ser um retrato da frente que o elegeu. Seu partido, o Likud, ter quatro ou cinco pastas, inclusive as da Defesa e da Fazenda. O Ministrio do Exterior ir para David Levy, que pertence ao Guesher (integrante da frente). O Tsomet, terceiro partido da frente, dever ganhar o Ministrio da Agricultura e Meio Ambiente. O Partido Shas (10 deputados) e o Mafdal (Partido Nacional Religioso, com nove deputados) disputam o Ministrio das Religies. O b Ali, partido de imigrantes da ex-Unio Sovitica, com sete cadeiras no Knesset, ficaria com a pasta de Indstria, Comrcio e Imigrao. O Terceiro Caminho, que j aderiu coalizo, ganharia a pasta de Segurana Interna. Com a adeso do b Ali e do Partido do Judasmo da Bblia, a coalizo formada por Netaniahu, hoje com 55 deputados, ter 66. Os nomes dos ministros sero apresentados tarde no Parlamento, que ontem se despediu do primeiro-ministro trabalhista, Shimon Peres. Palestinos - Antes mesmo da divulgao do novo gabinete que ir governar Israel, os palestinos reagiram com pessimismo ao programa de governo apresentado ontem, pois nele Netaniahu no menciona os acordos de Oslo, assinados com os palestinos pelo governo anterior, nem as resolues das Naes Unidas sobre a devoluo de territrios ocupados na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Alm disso, reafirma a disposio de Netaniahu de desenvolver os assentamentos judaicos na Cisjordnia, impedindo a criao de um Estado palestino. Este programa fecha o crculo de paz e nos devolve aos tempos de conflito ideolgico, reagiu Hassan Asfur, diretor-geral do Departamento de Negociaes da Autoridade Palestina. Este programa ameaa perigosamente a segurana, a estabilidade e a paz na regio. Os primeiros a sofrer sero os israelenses e aconselhou-os a ler cuidadosamente o acordo de Oslo para entender direito o que foi acertado.","O novo lder israelense, Benjamin Netaniahu, conseguiu o apoio de partidos religiosos e de imigrantes russos, para compor um governo de direita, que, segundo os rabes, pode interromper as negociaes de paz no Oriente Mdio. A composio do novo ministrio no foi confirmada, por problemas relacionados presena do ex-ministro, general Ariel Sharon, um dos responsveis pela vitria da frente direitista Likud-Tsomet-Guesher. Ele ficaria com o ministrio da Habitao e da Infra-Estrutura. Mas sua poltica de assentamento na dcada passada , na pasta da Habitao influiu na sua rejeio , por parte dos EUA, para fazer parte do novo governo. O ministrio ter a face da frente vitoriosa: o Likud, partido de Netaniahu, ter quatro ou cinco pastas; o Guesher ficar com o Ministrio do Exterior; o Tsomet dever assumir o Ministrio da Agricultura e Meio Ambiente. Os partidos Shas e o Mafdal disputam o Ministrio das Religies; O b Ali, partido de imigrantes russos, ficaria com a pasta de Indstria, Comrcio e Imigrao; e o Terceiro Caminho , possivelmente com a Segurana Interna. Os palestinos anteciparam sua desconfiana no programa do governo, que no mencionou acordos assinados pelo governo anterior. " ce94ab10-a,"Empresa fadada ao insucesso tem duas caras: uma real, outra para o cliente. Na hora de vender, promessas; quando o cliente confere, decepes. difcil encontrar o responsvel, quando a empresa no direcionada satisfao total dos clientes. Nas estruturas tradicionais de empresas, onde o mando predomina sobre a responsabilidade individual, no possvel sequer aprender em cima dos prprios erros. Faz-se de tudo para que no haja registro do erro, para que ele no seja do conhecimento dos que detm o poder de mando. preciso inverter a estrutura, colocando o cliente como a pessoa mais importante da organizao. Mas isso no pode ser apenas um discurso de boas intenes. Vai exigir mudanas para as quais existem duas palavras-chave: delegao e cooperao; disseminao das informaes. 1 SATISFAO DO CLIENTE Colocar a pessoa certa, na hora certa, para fazer certo, da primeira vez, o que o cliente deseja. Este o padro de excelncia desejado. Mas ser que existe mesmo na organizao o lugar certo para essa pessoa certa? Ser que a estrutura da empresa est direcionada satisfao total do cliente? A maioria das empresas possui estruturas tradicionais de comando, onde o cliente relaciona-se com as pessoas que tm menor poder de deciso. Existe uma distncia enorme entre os que detm o poder (a direo superior) e o cliente. O ovo de Colombo revirar totalmente esta estrutura superada. E adotar a pirmide invertida da Qualidade Total. A, as pessoas mais importantes na organizao passam a ser as de atendimento e vendas. So elas que tm contato direto com o cliente. Os demais funcionrios so responsveis pelo bom desempenho do pessoal de frente. A direo fica na base da pirmide: seu papel dar sustentao finalidade de bem atender. A delegao de poder fundamental nesse tipo de organizao participativa e cooperativa. Os acontecimentos mais importantes no so as reunies de chefia, mas os momentos em que a empresa tem contato direto com o cliente, os momentos da verdade. A empresa passa a estruturar-se para transformar em sucesso esses momentos da verdade. Por isso, os clientes esto no topo do organograma. Todos os demais setores se transformam em fornecedores de facilidade para os eventos de satisfao do cliente. O fluxo de operaes estar direcionado para o atendimento do cliente. 2 RELACIONAMENTO COOPERATIVO A responsabilidade compartilhada e o trabalho em equipe s podero se desenvolver se a estrutura permitir uma interao constante entre as reas. A empresa toda um macroprocesso, uma equipe nica voltada para o objetivo comum de atingir altos nveis de produtividade, com a manuteno e a conquista de novos clientes. 3 DISSEMINAO DE INFORMAES O fluxo de informaes que parte do cliente (pedidos, avaliaes, reclamaes, expectativas) passa pelos diferentes departamentos da empresa e deve retornar como resposta e soluo, de maneira gil, ao cliente. O fluxo da deciso e a cadeia cliente-fornecedor devem estar alinhados aos valores que o cliente preza: cortesia, presteza, eficincia, receptividade e personalizao. conhecido o fenmeno de rudo na comunicao: a informao se enfraquece e deforma quanto maior o nmero de transmissores e receptores intermedirios. comum a gerncia desconhecer a realidade da operao na ponta. A perda de competitividade a consequncia mais direta da falta de agilidade nas decises, perda de informaes, aumento da burocracia interna, pois, nos momentos da verdade, o funcionrio precisa tomar decises que implicam, muitas vezes, questes vitais para o cliente. Frequentes consultas aos nveis superiores causam perda de tempo e dinheiro. A reduo dos nveis hierrquicos ao mnimo necessrio traz agilidade. Experimente.","A satisfao total do cliente a meta fundamental de uma empresa moderna. O alcance desse objetivo significa o sucesso dela. Nas empresas tradicionais , o culto da figura do chefe ou diretor levava os funcionrios a no corrigir erros, mas a ocult-los a fim de no desagradar-lhe. Na empresa moderna, primordial inverter essa primazia. O que vai exigir delegar decises, incentivar o esprito de cooperao e disseminar informaes. Os funcionrios que contatam diretamente com o cliente devem ter bastante autonomia de decises , a fim de que este confie neles. Portanto, o seu nvel de competncia para tal funo deve ser o melhor possvel. Os demais participantes da empresa devem constituir-se em suporte para a sua eficincia . O relacionamento cooperativo deve ser resultado da interao estrutural entre as reas. Ele pressupe compartilhar responsabilidades , evitar estrelismos , com vistas a otimizar a produo e a conquistar novos clientes. O pedido de informaes ou sugestes dadas pelo cliente devem fluir rapidamente pelos diversos departamentos da empresa, e o resultado retornar com a mesma presteza, para que as decises do funcionrio-atendente conquistem o cliente e no o percam para o concorrente. " br94ma22-40,"Qurcia foi azaro em todas as disputas Em seu primeiro discurso no Senado, candidato critica governo militar; no MDB, tenta amenizar ataques ao regime Jnio estimulou Qurcia a ficarna poltica Da Reportagem Local No dia do seu casamento, Orestes Qurcia estava no altar, espera de Alade, quando um reprter perguntou se ele estava nervoso. Sua resposta d a medida do quanto sua vida est ligada poltica: Estou emocionado, mas no nervoso. Estou acostumado com esses embates. Seu pai, Octvio, diz que ele se casou tarde porque no tinha tempo para namorar, s para poltica. Qurcia enfrentou as urnas pela primeira vez em 1959, aos 21 anos. Queria ser vereador de Campinas pelo Partido Libertador. Teve menos de 200 votos, e perdeu. O PL era um partido pequeno, que se distinguia por ser o nico a defender o parlamentarismo. Como se v, Qurcia nem sempre foi presidencialista. Em 63, Qurcia conseguiu ser eleito vereador, com 416 votos. Na Cmara, levantava problemas dos bairros e cobrava solues do prefeito, que tambm era do PL. Em 65, quando o bipartidarismo foi instaurado, filiou-se ao MDB ao contrrio de muitos colegas. Foi eleito deputado estadual em 66, com 12.915 votos. Tornou-se vice-lder do partido na Assemblia, mas s cumpriu metade do mandato. Em 68, concorreu Prefeitura de Campinas. Aquela campanha ficou marcada na memria do vereador Romeu Santini (hoje do PFL), que disputou a Prefeitura pela Arena. A vitria do MDB era to improvvel que Qurcia pensou em desistir. Foi demovido por Jnio Quadros, que, mesmo cassado, tinha grande influncia na direo do MDB paulista: Continue. Mesmo perdendo a eleio, voc ganha, porque sai fortalecido para se candidatar a deputado federal. O conselho de Jnio foi narrado a Santini pelo prprio Qurcia. Sua campanha virou graas a um empurro dado pelo governador Roberto Abreu Sodr (Arena). Sodr cortou o adicional de salrio dos ferrovirios e no quis negociar com os professores em greve. Qurcia conseguiu o voto desses setores e dos estudantes. Foi eleito, para surpresa da Arena. Sua gesto na prefeitura revelou um estilo que voltaria a se manifestar no governo do Estado. Em 71, ele j defendia uma ao pragmtica, que evitasse a radicalizao do MDB, a qual lhe impedir toda e qualquer pretenso de um dia tornar-se governo. O prefeito acusava a direo nacional de estar muito ligada ao passado. Defendia a tese de que o MDB deveria aceitar o Movimento de 1964 como fato consumado e rever sua estratgia eleitoral. Segundo ele, o MDB no deveria se limitar a defender a revogao do AI-5, mas deveria propor uma poltica econmica desenvolvimentista. Ele prprio j aplicava essa orientao na prefeitura. Pavimentou avenidas, construiu casas populares e uma estao de tratamento de gua. Desenvolvia trabalhos em colaborao com a Unicamp, aproximando-se de intelectuais que at hoje o apiam. Na poca (em 70), surgiu tambm a primeira denncia contra Qurcia. Seu vice, Eugnio Alati, o acusou de desviar trilhos dos bondes locais para sua fazenda. Organizando o MDB Dedicou-se tambm a organizar o MDB no interior. Em 1969, ao tomar posse, o MDB tinha 204 diretrios (havia 506 municpios). Para estruturar os novos diretrios, mandava que assessores procurassem pessoas dispostas a entrar no MDB. Depois, ele mesmo visitava os escolhidos farmacuticos, comerciantes, estudantes. Era um trabalho difcil, porque muitos achavam que a legenda estava ligada aos comunistas. Qurcia conta um episdio em 72 na pequena cidade de Ubirajara. Ele chegou l s com o nome de um farmacutico que criticava o governo. O farmacutico, apavorado, no quis conversa, e o mandou para o padre, que no o recebeu. O nico que se disps a falar com Qurcia foi o delegado, mas logo avisou: Eu at simpatizo com o senhor, mas no vai formar diretrio do MDB aqui no. O ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Antnio Carlos Mesquita, ento estudante de direito em Limeira, foi um dos aliciados por Qurcia, que o encarregou de organizar o MDB na regio. Fazia at caf Levava lderes locais muitos deles dissidentes da Arena para conhecer suas obras em Campinas. Segundo o ex-deputado Chico Amaral (PMDB), para cooptar uma liderana local, Qurcia chegava a ir para a cozinha, fazer caf e servi-lo aos donos da casa. Tambm cantava moda de viola em pblico e jogava truco com os corregelionrios (chegou a dirigir a Associao Paulista de Truco). Ganhou assim a fama de caipira, que o acompanha: Sou um candidato de boteco disse em 86. Em 72, elegeu seu sucessor em Campinas (Lauro Gonalves) e ampliou a criao de diretrios. No incio de 73, o MDB tinha 250 diretrios locais. Em 74, Qurcia j ampliara esse nmero para 371. Nesse mesmo ano, disputou a indicao para ser candidato ao Senado. Seu principal adversrio era o deputado Freitas Nobre, com base na capital, apoiado pelos lderes do MDB (Franco Montoro e Ulysses Guimares). Venceu o adversrio na conveno por 361 votos a 59. Senado Na campanha ao Senado, soube aproveitar o horrio eleitoral para capitalizar os votos de protesto contra o governo. Obteve 4,6 milhes de votos (foi o senador mais votado at ento), derrotando o favorito, Carvalho Pinto (Arena). Em seu primeiro discurso no Senado, atacou o regime militar. Disse que a junventude estava amordaada. Foi criticado pelo senador Jos Sarney (Arena-MA). Foi o primeiro a propor, em 75, a convocao de Assemblia Constituinte, eleies diretas em todos os nveis e uma CPI sobre violao de direitos humanos. Entre as 397 projetos de lei que apresentou, porm, a maioria tinha cunho corporativo. Defendeu a volta da estabilidade para todos os assalariados e aposentadorias especiais para coveiros, faxineiros, taxistas, ferrovirios e garons. Nessa poca, iniciou sua aproximao com o PCB e o MR-8, que passariam a apoi-lo nas disputas internas do MDB. Hoje, chamado de grande timoneiro pelo MR-8 que o compara a Mao Tse-tung. Em 82, Qurcia disputou com Montoro a indicao para disputar o governo de So Paulo. Foi derrotado, mas conseguiu ser indicado vice, ganhando um lugar que Montoro reservara a Mrio Covas. como vice-governador que consolida suas bases no interior, atravs do movimento municipalista, que defendia o aumento da receita fiscal dos municpios. Em 1984, recebe de Tancredo Neves a tarefa de organizar a frente municipalista pelas diretas-j. Viaja pelo pas e amplia suas bases fora de So Paulo. Na votao da emenda das diretas, leva 5 mil prefeitos e vereadores a Braslia. Qurcia (e o PMDB) se fortalecem no interior. Em 86, ele indicado candidato sem disputa. Seu adversrio, Mrio Covas, teve de se resignar a disputar o Senado. Sua campanha custou a decolar. Em setembro, o partido previa um naufrgio, e parte da legenda queria abandonar o candidato. Quem for traidor e no quiser apoiar o Qurcia, que v para o diabo que o carregue. Vou ganhar do mesmo jeito, dizia ele. Ganhou, com a ajuda do Plano Cruzado embora perdesse na capital para o candidato do PTB, Antonio Ermrio de Moraes. No governo, reeditou em escala ampliada o que fizera na prefeitura grandes obras. As denncias de corrupo tambm cresceram. Assim como na prefeitura, conseguiu eleger seu sucessor (seu secretrio Luiz Antonio Fleury Filho). Deixou o governo e se tornou presidente do partido. Destacou-se como defensor do presidencialismo na campanha para o plebiscito sobre sistema de governo, em 93. Desgastado pelas denncias de corrupo, acabou deixando a presidncia do PMDB pouco depois. Apesar disso, sua base no partido j estava consolidada. Lanou sua pr-candidatura sem o apoio de Fleury. Seu mais forte adversrio o deputado Antnio Britto desistiu de enfrent-lo por temer uma derrota na conveno. A direo do partido convocou uma prvia ltima manobra para tentar derrot-lo. O senador Jos Sarney, bem colocado nas pesquisas, tambm renunciou, e Qurcia venceu mais esta etapa. Agora, novamente o candidato do partido.","Qurcia foi azaro em todas as disputas Em seu primeiro discurso no Senado, candidato critica governo militar; no MDB, tenta amenizar ataques ao regime. Jnio estimulou Qurcia a ficar na poltica. DA REPORTAGEM LOCAL No dia do casamento, enquanto esperava a noiva no altar, Qurcia foi abordado por um reprter , que lhe perguntou se estava ansioso. A resposta deu o tom de quanto estava preso poltica: Estou emocionado, mas no nervoso. Estou acostumado com esses embates. Disputou pela primeira vez em 59 , aos 21 anos. Perdeu. O partido , o PL, era pequeno. Em 63, foi eleito vereador. Na Cmara , cobrava do prefeito , tambm do seu partido, soluo para os problemas dos bairros. Em 65, filiou-se ao MDB e acabou sendo eleito deputado estadual com quase 13 mil votos. Em 68, concorreu prefeitura de Campinas. Quase desistiu por sentir quase improvvel a vitria do seu partido. Jnio o desaconselhou. Virou a campanha graas a uma medida do governador Roberto Abreu Sodr, que cortou o adicional dos ferrovirios e no quis negociar com os professores em greve. Qurcia aproveitou o clima. Em 71, defendia o pragmatismo de no-radicalizao do partido.E que ele aceitasse o Movimento de 1964 como fato consumado. Criticava na direo nacional uma posio muito voltada ao passado. Sua gesto na prefeitura de Campinas caracterizou-se por obras que aparecessem . A primeira acusao de corrupo veio dessa poca. Dedicou-se tambm a organizar o MDB no interior. Usava a estratgia de mandar assessores para farejar possveis adeptos e , depois, ele prprio ia procura-los firmar as adeses. Era incansvel para isso: levar lder locais para conhecer suas obras em Campinas, fazia caf na casa do anfitrio e servia, cantava msica caipira, jogava truco. Marcou-se como o poltico caipira. De 73 para 74 ampliou os diretrios locais do MDB de 250 para 371. Elegeu seu sucessor em Campinas em 72 , e no mesmo ano venceu a disputa para a indicao de candidato a senador. Durante a campanha , capitalizou votos com manifestao de protesto ao governo. Foi o senador mais votado at ento. No Senado, atacou o regime militar, props a convocao da Assemblia Constituinte, eleies diretas em todos os nveis e uma CPI para apurar violao de direitos humanos. Seus projetos de lei , na maioria, tinham carter corporativo. Tambm nessa poca , aproximou-se do PCB e do MR-8, que passaram a apoia-lo nas disputas internas. Em 82, disputou com Montoro a indicao para o governo do Estado de So Paulo. No ganhou, foi indicado vice. E nessa condio consolidada suas bases no interior , por meio do movimento municipalista. Em 86, indicado candidato ao governo do Estado de So Paulo . Aps uma campanha sofrida, elegeu-se com a ajuda do Plano Cruzado. Repetiu o obreiro de Campinas e ganhou novas denncias de corrupo. Depois do governo, tornou-se presidente do partido . Defendeu o presidencialismo na campanha pr plebiscito , em 93" in96fe29-a,"LONDRES - O grande conto de fadas deste fim de sculo termina sem final feliz. Ontem, dois meses depois do apelo da rainha Elizabeth II, a princesa Diana aceitou o pedido do divrcio do prncipe Charles. Diana vai continuar morando no Palcio de Kesington, ter um escritrio no Palcio de Saint James, poder opinar em todas as decises sobre os filhos e manter o ttulo de princesa de Gales, anunciou uma porta-voz da princesa. Mas a famlia real disse que estas condies so um pedido e ainda no esto acertadas definitivamente. Em encontro sigiloso, ontem tarde, no Palcio Saint James, residncia oficial do prncipe Charles desde a separao do casal real, em dezembro de 1992, Diana finalmente concordou com o divrcio. Os advogados dos dois princpes vo discutir agora os termos da dissoluo do casamento. Especula-se que o acordo financeiro possa chegar a quase R$ 40 milhes. Tanto o Palcio de Buckingham quanto o governo britnico foram aparentemente tomados de surpresa pelo anncio, feito por Jane Atkinson, porta-voz de Diana, em declarao exclusiva rdio e televiso britnica BBC: A princesa de Gales concordou com o pedido de divrcio do prncipe Charles. A princesa continuar a se envolver em todas as decises relativas aos filhos e permanecer no Palcio de Kesington, mantendo escritrios no Palcio de Saint James. A princesa de Gales vai reter o ttulo e ser chamada de Diana, princesa de Gales. Igreja - A maior autoridade eclesistica da Igreja da Inglaterra, o arcebispo da Canturia, George Carey, espera e acredita que isto seja do melhor interesse de todos os envolvidos, comentou laconicamente um assessor. Como o rei ou rainha chefia a Igreja Anglicana, Charles deve acumular este cargo quando subir ao trono. O problema que atualmente a lei probe que uma pessoa divorciada chefie a Igreja. Mas juristas britnicos entendem que no haver problema em mudar a lei. Afinal, Henrique VIII rompeu com o Vaticano, criando a Igreja da Inglaterra, em 1534, para se divorciar de Catarina de Arago, a primeira de suas seis esposas. O prncipe promete no se casar de novo, apesar de ter sido visto em pblico, no ano passado, em companhia de sua amante, Camilla Parker-Bowles. Diana, no entanto, jamais ser rainha-me, explica o historiador real David Starkey: Para ser rainha-me, preciso ter sido rainha-consorte. Ela ser apenas princesa. Mas no vejo problema constitucional. O problema de opinio pblica, diz. Starkey acredita que houve um conflito de personalidade entre os prncipes porque Charles uma pessoa discreta, recatada e Diana preferiu se tornar uma celebridade. Sem dvida, a princesa gosta de brincar com fogo e de manipular a mdia. Sua grande tacada publicitria custou-lhe o divrcio. Na entrevista TV BBC divulgada em novembro passado, Diana admitiu ter cometido adultrio com o capito James Hewitt. Foi demais para a rainha. Em dezembro, Elizabeth II ordenou aos prncipes de Gales que se divorciassem o mais rapidamente possvel. Diana resistiu um pouco mas acabou concordando. Trs dos quatro filhos da rainha da Inglaterra esto separados. O quarto, o prncipe Edward, deve anunciar em breve o seu casamento com Sophie Rhis-Jones. Caber a ele, que j foi acusado de homossexualismo pela imprensa sensacionalista, lavar a honra da escandalosa monarquia da Inglaterra.","A separao da princesa Diana e do prncipe Charles ps fim ao conto de fada to divulgado pela mdia. A rainha Elizabeth II , me de Charles , pressionou para eles se divorciassem. Alm das diferenas de personalidade ---o prncipe mais contido, e Diana mais afeita mdia ----, a rainha-me no pde tolerar a declarao da princesa BBC , em que confessou ter cometido adultrio com o capito James Hewitt. Diana continuar com o ttulo de princesa, com moradia no palcio de Kesington , poder opinar em todas as decises sobre os filhos e ---especula-se---o acordo financeiro pode chegar a R$ 40 milhes. Mas a famlia no confirma como certas, ainda, essas condies. Tanto o palcio de Buckingham quanto o governo britnico , aparentemente, se surpreenderam com a notcia do divrcio, dada a relutncia da princesa. A autoridade mxima da Igreja da Inglaterra, George Carey, acredita que tenha sido essa a melhor soluo. Como o rei ou a rainha comanda a Igreja Anglicana, o prncipe Charles poder acumular este cargo. verdade que h uma lei proibindo que um divorciado ocupe a funo , mas os juristas entendem que a lei pode ser mudada --- o caso de Henrique VIII um precedente histrico famoso. " mu94ma08-12,"`Brasil pode ser exemplo latino-americano' Histrias de sucesso sero escritas pelos gigantes do mundo em desenvolvimento No existe substituto para a liderana dos EUA. O que no est claro como liderar Os Estados Unidos devem tomar a iniciativa de implementar acordos como o Nafta ou o Gatt, porque eles abrem nossos mercados aos pases em desenvolvimento, alm de criar mercados para o capital e os bens de consumo e servios dos pases desenvolvidos. Um dos principais motivos para se apoiar o livre comrcio com o mundo em desenvolvimento no econmico, mas poltico. Alguns setores se opem ao livre comrcio com o Mxico e outros pases porque acreditam que a indstria norte-americana ficaria em desvantagem competitiva. Outros se opem ao comrcio com pases do mundo em desenvolvimento que no sejam democracias ao estilo ocidental. Mas o livre comrcio com esses pases faria mais para desencadear reformas polticas do que qualquer ao unilateral que o governo americano pudesse propor. A lio mais importante que os pases em desenvolvimento podem aprender ignorar os conselhos daqueles que, nos EUA e na Europa Ocidental, ainda acreditam que apenas o caminho socialista leva ao paraso econmico. O ltimo refgio dos marxistas so as instituies de desenvolvimento econmico que vem solues estatais em lugar de solues baseadas no mercado como a chave para o crescimento. Eles pensavam que o desenvolvimento econmico liderado pelo Estado levaria independncia econmica. Em vez disso, leva a um beco sem sada econmico. H 40 anos, na condio de vice-presidente, eu visitei todos os pases da sia exceto a China comunista. Lderes polticos, jornalistas, professores e estudantes nas naes recm-independentes discutiam quais polticas produziriam progressos rpidos. Alguns estavam seduzidos pelo modelo sovitico; outros, pelo modelo comunista chins, enquanto outros ainda eram favorveis ao modelo socialista democrtico que na poca ganhava popularidade na Europa Ocidental. Agora a questo deixou de ser discutida. O modelo comunista foi rejeitado pelos povos da ex-Unio Sovitica e Europa Oriental. Os chineses ainda tm um governo comunista, mas utilizaram polticas econmicas de livre mercado para criar crescimento espetacular. O socialismo democrtico foi testado em pases to diversos quanto a Sucia, Frana e ndia, e ficou comprovado que no funciona. As polticas econmicas de livre mercado so a onda do futuro, mas elas no produzem prosperidade instantnea nem ininterrupta. As naes que tm polticas de livre mercado passam por perodos de recesso, de crescimento lento e de crescimento demasiado rpido. Uma poltica econmica de livre mercado ter inevitavelmente seus xitos e seus fracassos. Mas o mercado livre o nico sistema capaz de desencadear o potencial produtivo de uma nao. Se o nico interesse de um povo a estabilidade, ele no deve optar por uma economia de livre mercado. Os mercados livres so instveis por sua prpria natureza. Um filsofo do sculo 19 comparou o capitalismo a um vendaval de destruio criativa. Uma economia comandada pode produzir estabilidade, mas ao custo de reprimir a criatividade. Um sistema de livre mercado encoraja a criatividade, ao custo da instabilidade. Assim, a escolha que se coloca entre o progresso econmico ao custo de alguma instabilidade, ou a estabilidade a custo de nenhum progresso. Os supply-siders (proponentes da teoria segundo a qual um pas pode conquistar estabilidade econmica e controlar sua inflao atravs do aumento da oferta de bens e servios), keynesianos, monetaristas e proponentes de outras teorias econmicas continuaro a debater os mritos de suas diferentes polticas. A chave a livre discusso sobre o que funciona ou no e a disposio de descartar polticas que fracassaram e ampliar o mbito daquelas que deram certo. Quando aconselhamos os dirigentes de pises em desenvolvimento, precisamos descartar a idia de que temos todas as respostas prontas, pois a essncia do livre mercado que no existem respostas cem por cento certas. Se existissem, todos ns seramos bilionrios. Um das histrias mais inspiradoras dos ltimos 50 anos tem sido a dos pases que estavam atolados na misria aps a Segunda Guerra Mundial, mas que adotaram as polticas econmicas apropriadas e desencadearam espantosos progressos sociais e econmicos. China, Taiwan, Coria do Sul, Cingapura, Malsia, Tailndia, Chile e outros deram certo porque enfatizaram alguns princpios econmicos bsicos, como impostos mais baixos, menos regulamentaes governamentais, mercados abertos e indstrias competitivas, e deram prioridade educao. Esses princpios abriram suas economias e as integraram com aquelas do mundo desenvolvido. Progressos deste tipo esto ao alcance de todas as naes. Num prazo de duas ou trs dcadas, qualquer pas pode se libertar da pobreza e engrossar as fileiras das naes em processo de industrializao recente. Ajudando pases em vias de desenvolvimento a adotarem polticas baseadas no crescimento, os pases desenvolvidos podem fazer enormes contribuies positivas ao bem-estar de seus prprios povos e prosperidade de todos os povos. As histrias de sucesso da prxima gerao sero escritas pelos trs grandes gigantes do mundo em via de desenvolvimento ndia, Brasil e Indonsia, todos os quais j cobriram o primeiro trecho do caminho rumo prosperidade econmica potencial. A ndia, com uma populao de 875 milhes, est lentamente abandonando sua reputao de economia socialista. Ela aumentou seu comrcio com a Europa Ocidental e os Estados Unidos, reduziu os subsdios s indstrias estatais e fortaleceu a rpia nos mercados finceiros internacionais. O ndice d alfabetizao melhorou 120% desde 1960. O PNB per capita subiu de US$ 110 para US$ 310 nos ltimos 20 anos. Apesar do fato de que a ndia sofre conflitos religiosos e civis, ela se tornar uma grande potncia no prximo sculo se prosseguir no caminho rumo economia de livre mercado. O Brasil, que tem metade da populao da Amrica Latina, deu uma virada econmica notvel nos anos 90. Devastado por uma inflao descontrolada, uma dvida externa crescente, infra-estrutura pblica decadente e corrupo poltica amplamente difundida, o governo do presidente Itamar Franco abriu suas portas reforma econmica. O PIB brasileiro cresceu 4% em 1993 e a produo industrial aumentou em quase 10%. As exportaes aos Estados Unidos aumentaram 80% nos ltimos dez anos. As tarifas de importao sobre produtos como carros caram de 80% para 25% O Brasil ainda enfrenta srios problemas, mas com esta perspectiva econmica melhor tem potencial para transformar-se em exemplo econmico para o restante da Amrica Latina. A Indonsia constitui um exemplo notvel de como um pas em vias de desenvolvimento pode avanar da pobreza ao progresso, atravs da adoo de polticas de livre mercado. O pas, que to frequentemente passa desapercebido dos especialistas em poltica externa, a quarta nao mais populosa do mundo, depois da China, ndia e Estados Unidos. a maior nao muulmana do mundo, com mais habitantes do que todas as naes rabes juntas. Durante os ltimos 25 anos, a proporo de indonsios que vivem em pobreza absoluta caiu de 60% para 15%. A renda anual per capital aumentou de US$ 50 para US$ 650. A poltica de planejamento familiar reduziu o crescimento populacional anual de 2,4% para 1,8%. A Indonsia sofre os efeitos de corrupo, nepotismo e de um governo autoritrio. Mas o progresso em direo liberdade poltica j est comeando, e ir continuar medida que a liberdade econmica se expandir. O Vietn tem condies de transformar-se numa histria de sucesso econmico se romper com as polticas econmicas e as orientaes polticas fracassadas do passado. Como seus dirigentes so jogadores implacveis da poltica do poder, eles no tardaro a compreender que geopoliticamente no podem se dar ao luxo de retardar seu crescimento econmico com polticas comunistas, num momento em que sua rival mortal, a China, atingiu alto crescimento atravs de meios capitalistas. O Vietn j comeou a abrir sua economia a investidores estrangeiros, especialmente aqueles vindos da Europa Ocidental e do Japo. Mas a maior parte de suas reformas econmicas no passa de fachada. O Egito possui um potencial notvel, especialmente quando se leva em conta o fato de que muitas das prticas estatizantes que opunham obstculos a seu crescimento econmico nos anos 70 e 80 foram revogadas. Sob a corajosa liderana do presidente Hosni Mubarak, o Egito abriu suas portas ao livre comrcio com a Europa Ocidental e funciona como passagem econmica entre a Europa e o restante do mundo rabe. Nos ltimos dez anos o pas dobrou suas exportaes para os Estados Unidos. Com a sinistra ameaa dos fundamentalistas muulmanos radicais, a superpopulao e a inflao, o Egito se confronta com graves problemas. Mas, na condio de regime muulmano que de longe o mais populoso e influente do Oriente Mdio, ele merece o mximo de ateno e apoio do Ocidente. A Tuquia se transformou de refugo econmico em celeiro econmico. A partir da dcada de 80 o falecido primeiro-ministro turco Turgut Ozal promoveu uma agressiva polca de fim das restries ao comrcio, liberalizao da poltica econca e integrao econmica da Turquia com a Europa Ocidental. Estas polticas fizeram o PNB per capita da Turquia saltar de US$ 1.400 em 1980 para US$ 2.000 em 1993. O novo governo de Tansu iller prometeu manter a Turquia nesse mesmo caminho de reforma econmica. O Mxico tem sido a criana prodgio econmica dos anos 90. Sob a liderana do presidente Salinas, o Mxico aumentou seu comrcio com os Estados Unidos, liberalizou as indstrias estatais, restaurou a confiana mundial no peso e eliminou os onerosos subsdios governamentais. Desde que o Mxico comeou a reduzir suas barreiras comerciais, em 1986, as exportae dos EUA subiram de US$ 12,4 ilhes, naquele ano, para US$ 40 bilhes, em 1992. O resultado disto que o Mxico se transformou na economia mais progressista da Amrica Latina e representa um exemplo para as outras naes. Houve trs grandes guerras neste sculo a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Antes de cada uma delas houve conflitos amplamente difundidos. E depois de cada uma houve euforia incontida. Depois da Primeira Guerra, muitos norte-americanos esperavam que a Liga das Naes pudesse concretizar nossa meta de tornar o mundo seguro para a democracia. Mas o corajoso e eloquente apelo ao idealismo lanado por Woodrow Wilson caiu vtima de seu colapso fsico e da oposio das foras isolacionistas no interior dos Estados Unidos. Wilson acreditava que sob a Liga das Naes os pases trabalhariam em conjunto para resolver seus conflitos de modo pacfico. Vinte anos depois, as ditaduras do Eixo lanam a Segunda Guerra Mundial. Aps a derrota da Alemanha e do Japo na Segunda Guerra Mundial, o secretrio de Estado dos EUA, Cordell Hull, disse num testemunho proferido perante o Congresso: No haver mais necesdade de esferas de influncia, de alianas, de equilbrios de poder ou de quaisquer outras das alianas separadas com as quais, no passado infeliz, as naes procuraram salvaguardar sua segurana ou promover seus interesses. A ONU foi saudada como a entidade que tornaria possvel tudo isto. Em 1946, menos de um ano aps o fim da Segunda Guerra e da fundao da ONU, a Unio Sovitica lanava a Guerra Fria. Aps a queda do comunismo sovitico na Guerra Fria e a derrota da agresso na Guerra do Golfo Prsico, a posio amplamente aceita na poca era que estvamos testemunhando o incio de uma nova ordem mundial. Muitas pessoas acreditaram que a capacidade humana de raciocinar tomaria o lugar do instinto humano de agresso. A morte e destruio na Bsnia constitui apenas um exemplo do trgico fato de que o fim da Guerra Fria entre as superpotncias no representou o fim dos conflitos entre potncias menores. O sonho de paz perptua de Immanuel Kant desabou, transformando-se em pesadelo. A isto se soma o fato de que, com a unidade do Ocidente fracionada pelo fim da ameaa segurana, a arena econmica ameaa transformar-se, parafraseando Clausewitz, numa continuao da guerra atravs de outros meios. Ser necessria uma liderana poderosa para fazer frente aos desafios que nos confrontam no mundo na era para alm da paz. significativo que nenhum dos atuais lderes do mundo ocidental, embora sejam homens e mulheres capazes, tenha ndices de aprovao pblica que se equiparam sequer aos de Boris Ieltsin. Churchill observou certa vez que um dos primeiros-ministros britnicos do sculo 19, lorde Rosebery, teve a infelicidade de viver numa poca de grandes homens e pequenos acontecimentos. Historicamente, a grandeza dos grandes lderes no tem sido reconhecida a no ser que eles tenham governado em tempos de guerra. Precimos mudar nossa maneira de pensar. Manter a paz deveria ser reconhecido como um acontecimento to grandioso quanto travar guerras. Aqueles que enfrentam os novos e empolgantes desafios desta histrica era para alm da paz ganharo o manto da grandeza, porque tero a felicidade de viver numa era de grandes acontecimentos produzidos por eles mesmos. Que papel os Estados Unidos iro desempenhar nesta era para alm da paz? No incio do sculo 20 no ramos uma superpotncia militar ou econmica. Embora desempenhssemos um papel significativo no cenrio mundial, a liderana mundial norte-americana no era um fator indispensvel para a manuteno da paz. Hoje os Estados Unidos so a nao mais forte e mais rica do mundo. Est claro que no existe substituto para a liderana americana. O que no est claro como os Estados Unidos deveriam liderar. A histria mostra que as lies do passado podem ser usadas para resolver os problemas do futuro. Enfrentamos perigos menores do que os que enfrentvamos durante a Primeira Guerra, a Segunda Guerra ou a Guerra Fria. Naquelas trs guerras o perigo era tangvel podamos v-lo, senti-lo, toc-lo. Mesmo durante a Guerra Fria, enfrentvamos um perigo claro e presente. Mobilizando nossos recursos econmicos, polticos e militares, os EUA e seus aliados tinham condies de enfrentar e derrotar aqueles perigos. Com o fim da Guerra Fria a ameaa menor, mas o desafio maior. Possumos sem dvida alguma os meios de manter o poderio militar necessrio para assegurar a paz pela qual fizemos tantos sacrifcios. O custo ser muito menor, porque o perigo diminuiu em consequncia do fim da Guerra Fria. Mas no temos um inimigo no exterior para nos unir, nem uma causa para nos inspirar. A dvida profunda se os Estados Unidos iro se unir em defesa de uma poltica de liderana mundial esclarecida uma das maiores causas que qualquer nao poderia ter.","Brasil pode ser exemplo latino-americano Histrias de sucesso sero escritas pelos gigantes do mundo em desenvolvimento No existe substituto para a liderana dos EUA. O que no est claro como liderar Os Estados Unidos devem iniciar acordos com o Nafta ou o Gatt, que abram seus mercados aos pases e desenvolvimento e vice-versa. O interesse maior nem econmico , mas poltico. No valem, ento, os argumentos dos que so contra porque a competitividade americana pode ser ameaada por alguns pases , ou porque h incompatibilidade quanto a formas de governo. As reformas polticas nesses pases, conseguidas com a iniciativa americana, seriam muito mais eficazes do que se tivessem outro encaminhamento. A grande lio a ser aprendida pelos pases em desenvolvimento no ouvir conselhos dos que s admitem desenvolvimento por via socialista. Faz 40 anos, que , na condio de vice-presidente, visitei os pases da sia, fora a China. Lderes polticos, jornalistas, professores, estudantes de naes recm-independentes discutiam quais as vias polticas mais eficientes para o desenvolvimento. Havia os interessados pelo modelo sovitico, outros pelo chins e ainda outros pelo socialista democrtico ento em voga na Europa Ocidental. No se discute mais isso. O modelo comunista perdeu espao. A China, ainda que mantenha o comunismo, adota medidas econmicas de livre mercado. O socialismo democrtico testado na Sucia, Frana e ndia no funcionou. As polticas de livre mercado no funcionam como o toque de fada: tem seus altos e baixos , mas constituem o caminho para desenvolvimento produtivo. Uma economia comandada pode trazer estabilidade , mas com o sacrifcio da criatividade. o contrrio do regime de mercado. Basta ver o sucesso de pases desmoronados aps a Segunda Guerra Mundial que adotaram polticas econmicas mais abertas. China, Taiwan, Coria do Sul, Cingapura, Malsia, Tailndia, Chile seguiram procedimentos econmicos bsicos como impostos mais baixos, menos regulamentao oficial, mercados abertos, prioridade em educao e tiveram sucesso. Trs grandes pases em via de desenvolvimento ndia, Brasil e Indonsiaj percorreram uma etapa do desenvolvimento. A ndia aumentou seu comrcio com a Europa Ocidental e com os Estados Unidos, reduziu os subsdios s indstrias estatais, melhorou em 120% o ndice de alfabetizao e o PNB. O Brasil, devastado pela inflao, pela dvida externa crescente, pela corrupo e com infra-estrutura decadente, deu uma reviravolta nos anos 90 com as reformas econmicas do governo Itamar. Seu PIB cresceu 4% em 93 , e a produo industrial, em quase 10%. Ainda enfrenta srios problemas, mas a perspectiva de crescimento pode transform-lo em exemplo para o restante da Amrica Latina A Indonsia um bom exemplo de como possvel sair da pobreza para o progresso com a adoo de polticas de livre mercado. Outros pases ainda podem ser citados como exemplo de recuperao: Vietn, Egito, Turquia, Mxico. O sculo XX foi palco de trs grandes guerras : a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Os conflitos que as antecederam e , naturalmente, os concomitantes com elas foram seguidos por intensa euforia aps cada uma . Mas a esperana de durao no encontra ressonncia na realidade. Fica a pergunta sobre qual papel os EUA iro desempenhar no interregno de paz. No incio do sculo XX, no ramos uma potncia nem militar nem econmica . Hoje somos a nao mais poderosa do mundo. Qual caminho que esta superpotncia deve assumir para liderar?" in96ju19-a,"MOSCOU - O presidente Boris Yeltsin e o general Alexander Lebed selaram ontem uma aliana com o objetivo de dar a Yeltsin a vitria no segundo turno das eleies presidenciais russas, no incio de julho. Lebed vai tentar transferir para Yeltsin os 11 milhes de votos que lhe deram o terceiro lugar no primeiro turno, ajudando-o a derrotar o comunista Guenadi Ziuganov. Em troca, em plena campanha eleitoral, foi nomeado assessor de segurana nacional e secretrio do Conselho de Segurana, que assessora a presidncia em questes de defesa. E, de quebra, ainda conseguiu a cabea do ministro da Defesa, Pavel Grachev, seu antigo desafeto. Yeltsin conseguiu outro apoio ontem, ainda que hesitante. O economista Grigori Iavlinski, quarto colocado no primeiro turno, declarou, em entrevista transmitida pela televiso, ser contra o voto em Ziuganov. No se pode votar no Partido Comunista. Se voc tenta votar contra os dois, tem que entender que isso pode ajudar Ziuganov, afirmou. Rebelio - Alexander Lebed, um general de 46 anos, de voz cavernosa e sem papas na lnguas, assumiu atirando. Horas depois de nomeado, acusou Grachev de ter planejado um golpe contra Yeltsin e revelou que alguns generais, descontentes com a demisso, haviam iniciado uma rebelio, imediatamente contornada. No haver sublevaes, disse Lebed em entrevista imprensa. Segundo ele, o movimento dos oficiais tinha sido uma tentativa de pressionar Yeltsin. Lebed afirmou ainda que os cargos que assume tm tudo a ver com as promessas de campanha de pr ordem na casa. O general centrou a campanha na luta contra o crime e a corrupo, elegendo Yeltsin como alvo principal. Ontem, os dois homens demonstraram que poltica um jogo de verdades relativas - ou que um segundo turno de eleies zera acusaes e insultos trocados no primeiro. Lebed manifestou confiana em que seus eleitores o seguiro na adeso ao adversrio que tanto criticou. Yeltsin, por sua vez, garantiu que Lebed ser seu sucessor no ano 2000. Mas no o indicou como vice-presidente, cargo que o colocaria direto na linha do poder caso o presidente no consiga concluir o mandato. Yeltsin, 65 anos, j foi hospitalizado algumas vezes, com problemas cardacos. Alm disso, notrio seu gosto pelo lcool, o que lhe causou vrios constrangimentos, tanto na Rssia como em viagens oficiais ao exterior. A grande incgnita da aliana de ocasio entre Yeltsin e Lebed saber se o presidente est disposto a dar poder suficiente ao general para satisfazer suas ambies polticas, que no so pequenas. Os dois homens no se assemelham apenas na aparncia, um tanto rspida e grosseira. Ambos so produtos das hierarquias soviticas - Yeltsin, do Partido Comunista; Lebed, da elite de praquedistas do Exrcito. Caram igualmente em desgraa, Yeltsin quando deixou o Politburo para seguir carreira poltica, em 1987, e Lebed em 1995, quando o ento ministro da Defesa, Pavel Grachev, o destituiu do comando do 14 Exrcito. Iguais - Yeltsin sempre tratou Lebed com indulgncia, como a uma verso mais jovem de si prprio. Normalmente sensvel a insultos, no reagiu quando Lebed, ainda militar da ativa, em 1994, descreveu o presidente e comandante-em-chefe como um zero esquerda. Durante a campanha, referiu-se a Yeltsin como um homem velho e no muito saudvel que j fez o que podia. Com o acordo, essas desavenas viram coisas do passado. Mas deve estar clara, na cabea de Lebed, as dificuldades de relacionamento de Yeltsin com seu vice anterior, o tambm general Alexander Rutskoi. Rutskoi foi convidado por Yeltsin para integrar sua chapa durante a campanha de 1991. O objetivo do ento candidato era aumentar sua penetrao entre militares e eleitores nacionalistas. Mas a escolha se mostrou desastrosa - Rutskoi foi excludo das decises de governo pelos assessores liberais do Kremlin, e se vingou denunciando as reformas econmicas do presidente. Em 1993 liderou uma frustrada tentativa de golpe em Moscou e acabou na cadeia, de onde saiu mais tarde. Desde ento a Rssia no tem mais vice-presidente. Mas Lebed, do alto de 11 milhes de votos, desfruta de uma posio mais confortvel do que a de Rutskoi. Um risco que corre o general novato em poltica o de que, j de olho na prxima eleio, ele passe a cuidar de sua prpria agenda poltica, deixando de lado a de Yeltsin.","Em poltica, o que no era bom no primeiro turno pode mudar no segundo. A aliana do primeiro colocado, Boris Yeltsin, com o terceiro, general Alexander Lebed , comprova isso. Foram zeradas as acusaes de campanha ----para Lebed , Yeltsin era corrupto e incompetente--- em favor da vitria sobre o segundo colocado, Guenadi Ziuganov. Tambm o quarto colocado, Grigori Yavlinski, hesitante , apoiou os aliados. Lebed foi nomeado assessor de segurana nacional e secretrio do Conselho de Segurana. Yeltsin no o indicou como vice, pois o colocaria muito prximo do poder . A condio de sade de Yeltsin e sua predisposio ao lcool poderiam incentivar sua ambio do poder. To logo nomeado , acusou Pavel Grachev de ter planejado um golpe contra Yeltsin , em represlia sua destituio do comando do 14 Exrcito , quando Pavel era ministro da Defesa. A aliana entre Yeltsin e Lebed uma incgnita , pois dois bicudos no se beijam. Ambos tm aparncia rspida e grosseira. Ambos, tambm, provm de hierarquias soviticas. Ambos j caram em desgraa. Apesar de Lebed receber um tratamento indulgente da parte de Yeltsin, deve estar com a barba de molho , pois o vice anterior , general Rutskoi, acabou sendo excludo das decises do governo pelos assessores liberais do Kremlin. Denunciou as reformas econmicas do presidente e, mais tarde, uma tentativa de golpe levou-o priso. " br94ma15-20,"Fernando Henrique tenta decifrar as ruas Senador quando jovem queria ser cardeal; com Collor tentou aprender o caminho para o contato popular FERNANDO RODRIGUES Da Reportagem Local O professor de sociologia Fernando Henrique Cardoso, 62, ganhou sua nica eleio em 86. Conquistou uma cadeira no Senado Federal. Fazia campanha falando para grupos de 40 ou 50 pessoas. Percorreu 208 cidades do Estado de So Paulo. Discursava dentro de salas fechadas, por quase uma hora. Era mais aula que campanha. Na eleio presidencial, ser invivel repetir a estratgia. O pas tem 4.491 municpios e 90,2 milhes de eleitores. Socilogo de sucesso, Fernando Henrique vai ter de enfrentar as ruas. Falar para milhares de pessoas ao mesmo tempo. E adequar seu discurso ao palanque. Ter de se contentar com reflexes-relmpago, de dois ou trs minutos. S que o ex-ministro da Fazenda um intelectual. Relutou em fazer campanha de rua. Queria adi-la para depois da Copa do Mundo. Seu partido, o PSDB, resmungou. Fernando Henrique recuou. Ele assim mesmo. Pondera sobre tudo e cultiva a racionalidade. Defende seu ponto de vista e comea a frase seguinte com um mas.... * mais fcil entender Fernando Henrique Cardoso com uma de suas frases: (Toro para o) Corinthians, claro. Mas j fui scio do Palmeiras. Fora de So Paulo, toro para o Santos. E se a Portuguesa ganhar, no fico triste. A declarao de agosto de 85. A campanha era para a Prefeitura de So Paulo. Fernando Henrique perdeu para Jnio Quadros. Essa sua indeciso por alguns temas refora a imagem de hesitante de seu partido, o PSDB. Seu amigo, o senador Jarbas Passarinho (PPR-PA) costuma definir FHC hoje com uma piada: Fico feliz em saber que um socilogo. Se engenheiro fosse, construiria muros interminveis. FHC, como ficou conhecido por uma necessidade dos jornalistas de fazer o seu nome caber em ttulos, lutou nas ltimas duas dcadas para fazer do Fernando Henrique poltico um vencedor igual ao Fernando Henrique professor. O mestre um sucesso. Socilogo, publicou 24 livros em 34 anos. Deu aulas em oito faculdades ou universidades no exterior. professor emrito da Universidade de So Paulo (USP). Em resumo, possvel discordar das idias do professor Fernando Henrique. Isso no o afeta. Na poltica diferente. At agora, FHC foi testado trs vezes nas urnas em 78, 85 e 86. Perdeu as duas primeiras e ganhou a ltima. Em 78, disputou uma vaga no Senado e ficou apenas com a suplncia. Perdeu para Andr Franco Montoro. Mesmo tendo toda a esquerda de So Paulo em apoio inclusive o ento sindicalista Luiz Incio Lula da Silva. Teve, ainda, o aplauso entusiasmado de Orestes Qurcia. Seu segundo teste eleitoral foi em 85. Disputou e perdeu a Prefeitura de So Paulo. Foi derrotado por Jnio Quadros. A campanha de 85 foi uma sucesso de erros. Declaraes suas permitiram que adversrios o rotulassem de maconheiro e ateu embora nunca tenha afirmado diretamente no acreditar em deus nem ter consumido drogas. Para os amigos, foi ingnuo. Sofreria de sincerocdio, um neologismo criado pelo publicitrio Nizan Guanaes. Para os detratores, FHC presunoso e elitista. Os inimigos adoram recordar 85, quando o candidato prefeitura sentou-se na cadeira de prefeito antes da eleio. Perdeu para Jnio Quadros por apenas 141.154 votos. Mas perdeu. Seu ltimo teste eleitoral aconteceu em 1986. Ganhou sua nica eleio, para o Senado. Elegeu-se pelo PMDB na esteira do Plano Cruzado, que reduziu artificialmente a inflao brasileira para -0,11% no seu primeiro ms. Ainda assim, ficou em segundo lugar, 1,5 milho de votos atrs de Mrios Covas, outro peemedebista. Esses trs testes mostraram para FHC a diferena entre a poltica e a academia. Ele sabe que para ser presidente no basta fazer um exame de ctedra. Estou com o couro duro, costuma dizer. Uma das provas que vai enfrentar nesta campanha o que vem sendo chamado de guerra de dossis. So relatrios sobre a vida pessoal dos candidatos que estariam prontos para ser divulgados. De FHC, o boato recorrente em Braslia seria o seu suposto romance com uma jornalista de TV. O namoro teria durado quase oito anos. Um filho teria nascido da unio dos dois. O garoto teria hoje trs anos. Fernando Henrique nega tudo. Olha, se tiver alguma me dizendo que o filho meu, vamos examinar. Isso onda. A imprensa comeou a falar dessa coisa antes dos candidatos. O Qurcia teria um dossi, dizem. Mas o Qurcia no disse nada. No plano poltico, FHC certamente ser questionado na campanha sobre sua proximidade com o ex-presidente Fernando Collor. Em vrias ocasies esteve pronto para assumir algum ministrio. Nos jantares onde o convite era sempre reapresentado a FHC, a forma de tratamento entre os dois Fernandos costumava ser pelo primeiro nome. Exerciam um fascnio mtuo um pelo outro. FHC queria aprender com Collor o caminho do contato popular. E o presidente ficava fascinado com o professor Fernando Henrique, seu conselheiro informal. Esse relacionamento de proximidade a Collor sem aderir totalmente ao governo custou a FHC a imagem de indeciso. Uma pecha j carregada pelo PSDB. Mas o fato que nunca hove a adeso. O ministrio que FHC assumiu foi s no governo Itamar. Primeiro, o das Relaes Exteriores. Depois, o da Fazenda. Quando aceitou ser o czar da economia, o fez em situao delicada. Foi o quarto ministro da Fazenda de Itamar em pouco mais de um ano. Costurou um acordo amplo e conseguiu o apoio de empresrios, da mdia e de parte do Congresso. A inflao disparou. Mas FHC foi poupado. Lanou-se candidato certo de que poderia ser o anti-Lula. Seus ndices baixos nas pesquisas eleitorais ameaam fazer ruir o acordo que levou para a disputa. Fernando Henrique de 18 de junho de 1931. Nasceu em casa, na rua 19 de fevereiro, em Botafogo, no Rio. do signo de gmeos. Filho de pai militar, veio aos oito anos para So Paulo. O Fernando estava com um sapato branco, um roupa esporte bem caracterstica de carioca, lembra-se o engenheiro Osmar Penteado de Souza e Silva, 63, colega de FHC no ginsio, sobre o dia em que conheceu o amigo. Prestes (1898-1990) foi o mais popular lder comunista do Brasil. Papai e Prestes eram iguaizinhos a todos os militares: amavam o Brasil e o seu povo, diz FHC. Junto com os colegas, fundou o Centro Colegial So Paulo o grmio da escola. Seu grupo ganhou as eleies durante os trs anos do curso, de 46 a 48, FHC foi da diretoria os trs anos. No colegial o segundo grau da pca, os garotos tinham aulas de manh. As garotas, tarde. O Fernando era popular com as moas. Ele ia sempre nas classes das meninas para distribuir os panfletos da chapa, lembra o amigo Clio Benevides. Formado no colegial, em 49 ingressou na universidade. Fez sociologia, na USP. Estava na moda naquela poca, diz seu ex-professor, o deputado federal Florestan Fernandes (PT-SP), 73. Na USP, conheceu sua mulher, a tambm estudante de sociologia Ruth Corra Leite, um ano mais velha do que ele. Na poca, FHC tinha 18 anos. Ruth, 19. Eles faziam a mesma coisa na universidade, tinham os mesmos gostos. A gente falava que mais pareciam irmos do que namorados, diz Roberto Gusmo, 68, um colega da poca que chegou a ministro da Indstria e do Comrcio do governo Sarney (85-90). Em 47, Gusmo presidiu a Unio Nacional dos Estudantes (UNE). Ficou no movimento estudantil at o incio dos anos 50, quando conheceu Fernando Henrique. Ele era comuna. Eu era mais um socialista, diz. Em 31 de dezembro de 53, s 23h45, Gusmo e Fernando Henrique estavam na calada esperando a So Silvestre passar. A Corrida j era a mais importante prova pedestre de rua do Brasil. Fomos ver porque iria ganhar o Emil Zatopek, um tcheco, comunista. Era o mximo ver um comunista ganhar a corrida, afirma Gusmo. O sentimento de Gusmo e de FHC naquele dia habitou as esquerdas do pas durante anos: na falta de brasileiro com chance de ganhar, torcia-se preferencialmente por algum de um pas de regime comunista. Depois da prova, na comemorao da entrada de 1954, Fernando Henrique fez a declarao que Gusmo se lembra at hoje: Eu vou ser catedrtico, vou para a Sorbonne, vou ser senador da Repblica, e, se possvel, cardeal. Os cardeais formam o conselho consultivo da Igreja Catlica. No preciso ser padre para ser cardeal. So nomeados diretamente pelo papa. O cargo vitalcio. A funo mais importante de um cardeal eleger o papa. o carreirista mais bem-sucedido que eu conheo costumo brincar. S mudou a idia de cardeal para presidente, diz Gusmo. Logo depois da tomada do poder pelos militares, em 31 de maro de 64, FHC resolveu sair do pas por causa de uma ordem de priso preventiva. Era acusado de atividades subversivas. Ficou escondido no apartamento da psicanalista Melanie Farkas, no Guaruj, cidade litornea a 87 km de So Paulo. Passou duas semanas sem aparecer. Ficou no litoral junto como amigo Lencio Martins Rodrigues, outro socilogo. Maurcio Segall, filho do pintor Lasar Segall, e ligado ao Partido Comunista, preparou a fuga. FHC voltou incgnito para So Paulo. Passou na casa do amigo Roberto Gusmo. No poro, atrs de um aparelho de som, escondeu a papelada do que viria a ser sua tese de ctedra quatro anos depois. Embarcou para a Argentina, com seu prprio passaporte, no dia 17 de abril. A polcia de fronteira no percebeu. De Buenos Aires, foi para o Chile. Chegou em Santiago no dia 1. de maio. sua espera no aeroporto, um amigo: Francisco Weffort, hoje no PT. FHC foi para o Chile trabalhar no Ilpes (Instituto Latino-Americano de Planificao Econmica e Social). O Ilpes da Cepal (Comisso Econmica para a Amrica Latina), um organismo da ONU (Organizao das Naes Unidas). Os cepalinos, como eram conhecidos os economistas da Cepal eram adeptos da tese s h pses ricos porque existem os pobres. a teoria da dependncia: a periferia nunca vai se desenvolver. Fernando Henrique achava a teoria, como estava, um despautrio. Criticou os cepalinos. Naquela poca o tucano j dizia acreditar na economia de mercado ou nos benefcios da sociedade de consumo. Foi ainda no primeiro semestre de 64 que fez arrepiar a esquerda ortodoxa. O investimento dos trustes e cartis gera crescimento interno. Por isso, a sociedade se transforma, repetia. Nos 70, FHC foi mais direto. Enquanto as esquerdas s discutiam as formas de resistncias ao regime militar, o socilogo Fernando Henrique queria aumentar o nvel de consumo. Em artigo para o extinto jornal semanal Opinio, em fevereiro de 73, escreveu: As oposies, em vez de negar a realidade e encastelarem-se na crena de um imobilismo social que no existe, ou de menosprezarem a nsia por consumo das classes possuidoras, devem partir destas aspiraes procurando aument-las, corrigi-las e mostrar a inviabilidade ou a dificuldade de elas serem atendidas nos moldes atuais da sociedade. Embora tenha criticado ferozmente o que chama de Estado tcnico-burocrtico no incio dos anos 70, hoje ainda contra a venda da Petrobrs, maior empresa do pas. Sou a favor, sim, de abrir o monoplio, diz. Indagado sobre a razo especfica para defender a Petrobrs nas mos do Estado, tergiversa: uma questo que no est colocada. A Petrobrs ficar para sempre nas mos do governo? De novo, a mesma resposta. Os titubeios na hora de abraar de uma vez o liberalismo lhe rendem crticas. O deputado Roberto Campos (PPR-RJ) descreve-o de maneira singular: O Fernando Henrique um Lula que estudou.","Fernando Henrique tenta decifrar as ruas Senador quando jovem queria ser cardeal; com Collor tentou aprender o caminho para o contato popular .-----FERNANDO RODRIGUES O professor Fernando Henrique Cardoso ganhou sua nica eleio em 86uma cadeira no Senado. A campanha lembrava uma aula: ele falava para 40 ou 50 pessoas. Na eleio presidencial teria que ser diferente. Com a quantidade de municpios e de eleitores, ele teria que enfrentar as ruas. Com seus hbitos de intelectual, relutou. Mas o seu partido, PSDB, chiou e ele voltou atrs. Coerente , alis, consigo : defende o seu ponto de vista e recomea a frase com um mas. dele uma frase que o define bem:(Toro para o )Corinthians, claro. Mas j fui scio do Palmeiras. Fora de So Paulo, toro para o Santos. E se a Portuguesa ganhar, no fico triste. Essa sua indeciso por alguns temas refora a imagem de hesitante do PSDB. Como professor de sociologia , elogivel. Sua reputao intelectual paira acima das discordncias s suas idias. Mas na poltica diferente. Nos seus testes de urna 78,85 e 86perdeu duas e ganhou a ltima. Em 78 , ficou como suplente de senador.Em 85, cometeu uma srie de erros. Declaraes infelizes levaram seus adversrios a rotularem-no de maconheiro e ateu. A sua classificao oscilava de ingnuo para os amigos, a presunoso e elitista para os adversrios. Em 86, foi eleito senador . Os trs testes mostraram que poltica e academia tm diferena. Nesta campanha presidncia , vai enfrentar duras provas. Uma delas guerra dos dossis , que j lhe arranjou um filho extramatrimonial , negado por ele. No plano poltico , certamente vai ser provocado por sua proximidade com o ex-presidente Fernando Collor. De fato, havia uma forte admirao mtua. Fernando Henrique queria aprender o Collor o contato com as massas, e este tinha fascinao pelo professor socilogo. Esse relacionamento com Collor sem adeso ao governo custou a FHC a imagem de indeciso. " br94no18-15,"Conhea a ntegra do pronunciamento do presidente eleito Da Sucursal de Braslia A seguir, a ntegra do pronunciamento do presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, feito ontem em Braslia: Em primeiro lugar, quero externar a minha alegria pela realizao das eleies na forma to democrtica, to positiva e pelos resultados. inegvel que o povo brasileiro, atravs de seu eleitorado, mais uma vez reafirmou sua vontade de prosseguir no caminho de mudanas, prosseguir no caminho de transformaes que se faam dentro da lei e dentro do que o pas deseja. Eu no posso tambm deixar de registrar a minha satisfao pelo fato de que o PSDB teve vitrias importantes no Brasil. E de que os demais partidos tambm, muitos deles, obtiveram votaes expressivas e elegeram governadores. Ns temos um quadro de governadores que um quadro que parece muito positivo. O resultado das urnas, como em qualquer democracia, ser respeitado, no s em termos das sucesses legais, mas em termos polticos. Eu tenho certeza de que o presidente Itamar Franco, com quem conversei ontem, tem a mesma sensao de satisfao com o resultado das eleies e a acrescento eu, que foram presididas de uma maneira absolutamente isenta pelo presidente da Repblica. Como futuro presidente, eu tambm quero deixar bem claro ao pas, reafirmar a minha disposio de trabalhar com todos os governadores, sejam do meu partido, sejam de partidos que me apoiaram, sejam de partidos que no apoiaram, que trabalharam pensando sempre naquilo que importante para as transformaes que o pas deseja. Estarei sempre disposto a discutir os problemas nacionais e, dentro das possibilidades, encaminhar em conjunto com os governadores as solues para os problemas dos Estados. O fato de ns termos tido uma eleio na qual os partidos que me apoiaram e uma boa parte dos governadores que eu manifestei tambm, dentro dos limites, o meu apoio, ter sido eleita, aumenta a minha responsabilidade. A satisfao de ver os resultados vai 'pari passu' com o sentimento crescente em mim da enorme responsabilidade de exercer a Presidncia da Repblica no contexto de um Brasil que comeou a se reorganizar no governo Itamar Franco e que fez uma opo clara por reformas. Eu vou me empenhar na realizao dessas reformas. Reforma no se faz com um ato de imprio. Reforma no o resultado de um decreto. Reforma no o resultado da aprovao pelo Congresso de uma lei, nem mesmo de uma transformao na Constituio. Reforma um processo. uma coisa que permanentemente deve estar no esprito de todos ns, que assumimos responsabilidades perante o pas. Vai ser no dia-a-dia, na gesto, na discusso de cada problema, temos que ter em vista um objetivo de mais longo prazo. Eu farei, como j declarei e como reafirmo aqui, um discurso de despedida no Senado, onde direi de forma mais concreta quais so as linhas das transformaes que parecem necessrias. Eu quero tambm deixar claro, nesse momento em que o Brasil reafirma a sua vocao para a democracia e para mudanas a favor de uma economia mais moderna, mais aberta e de uma populao mais atendida pelos poderes pblicos e com fontes de renda mais compatveis com a dignidade de uma vida decente, que os objetivos de transformao sero permanentes. A concepo dessa transformao no ser feita de afogadilho. E assim, enquanto ministro da Fazenda, com todo o apoio do presidente Itamar Franco, eu disse sempre ao pas o que iria fazer, eu sempre pedi o apoio e nunca aceitei uma atitude tecnocrtica, uma atitude que fosse de soberba, que fosse de imposio. Como presidente da Repblica, eu no vejo razo para mudar o meu modo de ser. O pas no precisa ficar na expectativa de surpresas, porque as surpresas no resolvem nada. Ou ns, no dia-a-dia, construmos as transformaes, convencemos da necessidade delas a populao e tambm somos convencidos quando for o caso da necessidade de mudar de rumo, ou ns no construiremos realmente uma transformao democrtica e duradoura. No vai ser meu estilo de governo, como no foi o do presidente Itamar Franco, o de surpreender o pas com medidas que ningum espera ou que muitas vezes especulaes aqui e ali antecipam, sem nenhuma base. No momento adequado, eu direi. J peo desde j a compreenso dos novos governadores para as medidas que ns vamos ter que tomar. Ns vamos continuar atentos ao processo de combate inflao. Eu acho que o resultado das eleies manifestou de uma maneira muita clara que o pas deseja a estabilidade econmico-financeira, quer ter uma moeda slida, uma moeda que signifique para o trabalhador uma garantia de que seu esforo de trabalho no ser corrodo pela inflao. Esta deciso j no mais de um governo, de um povo que aprovou esta conduta. Ns vamos continuar nesta direo. E os governadores que esto eleitos sabem que tambm o foram na mesma medida em que inspiraram ao povo a confiana de que seriam fiis seguidores desta vontade popular. Isso vai implicar um conjunto de medidas que sero tomadas sempre em dilogo, mas sero tomadas. No sentido de que o saneamento das finanas pblicas prossiga. Sero tomadas por ser imperioso tom-las. No se trata hoje de uma deciso da Unio, mas de uma deciso conjunta do povo brasileiro, que exige que, governadores e presidente da Repblica, nos debrucemos todos para resolver aquilo que foi sendo postergado. Eu tenho a convico de que esse sentimento de austeridade no s do governo federal, ser compartilhado pelos Estados. Eu quero dizer tambm que, no momento adequado, comporemos um governo que ser a expresso dessa vontade de transformao. Ser um governo unido por um programa e, ao mesmo tempo que estar atento necessidade da estabilizao, no vai se esquecer de que um pas como o Brasil precisa de produo. Precisa aumentar a sua produo, precisa dar condies para que os setores industriais e agrcolas possam realmente investir com tranquilidade e que tenham a certeza de que a competio, que saudvel, vai ser uma competio feita tambm a partir do desenvolvimento tecnolgico, que permita enfrentar as dificuldades que qualquer competio impe hoje a nvel internacional. Ns queremos as medidas adequadas para defender os nossos produtores do que se chama competio desleal. O esforo ser grande. A continuidade do processo de saneamento das finanas, de manuteno do valor do real em termos compatveis com a dignidade de um pas que sabe que a inflao um mal que no pode ser feito. Esse esforo vir com a preocupao de que a produo nacional continue crescendo e que ns teremos efetivamente, no decorrer dos anos de governo que nos esperam, a condio para que ns possamos retomar o desenvolvimento sustentado. Ningum mais, hoje em dia, aceita as formas selvagens de desenvolvimento econmico. Desenvolvimento sustentado significa um desenvolvimento voltado para acabar com os bolses de misria e pobreza e significa tambm respeito s condies ambientais. Eu peo, neste momento de alegria para tantos governadores e para os que foram eleitos no primeiro turno, que nos unamos nesta direo. Estou certo de que o governo ser um governo comprometido com esses objetivos, que so objetivos aprovados pelo povo. Ser um governo sensvel s realidades polticas, ser um governo que estar permanentemente dialogando com as foras do Congresso Nacional, do qual eu sou membro, no qual aprendi, e muito, sobre a vida pblica brasileira. Mas o Congresso que hoje, depois de experincias traumticas pelas quais passou, sabe tambm que a opinio pblica tem um balizamento muito claro, que a opinio pblica no aceita mais procedimentos notvagos. No sero mais mantidos. O dilogo ser muito franco e aqueles que se dispuserem a apoiar o governo participaro do governo para apoiar um programa. Tero as responsabilidades correspondentes a essa postura, mas no se tratar mais de uma negociao pontual, atravs de concesses a A, B ou C, em termos do d c, toma l. O pas no aceita mais esse procedimento. Os partidos tambm no o aceitam. Eu devo dizer, com muita alegria para mim, que depois de eleito conversei com vrios lderes partidrios; os lderes dos partidos que me apiam esto conversando com outros lderes partidrios, e todo o nosso desenrolar de negociaes tem sido feito em termos de conscincia das necessidades do pas. No houve e no haver qualquer outro tipo de negociao. Negociao hoje s claras. Temos um objetivo, temos um programa, o povo quer esse programa e ns precisamos constituir um governo capaz de levar adiante essas transformaes. To importante quanto essa atitude de uma permanente busca de mudana, no simplesmente de um dia D para que as coisas aconteam, a capacidade constante de gesto. O Brasil cansou de uma gesto irresponsvel, de incompetncia. A competncia tem que ser um critrio fundamental, aliado ao critrio de comprometimento poltico com os objetivos decididos na campanha eleitoral e aprovados hoje pela opinio pblica, em sintonia plena com a populao brasileira. Quero dizer tambm que com esse esprito que parto, daqui por diante, a ter conversas mais persistentes com as lideranas polticas e com os partidos no Congresso. Vamos iniciar a discusso das reformas que sero necessrias, temos grupos de trabalho discutindo algumas destas propostas e as reformas sero feitas com o esprito que eu disse aqui. Teremos quatro anos de governo. No vamos governar em cem dias. Muito mais do que cem dias. Nos cem dias de que todo mundo fala voc pode dar sinais. Mas os sinais espetaculares s servem para desiludir em seguida a populao, quando eles no so seguidos de uma atitude permanente de transformao e de reforma. com esse esprito que ns vamos pedir que o Congresso apie algumas modificaes, algumas na Constituio, algumas na legislao, mas, sobretudo, na experincia que hoje tenho de parlamentar, com o sentimento de que a lei no basta. Que preciso fazer cumprir e que a gesto, s vezes, suficiente para suprir lacunas legais ou para contornar dificuldades que muitas vezes parecem insuperveis e que isso mais vale na batalha do dia-a-dia, na gesto, do que pura e simplesmente anunciar grandes transformaes que depois no tm condies de ocorrer. Elas vo ocorrer. Elas j esto ocorrendo. E elas vo ocorrer porque o povo hoje um povo maduro, um povo que sabe perfeitamente acompanhar os acontecimentos e porque os dirigentes polticos brasileiros j esto afinados com esse novo esprito. E os que no estiverem, tero perdido o bonde da histria. Quero tambm dizer que, no regime democrtico, a oposio necessria. E que o governo, sob a minha conduo, no estar disposto cooptao. Estar sempre disposto a discutir os problemas nacionais com quem esteja na oposio. Isso vale para os governadores eleitos que no so da coligao que me apia, com os quais manterei, como sempre mantive no decorrer de toda a minha vida pblica, um dilogo respeitoso, pensando sempre que, quando o povo elege, quem decidiu foi o povo e o povo no pode ser penalizado se, eventualmente, o eleito no for at mesmo do agrado, o que no o caso, do presidente da Repblica. As noes presidenciais no so compatveis com ressentimentos. No so compatveis com mesquinharia. Ns estivemos alinhados, como estamos, pensando grande, pensando no pas que tem vitalidade, que hoje tem todas as condies de dar um grande salto. Tenho absoluta tranquilidade de que governo e oposio, juntos, faremos tudo aquilo que for necessrio para o Brasil se reafirmar como um pas que efetivamente no s democrtico, como prspero e capaz de multiplicar a sua riqueza. Quero finalmente dizer que, por volta de final de dezembro, anunciarei o ministrio; anunciarei sem precipitaes. No tem nenhum fundamento a tese de que eu vou primeiro nomear tal e qual ministro, que eu esteja negociando isto ou aquilo. Eu sou uma pessoa de dizer com muita franqueza o que penso e eu disse desde o incio como faria, estou fazendo como disse que faria. Estou pensando primeiro quais so os projetos necessrios para o formato necessrio para melhor atender as aspiraes do pas e, em seguida, vamos ver quais so as pessoas capazes de encarnar isso, tentando sempre prestar ateno competncia tcnica e posio poltica. O pas no se transforma s pela vontade imperial ou tecnocrtica. S se transforma com o apoio e esse apoio deriva da convico e da sintonia das foras polticas e da vontade da sociedade. Conversarei daqui at o governo com muita gente e podem fotografar vontade, mas no deduzam que uma conversa com o presidente eleito significa qualquer preenchimento de cargo. Ou melhor, deduzam, se quiserem, mas podem ter certeza de que no tm o meu aval e nem ningum fala por mim. Eu disse isso desde sempre: ningum fala por mim. A menos que eu tenha dito expressamente que vai falar. No fiquem ansiosos, porque, no momento adequado, eu espero ter a condio de apresentar ao pas um conjunto de pessoas que sero apenas a ponta de um iceberg. Porque ns precisaremos de muita gente para mudar o Brasil. O Brasil muito grande e essa mudana depende, depende muito de que a informao seja transmitida corretamente. Finalizo, mais uma vez, felicitando os recm-eleitos governadores de Estado e dizendo que eu tenho a certeza de que juntos ns vamos realmente conseguir levar os planos adiante. Isso s ser possvel porque o governo Itamar Franco tomou decises srias de enfrentar alguns dos mais difceis desafios do Brasil e isso facilita a tarefa do presidente eleito. Muito obrigado.","Conhea a ntegra do pronunciamento do presidente eleito Da Sucursal de Braslia Em primeiro lugar, quero manifestar minha alegria por esta demonstrao de democracia , reveladora de que o povo brasileiro quer prosseguir com as mudanas. E tambm minha satisfao pelos resultados obtidos pelo PSDB e os demais partidos, resultados que sero respeitados. Como presidente eleito, quero reafirmar minha disposio de trabalhar em consonncia com os governadores, no importa de que partido. Estarei sempre aberto a discutir com eles os problemas nacionais e , dentro do possvel, solucion-los. Vou me esforar pela realizao das reformas necessrias , consciente de que elas no so resultado de um decreto, mas fruto de um processo que se d no dia-a-dia. J quando ministro da Fazenda, sempre fui claro ao pas quanto ao que iria fazer, sempre pedi apoio e sempre recusei atitudes tecnocrticas, de soberba, de imposio. Como presidente, no vejo por que mudar. No vou pontilhar meu governo com surpresas . Mas , desde j, peo a compreenso dos novos governadores para as medidas que vou tomar. Continuamos com o objetivo de combater a inflao, respeitando, assim, o que o pas demonstrou nessas eleies: desejo de estabilidade econmico-financeira, de uma moeda forte , estvel, que corresponda aos esforos do trabalhador. As medidas sero tomadas aps dilogo, mas sero tomadas.E estou convicto de que austeridade necessria para tanto ter o apoio no governo federal e no dos Estados. O Brasil um pas que necessita de produo. Precisa, pois, dar condio aos setores industriais e agrcolas para que invistam com tranqilidade ; o desenvolvimento tecnolgico fundamental para isso. O nosso esforo, que ser grande, ser estimulado pela preocupao com o desenvolvimento sustentado , responsvel pela eliminao dos bolses de misria e tambm pela preservao ambiental. Se vamos estar atento s realidades polticas , permanentemente dialogando com o Congresso, tambm estamos ciente de que o Congresso, aps traumticas experincias, sabe que o povo brasileiro no aceita procedimentos encaminhados nas sombras. A nossa disposio para um dilogo franco." br94mr25-20,"Choque de Poderes poderia ter sido evitado Inocncio disse a Hargreaves na sexta-feira que poderia cancelar reajuste com ato da Mesa da Cmara JOSIAS DE SOUZA Diretor-executivo da Sucursal de Braslia Quando viaja para seu municpio, Serra Talhada (PE), o presidente da Cmara, Inocncio Oliveira (PFL-PE), costuma isolar-se do mundo. Sua casa tomada noite por um silncio de cemitrio. H uma semana, na transio de sexta-feira para a madrugada de sbado, a calma do local foi cortada por insistentes telefonemas disparados de Braslia. Quando entrou na sala, Inocncio foi avisado de Henrique Hargreaves, ministro-chefe do Gabinete Civil da Presidncia, deixara trs recados. Atnito, o presidente da Cmara discou para Hargreaves. Passava pouco da meia-noite. Ouviu do ministro o relato sobre uma tensa reunio em que, duas horas antes, o governo havia decidido abrir guerra contra o Congresso e o Judicirio. Ao ser informado de que no centro da turbulncia estava a deciso dos congressistas e juzes do STF de se autoconcederem um aumento salarial de 10,94%, Inocncio reagiu espantado: Mas Hargreaves, com um simples ato da Mesa (Diretora da Cmara) eu poderia ter revisto esse reajuste. Era tarde. A nota do Planalto, com duros ataques aos outros dois Poderes, j havia sido divulgada. Inocncio passou o fim-de-semana em Pernambuco. Na segunda-feira, o pas estava mergulhado numa crise que poderia ter sido evitada com um simples telefonema. Ontem noite, em reunio no Palcio do Planalto, o presidente Itamar Franco revelava aos seus auxiliares em que condies admitiria abrir negociao com o STF. Apegava-se a pequenos caprichos. Dizia, por exemplo, que um telefonema do presidente do tribunal, Octvio Gallotti, poderia ser um bom comeo. Pela primeira vez desde o incio da crise, o presidente reconhecia que preciso obter uma sada que preserve a integridade do Supremo. O tamanho do desassossego que tomou conta de Braslia no combina com o apelido que a crise ganhou nos bastidores do Congresso. Os parlamentares se referem ao episdio como a guerra da gorjeta, numa referncia aos 10,94% que esto em jogo, um percentual equivalente ao que se costuma dar ao garom no restaurante. A ebulio trouxe de volta duas instituies que estavam fora de moda na poltica brasileira: os militares e o clube de Juiz de Fora, integrado pelos auxiliares mais prximos de Itamar Franco. Outro subproduto da crise foi o estremecimento das relaes entre o presidente e o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Uma frase de Fernando Henrique resumia suas preocupaes na ltima quarta-feira: O Itamar est muito envolvido ou deixando-se envolver pelos militares. Assim, eu estou fora. O parlamentar que ouviu a frase do ministro teve a impresso de que o interlocutor se encontrava extenuado, muito prximo do seu limite. A quarta-feira, de fato, no foi um dia fcil para Fernando Henrique. O ministro certificou-se naquele dia de que Itamar havia tido uma recada. Desde a sua entrada no governo, o Itamar dos pitos em ministros, dos preos dos remdios, dos juros altos, esse presidente das crises cclicas havia submergido. Naquela quarta-feira, porm, o velho Itamar reapareceu diante de Fernando Henrique. Aconselhado por Henrique Hargreaves e por Jos de Castro, presidente da Telerj e seu consultor jurdico de cabeceira, Itamar rejeitava a todo custo a negociao. No negocio, no negocio e no negocio, repetiu. O presidente queria que o STF se dobrasse. Eles precisam reconhecer que erraram, disse. O aumento de 10,94% para o Legislativo e o Judicirio resultou da opo por uma data: o dia 20 de cada ms. Os juzes chegaram mdia salarial dos ltimos quatro meses fazendo a converso dos prprios vencimentos URV no dia 20, data em que o governo lhes repassa o dinheiro da folha de pagamento. O governo exige que a converso seja feita com base no dia 30. disso que Itamar no abre mo. Nos ltimos dois dias, os ministros militares mostravam-se abertssimos negociao. S no admitiam uma coisa: um recuo do presidente. A partir do momento que o presidente assumiu a nossa posio, ficamos tranquilos e confiantes de que ele no vai ceder, dizia na quarta-feira o secretrio de Administrao do governo, general Romildo Canhim. A soluo montada na quarta-feira parecia perfeita. O governo reeditaria a medida provisria que instituiu a URV. Tornaria mais claro o artigo que obriga a converso dos salrios de todos os servidores pblicos pelo dia 30. O Congresso voltaria atrs e converteria os salrios dos seus funcionrios por esta data, abrindo caminho para que o STF fizesse o mesmo. Itamar, como desejam os militares, veria consagrado o dia 30. Todos os atores da crise, incluindo os militares e o STF, aceitaram a soluo. Mas o presidente bateu o p, rejeitando qualquer tipo de negociao. O curioso que o STF, que hoje resiste s presses, optou pela converso salarial no dia 20 a pedido de um sindicato conhecido apenas em Braslia, o Sindijuris, que representa a categoria dos servidores do Judicirio. Para convencer os ministros, o sindicato argumentou que a direo do Congresso j havia optado por aquela data. Convencidos de que a converso pelo dia 30, como queria o governo, imporia perda de 10,94% aos salrios do Judicirio, os ministros aquiesceram. Nove em cada dez ministros afirmavam no incio da semana que o Tribunal teria voltado atrs se tivesse recebido um pedido do governo nesse sentido. Se o Legislativo voltasse atrs tambm, no haveria razo para que o Judicirio ficasse isolado. Reforava-se a convico de que, se tivesse negociado, o governo teria evitado a crise. Paulo Brossard, outro ministro do Supremo, tinha a sua prpria tese, revelada numa frase engenhosa. A frase, na verdade uma pergunta, foi revelada Folha por um amigo do ministro: Se Deus limitou a inteligncia, por que no limitou tambm a burrice?. Em outras palavras, o ministro considera que a estultice do presidente ilimitada. Em conversa com outro colega de Tribunal, Francisco Rezek construiu outra tese: Ele (Itamar) est querendo criar um fato que apague da memria do brasileiro outro episdio recente em que foi flagrado em situao constrangedora, disse, referindo-se ao flagrante do Sambdromo, quando as lentes expuseram Itamar ao lado da modelo sem calcinhas. A caixa de correspondncias do Palcio do Planalto oferece uma boa explicao para a teimosia de Itamar. Desde que estourou com os outros Poderes, o presidente passou a receber de quatro a cinco cartas diariamente. Todas elas contm frases de apoio. O grupo de Juiz de Fora oferece outra boa explicao. O presidente s ouve de seus auxiliares palavras de estmulo. Alm de Hargreaves e Jos de Castro, estimulam-no o secretrio-geral da Presidncia, Mauro Durante, e a assessora especial Ruth Hargreaves. nica voz destoante no Palcio do Planalto, o assessor especial para Assuntos Institucionais, Augusto Marzago, no foi ouvido. Na tera-feira, Marzago j aconselhava o presidente a baixar a bola. A crise, na sua opinio, assumia propores exageradas. No meio da semana, Marzago desabafou: O que vale mais, US$ 270 milhes ou a democracia? Os dlares a que se refere o assessor de Itamar correspondem ao gasto que o governo estima que teria se concordasse com o autoreajuste do Legislativo e do Judicirio. Nos ltimos dois dias, os ministros militares se recolheram. Ontem, outro ministro do STF, Carlos Mario Veloso, parafraseava o ex-presidente americano John Kennedy, para expressar seus receios a um companheiro de toga: Quem se assenta no lombo de um tigre, acaba no seu ventre. Colaboraram CLVIS ROSSI, da Reportagem Local, e EUMANO SILVA, FLVIA DE LEON e SNIA MOSSRI, da Sucursal de Braslia","Choque de Poderes poderia ter sido evitado Inocncio disse a Hargreaves a sexta-feira que poderia cancelar reajuste com ato da Mesa da Cmara. JOSIAS DE SOUZA - Diretor-executivo da Sucursal de Braslia O presidente da Cmara, Inocncio de Oliveira, recebeu insistentes telefonemas de Henrique Hargreaves, ministro-chefe do Gabinete Civil da Presidncia, comunicando que o governo havia decidido abrir guerra contra o Congresso e o Judicirio. Quando soube que o motivo era a deciso dos congressistas e juzes do STF de se concederem um reajuste de 10,94%, reagiu: Mas Hargreaves, com um simples ato da Mesa (Diretora da Cmara) eu poderia ter revisto esse reajuste. A nota do Planalto , atacando duramente os dois Poderes ,j tinha sido divulgada. Na segunda-feira, tinha-se instalado uma crise no pas, evitada simplesmente por um telefonema. O presidente Itamar admitia a seus auxiliares que abriria negociaes com o STF , dependendo de um telefonema do presidente do tribunal. A crise trouxe em cena os militares e o clube de Juiz de Fora , formado pelos auxiliares mais prximos de Itamar , ambos fora de intromisses na poltica.E ainda houve o estremecimento entre o presidente e o ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, que assim expressou suas preocupaes: O Itamar est muito envolvido ou deixando se envolver pelos militares. Assim , eu estou fora. O ministro notou que , naquele dia, o Itamar de crises anteriores tinha reaparecido. Mesmo aconselhado por assessores, rejeitava terminantemente a negociao. Os juzes tinham estabelecido o dia 20 do ms como data da reconverso de seus vencimentos para a URV; Itamar determinara o dia 30. Montou-se uma soluo aparentemente perfeita: a medida provisria seria reeditada determinando o dia 30, como queria o presidente. Todos os envolvidos aceitaram, mas Itamar bateu o p. Se ele tivesse proposto negociao s duas outras instituies , estava resolvido o problema. Mas o seu ego s parece aceitar cartas de apoio e palavras de estmulo dos seus auxiliares; nada de confrontos." td94ja15-04,"Agora moda carpete de madeira Indicado para residncias, tem fcil manuteno; preo mais alto que o similar txtil FILOMENA SAYO Da Reportagem Local Ter o cho de sua casa forrado com uma fina lmina de jatob, ip ou marfim tem sido a opo preferida de milhares de brasileiros. Lanado h menos de 15 anos, o carpete de madeira decolou nos ltimos trs anos. Agora, est no auge, afirmam os lojistas, apesar de ser, em mdia, mais caro que o seu similar de nilon, polister ou outros materiais. H um modismo. O produto muito indicado por decoradores, diz Wlademir Franco, 42, diretor de vendas da Casa Fortaleza, com 16 lojas. Ele vende entre 8.000 e 9.000 metros quadrados (m2) por ms do carpete. O tradicional atinge cerca de 80 mil m2. H dois anos, a proporo era de 1.000 m2 (madeira) para 60 mil m2 (txtil) mensais. De cada dez pessoas que querem revestimento para piso, oito levam carpete de madeira, diz Luiz Carlos de Abreu, 47, diretor comercial da Rebrasin, com trs lojas. H dois anos, acrescenta, dois em cada dez consumidores levavam esse produto. Ivo Ricardo Capasso, 28, um dos proprietrios da Unifort, no Trememb (zona norte), diz que a proporo de vendas em suas loja a mesma hoje. o nosso carro-chefe em vendas. O carpete de madeira conquistou construtoras, revela Rita de Cssia Kfouri, 28, gerente de vendas da Piso Arte. Ela diz que a Contrin comprou na rede, formada por seis lojas, o revestimento padro jatob para revestir o cho de 22 apartamentos de um prdio na Sade (zona sul). Vai bem com qualquer decorao. Ao contrrio do que muita gente pode pensar, esse tipo de revestimento para piso no substitui completamente o carpete tradicional. Em primeiro lugar, indicado para residncias e no escritrios. Como as lminas so finas (de 2,5 milmetros a 8 milmetros), elas podem sofrer danos em local de movimentao intensa. Alm disso, h que se tomar cuidado com mveis estes devem ter feltros nas bases e no serem arrastados, pois a madeira pode ser riscada facilmente. O mesmo cuidado vale para mulheres que gostam de sapatos com saltos altos e finos. Os passos das pessoas tambm so nitidamente refletidos pela madeira. Um de seus pontos fortes, afirma Jos Al Makul, 46, presidente da Abracarp (associao que rene revendedores de carpetes, tapetes, pisos e cortinas), a beleza da madeira que amplia os ambientes. Outro ponto favorvel a limpeza basta um pano mido. Sua instalao demora cerca de dois dias. Para a professora de ingls Ana Aparecida Gama Cintra, 50, o carpete de madeira vai ajudar a melhorar a rinite alrgica de sua famlia. H dois meses ela trocou o carpete de nilon dos trs quartos de seu apartamento por esse revestimento. Fiquei satisfeita. Vamos aguardar para ver se a alergia melhora. O Procon recomenda pesquisar preos e checar se este inclui colocao, rodap e manta isolante (para os carpetes de sete milmetros). Se a colocao das tiras de madeira forem na diagonal em relao s paredes, o consumo pode ser at 40% maior que a metragem do ambiente, diz o rgo.","Agora moda carpete de madeira Indicado para residncias , tem fcil manuteno ; preo mais alto que o similar txtil FILOMENA SAYODa Reportagem Local Virou moda para milhares de brasileiros ter o cho forrado com lminas de jatob, ip ou marfim, apesar de mais caros em mdia do que o equivalente de nilon, polister, etc. Wladimir Franco , diretor de vendas da Casa Fortaleza, diz que muito indicado por decoradores. Na mesma direo, Luiz Carlos de Abreu, diretor comercial da Rebrasin, informa que oito entre dez clientes escolhem piso de madeira. Rita de Cssia Kfouri , gerente de vendas da Piso Arte, informa que o carpete de madeira conquistou as construtoras. Mas ele no substitui completamente o piso tradicional. Sua opo mais para residncias do que escritrios, onde o movimento intenso provoca danos. Tambm necessrio tomar cuidados com os mveis e com os sapatos altos das mulheres. Jos Al Makul, presidente da Abracarp, salienta a beleza e a facilidade de limpeza como seus pontos fortes. E a expectativa da cliente Ana Aparecida Gama Cintra que a rinite alrgica da famlia v melhorar com a recente substituio pelo piso de madeira." td94ou09-01,"Festa para crianas vira um negcio srio Reduo do tamanho dos apartamentos e falta de tempo dos pais aumenta a demanda por bufs infantis Free-lance para a Folha A reduo do tamanho dos imveis e a falta de tempo dos paulistanos est abrindo espao para a proliferao de bufs infantis. Destinados a crianas entre 3 e 12 anos, da classe mdia alta, os novos bufs tm atrado cada dia mais pais, interessados na praticidade do sistema a maioria das empresas providencia tudo relacionado s festas, da alimentao ao transporte. Para entrar na rea preciso investir cerca de US$ 23 mil e ter um rea de pelo menos 200 m2. O mais indicado encontrar um ponto perto de escolas, em bairros de alto poder aquisitivo. Quem est comeando pode usar servios de terceiros, contratados de acordo com as festas j encomendadas. Os pacotes, em geral, incluem bolo, salgadinhos, doces, refrigerantes, servio de garons e monitores, convites, lembrancinhas, decorao e acesso aos brinquedos. A maioria das casas trabalha com dois horrios (das 12h s 16h e das 18 s 22h) e faz preos diferenciados em dias de semana. Alguns bufs levam a festa s escolas. Nesse caso, entregam lancheiras com bolo, doces, sanduches e refrigerantes para as crianas. Oferecer um atendimento impecvel e atraes diversificadas so qualidades essenciais para enfrentar a concorrncia. Segundo a pedagoga Lucy Salles, 38, scia de dois sales do buf Mundo Encantado, em Moema (zona sul), so muitas as casas que abrem, mas poucas sobrevivem por falta de qualidade. Lucy calcula em 40 o nmero de concorrentes na regio, mas acredita que ainda h espao e pretende expandir formatando seu negcio no sistema de franquia. Ela organiza cerca de 30 festas por ms em cada um de seus sales e cobra R$ 700 por festa para 50 convidados. A pedagoga Eliane Chagas, 30, dona do buf Fik e Brink, em Santana (zona norte), afirma que seus maiores gastos so com mo-de-obra e alimentao, que juntos somam R$ 300, para uma festa de 50 pessoas. Com decorao, ela gasta mais R$ 100. Ela investiu R$ 30 mil no salo, que tem 400 m2 e est em um local estratgico: prximo a cinco escolas particulares. Em trs meses, j organizou 34 festas. Silvia Matta, 31, que h quatro anos abandonou as salas de aula para abrir o Sugar World, no Tatuap (zona leste), acredita que disposio para trabalhar nos finais de semana e bom relacionamento com o pblico tambm so requisitos fundamentais. importante acompanhar todas as festas para ganhar a credibilidade dos clientes, diz. Ela faz de 15 a 20 festas por ms. Durante a semana, h pacotes promocionais de R$ 440. Bernard Jeger, presidente da Associao Brasileira de Franchising, avalia que os bufs bem estruturados tero um amplo mercado para se expandir no s pelo pas, como no exterior, atravs de franquias. O conceito de buf infantil tipicamente brasileiro e pode ser exportado para outros pases, onde os pais costumam fazer festas em fast foods, afirma.","Festa para crianas vira um negcio srio Reduo do tamanho dos apartamentos e falta de tempo dos pais aumenta a demanda por bufs infantis Free-lance para a Folha Falta de espao e de tempo dos paulistanos promove a proliferao de bufs infantis, destinados a crianas entre 3 e 12 anos , da classe mdia alta. Os bufs do conta de tudo: da alimentao ao transporte. Para entrar no negcio, preciso investir US$ 23 mil e ter uma rea de pelo menos 200 m2. preferivelmente perto de escolas , em bairros privilegiados. Os pacotes incluem bolo, salgadinhos, doces, refrigerantes, servio de garons e monitores, convites, lembrancinhas , decorao e acesso a brinquedos. O segredo da concorrncia um atendimento impecvel e atraes diversificadas. Lucy Salles, scia de dois sales , organiza cerca de 30 festas por ms e cobra R$700,00 por festa para 50 convidados. A dona do buf Fik e Brink , em Santana, informa que seus maiores gastos so com mo-de-obra e alimentao. O seu salo de 400 m2 , no qual investiu R$30 mil, tem localizao privilegiada , prxima a cinco escolas particulares. Silvia Matta, dona do Sugar World , no Tatuap, aposta na disposio para trabalhar nos fins de semana e no bom relacionamento com o pblico. " mu94de04-d,"O democrata-cristo Helmut Kohl, de 64 anos, foi eleito no ms de novembro, pela quinta vez, chanceler federal do pas mais rico da Europa, a Alemanha. Se conseguir governar at 1998, ele ser o chanceler federal alemo (primeiro-ministro) com mais tempo no poder, 16 anos. Mais do que pelos sucessos de seu governo conservador na Alemanha, Helmut Kohl entrar para a histria como grande incentivador da Unio Europia e tambm por um acaso: a queda do Muro de Berlim, em 1989. Apesar de queda do Muro e a reunificao terem sido mais consequncia das manifestaes que em 1989 abalaram o Leste Europeu e da poltica de abertura promovida pelo ento presidente sovitico, Mikhail Gorbatchov, Kohl soube aproveitar o clima de euforia que tomou conta do pas. Conduziu rapidamente a unio monetria das duas Alemanhas e se reelegeu, em 1990, dizendo-se o chanceler da reunificao. Kohl tambm promoveu o ingresso da Alemanha reunificada na ento Comunidade Econmica Europia e na aliana militar Organizao do Tratado do Atlntico Norte (Otan). Ganhou, com isso, ainda mais a simpatia de seus colegas Franois Mitterrand e George Bush, ento presidente dos Estados Unidos. Em 3 de outubro de 1990, os aliados da Segunda Guerra Mundial (Frana, EUA, Reino Unido e Unio Sovitica), que at ento mantinham tropas no pas, assinaram a soberania da Alemanha. Foi o auge da carreira de Kohl. O chanceler tambm soube contornar as crises inevitveis da reunificao. Durante trs anos, enfrentou crticas e manifestaes devido ao aumento de impostos e do desemprego. Em 1990, chegou a ser recebido com ovos em visita a Halle, ex-Alemanha Oriental. O chanceler viu tambm a extrema direita crescer na Alemanha, assim como o aumento de ataques xenfobos contra estrangeiros em busca de asilo no pas. Kohl no se abalou. Na questo dos estrangeiros, fez um acordo com a oposio para restringir a concesso de asilo no pas, evitando perder votos para extremistas. Com o crescimento da economia e a tendncia a queda no desemprego, sua popularidade subiu e seu partido, a Unio Democrtica Crist (CDU), foi o mais votado nas eleies parlamentares do ms passado. Mas sua situao no Parlamento no tranquila. H um ms, Kohl foi eleito chanceler com apenas um voto a mais que o necessrio. Com uma oposio parlamentar to forte, no se sabe se conseguir governar at 1998. Os polticos alemes no negam, porm, que seu pas tambm se beneficia da Unio Europia. Nos prximos seis anos, calcula-se que cerca de US$ 18 bilhes sairo dos cofres da UE para projetos contra o desemprego na ex-Alemanha Oriental. A UE considera esta regio prioritria e vem soltando uma srie de pacotes de incentivo agricultura, cincia e tecnologia. A Alemanha tambm o pas que mais investe no Leste Europeu. Entre 1989 e 1993, pagou cerca de US$ 91 bi bilhes para reformas em pases do Leste e da ex-URSS. Com um PIB de US$ 1,8 trilho e um crescimento econmico de 2,8% no primeiro semestre deste ano, a Alemanha enfrenta enorme dficit pblico e os impostos sobem a nveis recordes. Antes das eleies de outubro, Kohl j havia declarado que, se eleito, este seria seu ltimo mandato. Comeam agora as especulaes sobre seu sucessor. Poltico habilidoso, Kohl no permitiu, nestes 12 anos de governo, que nenhum outro nome de seu partido, ou da coligao CDU-CSU, se destacasse tanto quanto ele. Alm do chanceler, o nome mais forte da CDU o ex-ministro do Interior e lder do partido no Parlamento, Wolfgang Schauble, vtima de um atentado que, em 1990, o deixou paraltico. ","Eleito pela quinta vez como chanceler federal da Alemanha, Helmut Kohl , se governar at o final, bate o recorde no poder em seu pas. Entrar para histria como o grande incentivador da Unio Europia e da queda do muro de Berlim. verdade que a queda e a reunificao alem foram resultado de manifestaes que abalaram o Leste Europeu, mas ele soube aproveitar o clima de euforia. O ingresso da Alemanha reunificada na ento Comunidade Econmica Europia e na Otan granjeou-lhe maior simpatia de Mitterrand e de George Bush. E , na mesma linha, os aliados que mantinham tropas no pas assinaram a autonomia da Alemanha. Foi o apogeu de sua carreira. Kohl tambm foi hbil em amenizar as crises inevitveis da reunificao: crticas ao aumento de impostos, desemprego, formao de grupos extremistas da direita que se manifestavam contra a entrada de estrangeiros. Seu autocontrole e capacidade de negociao permitiram driblar as manifestaes . E o crescimento da economia , com a natural queda de desemprego, refletiu na sua popularidade e no sucesso eleitoral recente do seu partido, a Unio Democrtica Crist. Apesar de no ser tranqila sua situao no Parlamento, os polticos alemes no negam que a Unio Europia favorea seu pas. Cerca de US$ 18 bilhes sairo da UE para investimentos contra o desemprego na ex-Alemanha Oriental. Por sua vez, a Alemanha o pas que mais investe no Leste Europeu ( cerca de US$ 91 bilhes ) , entre 1989 e 1993 , para reformas na regio. At o momento atual, Kohl no incentivou nenhum nome para lhe fazer sombra , mas agora , quando ele j fala em pendurar chuteiras, as especulaes comeam." di94fe27-11,"Uma chance para o Planalto virar a mesa Contradies do Plano FHC prejudicam trabalhadores e at as empresas; crescem riscos de novo desastre ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Faltam somente 24 a 48 horas para o lanamento do Plano FHC de combate inflao. Um prazo curtssimo. Mas que ainda pode ser aproveitado pelo presidente da Repblica para uma virada de mesa, cancelando definitivamente esses projetos tericos e convocando representantes dos empresrios, trabalhadores e consumidores para adoo imediata de um caminho alternativo contra a inflao. A sugesto no nenhuma sandice. Basta olhar ao redor, ler os jornais, ver a TV, para verificar que o Plano FHC uma aventura isolada de meia dzia de cabeas teimosas, incapazes de conseguir o apoio de empresrios, trabalhadores ou consumidores. No porque falte desprendimento em todas as camadas da sociedade brasileira, como o ministro FHC (e seus meninos de recado) gosta de dizer em seus xingamentos quase dirios. A razo simples, aritmeticamente comprovvel: o Plano FHC no existe, as medidas so contraditrias, traro ameaa de quebra para empresas e trabalhadores. A reao inevitvel a essas perspectivas abre caminho para um crculo vicioso bem conhecido pela sociedade, pois mera repetio de choques anteriores: as empresas no podem aceitar a camisa de fora dos preos, o governo fora um tabelamento ou congelamento (por mais que tenha negado essa inteno), surge o gio, a inflao explode e para combat-la o governo faz uma grande recesso, na esperana de que, sem conseguir vender, as empresas reduzam os preos. As vendas caem, o emprego recua, a arrecadao de impostos e da Previdncia desaba, o rombo ressurge e o pas patina no mesmo caos. A esta altura, cabe tentar explicar a afirmao de que o Plano FHC cheio de contradies, e por isso mesmo um salto no escuro. Para isso, parte-se de exemplo extremamente simples: Poupana O governo j disse que ela continuar fora da URV, isto , seus rendimentos no sero achatados. Ela continuar a pagar a correo calculada de acordo com a inflao velha, com rendimentos na faixa de 45% a 55% nos ltimos meses. Juros primeira vista, o tratamento previsto para a poupana correto. Mas ele exemplifica as contradies do plano, como qualquer criana pode entender. Ora, se os bancos so obrigados a pagar os 45% a 55% aos donos do dinheiro da poupana, eles obvivamente tero que cobrar tambm essa correo inteirinha, no-achatada, dos milhes de compradores da casa prpria, financiados dentro do SFH com dinheiro da poupana. Ou os bancos fazem isso, ou tm gigantescos prejuzos e correm o risco de quebra. No questo de ganncia. sobrevivncia. Emprstimos Ora, se os juros da poupana continuam acompanhando a inflao antiga, e no a URV, tambm aritmtico e bvio que todos os demais tipos de aplicaes no mercado financeiro tero que oferecer rendimentos iguais, no-achatados. Volta-se, a, ao reino das contradies. Se os bancos pagaro juros altos aos aplicadores, tero que cobrar juros altos, baseados na inflao velha ou na expectativa de inflao ou tero prejuzo, com risco de quebra. Preos As empresas, do outro lado do balco, pagaro juros com base na inflao velha, inteirinha. A surge, novamente, a contradio do plano: para grande nmero de empresas ser invivel pagar juros na faixa da inflao e adotar, espontanteamente, reajustes de preos achatados, baseados na mdia dos ltimos meses. Mais uma vez, no questo de ganncia. Mas de bom senso, para no operar com prejuzo. A esta altura, qualquer mortal j entendeu as contradies, o aventureirismo do Plano FHC. Haveria alguma possibilidade de adeso de empresrios, trabalhadores, consumidores, se todos recebessem o mesmo tratamento, isto , se a correo achatada, pela mdia, fosse adotada para todo mundo. A, ningum estaria perdendo nem ganhando. Mas o plano, como visto, provoca perdas e prejuzos a alguns e amplia os lucros e ganhos de outros. Tanto as empresas como os trabalhadores continuaro a pagar juros, emprstimos, impostos, aluguis todos corrigidos pela inflao inteira. E vo ter que aceitar preos e salrios achatados, corrigidos pela mdia? Essa possibilidade de adeso espontnea no existe. Fica aberto, ento, o caminho para o governo impor o controle de preos e de salrios. O trabalhador no ter como fugir ao achatamento. Mas as empresas, como ficou claro nos choques anteriores, desafiaro o governo. A, j se sabe... A sociedade no precisa aceitar que o pas seja empurrado para esse caminho novamente. O Palcio do Planalto pode ter um gesto de grandeza, sustar o plano e procurar uma grande aliana com empresrios e trabalhadores para uma frmula alternativa de combate inflao. Sonho? No. Todos os economistas, at da equipe FHC, so unnimes em apontar que existe hoje uma brutal diferena na situao da economia brasileira, comparada com a poca Collor ou Sarney. No presente, uma srie de fatores facilitaria a queda da inflao se fossem corretamente utilizados. O grande pecado da equipe FHC exatamente esse: ao longo de meses colocou como nico objetivo a criao da nova moeda. Desprezou incrivelmente as condies favorveis, no-existentes no passado, para reduzir as taxas inflacionrias. Pior ainda: tomou decises erradas, criando mais inflao e desperdcios/sacrifcios inaceitveis para a sociedade: Dlares Em governos anteriores, o Brasil enfrentava a falta de dlares. Frequentemente, era forado a adotar juros altos para atrair aplicaes de investidores estrangeiros ou para segurar a produo industrial e, consequentemente, as importaes. Essa elevao de juros provocava inflao. J h dois anos a situao havia mudado radicalmente. O Brasil passou a receber uma enxurrada de dlares, por uma srie de circunstncias. Poderia ter reduzido os juros e provocar queda de inflao. Essa crtica tem sido feita h meses por famosos economistas, progressistas (como Maria da Conceio Tavares) ou conservadores (como Delfim Netto). Teimosamente, a autoritria equipe FHC no a ouviu. Criou inflao e outros problemas to terrveis quanto. Dvida interna desinformado ou mal-intencionado, o ministro FHC tem repetido que os juros so altos porque a dvida interna do Tesouro precisa ser reduzida, e para isso o caminho o clebre ajuste fiscal. A verdade: com a equipe FHC, a dvida interna voltou a crescer, ou pior, deu um salto, por causa dos juros altos. Como assim? uma ciranda arrasadora: os juros altos atraem dlares desnecessrios (caminha-se para 40 bilhes de dlares em reservas...). Na etapa seguinte, o Banco Central emite cruzeiros para comprar esses dlares. A seguir, como as teorias dizem que muito dinheiro na economia (liquidez) provoca inflao, o BC vende ttulos do Tesouro para tirar os cruzeiros de circulao. Eis a uma das grandes mentiras da equipe FHC: que a dvida cresce por causa do rombo. Ela cresce pela torrente de dlares especulativos, mantida pela equipe. Brincadeira I A equipe passou meses discutindo cortes no Oramento e aumento de impostos, e fazendo ataques autoritrios ao Congresso, alegando ser preciso reduzir o rombo para reduzir a dvida. Na semana passada havia uma notcia, escondidinha-escondidinha, nos jornais: por causa da farra dos dlares, a dvida interna subiu de US$ 41,5 bilhes para US$ 45,5 bilhes. Brincadeira II Outra notcia escondidinha-escondidinha mostrava que os gastos do Tesouro com juros tambm subiram exatamente por causa da elevao das taxas adotadas pela equipe FHC, e por causa do crescimento da dvida... No primeiro semestre de 1993, o gasto com juros equivaleu a 1,5% do PIB. No segundo semestre, pulou para 2,5% do PIB. Isto , o pagamento de juros pulou da faixa dos US$ 6 bilhes para US$ 10 bilhes anuais. Um rombo extra de US$ 4 bilhes de dlares anuais. Ateno: neste comeo de 94, o rombo est sendo gravemente maior, pois os juros subiram mais ainda e a dvida continua a crescer. Em resumo: o plano um salto no escuro. A equipe insiste em erros. Mudanas nos juros e na atrao de dlares comeariam a derrubar a inflao e abrir caminho para a cooperao de empresrios e trabalhadores. A sim, tudo negociado. Sem choques. A chance da virada agora. ALOYSIO BIONDI, 56, jornalista, foi diretor de Redao da revista Viso e editor de Economia da Folha.","Uma chance para o Planalto virar a mesa Contradies do Plano FHC prejudicam trabalhadores e at as empresas; crescem riscos de novo desastre. ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Em poucas horas , ser lanado o Plano FHC de combate inflao. Mas ainda d para o presidente da Repblica, numa virada de mesa, cancelar esses projetos tericos, convocar representantes dos empresrios, trabalhadores e consumidores , a fim de , juntos, estudarem um caminho alternativo de combate inflao. A sugesto no uma tolice. A leitura das notcias mostra que o Plano fruto de cabeas teimosas que no conseguiram sintonizar-se com representantes interessados da sociedade. As suas contradies pairam como espada de Dmocles. A reao esperada abre caminho para um ciclo vicioso , j experimentado em outros planos : de um lado ,revolta das empresas s contenes dos preos; de outro, tabelamento por parte do governo; cobrana de gio e exploso da inflao. Cabe uma explicao para as afirmaes sobre por que o plano contraditrio. Se a poupana remunerada de acordo com a inflao velha , os bancos , obviamente, vo cobrar a correo inteirinha dos compradores da casa prpria , financiados pelo dinheiro da poupana. E na mesma linha , todos os demais tipos de aplicaes financeiras devero ser igualmente remunerados. Para isso, os bancos tero que cobrar juros altos para no irem falncia. Tambm as empresas, que pagam juros na mesma base, no podero ficar com seus preos achatados. Restar ao governo impor controle de preos e salrios. As empresas , como em choques anteriores, reagiro. H caminho alternativo , que no esse. Todos os economistas, inclusive da equipe FHC, apontam unanimemente a diferena entre a situao nos governos de Collor e Sarney e a atual. Na situao presente, h condies favorveis que foram desprezadas pela equipe econmica. Se nos dois governos anteriores havia falta de dlares que exigia elevao de juros para atra-los , no atual h abundncia deles. Poderiam ser reduzidos os juros , com conseqente queda da inflao. O ministro Fernando Henrique tem repetido que os juros esto altos porque a dvida do Tesouro precisa ser reduzida. Na verdade, foi a alta dos juros que elevou a dvida interna. O motivo disso que os juros altos atraem dlares mais do que o necessrio , o que desanda a ciranda financeira. Duas notcias bem escondidas nos jornais provam isso. Uma delas dizia que a farra dos dlares fez a dvida interna subir de US$41,5 bilhes para US$45,5 bilhes. A outra informa que o salto de US$ 6 bilhes para US$10 bilhes anuais se deveu ao aumento das taxas de juros adotadas pelo governo nos gastos do Tesouro com juros. " ce94ja8-a,"O reggae domina a primeira etapa do M2.000 Summer Concerts. Inner Circle, Shabba Ranks, Chakka Demus & Pliers e o fluminense Cidade Negra prometem levar ebulio as areias das praias do Gonzaga e da Barra. Isso sem contar com a presena de Chico Science e o mangue beat de sua Nao Zumbi. O reggae uma msica essencialmente mutante. O estilo criado pelos Wailing Wailers de Bob Marley e Peter Tosh viveu seu auge quase ao mesmo tempo em que explodia o movimento punk nas ruas de Londres, circa 77. Coincidncia ou no, graas a um ingls -Eric Clapton- o estilo tornou-se conhecido mundialmente. Muito do esprito fraternal e engajado do reggae se perdeu com a morte de Marley e Tosh, seus dois maiores nomes. Veio a gerao de Yellowman -atualmente em franca decadncia-, que, na prtica, propunha exatamente o oposto do que seus antecessores pregavam. As mensagens rastafri de amor universal e paz foram aposentadas. Na virada dos 90 surgiu uma nova verso do estilo, batizada de dancehall. No fundo, a receita simples: elimine os grooves -bases sonoras encorpadas baseadas no casamento de baixo e bateria-, adicione fortes doses de hip hop e eletrnica e passe a falar sobre violncia -o guntalk-, sexo fcil e baladas homricas. O sucesso instantneo da reciclagem do reggae provocou uma busca desenfreada das grandes gravadoras por novos nomes. Em apenas dois anos, 15 jamaicanos assinaram contratos internacionais polpudos. O primeiro nome do estilo a ganhar fama fora da ilha foi Shabba Ranks. Em 91, ele assinou com a Epic, por onde lanou dois lbuns e duas coletneas de remixes. Shabba chega ao Brasil com a autoridade de quem emplacou o megahit Mr. Loverman em praticamente todas as rdios do pas em 93. A maliciosa cano deve grande parte de seu impacto ao produtor Clifton Specialist Dillon. Shabba forjou o visual do homem do dancehall: roupas estilosas e cabelos curtos, alm de muitos anis e pulseiras. Chakka Demus & Pliers seguiram o rastro aberto por Ranks, injetando mais elementos de rap e hip hop receita. A dupla composta por um DJ e um MC, e gravou em 93 o lbum Tease Me, cheio de aluses sexistas. Desembarcam no Brasil sem um hit sequer. O contraponto da noite ser feito pelos rastas do Inner Circle e seu reggae de raiz e pelos fluminenses do Cidade Negra, que fazem um som ainda prximo do estilo original. O Inner Circle foi criado pelos irmos Ian e Roger Lewis (baixista e guitarrista), h 17 anos. Seu maior sucesso aconteceu em 76, com a cano Everything Is Great. Desde ento, considerado um dos principais nomes do reggae e esteve em evidncia at a morte do vocalista Jacob Miller, em 80. Ficaram em jejum at 86, quando Calton Coffey assumiu os vocais. A banda reencontrou o sucesso em 89, com o disco Identified e a entrada do baterista Lance Hall. Com o ltimo disco, Bad To The Bone, veio a pegajosa Sweat (A La La La La Long). Resultado: mais de dois milhes de cpias vendidas. O disco ainda traz Bad Boys, tema do seriado americano Cops e sucesso por l. Prepare-se para comear a balanar seus dreadlocks.","O evento musical M2.000 Summer Concerts destaca-se na sua primeira etapa pela presena de representantes do reggae , estrangeiros e nacionais. Esse estilo musical essencialmente mutante. O esprito fraternal e engajado da produo de seus criadores - Bob Marley e Peter Tosh morreu com eles. A gerao de Yellowman , que os seguiu, ao contrrio , pregava a violncia. Na virada dos anos 90, surgiu uma nova tendncia ---dancehall--- com modificaes na parte de som e de coreografia, que fala sobre violncia, sexo fcil e baladas homricas. O sucesso dos representantes da nova tendncia foi grande , concretizado em contratos internacionais milionrios. Estaro presentes no evento , no Rio de Janeiro , Shabba Ranks; Chakka Demus & Pliers; Inner Circle, alm dos nacionais, Cidade Negra e Chico Science. " op94ab24-a," parte qualquer lgica eleitoral que possa ter, o acordo entre PFL e PSDB, desde que comeou a ser cogitado, acenava com toda sorte de dilemas e dificuldades em funo da grande disparidade entre as duas legendas em termos de ideologia, histria partidria e prtica poltica. To dspares que boa parte dos membros de uma apoiou a ditadura contra a qual lutou a maioria dos membros da outra. Pois alm das ameaas de rebelio que se disseminaram de imediato em diversos setores do PSDB, a estranha aliana j provocou um novo e embaraoso problema a partir do favoritismo que vinha sendo dado ao nome do deputado Lus Eduardo Magalhes (PFL-BA) entre os cotados para compor, como candidato a vice, a chapa presidencial de Fernando Henrique Cardoso. Lus Eduardo de fato j tinha a caracterstica peculiar de, como filho de Antnio Carlos Magalhes, representar quase que um emblema do PFL trazendo, ao lado de um vigoroso apoio do governador da Bahia, a lembrana presente daquilo que esse partido significa em termos de prtica, de histria e de posies polticas no pas. No s isso. Como foi lembrado nos ltimos dias, Lus Eduardo votou contra o impeachment de Fernando Collor. Ora, o PSDB sempre se pretendeu um partido preocupado com a tica supostamente, sua criao como dissidncia do PMDB deveu-se em boa parte a essa questo. Assim, se o pacto com uma legenda vinculada s tradies mais deplorveis da vida pblica brasileira j difcil de justificar, a aceitao de um candidato a vice que defendeu Collor parece quase impossvel. Expresso de forma inequvoca num dos maiores movimentos cvicos que este pas j viu e que contou com a adeso integral do PSDB, o apoio da populao ao afastamento do chefe da Dinda e sua camarilha foi esmagador. Nessas circunstncias, o voto de Lus Eduardo contra o impeachment revela um desdm para com a opinio do eleitorado que atenta contra as responsabilidades e deveres da representao popular. A cotao do filho de ACM como postulante a vice decaiu sensivelmente nos ltimos dias, mas mesmo que seu nome seja definitivamente afastado o problema continua longe de resolvido. O fato que o PSDB chegou a considerar seriamente o nome do pefelista baiano para integrar sua chapa, sabendo perfeitamente como ele havia votado na deciso do impeachment. Assim, o seu possvel recuo agora pareceria dever-se muito mais ao temor do efeito eleitoral de uma divulgao do voto pr-Collor de Lus Eduardo do que a qualquer considerao de ordem tica quanto a esse mesmo voto atitude eleitoreira do tipo que o PSDB costumava condenar. Outra dificuldade que resta refere-se escolha de um novo nome do PFL para vice na chapa de FHC. Com o filho de ACM perdendo a dianteira, ressurge a difcil tarefa de encontrar um nome que ao mesmo tempo satisfaa a cpula pefelista, traga votos no Nordeste (ao fim e ao cabo, o maior atrativo do PFL) e no cause uma rebelio ainda maior entre os tucanos. So problemas, de todo modo, que no devem surpreender ningum muito menos o PSDB e que devero continuar a aflorar nos prximos meses. Afinal, no se pode aliar antigos inimigos e antpodas polticos impunemente.","A aliana entre o PFL e o PSDB , com vistas prxima eleio presidencial, contm um germe de incompatibilidade. A histria dos dois partidos , as ideologias que os fundamentam , a sua prtica poltica no facilitam uma boa convivncia. Tanto que vrios membros do PSDB no digerem bem a proposio do nome de Luiz Eduardo Magalhes (PFL-BA) para vice de Fernando Henrique. Os peessedebistas votaram pelo impeachment de Collor; Luiz Eduardo foi contra. Se o apoio da populao brasileira pela cassao foi macio , fica difcil acertar com tal vice. Apesar disso, o PSDB alimentou essa aliana . A reao, porm, foi esfriando as conversaes. E o temor de um reflexo eleitoral negativo , certamente, levou o partido a desistir da indicao. A dificuldade no terminou para o PSDB , pois ter que pensar num outro vice do prprio PFL e , logicamente, do gosto do partido. " di94ja09-16,"Menos impostos e menos negcios da China Bairros construdos em terras da Unio; jogo de ganhar juros com a sonegao; o Congresso mudar isso? ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha O luxuoso bairro paulistano de Alphaville foi construdo h alguns anos em terras pertencentes Unio. Nem mesmo a espcie de aluguel previsto para esses casos foi paga, ao longo dos anos, pelos felizes e prsperos donos de casas erguidas na regio. Alphaville no uma raridade. H milhes de casos iguais. Milhes? . Milhes. A Unio dona de nada menos de 2,5 milhes de imveis, cadastrados, de todos os tipos e tamanhos. Fazendas resultantes de terras devolutas e ocupadas por construtoras; faixas de terras de custo milionrio invadidas por milionrios ao longo das praias ou em ilhas; terrenos, prdios e casas recebidas na Justia como pagamento de dvidas... So 2,5 milhes de imveis, que deveriam render trilhes e trilhes de cruzeiros, se vendidos ou quando invadidos ou gentilmente cedidos pagassem a taxa de ocupao prevista em lei. No pagam. Por qu? H uma resposta fcil, neste Brasil dominado pelo festival de mentiras detinado a impedir que os negcios da China acabem. A resposta imediata e aparentemente correta esta: o Estado, o governo, no sabe administrar nem o seu patrimnio. Mas, se esse chavo for deixado de lado, a concluso outra. H grandes grupos, gente poderosa, se apoderando daqueles trilhes de cruzeiros que na verdade pertencem Unio. Isto , pertencem sociedade brasileira. Poderiam ser usados para reduzir os problemas sociais e reduzir a carga de impostos da classe mdia e do povo brasileiro. Em resumo: dizer que o Estado no administra bem um golpe para enganar a sociedade. Quem no administra, quem protege os poderosos interesses, so os ministros e governantes coniventes com esses assaltos contra o patrimnio coletivo. O escndalo maior do que se pensa. J antes da posse, uma das principais fontes de renda previstas pelo governo Collor era exatamente a reforma patrimonial, isto , a administrao correta desses milhes de imveis. O problema era conhecido. Identificado. Por que nada foi feito? E por que nada est sendo feito mesmo pela equipe de FHC? O ministro da Fazenda diz a todo momento que aceita renunciar aos aumentos de impostos e cortes propostos em seu plano se houver sugestes para arrecadar os recursos necessrios. Seguem-se, ento, um modesto lembrete para a questo dos imveis e mais outros cinco ou seis lembretes viveis: Ateno: preciso evitar que ministros e assessores, atuais ou futuros, repitam o comportamento criminoso de antecessores, isto , engavetem as mudanas ou faam corpo mole para implant-las. A advertncia, como se ver a seguir, justificada pela experincia. Assim, todas as medidas deveriam ser aprovadas pelo Congresso, fixando-se tambm um cronograma de prazos para execuo das diversas etapas. Eis os lembretes: Imveis a Unio tem obviamente uma diviso de patrimnio, incumbida de administr-lo. No pode agir. massacrada com a falta de verbas, pelos ministros da Fazenda. Por qu? Mistrio? No ano passado, 1993, recebeu uma ninharia miserenta. O funcionrio responsvel fez o que podia: segundo a Gazeta Mercantil, comprou um (unidade) microcomputador, desses que custam menos de US$ 1.000. Pois . So 2,5 milhes de imveis capazes de render trilhes. Mas os ministros ... A diviso precisa de verbas, gente, equipamentos. J. Amanh. Brincadeira no ltimo dia do ano, a equipe FHC enviou a reviso do Oramento ao Congresso, acompanhada de propostas de aumento de impostos etc. A sorte das equipes ministeriais (presente, passadas e futuras) que ningum mais l ntegras de projetos no Brasil. D pra fazer toda manipulao que se quiser, n? As receitas esto completamente manipuladas para baixo, claro. Mas o engraado, mesmo, que a mensagem do ministro destaca os dois avanos mais importantes para o aumento da arrecadao em 1993. So eles, segundo o texto, o recadastramento dos contribuintes e a obrigatoriedade de os bancos fornecerem as listas de clientes. Importante, no? S que o ministro e seus assessores se esqueceram de que o recadastramento dos contribuintes mal comeou, durou um ms e foi suspenso. Por qu? Porque os computadores que prestam servio ao leo, pertencentes ao Serpro, pifaram. O Serpro est sucateado graas ao corte de verbas de ministros (ex e atuais), que falam alegremente na necessidade de enxugar a mquina do governo. No h recadastramento sem reequipar o Serpro. E tampouco haver condies de utilizar as listas dos bancos, cata de sonegadores. Lembrete trs, portanto: reequipar o Serpro. Sem brincadeiras, n? Amnsia o ministro e seus assessores se esqueceram de mais uma coisinha. O Programa de Ao Imediata que a equipe FHC divulgou em meados do ano demonstrava competncia, em um ponto. Como assim? No Brasil, diante dos juros estratosfricos (defendidos pelos ministros da Fazenda e assessores/banqueiros), sabe-se que vantagem as empresas deixarem de pagar os impostos e aplicarem no mercado financeiro. Mais tarde, quando a Justia ordena o recolhimento, o sonegador j ganhou mais em juros do que vai pagar ao Tesouro. Ao tomar posse, a equipe sabia disso. Tanto, que propunha a criao de uma espcie de multa extra destinada exatamente a anular, compensar, o lucro ganho pelas empresas sonegadoras com os juros. No que o ministro e assessores se esqueceram disso? No s a proposta morreu h meses em uma gaveta qualquer. Ainda por cima, o ministro reduziu multas, extinguiu as prestaes iniciais de 15% a 20% e aumentou os prazos de parcelamento dos impostos sonegados. Aumentou os ganhos dos sonegadores s custas do Tesouro. Como se sabe, amnsia doena contagiosa que ataca os progressistas que chegam ao poder. Estadual e federal. Filosofagem construir sofismas virou um dos passa-tempos prediletos dos ministros da Fazenda no Brasil. O parcelamento da Cofins em 80 meses, criticado nesta coluna, recebeu uma justificativa ministerial. Como as empresas no haviam recolhido o imposto ao longo de 19 meses e a alquota de 2% do faturamento, se toda a dvida fosse cobrada de uma vez, ela representaria 38% do faturamento. Isso quebraria as empresas, dizem os competentes assessores. mesmo? Joguinho duro esse de fugir responsabilidade com sofismas. Ningum defendeu que as empresas pagassem tudo de uma vez. H muitos meses, defende-se nesta coluna um conceito esquecido pelos ministros e seus assessores consultores dos sonegadores (prove-se que no o so ...). O conceito da capacidade contributiva. O importante receber. Ningum quer quebrar empresas. O parcelamento defendeu-se sempre, aqui deveria obedecer o mesmo critrio da rolagem da dvida dos Estados e municpios. As prestaes deveriam representar um percentual, de 3% por exemplo, do faturamento das empresas. Com a recuperao da economia (que j houve) e crescimento do faturamento (idem) as prestaes tambm aumentaro e o Tesouro receber seu dinheiro mais depressa. Sem sacrificar as empresas. Esse critrio tem que ser adotado para todas as dvidas: Previdncia, FGTS, emprstimos bancrios na CEF, BB, BNDES etc. Sonegao a produo industrial cresceu 12% em 1993, a arrecadao do IPI apenas 2% a 3%. Na indstria automobilstica, crescimento recorde de 45% e aumento de 4% na arrecadao do IPI. No cheira sonegao desenfreada, de trilhes de cruzeiros? Ser que a melhor opo para arrecadar mesmo correr atrs da nota fiscal de pequenos comerciantes? Interessante, n? Contrataes a Advocacia da Unio est com seis advogados. Meia dzia. Fala-se em contratar advogados particulares para defender os interesses do governo em aes na Justia. A experincia j foi feita. Um doce para quem adivinhar o que aconteceu. Suborno? Corrupo? Pessoal Receita, INSS, Ministrio do Trabalho tambm precisam contratar fiscais para combater a sonegao. Ponto. tudo simples. D pra fazer perfeitamente, entre um sorriso e outro. Ou entre um sorriso e uma recusa de entrevista a um jornalista. Desagradvel. ALOYSIO BIONDI, 56, jornalista, foi diretor de Redao da revista Viso e editor de Economia da Folha.","Menos impostos e menos negcios da China Bairros construdos em terras da Unio; jogo de ganhar juros com a sonegao; o Congresso mudar isso? ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha O luxuoso bairro paulistano Alphaville foi construdo h anos em terras da Unio. Nem o equivalente a aluguel foi pago por nenhum dos ricos moradores. H milhes de (2,5) de imveis cadastrados fazendas, prdios, casas , etc.--, que deveriam render trilhes de cruzeiros . A explicao que o Estado no administra bem o seu patrimnio e ricos senhores sonegam pagamentos que poderiam reverter em benefcios para a populao menos privilegiada , inclusive em reduo de impostos. Antes de tomar posse, Collor j tinha previsto como tima forma de arrecadao a reforma patrimonial , ou seja, os impostos advindos desses bens. O assunto sumiu e continua desaparecido na gesto de FHC como ministro da Fazenda. Como o ministro est sempre dizendo que renuncia a aumento de impostos se houver sugestes de formas eficientes de arrecadao, l vo algumas : preciso evitar que ministros e assessores repitam o comportamento criminoso de antecessores , engavetando as mudanas ou fazendo corpo mole na implantao de medidas. A Unio tem um setor encarregado de administrar o seu patrimnio. No age por falta de verba. Em 1993, recebeu uma ninharia . O responsvel fez o que pde: comprou um computador um nada diante da fortuna que poderia receber com uma eficiente gesto. No ltimo dia do ano , a equipe FHC enviou a reviso do Oramento ao Congresso, com propostas de aumento de impostos , etc. As receitas esto manipuladas para baixo. Na proposta aparecem os ditos avanos para a arrecadao de 1993: recadastramento dos contribuintes e obrigatoriedade de os bancos fornecerem a lista dos clientes. O procedimento ficou no incio, pois os computadores da Serpro que fazem o servio do leo pifaram . Lembrete : reequipar o Serpro. s vezes , ocorrem casos de amnsia. O Programa de Ao Imediata da equipe , sabendo que muitas empresas preferem atrasar os impostos e aplicar o dinheiro no mercado financeiro, com muita vantagem, props uma multa para compensar o prejuzo do governo. Resultado? Engavetaram. Esta coluna criticou o parcelamento da Cofins em 80 meses e recebeu uma justificativa : como as empresas no recolheram o imposto ao longo de 19 meses, se a dvida fosse cobrada de uma vez , iriam falncia. Acontece que esta coluna no nega a possibilidade de parcelamento nem quer falncia de ningum.O importante receber. Mas lembra que existe o conceito capacidade contributiva , e o parcelamento deveria seguir o mesmo critrio de rolagem de dvidas dos Estados e municpios. Ainda convm comparar estes dados: a produo industrial cresceu 12% em 93, a arrecadao do IPI , apenas 2%; a indstria automobilstica cresceu em 45% , e o IPI correspondente, s 4%" ce94ab24-c,"Ainda que comece em 1922, com a Semana de Arte Moderna de So Paulo, o segundo mdulo da Bienal Brasil Sculo 20 tem origem em 1917, ano em que Anita Malfatti (1896-1964) faz sua primeira exposio individual em So Paulo. A exposio provoca grande rebulio. O escritor Monteiro Lobato faz uma crtica exposio, chamada Parania ou Mistificao?, em que condena a adeso de Malfatti ao cubismo, futurismo e outros ismos que ento surgiam na Europa. Com influncia inicial do expressionismo alemo, Malfatti vai contra a tendncia neoclssica da arte brasileira do incio do sculo. Para o curador da Fundao Bienal, Nelson Aguilar, Lobato ficou chocado com a economia de traos e a franqueza de cores de sua pintura. Malfatti tambm volta sua tcnica moderna ao mundo rural brasileiro, usando motivos primitivistas em seu trabalho. A atitude indita. Mas, segundo a curadora do mdulo, Annateresa Fabris, a modernidade que So Paulo comearia a adotar no a prescrita por Malfatti. Fabris d o exemplo de Victor Brecheret (1894-1955), cuja aceitao pelo meio intelectual foi muito maior. Para Annateresa, Brecheret lanava mo de referncias do passado, em dilogo com a tradio da escultura, e isso lhe rendeu sucesso entre os crticos paulistas. A modernidade que lhes interessava seria, ento, mais de contedo que de forma, mais de ordem que de mpeto destrutivo -o contrrio do que pregava a maioria das vanguardas internacionais. A esttica de Brecheret no chocava o senso comum da poca, diz Annateresa. Outro exemplo desse comportamento o temor que o escritor Mrio de Andrade manifestou pintora Tarsila do Amaral (1890- 1973). Ele temia que a temporada que Tarsila passaria em Paris fosse 'despersonalizar' sua linguagem artstica. Ali se comea a formar um discurso nacional, diz Annateresa. O que crticos como Srgio Milliet e Mrio admiravam em Tarsila era sua brasilidade. Para Annateresa, esse discurso impediu a avaliao de caractersticas importantes nas obras de Anita, Tarsila, Di Cavalcanti (1897-1976), Vicente do Rgo Monteiro (1899-1970), Lasar Segall (1891-1957) e Oswaldo Goeldi (1895-1961). Ao mesmo tempo, consagrou pintores apenas por mrito temtico. O maior exemplo, segundo Fabris, Cndido Portinari (1903-1962). Mrio de Andrade o converte em prottipo do artista nacional. J a dcada de 30. Desse perodo em diante, julga Aguilar, a arte moderna brasileira entra num figurativismo cada vez mais dogmtico. Segall, por exemplo, depois da ousadia de Paisagem Brasileira (1925), volta s cores sombrias e formas conservadoras de seu expressionismo. A consequncia disso exemplificada pela trajetria da pintora portuguesa Vieira da Silva (1908-1991) na dcada de 40. Radicada em Paris desde os anos 20, ela vem para o Brasil em 1940 e, para ter repercusso aqui, praticamente abandona seu abstracionismo (leia definio abaixo). O outro curador deste segundo mdulo, Tadeu Chiarelli, se dedicou a pensar nos artistas marginalizados por aquele discurso nacional -e no s por ele. Tambm houve os que foram postos margem por no ser de vanguarda, diz Chiarelli. Ele encaixa nessa categoria, entre outros, Anita Malfatti, porque voltou ordem, a repensar a tradio; Flvio de Carvalho (1899-1973) e Ismael Nery (1900- 1934), cujas obras so ousadas e conturbadas; e Maria Martins (1900-1978), por sua investigao do irracionalismo. Vamos mostrar uma viso no-institucionalizada do modernismo, diz. preciso rever as obras dos artistas independentemente dos grupos a que pertenceram.","Anita Malfatti , com sua exposio individual de pintura em 1917, d os primeiros sinais da Semana de Arte Moderna de 1922. A polmica em torno do acontecimento ficou marcada na crtica de Monteiro Lobato no artigo Parania ou Mistificao, em que ele condena as influncias do cubismo e futurismo , tendncias em voga na Europa. Sob influncia inicial do expressionismo alemo, Malfatti se ope tendncia neoclssica da arte brasileira do incio do sculo XX. Procura inspirao , tambm, no primitivismo do mundo rural brasileiro. Segundo Annateresa Fabris, curadora do segundo mdulo da Bienal Brasil Sculo 20, a modernidade adotada por So Paulo no foi a de Anita, mas a de Victor Brecheret, que interligava referncias do passado com a tradio da escultura. O senso comum dos paulistanos no se chocava com a esttica de Brecheret, menos destrutiva e mais voltada para temas nacionais. A crtica se mostra empenhada em valorizar a elaborao de um discurso nacional, que priorizasse a brasilidade temtica mais do que tudo. Mrio de Andrade, por exemplo, considera Cndido Portinari o modelo do artista nacional, por esse motivo. Tal prisma impediu a avaliao de caractersticas importantes nas obras de outros artistas da poca. A partir de 1930, segundo Aguilar, curador da Fundao Bienal, a nossa arte entra num figurativismo cada vez mais dogmtico. A moda acaba levando alguns artistas a abandonarem outros vos e a se enquadrarem. Outro curador do segundo mdulo, Tadeu Chiarelli , se preocupou em mostrar os efeitos redutores desse enquadramento para a avaliao da obra de certos artistas. " mu94de04-b,"Mudam os governos, permanecem os escndalos. Para o governo de Ronald Reagan, o que permaneceu foi o caso Ir-contras, trazido tona mais uma vez com Special Trust (Cadell & Daries, 389 pgs., US$ 25). O livro de autoria de Robert McFarlane com a jornalista Zofia Smardz. McFarlane foi Conselheiro de Segurana Nacional de Reagan entre 1983 e 1985. As decises relativas venda de armas para o Ir e ao envio de capital para os contras da Nicargua passaram por McFarlane, da o tom confessional do livro. O autor faz mea-culpa ao mesmo tempo em que aponta todos os outros personagens do escndalo, que conseguiram se desvencilhar de provas cabais da sua participao no caso, como o seu assessor direto Oliver North e o prprio presidente Ronald Reagan. De sua participao nas altas rodas do poder, McFarlane pode se gabar de ter sido responsvel pela reaproximao dos EUA com a URSS de Mikhail Gorbatchov. No mais, o livro um apanhado de memrias que no provocam exatamente orgulho do cidado McFarlane. No prefcio, ele conta com detalhes sua inteno de se suicidar (em 1987), devido s presses decorrentes do escndalo. O dado mais interessante de Special Trust talvez seja o fato de o livro trazer mais um relato dos bastidores do poder na gesto Reagan -claro que no isento. McFarlane reclama de que Reagan era um presidente emotivo para lidar com questes do Estado e deixa claro que todas as decises que tomou para levar adiante o caso Ir-contras (sem aprovao do Congresso) contou com apoio e aprovao de Reagan. O livro todo assim, explica, mas no justifica. Ele no convence de sua inseno ou boas intenes no caso, ainda que se possa relevar que no estivesse sozinho. Ele indica quem deveria ser punido no escndalo: o diretor da CIA, William J. Casey, e Oliver North, alm de apontar uma srie de assessores e conselheiros que tinham conhecimento de tudo. A grande falha de McFarlane que ele no convence de que no deve ser includo nesta lista. McFarlane deixa claro, no entanto, que apesar da aprovao de todos os conselheiros de Reagan, fora de sua presena, apenas duas pessoas se opuseram venda de armas ao Ir e o desvio do capital aos contras: o secretrio de Estado George Shultz e o secretrio de Defesa Caspar Weinberger. Mas segundo McFarlane, nem eles, nem o ento vice-presidente George Bush, que tambm tinha conhecimento do caso, apresentaram objees sobre as medidas do presidente Reagan. A capa de Special Trust traz uma foto de McFarlane escolhida a dedo: com o fantasma Reagan atrs, como que indicando que ele fora apenas um testa-de-ferro. McFarlane diz que ainda defende o que foi a administrao Reagan, mas descreve com tantos detalhes os atos ilegais cometidos no perodo que a publicao de Special Trust talvez tenha sido o seu maior erro poltico. ","O conselheiro de Segurana Nacional do governo Reagan (1983---1985) , McFarlane , juntamente com a jornalista Zofia Smardz , publicou um livro sobre o escndalo Ir-contras (venda de armas ao Ir e envio de capital para os contras da Nicargua. McFarlane faz o mea-culpa e nomeia os demais envolvidos ---alguns conseguiram desvencilhar-se das provas de co-responsabilidade, inclusive o presidente Reagan. O livro no enaltece a figura de McFarlane. Apesar da tentativa, ele no consegue convencer de que no tinha culpa . Os detalhes sobre os bastidores do poder durante o governo Reagan talvez sejam o aspecto interessante do livro. Entre os conselheiros de Reagan que aprovaram as decises , apenas o secretrio de Estado George Shultz e o secretrio de Defesa Caspar Weinberger se opuseram ao envio de armas, mas no apresentaram objees . " po96ab19-b,"BRASLIA - Crticas ao decreto que permite a reviso de reas indgenas que ainda no foram registradas vo marcar, hoje, o Dia do ndio. O Conselho Indigenista Missionrio (Cimi) anunciou ontem que vai realizar um trabalho paralelo para fiscalizar a anlise das 56 reas indgenas que esto sendo contestadas com base no decreto, assinado em janeiro pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. A Funai tem ainda 50 dias para justificar os limites das reas questionadas por seus antigos ocupantes. Depois caber ao ministro da Justia, Nlson Jobim, dar a palavra final sobre as contestaes. De acordo com a Funai, das 56 reas contestadas, 31 no atendem s exigncias do decreto. So reas registradas, como o caso da reserva dos ianommi, em Roraima e Amazonas; de reas que ainda no haviam sido criadas, e ainda de contestaes que chegaram Funai depois do prazo fixado pelo Ministrio da Justia. H tambm situaes polmicas, como a rea interditada para os av-canoeiros, que so ndios ainda isolados. O grupo vive em Tocantins, na regio que, em parte, ser alagada pela hidreltrica de Serra da Mesa. ONGs - A contestao da rea dos avcanoeiros foi criticada por integrantes de organizaes no governamentais (ONGs) que participaram de audincia pblica na Comisso do Meio Ambiente e Minorias da Cmara. As contestaes partiram de pessoas fsicas e jurdicas, prefeituras e governos estaduais. O governo do Rio de Janeiro entrou com uma ao contra a criao da rea de Parati-Mirim. A rea do Ba, no Par, onde vive um sub-grupo de ndios caiaps, reinvidicada pela Prefeitura de Novo Progresso. Os governos do Par e de Mato Grosso entraram com contestaes contra a demarcao da rea dos ndios panar. Tambm so contestadas pelo governo do Par as reservas de apitereua, arauet do igarap Ipixuna, Cachoeira Seca, Praia do ndio, Praia do Mangue, Rio Curu, Rio Paru de Este, Trincheira Bacaj e Parque Indgena do Tumucumaque. O governo de Rondnia contesta uma rea interditada pela Funai no Rio Mequens, onde no ano passado foram localizados ndios isolados, e o governo de Roraima discorda da demarcao contnua da rea de Raposa/Serra do Sol, onde vivem ndios macuxis e uapixanas. As contestaes envolvem a anulao da homologao, anulao de portaria declaratria, reviso de limites e indenizao de terra. Decreto - O ministro Nlson Jobim, desde o incio do governo, defendeu como prioridade rever o decreto do ex-presidente Fernando Collor, que dava amplos poderes Funai para criar e demarcar reas indgenas. Segundo Jobim, o decreto no previa o direito de defesa das pessoas que se sentem prejudicadas com as demarcaes (contraditrio). Mesmo com as presses das ONGs e dos prprios tcnicos da Funai, o governo revogou o decreto de Collor e abriu a possibilidade de reviso de reas demarcadas a partir de 1991. O nmero de reas passveis de contestaes era 201, mas segundo a Funai, 56 foram questionadas. Do total, 23 receberam mais de uma contestao. O nmero total de contestaes chega a 536. O Conselho Indigenista Missionrio discorda desses nmero, e garante que foram mais de mil contestaes. O ministro da Justia retirou da lista 17 questionamentos apresentados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renovveis. O Ibama queria rever a situao de reas onde parques nacionais convivem com reas indgenas, como o caso dos ndios pataxs, na Bahia. ","O Dia do ndio , hoje, vai ser marcado por crticas ao decreto que permite a reviso de reas indgenas ainda no registradas. O Conselho Indigenista Missionrio pretende realizar um trabalho paralelo para acompanhar os trmites da contestao de 56 reas indgenas , baseada num decreto do presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois de a Funai justificar os limites das reas contestadas, a deciso do ministro da Justia. Das reas contestadas, segundo a Funai , h as que no atendem s exigncias do decreto, por serem reas registradas, ou que ainda no tinham sido criadas, ou por terem a contestao fora de prazo. As contestaes partiram de pessoas fsicas, jurdicas , de prefeituras e de governos estaduais. E se referem a reas de vrios estados: Rio de Janeiro, Par, Mato Grosso, Rondnia. A briga promete, pois, em contraposio s reivindicaes dos interessados, h ONGs acompanhando o desenrolar das conversaes. " op94ab01-b,"O sentimento geral de que o neoliberalismo como parecia, como panacia, est fazendo gua. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra, como nos ensinaram os velhos brocardos portugueses que aqui chegaram no bojo das caravelas, isto , sofrendo as agruras do oceano. H resultados, mas tambm h fracassos. A verdade que o sonho de uma avassaladora onda de prosperidade e de paz, depois do fim da URSS e do desmoronamento do mundo do Leste, no se concretizou. As palavras revoluo e revolta no morreram, e os problemas da paz, simplificados no tempo da confrontao, esto mais complexos e mais volteis. H uma incipiente tendncia armamentista na sia que aflora no aumento substancial do oramento militar japons, a China equipa-se como potncia naval e na Coria ressurge a ameaa nuclear. Acabou-se a era da teorizao sobre a grande fase de paz e de prosperidade que todos sonhamos. A cruel realidade se impe mais forte que o sonho. Buscavam-se outras teorias para explicar os fracassos. A desculpa que o mal estrutural, vem da sociedade industrial! Descobre-se (grande novidade!) que a automao libera mo-de-obra e o desemprego tende a aumentar cada vez mais. Que fazer? Buscar frmulas novas. Diminuir horas de trabalho (!), rever os sistemas de previdncia, todos quebrados, reciclar trabalhadores, reeducar desempregados, enfim, sempre termos tericos. A verdade que no o tamanho do Estado que se deve medir, a qualidade do Estado. Este no mais o grande vilo do ano 90 ps-queda do Muro de Berlim mas um mal necessrio que deve ser forte e eficiente. O mercado, o Deus do novo tempo, mostra que ele resolve muitas coisas, mas no resolve tudo. Em tudo, para parte da populao mais nobre, tudo mesmo: assistncia mdica, educao, saneamento, infra-estrutura, segurana, moradia, cultura, lazer. As privatizaes no andam to bem, em todo lugar, como se prega. A onda maior no mundo do Leste e, claro, l, at a florista era do Estado... A senhora Thatcher no disse no Brasil que apesar da sua determinao e esforo, s conseguiu privatizar 20% das empresas? O grande perigo da privatizao no ser feita com o acoplamento de uma poltica industrial. Privatizar no pode ser dilapidar bens pblicos na bacia das almas. Considero o exemplo francs e o mexicano os melhores. L a coisa foi feita com critrio e deu certo. O nosso grande problema a Constituio. Ela estatizante onde o Estado no devia estar. Ela demaggica onde o governo devia ser eficiente. Ela contraditria, hbrida, cobra de duas cabeas, dividida entre prticas parlamentaristas e governo presidencialista. E o pas? A classe poltica? Atnita e nos anos 50, numa mistura de populismo, marxismo, demagogia e indisciplina. E as famosas elites? Estas vo bem, obrigado, querendo fazer poltica sem polticos, democracia sem instituies e economia de mercado sem livre concorrncia.","O neoliberalismo veio com a aurola de soluo para todos os males. Os pases que cumprissem a agenda de privatizao estariam contribuindo para a nova era de prosperidade e paz. Esse novo perodo, inaugurado com a queda da URSS, no se mostrou nem to saneador , nem to pacfico. Desabrocham ncleos de violncia em vrios lugares, com o aumento de preparativos blicos. As explicaes dadas para os fracassos de uma poca se equivalem s sugestes apresentadas para uma outra. A entrega das solues ao mercado no uma boa medida, principalmente para as classes menos favorecidas, que continuam com os problemas de assistncia mdica, educao, saneamento, segurana, moradia, cultura , lazer. A questo no anular o Estado, mas melhorar sua qualificao. Os pases do Primeiro Mundo , que vendem para os do Terceiro a idia de privatizao , no a implementaram com mesma intensidade. Para as elites , trata-se de mais uma ideologia que cumpre a tarefa de manter o status quo. " po96fe14-d,"BRASLIA - O Senado aprovou ontem, em primeira votao, a emenda que cria o Fundo de Estabilizao Fiscal (FEF) - que substituir o extindo Fundo Social de Emergncia. Com isso, estados e municpios passaro a recolher 20% dos seus impostos - retroativo a 1 de janeiro - para a composio do FEF. O fundo vai vigorar por 18 meses - at 30 de junho de 1997 - e a arrecadao prevista de R$ 20 bilhes por ano. O governo poder aplicar esses recursos como quiser, j que esto livres de vinculao oramentria. A votao de ontem foi tranqila e a emenda foi aprovada por 71 votos contra 10 e uma absteno. O segunda e ltima votao no Senado est prevista para o dia 29. A primeira grande vitria do governo, no perodo da convocao extraordinria, foi obtida pelo lder do governo no Senado, lcio lvares (PFL-ES). Atendendo ao apelo de lcio e s condies do relator da emenda e lder do PMDB, Jder Barbalho (PA), o ministro da Fazenda, Pedro Malan, mais uma vez concordou em dar compensaes aos prefeitos e facilitar o pagamento de suas dvidas atrasadas, assim como fez com os governadores durante a votao na comisso de Constituio e Justia do Senado. Segundo o senador Vilson Kleinubing (PFL-SC), Malan receber hoje uma comitiva de prefeitos, lderes e senadores de todos os partidos para discutir o que fazer com os prejuzos. A Caixa Econmica Federal ser mais uma vez acionada para abrir novas linhas de crdito para a renegociao das dvidas dos prefeitos. Malan concordou em negociar com os prefeitos o pagamento dos dois meses de recolhimento indevido - janeiro e fevereiro - em 10 parcelas. O mesmo acordo foi fechado anteriormente com os governadores. Nenhuma emenda foi apresentada na votao de ontem. O lder lcio lvares adotou o estilo marcao homem a homem para convencer os senadores a retirarem as assinaturas das propostas de mudana do FEF. A lder do PDT, Jnia Marise (MG), chegou a conseguir em plenrio as duas assinaturas que faltavam para totalizar as 27 exigidas pelo regimento. Vantagens - Mas, em seguida, Onofre Quinam (PMDB-GO) e Ldio Coelho (PSDB-MS) foram abordados pelo lder do governo com promessas de vantagens na renegociao das dvidas em seus estados. O lder do PSB, Ademir Andrade (PA), denunciou que os senadores esto atemorizados com as ameaas de serem investigados pela Receita Federal, depois que 12 deles retiraram as assinaturas de apoio s emendas. O debate durante a sesso tambm foi agitado pela polmica arrecadao do fundo e as perdas que provocar para estados e municpios. O governo afirma que no haver perdas, mas o relator, Jder Barbalho, em pronunciamento polmico, reconheceu: Vai haver perda sim, apesar de a equipe econmica dizer que no. Jder disse que deu parecer favorvel porque optou pela sobrevivncia do Plano Real. Assumo politicamente o risco de prejudicar estados e municpios em favor da sobrevivncia do Real, encerrou o lder do PMDB. Na tera-feira noite, o presidente Fernando Henrique se reuniu com senadores do PMDB no Palcio do Planalto. Segundo Jder, o presidente negou que o governo esteja investigando os senadores. Se assim, o PMDB mantm sua posio favorvel ao FEF, respondeu o lder do partido.","Foi aprovada ontem no Congresso, em primeira votao, a criao do Fundo de Estabilizao Fiscal (FEF), que vigorar por 18 meses, at junho de 1997. Para sua composio , estados e municpios depositaro 20% dos seus impostos. O recolhimento previsto de R$20 milhes por ano. Atendendo ao pedido do lder do governo no Senado e s condies do relator da emenda, o ministro da Fazenda , Pedro Malan, concordou em dar compensaes aos prefeitos e em facilitar o pagamento de dvidas atrasadas, como j tinha feito com os governadores. A Caixa Econmica Federal abrir linhas de crdito para a negociao das dvidas dos prefeitos. Para que no fosse apresentada nenhuma emenda na votao de ontem, o lder do governo no Senado empenhou-se bravamente. Chegou-se a ventilar a idia de que senadores seriam investigados pela Receita Federal, por terem retirado as assinaturas de apoio s emendas, o que foi desmentido pelo presidente Fernando Henrique. O governo desmentiu que haveria prejuzos para estados e municpios com a arrecadao do fundo, mas o relator, Jarbas Barbalho , confirmou e acrescentou que assumia o risco poltico da sua deciso. " po96fe14-a,"BRASLIA - Pressionados pelos parlamentares, os lderes dos partidos governistas recuaram e desistiram de extinguir o Instituto de Previdncia dos Congressistas (IPC) - uma das principais reivindicaes das centrais sindicais. O futuro do Instituto ser decidido em lei complementar, a ser elaborada no prazo de um ano aps a promulgao da emenda da reforma da Previdncia. Ontem, 447 deputados compareceram ao plenrio da Cmara para ouvir a leitura do novo relatrio sobre a emenda da Previdncia do deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM). Apesar de perder a batalha do IPC, a Central nica dos Trabalhadores (CUT) conseguiu garantir uma nova rodada de negociaes sobre a reforma, desta vez no plenrio da Cmara. Foi uma grande conquista, os deputados iro ouvir a opinio da sociedade civil, inclusive sobre o IPC, comemorou o presidente da CUT, Vicentinho, aps reunio com o presidente da Cmara, Lus Eduardo Magalhes (PFL-BA). No encontro ficou estabelecido que a votao da emenda da Previdncia ser no dia 6 de maro. As presses contra o fim do IPC comearam ontem cedo, logo depois que os deputados tomaram conhecimento da extino do Instituto. Houve um movimento de parlamentares muito grande, que votariam contra a emenda se acabassem com o IPC, contou o relator da emenda, deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM). O problema poltico e de custo, reconheceu o lder do governo, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP). A extino do IPC no vai ser aprovada nunca pelo plenrio da Cmara, afirmou o presidente do Instituto, deputado Herclito Fortes (PFL-PI). Apelo - Pelos clculos do governo, o Tesouro ter que desembolsar R$ 97 milhes para pagar indenizaes a 2.017 parlamentares e funcionrios que contribuem para o IPC, caso decidam acabar com o Instituto. Alm da CUT, a Fora Sindical tambm levantou a bandeira do fim do IPC. O presidente da Fora, Luiz Antonio de Medeiros, desembarcou ontem em Braslia lanando mo de todos os artficios emocionais para convencer o relator a acabar com o IPC. Fao um apelo ao caboclo amazonense para que termine com o Instituto agora, disse Medeiros, que assim como Euler Ribeiro tambm do Amazonas. O esforo de Medeiros foi em vo. Depois de uma reunio no gabinete do lder do PMDB, Michel Temer (SP), o relator j saiu com a proposta de protelar o que seria feito com o IPC. Temer era o maior defensor de que o destino do Instituto fosse definido por lei complementar. Estrategicamente acredito que essa sada a mais razavel, disse Temer. O relator acusou todos os partidos, inclusive o PT, de defender a manuteno do IPC. A maioria dos petistas industririo; eles alegam que no tm como voltar ao trabalho depois do fim do mandato, afirmou Euler. Novidades - Hoje pela manh, os lderes dos partidos governistas e de oposio se renem novamente com Vicentinho. Vamos analisar o relatrio e ver se todos os pontos de entendimento foram includos. Existem pontos, como o caso da aposentadoria para o servidor pblico, que no concordamos e vamos tentar que os partidos de oposio derrubem isso no voto, disse Vicentinho. O novo relatrio apresentado ontem pelo deputado Euler Ribeiro no trouxe muitas novidades. O relator retirou de seu substitutivo o dispositivo que permitia a criao de um imposto sobre movimentaes financeiras e a centralizao dos recursos previdencirios no INSS. Euler Ribeiro tambm modificou a redao do artigo que permitia que os servidores pblicos de carreira - como juzes e professores universitrios - pudessem se aposentar com o salrio integral . Ao sair de seu gabinete no ministrio da Previdncia para acompanhar no Congresso a leitura do novo parecer reforma da Previdncia, o ministro Reinhold Stephanes negou qualquer possibilidade de modificao na proposta em futuras negociaes com sindicalistas. Todos os entendimentos que tinham que ser feitos j foram feitos. No h nenhuma matria nova, afirmou Stephanes.","Sob presso dos parlamentares, os lderes dos partidos governistas desistiram da extino do IPC ( Instituto de Previdncia dos Congressistas) -defendida como prioridade pelas centrais sindicais. Se no conseguiu a extino do IPC , a CUT garantiu uma nova rodada de negociaes sobre a reforma da Previdncia , no plenrio da Cmara, onde a opinio da sociedade civil, segundo Vicentinho , presidente da central sindical, poderia ser ouvida pelos deputados. O relator da emenda da Previdncia, deputado Euler Ribeiro , alegou que vrios deputados votariam contra ela, se fosse extinto o IPC. Houve alegao dos altos custos com o pagamento de indenizaes. Fazendo coro com a CUT, a Fora Sindical tambm defendeu o fim do Instituto. Medeiros, presidente da entidade, foi at dramtico no seu apelo ao relator Euler . Michel Temer quer que o assunto seja definido em lei complementar. Num novo encontro de Vicentinho com os lderes dos partidos governistas e de oposio, foi analisado se todos os pontos do entendimento foram includos. O lder sindical, que no concorda com o tipo de aposentadoria do servidor pblico, pretende que os partidos oposicionistas a derrubem no voto. A nova redao do relatrio sofreu pouca modificao: retirou-se o dispositivo que criava um imposto sobre movimentaes financeiras e modificou-se o artigo que permitia aposentadoria integral de juzes e professores universitrios. " mu94ab17-18,"Poltica de Clinton desperta ira da sia Asiticos reagem ao protecionismo dos EUA, que desprezam regio econmica mais importante do mundo A reao aos EUA poderia se sintetizarcomo o sentimento de'sia para asiticos' 'Direitos humanos'so cortina de fumaapara esconder lobbieprotecionista dos EUA Ser que o presidentenorte-americano querrealmente brigar com os pases asiticos? ALVIN e HEIDI TOFFLER Quando se toma o pulso da sia hoje, de Nova Dli a Tquio, percebe-se uma mar crescente de ira, desapontamento e hostilidade em relao a uma administrao norte-americana que, aos olhos asiticos, est desajeitadamente engajada em destruir laos americano-asiticos que levaram meio sculo para serem tecidos. Ser que o presidente dos EUA, Bill Clinton, realmente quer brigar com a sia inteira? Se a resposta for no, ele far bem em desviar a ateno das preocupaes e escndalos internos e prestar ateno ao que seus diplomatas e negociadores fazem na maior regio econmica do mundo e a que est crescendo mais depressa. O futuro de toda a economia mundial vai depender de a regio da sia-Pacfico se transformar numa imensa rea de livre comrcio, englobando tanto os americanos e os asiticos ou de rachar, dividindo-se em blocos protecionistas em guerra um com o outro. Longe de estar criando um mercado aberto, pacfico e estvel em toda a regio, Washington est gerando uma reao negativa entre os asiticos, que se poderia sintetizar como um sentimento de sia para os asiticos. Isso poderia vir a dividir o Pacfico em duas partes, erguer muros protecionistas e transformar o Pacfico num mar de violncia outra vez. O presidente Clinton envia Mickey Kantor, seu principal guerreiro comercial, para falar grosso em Tquio e o secretrio de Estado Warren Christopher para esbravejar em Pequim. Funcionrios menos importantes se espalham por outras partes da regio, carregando consigo avisos e ameaas. Embora os EUA tenham queixas comerciais legtimas a fazer junto a alguns pases asiticos, e alguns destes evidentemente no satisfaam os padres americanos de democracia, direitos humanos ou poluio ambiental, nada disso ir melhorar com a pura e simples expresso de ofensivas crticas sia. E no faz sentido antagonizar todos ao mesmo tempo. Em lugar de, com inteligncia, fazer um adversrio voltar-se contra o outro, a inexperiente equipe de Clinton comeou ingenuamente a atacar as trs maiores economias asiticas Japo, China e ndia ao mesmo tempo. Pior ainda, ela est centrando sua ateno em problemas pequenos e ignorando as grandes oportunidades que a sia apresenta. Um exemplo disso a presso norte-americana para ingressar no mercado japons da construo. At pouco tempo atrs as gigantescas construtoras japonesas mantinham um relacionamento amistoso e corrupto com o governista Partido Liberal Democrtico, para o qual canalizavam enormes contribuies de campanha em troca de contratos uma prtica que no exatamente desconhecida nos EUA. O que o negociador comercial Kantor quer, entre outras coisas, que as empresas americanas consigam melhores oportunidades na construo de aeroportos e outros projetos no Japo. No h nada de errado nisso. Mas enquanto essa disputa sobre alguns insignificantes bilhes em negcios se desenrola em Tquio e Washington, vrias economias asiticas em rpido crescimento imploram por mais infra-estrutura. Desde o delta do rio Mekong, no Vietn, at a regio do rio Tumen, no norte da Coria, passando pela provncia chinesa de Yunnan, projetos enormes devero ser encomendados no futuro prximo. A Tailndia enfrenta escassez de gua. A China no consegue transportar seu carvo, do norte para o sul de seu territrio, em seu sistema ferrovirio obsoleto. A ndia quer eletricidade. O Frum Econmico siaPacfico estima que a sia representa um mercado de US$ 1.000.000.000.000 (isto um trilho, no um bilho!) em obras infra-estruturais. Um instituto de pesquisas de Cingapura acredita que, nos prximos 15 anos, podem ser necessrias obras no valor de at US$ 3 trilhes. Se joint-ventures nipo-americanas abocanhassem mesmo uma minscula parte desse imenso mercado, poderiam aliviar radicalmente o dficit norte-americano. Imagine, por exemplo, uma coligao de foras entre a GE e a Kajima ou a Marubeni e a Bechtel. Parcerias desse tipo j foram criadas entre empresas arquitetnicas norte-americanas e japonesas, como a HOK Sports Facilities Group, de Kansas City, e a Nikken Sekkei Ltd., embora at agora s estejam operando no Japo. Talvez j existam algumas no campo da construo. Mas se Kantor e companhia parassem de reagir impensadamente a alguns poucos lobbies de interesses especiais em Washington, como plantadores de arroz, firmas txteis e fabricantes de produtos de madeira, eles poderiam conseguir esboar solues estratgicas que reduzam, em lugar de ampliar, as brechas econmicas e polticas na regio. Querem reduzir o dficit comercial? Mudem a lei que restringe a venda de petrleo do Alasca sia proibio que no foi escrita para defender os interesses da segurana nacional norte-americana, como foi divulgado, mas para proteger um pequeno grupo de transportadoras martimas costeiras nos EUA. O ento primeiro-ministro japons Hosokawa divulgou outra proposta contendo modestas concesses aos EUA. Kantor a rejeitou imediata e publicamente. Isso se segue insistncia de Warren Christopher, ao visitar Pequim, em dar outro ultimato ameaando pr fim ao tratamento de nao mais favorecida, dado China, a no ser que a China satisfaa uma lista de exigncias na rea dos direitos humanos. Um covarde quando se tratou da Bsnia e do Haiti (populaes somadas de menos de 11 milhes), Christopher repentinamente se transforma em Rambo quando vai China (populao mais de 1,1 bilho). O resultado: a China responde tambm falando grosso, prende mais alguns dissidentes s para deixar claro quem manda ali, e Christopher se prepara para recuar. Enquanto isso, um arrepio percorre o resto da sia. Os asiticos vem a conversa sobre direitos humanos como o que realmente , em parte: uma cortina de fumaa para esconder medidas que beneficiam estreitos lobbies protecionistas nos EUA. (Ouve-se muito pouco sobre a necessidade de direitos humanos em Burundi, por exemplo, onde os EUA no tm interesses comerciais significativos.) A equipe de Clinton tambm parece desconhecer os efeitos colaterais de suas aes. Assim, manchetes na imprensa australiana descrevem o aviso lanado por Christopher China como ameaa economia australiana. Amplia-se nosso racha com Washington, proclama uma manchete de primeira pgina em Sydney. O artigo explica como aes norte-americanas prejudicariam o pas situado mais ao sul. E a Austrlia que no exatamente um tpico Estado autoritrio tambm no concorda que questes relativas aos direitos humanos devam ser atreladas poltica comercial, como a equipe Clinton vem fazendo. Isto tudo, sem falar na ndia. Clinton levou um ano inteiro para dar-se ao trabalho de nomear um embaixador para Nova Dli mais uma ofensa gratuita dignidade asitica e depois recusou-se publicamente a enviar a pessoa por quem os indianos haviam expressado sua preferncia. Enquanto a ndia liberaliza sua economia e investidores americanos afluem ao pas que tem a segunda maior populao do mundo, o prprio Clinton e um funcionrios indicado para o Departamento de Estado enfurecem a ndia, fazendo referncias descuidadas, ou provocadoras s reivindicaes separatistas em Caxemira. Aos ouvidos indianos, os EUA pareciam estar questionando a unidade e integridade territorial da ndia. A opinio pblica indiana se enfureceu a tal ponto que, de acordo com um industrial indiano citado recentemente pelo The Asian Wall Street Journal, est chegando ao ponto que uma joint-venture na ndia que hasteasse a bandeira americana seria alvo de um atentado a bomba. Na semana passada, em Nova Dli, o primeiro-ministro malasiano, Mahatir Mohamad, arrasou as propostas americanas de estabelecer um salrio mnimo mundial, qualificando-a de tentativa protecionista de desacelerar o investimento em pases em desenvolvimento, em vez de tentativa de elevar os padres de vida dos trabalhadores. Em toda a sia, a proposta vista como parte de um pacote de critrios sociais e ambientais que os EUA querem introduzir no Acordo Geral de Tarifas e Comrcio (Gatt) como meio de elevar os custos de produo nos pases mais pobres, reduzindo sua vantagem competitiva, e no como tentativa de melhorar os padres de vida e a qualidade ecolgica. Esta lista apenas o incio de um catlogo dos erros da administrao Clinton, que suscitaram a indignao de quase todos os pases da sia ao mesmo tempo. O que exatamente est acontecendo em Washington? o que os asiticos querem saber. Quem est administrando a loja? Clinton conduziu sua campanha presidencial, queixando-se de que seu predecessor dava ateno demais poltica externa. Ao que parece, nenhum de seus assessores lhe disse que deixar de prestar ateno poltica externa poderia colocar em perigo as relaes dos EUA com metade da populao do mundo. Um bilho de pessoas na sia podem ser resgatadas da pobreza se o dinamismo econmico da regio puder ser mantido. Esse processo tambm poderia energizar a economia americana. Mas o dinamismo asitico se fundamenta numa premissa de estabilidade poltica e militar, qual os falces comerciais de Clinton no parecem conferir a devida importncia. Ameaar essa estabilidade no interesse de alguns poucos interesses especiais em Washington constitui uma irresponsabilidade. Uma administrao taticamente ingnua e estrategicamente incompetente em Washington parece estar quase decidida a romper suas alianas na zona econmica e estratgica mais populosa e mais importante do mundo: a regio da sia-Pacfico. ALVIN e HEIDI TOFFLER so co-autores de obras como Future Shock, The Third Wave, Powershift e, mais recentemente, War and Anti-War: Survival at the Dawn of the 21st Century. Eles fazem viagens frequentes sia-Pacfico, tendo visitado mais recentemente a Malsia, Hong Kong e o Japo. Traduo de Clara Allain","Poltica de Clinton desperta ira da sia Asiticos reagem ao protecionismo dos EUA, que desprezam regio econmica mais importante do mundo A reao aos EUA poderia se sintetizar como o sentimento de sia para asiticos Direitos humanos so cortina de fuma para esconder lobbie protecionista dos EUA Ser que o presidente norte-americano quer realmente brigar com os pases asiticos? ALVIN e HEIDI TOFFLER Uma avaliao da sia atual, de Nova Dli a Tquio, permite sentir a ira, desapontamento e hostilidade em relao administrao norte-americana, vista por esses povos como desarticuladora da relao americano-asitica, h meio sculo fomentada. Se no for inteno de Clinton brigar com a sia inteira, bom que deixe de lado preocupaes e escndalos internos e comece a ver o que seus diplomatas e negociadores esto fazendo na maior regio econmica do mundo. O futuro da economia mundial vai depender de a regio sia-Pacfico se transformar numa imensa rea de livre comrcio, ou rachar-se em blocos adversrios um dos outros. Longe desse imenso negcio, Washington est criando um sentimento negativo de sia para os asiticos. Basta ver que o presidente Clinton envia Mickey Kantor, representante comercial, para falar grosso em Tquio e o secretrio de Estado Warren Christopher para esbravejar em Pequim. Mesmo tendo queixas comerciais contra alguns pases asiticos e restries quanto a seus comportamentos em relao a direitos humanos ou a poluio ambiental, nada vai melhorar com a expresso de ofensas sia. Ao invs de usar a inteligncia e facilitar animosidades entre os pases da regio, a equipe de Clinton comeou a atacar as suas trs maiores economias Japo, China e ndia simultaneamente. E ainda preocupando-se com questes menores, por exemplo, concorrer com os japoneses no mercado de construo. Antes, deviam notar oportunidades muito mais rendosas voltadas a infraestrutura Entre outras, obras voltadas para suprimento de gua na Tailndia, para a melhoria de transporte ferrovirio na China e eletricidade na ndia. Abocanhar uma pequena parte desse mercado aliviaria o dficit norte-americano. As crticas americanas contra abusos relacionados aos direitos humanos so vistas pelos asiticos como cortina de fumaa para esconder medidas que favorecem lobbies protecionistas dos EUA. Parece que a equipe de Clinton desconhece efeitos secundrios decorrentes de suas atitudes ofensivas. Por exemplo: demorar um ano para nomear um embaixador para Nova Dli. Na semana passada, em Nova Dli, o primeiro-ministro malasiano, Mahatir Mohamad foi duro com a proposta americana de estabelecer um salrio mnimo mundial. Em toda a sia, a proposta vista como tentativa de elevar os custos de produo dos pases mais pobres, reduzindo sua competitividade. A impresso que os assessores de Clinton no lhe esto informando que menosprezar a poltica externa pode desligar os EUA da metade da populao do planeta. " td94ag28-01,"Entrega a domiclio chega a novos negcios As grandes cidades tm potencial para empresas do tipo 'disque' que trabalhem com produtos diferentes ROBERTA JOVCHELEVICH Free-lance para a Folha Entregar produtos a domiclio pode ser uma boa opo de negcio para quem pretende montar empresa em uma cidade como So Paulo. Cada dia mais procurados, os chamados disques ainda so pouco explorados e praticamente se limitam a produtos tradicionais, como pizza ou comida congelada. Francisco Guglielme Jr., 38, consultor e professor da Fundao Getlio Vargas, aponta a entrega de material de escritrio (fora do horrio comercial) como uma atividade de grande potencial. Orivaldo Francisco Deitos, 36, dono de uma papelaria na rua So Bento, no Centro, dos poucos que j exploram, com sucesso, o negcio. H seis meses entrega produtos em escritrios da regio. Um disque meias, destinado a socorrer mulheres em apuros com meias desfiadas, outra alternativa recomendada por consultores. Um servio de entrega de meias em locais com grande circulao de secretrias e executivas pode ser um excelente negcio, diz Ana Maria Ramos Buairide, 43, consultora do Sebrae SP (Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de So Paulo). Um servio diferenciado que obteve bastante sucesso o Disque Paella, montado h dois anos no Campo Belo. Comeou como teste. Investimos o mnimo possvel e acabou dando certo, diz Andrea Rodrigues, 28, dona. Dois anos depois, o faturamento da casa que funciona s para entregas de R$ 15 mil por ms. Comida chinesa a domiclio uma atividade que comea a crescer. A China in Box e o Lig-Lig j tm bons resultados nessa rea. Compras de supermercado, feira e fraldas tambm comearam a funcionar no sistema de disque h pouco tempo e j fazem parte da rotina do paulistano. A In Haus, por exemplo, que iniciou suas atividades em 93, entregando compras de supermercado, pensa em se expandir atravs de franquia. O investimento para abrir um disque varia de acordo com o tipo de produto, mas geralmente possvel comear pequeno. Basta ter um ponto bem localizado (prximo aos consumidores em potencial), uma linha telefnica (de preferncia com central de PABX) e um carro, moto ou bicicleta (dependendo do produto). O estoque pode ser montado de acordo com os pedidos. necessrio, no entanto, investir pesado na divulgao do servio, com anncios em jornais de bairro, faixas e panfletos. O raio de ao da empresa deve ser limitado. No existe regra fixa, mas o ideal atender os consumidores do bairro e evitar longas distncias. A Lazanharia & Cia, por exemplo, s faz entregas at 1 km. Quanto maior a distncia percorrida, maior o gasto com combustvel, o que acaba encarecendo o produto, diz Ana Maria, do Sebrae. O campo de ao deve ficar claro nos panfletos, para evitar problemas com clientes. Em caso de entrega de comida, importante usar embalagens trmicas e reforadas para garantir a qualidade do produto.","Entrega a domiclio chega a novos negcios As grandes cidades tm potencial para empresas do tipo disque que trabalhem com produtos diferentes ROBERTA JOVCHELEVICHFree-lance para a Folha A entrega de produtos a domiclio j pode ser negcio sedutor em cidades como So Paulo. Ainda est confinado a entregas tradicionais pizza e comida congelada . O consultor e professor da Fund. Getlio Vargas, Francisco Guglielme Jr. , v boas chances para quem entrega material de escritrio, fora do horrio comercial. Consultores tambm tambm sugerem a entrega de meias em locais onde h grande circulao de secretrias, s vezes em apuros com desfiamentos . Andrea Rodrigues fala do sucesso do seu Disque Paella no Campo Bello, que no exigiu grande investimento. Tambm comida chinesa a domiclio , compras de supermercado, de feira e fraldas j fazem parte da rotina do paulistano. O investimento num disque, apesar de variar de acordo com o produto, no elevado para comear. preciso ter um ponto bom (prximo do potencial fregus) , uma linha telefnica, um carro , moto ou bicicleta ( conforme o caso) e investir pesado na divulgao. O raio de ao deve ficar claro nos folhetos e , apesar das possveis variaes, no deve chegar a longas distncias , o que encarece o custo e pode prejudicar o atendimento ao fregus ." op94ab06-a,"Este suelto para avisar ao Lus Nassif e ao Clvis Rossi que o clube dos desesperados tem pelo menos trs scios. Desde 1986 nos convencemos de que era impossvel construir uma Constituio razovel a partir de um corpo eleito para fazer, simultaneamente, duas coisas: a legislao ordinria e a Constituio. Durante a campanha sofremos um grave dano, porque toda a propaganda sugeria nosso nome para constituinte. Estvamos convencidos ento e mais convencidos agora que no h como produzir uma Constituio, isto uma lei majestosa e permanente, que prescreva os direitos individuais, garanta o direito de propriedade, determine a organizao do Estado e do governo e limite a amplitude da legislao ordinria numa assemblia que imediatamente aps sua concluso vai legislar ordinariamente. O constituinte tem que ser eleito para um fim especfico. Tem que ter experincia provada e imaginao alerta para os problemas da sua regio e do pas. Tem, enfim, que ser protegido contra os mecanismos corporativistas que elegem seus representantes com o dinheiro do contribuinte para proteg-los. Vemos hoje como os monoplios politicamente construdos defendem seus privilgios. Extorquem seus altos salrios e benefcios da populao atravs do poder que lhes foi conferido, e aplicam parte infinitesimal desses recursos para convencer a populao de que patritico continuar a ser extorquida! Um superficial passeio pela Constituio de 1988 vai revelar dois aspectos interessantes: 1) ela a Constituio da vingana tudo o que existia no regime autoritrio era ruim por definio e no merecia a menor reflexo e 2) todos os privilgios privatizados (as estatais, a Zona Franca de Manaus, as vinculaes etc.) conseguidos alguns no prprio regime autoritrio foram constitucionalizados! O ttulo VI Da Tributao e do Oramento, apenas para dar um exemplo, em 24 artigos ocupando 18 pginas revela todo o rano de uma engenharia social ingnua e ineficiente! E o captulo VII Da Ordem Econmica e Financeira desperdia 22 artigos ocupando dez pginas de um irrealismo delirante! Havia ligeiras esperanas de que isso poderia ser corrigido por um dos poucos dispositivos lcidos, o artigo 3 das Disposies Transitrias, que permite que aps cinco anos a reviso da Constituio. Isso tambm foi perdido, pela confuso infinita que domina o governo Itamar Franco e pela necessidade de criar-se o Fundo Social de Emergncia. Hoje no nos resta outra alternativa seno lutar por uma Constituinte exclusiva, construda na base rigorosa de um homem um voto (com o mnimo de um para os Estados que no atinjam o quociente eleitoral) e que no tenha mais do que 100 representantes escolhidos diretamente pelo povo. Em trs ou quatro meses de trabalho intensivo essa assemblia de homens bons pode produzir uma Constituio capaz de liberar as energias nacionais e dar ao pas o que ele precisa: uma organizao poltica funcional.","Uma Constituio razovel no pode provir dos mesmos encarregados de , simultaneamente, cuidar da legislao ordinria. O constituinte tem que ser eleito para um fim especfico. Exige-se dele experincia e imaginao alerta para os problemas da sua regio , a fim de no ser cooptado pelo corporativismo que s enxerga privilgios. A Constituio de 1988 contm vrios exemplos de desvios: partiu do princpio de que tudo o que provinha do regime militar era ruim; incorporou privilgios privatizados ---alguns j na era militar---; o ttulo VI --Da Tributao e do Oramento uma demonstrao de ingenuidade e ineficincia; o captulo VII -Da Ordem Econmica e Financeira-peca pelo irrealismo. Mesmo o artigo 3 das Disposies Transitrias , que permite a reviso da Constituio aps cinco anos, foi vtima da confuso do governo Itamar Franco e da necessidade de criar o Fundo Social de Emergncia. Resultado: a soluo formar uma Constituinte exclusiva , firmada na relao um homem, um voto (garantindo o mnimo para os Estados que no atinjam o quociente eleitoral) , e que no ultrapasse 100 representantes escolhidos pelo povo. " td94fe27-09,"Pesquisa mostra perfil do empreendedor Da Reportagem Local Empreendedores so pessoas autoconfiantes, dedicadas ao trabalho, que tentam se manter atualizadas e tm a capacidade de gerar mudanas significativas a partir de novas idias. Ambiciosos e criativos, devem ter cautela diante de novas situaes, mas precisam ser capazes de assumir riscos. Para chegar a essas concluses, o Senac (Servio Nacional de Aprendizagem Comercial) se baseia em questionrio respondido por 119 participantes de seus cursos de aperfeioamento de empresrios. Desses, 70,6% mencionam a autoconfiana como uma das principais caractersticas do empreendedor. Dedicao fica em segundo na lista das qualidades do empreendedor, com 68,9% de indicaes (o questionrio permitia resposta mltipla). A seguir est a busca de conhecimento (62,2%), forma que o empreendedor tem para se manter atualizado. Em quarto lugar (52,1%) na lista das caractersticas do empreendedor est a capacidade de implantar novas idias. Improvisando, segundo 46,2% dos entrevistados, o empreendedor adapta o que tem mo para resolver problemas. Luciana Marques Pimenta, 39, gerente do Centro de Tecnologia em Gesto de Negcios do Senac, afirma que os dados extrados da pesquisa refletem a realidade das pessoas que frequentam cursos de atualizao para empresrios a base da pesquisa. Ela diz que ficou assustada com o baixo volume de respostas que apontaram ser necessrio ter viso de longo prazo (38,6%). Isso mostra que os empresrios esto mais ocupados em resolver questes do dia-a-dia, do que em investimentos futuros. Segundo Luciana, os empresrios tm procurado informaes prticas sobre modernizao. Um curso da entidade que mostrava como usar conceitos para melhorar a qualidade foi procurado por mais de 1.200 pessoas em todo o Estado de So Paulo. Esprito Luciana afirma que no existe esprito empreendedor.As pessoas podem aprender, adotando novos comportamentos, colocando uma srie de caractersticas pessoais ao seu servio. Isso fruto do aprendizado, diz. Os empreendedores so motivados pela necessidade de realizao. Em princpio vm as necessidades bsicas e fisiolgicas, que vo aumentanto de escala at chegar auto-realizao, que significa estar satisfeito com tudo e se motivar apenas por estar fazendo as coisas da forma certa. Na medida em que a satisfao vai subindo na escala, surgem novas necessidades. Para Luciana, poucos pequenos empresrios atingem picos de satisfao. A maioria ainda est suprindo as necessidades bsicas. Sonho Agnes Ezabella, 46, diretora operacional do Sebrae SP, diz que uma caracterstica do povo brasileiro cultivar o sonho de um dia vir a ser empresrio, mas so poucos os que concretizam a idia. Para ela, muito importante ter coragem e saber enfrentar riscos. O Sebrae (Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas), quando procurado para auxiliar um empreendedor, sempre tenta detectar se ele tem conhecimento do ramo em que pretende atuar. Se tiver, pode se dedicar a superar deficincias em questes que no domina. Agnes diz que a maioria das pessoas que procuram o Sebrae na hora de abrir um negcio no esto preparadas. Ser empresrio uma soma de conhecimentos. Ningum sabe como antes de experimentar. como no casamento. S se sabe como no segundo. H um curso para formao de empreendedores, com durao de quatro meses, em parceria do Sebrae com a USP (Universidade de So Paulo). Da primeira turma, que se formou em 92, 31% dos alunos haviam se tornado donos do prprio negcio um ano depois. H uma srie de estudantes universitrios que j tm um negcio e outros que planejam empreender. Segundo Agnes, essa tendncia est aumentando nos ltimos anos. Os alunos no pensam apenas em ser funcionrios de uma grande empresa, diz. Quem no frequentou um curso superior tem mais dificuldade em comear num empreendimento, que exige planejamento e conceitos de administrao de empresas. Mas, segundo a diretora do Sebrae, durante os cursos, nota-se que as pessoas tm conhecimento emprico, prtico. Elas no sabem definir os conceitos, mas entendem como eles se aplicam.","Pesquisa mostra perfil do empreendedor Da Reportagem Local Os empreendedores se caracterizam por serem autoconfiantes, dedicados ao trabalho , voltados atualizao e capazes de gerar mudanas significativas. Devem conjugar cautela com audcia. Assim conclui o Senac a partir de um questionrio aplicado a 119 participantes de seus cursos de aperfeioamento. 70,6% deles mencionam a autoconfiana como uma das principais caractersticas dos empreendedores; 68,9% ( o questionrio permitia mais de uma resposta) consideram a dedicao ; 62,2% , a busca de conhecimento; 52,1% , a capacidade de implementar novas idias. Luciana Marques Pimenta, gerente do Centro de Tecnologia em Gesto de Negcios do Senac , ficou assustada com a baixa indicao da viso a longo prazo(38,6%) como uma das caractersticas. Ela afirma que o esprito empreendedor no existe; aprende-se , com a necessidade de realizao. Agnes Ezabella, diretora operacional do Sebrae SP, diz que o brasileiro sempre sonha em ser empresrio, mas poucos concretizam a idia. Coragem e enfrentamento de riscos, para ela, so muito importantes. O Sebrae , quando solicitado para auxiliar um empreendedor, procura investigar seus conhecimentos sobre o ramo pretendido. Agnes afirma que a maioria dos pretendentes a um negcio no est preparada. que ningum est , antes de experimentar. Da primeira turma de um curso para empreendedores , em parceria Sebrae-USP, 31% j tinham conseguido seu prprio negcio , aps um ano. " mu94ag21-16,"Eleio ser teste para democracia mexicana CARLOS FUENTES Uma nica palavra ocupa o epicentro da eleio mexicana de 21 de agosto: credibilidade. H 66 anos o Partido Revolucionrio Institucional, com suas sucessivas siglas PNR, PRM e PRI, tem sido a igreja poltica da Revoluo Mexicana, e as revolues, como bem sabemos, geram sua prpria legalidade. O partido no perdeu uma nica eleio presidencial e, at muito pouco tempo atrs, nenhuma eleio para governo de Estado. Controla as duas Cmaras e, sobretudo, um partido controlado, em sua cpula, pela autoridade presidencial, e em sua base muito obscura pelos caciques, pelas chefaturas policiais e pelos interesses concretos dos exploradores das regies, dos municpios e das comarcas mais distantes do pas. A comparao entre a longa permanncia do PRI no poder e os casos dos social-democratas suecos ou dos liberais japoneses no aceitvel. Esses partidos jamais so acusados de se manterem no poder mediante fraude. O sistema mexicano tem se assemelhado mais a outros sistemas de partidos de Estado: a Unio Sovitica ou a Espanha franquista. Em Moscou, a desintegrao do partido coincidiu com a desintegrao de um imprio. Mas em Madri a transio democracia foi possvel graas vontade e inteligncia dos atores polticos, com o rei Juan Carlos atuando como fiel da balana. Em 1975, entretanto, a situao espanhola no era muito diferente da situao mexicana em 1994. Trata-se de uma grande divergncia entre as realidades econmicas, sociais e culturais e as prticas polticas. Estas, na Espanha de Franco ou no Mxico do PRI, j no so representativas daquelas. E isto acontece no porque o Mxico seja plenamente moderno, mas porque a nao e a cultura so to variadas, to plurais, to antigas e to novas em sua economia, sua cultura, sua relao social, que o PRI, se alguma vez foi criado para impor ordem e coeso anarquia militar ps-revolucionria, j no pode justificar-se impondo unidade monoltica ao pas criado, em grande medida, pelas instituies revolucionrias. A cultura mexicana carece de correspondncia poltica. Esta s lhe pode ser proporcionada pela democracia ao mesmo tempo pluralista e integradora. Hoje ns mexicanos sabemos que a nao mais do que o Estado: a cultura. Sabemos que o Estado mais do que o partido: o projeto do bem comum. E sabemos que o partido menos que tudo: , ou deve ser -como seu nome indica- uma parte. E este o propsito central da eleio mexicana: separar a nao e o Estado do partido, para que floream a identidade da nao e sua cultura. A justificativa do sistema presidencial PRI-governo tem sido: a democracia lenta, o autoritarismo rpido. Mas bom insistir que o Mxico, assim como outro pas de tradio autoritria -a Espanha-, tem sua prpria vocao democrtica. Ela provm de tradies comunitrias indgenas, de leis humanitrias da Coroa espanhola. Provm, sobretudo, das lutas sociais constantes do povo mexicano: pela terra, por trabalho, pela justia. Na eleio de 21 de agosto o Mxico conta com o melhor sistema eleitoral de sua histria. preciso dar crdito independncia das autoridades eleitorais, respeitabilidade e credibilidade dos conselhos de cidados, transparncia fsica das urnas, ao prprio fato de se poder exercer o voto secreto, atrs de cortinas. Embora no tenham se concretizado as cabines para assegurar melhor vigilncia, o voto est encorajado graas acessibilidade dos locais de votao. E onde estes so distantes, esperemos que funcione o sistema previsto para assegurar a presena de observadores e representantes da oposio. A concordncia entre as listas e as credenciais eleitorais satisfaz a alguns, mas no a outros. A esta altura j no possvel passar o pacote eleitoral em julgamento: preciso coloc-lo prova ou retirar-se da disputa. Um eleitorado alerta deve registrar irregularidades que porventura venham a ocorrer no prprio dia da eleio. E a partir da prova eleitoral, o pacote poder ser revisto. Os eleitores querem uma contagem rpida dos votos, o anncio dos resultados no prprio dia da eleio e um pronunciamento claro do IFE (Instituto Federal Eleitoral) sobre a confiabilidade das eleies, antes e depois de sua realizao. Outras vitrias no foram concretizadas. A desigualdade vigorou nos meios de comunicao eletrnicos: seis a um a favor do PRI. Os limites impostos aos gastos eleitorais no funcionaram de forma equitativa: o PRI sozinho gastou mais que todos os outros partidos juntos. Houve presso do empresariado. Houve presso dos governadores. Houve presso dos pequenos exploradores e caciques. Apesar disso, as manifestaes favorveis oposio so as maiores de nossa histria poltica. To grandes que tornam inacreditveis as sondagens que atribuem ao PRI at 46% das intenes de voto, contra 26% do PAN e apenas 8% para o PRD. fato que nos falta cultura eleitoral, que as pessoas so cautelosas, que ningum anuncia sua verdadeira inteno, e que a soma das intenes permanece oculta para as sondagens. Existe, porm, algo mais. As manifestaes da oposio tm fundamento. As do PRI no podem t-lo: esse partido no possui vocao de luta, e sim de acomodao e traslado; no explora a f, e sim o meio. Cedo ou tarde, o acmulo de fraudes, intransigncias e impunidades que marcaram os 66 anos do partido oficial no poder lhe sero cobrados. O PRI visto como fraudulento, salvo prova em contrrio. Hoje podemos ver que o PRI tem sido e uma tragdia para a democracia no Mxico e uma tragdia para si mesmo. Porque trgico que um partido possa vencer legitimamente uma eleio e que, no obstante, ningum esteja disposto a acreditar nisso. Ser que o PRI s pode demonstrar que democrtico, perdendo uma eleio? Basta fazer-se essa pergunta para admitir que o anti-democrtico negar a priori que o PRI possa vencer uma eleio limpa. Mas o pas est to ferido, to dolorido, to desconfiado, que possivelmente apenas a derrota do PRI e a alternncia no poder possam satisfaz-lo. Com todos os riscos que acarreta, me parece mais perigosa, daqui at o ano 2000, a perpetuao do PRI do que a oposio no poder. Crdenas ou Fernandez de Cevallos talvez possam formar administraes mais amplas e representativas do que as do PRI atual. E os empresrios e funcionrios, superado o pnico inicial, se acomodariam s vicissitudes da vida: sempre se pode negociar com o poder. Um olhar bem-intencionado sobre o pas indicaria, em lugar disso, que desta vez pelo menos possvel que a realidade coincida com o ideal. Dir-se-ia que as manifestaes pblicas, a opinio e at mesmo a inteno oculta daro a cada partido porcentagens semelhantes, entre 35 e 40%. Um resultado apertado porm digno de crdito poderia contentar a todos e encorajar todos a prosseguirem na tarefa de construir uma democracia mexicana. Nestas circunstncias, o inacreditvel no seria a eleio. O inacreditvel seria a violncia ps-eleitoral. Na medida em que o pluralismo se instalasse nas cmaras, nos governos estaduais, nos legislativos locais e nos municpios, o caminho democracia e paz seria ampliado. O que precisa ficar claro que, vena quem vencer PRI, PAN ou PRD, os avanos democrticos no Mxico no so concesses gratuitas. Foram conquistados, em tempo histrico, pelas lutas sociais do povo mexicano e tambm pela vontade democrtica que o PAN vem demonstrando h meio sculo, e pelos mortos que a militncia do PRD registrou neste sexnio. Seja qual for o resultado, no resta ao Mxico outro caminho seno fazer valer seus direitos pacificamente e prosseguir sua luta pela democracia, vena quem vencer. Pois nem Zedillo, nem Cuauhtmoc nem Diego passam de episdios de um acontecimento eleitoral. A democracia um processo que inclui esse acontecimento, mas que depende, para criar uma cultura, de muitas outras coisas: federalismo, separao de poderes, limites ao presidencialismo, independncia e responsabilidade da importao de justia, liberdade municipal etc. Ponhamos prova o que conquistamos. E no dia seguinte eleio, julguemo-la com mentes atentas. preciso denunciar as fraudes; preciso dar prosseguimento s metas. A democracia ser colocada prova no dia 21 de agosto, mas no comear nem terminar no dia 21 de agosto. J se obteve muito. preciso obter mais. preciso esgotar as vias legais e os procedimentos pacficos, e quando estes se esgotarem, preciso redobrar a imaginao e o esforo para abrir novos caminhos. No nos deixemos derrotar pela raiva, pela ignorncia, pelo rancor. Esta seria a verdadeira vitria do PRI dinossurico. O destino do partido oficial deixar de s-lo e converter-se em partido simplesmente, de centro, persuasivo, democrtico, dialogador. Se isso no acontecer, cavar sua prpria sepultura. Porque adiante dos partidos, mais alm das eleies, o que est se movendo no Mxico a sociedade civil, seus diversos estratos, sua problemtica cultural e econmica, que s vezes coincide tematicamente apesar das diferenas de classe, s vezes concentrada nas afrontas sofridas pela classe despossuda e ultrajada. A sociedade mexicana tomou a dianteira dos partidos e do governo. O mnimo que estes podem fazer respeitar a vontade da sociedade quando, no domingo, ela se manifestar nas urnas. CARLOS FUENTES escritor, autor de Terra Nostra e escreveu para o World Media Traduo de Clara Allain","Eleio ser teste para democracia mexicana CARLOS FUENTES Uma nica palavra ocupa o epicentro da eleio mexicana de 21 de agosto: credibilidade. O Partido Revolucionrio Institucionalnas suas variadas siglas PNR, PRM e PRI--- monopoliza h 66 anos a poltica no Mxico, no tendo perdido nenhuma eleio presidencial e , at pouco tempo, nenhuma para governo de Estado. Controla as duas cmaras e controlado pela autoridade presidencial e, em sua base obscura, pelos caciques, chefaturas policiais e pelos interesses dos exploradores diversos. Se alguma vez justificou sua criao para impor ordem e coeso anarquia militar ps-revolucionria, j no faz sentido a imposio de unidade monoltica ao pas. Falta uma correspondncia poltica cultura mexicana, que s a democracia pluralista e integradora pode oferecer. este o propsito central da eleio atual: separar a nao e o Estado do partido, a fim de que a nao e sua cultura desabrochem . Mas convm insistir que o Mxico tem sua vocao democrtica , provinda de tradies comunitrias indgenas , de leis humanitrias da Coroa espanhola e , principalmente, das lutas sociais do povo pela terra, pelo trabalho e justia. Nesta eleio de 21 de agosto, o pas conta com o melhor sistema eleitoral de sua histria. preciso dar crdito iseno das autoridades eleitorais, respeitabilidade e credibilidade dos conselhos de cidados, ao prprio fato de se poder votar secretamente. H tambm um eleitorado alerta para qualquer eventual irregularidade. As desvantagens ocorreram na divulgao tendenciosa dos meios de comunicao: seis a um a favor do PRI. Tambm o partido gastou mais do que todos os outros juntos. Apesar disso, as manifestaes pr oposio foram as maiores da nossa histria. O PRI , salvo provas em contrrio, um partido fraudulento. Cedo ou tarde, sero cobrados os logros , intransigncias e impunidades cometidos nesses 66 anos. Hoje o PRI visto como uma tragdia constante para a democracia mexicana. O povo est to ferido e desconfiado , que s a derrota do partido o aliviar. No entanto, o importante que, vena este ou aquele partido , o progresso democrtico no caiu do cu; sedimentou-se pelas lutas sociais do povo mexicano , pela vontade democrtica do PAN nestes longos anos e pela morte dos militantes do PRD. necessrio pr prova o que conquistamos. Aps as eleies, preciso denunciar as fraudes, dar prosseguimento s metas e conscientizar-se de que estas eleies colocam prova a democracia , mas s representam uma partida de uma longa caminhada." di94jl31-16,"A novela do Plano Real ainda continua Os ingnuos e bem-intencionados que me perdoem, mas em vez de torcer devemos pensar a srio na estabilizao possvel MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha O Plano Real, ex-Plano FHC (fase 3), est vivendo uma etapa novelesca em que a propaganda oficial e o desejo do povo de ganhar mais uma Copa do Mundo embrulhou as expectativas. A poltica econmica tentando transformar ossos em ouro, como na recm-terminada novela das oito da TV Globo, proclama que temos uma moeda forte! Mas a realidade muito diferente do suposto imaginrio popular televisivo ou fantasias governamentais. A inflao vai ficar baixa em agosto e setembro, mas os preos foram para o espao e os salrios de mais da metade da populao esto no subsolo do Terceiro Mundo. O poder de compra das famlias que ganham de um a oito salrios mnimos caiu 12,7% (em URV-real) desde maro (dados do IBGE); a cesta bsica est em mais de US$ 100, para um salrio mnimo de menos de 70. Assim, temos uma moeda forte por decreto: a paridade dlar-real foi fixada arbitrariamente, no obedece a qualquer conceito de paridade real de poder de compra. Por isso, as comparaes internacionais entre preos e salrios em dlar so to absurdas: preos de Nova York e salrios mais baixos que no Paraguai. A propaganda sobre moeda forte (O real vale mais do que o dlar!) , portanto, grotesca. Lembra-me Salazar com o escudo forte e a arrogncia de Reagan entre 81 e 85, na sua diplomacia do dlar forte e juros altos. Mas, pelo menos, Salazar tinha uma justificativa: o pas estava comercialmente fora do mundo e podia exportar em massa portugueses para as colnias ou ex-colnias. Quanto a Reagan, podia obrigar o resto do mundo a financiar os dficits americanos. Mas o dlar forte s aguentou cinco anos. Como o Brasil no est em nenhuma das duas situaes, fico matutando o que nos aguardar, passado o entusiasmo (?) eleitoral, com esta moeda forte. O desejvel uma moeda estvel (desindexada) e no uma moeda forte. Esta ltima, por definio, privilgio dos pases do Primeiro Mundo que dominam o sistema financeiro mundial. Para manter esta caricatura de moeda forte, teremos de dolarizar toda a economia, abrir mo de ter moeda, como a Argentina. S que no d sequer para usar o slogan da vodca Orllof e dizer eu sou voc amanh. A Argentina levou 20 anos para desindustrializar-se e tinha padres de vida (de salrio e educao) muito superiores aos do Brasil. Assim mesmo, no est aguentando. Vejamos agora a coerncia interna da poltica macroeconmica. A poltica monetria anunciada fixa um limite de expanso dos meios de pagamento arbitrrio, j que no se sabe qual ser a demanda de moeda nova, nem o volume de expanso da base monetria provocado pela entrada de capitais, a variao das reservas bancrias e a flutuao dos juros. Isto , a ncora monetria est operando no escuro e provocando uma grande instabilidade nas previses de juros, liquidez e na estabilidade monetria. Com juros nominais altos, mantida a moeda financeira indexada, estoques reduzidos e sem horizonte confivel de estabilidade poltico-econmica, o mais provvel que os empresrios reajam poltica monetria instvel diminuindo a produo, reduzindo o emprego e subindo as margens de lucro. Seguir-se-, provavelmente, uma recesso provocada pela contrao da produo, respondendo queda no consumo e alimentada pelos baixos nveis do investimento pblico e privado. Com os efeitos fiscais provocados pela dvida interna, pela queda no consumo e, agora, com a sada indignada e correta de Osiris Lopes, a receita esperada pela Unio pode cair em relao s previses da Receita. Mas a execuo oramentria austera tentar garantir, custa dos gastos sociais, o equilbrio oramentrio (?) de no se sabe bem que Oramento. Os pesos pesados da economia apoiam o candidato do governo s prximas eleies, mas continuam defendendo os seus interesses pouco legais, como denunciou Osiris, cujas declaraes, salvo sobre os jogadores da seleo, foram pouco repercutidas na mdia. E o que dizer da ncora cambial? A equipe econmica reconheceu que as divisas com a entrada do smart money no so de confiana nem permitem a dolarizao total da economia agora. Esperando a recesso, contentaram-se (temporariamente?) com a fixao arbitrria da paridade entre o real e o dlar e permitiram a flutuao livre (?) da taxa de compra de divisas em mercado. Esta precria e original ncora cambial s com uma banda dever durar o que for possvel e ser supostamente coadjuvada, a curto prazo, por uma ncora fiscal, isto , um novo arrocho no gasto pblico essencial. Sem perspectiva de crescimento sustentado, sem polticas de preos e salrios pactadas e com a instabilidade fiscal, monetria e cambial, as expectativas reais dos agentes econmicos so de que tudo ser feito para sustentar a iluso de estabilidade e esconder as tendncias recessivas em agosto e setembro. Depois das eleies haver uma fase quatro, ou ento ao vencedor as batatas. O governo faz propaganda do real e acusa a oposio de torcer contra o plano. Ora, um plano no jogo da seleo para que todos possamos torcer in pectore. Suas vtimas, em especial parte da classe mdia e do povo, podem at torcer, imaginando a vitria sobre a inflao. Mas uma velha economista como eu, escaldada de ver tantas boas intenes irem para o inferno, no tem o direito de torcer. A crtica dos economistas da oposio no uma estratgia eleitoral, pois h quem ache (corretamente, do ponto de vista eleitoreiro) que no se deve criticar um plano que d a iluso da estabilidade desejada pelo povo. Como no somos economistas populistas, que manipulam ou se servem das iluses do povo, temos de dizer a verdade, doa a quem doer. Esta a nossa modesta contribuio verdadeira estabilidade que desejamos mais do que os economistas da situao. Os economistas neoliberais ou libero-sociais sustentam que, garantida por trs ou quatro meses a estabilidade de preos, os empresrios voltaro a investir e a economia de mercado encontrar o seu leito natural. A este respeito convm respeitar tanto os fundamentos da macroeconomia quanto as evidncias das dezenas de planos de estabilizao implementados urbi et orbi sob inspirao do Consenso de Washington, alm das declaraes abertas ou veladas dos prprios empresrios brasileiros. Afirmo que o plano, alm de ser contra os interesses reais do povo, no se sustenta macroeconomicamente pelas seguintes razes: 1) Aumento do conflito distributivo (antes a razo central dos modelos tericos dos atuais economistas no governo, ex-neo-estruturalistas, que pregavam com afinco a neutralidade do plano). 2) Desequilbrio fiscal potencial crescente, com piora na alocao de recursos pblicos, no permitindo sequer o uso do Fundo Social de Emergncia como poltica compensatria (recomendado pelo Consenso de Washington). 3) Poltica cambial inconsistente com a poltica monetria, se se pretende manter o supervit comercial e as reservas internacionais por mais de seis meses. Resultado de uma dolarizao a meias, os economistas do governo ficam esperando a fase quatro, aps novembro, talvez sonhando com a dolarizao completa. 4) Uma estabilidade espria no leva retomada do crescimento e do emprego. Ao contrrio, os componentes ativos da demanda efetiva esto contidos, em particular o investimento pblico e privado, e o consumo dos trabalhadores est reduzido entre 15% e 20%. Estes s mudaro se houver uma poltica deliberada de investimento autnomo do governo e induzido para boa parte do setor privado, mediante uma poltica de financiamento adequada produo, s exportaes e ao abastecimento da cesta bsica. Recursos existem, simplesmente esto sendo esterilizados para tentar sustentar uma poltica macroeconmica insustentvel. Concluo os meus argumentos dizendo que esta novela do Plano Real est levando longe demais os poderes de sua alquimia. Esta, embora possa ser parada entre 3 de outubro e 15 de novembro, ainda levar mais de um ano para que seus efeitos malficos mais imediatos sejam corrigidos. Os ingnuos e bem-intencionados que me perdoem, mas ser melhor que, em vez de torcer, pensemos a srio na estabilizao possvel, no emprego e na regenerao deste pas, que vai precisar menos de sonho, iluses e campeonatos e mais de coragem, verdade e pacincia para negociar caminhos possveis para todos. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).","A novela do Plano Real ainda continua Os ingnuos e bem-intencionados que me perdoem, mas em vez de torcer devemos pensar a srio na estabilizao possvel. MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha O Plano Real vive uma etapa em que a propaganda oficial e o desejo fantasioso do povo misturou o meio de campo. A equipe econmica est sempre proclamando que temos uma moeda forte, mas no verdade. A inflao vai estar baixa em agosto e setembro, mas os preos subiram e os salrios perderam o poder aquisitivo. Portanto, a moeda forte uma utopia arranjada arbitrariamente. A propaganda sobre a paridade dlar-real grotesca. Fico matutando o que nos aguardar aps a euforia eleitoral. O desejvel uma moeda estvel e no uma moeda forte, privilgio dos pases do Primeiro Mundo. Examinemos agora a coerncia da poltica macroeconmica. A poltica monetria anunciada estabelece um limite de expanso dos meios de pagamento arbitrrio, o que significa a ncora monetria operando no escuro e provocando instabilidade na previso de juros, da liquidez e na estabilidade monetria. Com juros altos, moeda indexada, estoques reduzidos e falta de estabilidade poltico-econmica , certamente os empresrios reagiriam, diminuindo a produo e , conseqentemente, o emprego e a margem de lucro. Sob os efeitos fiscais causados pela dvida externa, pela recesso de consumo , a receita da Unio provavelmente acompanhar a expectativa. E a ncora cambial? A equipe econmica admitiu que a entrada do dinheiro vivo no confivel e nem basta para a dolarizao da economia no momento. Num quadro da expectativas baixas nos vrios setores da rea econmica, os responsveis tentam passar a iluso da estabilidade e esconder as tendncias recessivas em agosto e setembro. O governo faz propaganda do seu plano e critica os opositores por torcerem contra. Mas eu, economista velha e escaldada de ver tantas boas intenes irem para o brejo, no posso torcer. No caso, a crtica no jogo eleitoral , porque um plano que inspira confiana ao povo no deve ser criticado. Os economistas neoliberais garantem que, em poucos meses, os empresrios voltaro a investir e a economia caminhar normalmente. Apresento razes para afirmar que o plano vai contra os interesses do povo: Aumento do conflito distributivo; desequilbrio fiscal potencial crescente , com piora na alocao dos recursos pblicos; poltica cambial desafinado com a poltica monetria, caso se pretenda manter o supervit comercial e as reservas internacionais por mais de seis meses; estabilidade falsa que no favorece a retomada do crescimento e do emprego---a demanda est contida , e o consumo dos trabalhadores est reduzido entre 15% e 20%. Concluo dizendo que a novela do Plano Real est sobrelevando seus poderes . Os ingnuos e os bem-intencionados devem, em vez de torcer , quebrar a cabea para descobrir com alcanar a estabilizao possvel, o nvel de emprego , em suma, a regenerao do pas. " br94ab03-22,"O filho por fora JUNIA NOGUEIRA DE S Com sua licena, leitor, vou fazer aqui uma crtica preventiva da mdia -mas que nem de longe, infelizmente, est baseada em futurologia. O motivo simples: encerrado ontem o prazo de desincompatibilizao dos candidatos com cargos pblicos, a corrida eleitoral ganha novo cenrio a partir de hoje. Os que sonham com o Planalto j ingressaram na complicada fase de negociao para a composio de chapas, e agora o jogo para valer. Coisa para profissionais. Diante desse quadro, os jornais, revistas, rdio e TV mergulham desolados na constatao de que esta vai ser a campanha mais suja a que o pas j assistiu. Promete deixar no chinelo o episdio Miriam Cordeiro (a ex-namorada de Lula que o acusou, em 89, de encoraj-la a fazer um aborto, num depoimento no programa eleitoral de Collor). De tramias financeiras a escndalos sexuais e muita ladroagem, h o temor de que dossis preparados por alguns candidatos, e devolvidos altura por outros, transformem a disputa pela Presidncia numa corrida de obstculos dentro do pntano. Qual deve ser a postura da imprensa diante disso? O que podem fazer jornais, revistas, rdio e TV diante de candidatos municiados por revelaes acachapantes sobre seus adversrios? O que se pode esperar do noticirio at que saia das urnas o novo presidente eleito pelo voto direto? Bem, a imprensa pode no fazer nada, publicar as chamadas baixarias de campanha da forma como sarem da boca de candidatos e seus assessores, e ponto final. Estar, assim, reproduzindo o comportamento que teve em 89, quando muito se falou sobre a vida ntima de Lula e Collor e nada se discutiu acerca de suas propostas de governo. Por conta da eleio, o (e)leitor soube que Lula tinha uma filha por fora do casamento -Collor idem. Soube ainda que a de Lula quase no vingara por conta de um aborto a que a me diz ter resistido, e que o de Collor vem a ser resultado de uma aventura a quem o pai muitas vezes deixou faltar a mesada. Sobre o que fazer com a sade, a educao, a dvida externa, a inflao, etc, a imprensa se esqueceu de perguntar. O que saiu publicado eram promessas -vagas- de campanha, e a maior delas feita e repetida exausto por Collor, de no tocar na poupana, foi enterrada soberbamente um dia aps sua posse. Diante de um pas e uma imprensa atnitos que descobriram, ali, que no conheciam nada do programa de governo do presidente da Repblica. Desta vez, no h desculpa. A imprensa adquiriu na marra o chamado know-how, tem experincia acumulada e, portanto, o dever de agir de outra forma. No pode censurar as baixarias de campanha, nem esse seu papel. No pode, ela sozinha, escolher o que baixaria publicvel ou impublicvel sobre cada um dos candidatos. Mas pode conter formidavelmente o mar de lama se, a cada vez que se deparar com uma dessas baixarias, interrogar o candidato que a promove acerca de seu programa de governo. Repito: programa de governo, para cada uma das reas crticas deste pas. Nada de se contentar com as promessas de campanha. Porque o pas j sabe, na prtica, qual a diferena entre um arroubo de palanque e o compromisso com mudanas de verdade. Ocorre que a cobertura da corrida pelo Planalto j est embicando da pior forma possvel, e a imprensa passou a ltima semana seduzida pelas evidncias de que o senador Fernando Henrique tem, ele tambm, um filho por fora. O que era um velho zum-zum-zum nas redaes (sim, leitor, voc foi o ltimo a saber) acabou virando pergunta numa entrevista da revista Exame, e o ento ministro deu sua resposta. Isso uma besteirada. Emendou uma insinuao de que dizem coisas sobre Qurcia, o temido autor dos piores dossis que estariam prontos para sair praa, de onde Fernando Henrique e todos os outros esperam chumbo grosso. Bastou para que reprteres e mais reprteres de todas as publicaes fossem escalados para repetir a pergunta ao candidato, at o ponto de torn-la ridcula. Porque se o candidato tem um filho por fora, a quem mais que sua mulher, a me do filho e o prpio filho isso interessa? Que trao de carter isso desnuda num pas em que muitas famlias tm l a sua histria de um filho por fora, e a maior parte deles encontra a tolerncia de quem deveria se incomodar com o fato? Se, em vez do filho por fora, a imprensa estivesse preocupada com detalhes dos programas de governo, a histria teria ficado restrita a Exame e pouco mais que isso. Teria recebido repercusso adequada sua possibilidade de interferir no desempenho de Fernando Henrique como eventual presidente da Repblica. Estaria j reduzida a uma passagem na biografia do candidato, e s. No demais lembrar que, at agora, o leitor s conhece propostas de programa do PT (o partido no tem ainda programa definitivo), publicadas na imprensa mas ainda no suficientemente discutidas. No demais dizer, ainda, que alguns dos terrveis dossis engatilhados na campanha podem at conter fatos relevantes, que merecero investigao sria e profunda por parte da imprensa -ou tero, para o (e)leitor, a pouca importncia objetiva, a explosividade fcil e o apelo sensacionalista de histrias como as que relatam um filho por fora. Est nas mos da imprensa, portanto, boa parte da responsabilidade pelo nvel da campanha que ela teme e anuncia ser a mais suja da histria do pas. Ao leitor, tambm no demais lembrar que ele tem o direito e o dever de protestar e exigir que jornais, revistas, rdio e TV divulguem mais sobre propostas de governo que orientem seu voto do que baixarias de campanha que esgotem sua pacincia. Pode ser que assim, alm de suja, esta se transforme na mais esclarecedora campanha eleitoral que o pas j teve. O leitor pode conferir os nmeros do atendimento de maro a ao lado. O ms no chegou a ter um assunto dominante entre as reclamaes. J os elogios (15, um recorde em minha gesto) aumentaram devido srie Qualidade Total, que chega hoje a seu quarto nmero. No h dvidas de que o jornal marcou um gol com essa iniciativa. O Painel do Leitor mostra a mesma reao com uma enxurrada de cartas que tambm elogiam a Folha. Depois da coluna de 20 de maro, em que a ombudsman criticou os ttulos da Folha, no param de chegar protestos contra os piores publicados no jornal. O eleito na semana que passou apareceu na edio de segunda-feira, pg. 1-10: Higiene na infncia pode fazer mal sade. Antes que o leitor pudesse imaginar que a Folha estava invertendo todos os conceitos do que seja sade, a reportagem esclarecia que crianas mantidas em ambientes muito limpos podem desenvolver, na idade adulta, uma doena especfica que teria alguma relao com os rgidos hbitos de higiene. O ttulo, como se v, enganou o leitor. Os quatro grandes jornais deram, na segunda-feira, a mesma manchete para informar como acabou o Grande Prmio do Brasil, que aconteceu domingo passado. Era Senna erra e Schumacher vence (em O Globo, a frase ficou pouco maior que isso). Com essa constatao enviesada de que o alemo s chegou em primeiro porque o brasileiro cometeu uma bobagem, a imprensa coroou o festival sennista da semana anterior, quando todas -sem exceo, todas- as coberturas apontavam a vitria de Ayrton Senna em Interlagos. A Folha chegou a escrever que o melhor piloto do mundo (Senna), na direo do melhor carro do mundo (a Williams) teria sua consagrao no autdromo. E que s Schumacher acreditava em sua possibilidade de vencer. Senna, todo mundo viu, rodou quando estava em segundo lugar e com poucas chances de recuperar o primeiro. Enterrou as previses mais do que otimistas, e deixou ver quanto viciado o noticirio esportivo. O compromisso com a preciso (e, por extenso, com o leitor) vale menos do que a torcida da imprensa nessas horas. A imprensa j se esqueceu de que os oligoplios so o vilo da URV e do plano FHC. O pas convive com o novo indexador h um ms, o ministro virou candidato e os preos chamados de abusivos continuam em vigor. O assunto saiu da pauta, ainda que esteja dentro do bolso do leitor. JUNIA NOGUEIRA DE S a ombudsman da Folha. A ombudsman tem mandato de um ano, renovvel por mais um ano. Ela no pode ser demitida durante o exerccio do cargo e tem estabilidade por um ano aps o exerccio da funo. Suas atribuies so criticar o jornal sob a perspectiva do leitor recebendo e checando as reclamaes que ele encaminha Redao e comentar, aos domingos, o noticirio dos meios de comunicao. Cartas devem ser enviadas para a al. Baro de Limeira, 425, 8 andar, So Paulo (SP), CEP 01202-001, a.c. Junia Nogueira de S/Ombudsman. Para contatos telefnicos, ligue (011) 224-3896 entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.","A responsabilidade da imprensa pela seleo do que anuncia e pela transparncia das suas manchetes comea a ser preocupao at por um dos seus representantes. O ombudsman da Folha de S.P., por exemplo, comenta o incio da campanha eleitoral presidncia da Repblica , em que disputam Lula e Fernando Henrique. Os rgos de comunicao , desolados, prevem uma repetio da disputa entre Collor e Lula na campanha anterior, durante a qual predominaram acusaes envolvendo a vida particular , numa demonstrao de hipocrisia moralista. Na poca , a imprensa enfatizou as baixarias, divulgou-as , mas no se preocupou em cobrar programas de governo que falassem do que seria da sade, educao, dvida externa, inflao , e de outras necessidades nacionais. Das vagas promessas publicadas , uma, de Collor , realada ao mximo a intangibilidade da poupana --- foi esquecida logo que ele tomou posse. Na disputa atual, a imprensa no pode alegar desculpa ; tem experincia acumulada. Se, de um lado, no lhe cabe o papel de contrapor s baixarias um discurso moralizante, de outro, tem como ameniz-las , desviando seus questionamentos para problemas realmente importantes para a realidade nacional. Apesar do know-how adquirido, um zum-zum nas redaes sobre um filho extramatrimonial de FHC acabou virando reportagem da revista Exame. Como se esse hipottico acontecimento interferisse na competncia do candidato. Enquanto se desvia para essas fofocas, as propostas de governo ficam de lado. At agora, somente foram publicadas as do PT(ainda no bem definidas) , mas no suficientemente discutidas. Certamente, a imprensa tem a ver, em grande parte, com o diz-que-diz inconseqente. E o leitor tambm , que no pode abrir mo de seu direito e dever de supervisionar o poder. A Folha de So Paulo, com a srie Qualidade Total e com O Painel do Leitor tem convocado o leitor a dar sua opinio. O que constitui um bom caminho de politizao . O prprio ombudsman do jornal tem sido impiedoso com o falseamento de interpretao oferecido por certas manchetes. Uma das ltimas Higiene na infncia pode fazer mal sade.--- no condiz com a reportagem , que informa ser o excesso de assepsia na infncia responsvel pelo desenvolvimento de uma doena especfica , na idade adulta. " op94mr27-01,"Nunca mais Trinta anos depois do movimento militar que deps o presidente Joo Goulart, no surpreende que uma pondervel maioria de brasileiros consultados pelo Datafolha em pesquisa divulgada no caderno especial que esta Folha publica hoje diga que vivia melhor durante o perodo militar do que agora. evidente que os pescadores de guas turvas, que no faltam neste momento de crise aguda em todos os terrenos, podero interpretar o resultado da pesquisa como uma espcie de convite ou incitao para que se volte ao passado, ao autoritarismo que se manteve durante 21 longos e obscuros anos. Mas a interpretao mais razovel para esse saudosismo outra e bem mais simples. Em tempos de crise, o normal que se idealize o passado. verdade que, em circunstncias normais, este no seria um passado to remoto a ponto de as pessoas se esquecerem das reais condies em que viviam. O ciclo militar se encerrou faz apenas nove anos, o que praticamente nada em termos histricos. Ocorre que a histria brasileira dos anos recentes to tumultuada, to acidentada, que parece que faz muito mais tempo. Nesse curto perodo de nove anos, o pas viveu a maior mobilizao popular de sua histria, em torno do grito de diretas j no que, de resto, era uma condenao explcita ao regime militar ento agonizante. Viveu tambm a derrota da emenda que tentava dar forma legal ao grito das diretas cantado nas ruas. Trocou a esperana no voto direto pela crena em que um presidente como Tancredo Neves, mesmo eleito indiretamente, devolveria horizontes a uma nao angustiada. Chorou, em seguida, a agonia e morte de Tancredo, levado a um hospital na vspera da posse para dele s sair para o tmulo. Viveu ainda a euforia e a frustrao do Plano Cruzado, as esperanas e decepes da Constituio-cidad, o encanto e o engodo de Fernando Collor, primeiro presidente eleito diretamente depois de 29 anos de silncio das urnas. uma histria to carregada de inusitados que, se fosse contada pela pena de um Gabriel Garca Mrquez ou qualquer outro autor do realismo mgico latino-americano, pareceria fico e no a mais pura e dura realidade. natural, portanto, que a sequncia de emoes fortes oferecida sociedade durante o curto perodo democrtico faa com que o ciclo militar parea ter sido melhor, mais tranquilo, mais prspero. Mais tranquilo, certamente foi num certo sentido. Imps-se, pela fora, a paz dos cemitrios, aboliu-se o dissenso, pela censura e pelo arbtrio. No se resolveu, evidente, um s dos inmeros problemas da sociedade, mas, ao suprimirem-se a discusso e o debate, parecia que os problemas inexistiam. Era mais fcil censurar o noticirio sobre o surto de meningite que ocorreu em So Paulo, no incio da dcada de 70, do que cuidar eficazmente da sade pblica como se o que no se pudesse noticiar de fato no existisse. Que o pas cresceu, e muito, durante o ciclo militar inegvel. Que esse crescimento beneficiou muito mais a minoria j rica, igualmente inegvel. Prova-o, de resto, o fato de que a sociedade comea a se mobilizar para tentar ajudar os 32 milhes de miserveis que so o alvo da campanha contra a fome. S a extrema m-f permitiria supor que esse lote de excludos de uma vida digna pode ser debitado exclusivamente na conta da democracia. Seja como for, crucial assinalar que no basta pregar as virtudes do regime democrtico. Mesmo que o autoritarismo tivesse sido um xito completo do ponto de vista econmico, seria inaceitvel porque a plena vigncia das liberdades pblicas uma caracterstica das sociedades modernas e civilizadas. O problema que a liberdade, por si s, no enche barriga, no diminui a excluso social, no abate a inflao, no fornece educao de boa qualidade, no d assistncia social e previdenciria a todos os que delas necessitam. A liberdade tem de ser, tambm, eficaz na resoluo dos problemas que angustiam os cidados. A democracia brasileira, di diz-lo, no conseguiu ainda mostrar que capaz de conciliar as liberdades pblicas com a soluo dos problemas bsicos da maior parte da populao. Trinta anos aps 1964, esse o grande desafio a enfrentar, para evitar que a democracia corra riscos. Se ela no conseguiu, ainda, dar conta das angstias do cotidiano, suprimi-la no seria a soluo, mas s a criao de ao menos mais um problema: a impossibilidade de expressar a angstia de cada um.","Nunca mais Aps trinta anos do regime militar, no surpreende a pesquisa do Datafolha revelando que boa parte da populao confessa ter vivido melhor naquela poca. Os saudosistas tendenciosos podem interpretar como sendo a vontade popular de voltar ao autoritarismo. A interpretao, porm, deve ser outra: que em tempos de crise costuma-se idealizar o passado. No se estranha que uma vivncia tumultuada nesse curto perodo de 9 anos de democracia pinte o perodo militar de cor de rosa. A tranqilidade do perodo s aparente. Como havia censura e represso, os descontentamentos no eram divulgados. O crescimento econmico do pas na poca, embora tenha existido, beneficiou a minoria rica. No entanto, no suficiente exaltar o perodo democrtico. Se com ele existe liberdade , mas h carncia alimentar, excluso social, inflao alta, m qualidade na educao e na sade pblica, falta democracia verdadeira. O necessrio dar eficcia democracia , no suprimi-la " op94ag09-a,"Neste frio e poludo agosto e no meio de uma frentica correria eleitoral, vale sublinhar os absurdos mais bvios desta campanha. O primeiro refere-se participao dos micropartidos nas eleies majoritrias, ridicularizando os chamados horrios gratuitos de rdio e TV. A nova lei eleitoral bem que tentou evitar isso, mas o Supremo Tribunal Federal houve por bem declar-la inconstitucional nesse aspecto. Essas candidaturas fictcias tambm dificultam a realizao de debates entre os candidatos que concorrem para valer, embaraando ainda mais o esclarecimento dos eleitores. O segundo absurdo o sistema eleitoral proporcional, que constrange os candidatos a deputados estaduais e federais a competirem com outros candidatos de seu prprio partido e a sarem catando votos em centenas de municpios. Em So Paulo, por exemplo, eles disputam os votos de 20 milhes de eleitores. Os custos financeiros de viagens e material de propaganda se multiplicam. Os eleitores, aturdidos com tantos candidatos, no conseguem fixar-se num nmero pequeno para comparao e escolha. Desanimam e inclinam-se para o voto branco ou nulo. Pior ainda, sendo obrigatrio o horrio gratuito geral tambm para os candidatos a deputado, o tempo disponvel para cada concorrente se torna nfimo e os programas infinitamente enfadonhos, como no poderia deixar de ser. Com um sistema distrital, haveria campanhas localizadas e mais baratas, melhor conhecimento dos pleiteantes pelos eleitores e horrios gratuitos nas rdios e TVs regionais, com poucos candidatos. A sim, fariam sentido. O terceiro absurdo a proibio de que membros de um partido possam falar no horrio gratuito dos candidatos de sua agremiao. Nem o presidente do partido pode! Uma coisa, correta, evitar programas custosos que vendem candidatos como sopa concentrada, sem mostrar os pleiteantes nem expor suas idias. Mas outra, bem diferente, cercear a apresentao das propostas partidrias. Um quarto absurdo, e aqui puxo brasa para minha sardinha, repartir o tempo dos candidatos ao Senado de forma igualitria e no proporcional representatividade de seus partidos e coligaes, como acontece com todos os demais candidatos. A lei, embora ambgua, por ter sido mal redigida, no obriga a esse tratamento discriminatrio, mas a Justia Eleitoral assim o interpretou. O resultado que, pela carncia de tempo, os candidatos a senador que disputam para valer ficam impossibilitados de explicar a que vm o que at parece bom para alguns. Em meio a tudo isso e tenso natural de qualquer campanha, h um fato que reconforta. Na eleio mxima, a de presidente, h uma boa polarizao que, parece, vai manter-se entre Fernando Henrique e Lula. Dois candidatos com passado limpo, compromissos democrticos slidos e elevada sensibilidade social. Isto um avano no Brasil. A diferena para a escolha entre um e outro deve ser procurada na capacidade de propor um programa concreto de governo, ao mesmo tempo ousado e realista, e de articular as alianas necessrias para garantir sua execuo. O leitor sabe minha avaliao sobre qual o candidato que pode fazer isso melhor, bem melhor.","O perodo de campanha eleitoral apresenta uma srie de defeitos. Por exemplo, permite que os micropartidos participem nas eleies majoritrias , desclassificando os horrios gratuitos, pois impossvel debater seriamente as questes importantes. Outro defeito a competio de deputados estaduais e federais com outros do mesmo partido. Obriga-os a uma caa de voto exaustiva, cara e sem proveito para o esclarecimento do leitor. O sistema distrital, com campanhas localizadas e mais baratas , com melhor identificao dos candidatos, resolveria. Outro desvio a proibio de membros do partido falar no horrio gratuito de candidatos da agremiao Pode-se acrescentar , ainda, a inconvenincia de candidatos ao Senado terem que repartir o tempo de forma igualitria e no de acordo com a representatividade de seus partidos . Foi assim que entendeu a Justia Eleitoral , e os pleiteantes com maior empenho no tm tempo para a exposio de suas idias. Em contrapartida, a disputa polarizada entre Luta e Fernando Henrique constitui uma prova de amadurecimento democrtico. " mu94ag07-b,"Foi acionada h uma semana uma bomba-relgio que, sendo de fabricao americana, o Japo provavelmente nunca importaria. O artefato est programado para explodir a 30 de setembro se persistir o impasse nas negociaes comerciais entre os dois pases. Foi esse o prazo imposto ao Japo para reduzir o supervit com os EUA. O governo americano pressiona o japons para que aumente suas importaes, principalmente de equipamentos mdicos e de telecomunicaes. As negociaes se arrastam h mais de um ano e, por enquanto, no h perspectiva de que cheguem a um acordo. A ameaa americana de impor sanes, que poderiam vir na forma de tarifas alfandegrias mais elevadas sobre alguns produtos japoneses. Nessa hiptese, estaria declarada a guerra comercial. Os EUA alegam que o Japo discrimina produtos estrangeiros. O Japo mostra nmeros: sustenta que, no caso de equipamentos mdicos, 32% das compras do governo so de produtos importados, em comparao a 3% nos EUA. A disputa entre os dois pases extrapola o interesse bilateral por provocar tenso nas negociaes internacionais que procuram criar um ambiente de livre comrcio. Se a ameaa for cumprida, ser a primeira ao do gnero desde a assinatura da Rodada Uruguai, no incio do ano, quando se decidiu, no mbito do Gatt (Acordo Geral de Comrcio e Tarifas), os rumos do comrcio mundial. Uma eventual guerra comercial tambm no seria a melhor maneira de dar boas-vindas Organizao Mundial do Comrcio, que deve substituir o Gatt em janeiro. No igualmente de bom augrio para o comrcio internacional o fato de que, no mesmo 30 de setembro, os EUA vo anunciar uma nova verso da legislao que ficou conhecida como Super 301, que permite aos americanos retaliar contra pases que discriminem suas exportaes. No papel, a Rodada Uruguai conseguiu restringir as legislaes sobre dumping, s quais se recorria sem parcimnia para dar sustentao ao protecionismo. Na prtica, o lobby de empresas americanas continua acenando com a possibilidade de sanes contra o que considera ser comrcio desleal por parte de pases exportadores. Essa atitude de praticar o que critica nos outros mina a autoridade dos negociadores dos EUA. Para o Financial Times, os EUA esto encalacrados. Em editorial, o jornal britnico argumenta que o governo japons no tem condies de aceitar as exigncias americanas e que, portanto, cabe aos EUA encontrar uma sada para evitar que o impasse persista. O problema penetra na esfera poltica porque um dos pontos da plataforma de Clinton era exatamente resolver a disputa com o Japo, o que George Bush, seu antecessor, no conseguira. O fracasso de Clinton pode se espalhar pela sia, caso cumpra a ameaa de impor sanes. Os pases da regio no aprovam os mtodos de Washington e a deteriorao das relaes comerciais com esses parceiros seria desastrosa para a balana comercial americana. Por inabilidade no manuseio, a bomba-relgio pode acabar sendo detonada nas mos do fabricante.","EUA e Japo jogam um brao-de-ferro, que vem se arrastando h um ano. Os EUA cobram do Japo que aumente suas importaes de produtos norte-americanos. O prazo imposto vence dentro de praticamente um ms. E vem com a ameaa de aumento de tarifas alfandegrias para os produtos vindos do Japo. Diante da acusao de que discrimina produtos estrangeiros, o Japo mostra que, em equipamentos mdicos, suas importaes so de 32%. As ameaas norte-americanas vm em momento inoportuno: em substituio ao Gatt , est para ser inaugurada a OMC (Organizao Mundial do Comrcio) ; uma nova legislao que permite aos EUA retaliar contra pases que no importam seus produtos no soa bem para o comrcio internacional. A repercusso j freqenta a mdia. As empresas americanas pressionam , mas , segundo o Financial Times, os japoneses no tm como aceitar as exigncias, e os EUA devem pensar em outra sada. O fracasso de Clinton nesse caso pode espalhar-se pela sia, onde vrios pases no aprovam os mtodos de Washington. " mu94fe6-13,"Rssia esconde o fantasma do fascismo Situao russa no deve fazer o Ocidente esquecer os riscos que enfrenta nos Blcs e na Europa Oriental JAMES A. BAKER 3. Depois do avano fascista e comunista verificado nas eleies russas de dezembro passado e da renncia de importantes reformistas, os especialistas j esto perguntando: Quem perdeu a Rssia? Mas essa no a pergunta certa. No a pergunta certa pela seguinte razo: os interesses norte-americanos na reforma russa so parte integrante dos interesses mais amplos dos Estados Unidos numa Europa segura, democrtica e prspera. Ao focalizar nossas atenes sobre Moscou em detrimento de nossos outros interesses, corremos o risco de deixarmos de consolidar as conquistas democrticas na Europa Central e Oriental. O infortnio que acometeu as reformas econmicas nos pases antes situados atrs da Cortina de Ferro alimentou uma alarmante ascenso do nacionalismo rancoroso -talvez at mesmo do neofascismo. O pesadelo que os Estados Unidos e seus aliados precisam evitar uma Europa fragmentada e fascista. No entanto, a maioria dos observadores s prestou ateno s ms notcias vindas de Moscou. Os dois grandes defensores das reformas, o primeiro-ministro, Iegor Gaidar, e o ministro das Finanas, Boris Fiodorov, renunciaram e o segundo dirigiu crticas mordazes a Strobe Talbott, o czar russo do Departamento de Estado que, dentro em breve, ser vice-secretrio de Estado. Ao que parece, uma casta de apparatchiks assumiu o controle do pas. Estes acontecimentos provocaram consternao nas capitais ocidentais, mas os comentrios sobre a perda da Rssia so enganosos, pelo menos por duas razes. Em primeiro lugar, no se perdeu a Rssia. Em termos microeconmicos, a situao econmica melhorou sob muitos aspectos de um ano para c. Mais de 75% das microempresas e das lojas varejistas da Rssia se encontram em mos de particulares. Mais de 25% da fora de trabalho est empregada no setor privado. Infelizmente, o crescimento do setor privado foi acompanhado por um aumento impressionante na criminalidade organizada -e violenta. A corrupo e o pagamento de propinas viraram instrumentos comerciais amplamente utilizados. Os reformistas, assim como os democratas em Washington, precisam comear a opor-se criminalidade tanto quanto seus adversrios se opem. O principal risco que se apresenta para as reformas est no front macroeconmico. Justamente agora os esforos de Fiodorov haviam comeado a render frutos. A inflao estava caindo. Na verdade, o fator principal que impedia que se colocasse a inflao sob controle total era -e ainda - o presidente do Banco Central, Viktor Geraschenko, um comunista renitente e adversrio acirrado das reformas. por isso que essas renncias so to inquietantes. So os integrantes do gabinete que determinam a poltica nacional. Com a sada dos reformistas e sua substituio por administradores vermelhos, sobraram poucas figuras nos altos escales de Moscou -com exceo do prprio Boris Ieltsin- que tenham qualquer compromisso comprovado com as reformas. As renncias lembram a de Eduard Chevardnadze ao cargo de ministro sovitico das Relaes Exteriores, em 1990. O presidente Mikhail Gorbatchov achou que poderia prosseguir com as reformas sem seu colega de confiana, mas aconteceu que a velha guarda tentou dep-lo num golpe. Os avanos conseguidos pelo Partido Liberal Democrata de Vladimir Jirinovski -que no liberal, nem democrtico e nem sequer um verdadeiro partido- nas eleies de 12 de dezembro so uma das causas fundamentais de boa parte da confuso atualmente reinante na Rssia. Eles revelam a extenso da oposio popular ao programa de reformas econmicas de Ieltsin e a disposio popular em buscar solues simplistas. No entanto, o povo russo tambm aprovou uma Constituio que concede poder real ao governo, no ao Parlamento. No inexato dizer que Boris Ieltsin tem em mos os instrumentos necessrios para acelerar as reformas. A verdadeira pergunta se ele tem a disposio -e a equipe necessria- para faz-lo. Em segundo lugar, o Ocidente no pode perder a Rssia. A Rssia pode ser perdida, mas apenas pelo povo russo e por seus lderes. A Rssia uma nao de mais de 150 milhes de pessoas, que abrange 12 fusos horrios. As grandes potncias so grandes principalmente porque determinam seus prprios destinos. Em ltima anlise, so as escolhas que os prprios russos fizerem que vo moldar seu futuro. Apenas eles podem perder uma nascente Rssia democrtica para o fascismo ou para o comunismo. O que o Ocidente pode perder, entretanto, a oportunidade de remodelar a Europa. A influncia ocidental sobre os acontecimentos na Rssia pequena, mas nossa influncia sobre os acontecimentos nas democracias emergentes da Europa Central e Oriental pode ser decisiva. Entretanto, os acontecimentos recentes na regio no tm conduzido mais a reformas do que os acontecimentos em Moscou. Em Belarus, o primeiro-ministro Stanislav Shushkevich, outro reformista engajado, foi derrubado pelo Parlamento por haver promovido as reformas de modo excessivamente agressivo e por no ter alinhado a poltica externa de Minsk com a de Moscou. Em Kiev, no est claro se o Parlamento ir apoiar integralmente o recente acordo nuclear tripartite. Isso, apesar da promessa do governo Clinton de dobrar a assistncia concedida ao governo ucraniano, para que ele faa exatamente aquilo que j duas vezes nos prometeu que faria. Enquanto isso, a inflao j atingiu a marca dos 100% mensais na Ucrnia, efetivamente solapando a independncia econmica da populao. E nas recentes eleies na Crimia, um secessionista russo conseguiu 73% dos votos. Mais a oeste, nos Blcs, a guerra continua -e em lugar de diminuir de intensidade, est aumentando. Os srvios bsnios instituram uma mobilizao geral. H informaes de que tanto a Srvia quanto a Crocia esto enviando unidades do Exrcito regular Bsnia. Numa viagem a Belgrado na semana passada, Jirinovski vinculou esses acontecimentos quando afirmou: A retirada acabou, estamos lanando uma ofensiva geral, que nossos inimigos nos temam... Que se contoram em Paris, Londres, Washington e Tel Aviv. A viagem de Jirinovski aos Blcs simboliza o perigo que confronta o Ocidente. Devemos lev-lo a srio -tanto pelo que ele diz, quanto por onde ele o diz. Atravs de suas palavras, Jirinovski nos revela contra o qu ele . Com exceo da limpeza tnica srvia, no est claro o que defende. Ele contra a democracia, contra o livre mercado, contra o Ocidente e contra os no-russos e no-brancos dependendo da platia que o escuta. A frustrao com as perdas da Rssia sua fora motriz, assim como o ressentimento contra aqueles que alegadamente as causaram: os ocidentais, os capitalistas, os judeus. Jirinovski um fascista puro e simples. A nao suprema; o indivduo, subserviente. Para ele, ser russo uma condio intrinsicamente boa. Ser qualquer outra coisa uma condio intrinsicamente m a no ser que, com objetivos tticos, ele queira unir os russos e os srvios numa irmandade eslava ou os russos aos europeus e americanos brancos, contra os negros. Igualmente inquietantes so os lugares onde ele vem fazendo seus pronunciamentos. Na semana passada ele encontrou uma platia receptiva na Srvia. Ele e o homem-forte da Srvia, Slobodan Milosevic, so sob muitos aspectos irmos de alma. Ambos se alimentam de um hipernacionalismo que combina autoritarismo no interior do pas com o desprezo por tudo o que estrangeiro. O perigo que os Milosevic e Jirinovski continuem a pregar sua mensagem de intolerncia e dio, chegando at mesmo a conspirarem juntos, pressionando outros dirigentes a defenderem seus povos. Em pouco tempo, o etnocentrismo, e no a democracia, poderia se transformar no princpio organizador da regio. A histria nos diria que isso provvel. Isso poderia levar s seguintes consequncias: A Srvia poderia estender sua limpeza tnica aos albaneses em Kossovo e Sandjak e aos hngaros em Vojvodina. Poderiam crescer as tenses entre a Grcia e a Albnia sobre os albaneses j expulsos da Grcia e os 60 mil a 300 mil gregos que vivem na Albnia. (O litgio j to grande que a Grcia e a Albnia sequer conseguem chegar a um acordo sobre o nmero verdadeiro.) Essas tenses iriam provavelmente ter ecos na Turquia onde haver exortaes pela defesa dos albaneses, em sua maioria muulmanos, alm das aproximadamente 800 mil pessoas etnicamente turcas que vivem na Bulgria. Os nacionalistas hngaros poderiam chegar ao poder, com base em promessas de proteger os mais de 4 milhes de hngaros tnicos que vivem em pases vizinhos. claro que as tenses pesam pouco quando comparadas com os potenciais conflitos envolvendo os 25 milhes de russos que vivem no exterior prximo. evidente que os Blcs so um ponto explosivo. Mas tambm o so o Cazaquisto e o leste da Ucrnia -onde vivem muitos russos e onde ainda esto muitas armas nucleares. Em suma, os interesses norte-americanos na Europa e na Eursia abarcam mais do que quem faz o que a quem dentro dos muros do Kremlin. Nem todos os problemas na Europa podem ser resolvidos atravs da linha telefnica direta Moscou-Washington. Nas prximas semanas, o presidente Bill Clinton e seus principais assessores precisam formular e responder cinco perguntas. Primeiro: como pode o Ocidente conter o conflito nos Blcs e impedir que ele se transforme numa ampla guerra dos Blcs? O Ocidente pode no ser capaz de parar a guerra na Bsnia por um custo aceitvel, mas, com deciso e previso, pode impedir que outra guerra tenha incio na Macednia, na Albnia, na Hungria e em outros Estados vizinhos. Segundo: como pode o Ocidente integrar aquelas democracias da Europa Central e Oriental que satisfazem critrios objetivos (por exemplo, a Polnia, a Hungria, a Repblica Tcheca), para que se tornem membros integrais das instituies ocidentais? A Parceria pela Paz uma fuga, uma maneira de desviar-se da questo, no uma resposta. Terceiro: como podemos promover a independncia dos Estados ex-soviticos que no so russos e, ao mesmo tempo, trabalhar pela desnuclearizao daqueles Estados? Clinton perdeu uma boa oportunidade de defender a democracia quando deixou de visitar o Quirguisto. Sob a liderana de Askar Akaiev, esse pas est caminhando em direo democracia e ao livre mercado e no fez promessas para depois romp-las. Quarto: o que pode ser feito para apoiar a democracia e o livre mercado na Rssia agora que a maioria dos reformistas saiu do governo? Esperemos que o Ocidente no entre em pnico e corte a assistncia aos reformistas nos nveis locais e no setor privado, que agora precisam desesperadamente de nossa ajuda. Finalmente, o que Washington pode fazer para aumentar a coordenao e a cooperao entre o Ocidente e o prprio Ocidente? Se os Estados Unidos e seus aliados europeus ocidentais no conseguirem chegar a um acordo sobre uma trajetria a seguir, ento uma Europa inteira e livre certamente se perder para uma Europa fragmentada e fascista. A pergunta, ento, no ser Quem perdeu a Rssia?, mas Quem perdeu a Europa? JAMES A. BAKER 3. foi secretrio de Estado dos EUA durante o governo de George Bush. Copyright Los Angeles Times Syndicate. Traduo de Clara Allain","Rssia esconde o fantasma do fascismo Situao russa no deve fazer o Ocidente esquecer os riscos que enfrenta nos Blcs e na Europa Ocidental JAMES A.BAKER Depois do avano fascista e comunista nas eleies russas de dezembro passado e da renncia de importantes reformistas, os especialistas perguntam: Quem perdeu a Rssia? No a pergunta correta, pois os interesses maiores dos EUA esto voltados para uma Europa equilibrada , democrtica e prspera. Os azares das reformas econmicas ocorridas nos ex-pases da cortina de ferro alimentaram um nacionalismo rancoroso . Isso provoca pesadelo nos Estados Unidos e aliados , que no querem uma Europa fragmentada e fascista. Ainda quanto pergunta,pode-se dizer que, em primeiro lugar, no se perdeu a Rssia. Sob o aspecto microeconmico a situao melhorou , com mais de 75% das microempresas nas mos de particulares e 25% da fora do trabalho empregada no setor privado. verdade , esse crescimento veio acompanhado por um aumento enorme da criminalidade organizada . O risco maior para as reformas est no mbito macroeconmico. O descontrole da inflao teve como seu maior patrocinador o presidente do Banco Central, Viktor Geraschenko, comunista renitente e anti-reformista. A renncia de integrantes do gabinete, responsveis pela poltica nacional, causa inquietao. Tambm os avanos nas eleies de 12 de dezembro conseguidos pelo Partido Liberal Democrata de Vladimir Jirinovski constituem uma das causas das confuses reinantes na Rssia. O Ocidente no pode perder a Rssia. Se a perda acontecer em caso de fenecimento da nascente democracia e um desvio para o fascismo ou comunismo-- , que os responsveis sejam o prprio povo e suas lideranas. Mais do que o caso russo, o Ocidente no pode deixar de fazer remodelar a Europa , principalmente a Central e Oriental . Entretanto acontecimentos recentes na regio no so animadores. Em Belarus, o primeiro ministro Stanislav Shushkevich , reformista comprometido, foi derrubado pelo Parlamento ; em Kiev, no est evidente se o Parlamento vai apoiar integralmente o recente acordo nuclear tripartite , apesar da promessa de Clinton de dobrar a assistncia ao governo da Ucrnia , onde a inflao j atingiu 100% mensais. A viagem de Jirinovski aos Blcs simboliza o perigo para o Ocidente, pois ele um fascista, para quem a nao suprema e o indivduo , subserviente; para quem ser russo fundamentalmente bom e no ser fundamentalmente mau. O seu encontro com Slobodan Milosevic, homem-forte da Srvia uma combinao de ultranacionalismo autoritrio xenfobo. O perigo ser maior se eles cooptarem adeptos para a sua causa. Alm dos Blcs , o Cazaquisto e o leste da Ucrnia so pontos explosivos. Como os interesses americanos na Europa ultrapassam a viabilidade de serem resolvidos atravs do telefone vermelho, convm que o presidente Clinton e assessores formulem e respondam questes como estas: Como pode o Ocidente reprimir o conflito nos Blcs e impedir que ele se transforme numa ampla guerra? Como pode o Ocidente harmonizar as democracias da Europa Central e Oriental ( por exemplo, Polnia, Hungria, Repblica Tcheca), para que se tornem membros das instituies ocidentais? O que pode ser feito para apoiar a democracia e o livre mercado na Rssia agora que a maioria dos reformistas saiu do governo? O que Washington pode fazer para incrementar a coordenao e a cooperao entre o Ocidente e o prprio Oriente?" op94ab04-a,"Sobre uma crise real, prolongada e devastadora, montou-se uma crise artificial e farsesca. Uma constitui a caricatura da outra. So aspectos dramticos da desorientao que cega as elites das classes dominantes, que vivem no Brasil, mas enxotam do pensamento as necessidades pungentes do povo. A crise real exprime a multiplicao geomtrica de ardis, de cumplicidades e de malogros dos que mandam. Agem primeiro, em funo de interesses mesquinhos, e descobrem depois que, ao tosquiar, no alteram suas posies. Mantm-se numa subordinao servil ao mercado mundial, em troca de compensaes fictcias das naes centrais e do capital financeiro internacional. Mostram-se incompetentes para suplantar-se e construir projetos nacionais de desenvolvimento econmico vinculados universalizao da cidadania e consolidao de uma Repblica democrtica. A crise artificial seria o lado pitoresco de um pas que no srio entre os que desfrutam, governam e administram. Revelam competncia para expandir suas fortunas e monopolizar o poder absoluto, amordaando o Estado, submetendo s conciliaes, que reproduzem e ampliam a cultura das aparncias, as bases civis de uma sociedade moderna. A crise artificial equivale a um jogo de cartas marcadas. Os que cedem aos parceiros obtm vantagens econmicas e polticas polpudas. Ela opera como um artifcio e, no fim, se o desgoverno se manifesta, fundamenta e justifica a proclamao de uma crise real explosiva. Nos dias que correm, confrontamo-nos com essa superposio. Um presidente excntrico nega seus valores e as promessas improvisadas para exibir, em todo o esplendor, um poder que no possui, que lhe escapa entre os dedos como se fosse gua ou areia. O governo identifica-se com os pobres, porm pratica uma poltica para as aves de rapina do grande capital nacional e estrangeiro. Enquanto os lucros voam para o cu, os salrios so soterrados. Os planos econmicos brotam do imaginrio de especialistas respeitados e eruditos. Mas aulam as foras naturais da economia, reforando a crise real e inchando a crise artificial. Para responder ao terremoto e desgastar um candidato Presidncia com probabilidades de vitria, fabrica-se um candidato da ordem, sob o faniquito do patronato e o terror dos liberais, conservadores e reacionrios. H uma luta entre os trs Poderes? Os militares se aprestam para remover os riscos sinistros do apodrecimento das instituies sacrossantas? Os partidos da ordem (infelizmente com o PSDB frente) movimentam-se para a restaurao? A reforma constitucional ir resolver problemas candentes imediatos? Pura fantasia! Nem a crise real nem a reforma estrutural do Estado e do governo atraem ao eficaz. Trata-se de um aproveite quem puder. O que vem do alto um esforo insensato de soldar o pas a grilhes despedaados, fantasmas do cinema mudo.","O Brasil convive com a superposio de uma crise artificial sobre uma crise real. O efeito disso desastroso para o pas. A crise real consiste , em resumo, na excluso significativa da maior parte da populao. A artificial resultado da atuao das elites, que buscam o prprio interesse a qualquer preo: mantm-se submissas ao mercado internacional em troca de falsas compensaes; expandem suas fortunas habilmente , ainda que s custas de trocas de favores esprias. O governo , que subordinado pela classe dominante, compe com ela essa farsa , assumindo aparentemente a causa dos pobres. E quando essa crise artificial se torna real, vm os planos econmicos para sanear, ou as manobras para anular algum candidato Presidncia no vinculado ao sistema. Se o desconcerto cria um clima de luta entre os Poderes, cada um deles toma providncias para no mexer nas estruturas. " co94ab03-16,"Revistas 'vendem' brasileiras no Japo Mercado de prostituio no Japo v crescer participao de brasileiras, que usam anncios com fotos em revistas THAS OYAMA Da Reportagem Local Alm dos dekasseguis (termo que os japoneses usam para identificar os descendentes nascidos no exterior e que vo trabalhar em seu pas), o Brasil tambm exporta prostitutas para o Japo. O mercado de prostituio no pas, tradicionalmente dominado por coreanas e filipinas, conta com um nmero cada vez maior de jovens nascidas no Brasil. Em pelo menos trs revistas pornogrficas japonesas que oferecem servios de massagem e sexo, as brasileiras so responsveis por cerca de 30% dos anncios. Chegam a cobrar at US$ 500,00 por programa (sexo pago). A polcia japonesa no quis fornecer dados sobre a participao das brasileiras no mercado, mas confirma que tem crescido nos ltimos anos. A Polcia Federal brasileira tem a mesma avaliao. A entrada de brasileiras no mercado tem acontecido, basicamente, de trs formas. Dekasseguis que vo ao pas trabalhar em diversas atividades, s vezes perdem o emprego e acabam se prostituindo. Outras, muitas vezes no-descendentes de japoneses, deixam o pas para trabalhar como prostituta de luxo. Algumas destas chegam a se casar com nikkeis (descendentes de japoneses nascidos fora do pas) brasileiros para poderem obter visto de trabalho temporrio. O visto para turistas de 90 dias, mas a lei japonesa concede o visto de trabalho de at trs anos para nikkeis e suas mulheres. E existem as que viajam com a expectativa de trabalhar como bailarinas sem saber a atividade que as aguarda. Vo ao Japo a convite de agncias que dizem promover shows brasileiros l. Acabam em boates de terceira categoria, onde tm que atuar como hostess (anfitri, em ingls). No Japo, o termo hostess usado para designar mulheres que trabalham em bares noturnos com a funo de conversar com clientes, estimulando-os a consumir bebidas alcolicas. Eventualmente, aceitam fazer programas. S na cidade de Yokohama (a segunda do pas em nmero de habitantes) existem cerca de 6.000 estabelecimentos deste gnero. Trs bailarinas profissionais ouvidas pela Folha relataram terem sido vtimas do mesmo golpe. Foram ao Japo entre 89 e 93, a convite da mesma empresa, a Berenice Promoes, que fica em Santa Ceclia (centro de So Paulo). Uma delas, Marisa (no quis dar o sobrenome), 24, embarcou para Nigata (cidade prxima a Yokohama) em julho de 93, com a promessa de que faria shows de samba e ganharia US$ 5.000 por ms. Quando vi a casa em que trabalharia, desconfiei. Nem palco tinha, conta ela. Durante as trs primeiras noites, os donos alegavam que o show havia sido adiado. Ao mesmo tempo, pediam que ela induzisse os clientes a consumir. No me diziam para sair com os fregueses, mas sei que algumas meninas faziam isso. Cheguei a ver garotas fazendo sexo oral com clientes dentro do bar, afirma. Sua colega Gisela (no quis dar o sobrenome) viajou nas mesmas condies e confirma o relato. As duas dizem que telefonaram para a empresa no Brasil procurando ajuda e no foram atendidas. A bailarina A.M.S., 34, viveu experincia parecida em 89. Contratada pela mesma empresa, supostamente para shows de chorinho e samba, foi enviada para uma casa de hostess, em Osaka. Recusou-se a ficar l e foi transferida pela agncia para outro local, de boa categoria, onde atuou como bailarina. A satisfao foi passageira. A estratgia foi alternar casas idneas com de prostituio disfarada. Voltei aps um ms, diz. A bailarina move ao trabalhista contra a agncia. O processo ainda est em andamento. Berenice Nascimento, proprietria da empresa, nega as acusaes. Afirma que a agncia tem 15 anos e promove intercmbio cultural e artstico com o Japo, levando bailarinas profissionais que atuam em hotis e casas noturnas respeitadas. Diz que no contrato est terminantemente proibida qualquer atividade ligada prostituio. Afirma no trabalhar com hostess e desconhecer qualquer episdio de bailarinas foradas a trabalhar nessas casas.","Revistas vendem brasileiras no Japo Mercado de prostituio no Japo v crescer participao de brasileiras , que usam anncios com fotos em revistas THAS OYAMA -- Da reportagem local Alm de dekasseguis , o Brasil exporta prostitutas para o Japo. No pas, este mercado cresce muito , com progressiva participao de brasileiras, que ocupam 30% dos anncios em pelo menos trs revistas japonesas. Chegam a cobrar at US$500,00 por programa. A polcia japonesa no quis fornecer dados , mas confirma o crescimento nos ltimos anos. a mesma posio da Polcia Federal. O procedimento para a entrada no mercado no normalmente segue trs vias.Dekasseguis que foram em busca de trabalho e depois se prostituem aps perder o emprego. Outras, normalmente no descendentes, vo como prostitutas de luxo. Ainda h as que vo trabalhar como bailarinas, a convite de agncias promotoras de shows brasileiros. Acabam em boates de terceira categoria como hostess , termo que no Japo usado para designar mulheres que trabalham em bares noturnos para conversar com clientes e para estimula-los a beber. Trs bailarinas entrevistadas pela Folha experimentaram praticamente o mesmo roteiro. A convite da empresa, Berenice Promoes , para fazer shows ---uma delas com a promessa de ganhar US$5.000 por ms --- sentiram-se totalmente ludibriadas . Uma diz que no era pressionada a sair com fregueses , mas que chegou a ver meninas fazendo sexo oral. Berenice Nascimento , proprietria da empresa, nega as acusaes. Sua empresa diz elapromove intercmbio cultural e artstico com o Japo , levando bailarinas para apresentaes em casas noturnas respeitveis. " po96fe14-b,"BRASLIA - O presidente da [Vicentinho e Hernando Uchoa Lima] Central nica dos Trabalhadores (CUT), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, no confia no presidente Fernando Henrique Cardoso. Se me perguntarem se confio no presidente, eu digo que no. Porque a postura do governo tem sido a de quebrar acordos, disse Vicentinho, ontem, durante palestra na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Braslia, quando tambm reclamou das negociatas, realizadas a portas fechadas. Vicentinho se referia aos pontos da reforma da Previdncia, que haviam sido acertados com a CUT, mas acabaram no sendo includos no parecer do relator, Euler Ribeiro (PMDB-AM). Se este fato episdico ou no, eu no sei. Eu s toro para que o presidente seja sincero, prestigie esse momento de negociao e leve a discusso para a prtica. A sim, eu poderei dizer que confio no presidente, afirmou. Dizendo-se muito decepcionado com a atuao de Euler Ribeiro - que definiu como um deputado que foi mordido pela mosca azul e est fazendo muita besteira -, Vicentinho passou cerca de uma hora discutindo a reforma da Previdncia com os conselheiros da OAB. Vocs, advogados, sabem que toda negociao tem uma prtica. Mas esta foi horrvel. Incluiu uma negociao sria com as portas abertas e, mais tarde, as negociatas. Se o relator tivesse colocado no relatrio o que foi acertado naqueles dias, tinha ficado tudo certo, afirmou. Mal-estar - Mesmo aceitando conversar com o governo, Vicentinho fez questo de mostrar, no Congresso, sua postura oposicionista. Quando entrou no gabinete do lder do PFL, Inocncio Oliveira (PE), o presidente da CUT provocou: Inocncio, o homem que de inocente s tem o nome. Diante do mal-estar, o deputado Jos Genono (PT-SP), que o acompanhava, apelou para a diplomacia: Mas isso no bom sentido, lgico. Inabalvel, Inocncio riu e respondeu: Mesmo assim, isso muito bom para mim. Minutos depois, os fotgrafos pediram que Vicentinho apertasse a mo de Inocncio. O presidente da CUT voltou carga: Este o encontro de dois nordestinos, um rico e outro pobre. Inocncio reagiu: No, no, so dois pobres. Apesar das estocadas, Vicentinho ainda conseguiu arrancar elogios de Inocncio: Esse um cabra bom, que lutou muito e, para chegar onde chegou, teve que passar por muita dificuldade, reconheceu o lder do PFL. Vicentinho tambm procurou o presidente da Cmara dos Deputados, Lus Eduardo Magalhes (PFL-BA), para expressar sua preocupao com o relatrio de Euler. Este um tema extremamente preocupante. Vamos ler o relatrio todinho e j marcamos uma reunio com Lus Eduardo para amanh (hoje), para dizer o que est errado, afirmou o presidente da CUT. Vicentinho mandou ainda um recado ao ministro da Administrao e Reforma do Estado, Lus Carlos Bresser Pereira, que j avisou que no quer negociar a reforma administrativa com a CUT, porque as posies da central so totalmente opostas s do governo. Quanto mais ele falar que no quer discutir com a gente, mais a gente vai falar que quer negociar esta reforma, afirmou o sindicalista. Para Vicentinho, participar dessas discusses era um sonho antigo, do qual ele no vai abrir mo. H muitos anos espervamos a possibilidade de dar palpite nos assuntos que so importantes para toda a sociedade brasileira. Como em Braslia tudo importante, queremos dar palpite em tudo, concluiu.","Durante palestra na sede da OAB, Vicentinho , presidente da CUT, declarou aos reprteres que no confiava no presidente Fernando Henrique, porque os acordos acertados com a sua entidade, no constaram no relatrio de Euler Ribeiro. Aos conselheiros da OAB ele disse que o que tinha sido negociado a portas abertas foi vtima de negociatas depois. Apesar de sua disposio de conversar com o governo, Vicentinho no foi amvel com o lder do PFL, Inocncio de Oliveira, no Congresso. Disse a ele que de inocente s tinha o nome--- farpa logo amenizada por Genono. Vicentinho ainda voltou carga, mas Inocncio no reagiu. . O presidente da CUT ainda procurou o presidente da Cmara dos Deputados, Lus Eduardo Magalhes (PFL) , para falar de sua preocupao com o contedo do relatrio e marcou com ele uma reunio para o dia seguinte. Ao ministro da Administrao e Reforma do Estado, Bresser Pereira, que no queria negociar com a CUT por causa da diferena de posies, mandou o recado de que insistiria na proporo da recusa---pois era um momento apropriado para tratar de questes importantes para a sociedade brasileira. " ce94ja21-e,"O senador Jarbas Passarinho (PPR-PA) est com a corda toda. Aos 74 anos, em boa forma fsica e mental, conquistou at uma namorada de 39, a bonita Armnia, gerente do Banco do Brasil. Na presidncia da CPI, somou mais elogios que crticas, alm da sbita popularidade, a maior de sua vida pblica, iniciada ao entrar no Exrcito, em 1943, de onde saiu coronel em 1964 para ser governador binico do Par. Passarinho cumprimentado no aougue, na rua, no cinema. Quando foi a So Paulo gravar entrevista no programa de J Soares, ficou surpreso com o modo como foi recebido pelas pessoas no aeroporto de Cumbica. Muitos saam da fila para dizer que continuasse o trabalho e pedir autgrafos. Estou at preocupado, diz Passarinho. Se essa CPI no der resultado, em vez de palmas vou levar um soco na rua. Na CPI, sua atuao foi ao mesmo tempo enrgica e bem-humorada. As piadas e citaes variaram do erudito simples galhofa. Como no dia em que resolveu definir a CPI: Ela funciona como um suti. Corrige os desviados, contm os exaltados e revela os decados. Experiente, fez vazar algumas informaes para a imprensa embora mantivesse a proibio aos demais parlamentares. Chegou a trancar um documento em seu cofre para impedir sua divulgao. No trato com a mdia eletrnica, chega ao requinte de carregar no bolso do palet um pedao de cartolina branca. Sempre que uma emissora de TV deseja entrevist-lo, expe o carto e oferece: Quer bater o branco? Os cinegrafistas lhe so gratos. A filmagem de uma superfcie branca indispensvel para o ajuste de cores das cmeras. J na reta final, surgiram as maiores crticas. Nos bastidores, alguns deputados diziam que estava protegendo a Fundao Roberto Marinho. Outros se queixavam que teria dificultado as investigaes em torno do governador Joaquim Roriz. De viva voz, os mesmos parlamentares afirmavam apenas que conduziu bem os trabalhos. A atuao de Passarinho na CPI ajuda a deixar cada vez mais distante o tempo dos bilhetes do SNI alertando: Iminente sequestro. Era o perodo ps AI-5, que o senador assinou como ministro do Trabalho de Costa e Silva. Curiosamente, mesmo quem sofreu naquela poca no guarda mgoa dele. No tenho rancor, diz Maurlio Ferreira Lima (PSDB-PE), cassado pelo AI-5. O ex-guerrilheiro Jos Genono (PT-SP), que trocou presentes com Passarinho no final do ano, conta que a ligao entre os dois comeou durante o Congresso constituinte, quando o senador presidiu a subcomisso do Estado e Foras Armadas. Ele imparcial quando preside, eu disputava com Fiuza e ele soube conduzir muito bem, diz Genono. Os dois s evitam conversar sobre guerrilha do Araguaia, para evitar constrangimentos. Uma qualidade que todos reconhecem em Passarinho, alis, que sempre assumiu ter sido um homem do regime. Defende o Exrcito com unhas e dentes e, na reserva j h 29 anos, tambm fala em nome dos cidados comuns. H um ms, perguntado sobre uma suposta obtusidade dos homens de farda por um reprter, respondeu com uma de suas tiradas filosficas: Os militares pensam que so monopolistas do patriotismo e os civis pensam que so monopolistas da inteligncia.","Ainda vigoroso nos seus 74 anos a ponto de conquistar uma namorada de 39, o senador Jarbas Passarinho tambm conta pontos na conduo da CPI, a ponto de at estranhar a sbita popularidade. A sua formao militar , certamente, deve estar contribuindo na sua gesto enrgica da CPI. Habilidoso tambm no trato com a imprensa , chegou a vazar algumas informaes a reprteres , ao mesmo tempo que as proibia aos parlamentares. Parece ter conquistado o senso poltico civil e desfeito da hierarquia autoritria da caserna , de onde est afastado h 29 anos. J iam distantes os tempos do SNI em que atuou. Apesar de discordncias da sua atuao na CPI, os parlamentares , ao vivo, elogiavam a conduo dos trabalhos. Assim como os cassados da poca da ditadura militar no guardavam mgoas. At o ex-guerrilheiro Jos Genoino fala da sua imparcialidade na presidncia da submisso do Estado e Foras Armadas. Outra reconhecida qualidade sua a clara definio de que lado estava; nunca escondeu sua anuncia ao AI-5 e sua afinidade com os ideais do Exrcito . " op94ab07-01,"Carta de intenes O discurso de posse do embaixador Rubens Ricupero como ministro da Fazenda uma pea de qualidade e densidade, caractersticas que vinham se tornando raras no Brasil. Ainda assim, contm passagens que merecem reparos. O aspecto mais positivo do discurso o de que, embora seu tempo no ministrio seja curtssimo (apenas nove meses), nem por isso Ricupero limitou-se s questes imediatas agora colocadas sob sua responsabilidade. Ao contrrio, ousou esboar as linhas gerais de um modelo para o Brasil do futuro. No um modelo pronto e acabado, mas, ao menos, os conceitos essenciais em torno dos quais deve-se tentar a reconstruo de uma nao esgarada pelas dificuldades econmicas e polticas e especialmente por uma situao social aviltante. Sob esse ponto de vista, merecedor de aplauso o fato de Ricupero detectar qual o problema central do mundo e do Brasil, jamais resolvido pelas economias socialistas nem pelas de mercado: como desenhar um sistema produtivo que assegure a prosperidade sem excluses, onde o pleno emprego seja a situao normal, que no necessite conviver com ciclos de desemprego elevado e desumano. Esta Folha fica muito vontade, de resto, para apoiar essa observao, medida que ponto de vista muito parecido foi externado no editorial E a Terra era redonda, publicado na ltima tera-feira. igualmente elogivel o fato de o novo ministro sepultar o conceito de estabilidade da economia como um fim em si mesmo. Apenas mentes ensandecidas poderiam ser contra a estabilizao econmica que o pas persegue h tanto tempo. Mas s os conformistas e os medocres poderiam aceitar que, alcanada a estabilidade, a tarefa estaria concluda. Ricupero no se incluiu entre os conformistas, ao menos na retrica, ao dizer que a estabilidade no um fim em si mesmo, mas a condio para o crescimento durvel. Mais ainda, o ministro chegou a desenhar um trip para um projeto de Brasil: Uma economia em crescimento sustentado, mudanas sociais aceleradas e uma plena incorporao dos custos ecolgicos para melhorar a eficincia e a qualidade de vida. Ricupero acerta de novo ao atacar uma das questes centrais que precisam ser equacionadas para a indispensvel reorganizao do Estado. Restabelecer a dignidade da funo pblica e rejuvenescer o Estado federal, como prope o ministro da Fazenda, no s necessrio como urgente. O caminho apontado tambm parece adequado. Muita coisa pode e deve ser repassada aos Estados e municpios atravs da descentralizao ou iniciativa empresarial, mediante vigorosa privatizao, defende Ricupero. O binnimo descentralizao-privatizao, ainda mais quando acompanhado do termo vigoroso, irrepreensvel. Cabe ressalvar, em todo caso, que, no governo Itamar, a privatizao esteve longe de ser vigorosa. A lgica a sustentar a privatizao surge, cristalina, no discurso: como o Estado perdeu a capacidade de poupar e vem h muito se endividando para cobrir despesas de custeio, somente a privatizao poder permitir que os escassos recursos disponveis se destinem s reas essenciais como educao, sade, saneamento, segurana. importante lembrar, a propsito, que, na campanha presidencial anterior, em 89, esta Folha publicou uma srie de reportagens cuja rubrica (Menos governo, menos misria) sintetizava essa idia. Pena que, transcorridos cinco anos, a tese tenha de ser repetida porque nada se fez nessa direo. H, no entanto, passagens que no podem ficar sem srios reparos. O ministro confundiu a estabilizao com o Plano FHC, que, alis, ele prefere que seja chamado de PPB ou plano do povo brasileiro. Que a estabilizao uma tarefa de todos, no resta dvida. Enquanto a sociedade no se convencer de que ela tambm responsvel, dificilmente se atingir a estabilidade. Mas assume caractersticas algo imperiais a exigncia do ministro de que cada brasileiro, sem exceo, assuma o plano como coisa sua, como responsabilidade prpria, pessoal e intransfervel. O plano econmico, embora tenha sido elaborado de uma forma bem mais aberta na comparao com os anteriores, nem por isso deixa de ser obra de um pequeno grupo de especialistas. sociedade est cabendo apenas adaptar-se a ele, com maiores ou menores traumas, conforme a situao peculiar de cada pessoa ou setor da economia. Exigir a adeso incondicional equivale a decretar que, fora do Plano FHC ou PPB, no h salvao, o que altamente questionvel, para dizer o mnimo. Da mesma forma, erra o ministro na atribuio de culpas pelo estado de inflao crnica que devasta o pas. Ao dizer que o brasileiro o povo de maior indulgncia com a inflao, Ricupero no deixa de ter certa razo, ante o silncio da sociedade sobre o fenmeno. Mas, com essa frase, o ministro universaliza as culpas, o que a maneira mais simples de diluir as verdadeiras responsabilidades e ocultar os verdadeiros responsveis. S uma sociedade masoquista contribuiria, intencionalmente, para instaurar e manter uma situao de superinflao. A inflao brasileira est longe de ser culpa de todos por igual. Ela , acima de tudo, de responsabilidade do prprio Estado, ainda que a omisso da sociedade tenha sua parcela de culpa. Sucessivos chefes de governo estimularam ou no coibiram o descontrole das contas pblicas, combustvel maior da fogueira em que arderam vrias moedas nacionais. Mas culpa tambm de uma elite insensvel, que ou lucra com a inflao ou, no mnimo, se resguarda de seus efeitos deletrios porque tem sua disposio mecanismos defensivos. A maioria da populao paga a conta, s em parte devida a seu silncio. injusto, portanto, responsabilizar a todos igualmente. No balano geral, de todo modo, o discurso positivo. As prioridades colocadas so essencialmente corretas e os conceitos, estruturais ou conjunturais, so apropriados. Mas no basta. O prprio discurso lembra que, nove anos atrs, o presidente Tancredo Neves cunhou a expresso proibido gastar, que Ricupero agora retoma como uma espcie de lema de sua gesto. A lembrana ilustrativa do enorme fosso que tem existido entre a palavra dos governantes e a prtica dos governos. Se Ricupero conseguir, mesmo no seu curto perodo de gesto, ao menos reduzir o tamanho do fosso entre a boa retrica e a m prtica, j ter prestado inestimvel servio ao pas. Mas certo que cabe tambm a cada brasileiro cumprir a sua parte, com o que se tornar menos distante e menos utpica a radiosa manh da ressurreio de um Brasil estvel e prspero, justo e generoso, que o ministro encomendou a Deus. Frase por frase, melhor a que diz ajuda-te que Deus te ajudar. Afinal, a poltica essencialmente humana e, de boas intenes, o inferno est cheio.","Carta de intenes O discurso de posse de Rubens Ricupero como ministro da Fazenda expressa qualidades e densidade que esto rareando no Brasil. Mesmo assim, alguns pontos merecem reparos. O aspecto mais positivo que, apesar do seu curtssimo tempo pela frente, ousou delinear um modelo para o futuro do pas, com conceitos fundamentais para a reconstruo de uma nao corroda por dificuldades econmicas e polticas e , fundamentalmente, por uma pssima situao social. Quanto a esse aspecto, merece aplausos seu enfoque do problema crucial do Brasil e do mundo: a competncia de assegurar um sistema produtivo sem excluses, em que o pleno emprego seja a constante. Tambm elogivel sua afirmao de que a estabilidade no um fim em si mesmo, mas a condio para o crescimento durvel. Volta a acertar quando questiona problemas centrais que dificultam a reorganizao do Estado. Para restabelecer a dignidade da funo pblica e rejuvenescer o Estado federal , prope a descentralizao com repasses aos Estados e municpios e uma rigorosa privatizao. Quanto a esta , assim se expressa: como o Estado perdeu a capacidade de poupar e vem h muito se endividando para cobrir despesas de custeio, somente a privatizao poder permitir que os escassos recursos disponveis se destinem s reas essenciais como educao, sade, saneamento, segurana. Merece reparos, no entanto, sua confuso entre estabilizao e Plano FHC .Mesmo admitindo a responsabilidade da sociedade civil para o sucesso do plano, e a sua elaborao mais aberta, no h como negar que produo de uma equipe de especialistas. A responsabilidade do povo pelo sucesso do plano, portanto, limitada. O peso maior certamente do Estado . Historicamente se viu que chefes de governo estimularam ou foram reticentes quanto farra com dinheiro pblico. Tambm a culpa maior cabe elite insensvel , que sempre pode lucrar com a inflao ou defender-se dela. Feitas as ressalvas, o discurso do ministro positivo. As prioridades so na essncia corretas , e os conceitos estruturais ou conjunturais--- so adequados." br94ou23-12,"Tudo em famlia MARCELO LEITE Quando escrevi minha primeira coluna como ombudsman, publicada no ltimo dia 2, no imaginava que uma simples nota Na ponta da lngua causasse tanta repercusso. Nela eu anunciava a inteno de vigiar de perto o texto jornalstico, que estaria precisando de um choque de portugus. Para surpresa minha, fez mais sucesso do que meu balano da cobertura das eleies, no qual afirmava que a imprensa tinha henricado, sim. Recebi algumas manifestaes de apoio por esse julgamento sumrio, mas nada comparvel ao nmero de cartas e telefonemas que me incentivavam a uma cruzada pr-lngua. Em respeito vontade do leitor, abordo hoje uma faceta dolorosa da decadncia do texto jornalstico: a desarticulao narrativa. Contar mal uma boa histria uma das formas mais encontradias de impercia em minha profisso, tanto mais grave em um mundo em que a sucesso de imagens e mdulos de informao criam a iluso de simultaneidade em que nada dura, s se envelhece. Pelos fantasmas e temores ancestrais que mobiliza, o noticirio policial compe oportunidades privilegiadas para arrancar o leitor do fluxo besta de seu dia-a-dia. Quando ocorre um crime incomum, desses que pem a nu toda a barbrie humana, agua-se o apetite de quem tem um jornal em mos por uma narrativa decente. No digo nem por uma obra-prima como A Sangue Frio, de Truman Capote, mas ao menos uma histria com comeo, meio e fim. Coitado do leitor. As semanas que passaram ofereceram no s uma, mas duas dessas chances normalmente nicas. Com intervalo de apenas dez dias, aconteceram dois casos de assassinatos mltiplos em famlias no-proletrias, cujas autorias foram quase imediatamente atribudas a seus prprios filhos. Gustavo Pissardo, 21, confessou ter executado com tiros na cabea pai, me, irm e avs, em So Jos dos Campos e Campinas, dois importantes centros a menos de 100 km de So Paulo. Em Porto Alegre, a confisso foi de Carlos Alberto Oliveira, 35, o Beto. Com a ajuda de um ex-PM, teria abatido os pais a facadas: 36 no pai, 20 na me. Desde os primeiros dias de cobertura do caso Pissardo, alertei em vo na crtica da edio que circula diariamente na Folha para o mau desempenho do jornal. No confronto com o material publicado por seu concorrente direto, O Estado de S.Paulo, isso ficava evidente. Dia aps dia, o outrora sbrio jornalo paulista se esmerava na apresentao de detalhes sensacionais, como a compra de bermudas por Gustavo entre as duas etapas do morticnio. Na edio do dia 5, por exemplo, a Folha socou esse caso vibrante em meras 29 linhas de um texto de duas colunas em pgina par (menos nobre do que as mpares) do caderno Brasil. Nas poucas vezes em que obteve informaes mais elucidativas, como o fato de Gustavo ter sido instrutor de tiro no Exrcito, publicou-a somente em seu caderno para o Vale do Paraba, Folha Vale. Algo de muito semelhante aconteceu com a cobertura do caso Oliveira, em Porto Alegre. Tomada de estupefao pelo que h de inexplicvel nesses crimes, a imprensa e no s a Folha fica como barata tonta em meio a fontes policiais e psiquitricas sequiosas de publicidade. Da objetividade idiota de delegados provincianos ao freudianismo capenga dos psi-qualquer coisa de planto, sobrou desinformao. Como excees que confirmam a regra, destaco dois bons momentos em que talento, mincia e sentido dramtico conseguiram impor certa ordem esttica nesse turbilho de irracionalidades: 1. A reportagem Na verdade foi Gustavo quem morreu, publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo em 9 de outubro. Um vigoroso relato do drama da famlia Pissardo, narrado pela tia que s sobreviveu por acaso. 2. A reportagem de capa da revista Isto de 19 de outubro, Matar pai e me. O texto tambm incorre em muitos vcios, mas tem uma abertura primorosa. Depois de inventariar em 29 linhas as incongruncias entre as biografias de Gustavo e Beto, sem qualquer meno aos crimes que teriam cometido, arma-se a pergunta: O que h em comum entre `a ovelha negra' da famlia Oliveira e o filho amoroso e obediente da famlia Pissardo? Sangue. pura retrica, no resta dvida. Mas tambm a forma jornalstica de fazer a inteligncia triunfar sobre o inexplicvel. J escrevi aqui que no considero que a imprensa tenha tanto poder quanto se atribui a ela, mas cada vez mais me conveno de que ela possui, de fato, um poder a um s tempo demolidor e insignificante: o de destruir reputaes e o de pr particulares em apuros. Suponha o leitor que foi fotografado, sem se dar conta disso, na calada defronte uma espcie de bar. No importa muito o que voc est fazendo por ali, se est s de passagem, foi buscar o carro no estacionamento do lado ou de fato um frequentador da casa. A foto est feita, pronto. Domingo, famlia reunida, o leitor abre seu jornal e d de cara com a malsinada foto ilustrando uma reportagem sobre novos pontos de prostituio chique na cidade. A imagem, feita distncia, meio borrada, parece tratar-se de mais um no time de manobristas, mas nenhum de seus conhecidos deixa de identific-lo, imediatamente. Sua vida desaba, o casamento est por um fio. Voc fica possesso, est convencido de que o jornal teria de obter sua autorizao para publicar a foto, quer abrir um processo. Dissipada parte da ira inicial e aps algumas consultas, conclui que ao menos no Brasil no ter muita chance nos tribunais. Alm disso, o que vai ganhar levando o caso a juzo? Nada que possa recompor sua famlia. O jornal, de sua parte, alega que a imagem foi feita em local pblico e que nada na edio faz qualquer aluso a atos criminal ou moralmente condenveis da parte do leitor. Mais ainda, a foto foi visivelmente feita com o propsito de dificultar a identificao. Voc est no mato e sem cachorro. Pode at queixar-se ao ombudsman, se o jornal que publicou a foto tiver um. Ele vai constatar, como voc, que o mal est feito e no h Erramos no mundo que possa consert-lo. Quando muito, vai concordar em que um pouco mais de cuidado, na escolha ou na edio da maldita foto, poderia livr-lo do pesadelo que voc est vivendo. Sozinho. Prometi na semana passada que s voltaria ao tema do caderno Olho no Voto se a rplica dos jornalistas Elvis Cesar Bonassa e Daniela Pinheiro publicada nesta mesma pgina ensejasse alguma contribuio ao aperfeioamento de futuras publicaes. o caso, por exemplo, do esclarecimento que eles ofereceram sobre o regimento interno da Cmara (que probe reunies simultneas do plenrio e de comisses). Espero que na prxima publicao do gnero a Folha d destaque a esse tipo de informao essencial para a validao dos critrios adotados. No resisto porm a prosseguir com essa espcie de briga em famlia, pois no posso deixar sem resposta a tentativa maldisfarada de imputar-me uma mentira. Refiro-me afirmao de Bonassa e Pinheiro de que a carta do deputado Fabio Feldmann fora objeto de resposta da Redao, ao contrrio do que eu afirmara. Feldmann enviou na realidade duas cartas para o Painel do Leitor da Folha. A primeira delas publicada dia 20 de setembro saiu sem resposta da Redao, apesar de apontar dois supostos erros do caderno (ele teria apresentado 26 e no 22 projetos, um dos quais teria sido transformado em lei, diferentemente do que se publicara). Alertada na crtica da edio que circulou na ltima segunda-feira para essa omisso, a Redao providenciou verificao junto ao Centro de Informtica e Processamento de Dados do Senado Federal. Segundo listagens oficiais do Prodasen, foram apresentados nesta legislatura por Feldmann s os 22 projetos mencionados no caderno. O que foi transformado em lei dataria da legislatura anterior. Ou seja, o caderno no errou, neste caso, embora tenha dado impresso oposta ao deixar de responder a primeira carta. Lamento que s agora, com mais de um ms de atraso e por iniciativa do ombudsman, o leitor receba essa satisfao. MARCELO LEITE o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovvel por mais um ano. Ele no pode ser demitido durante o exerccio do cargo e tem estabilidade por um ano aps o exerccio da funo. Suas atribuies so criticar o jornal sob a perspectiva do leitor recebendo e checando as reclamaes que ele encaminha Redao e comentar, aos domingos, o noticirio dos meios de comunicao. Cartas devem ser enviadas para a al. Baro de Limeira, 425, 8 andar, So Paulo (SP), CEP 01202-001, a.c. Marcelo Leite/Ombudsman. Para contatos telefnicos, ligue (011) 224-3896 entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.","Tudo em famlia MARCELO LEITE Uma simples nota Na ponta da lngua na minha coluna de estria como ombudsman repercutiu mais do que eu esperava. Ali eu revelava minha inteno de vigiar de perto o texto jornalstico. Superou a minha cobertura das eleies, quando falava que a imprensa tinha henricado. A quantidade de cartas e telefonemas me estimulou a continuar na defesa da lngua. Hoje abordo um dos aspectos da decadncia do texto jornalstico: a falta de coerncia narrativa. O noticirio policial, por exemplo, propicia boas oportunidades para atrair o leitor para os meandros de um fato bem contado. Nas semanas que passaram, aconteceram dois casos exemplares. Gustavao Pissardo, 21, confessou ter executado com tiros na cabea, pai, me, irm e avs, em So Jos dos Campos e Campinas. Em Porto Alegre, Carlos Alberto Oliveira , com a ajuda de um ex-policial militar, matou os pais. Apesar de minhas advertncias Folha, O Estado de S. Paulo saiu frente esmerando-se em detalhes sensacionais, como a compra de uma bermuda feita por Gustavo no intervalo dos dois momentos do crime. A Folha foi econmica na extenso e, quando conseguiu informaes mais esclarecedoras o fato de Gustavo ter sido instrutor de tiro no Exrcito-- , publicou-as s no caderno para o Vale do Paraba. Em geral, a imprensa perde o rumo nesses casos: fica presa a declaraes de delegados e explicaes de psiquiatras. Mas h excees. A reportagem Na verdade foi Gustavo quem morreu de O Estado de S.Paulo traz um relato forte do drama da famlia , e Matar pai e me da Isto É” faz uma comparao entre as biografias dos dois assassinos sem mencionar os crimes e coloca a pergunta : O que h em comum entre a ovelha negrada famlia Oliveira e o filho amoroso e obediente da famlia Pissardo? Sangue. A pergunta retrica , mas inteligente, j que o fato inexplicvel. O poder da imprensa costuma ser superestimado, mas no se pode negar sua capacidade de destruir reputaes. Por exemplo, se algum foi inadvertidamente fotografado em frente a uma espcie de bar e sua foto sair numa reportagem abordando novos pontos de prostituio, sua vida e casamento esto complicados. No adianta reclamar na Justia que neste caso pouco ajudae junto ao jornal, que alegar ser espao pblico e no trazer referncias a comportamento do leitor. Apesar da minha promessa de s voltar polmica com Elvis Csar Bonassa e Daniela Pinheiro sobre publicao no caderno Olho Vivo caso houvesse uma contribuio vlida, fao agora depois do esclarecimento que deram a respeito do regimento interno da Cmara.Ele probe reunies simultneas do plenrio e de comisses, o que pode indicar injustamente falta de assiduidade. Mas a tentativa canhestra dos dois reprteres de me atriburem uma mentira vai motivar uma resposta." po96ab19-a,"MARAB, PA - O Ministrio da Justia encontrou indcios de que parte dos 19 sem-terra mortos pela Polcia Militar do Par podem ter sido executados. Vrios cadveres apresentam tiros na testa e dois dos mortos tiveram a cabea destruda por tiros. Alguns sem-terra tm marcas de plvora no rosto, indicando que podem ter sido mortos por disparos queima-roupa, e outros levaram tiros certeiros no corao. Infelizmente, h fortes indcios de que houve execues, conclui o advogado Perclio Neto, um dos dois membros do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana enviados ao Par pelo ministro da Justia, Nelson Jobim, para investigar o massacre. Para Perclio no h dvida de que a PM cometeu um crime. Imagens feitas pela TV Liberal do Par durante o conflito mostram que os policiais militares chegaram rea onde os sem-terra estavam acampados na rodovia PA-150, disparando bombas de gs lacrimognio. Os agricultores reagiram atirando pedras e partindo para cima dos policiais com faces e cacetes. Os policiais reagiram atirando com fuzis e metralhadoras. Pelo menos dois militantes do Movimento dos Sem Terra estavam armados de revlveres, segundo as imagens da TV. Desobstruo - Os sem-terra foram mortos no final da tarde de quarta-feira. O conflito comeou pouco depois das 16h, quando 150 policiais militares chegaram rea onde estavam acampados cerca de 1.500 sem-terra. O objetivo era for-los a desobstruir a rodovia PA-150, que tinham ocupado para protestar contra o atraso na desapropriao de terras para reforma agrria. O secretrio de Segurana do Par, Paulo Sette Cmara, disse que autorizou os policiais a agirem com a fora necessria para forar os sem-terra a deixarem a estrada. Se encontrassem resistncia, eles estavam autorizados a reagir e inclusive a atirar se isso fosse necessrio. O segredo era dosar a fora. Pelos resultados, houve excesso no esforo policial. O major Pantoja de Oliveira, que comandou a operao, foi afastado ontem do comando do batalho de Marab. Segundo os sem-terra que esto feridos em hospitais de Marab, a polcia j chegou rea atirando. Eles no deram nenhum aviso. Cercaram a gente e foram metendo bala, diz o agricultor Enos Pereira Brito, baleado no p direito e na perna esquerda. Algemado -Maria Abadia Barbosa, de 57 anos, que levou dois tiros na parte de trs da coxa, acusa os policiais de terem assassinado Oziel Pereira, um dos lderes do movimento dos sem-terra. O Oziel j estava preso, algemado, e continuou apanhando. A, um dos policiais segurou ele pelos cabelos e outro atirou bem na cara dele, conta. Josimar Pereira Freitas, outro sem-terra ferido, diz que viu Oziel ser algemado pelos PMs. Ele estava vivo quando prenderam ele. Depois apareceu com um tiro na cara, denuncia. A Polcia Civil do Par estima que pelo menos 36 sem-terra estejam feridos, mas o nmero de vtimas pode chegar a 50. Os 19 corpos dos sem-terra foram levados para Marab e s chegaram ao IML s 7h05 de ontem, mais de 12 horas depois do encerramento do conflito. Os cadveres chegaram em um caminho e foram empilhados em uma sala do IML, com a porta aberta. Os legistas s chegaram ao IML s 16h, quase um dia inteiro depois das mortes. O ministro Nelson Jobim esteve em Marab ontem, mas no chegou a sair do avio. Ele deixou na cidade como representantes dois integrantes do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e o assessor de imprensa do ministrio. Jobim seguiu para Belm onde foi se reunir com o governador Almir Gabriel (PSDB). ","O Ministrio da Justia encontrou indcios de execuo de alguns sem-terra pela Polcia Militar do Par: marcas de plvora no rosto, cabeas destrudas por tiros. Para o advogado Perclio Neto , do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, houve crime da polcia. Imagens feitas por uma TV local mostram os soldados disparando gs lacrimogneo sobre os acampados na rodovia PA-150, que protestavam contra a demora de desapropriao para reforma agrria.. Os sem-terra reagiram com pedras , faces e cacetes. Os policiais atiraram com fuzis e metralhadoras. O secretrio de Segurana do Par disse que autorizou a fora necessria, mas admite, a partir dos resultados, que houve exagero. Os depoimentos dos feridos em hospitais de Marab confirmam que a polcia chegou atirando, sem nenhum aviso. Pela fala de dois feridos , um dos mortos, Oziel, j estava preso e algemado , e apareceu morto com um tiro na cara. Os cadveres, empilhados numa sala do IML, s foram atendidos pelos legistas quase 12 horas depois. O ministro da Justia, Nelson Jobim, esteve na cidade , mas no desceu do avio. Foi reunir-se com o governador do Estado. " op94ag07-b,"Sem dvida no se compara com os nmeros anunciados ao mundo com a criao do Nafta nem com aqueles que se tornaram corriqueiros com os avanos da Unio Europia. Ainda assim, o acordo ratificado anteontem pelos membros do Mercosul, que cria um espao econmico de 200 milhes de habitantes e um produto total de quase US$ 800 bilhes, constitui um marco histrico para as economias envolvidas e aponta para um processo ainda mais profundo de integrao. O acerto confirmado em Buenos Aires pelos presidentes de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai estabelece uma unio aduaneira a partir de 1 de janeiro do ano que vem. Isso significa, no s que mercadorias podero circular no Mercosul sem taxas alfandegrias, como tambm que produtos importados de outros pases tero, em tese, tarifas iguais para todo o bloco. Essa tarifa externa comum (TEC) variar dentro da faixa de 0 a 20%. Bens de capital e de informtica tero tratamento especial com prazo maior at a unificao. E h ainda diversas excees. Cada pas poder, por exemplo, manter tarifas diferenciadas para at 300 produtos, ou 399 no caso do Paraguai. de se notar, porm, que a esmagadora maioria dos produtos estaro cobertos pelas normas gerais e, de resto, concesses especiais so providncias que, longe de entravar, permitem que a integrao caminhe apesar de desacordos e de diferenas na situao econmica de cada membro. Tanto assim que a Unio Europia, em seu longo amadurecimento, sempre contemplou divergncias por meio de clusulas especiais para um ou outro pas. Foi assim que se conseguiu superar as resistncias do Uruguai ao atual acordo, que ameaaram a prpria realizao da cpula. certo que, dadas as dimenses do Brasil, o impacto do Mercosul se faz sentir mais fortemente nos demais membros do que aqui. Isso no significa porm que a economia nacional esteja indiferente evoluo do bloco; ao contrrio, dados relativos s exportaes so eloquentes ao demonstrar como o Brasil vem-se beneficiando com a liberalizao do comrcio regional. Entre 1990 e 1994, as exportaes brasileiras para a Argentina saltaram 390%, tornando-a o segundo maior importador de bens nacionais atrs s dos EUA isso, certo, tambm com o auxlio da defasagem cambial interna argentina. Mesmo o Mercosul como um todo, porm, de 4,1% de 1990 passou a absorver hoje 14% das vendas brasileiras ao exterior, tanto quanto todo o continente asitico. E esses valores podem aumentar ainda mais, dado o grande interesse demonstrado por Chile e Bolvia em se aproximarem do Mercosul. A cpula de Buenos Aires deixou claro tambm que o projeto regional vai alm de uma unio aduaneira. Sinalizando que esperam caminhar no futuro rumo a um mercado comum em que, alm de mercadorias, tambm pessoas, capitais e servios circulam livremente os pases membros concluram acordo reconhecendo mutuamente diplomas escolares de primeiro e segundo graus. um primeiro passo no sentido de uma maior liberdade de movimentao para trabalhadores entre os quatro pases. Uma importante mostra de realismo foi dada pelos participantes da cpula ao ressaltar a importncia de buscar acordos do Mercosul com a Unio Europia e, posteriormente, com o Nafta. Afinal, apesar de tudo, inegvel que na insero nos grandes fluxos da economia mundial que os pases membros, e o Brasil especificamente, mais tm a ganhar.","Embora muito menos do que os nmeros anunciados com a criao do Nafta e com as transaes na Unio Europia, o acordo de anteontem entre os membros do Mercosul representa uma marco histrico: 200 milhes de habitantes comercializando o equivalente a U$ 800 bilhes . Segundo o acordo, Brasil, Argentina , Uruguai e Paraguai , a partir de janeiro de 1995, liberaro de taxas alfandegrias os produtos comercializados entre si, assim como unificaro as tarifas de produtos importados de outros pases. Essas tarifas externas oscilaro de 0 a 20%. E ,ainda, cada pas pode ter tarifas diferenciadas para at 300 itens --- 399 no caso do Paraguai. Essas excees so fundamentais para o amadurecimento das relaes. Foi o que aconteceu com a UE . E a flexibilidade no Mercosul foi responsvel pela confirmao do acordo por parte do Uruguai. Se os demais pases do Mercosul tiveram mais vantagens, o Brasil no pode queixar-se com a evoluo de suas exportaes para o bloco --- 14% , hoje , tanto quanto as que vo para o continente asitico. A cpula de Buenos Aires espera ampliar o acordo, incluindo nessa liberao prestao de servio e um mercado financeiro. Nessa linha, os pases membros reconheceram mutuamente os diplomas de primeiro e segundo graus. A aspirao que se chegue a acordos com a Unio Europia e Nafta. " co94jl23-43,"Manifestao lembra 1 ano da Candelria Educadora afirma que h manipulao poltica do crime RONI LIMA Da Sucursal do Rio Hoje completa um ano a chacina da Candelria em que oito meninos de rua foram assassinados, de madrugada, perto da igreja da Candelria (centro do Rio). Alm de ato ecumnico, est prevista para hoje manifestao de ONGs (organizaes no-governamentais) e de polticos da Frente Brasil Popular. A educadora e artista plstica Yvonne Bezerra de Mello, que trabalha com meninos e meninas de rua, havia programado uma viglia no local para ontem noite. Hoje, no pretende participar dos atos. Ela critica o que chama de manipulao poltica do crime. A omisso continua. A morte deles vai virar palanque poltico, mas ningum chega nem perto de uma criana dessas. Segundo Yvonne, dos cerca 62 sobreviventes que andavam pela Candelria, metade continua nas ruas o restante foi absorvido por projetos que cuidam de crianas. Autora do livro As Ovelhas Desgarradas e seus Algozes (Editora Civilizao Brasileira), que conta a saga dessa gerao perdida nas ruas, ela no cr na punio dos responsveis pela chacina. Quatro pessoas esto presas, acusadas de participar da chacina. Trs so PMs e um serralheiro. Apenas o tenente Marcelo Cortes dever ir a jri popular at dezembro. O promotor Jos Muios Pieiro Filho, 37, disse ontem ter informaes de que, em princpio, apenas o tenente no recorrer ao Tribunal de Justia da sentena judicial de primeira instncia. Em 28 de junho passado, a juza do 2 Tribunal do Jri, Maria Lcia Capiberibe, decidiu que os quatro acusados vo a jri popular. Pieiro disse que trs devero entrar com recurso contra a deciso. O prazo para recorrer termina na prxima tera-feira. Se forem confirmados, desembargadores do TJ analisaro recursos dos trs. Neste caso, Pieiro disse que levar pelo menos mais um ano at que desembargadores confirmem ou no a sentena da juza de mandar os acusados a jri popular. Pieiro e o promotor Maurcio Assayag, 35, se preparam para denunciar Justia mais quatro ou cinco pessoas, tambm acusadas de participar da chacina. No mnimo oito pessoas tiveram participao na chacina, disse Pieiro. Ele no quis revelar os nomes dos futuros denunciados. A denncia ser baseada em novas investigaes policiais. Em maio, foi aberto inqurito policial para investigar o caso da apreenso, no interior do Estado do Rio, de uma arma utilizada na chacina. A arma foi encontrada com o soldado da PM Arlindo Lisboa Afonso Jnior, que dever ser um dos novos denunciados. Exame pericial constatou que ela foi utilizada na chacina. Alm do tenente Cortes, aguardam julgamento os soldados Marcos Vinicius Emmanuel e Cludio Andrade dos Santos e o serralheiro Jurandir Gomes de Frana. Chacina Chacina da Candelria como ficou conhecido o assassinato de oito meninos de rua ocorrido na madrugada do dia 23 de julho do ano passado. Cerca de 50 meninos dormiam sob a marquise de um prdio na praa Pio 10, a 50 metros da igreja da Candelria, quando 0h30 foram vtimas de disparos de quatro ou cinco homens encapuzados. Mais de 40 sobreviventes disseram que eram ameaados de morte por PMs. Segundo os meninos interrogados pela polcia, policiais militares do 5 Batalho fizeram ameaas porque no dia anterior um dos menores apedrejara um Opala da corporao. No mesmo dia da chacina, noite, a Polcia Civil identificou trs soldados da PM como suspeitos. Eles haviam sido apontados pelos menores em fichas com retratos de policiais. O episdio teve repercusso internacional. No Brasil, entidades de defesa da criana, parlamentares, artistas e organizaes protestaram contra o massacre. Um ano e sete meses antes, relatrio da CPI (Comisso Parlamentar de Inqurito) do Menor havia divulgado uma relao de 77 pessoas envolvidas em extermnio de crianas e adolescentes no Estado do Rio. Doze dos nomes eram de policiais militares.","Manifestao lembra 1 ano da Candelria Educadora afirma que h manipulao poltica do crime RONI LIMA - Da Sucursal do Rio Hoje faz um ano que aconteceu a chacina da Candelria- que resultou na morte de 8 meninos de rua. Cerca de 50 garotos dormiam sob a marquise de um prdio , perto da igreja da Candelria quanto foram metralhados. Alm de um ato ecumnico, constam manifestaes de ONGs e de polticos da Frente Brasil Popular. A artista plstica , Yvonne Bezerra de Mello, que trabalha com meninos de rua, havia programado uma viglia no local , mas desistiu de participar por causa de manipulaes polticas.Ela no cr que os responsveis sejam punidos. J esto presos quatro dos acusados: trs PMs e um serralheiro. A juza Maria Lcia Capiberibe decidiu que os quatro vo a jri popular. Mas o promotor Jos Muios Pieiro disse que trs devero entrar com recurso. Pieiro e o promotor Maurcio Assayag se preparam para denunciar quatro ou cinco envolvidos. Os garotos sobreviventes denunciaram as ameaas sofridas por policiais. J antes, o relatrio da CPI do Menor tinha relacionado 77 pessoas envolvidos com extermnio de crianas e adolescentes, dos quais 12 eram menores. O episdio teve repercusso internacional. " br94no06-12,"Os 13 de Nova Braslia MARCELO LEITE A histeria com a violncia no Rio, desencadeada por uma chacina, representa oportunidade nica para refletir sobre a responsabilidade de meios de comunicao e governantes. Com o ar compungido que cabe portar em face da tragdia sbita e artificialmente notria, todos eles concordam em que preciso fazer alguma coisa. E deram incio a uma das mais revoltantes exibies pblicas de oportunismo de que se tem notcia no Brasil, traficando com a segurana e o destino de centenas de milhares de habitantes dos temidos morros. Parece at que antes do assassinato de 13 pobres diabos traficantes, talvez, mas nascidos e mortos pobres diabos na favela de Nova Braslia no havia problemas no Rio. Ou, melhor dizendo, antes de a eleio para governador encaminhar-se a um segundo turno em que um candidato da ordem henriquista enfrenta um representante da barbrie pedetista mais uma de tantas mistificaes que despolitizam esta eleio, confinando-a a um jogo de imagens vazias, como a suposta guerra religiosa em So Paulo. Para o bem e para o mal, a imprensa o teatro em que se encena esse drama macabro. A melhor indicao de que a matana daquele 18 de outubro foi somente um pretexto para pr o Urutu em marcha que ningum mais se lembra dela. A sociedade nada sabe, e aparentemente nada quer saber, sobre as responsabilidades por aquele crime brbaro. Quando muito, fica a memria confusa daquela fileira de corpos jovens e mulatos enfileirados, sob a inscrio Obrigado, Senhor, por mais um dia. Mais uma imagem que se funde na penumbra de tantas primeiras pginas, em que j no se distingue Carandiru de Vigrio Geral, Candelria de Francisco Morato. Posso at cometer alguma injustia, mas no me lembro de algum jornal ter noticiado as concluses da investigao. No h sequer um responsvel preso ou indiciado. O pblico desconhece se foram realizadas autpsias nos 13 mortos, providncia elementar quando se suspeita de que policiais tenham executado os jovens a sangue frio; se feitas, que resultados tiveram. Nenhum jornal se preocupou ainda, passadas quase trs semanas, em informar seus leitores sobre isso. Em contrapartida, avolumam-se informaes descartveis, como a espessura do muro construdo na delegacia atacada antes da chacina. Atenta-se para os mnimos detalhes das reunies em que Itamar Franco planeja o Vietn que vai legar a seu sucessor, com o mesmo afinco com que se persegue a identidade da namorada de ocasio daquele que j no parece mais enxergar-se como presidente da Repblica, se que algum dia o fez. De informao, que bom, muito pouco. A revista Veja levantou a pista, domingo passado, de que na origem da mirabolante idia de uma interveno federal no Rio estava um famigerado amigo presidencial, Jos de Castro, hoje instalado na Telerj. Estranhamente, os jornais no foram atrs. Antes disso, tinha chegado a elogiar a Folha por sua postura equilibrada em relao s mortes na favela Nova Braslia. Na crtica interna que circula diariamente na Redao, referente edio de 19 de outubro, anotei que o jornal se destacava dos outros no tratamento mais distanciado das informaes da polcia, na caracterizao inequvoca da invaso como uma represlia e na publicao de um editorial duro, o nico do dia dedicado ao acontecimento. No basta, porm, marcar posio. Um grande jornal capaz de converter convices editoriais em pautas audaciosas para reportagens e em mpeto investigativo, seja nos morros do Rio, seja nos gabinetes de Braslia. Neste aspecto, a Folha comeava a ficar para trs. Os dois jornais de maior prestgio no Rio, O Globo e Jornal do Brasil, punham lenha na fogueira da interveno federal. E isso depois de terem publicado registros bem mais discretos que os dirios de So Paulo sobre a matana em Nova Braslia. Com a perspectiva de ver batalhes de soldados expostos mira dos traficantes entrincheirados, parece que se assanharam. Partiram ento para manchetes enviesadas como a de O Globo em 25 de outubro, Itamar tenta apoio de Nilo contra o crime (ou seja, subentende-se que o governador fluminense no estaria propenso a d-lo). A nica explicao plausvel para tal comportamento devastadora para um rgo de informao pblica: dificultar a vida do governador e, por tabela, a do candidato de seu partido, Anthony Garotinho (PDT) no segundo turno. Paralelamente, O Estado de S.Paulo, concorrente direto da Folha at em uma posio mais favorvel interveno, mantinha seu noticirio relativamente imune. Publicava reportagens informativas, de um modo geral bem mais interessantes e detalhadas do que as da Folha. Esta permanecia presa de uma letargia que no se sabia se provinha de falta de informao ou de espao (o jornal saa de uma crise de fornecimento de papel que mutilara seus cadernos). Assim seguiu at a ltima quarta-feira, um dia dos mortos em que poucos se lembraram dos 13 de Nova Braslia. Foi quando a Folha resolveu injetar um pouco de adrenalina na cobertura do recm-assinado convnio Itamar/Nilo e meteu os ps pelas mos, com a manchete Nilo quer limitar ao do Exrcito. Supostamente a sustent-la havia uma boa entrevista da Sucursal do Rio, em que Nilo se escudava em raciocnios formalistas e constitucionais para tentar mostrar, muito na defensiva, que sua autoridade no havia sido arranhada. Mas a primeira pgina da Folha o apresentava como um homem de bravatas: Governador diz que manda na segurana do Rio, dizia o subttulo (ou linha-fina, no jargo dos jornalistas). Na edio seguinte, de quinta-feira, o jornal reencontrou o caminho da sobriedade e do melhor jornalismo. Publicou cinco pginas de reportagens, trouxe textos crticos e investigativos at de dois diretores de sucursal (Rio e Braslia). Anotei porm na crtica interna da edio que o Estado, mesmo ficando para trs no aspecto interpretativo, ainda apresentava desempenho melhor na quantidade de informaes. Os prximos dias e semanas diro quem sair vencedor dessa guerra (porque da outra, a que j come solta h muito tempo nos morros do Rio, tenho certeza de que sairo derrotados os pobres diabos de sempre). Mas tomo a liberdade de reproduzir aqui o fecho de minhas observaes dirigidas Redao na ltima quarta-feira, pois acho que se aplicam bem a toda a imprensa: Se me alongo nestes comentrios, porque no quero ver a Folha acusada de apostar no fracasso da tentativa de pr ordem no Rio apenas para obter manchetes mais vibrantes.","Os 13 de Nova Braslia MARCELO LEITE ( ombudsman da Folha de So Paulo) Com a chacina de 13 pessoas na favela Nova Braslia e o conseqente clima de histeria por causa da violncia no Rio , criou-se tima oportunidade para refletir a respeito da responsabilidade da mdia e dos governantes. Com a tragdia, todos certamente concordam que preciso tomar providncia. E ela veio na forma de exibicionismo comprometedor para os milhares de habitantes dos morros. A impresso que se deu que , antes da chacina dos 13, no havia problemas no Rio. Para o bem e para o mal, o drama passa pela imprensa. A marca de uma conscincia sobre o problema parece no ter ficado registrada na populao. Talvez a imagem de corpos enfileirados. Como a de Carandiru e outras. Posso at estar cometendo injustia, mas na minha condio de ombudsman , no me lembro de nenhum jornal ter noticiado as concluses da investigao. No h responsvel preso ou indiciado; nada se sabe sobre as necessrias autpsias nos 13 corpos. Em contrapartida, sobram informaes impertinentes, como a espessura do muro construdo na delegacia atacada antes da chacina. De reais informaes, quase nada. A revista Veja levantou a pista de que a idia de interveno federal provinha de um amigo presidencial, Jos de Castro. Os jornais no quiseram saber. Antes, cheguei a elogiar a Folha pelo seu equilbrio em noticiar a chacina. Mas necessrio avanar; um jornal capaz de transformar convices editoriais em reportagens investigativas em qualquer lugar. No Rio, O Globo e Jornal do Brasil estimulavam a interveno federal. Pareciam interessados em ver soldados sob a mira de traficantes. Uma manchete de O Globo Itamar tenta apoio de Nilo contra o crime (depreende-se que o governador no quisesse) sugere que a inteno era prejudicar o governador. Paralelamente, O Estado de S.Paulo publicava reportagens informativas mais interessantes e detalhadas do que as da Folha. Mesmo quando a Folha tentou uma reao cobrindo o recm-assinado convnio Itamar/Nilo, no foi feliz. Uma entrevista com Nilo em que ele explicava com raciocnios adequados como sua autoridade no tinha sido arranhada perdeu substncia com esta manchete: Governador diz que manda na segurana do Rio . J na edio seguinte, o jornal foi sbrio e publicou cinco reportagens com textos crticos e investigativos . Mesmo assim, anotei nos meus comentrios de circulao interna na Folha que O Estado de S.Paulo , sem igualar no aspecto interpretativo, era melhor na quantidade de informaes. " di94ou16-17,"Sensao contraditria de vitria e derrota Que a verso `ps-moderna' da `ordem e progresso' no vire pesadelo movido a Kafka, droga e `Consenso de Washington' MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Terminei a semana das eleies com sensaes contraditrias de derrota e vitria. A pergunta clssica sobre as sociedades contemporneas heterogneas ainda martela minha cabea. Afinal, quem somos ns? O distanciamento emocional impossvel, mas a razo crtica'' continua funcionando com toda a fora. Os fatos so passveis de muitas leituras, mas algumas so inescapveis e trazem nelas possibilidades de futuro. O fato mais ostensivo destas eleies foi a derrota de Lula e a vitria de FHC. Uma primeira leitura mostra que Lula foi derrotado porque aumentou muito o seu ndice de rejeio, baseado em preconceitos destilados pela mdia e induzidos por uma cultura de senhoritos'' e de colonizados mentais. Por sua vez, a vitria de FHC teve todos os apoios, legtimos e at alguns ilegtimos. Foi louvada em prosa (propaganda) e verso (mercadolgico) pela grande imprensa conservadora, tendo at direito a rvore genealgica'', publicada num caderno de um dos grandes jornais do Rio de Janeiro. Supostamente, governar com a maioria esmagadora dos poderes (econmico, poltico e cultural) e o apoio da opinio pblica. Ser to simples? Por quanto tempo? Uma segunda leitura indica outras coisas. Lula teve 28% dos votos e a esquerda sozinha na estrada'' a mais forte da Amrica Latina e do mundo ocidental e cristo''. Por outro lado, as alianas de FHC e a ideologia expressa em seu projeto de governo so incompatveis, mas ningum discutiu seriamente qualquer projeto de governo, nem as reais condies de governabilidade. Esta ltima, ora supe uma Presidncia imperial (sobre um Estado devastado?), ora um esquema de alianas precrio e insuficiente que torna a hegemonia poltica do presidente eleito e de seu partido tericamente inviveis. A maioria da Cmara continuar com o PMDB e o PFL, partidos regionalizados e sem lideranas nacionais capazes de ser unjidas pelas urnas na disputa presidencial. Eles representam mais um estilhaamento da nao e dos interesses do que qualquer consenso'' em torno de um projeto de Estado ou de sociedade futura, como se viu na malograda reviso constitucional''. Assim, qualquer que seja a leitura possvel, a ambiguidade tanto da derrota como da vitria so inescapveis. Um segundo fato, evidente, mas pouco comentado, foi que a heterogeneidade das condies regionais, sociais e culturais produziu efeitos cruzados inesperados e alianas locais impossveis de extrapolar escala nacional. Os resultados mais amargos foram desde um grande nmero de abstenes e votos nulos e brancos at o surgimento de novos personagens polticos patolgicos. Ambos os fenmenos ocorreram sobretudo nas grandes metrpoles. Uma primeira leitura, de natureza estrutural, indicaria que o Brasil nunca ser uma sociedade politicamente democrtica enquanto suas imensas massas pobres no forem mais escolarizadas e socialmente mais homogneas. Sim, mas e qual a ponte entre a situao estrutural e o quadro eleitoral? Uma segunda leitura mais atenta da representao poltica mostra que no houve correlao clara entre condies econmicas e sociais e o carter tico, poltico e ideolgico da representao popular. Por outro lado, os fenmenos patolgicos no se prendem sociedade pobre, mas sobretudo a segmentos da classe mdia urbana que s o olho atravessado de Nelson Rodrigues poderia descrever com preciso. Este o ponto mais delicado e mais difcil de decifrar das vitrias e derrotas. Aparentemente, a situao de classe, sexo, raa e idade da populao, to explorada nas pesquisas de opinio nos Estados Unidos (de quem copiamos toda a parafernlia), no explicativa dos resultados eleitorais. O poder econmico, poltico e cultural das elites explica muita coisa nesta eleio casada, exceto o fato de que ela no foi casada'' em nenhum sentido social mais profundo. At prova em contrrio, as bases tericas de interpretao possvel das nossas vitrias e derrotas polticas no podem ser fundadas nos grandes clssicos, Marx, Tocqueville e Weber, seno numa referncia estrutural muito ampla. Os dois candidatos mais importantes Presidncia da Repblica so em si mesmos personagens peculiares na histria poltica brasileira. A explorao simblica das suas biografias se deu num nvel aparentemente civilizado, mas profundamente mistificador. Para um analista habituado a ler por baixo da superfcie fcil entender a conjuntura favorvel (econmica e poltica, nacional e internacional) que deu a vitria a FHC. O que no fcil de entender porque a direita brasileira, pela segunda vez, teve de investir num personagem que no a representa cabalmente e as razes simblicas que levam a que nenhuma figura politicamente relevante se reconhea como conservadora e de direita, com raras e (des)honrosas excees. S os humoristas e caricaturistas deste pas parecem ser capazes de exprimir a imensa mistificao que significa converter interesses legtimos das classes dominantes em imagens de propaganda de supostos ideais de equilbrio e maturidade inteiramente fora de lugar. Esperemos que a nossa verso ps-moderna'' da ordem e progresso'' no se converta mais uma vez num pesadelo movido a Kafka, droga e Consenso de Washington''. A mistura pode ser extremamente dissolvente do que resta desta nova tentativa de modernizao conservadora''. A minha prpria eleio um desafio s vises convencionais. Aparentemente, no fui eleita apenas por uma minoria de esquerda intelectualizada e seus familiares, mas pelo que represento simbolicamente para uma populao mais ampla que inclui desvalidos e indignados de vrias classes sociais. Honradez e desassombro so caractersticas da minha biografia que encontra eco na indignao de uma parcela da populao do Rio de Janeiro. Mas a elas responde tambm, de forma compensatria, a conscincia culpada de certas elites modernas'' que queriam votar num projeto liberal-conservador, mas com um espcie de fiscal garantido''. As minhas imagens na mdia: em particular as lgrimas do Plano Cruzado e a minha personagem da Escolinha do Professor Raimundo'' tambm parecem ter contribudo de forma ambgua para minha eleio. Ningum tem muito claro (nem eu) o efeito dessas imagens na amplitude'' da minha representao popular. Assim, no exerccio do meu mandato no me deixarei levar pelas imagens'', mas pela convico profunda de que a tica na poltica se pratica tendo, mais do que uma histria de vida, um projeto e um enquadramento poltico-partidrio capazes de dar sustentao a uma biografia. Felizmente para mim e para os meus representados, tive o cuidado de escolher bem. Estou e sou o PT. Escolhi e fui escolhida e, apesar de que muitos dos que votaram em mim no simpatizam com o meu partido, a nica garantia real que eles tm de que no trairei a representao que me deram justamente por estar no PT. No apenas, como dizem os nossos slogans, porque o PT no tem ladro'', mas sobretudo porque ele se compe de uma parcela tica de trs mundos que me proponho representar: o mundo das contra-elites'' (conscincia crtica), o do trabalho (conscincia de organizao e luta) e o terceiro mundo (a luta pela sobrevivncia e o desejo de justia social). o desejo profundo e a vontade poltica de unir esses trs mundos e construir uma nao onde todos caibam como cidados que me anima e aos meus companheiros de partido. Nele temos representantes ilustres dos trs mundos. Eu, apesar de pertencer ao primeiro'', no me sinto melhor nem mais preparada que os demais. evidente que, apesar de Mercadante e eu sermos mais prximos socialmente, nossa admirao por Lula e Benedita no toa e reflete o peso indiscutvel e a qualidade excepcional das lideranas originadas no segundo e no terceiro mundos dentro do PT. A nao, convm lembrar, no apenas injusta, nem o pas est perto da maturidade, como sustentou o candidato vencedor. O futuro democrtico do Brasil depende da capacidade que os representantes desses trs mundos tenham de desfazer o n do subdesenvolvimento e liderar a luta pela justia social e pela tica poltica. nesta luta que estou engajada desde jovem e agora mais do que nunca me sinto em casa e posso considerar-me apenas um pequeno ponto de representao desta imensa rede de solidariedade social e nacional que, embora maior que o PT, passa necessariamente por ele. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).","Sensao contraditria de vitria e derrota Que a verso ps-moderna da ordem e progresso no vire pesadelo movido a Kafka, droga e Consenso de Washington MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Este fim de eleies me imbuiu de sensaes contraditrias de derrota e vitria. Ainda me martela a inquietao sobre quem somos ns. Se a proximidade dos fatos no permite, a imparcialidade da razo permite considerar vrios ngulos que a situao oferece. O fato que mais sobressai nestas eleies a derrota de Lula para FHC. primeira vista, a derrota de Lula se deveu rejeio motivada por preconceitos estimulados pela mdia e cultivados pela tradio bacharelesca. FHC teve apoios legtimos e ilegtimos. Foi decantada pela grande imprensa , inclusive com direito a rvore genealgica. Lula teve 28% dos votos certamente vindos da maior representao de esquerda da Amrica .Latina. Outra possvel leitura que as alianas de FHC e a ideologia expressa em seu projeto de governo so incompatveis, mas ningum discutiu seriamente as reais condies de governabilidade, a qual supe ora uma presidncia imperial , ora um esquema de alianas precrio e insuficiente. Outro fato , pouco comentado, que a diversidade de condies regionais, culturais e sociais cruzou alianas locais incapazes de alcanar escala nacional. Seria possvel ver tambm que o Brasil jamais poder ser plenamente democrtico enquanto o quadro de escolaridade e de heterogeneidade social se mantiver como est. O poder econmico, poltico e cultural das elites esclarece muitas coisas nestas eleies, salvo que elas no tm fundamentao social profunda. possvel entender a conjuntura favorvel que elegeu FHC ; s no se entende como a direita escolheu outra vez uma personagem que no a representa cabalmente. Minha prpria eleio um desafio ao convencionalismo. Mais do que por uma esquerda intelectualizada e seus familiares, fui eleita pelo que represento simbolicamente para uma populao de desvalidos e indignados de vrias classes. Posso acrescentar honradez e coragem na minha biografia, que levarei para o exerccio do meu mandato . Muitos que votaram em mim no simpatizam com o meu partido- o PT, mas posso garantir-lhes que no trairei a representao , at pelo fato de ser deste partido. Sobretudo porque ele se compe de uma parcela tica de trs que pretendo representar: o das contra-elites (pela conscincia crtica), o do trabalho ( convico de organizao e luta) e o terceiro mundo ( o da luta pela sobrevivncia e o anseio de justia social). O futuro democrtico do Brasil depende da competncia dos seus representantes de resolver o n dessa trade. " ce94se05-35,"Conhea a ntegra da carta Entreguei na tarde de ontem ao presidente Itamar Franco meu pedido de dispensa do cargo de Ministro da Fazenda. Sei que devo uma explicao aos brasileiros que me honraram com a sua confiana. Na noite da ltima quinta-feira, uma conversa de carter inteiramente particular que eu mantinha com o jornalista Carlos Monforte foi levada ao ar sem o meu conhecimento ou consentimento. Fui vtima de uma falha eletrnica. Aguardava o momento de comear a vigsima-quinta entrevista daquele dia em que o real completava dois meses. Estava exausto. Enquanto esperava que fossem sanados problemas tcnicos da emissora, tive uma conversa informal com uma pessoa a que estou ligado por laos de parentesco e antiga convivncia. Todos entendem que conversas desse tipo nem sempre se orientam pela exatido dos conceitos ou pelo cuidado na apresentao dos argumentos. Todos sabem tambm que, ao longo dos ltimos meses, vinha-me dedicando com grande esforo quela parte da minha tarefa que julgava ser a mais importante: a divulgao do Plano Real e o trabalho de informar e orientar a populao sobre as mudanas na economia. Nessa verdadeira maratona que incluiu muitas viagens pelo pas e um sem-nmero de conferncias, palestras e entrevistas, fui provavelmente vtima, alm do cansao fsico, de um processo em que a excessiva exposio mdia e ao calor popular inflaram minha vaidade. Assumo inteira responsabilidade por aquele momento de fraqueza que me levou a dizer palavras que no refletem o que penso ou o que sinto. Em alguns daqueles comentrios nem eu mesmo me reconheco. Posso ter dito coisas irrefletidas, mas estou seguro de que, na minha gesto, no fiz nada de errado. Sem querer justificar o injustificvel, repudio os trechos da conversa em que deixo transparecer uma opinio vaidosa e arrogante sobre mim e sobre o meu trabalho frente do Ministrio da Fazenda. No esse o comportamento que sempre tive, no essa a minha regra de conduta. Do que aconteceu, retiro, contudo, uma lio de humildade. Ao contrrio do que o apoio popular sugere, sou um ser humano como qualquer outro, com as mesmas limitaes e defeitos, com os seus momentos de fraqueza. E, por isso mesmo, no hesito em pedir desculpas quando erro. Fao-o agora, por tudo o que possa ter decepcionado quem quer que seja. Fao-o, tambm, pela referncia aos empresrios brasileiros ao generalizar comportamentos individuais que j havia condenado. No posso deixar de explicar algumas passagens da conversa tornada pblica. Minhas palavras, pela maneira confusa e entrecortada com que ficaram registradas, esto-se prestando a interpretaes e acusaes precipitadas. Sei que provoquei um choque quando disse que no teria escrpulos em mostrar o que bom e esconder o que ruim. Do que estava falando? Estava simplesmente me referindo convenincia de divulgar, a cada semana, o IPC-r. Contrariamente a uma viso tcnica, no hesitaria em divulgar os ndices semanais se isto servisse ao propsito de manter a tendncia de baixa dos preos. Tinha plena convico de que, caso no mostrasse a tendncia fortemente declinante da inflao, conforme indicavam todos os demais ndices, estaramos dando munio para aumentos preventivos de preos, com base em uma inflao que na verdade no existiu. Tinha em mente o caso de algumas empresas denunciadas ao Ministrio da Fazenda por tentarem antecipar aumentos de preos antes mesmo da divulgao oficial do IPC-r de agosto. Mesmo considerando que a primeira acepo da palavra escrpulo hesitao ou dvida da conscincia, sem qualquer conotao moral, compreendo que a frase em que usei a palavra, citada fora do contexto e sem a explicao dada por esse pano-de-fundo, tenha causado surpresa e consternao. Em nenhum momento, menti populao. Em nenhum momento, escondi informaes. Em nenhum momento, manipulei ou deixei que manipulassem ndices de preco. Em nenhum momento, deixei de me conduzir de acordo com princpios ticos e religiosos que sempre pautaram a minha vida particular e pblica. Quando fiz o comentrio presunoso de que o governo precisa muito mais de mim do que eu dele, estava respondendo a uma pergunta sobre minha eventual participao em futuro governo, e no no atual governo. Fao questo de retificar a impresso falsa que se criou a partir dessa passagem porque prezo de forma muito especial os sentimentos de respeito e lealdade que me ligam ao presidente Itamar Franco. Meus comentrios pessoais sobre os possveis efeitos do Plano Real nas eleies e sobre a cobertura do plano pelos meios de comunicao no foram mais do que impresses superficiais. Eles carecem de qualquer base concreta que os possam justificar, a no ser pela associao inevitvel que se tem feito entre a candidatura do meu antecessor no Ministrio da Fazenda e o Plano Real, em razo de o senador Fernando Henrique Cardoso ter sido o idealizador e o executor inicial do programa de estabilizao. As minhas fraquezas no podem prejudicar o que o mais importante neste momento, que o xito do Plano Real. Por isso, pedi demisso. Essa a contribuio que posso dar continuidade do plano e a maior demonstrao de lealdade ao povo que confiou em mim. Durante os cinco meses em que estive frente do Ministrio da Fazenda, procurei, dentro das minhas possibilidades, contribuir para a implementao de um plano que slido, equilibrado e capaz de trazer a estabilidade ao Brasil e acabar com o pesado sacrifcio imposto pela inflao aos mais pobres. Identifiquei na explicao do plano e na orientao das pessoas mais simples, daqueles que sempre foram esquecidos nas grandes mudanas tentadas na nossa economia, a minha principal misso. Nunca faltei com a verdade ou com sinceridade que garantiam o nico instrumento de que eu dispunha para a ao, que a credibilidade. Fui por vezes criticado por falar demais em pblico, por expressar com franqueza os meus sentimentos e opinies, por adiantar idias fora dos procedimentos tradicionais, mas jamais por dar falsas esperanas ou criar expectativas descabidas. Trabalhei at o limite das minhas foras, no poupando incontveis horas extras de esforo, muitas delas roubadas ao convvio com minha famlia. Nos fins-de-semana em que poderia descansar, viajei pelo Brasil para levar, a Estados e cidades que h muito no eram visitados por um ministro da Fazenda, ou que nunca o tinham sido, informaes sobre as mudanas na economia e uma palavra de confiana no Plano Real e na fora dos cidados. Procurei transformar o Ministrio da Fazenda em um instrumento de mobilizao social em torno dos direitos dos consumidores e da luta contra a inflao, porque acreditei desde o princpio que nada se faria sem a participao do povo brasileiro, especialmente das donas de casa, dos aposentados, dos estudantes, dos trabalhadores que finalmente comearam a ter motivos verdadeiros para confiar no futuro do pas que constroem com o seu esforo. A todos peo que sigam engajados nesta luta que do Brasil inteiro; que no se desmobilizem nunca; que continuem a participar do Plano Real com o mesmo esprito cvico que est mudando a face do Brasil para melhor; e que dem ao meu sucessor o mesmo apoio que me incentivou e me fez ter orgulho do que estava fazendo. O Plano Real uma obra coletiva da Nao e tem sua continuidade assegurada pelo xito que j obteve, pela qualidade e competncia da equipe econmica que ajudou a conceb-lo e est ajudando a implement-lo, e pelo compromisso do governo do presidente Itamar Franco com a estabilidade econmica como condio para o desenvolvimento e a justia social. Se pude ter algum sucesso no exerccio das minhas funes e principalmente na tarefa de informar e orientar a populao, foi porque contei sempre com um grande apoio da imprensa falada e escrita deste pas, muito especialmente de jornalistas que me acompanharam desde o primeiro dia. A todos dirijo uma expresso de agradecimento e fao uma homenagem sincera pelo seu profissionalismo. Finalmente, quero reservar uma palavra de carinho a minha famlia, a Marisa, minha mulher, e aos meus filhos Cristina, Isabel, Bernardo e Mariana. Eles so a razo de tudo o que fao, de tudo aquilo em que acredito; deles recebo a fora que me ajudou sempre e que me ajuda agora, neste momento em que posso retornar ao convvio para com eles compartilhar estas lies de vida que ainda aprendo e a satisfao pelo que pude realizar. Ao iniciar a minha experincia no Ministrio da Fazenda, no momento de receber o cargo, pedi a Deus que me desse a fora da sua graa, a qual nunca veio a me faltar nestes meses. Agora que me despeo deste ministrio e retorno a minha vida de funcionrio e professor, quero evocar, como melhor fecho desta minha passagem pela vida pblica, duas palavras de Deus na Bblia. A primeira, que resume tudo o que sinto nesta hora, do livro de J, quando o grande sofredor diz: O Senhor deu, o Senhor tirou. Bendito seja o nome do Senhor. A segunda citao do mesmo salmo que evoquei no dia de minha posse, o Salmo 32, que transcrevo, desta vez, de forma mais completa: Feliz o povo cujo Deus o Senhor e a nao que escolheu por sua herana. Dos altos cus o Senhor olha e observa; Ele se inclina para olhar todos os homens. Ele contempla do lugar onde reside e v a todos os que habitam sobre a terra. Ele formou o corao de cada um e por todos os seus atos se interessa. O Senhor desfaz os planos das naes e os projetos que os povos se propem mas os desgnios do Senhor so para sempre os pensamentos que Ele traz no corao, de gerao em gerao vo perdurar. No Senhor ns esperamos confiantes, porque Ele o nosso auxlio e proteo. Por isso o nosso corao se alegra Nele, Seu santo nome nossa nica esperana. Sobre ns, venha, Senhor, a Vossa graa, da mesma forma que em Vs ns esperamos.","Conhea a ntegra da carta Entreguei ao presidente Itamar Franco meu pedido de demisso do cargo de ministro da Fazenda. E agora dou a necessria explicao aos brasileiros que me honraram com sua confiana. Uma conversa particular que eu mantinha com o jornalista Carlos Monforte , por causa de uma falha eletrnica, foi levada ao ar sem meu consentimento e conhecimento. Os laos de parentesco com o jornalista e a longa convivncia facilitaram uma conversa solta , sem preocupao com a exatido dos conceitos e argumentos. A tarefa de divulgar o Plano Real , que me colocava em contato com o povo, e a exposio mdia insuflaram possivelmente a minha vaidade , a ponto de no vigiar minhas palavras. Mas assumo total responsabilidade por aquela demonstrao de fraqueza . Sem querer justificar meu ato, repudio a parte em que deixo transparecer arrogncia por minha atuao no Ministrio da Fazenda. Disso tudo, porm, aprendo uma lio de humildade: como qualquer ser humano , tenho limitaes de fraquezas . No hesito, pois, a pedir desculpas . Minha fala saiu de maneira confusa e entrecortada e , por isso, se prestou a acusaes precipitadas. Reconheo o choque provocado quando disse que no teria escrpulos em mostrar o que bom e esconder o que ruim. Na verdade , estava me referindo convenincia de divulgar semanalmente o IPC-r. Caso no mostrasse a tendncia recessiva da inflao, estaramos estimulando aumentos preventivos dos preosque era o caso de algumas empresas denunciadas ao Ministrio da Fazenda. Em nenhum momento , faltei aos princpios ticos e religiosos , que so parmetros para a minha vida particular e pblica. A frase o governo precisa muito mais de mim do que eu dele de tom presunoso- era uma resposta sobre minha participao num futuro governo e no no atual. Os comentrios que fiz sobre os efeitos do Plano Real nas eleies no passaram de impresses superficiais. A verdade que minhas fraquezas no podem prejudicar o Plano ; da o motivo do pedido de demisso. Posso dizer que nunca faltei com a verdade , fiadora da credibilidade para atuar frente ao Ministrio . Trabalhei com afinco na divulgao do Plano Real, sacrificando fins de semanas, que seriam reservados famlia, para levar a outros Estados informaes sobre ele. E ainda agora, peo a todos que continuem empenhados nessa luta , que est modificando positivamente a face do Brasil. Da minha parte, se pude ter algum sucesso principalmente nesta misso catequtica, foi porque contei com o apoio da imprensa , qual dirijo meus agradecimentos. E uma palavra final de carinho minha famlia esposa e filhos-- , a cujo convvio retorno , e com quem vou compartilhar estas lies de vida que aprendi. " in96ab26-b,"PEQUIM - Os presidentes da China, Jiang Zemin, e da Rssia, Boris Yeltsin, anunciaram ontem em Pequim uma parceria estratgica, definida por Yeltsin como um modelo de relaes para outros pases. Num comunicado conjunto, os chefes de Estado alertaram contra naes que tentam dominar o mundo ps-Guerra Fria, recado claro aos Estados Unidos e seus aliados da Organizao do Tratado do Atlntico Norte (Otan, aliana militar ocidental). Os chanceleres dos dois pases frisaram, no entanto, que a nova parceria no uma aliana destinada a fazer frente a outras potncias. Alm do comunicado conjunto, Yeltsin e Jiang assinaram 13 acordos. Entre eles, um de cooperao para desenvolvimento de tecnologia militar e maior intercmbio entre suas Foras Armadas. Tambm estabeleceram uma linha direta de telefone ligando os dois gabinetes. Os dois presidentes disseram ainda que pretendem assinar um tratado para retirar seus soldados da fronteira comum. Yeltsin disse imprensa que a China vai aderir s conversaes do G-7 (grupo dos sete pases mais ricos) e Rssia sobre o banimento de testes nucleares. Mas de acordo com um porta-voz do governo chins, a histria no bem assim. Acho que preciso haver mais estudos e discusses, disse o porta-voz Shen Guofang. A China insiste na permisso de se realizar exploses nucleares pacficas depois da assinatura do tratado. Hegemonia - A parceria entre China e Rssia foi estabelecida um dia depois da divulgao, em Londres, do relatrio anual do Instituto Internacional de Estudos Estratgico (IIEE). O relatrio destaca a volta da diplomacia da fora, usada principalmente pelos Estados Unidos, potncia hegemnica no mundo depois do colapso do comunismo. (Apesar de apontar tambm, como exemplo desta diplomacia, as manobras militares da China no Estreito de Formosa.) Presses - No comunicado, Jiang e Yeltsin dizem que hegemonia, poderes polticos e repetida imposio de presses sobre outros pases continuam a ocorrer. A poltica de blocos tomou espao de outras manifestaes. Em resposta, a China diz considerar a campanha militar russa na Chechnia um assunto interno; a Rssia assume a mesma posio em relao a Formosa e ao Tibete. A questo da expanso da Otan para os pases da Europa Central e do Leste, a que Yeltsin se ope, tambm foi tratada pelos dois chefes de Estado. No que diz respeito ampliao da Otan, o presidente Jiang Zemin decididamente compartilha da opinio da Rssia de que a expanso da Otan em direo s suas fronteiras inadmissvel, disse Yeltsin. Para diplomatas, o acordo marca o pice dos laos entre Pequim e Moscou desde que a aliana sino-sovitica desmoronou nos anos 60, em meio rivalidade pela supremacia do mundo comunista e a conflitos de fronteira. Queremos que as relaes entre Rssia e China amaduream de modo que possam resistir a qualquer reviravolta, disse Yeltsin. As relaes de amizade sino-russas entraram numa nova era, confirmou Jiang. Yeltsin, que termina hoje a visita de trs dias China, no perdeu a oportunidade de alfinetar seus adversrios comunistas. Sem nenhum constrangimento, o presidente russo disse para uma platia formada pela elite comunista chinesa que uma vitria comunista nas eleies de junho na Rssia seria uma tragdia para o pas. ","Os presidentes da China e da Rssia, Jiang Zemin e Boris Yeltsin, firmaram uma parceria estratgica, designada por Yeltsin com um modelo de relaes para outros pases. Num comunicado conjunto , previnem as naes que tentam dominar o mundo ps-Guerra Fria--- Estados Unidos e aliados do Otan. Alm desse, assinaram 13 acordos , entre os quais, um de cooperao para desenvolvimento de tecnologia militar e maior intercmbio entre as suas Foras Armadas. Estabeleceram, tambm, uma ligao telefnica direta entre os dois gabinetes , e pretendem retirar as tropas da fronteira comum. O retorno da diplomacia da fora, principalmente por parte dos Estados Unidos, certamente tem a ver com a deciso dos dois pases. No clima do acordo, China e Rssia esquecem mutuamente os conflitos poltico-militares internos. E na direo dos prprios interesses, firmam posio contra a expanso da Otan para os pases da Europa Central e do Leste. Para os diplomatas , o acordo representa o ponto alto das relaes entre os dois pases , desde o desmoronamento da aliana entre eles, provocado pelos conflitos de fronteira e pela vaidade de definir a supremacia no mundo comunista. Apesar dos votos de amor eterno , Yeltsin , no seu discurso a uma platia formada pela elite comunista chinesa, disse que uma vitria comunista na Rssia nas prximas eleies seria uma tragdia. " br94ag11-16,"Leia a ntegra do discurso do ministro da Fazenda Esta a ntegra do discurso do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, em cadeia de rdio e TV: Boa tarde. Demorei um pouco para voltar a conversar sobre a economia para deixar mais tempo para voc sentir o que viver sem inflao. Voc j pode perceber que o salrio mantm o seu poder de compra: os preos, em sua maioria, ficaram estveis, muitos deles caram e continuam a cair. O Plano Real est dando certo graas ao apoio que vem recebendo de cada um de vocs. As pesquisas indicam que mais de 70% do povo brasileiro apoia o plano e aprovam o trabalho do presidente Itamar Franco. Isso mostra que estamos no caminho certo e que o fim da inflao era um desejo da imensa maioria dos brasileiros, que no suportavam mais conviver com aumentos dirios de preos, com a especulao e com a carestia. O real permite saber os preos de cor, comparar, lembrar quanto se pagou na semana passada. A estabilidade facilita a vida. Acabou aquela aflio com o dinheiro que se desvalorizava a cada dia. Os efeitos concretos de ter uma moeda forte e de ser um consumidor consciente voc est vendo no seu dia-a-dia. A cesta bsica, por exemplo, j caiu 5,68% desde o dia 1 de julho at o dia de ontem. E deve cair ainda mais, se no tivermos problemas com o clima, como a geada. Estamos propondo aos governadores reduzir o imposto sobre os produtos da cesta bsica e garantir que essa reduo beneficie ainda mais o consumidor, tornando a cesta mais barata, especialmente para os mais pobres. Estamos negociando com os produtores de frangos, ovos e carne de porco para garantir esses produtos, a preos razoveis e estveis, durante a entressafra da carne de boi. Se voc substituir a carne de boi pela de frango, ovos e at carne de porco -que no Brasil, vou dizer, no est to barata como devia-, vai sair ganhando, porque vai economizar e vai ajudar a baixar o preo da carne de boi. O consumidor no pode baixar a guarda. Para manter os bons resultados que tivemos at agora, preciso que a populao continue nesta luta que de todos ns. Ainda cedo para acharmos que tudo est sob controle e que podemos nos despreocupar. Mas voc pode me perguntar: se a inflao j baixou, se os preos at cairam, se o salrio manteve o seu poder de compra e at pode comprar mais, por que ento no devo voltar a gastar o meu dinheiro do mesmo jeito que fazia antes? Por que continuar repetindo esse discurso pedindo cuidado e moderao nas compras? A resposta simples. Em primeiro lugar, porque os preos ainda podem cair muito mais. H muita gordura nos preos. Isso voc pode ver pelas promoes, s vezes com desconto de mais de 50%. Ora, quem d desconto de 50%, e ainda tem lucro, porque est trabalhando com ganhos muito elevados, com preos muito gordos. Se ns comearmos a comprar demais agora, esses preos podem parar de cair. J se comprarmos com cuidado, adiando o que no urgente e procurando o melhor preo, vamos sair ganhando ainda mais porque vamos comprar mais barato dentro de pouco tempo. E ateno: ainda h diferenas escandalosas, absurdas, entre os preos de um mesmo produto em lojas diferentes. Se o consumidor no tomar cuidado, vai sair perdendo muito. Em segundo lugar, as lojas esto facilitando as vendas, dividindo o preo em trs, quatro vezes, ou oferecendo credirio. E a que existem dois problemas. O primeiro que, com o fim da inflao, preciso prestar muita ateno na diferena entre o preo vista e o preo total a ser pago a prazo. Some as parcelas. Quase sempre voc vai se espantar com a diferena. E essa diferena no se justifica mais, porque a inflao muito baixa e os juros esto caindo. O segundo problema, porm, quando o preo vista e o do credirio o mesmo. Uma amiga minha, por exemplo, foi comprar aqui em Braslia uma armao de culos e o vendedor pediu R$ 200 vista ou cinco prestaes de R$ 40. Ora, mesmo se a inflao fosse zero, existe um custo do dinheiro que o juro. portanto, se o vendedor recusa fazer desconto vista porque nesse preo est embutido um lucro exagerado. O consumidor brasileiro ainda est muito desprotegido, porque a inflao o acostumou a pensar que o preo bom se ele puder comprar a mercadoria, no importando muito se o valor pago justo. Com isso, acabamos comprando mais caro ou pagando juros altssimos, que vem embutidos nesses esquemas de pagamento facilitado. Gostaria de pedir a todos, s donas-de-casa, aos aposentados, s pessoas que me escrevem para formar associaes de consumidores. No difcil. Vamos distribuir nas agncias do Banco do Brasil cartilhas com conselhos prticos para preparar listas de preos, com as leis Antitruste e do Consumidor. Pea ao seu jornal, ao seu clube ou igreja para publicar colunas e boletins para defender seus direitos, exigir produtos com qualidade, segurana, garantia, preos justos. Vamos organizar concursos para premiar as melhores iniciativas, vamos estimular com apoio financeiro, se preciso, a publicao de revistas comparando preos e qualidades de produtos, como em outros pases. Em vez de ser o ministrio dos poderosos, em vez de ser o governo dos poderosos, o governo do presidente Itamar, o nosso ministrio, vai ser o ministrio do consumidor, da dona-de-casa, do aposentado, daquele que nunca ouvido quando se tomam decises. Por ltimo, bom lembrar que agora, com a inflao muito baixa, poupar passou a ser ainda melhor. Voc pode planejar para o futuro, pensar em comprar uma geladeira ou uma mquina de lavar, um carro, ou mesmo a casa prpria. E isso fica mais fcil se voc tiver uma boa parte do dinheiro guardado para dar de entrada ou at comprar a vista. Assim, voc negocia melhor o preo, tem mais escolha, pode avaliar melhor as oportunidades. Aquele hbito de gastar o dinheiro na primeira opo que aparecia coisa do passado, de quando o dinheiro queimava na mo. Agora, diferente. A caderneta de poupana tem sido o melhor investimento, especialmente para o cidado comum, o trabalhador, os que vivem de salrio ou da aposentadoria. No se deixe impressionar com o rendimento aparentemente mais baixo da poupana de agora em diante. Ele agora um rendimento real e ainda por cima muito maior do que na maioria dos pases que tm inflao baixa. A inflao roubava de ns o futuro e nos fazia olhar para o imediato, o curto prazo. Nos outros pases, o rendimento da poupana fornecido para o ano, no para o ms. Nos Estados Unidos, por exemplo, ela rende 4% ao ano, ou pouco mais. Aqui est rendendo mais de 30% ao ano. Pense em tudo isso. voc tem feito muito pelo sucesso deste plano. Ele s est dando certo por causa de voc, por causa do seu apoio."," Neste outro discurso , aps algum tempo de implantao do Plano Real, o ministro volta a dirigir-se populao. Procura insistir nas suas vantagens: preos estveis ou mais baixos, queda de 5,68% na inflao em pouco tempo, facilidade de manter os preos de cor, o que permite fazer comparaes. E o trunfo : mais de 70% da populao o aprova. Fala de medidas tomadas reforar o sucesso do plano: a proposta aos governadores de reduo do imposto sobre produtos da cesta bsica, o que beneficiar os mais pobres; negociao com os produtores de frangos , ovos e carnes de porco para que estabilizem os preos durante a entressafra da carne de boi. Mas no esquece a participao do consumidor , lembrando-o de que tambm responsvel xito , e ainda de que se o plano for bem sucedido, ele , consumidor, que lucra. Para o consumidor apressado, que, com as vantagens conseguidas, quer voltar a consumir como antes , diz que isso impediria a continuidade de queda dos preos. E esclarece : se nas promoes chega a haver descontos de 50%, certamente com lucro, porque os ndices esto muito elevados. A seqncia do discurso do ministro est toda voltada para alertas e conclamao do consumidor. Por exemplo, diferenas escandalosas de preos do mesmo produto , de uma loja para outra; vendas a prazo com taxas de juros muito acima das razoveis num perodo de estabilidade financeira; preos iguais, vista ou prazo --- forma de manter preo elevado. Conclama as donas-de-casa , os aposentados e outros interessados a formarem associaes de consumidores. E, para facilitar essa tarefa, diz que vai distribuir cartilhas informativas nas agncias do Banco do Brasil. . Finaliza esclarecendo aos assalariados comuns que poupar o melhor investimento. O pequeno investidor no deve desistir pelo fato de os juros da caderneta de poupana serem pequenos; isso natural num perodo de estabilidade. Em compensao, ele ter dinheiro para uma compra vista muito mais vantajosa. " op94se25-01,"Depois pode ser nunca Daqui a uma semana e um dia votam 94 milhes de brasileiros. A pesquisa Datafolha publicada hoje confirma o favoritismo de Fernando Henrique Cardoso que, amparado no real, vai para uma provvel vitria j no primeiro turno. H certamente entre os eleitores que at agora optaram por FHC muitos que reconhecem no candidato virtudes pessoais, outros que acreditam nos princpios da social-democracia. Mas no h como negar a imensa fora mobilizadora do projeto de estabilizao. O prprio candidato reconhece e insiste nesse ponto quase cotidianamente, colocando sua candidatura como garantia de continuidade na luta contra a inflao. Porm, se ocorrer de fato a vitria no primeiro turno, a lgica se inverte: no ser mais o plano a embalar o candidato, mas o futuro presidente obrigado a mostrar como, de fato, a luta continuar. Talvez os trs meses iniciais do real tenham sido j a lua-de-mel entre a sociedade e FHC. A partir de outubro tudo vai se passar quase ao contrrio de uma eleio comum, em que o vitorioso tem ainda um tempo longo at a posse e, depois desta, um perodo de graa. A luta pela estabilidade, apesar dos bons resultados iniciais, mal comeou e parece improvvel que se possa simplesmente comemorar e esperar, entre outubro de 94 e janeiro de 95. Se eleito no primeiro turno, FHC ter um capital poltico sem precedentes no pas. Collor, sem vencer no primeiro turno, tambm tinha um capital significativo, afinal investido num plano, secreto, lanado no dia da posse. Agora o plano est na rua e exige desde j do futuro chefe de governo no apenas o endosso a medidas tpicas, mas uma iniciativa imediata e transparente, que confirme a expectativa de que o real ser consolidado. O risco maior a embriaguez da vitria dilatar as pupilas do vencedor, criando a sensao enganosa de que o futuro, seu e do plano, est magicamente assegurado. o risco de ignorar o fato poltico nu e cru de que no h poder que se sustente indefinidamente, sem desgaste, ainda que seja inicialmente enorme. , em suma, o risco de um plano arrojado e ainda incompleto transformar-se precocemente em nova verso da velha e conhecida poltica do feijo-com-arroz. A lua-de-mel ter de converter-se rapidamente em ao, se no se quer no cotidiano ps-eleitoral frustrao eleitoreira e politiquice. Certamente haver dificuldades em levar o Congresso Nacional a votar reformas, particularmente antes de eleitos todos os governadores e articulada a nova base parlamentar. Mas entre essa constatao bvia e a inrcia h uma enorme distncia que, mal preenchida, converte-se rapidamente em vcuo e decepo. Como a poltica tem horror ao vcuo, a rigor talvez seja justamente nesse perodo que o futuro presidente disponha de maior prestgio e, portanto, capacidade de superar essas dificuldades. Algumas iniciativas j oferecem uma perspectiva mais ofensiva. O deputado Jos Serra trata de levar a votao uma emenda que facilite alteraes futuras da Constituio. O assessor especial da Fazenda, Edmar Bacha, lanou o neologismo desconstitucionalizao. J o ministro da Fazenda, Ciro Gomes, menos comprometido com a idia de iniciar antes da posse do novo presidente uma mobilizao pela reforma da Constituio. O candidato que lidera as pesquisas ainda evita o tema. Ser certamente assediado, se vitorioso, pela mar montante das negociaes para composio do futuro ministrio e demais nomeaes. Talvez cogite de apresentar-se comunidade internacional. Pretender repousar antes de assumir a Presidncia. Tudo isso inevitvel. Deve-se entretanto fugir da iluso de que possvel dar tempo ao tempo. A energia e as foras que ser necessrio mobilizar para dotar o Brasil de uma Constituio compatvel com a estabilidade econmica so enormes, numa sociedade que prima pela inrcia e pelo jeitinho. Impe-se ao presidente da Repblica, principalmente se vitorioso no primeiro turno, logo depois da eleio lanar-se de corpo e alma na mobilizao, at agora adiada, por mudanas constitucionais. Na essncia, o dilema o mesmo que j se viveu em outros planos espetaculares de estabilizao: o ajuste radical do Estado e as mudanas enfim da ordem econmica necessrias para viabilizar uma moeda confivel, quando adiadas, no chegam nunca. Pecado maior de muitos que acreditaram, amparados em votos ou planos, que o poder para sempre.","Depois pode ser nunca Pesquisa do Datafolha publicada hoje confirma o favoritismo de Fernando Henrique Cardoso , candidato presidncia , nas eleies daqui a oito dias. Entre os seus eleitores , muitos reconhecem as suas qualidades pessoais, outros acreditam nos princpios da social-democracia. Mas o projeto de estabilizao em curso tem muito a ver com essa preferncia, como o prprio candidato reconhece. Porm, necessrio analisar que, passada a vitria, a situao muda: o presidente eleito vai ter que mostrar servio para a continuidade do plano , pois a luta pela estabilidade mal comeou. O povo vai exigir satisfao de suas expectativas. A embriaguez da vitria no se sustenta na crena de que o plano est magicamente assegurado. Nenhum poder dura indefinidamente sem desgaste. Portanto, a alegria do vitorioso deve se concretizar logo em ao. verdade que haver dificuldades em obter do Congresso Nacional votao de reformas , principalmente antes de eleitos os governadores e definida a nova base parlamentar. Mas convm cuidar-se , pois poltica tem horror a vcuo. J esto sendo encaminhadas algumas iniciativas. O deputado Jos Serra encaminha emenda que facilite alteraes na Constituio; o assessor da Fazenda, Edmar Bacha , lanou o neologismo desconstitucionalizao. S o ministro da Fazenda, Ciro Gomes, mais cauteloso antes da posse do presidente. Sabendo-se quanto de energia ser necessrio para adequar a Constituio estabilidade econmica, convm no perder tempo. " di94ma08-15,"Real pode nascer sem lastro e sem ncora No existem regras simples nem planos mirabolantes que sejam capazes de estabilizar a moeda de golpe MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha O debate acadmico estritamente formal sobre a possibilidade de uma escolha simples entre cmbio fixo com taxa de juros varivel ou cmbio flutuante com taxa de juros fixa no encontra mais apoio emprico em qualquer experincia contempornea. No entanto, apesar das evidncias de que no h regras fixas nem equilbrios automticos possveis nos mercados de cmbio mundiais, continua-se, nas palavras de Dionsio Carneiro (O Estado de S. Paulo, 05/05/94), vendendo para os agentes econmicos contos da carochinha como os do Plano Cavallo ou o de opo simples entre ncora cambial e ncora nominal. O apelo idia de um sistema lastreado, a exemplo do h muito falecido padro ouro, tambm continua perturbando as mentes de nossos acadmicos, sejam eles ortodoxos ou heterodoxos. Suas leituras sobre hiperinflao europia do perodo entre guerras os leva a tentaes de transposio ou de reinveno absolutamente fantasiosas, dada radical diferena da situao financeira internacional contempornea. A tentativa de lastrear a nova moeda em dlar, numa cesta de moedas, em aes das estatais, em hipotecas de ativos reais, ou sob que forma seja, no far nascer por si s uma moeda real, em qualquer sentido da palavra. Ser obrigatoriamente uma moeda fiduciria, como so todas as moedas conhecidas contemporneas. Assim, em vez de perdermos tempo com fantasias estreis, seria melhor que nos dedicssemos a discutir as questes relevantes da terceira fase do suposto plano de estabilizao, que dever ser executado sob o comando do ministro Ricupero. Eleitoral ou no, tudo o que se sabe da nova etapa que j entrar com pouca credibilidade porque a ncora cambial no ser to ncora assim. Dado o atraso cambial, a taxa de cmbio no poder ser fixa, sob pena de ameaar o prximo governo de uma imediata midi ou maxidesvalorizao. O ex-ministro Mrio Henrique Simonsen j anunciou, h mais de um ms, que o real deveria vir o mais rapidamente possvel e a paridade cambial teria de admitir bandas de flutuao em torno de 15%, na melhor das hipteses. Como isto no propriamente uma banda que confira credibilidade nova moeda, a taxa de juros real poder ser ainda mais alta que a atual para evitar a especulao e a fuga de capitais que as autoridades monetrias e todos tememos. A discusso sobre a bolha de consumo que a remonetizao provocaria, a exemplo do fracasso do Cruzado, no vem ao caso, dado que nem as condies salariais, nem os preos em dlar, nem as taxas de juro (internas e internacionais) guardam qualquer semelhana com a situao anterior. Por outro lado, a idia de fixar metas quantitativas para a expanso da base monetria tem sido progressivamente abandonada, mesmo pela maioria dos bancos centrais de pases ricos. No por estarem comprometidos com a manuteno de uma taxa de cmbio fixa, mas porque simplesmente no conseguem nunca atingir essas metas, dada a interdependncia entre poltica monetria, fiscal e cambial, da qual o ex-presidente do FED (Banco Central norte-americano), mr. Volkof, foi ao mesmo tempo um dos principais causadores e vtimas desde os fins da dcada de 70. No caso brasileiro, a desregulao do mercado cambial e financeiro promovida pelo governo Collor antes mesmo de obter a abertura comercial e, principalmente, antes de obter a estabilizao relativa da nossa pobre moeda, levou a situao das finanas pblicas a um verdadeiro desastre. Uma poltica monetria pseudo dura, em menos de dois anos, em vez de acabar com a inflao, obrigou as finanas pblicas, j de si precrias, a aguentar o custo financeiro de absorver reservas internacionais fictcias, emitindo dvida pblica a taxas de juros flutuantes e progressivamente mais altas. Como j estou cansada de repetir-me, vou usar a palavra de um autorizado acadmico conservador, o professor Celso Pastore, que tem a vantagem de no ser aliado nem adversrio poltico da atual equipe econmica. O que vem recomendando ele nas suas poucas intervenes pblicas e acadmicas? Resgatar a poltica monetria da sua atual impotncia e da perversidade de uma entrada e possvel sada de capitais externos especulativos. Ele reconhece que a moeda atrelada ao cmbio no permite uma poltica monetria ativa e afirma que no caso do nosso peculiar sistema monetrio a elevao da taxa de juros produz mais e no menos inflao. Depois de desenvolver um raciocnio tcnico, que no caberia neste artigo, o professor Pastore recomenda que se volte a praticar controle da entrada (e oxal da sada) de capitais e que se adote no uma taxa de cmbio, mas duas. Uma taxa de cmbio comercial que possa acompanhar a situao de preos e competitividade de nossas exportaes e evite uma sobrevalorizao peridica sempre ameaada pela chamada lei Mailson. Esta indica que os exportadores pedem, exigem e conseguem uma maxidesvalorizao da ordem de 30% cada vez que o cmbio se atrasa demais, o que manda para o espao qualquer plano de estabilizao. Outra taxa de cmbio, a financeira, esta sim interagindo forosamente com a taxa de juros, atravs da poltica monetria ativa, porm sem torn-la rgida para baixo e, portanto, sem uma projeo perversa sobre a inflao e o dficit fiscal. Em resumo, prope o professor Pastore uma mudana no regime monetrio e cambial, que no vai na direo da falsa opo entre ncora cambial e ncora monetria, que est na moda no nosso debate falsificado. Evidentemente, tanto ele quanto Mrio Simonsen parecem ter mais f do que eu numa poltica de crdito restritiva e no controle da demanda agregada. Esse o lado que revela suas origens ortodoxas, mas pelo menos imprimem um maior realismo discusso contempornea. Tanto eles quanto eu e dezenas de economistas de todos os matizes, neles includo o deputado Delfim Netto, consideram a atual poltica de juros, bem como a proposta de uma ncora cambial pela metade extremamente problemticas. No creio que este acordo entre economistas de to diferentes procedncias se deva apenas ao desejo de fazer oposio ao atual governo ou ao seu candidato. Ao contrrio, nesta situao econmica de extrema gravidade, todos gostariam de ajudar o pas. Para isso, porm, necessrio que o nosso Banco Central busque no a independncia do Tesouro, que impossvel, mas que deixe de quebr-lo com a sua poltica agressiva de juros. Por outro lado, o governo deveria coordenar-se com os demais rgos econmicos, para no ocorrerem duas coisas, ambas graves. A primeira atrelar-se visivelmente a uma candidatura numa hora de tamanha instabilidade. A segunda tentar amarrar com reformas administrativas ou decises arbitrrias os destinos do prximo presidente da Repblica, por medo de que ele no seja o de sua preferncia. Quando fao as minhas crticas, no estou fazendo oposio ao governo do nosso pas ou ao Banco Central, estou apenas tentando colaborar, mostrando que no existem regras simples nem planos mirabolantes capazes de estabilizar a moeda de golpe. Esta s se estabilizar quando um novo governo, com opes claras de desenvolvimento econmico e social, abrir caminho de fato para a ancoragem de capitais num novo padro de crescimento. At l, e particularmente agora, o Banco Central no ter controle nem sobre a demanda, nem sobre a oferta da moeda. Assim, as medidas que ter de tomar sero fatalmente discriminatrias de setores amplos das prprias classes dominantes, sob pena de quebrar de vez o Estado. Neste sentido, o BC precisaria neste momento de todo o apoio poltico, que s encontrar se for capaz de ouvir representantes de todas as correntes polticas. Deveria levar em conta, sobretudo, que a fase quatro, depois de eleito o presidente da Repblica, ainda est sob sua responsabilidade e que existem assessores notrios e de reconhecida competncia em todos os partidos. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, economista, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).","Real pode nascer sem lastro e sem ncora No existem regras simples nem planos mirabolantes que sejam capazes de estabilizar a moeda de um golpe MARIA DA CONCEIO TAVARES- Especial para a Folha O debate acadmico formal em torno da possibilidade de uma escolha entre cmbio fixo com taxa de juros varivel ou cmbio flutuante com taxa de juros fixa insustentvel empiricamente em qualquer experincia contempornea. No entanto, continua o impasse entre opo por ncora cambial e ncora nominal, apesar das evidncias de que no h regras fixas nem equilbrios automticos nos mercados de cmbio mundiais. Os acadmicos continuam tambm discutindo a idia de um sistema lastreado . A tentativa de lastrear a nova moeda em dlar , no acarretar , por si s, uma moeda real Seria melhor, ento discutirmos as questes pertinentes da terceira fase do suposto plano de estabilizao. At agora , o que se sabe que j vem com pouca credibilidade porque a ncora cambial no justifica plenamente o nome. No caso brasileiro , a desregulao do mercado cambial e financeiro da poca Collor antes de obter a abertura comercial e a estabilizao relativa da nossa moeda deu num desastre. Cansada de repetir, vou usar as palavras do professor Celso Pastore, que vem recomendando resgatar a poltica monetria da sua atual impotncia e da perversidade de uma entrada e possvel sada de capital especulativo. Reconhece que a moeda atrelada ao cmbio no permite uma poltica monetria ativa e que , no nosso peculiar sistema monetrio , produz mais inflao. O professor recomenda ainda que retorne o controle da entrada de capitais e que se adotem duas taxas de cmbio. Uma comercial , para acompanhar os preos e a competitividade das exportaes. Outra, a financeira , que interagir com a taxa de juros por meio de uma poltica monetria ativa , sem torn-la rgida para baixo , o que evitar uma projeo ruim sobre a inflao e o dficit fiscal. Em resumo, ele prope uma mudana no regime monetrio e cambial , que fuja da falsa opo entre ncora cambial e monetria. Ele, Simonsen , eu e vrios economistas avaliamos a atual poltica de juros e a proposta de uma ncora cambial como muito problemticas. Nesta situao econmica to grave, no lugar de crticas ao governo, todos gostariam de ajudar. Para tanto, porm, preciso que o Banco Central busque no a independncia do Tesouro, que impossvel, mas evitar quebr-lo com a sua poltica de juros. O governo deveria sintonizar-se com os demais rgos econmicos, para evitar: Primeiro, ficar visivelmente preso a uma candidatura neste momento de instabilidade; segundo, tentar amarrar os destinos do prximo presidente com reformas administrativas ou decises arbitrrias , como se ele no fosse o preferido. A moeda s se estabilizar quando um novo governo, consciente das opes de desenvolvimento econmico e social, abrir sada para a ancoragem de capitais , tendo claro um novo padro de crescimento." di94de25-12,"A difcil convivncia com capitais externos O exemplo mexicano, que com a alta dos juros nos EUA perdeu investimentos estrangeiros, serve de lio LUCIANO COUTINHO Especial para a Folha Aps um longo perodo de marginalizao causado principalmente pela crise da dvida as economias em desenvolvimento voltaram, nos ltimos trs anos, a ser objeto de interesse dos capitais estrangeiros. Com efeito, aps captar muito pouco capital externo no perodo 1982-1989, os pases em desenvolvimento receberam abundantes influxos de capitais numa proporo mdia de 2,5% dos seus PIBs no perodo recente (1990-1994). US$ 400 bilhes afluram a estes pases nos ltimos quatro anos (cerca de US$ 96 bilhes/ano), sob a forma de investimentos em Bolsas de Valores, aplicaes financeiras em ttulos, inverses diretas e emprstimos aos respectivos setores pblicos. No caso da Amrica Latina, essa reverso foi ainda mais marcante, pois durante a etapa 1982-1989 a regio, ao invs de receber, havia transferido anualmente recursos para os credores e investidores numa proporo mdia de 2,4% do seu PIB. Ao contrrio, no perodo recente (1990-1994), recebeu influxos anuais equivalentes a 3% do PIB. Essa verdadeira avalanche de capitais em direo aos pases em desenvolvimento tem sido explicada pelos seguintes fatores conjunturais: a) pela lassido das polticas monetrias nos pases desenvolvidos que, com exceo da Alemanha, praticaram taxas de juros muito baixas entre 1990 e incio de 1994; b) pela busca de alternativas de retorno muito mais elevados, oferecidas pelos pases em desenvolvimento (juros dos respectivos ttulos pblicos e privados e expectativas de ganhos de capital nas Bolsas de Valores emergentes); c) pelas decises de investir diretamente nos pases em desenvolvimento, para expandir negcios ou adquirir ativos produtivos, aproveitando as atraentes oportunidades criadas pelos respectivos programas de privatizao. Influxos de capitais so em geral positivos para economias em desenvolvimento, mas em doses excessivas tornam-se negativos. Com efeito, as seguintes consequncias tm sido destacadas: 1) os ingressos de capitais permitiram acomodar dficits em conta corrente de magnitudes crescentes (os pases em desenvolvimento passaram de posio deficitria mdia anual de US$ 19 bilhes na segunda metade dos anos 80 para um nvel de US$ 94 bilhes/ano entre 1991-1994); 2) esses dficits elevados em conta corrente no seriam contraproducentes se correspondessem absoro de investimentos produtivos, mas adquirem carter deletrio se o ingresso de capitais financia primordialmente o incremento do consumo (a balana de comrcio dos pases em desenvolvimento passou de uma posio superavitria mdia anual de US$ 27 bilhes entre 1986-1990 para uma posio anual deficitria de US$ 23 bilhes entre 1991-1994). Na grande maioria dos pases, este dficit referiu-se importao de bens de consumo, sem que ocorresse uma elevao significativa da taxa de investimento agregado. No caso dos pases da Amrica Latina, a proporo dos investimentos sobre o PIB permaneceu praticamente constante, enquanto os gastos de consumo subiram 2,5% da renda nacional; 3) os influxos macios de capitais descontrolam a oferta monetria e provocam fortes valorizaes dos ativos reais e financeiros nos pases receptores (preos dos imveis, aes, ttulos), sinalizando presses inflacionrias; 4) os ingressos em grande escala de capitais externos inundam o mercado de divisas e provocam uma apreciao da taxa real de cmbio; 5) finalmente, os pases cujos dficits em conta corrente so financiados pela entrada de capitais tornam-se vulnerveis reverso destes fluxos. Nesta circunstncia, uma reverso abrupta criaria violentas tenses inflacionrias, forte depreciao cambial e risco de graves falncias financeiras. At mesmo as instituies mais ortodoxas, como o Fundo Monetrio Internacional, passaram a se preocupar com os riscos decorrentes dos influxos excessivos de capitais (1). O mais recente relatrio anual do Fundo (de outubro p.p.), adverte na pg. 57: ... a preocupao com influxos macios de capitais inclui o impacto sobre as condies monetrias, a possibilidade de intensificao das presses inflacionrias e de uma apreciao excessiva da taxa real de cmbio, o que tende a reduzir a competitividade externa e a exacerbar os dficits em conta corrente. Sobretudo, qualquer reverso sbita desses influxos colocaria em risco a viabilidade externa e a estabilidade domstica dos mercados financeiros. A gravidade desses riscos aumenta com a proporo de capitais de curto prazo e em pases onde as condies econmicas fundamentais no esto devidamente equacionadas (2). O exemplo mexicano, nesta semana que passou, no poderia ser mais eloquente. O que poderia causar uma sbita e perigosa reverso do movimento de capitais? O relatrio do FMI pondera que pode surgir nos pases desenvolvidos (especialmente nos EUA) uma forte inconsistncia entre a poltica fiscal (dficits elevados) e a poltica monetria, o que, associado a expectativas altistas de inflao, tenderia a provocar uma subida exagerada das taxas de juros nos mercados financeiros centrais, atraindo os capitais que hoje financiam os dficits dos pases em desenvolvimento. Esta possibilidade levada a srio pelo FMI, ao ponto de determinar uma alternativa pessimista para o cenrio global. Os juros muito elevados abreviariam a recuperao da economia mundial e provocariam uma dramtica crise dos pases em desenvolvimento, particularmente naqueles que dependem de entrada de capitais externos. Isso j no mais apenas um cenrio. A subida recente da taxa de juros nos EUA colocou o Mxico, j vulnervel, numa situao periclitante, obrigando as autoridades econmicas a admitir uma forte maxidesvalorizao do peso, cujas consequncias ainda esto por vir. Ainda difcil prever a dimenso do estrago, cuja digesto depender do apoio que o Federal Reserve americano possa dispensar ao BC mexicano. De qualquer forma, a credibilidade foi quebrada e dificilmente se conseguir reverter uma significativa depreciao do peso mexicano, provocando graves perdas para os investidores estrangeiros (detentores de US$ 51 bilhes em papis mexicanos) e prejuzos para o governo, empresas pblicas e privadas mexicanas devedoras em dlar. Tenses inflacionrias poderosas sero deflagradas, em virtude do elevado coeficiente de importao, colocando em risco o anunciado congelamento de preos e salrios por 60 dias. Se a cadeia de efeitos desestabilizadores no for brecada por intervenes, a Argentina ser a prxima vtima. Mas, ainda que as sequelas da crise mexicana venham a ser parcialmente neutralizadas, ser inevitvel uma interrupo por vrios meses dos influxos de capitais para a Amrica Latina. Para o Brasil, que inicia um novo governo, cercado de grandes esperanas e otimismo, esta interrupo temporria dos influxos de capitais livra a nova equipe econmica do dilema imediato de como evitar presses adicionais de valorizao do real sem desequilibrar as condies fiscais-monetrias internas. relevante, porm, aprender a lio e preparar alternativas para o futuro. Passada a tempestade, os influxos podero voltar, ainda que em menor escala, uma vez que o Brasil hoje visto como uma rea sub-representada nas carteiras de aplicaes dos bancos e investidores internacionais. At pouco tempo atrs, antes da imploso mexicana, importantes instituies bancrias recomendavam a ampliao do peso de papis brasileiros em seus ativos. Agora ficou insofismvel: no possvel ajustar-se passivamente aos influxos de capitais e aceitar dficits elevados em conta corrente (como desejava parte da atual equipe econmica) sem correr graves riscos. indispensvel imaginar formas de corrigir a defasagem da taxa de cmbio e evitar sua apreciao adicional. Num prximo artigo exploraremos alternativas de poltica nesta direo, compatveis com o Plano Real e consistentes com a retomada organizada do desenvolvimento. (1) Vide Recent Experiences with Surges in Capital Inflows, Kahn, R. et alli, I.M.F., dezembro, 1993. (2) Vide World Economic Outlook, I.M.F., outubro, 1994. LUCIANO COUTINHO, 47, professor titular do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp). Foi secretrio-geral do Ministrio da Cincia e Tecnologia (governo Sarney).","A difcil convivncia com capitais externos O exemplo mexicano, que com a alta dos juros nos EUA perdeu investimentos estrangeiros, serve de lio. LUCIANO COUTINHO Especial para a Folha Aps longo perodo de excluso provocado principalmente pela dvida- os pases em desenvolvimento voltaram a ser interesse do capital externo. Em perodo recente ( 1990-94) esses pases chegaram a receber influxos externos numa mdia de 2,5% dos seus PIBssob a forma de investimentos em Bolsas , aplicaes em ttulos e emprstimos aos setores pblicos. Na Amrica Latina , essa reverso se destaca pelo fato de antes (l982-l989) a regio transferir recursos quase equivalentes para seus credores. Essa avalanche de capitais para os pases em desenvolvimento assim tem sido explicada: a) pelo afrouxamento das polticas monetrias nos pases desenvolvidos que praticaram taxas de juros muitos baixos entre 1990 e incio de 1994; b) pela inteno de expandir negcios ou adquirir ativos produtivos , aproveitando-se dos programas de privatizao. Altas doses de influxos de capitais tm efeitos negativos, provocando conseqncias : 1- esses influxos permitiram acomodar progressivos dficits em conta corrente; 2- eles provocam efeitos negativos por facilitar mais o consumo e menos investimentos produtivos; 3- descontrolam a oferta monetria e provocam fortes valorizaes dos ativos reais e financeiros nos pases que os recebem, pressionando a inflao; 4- o financiamento de dficits com a entrada desses capitais pode provocar inflao, depreciao cambial e falncias , caso haja reverso repentina deles. At o Fundo Monetrio Internacional passou a preocupar-se com esses influxos excessivos. Quais as conseqncias dessa reverso repentina? - nos pases desenvolvidos , uma forte inconsistncias entre a poltica fiscal (dficits elevados) e a poltica monetria, ocasionando elevao das taxas de juros nos mercados financeiros centrais, subtraindo o capital financiador de dficits nos pases em desenvolvimento; - os juros muito altos abreviariam a recuperao econmica nos pases do Primeiro Mundo, mas provocariam crise nos menos desenvolvidos. Isso j no suposio . O Mxico, por conta da elevao dos juros nos EUA , viveu situao dramtica , sendo obrigado a uma forte maxidesvalorizao do peso e perda de credibilidade , de difcil recuperao. Para Brasil , que inicia novo governo sob uma clima de otimismo, a interrupo de captao de capital temporria alvissareira , pois fica livre de como evitar presses extras de valorizao do real . fundamental , no entanto, aprender a lio e preparar alternativas futuras, pois impossvel evitar altos riscos , acumulando altos dficits e aceitando capital externo para financi-los. " ce94jl31-d,"Comparada com a potencialidade econmica do pas, o nvel da educao bsica brasileira est em ltimo lugar no mundo. A informao est num relatrio preparado pelo Unicef (Fundo das Naes Unidas pela Infncia), a ser divulgado este ano no Brasil. O dado preocupante no apenas por revelar a baixa taxa de cidadania. Revela tambm um obstculo para o crescimento econmico, cada vez mais dependente de mo-de-obra educada, compatvel com o avano tecnolgico. A pesquisa sobre a situao educacional no mundo est includa num relatrio intitulado The Progress of Nations (O Progresso das Naes). Para se determinar a posio de cada nao, o Unicef comparou a taxa de evaso escolar com o Produto Interno Bruto per capita soma de todos os bens e servios produzidos, dividida pela populao do pas. Para cada pas foi estipulada uma taxa de crianas que deveriam ter completado pelo menos cinco graus de escolaridade. Essa taxa corresponde ao nvel da potencialidade econmica, definido pelo PIB, de cada pas. Essa taxa foi ento comparada com taxa real de escolarizao. O nvel real de escolarizao foi subtrado do nvel esperado. Este valor definiu a posio do pas no ranking de 129 naes. Pelo potencial econmico brasileiro, pelo menos 88% das crianas matriculadas no primeiro grau deveriam concluir pelo menos a 5 srie. Com base em dados fornecidos pelo Ministrio da Educao, a lista da ONU informa que apenas 39% chegam a este estgio. Com isso, o pas ficou com ndice negativo de 49 pontos. Acima do Brasil, est o Gabo, na frica, com ndice negativo de 40 pontos. Na Amrica do Sul, naes bem mais pobres do que o Brasil exibem um ndice expressivamente mais alto. O Paraguai, por exemplo, recebeu 6 pontos negativos ou seja, est prximo do nvel aceitvel. O Uruguai apresenta 6 pontos positivos. Eles deveriam ter matriculados 88% das crianas at a 5 srie: sua taxa de 94%, comparvel aos pases mais desenvolvidos do planeta. Na Sua, todos os meninos (100%) continuam nas escola at esse estgio. O ministro da Educao, Murlio Hingel, admite: Apesar de todos os esforos, nosso ensino bsico vexaminoso. Segundo as estimativas do ministrio, apenas 22% dos alunos completam a 8 srie. S 5% conseguem concluir o 1 grau sem repetir um ano. A mdia de permanncia na escola de um aluno que completa a 8 srie de aproximadamente 12 anos. um tremendo desperdcio de recursos. Tivssemos uma taxa menor, haveria menos sobrecarga de professores e salas de aula, afirma Hingel, numa opinio compartilhada pela imensa maioria dos educadores brasileiros. Ao se aprofundar a discusso do desperdcio da repetncia, encontra-se um antigo mito: a criana sai da escola por falta de condies econmicas da famlia. As mais recentes pesquisas esto demonstrando que a famlia valoriza a educao, vista como um mecanismo de ascenso social.Mas o aluno no consegue progredir, assimilar conhecimento e, depois de vrias tentativas em meio repetncia, engrossa as estatatsticas de evaso escolar. H uma srie de fatores que confluem: os professores recebem baixos salrios e so mal-treinados, a metodologia e o currculo so inadaptados, o aluno chega sala de aula sem nenhuma base educacional da famlia ou da pr-escola. At as instalaes facilitam a evaso, criando um ambiente inadequado. Recente pesquisa patrocinada pelo Ministrio do Planejamento mostra que, em 75% das escolas pblicas, no existem banheiro ou eles no esto funcionando. O Ministrio da Educao calcula que existem ameaas dificultando a melhoria das escolas. Devido a mudanas legais, facilitaram-se as aposentadorias de professores, o que fez aumentar a despesa do ministrio com inativos. At cinco anos atrs, os gastos com aposentados representavam 15% da folha de pessoal do ministrio. Agora, chegam a 40%, cerca de R$ 700 milhes por ano. O ministro Hingel chega a prever o que chama de caos: Se mantivermos esse ritmo, num prazo de 10 anos todas as verbas do ministrio sero destinadas apenas aos aposentados.","Comparada com a potencialidade econmica do pas, o nvel da educao bsica brasileira est em ltimo lugar no mundo , segundo relatrio do Unicef. O dado preocupante pelo que significa de excluso de cidadania e de entrave ao desenvolvimento econmico. O clculo se baseia na comparao da evaso escolar---levando-se em conta a expectativa de pelo menos cinco anos de escolaridade--- com a diviso do PIB pela populao do pas. Segundo ele, 88% das crianas brasileiras deveriam concluir pelo menos a 5 srie. Com base nos dados do Ministrio da Educao , apenas 39% chegam l , e o pas ficou com 49 pontos negativos. Abaixo , portanto, do Gabo , na frica, (40 pontos negativos), do Paraguai (6 pontos negativos), Uruguai ( 6 pontos positivos) , sem contar a Sua onde 100% das crianas continuam na escola at esse estgio. A evaso escolar representa um imenso desperdcio de recursos. Mais do que culpar a falta de condies econmicas da famlia como causa da evaso , preciso rever os baixos salrios, o mau treinamento dos professores , a metodologia , o currculo , e at m qualidade das instalaes educacionais. O Ministrio da Educao v dificuldades na melhoria das escolas, pois h um comprometimento muito srio com aposentadorias precoces. E exemplifica com dados: at cinco atrs , os gastos com aposentados representavam 5% da folha de pagamento; agora, chegam a 40%. Nesse ritmo, segundo o ministro Hingel , o emperramento da mquina ser total. " co94de04-23,"Especialistas denunciam onda neopaternalista MAURICIO STYCER Da Reportagem Local No intervalo de uma semana, em novembro, quatro episdios isolados, mas vistos em conjunto, mostraram o tamanho da onda neoconservadora que atinge So Paulo, avaliam especialistas de diferentes reas ouvidos pela Folha. Resumindo: Um menino de seis anos foi impedido de usar brinco em um colgio na zona oeste da cidade. Um empresrio foi interpelado por policiais ao fazer cooper de sunga no parque Ibirapuera. Um garoto de 14 anos foi rejeitado num colgio na zona leste por usar cabelo comprido. Dois grupos de rap foram detidos pela polcia enquanto cantavam msicas de protesto durante show no vale do Anhangaba. Um dos primeiros a estranhar essa sucesso de fatos foi um estrangeiro, o escritor portugus Miguel Esteves Cardoso, que visitava So Paulo na semana passada. Nesta sua terceira viagem ao Brasil, Cardoso se surpreendeu primeiro com uma sinistra novidade: a lei municipal que instituiu a obrigatoriedade do uso do cinto de segurana em So Paulo. Este o primeiro sinal de restrio s liberdades individuais. Em Portugal, tambm comeou assim, h dois anos. Na semana passada, no meu pas, fizeram uma lei que obriga o uso do cinto no banco de trs, diz Cardoso. Autor do romance O Amor Fodido, que veio lanar em So Paulo na Feira do Livro Portugus, Cardoso, 39, prefere chamar a onda neoconservadora de neopaternalista. Hoje o Estado me obriga a usar cinto de segurana. Amanh, vai me obrigar a fazer ginstica e me proibir de comer gordura, o que seria bom para o corpo, mas pssimo para as instituies. Se no usar o cinto, s vou causar mal a mim mesmo, diz. Como Cardoso, o advogado Celso Bastos, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, tambm v sinais de uma onda neopaternalista. H uma idia muito forte, e nada moderna, de que a sociedade deve ser liderada por algum que sabe alguma coisa porque a sociedade no saberia nada, diz. Diante dos fatos ocorridos recentemente em So Paulo, Bastos, 56, observa que o paternalismo est se espraiando para fora da esfera do governo. No caso do brinco, porm, o advogado ressalva: H 30 anos, era mais ntida a oposio entre liberais e conservadores. Hoje, muita gente hoje usa brinco por modismo e no para contestar valores. Para o psiclogo Marcos Ribeiro, autor do best-seller infantil Menino Brinca de Boneca?, preocupante que um colgio restrinja o uso de adornos, como brincos, ou o corte de cabelo dos meninos. Isso preconceito das escolas, diz. Ribeiro, 30, coordenador do Cedus (Centro de Educao Sexual), uma organizao no-governamental que est implantando um programa de educao sexual nas escolas municipais do Rio. A seis anos do fim do sculo, quando uma escola probe brinco ou rabo-de-cavalo, voc deve se perguntar: Ser que essa escola no est deixando de se preocupar com coisas mais importantes? Vtima direta da onda neoconservadora, o cantor de rap Big Richard, 21, est assustado. Agora virou moda. A polcia chega l e leva o cara. Da prxima vez, no sei se ele vai preso ou se vai para a vala, exagera. Big Richard foi detido no dia 15 de outubro, enquanto cantava Homens da Lei, uma msica que diz: Sempre, sendo por eles perseguidos, nos do porrada sem que haja motivos, espalham terror, da zona sul at a baixada. No ltimo dia 26 de novembro, seus colegas dos grupos Racionais MC's e RMN foram detidos por cantarem msicas com teores semelhantes. Se o Estado acha que a msica pesada, eles tm que entrar na Justia e me processar, e no fazer justia com as prprias mos, critica Big Richard. O rapper acha que a sua msica revolucionria e, por isso, est provocando reaes conservadoras. Seria iluso querer mudar o mundo com a minha msica, mas posso ensinar alguma coisa, como, por exemplo, que Nelson Mandela, Zumbi e a escrava Anastciano so apenas santos de macumba, diz.","Especialistas denunciam onda neopaternalista MAURCIO STYCER Quatro episdios isolados da semana passada mostram a intensidade da onda conservadora em S.Paulo, segundo especialistas ouvidos. Um menino de 6 anos foi impedido de usar brincos num colgio; um empresrio foi interpelado por fazer Cooper de sunga no Ibirapuera; um garoto de 14 anos no pde freqentar um colgio por ter cabelos compridos; dois grupos de rap foram detidos por cantarem msica de protesto no Anhangaba. O escritor portugus Miguel Esteves Cardoso , em visita a S.Paulo, foi quem estranhou primeiro a onda, com relao obrigatoriedade do uso de cinto de segurana. V nisso o primeiro passo para as limitaes de liberdades individuais. Outros viro no embalo, diz ele. Tambm o advogado Celso Bastos sente isso. Segundo ele, a estranha convico de que a sociedade precisa ser vigiada porque no sabe nada. No caso do brinco, ele diz que antes a polarizao contestatria era mais forte; hoje mais modismo. O psiclogo Marcos Ribeiro se preocupa com essas proibies de adornos em garotos. At pergunta se essa preocupao no falta de outras coisas principais em que pensar. O cantor de rap Big Richard foi detido por cantar msica de protesto . E tambm seus colegas dos grupos Racionais MCs e RMN. O cantor argumenta que se o Estado acha as suas msicas inconvenientes, que o processe na Justia. " br94se11-20,"tica, ratos e outros bichos JUNIA NOGUEIRA DE S Peo licena aos leitores da Folha para reproduzir aqui uma carta que recebi na semana passada, enviada por um veterinrio de 39 anos que mora em So Paulo: Escrevo para pedir que voc lance o olhar para um lado que ficou esquecido no caso Ricupero: o jornalista Carlos Monforte. Ningum est analisando o que representa o poder da falta de tica dos jornalistas. Se a parablica no tivesse captado a conversa, bvio que os cidados brasileiros no saberiam nada do dilogo em que o sr. Ricupero mostrou sua alma, teve seu lapso de lucidez. Pergunto se Carlos Monforte teria ou no o dever de nos informar sobre o que pensava verdadeiramente o sr. Ricupero. Quantos jornalistas, inclusive da Folha, no nos informam do que sabem, a verdade? Esse o problema: a maior parte dos jornalistas, detentores do poder e dever de informar os cidados, no fazem seu trabalho. Eles so dirigidos pelo conceito de lealdade sua condio social e no cidadania, ao pas e verdade. O leitor est coberto de razo. A conversa parablica entre o agora ex-ministro Rubens Ricupero e o jornalista Carlos Monforte dominou o noticirio da semana, mas em nenhum momento a mdia de preocupou em fazer ela mesma um mea culpa e discutir seu verdadeiro papel nesse episdio. No dilogo que teve com o jornalista, o ex-ministro foi claro como gua quando disse que suas aparies na Rede Globo seriam um achado para a emissora, j que ela no precisaria mais dar apoio ostensivo (so palavras dele tambm) ao candidato FHC. Botam a mim no ar e ningum pode dizer nada. Agora, o PT est comeando, mas no pode. Ora, ora, ora. Estamos diante da confisso (tornada pblica) de um ministro de Estado segundo a qual a maior rede de televiso do pas d apoio por tabela, via Plano Real, a um dos candidatos Presidncia da Repblica e a mdia fecha boca, olhos e ouvidos, provavelmente inspirada pelo fato de que boa parte dela tem desmedida simpatia pelo mesmo candidato. A prpria Rede Globo no veiculou esse trecho da conversa entre Ricupero e Monforte, reafirmando a prtica de transformar em notcia apenas o que interessa a ela. Num episdio que revela muito da promiscuidade entre o poder e a imprensa, s a primeira parte levou a pior o que mostra que poder, de verdade, quem tem a imprensa. Especialmente o poder de se calar quando sua tica, e a tica de seus profissionais, que esto em discusso. A revista Veja que circulou semana passada publicou reportagem revelando (se que algum ainda no sabia) que existem emissoras de rdio e jornais do interior do pas que vendem espao para candidatos em campanha. Mas no s eles: a reportagem de Veja flagrou a mesma prtica num programa da Rdio Globo e nas pginas do Dirio Popular, ambos com uma respeitvel massa de pblico (o Dirio Popular teria, segundo a revista, uma circulao de 150 mil exemplares). Na quarta-feira, Folha e Folha da Tarde publicaram a mesma notcia sobre o Dirio Popular, acompanhada de explicaes de seu diretor-superintendente. No temos espao para todos os candidatos. Decidimos publicar informaes daqueles que se dispuserem a pagar. Tenho quase absoluta certeza de que o leitor no toma aquelas informaes como material jornalstico, disse Ricardo Saboya. No DP, uma nota de 25 linhas acompanhada de foto sai por R$ 1.000. O material no acompanhado de anotao que o identifique como propaganda eleitoral, como manda a lei. Ao contrrio do que diz o diretor-superintendente do DP, tenho quase absoluta certeza de que o leitor no percebe que aquele no material jornalstico. Trata-se de um abuso que fere a tica da imprensa (a que ela deveria ter, pelo menos), e contra o qual a Justia Eleitoral no se manifestou at o momento. Pelo menos seis leitores da Folha se incomodaram com uma reportagem publicada no jornal de domingo passado, na pgina Especial-3 do caderno Supereleio, com o ttulo: Lixo do comit de FHC revela doadores. O que incomodou os leitores incomodou a mim tambm: a reportagem conta com detalhes que funcionrios do comit do candidato, em Braslia, acondicionam o lixo produzido durante a semana em sacos plsticos. Num dia determinado, os papis (especialmente eles) so queimados num aterro, em local proibido. A questo, entretanto, no ambiental: a reportagem da Folha recuperou parte do lixo que no foi consumido pelo fogo e revelou aos leitores uma lista de supostos doadores de dinheiro para a campanha tucana. Mas a prpria reportagem dizia, em seu terceiro pargrafo: A legislao eleitoral permite que os candidatos mantenham em sigilo os nomes dos financiadores de suas campanhas. Apenas nos casos em que h suspeita de irregularidade o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pode requisitar as prestaes de contas. Eis a o problema: a Folha revirou o lixo de FHC para revelar algo que nem o TSE pode fazer sem solicitar ao candidato. invaso de privacidade, repetiram os leitores. Que, irritados com o jornal, chegaram a chamar os reprteres de ratos (dois deles). Se a semana no tivesse sido dominada pelo noticirio parablico e pela sucesso no Ministrio da Fazenda, o abuso da Folha teria dado o que falar. Por falar nisso, sumiu dos jornais (da Folha, em especial, que foi quem mais dedicou espao ao assunto) a denncia de que a campanha tucana usaria os servios de um assessor do presidente americano, James Carville. Esta Folha> chegou a noticiar com estardalhao que a assessoria, desde que no formalizada atravs de pagamentos, seria ilegal. A menos que Carville estivesse recebendo bnus eleitorais de FHC, algo difcil de imaginar. Enfim, antes mesmo das devidas explicaes aos leitores, o assunto sumiu dos jornais. s mais um daqueles que desaparecem como que por encanto. A jornalista Snia Mossri, reprter da sucursal de Braslia, teve o cuidado de consultar a fita gravada durante a palestra do socilogo Hlio Jaguaribe para uma platia de militares aquela que gerou farto noticirio na Folha, pelas declaraes de Jaguaribe de que seria preciso acabar com o ndio, e que comentei na coluna de domingo passado. Snia Mossri, responsvel pela reportagem que deu o pontap inicial na polmica, informa que a frase integral de Hlio Jaguaribe foi a que segue: preciso desmistificar formas de congelamento da antropologia. No existe a menor possibilidade de permanncia das comunidades primitivas. preciso acabar com o ndio. No vai haver ndio no ano 2.000. Reli a reportagem assinada por Snia Mossri, e o problema est (a reprter reconhece) em que essa frase de Jaguaribe no aparece ntegra. O texto diz que Jaguaribe disse que preciso acabar com o ndio' at o ano 2.000 e promover sua integrao mediante escolarizao. O ttulo que o jornal acrescentou na edio, e a chamada na Primeira Pgina, ajudaram a colocar lenha na fogueira: Jaguaribe defende o fim do ndio at o ano 2.000, escreveu o jornal. No foi, e a fita consultada agora por Snia Mossri revela isso, exatamente o que o socilogo afirmou em sua palestra. O jornal, mantenho o que escrevi na semana passada, fez jornalismo apressado sobre as idias de Hlio Jaguaribe. JUNIA NOGUEIRA DE S a ombudsman da Folha. A ombudsman tem mandato de um ano, renovvel por mais um ano. Ela no pode ser demitida durante o exerccio do cargo e tem estabilidade por um ano aps o exerccio da funo. Suas atribuies so criticar o jornal sob a perspectiva do leitor recebendo e checando as reclamaes que ele encaminha Redao e comentar, aos domingos, o noticirio dos meios de comunicao. Cartas devem ser enviadas para a al. Baro de Limeira, 425, 8 andar, So Paulo (SP), CEP 01202-001, a.c. Junia Nogueira de S/Ombudsman. Para contatos telefnicos, ligue (011) 224-3896 entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.","tica, ratos e outros bichos JUNIA NOGUEIRA DE S ( ombusdman da Folha) Peo licena aos leitores da Folha para sintetizar uma carta que recebi na semana passada. O missivista me pedia que eu observasse o lado do jornalista Carlos Monforte na malfadada entrevista com o ministro Ricupero. Nela , uma conversa em off (no intencional) teve o seu contedo no ar por conta de uma parablica , que a captou. Do contrrio , nada saberamos. O missivista pergunta se a tica jornalstica no exigiria do reprter ser transparente ao traduzir o pensamento de Ricupero. O leitor est correto. O ministro falava que suas aparies na Rede Globo foram um achado porque disfarariam o apoio dado ao candidato FHC; e que o PT, por estar comeando , no podia. A mdia silenciou sobre o assunto, certamente por boa parte dela estar tambm comprometida. A revista Veja publicou reportagem revelando que emissoras e jornais do interior vendem espao a polticos. A prtica tambm foi flagrada na Rdio Globo e no Dirio Popular. O superintendente do Dirio disse que, como no tinha espao para todos, resolveu informar sobre os que podiam pagar. S posso afirmar que falta de tica da imprensa e informar que at agora a Justia Eleitoral no se pronunciou. Alguns leitores da Folha se incomodaram com uma reportagem intitulada Lixo do comit de FHC revela doadores. Ela informa que funcionrios do comit ensacava os papis em plsticos e depois os incineravam em lugar proibido. A reportagem da Folha recuperou uma parte em que havia uma lista de possveis doadores de campanha. Os reclamantes no concordavam com a poluio do ambiente, mas consideraram a atitude de reprteres como invaso de privacidade. Aqui, os leitores que perderam o rumo. No prximo caso, h culpa do jornal. Uma reportagem sobre uma palestra do professor Hlio Jaguaribe informava que ele tinha dito ser preciso acabar com o ndio. Dada a celeuma , a jornalista consultou a fita gravada e transcreveu todo o contexto: preciso desmistificar formas de congelamento da antropologia . No existe a menor possibilidade de permanncia das comunidades primitivas. preciso acabar com o ndio. No vai haver ndio no ano 2000 e promover sua integrao mediante escolarizao. A manchete , portanto, fruto de jornalismo apressado. " td94ma08-02,"Grande empresa gera pequenas a seu redor Novos empresrios passam a fornecer produtos e servios para antigo empregador; perigo dependncia exagerada NELSON ROCCO Da Reportagem Local A eliminao de departamentos e a terceirizao de processos e servios feitas por grandes empresas esto criando uma nova gerao de empresas-filhotes. Terceirizao significa repassar partes do trabalho para outras empresas. O objetivo reduzir quadros e aumentar a agilidade de uma grande organizao. Ao mesmo tempo em que enxuga sua estrutura (demite), a empresa-me estende a mo para as pequenas que esto nascendo e as ajuda a dar os primeiros passos. A negociao entre as partes raramente traumtica. O simples fato de um ex-funcionrio bater porta da antiga empresa j desperta interesse, afirma o consultor Jos Antonio Rosa, 41. Ele diz que, obtido o aval do ex-empregador, pode-se procurar outros clientes. necessrio apenas tomar cuidado para no ir direto a um concorrente. A transmisso de tarefas pode envolver as chamadas atividades-meio, como servios de limpeza, restaurante, transporte de funcionrios e manuteno. H casos, no entanto, em que empresas repassam para terceiros parte da produo, como peas e componentes as atividades-fins. O risco de se tornar filhote, segundo consultores e empresrios, ter a grande empresa como nico cliente. Isso configura uma perigosa relao de dependncia. Jos Roberto Schettino Mattos, 35, diretor da Andersen Consulting (consultoria empresarial) diz que o ideal comprometer at 50% do potencial de produo com a empresa-me. O restante deve ser pulverizado entre outros clientes. Mattos v outro desafio: a manuteno da qualidade, j que a empresa que est nascendo tem dificuldades para adquirir equipamentos e tecnologia avanados. Para ele, preciso que a grande organizao fornea recursos necessrios para que a pequena possa prestar servios de qualidade. O diretor da Andersen Consulting diz que o empreendedor deve verificar se seu produto ou servio tem mercado alm daquele criado pela empresa-me. Recm-nascidos A MK Ttica uma recm-nascida. Ceclia Rotemberg, 30, dona, abriu a empresa em fevereiro depois de deixar o Grupo ATP. Rotemberg e a scia Simone Certain, 26, prestam servios de organizao de eventos e feiras. Fazem tambm todo o trabalho de marketing para o ex-empregador. Por j me conhecerem, os diretores da ATP so muito exigentes. Por confiarem na empresa, avalizam nosso trabalho, diz. Isu Fang, 53, diretor-superintendente do Grupo ATP, diz que a ex-funcionria j havia chegado ao topo de sua carreira na empresa, e a melhor sada para seu crescimento era se lanar como empresria. A MK Ttica tem feito trabalhos espordicos para outras empresas, mas a ATP sua principal fonte de faturamento. A SPZ Servios faz trabalhos de limpeza, copa, recepo e manuteno para a Tec Toy. Elpdio Spiezzi Jnior, 36, abriu a empresa h trs meses. Spiezzi diz que tem recebido apoio da empresa onde trabalhava para resolver os problemas que surgem em seu novo negcio. Adolfo Menezes Melito, 41, diretor-administrativo da Tec Toy, afirma que seu filhote tem usado, inclusive, o sistema de computadores da empresa.","Grande empresa gera pequenas a seu redor Novos empresrios passam a fornecer produtos e servios para antigo empregador ; perigo dependncia exagerada NELSON ROCCODa Reportagem Local A eliminao de departamentos e a terceirizao de servios por parte de grandes empresas esto provocando o aparecimento de empresas-filhotes. Com a terceirizao, as grandes empresas repassam parte de servio ou produo para outras menores. Com isso elas enxugam sua estrutura e agilizam a organizao. Se isso cria um relacionamento pouco traumtico de um lado, de outro pode provocar uma situao de excessiva dependncia das empresas menores. Para evit-la, bom que estas no tenham a grande como nico cliente; que 50% de sua produo seja para outros clientes. Ainda h a questo de qualidade. Como as pequenas no tm como investir em alta tecnologia, convm que a grande empresa fornea recursos para que a qualidade se mantenha. " po96jl01-b,"SO PAULO - Susana Marcolino da Silva fez uma ligao pessoal para o dentista Fernando Colleoni ainda na noite do dia 20, quinta-feira, convidando-o a passar onde estava hospedada, no apartamento de PC Farias, no bairro do Morumbi. Ela ligou para Fernando dizendo que estava com uma amiga e perguntou se ele no queria tomar uma champanhe, disse ontem o delegado titular do 30 Distrito Policial, Naief Saad Neto. O fato foi levantado pelo delegado, a fim de demonstrar que o detetive particular Alceu Alves Guimares, contratado pelo empresrio Caio Luiz Ferraz do Amaral, a pedido de PC Farias, no seguiu os passos de Susana em So Paulo. Guimares disse em seu depoimento que na noite do dia 20 Susana ainda estava hospedada na residncia da sua prima Maria Jos Rosenbaum, em Santo Andr, na Grande So Paulo, afirmou Saad Neto, para quem Guimares no realizou a vigilncia encomendada. Segundo o delegado, o detetive particular declarou em seu depoimento que Colleoni e Susana passaram por dois motis, mas no quis dar os nomes dos locais. Colleoni negou ao delegado ter passado por algum motel. O dentista, segundo Saad Neto, no aceitou o convite de Susana para tomar uma champanhe na noite do dia 20. Saad Neto afirmou ainda que Guimares admitiu ter inventado a histria de que Susana estava sendo seguida por outras duas pessoas, alm de dois agentes contratados por ele. Para o delegado, os agentes Toninho e Luiz Carlos, que teriam sido contratados por Guimares, no existem. O empresrio Caio Luiz Ferraz do Amaral afirmou que contratou a empresa Mega Detetives, de Alceu Alves Guimares, para seguir os passos de Susana em So Paulo, a pedido pessoal de PC Farias. Segundo ele, PC Farias pretendia tomar algumas decises e queria ter um relato das atividades de Susana. O empresrio deps ontem no 30 Distrito Policial do bairro de Tatuap, onde declarou que o detetive particular Guimares foi contratado para o servio de acompanhamento duas horas antes de Susana chegar a So Paulo, no vo 346 da Varig, proveniente de Macei, no dia 19. Recebi um informe do detetive no dia 20, dizendo que at aquele momento no havia nada que depusse contra a moa. Liguei para Paulo e ele disse que aguardaria para saber das atividades de Susana depois que ela mudasse para seu apartamento no bairro do Morumbi. Susana deixou a residncia de sua prima Maria Jos Rosenbaum, em Santo Andr, na Grande So Paulo, no dia 20, passando a dormir no apartamento de PC Farias. A partir da, deixei de receber informes do detetive, disse Ferraz. Segundo o delegado Saad Neto, a interrupo dos contatos do detetive particular Guimares com Ferraz indica que PC Farias no sabia que Susana saiu com o dentista Fernando Colleoni na noite do dia 21, quando foram jantar. O empresrio alagoano teria morrido, no dia 24, sem ter sido informado do rpido flerte entre os dois. Para Ferraz, o detetive Guimares pretendia extorquir dinheiro dele, ao ter comentado na ltima sexta-feira, dia 28, a inteno de levar o caso da campana feita junto a Susana para a polcia e a imprensa. Guimares alegava que os dois agentes contratados para segui-la desapareceram depois da morte de PC Farias e de sua namorada em Macei. Guimares ligou posteriormente para o empresrio afirmando que seus agentes pensavam em ir polcia ou imprensa denunciar o caso. Ferraz, que tem um escritrio de representao comercial em So Paulo, disse que conhecia PC Farias h 25 anos. Atualmente ele cuidava do pagamento das contas de luz, gua e telefone dos imveis do empresrio alagoano em So Paulo. O relacionamento entre Ferraz e PC Farias teve incio quando o empresrio alagoano decidiu abrir a revenda de automveis Motoral, com veculos da marca General Motors-Chevrolet, em Macei, h 25 anos. Ferraz ficou encarregado, em So Paulo, dos contatos comerciais. O mesmo ocorreu com outras revendoras de PC Farias, como a DiCasa e Tratoral. H 17 anos que no vou a Macei, declarou Ferraz. Depois da morte de PC Farias, Ferraz ligou para o mdico Luiz Farias e o deputado Augusto Csar Farias (PPB-AL), irmos de PC Farias, para falar da investigao solicitada. O Augusto me disse que haviam sido feitas tambm investigaes em Macei, disse Ferraz.","O empresrio Caio Luiz Ferraz do Amaral, a pedido de P.C. Farias, contratou o detetive particular Alceu Alves Guimares para seguir os passos de Susana Marcolino assim que ela chegasse ao aeroporto em So Paulo. Nos depoimentos aps a ocorrncia do assassinato de Farias e Susana, o delegado do 30 Distrito Policial, Naief Saad Neto fez um rastreamento dos fatos. Constatou que ela telefonou para o dentista Fernando Colleoni , convidando-o para tomar um champanhe no apartamento de P.C. Farias, no Morumbi, onde estava. Segundo o detetive, no mesmo dia e horrio , ela ainda estava na casa de uma prima em Santo Andr. Ainda de acordo com o detetive, o dentista e Susana passaram por dois motis. O dentista negou. Saad Neto afirmou que Guimares inventou a histria de que Susana estava sendo seguida por mais duas pessoas, alm dos detetives que ele contratou. Na opinio do delegado, estes detetives no existem. No seu depoimento, o empresrio Amaral disse que a nica comunicao do detetive , no dia seguinte chegada dela , informava sobre a normalidade de suas atividades e que s voltaria a contact-lo depois que ela mudasse para o apartamento no Morumbi. Isso no mais aconteceu, segundo ele. Para o delegado Saad Neto , P.C. Farias morreu sem saber que Susana tinha sado com o dentista. Ferraz acreditava que o detetive pretendia extorquir dinheiro dele, pois manifestou-lhe a inteno de comunicar imprensa e polcia o caso da campana. Posteriormente, o empresrio telefonou para os irmos de P.C.Farias, informando sobre as investigaes. Eles disseram que, tambm em Macei, elas tinham sido feitas. " op94fe6-01,"Dias nervosos viro O pas inicia nesta tera-feira um perodo decisivo para seu futuro imediato, por mais que o termo decisivo j tenha sido usado na histria recente. O marco inicial desse momento de intensa atividade poltico-econmica ser a votao, prevista para o dia 8, do Fundo Social de Emergncia (FSE), elemento essencial do chamado Plano FHC. O resultado da votao representar o sepultamento do plano, no caso de rejeio, ou o incio de sua fase seguinte, a de combate direto inflao, com enormes reflexos no cenrio econmico e poltico. Por isso, torna-se conveniente tentar uma anlise do que tende a acontecer. Se houver a rejeio, fica relativamente fcil imaginar o desdobramento imediato: Fernando Henrique Cardoso demite-se do Ministrio da Fazenda. Ao rejeitar o FSE, na prtica o Congresso estar rejeitando o Plano FHC, o que, como evidente, torna difcil a permanncia do ministro. tambm de se imaginar, nesse cenrio, que FHC sair do cargo disparando contra o Congresso, como smbolo da desprestigiada categoria dos polticos. Se fcil fazer tais suposies, tudo o mais torna-se extremamente nebuloso. Entre tentar ser o candidato antipoltico e ter sucesso nessa empreitada, vai uma distncia enorme. O que parece evidente que, nessa hiptese, a candidatura FHC nascer, se chegar a nascer, mais fraca do que se imaginava h dois ou trs meses. O desgaste do ministro junto aos setores que influenciam a opinio pblica grande e s dever aumentar se o seu plano for rejeitado pelo Congresso. Seu enfraquecimento representa igualmente o enfraquecimento do que se chama o centro do arco poltico-ideolgico, o que pode tanto abrir espao para o surgimento de uma nova candidatura nessa faixa como levar a uma polarizao direita-esquerda tendo a esquerda um candidato j definido (Luiz Incio Lula da Silva, do PT) e a direita ainda buscando um nome que possa fazer frente ao do petista e acabar tornando-se o anti-Lula. O natural , portanto, que se acelerem, sempre nesse cenrio de rejeio do FSE, as conversas, articulaes e negociaes em busca de uma candidatura alternativa de Lula, a nica que, como demonstram as pesquisas de opinio, se mantm solidamente no panorama eleitoral. Parte desses movimentos j ficou visvel na semana que est terminando. Orestes Qurcia (PMDB) autolanou-se candidato Presidncia. Antnio Carlos Magalhes (PFL) e Paulo Maluf (PPR) reiniciaram conversaes em torno de uma eventual candidatura nica do que se convencionou chamar de setores conservadores. Houve at sinais de que o governador do Cear, Ciro Gomes, tentaria ser candidato pelo mesmo PSDB de Fernando Henrique. Todos esses movimentos refletem, de alguma forma, a crise dos partidos polticos brasileiros. H divergncias internas no PMDB, com a disputa entre a seo gacha (com destaque para Antnio Britto) e os que apiam Orestes Qurcia, da qual se aproveita o governador de So Paulo, Luiz Antnio Fleury Filho, para tentar se colocar como terceira via. H divergncias at mesmo no PT, como o indica o conflito entre a bancada federal e os setores mais radicais do partido que se opem participao na reviso constitucional. A hiptese de candidatura Ciro Gomes divide o PSDB. PFL e PPR tambm no foram ainda capazes de encontrar nomes com chance de emplacar junto ao eleitorado. Essa confuso poltica s demonstra que a sucesso presidencial um processo em aberto, embora falte pouco tempo at a votao em primeiro turno (pouco mais de sete meses). Igualmente difcil de analisar o cenrio econmico e eleitoral que nascer da hiptese inversa, ou seja, da aprovao do FSE na tera-feira ou em qualquer outra data prxima posterior. Se a rejeio do plano provocar uma provvel acelerao inflacionria, a sua aprovao pode abrir caminho para a derrubada da inflao. Aprovada a primeira etapa do Plano FHC, o governo naturalmente partir para a implementao, em curto prazo, da Unidade Real de Valor (URV), primeiro como novo indexador da economia e, em seguida, como nova moeda. As condies bsicas para que a inflao caia seriam, nessa hiptese, mais favorveis do que as existentes em 1989, ano da eleio presidencial anterior. Primeiro, porque o governo dispe agora de formidveis reservas internacionais, acima dos US$ 30 bilhes. Segundo, porque a dvida interna inferior de 89 e seus prazos so mais longos, o que retira um pouco de oxignio do drago inflacionrio. Alm disso, razovel prever que o governo jogar pesado, tambm politicamente, para reduzir a inflao e, por extenso, solidificar uma candidatura presidencial nascida de suas fileiras e que, nessa hiptese, provavelmente ser a de FHC. Tanto pelos handicaps econmicos como pela deciso poltica, que pode incluir algum tipo de controle de preos para acelerar o processo de asfixia da inflao, as possibilidades de que ela caia parecem razoveis. evidente, no entanto, que debelar a inflao no tarefa indolor, principalmente se o governo tiver de utilizar juros ainda mais altos como arma antiinflacionria. A intensidade da dor vai depender, em parte, da maior ou menor urgncia do governo na converso da URV em moeda. Estes dois fenmenos reduo da inflao e eventual queda da atividade econmica tm inequvocos e contrapostos efeitos eleitorais. Inflao baixa d prestgio e popularidade ao governo que a derruba. Mas recesso significa impopularidade. De qualquer forma, se a evoluo econmica for favorvel, abre-se a perspectiva de o chamado centro do arco poltico-ideolgico ganhar fora eleitoral. Em consequncia, igualmente previsvel que se privilegie o entendimento em vez de uma polarizao direita-esquerda, que seria a hiptese mais provvel no caso de rejeio do FSE. Todo esse complexo emaranhado poltico, econmico e eleitoral estar, nas suas grandes linhas, definido entre a prxima tera-feira e o incio de abril, quando vence o prazo para a desincompatibilizao das autoridades do Executivo que quiserem concorrer ao pleito de outubro. No quer dizer, bvio, que todo o quebra-cabeas estar armado, mas as suas peas estaro j mais visveis. De abril at outubro, a sim, se far a armao final, que vai dizer como ficar o Brasil pelos prximos anos.","Dias nervosos viro Descortina-se um perodo decisivo para o futuro do Brasil a partir do dia 8 , quando deve ser votado o Fundo Social de Emergncia ( FSE), base do Plano FHC. Por esse motivo , importante refletir sobre os resultados dessa votao. Se ela for rejeitada, fcil concluir que Fernando Henrique se demita do Ministrio da Fazenda. E considerando desprestigiado o seu plano, sua demisso certamente vir acompanhada de ataques ao Congresso . A seqncia previsvel que sua candidatura Presidncia , se acontecer, vir mais enfraquecida do que antes. Tal enfraquecimento significa a fragilizao do centro do arco poltico-ideolgico e a uma abertura para nova candidatura nessa faixa ou , ainda, a polarizao direita-esquerda, com Lula j definido e a direita em busca de algum. O natural o aceleramento , nesse clima de rejeio do FSE, das conversas e negociaes com vistas a encontrar uma alternativa para contrapor a Lula. Nesse sentido, h um movimento embrionrio: Orestes Qurcia (PMDB) j se autolanou; Antnio Carlos Magalhes(PFL) e Paulo Maluf (PPR) j andaram conversando sobre uma candidatura nica . Nessas conversaes, fica evidente a crise poltica dos nossos partidos. O PMDB fica indeciso entre Qurcia e Antnio Britto, este do Sul; dentro do prprio PT h divergncias; a candidatura Ciro Gomes divide o PSDB; PFL e PPR no se decidiram por um nome. A sucesso presidencial ainda um processo aberto. Tambm no fcil analisar o cenrio, caso o FSE seja aprovado. Nesse caso, a queda da inflao uma boa probabilidade. At porque as condies bsicas so mais favorveis do que na disputa anterior: a disponibilidade de reservas internacionais muito maior e a dvida interna inferior. Por outro lado , derrubar a inflao no um parto com anestesia. Se o governo tiver que aumentar mais os juros e , conseqentemente, a atividade produtiva esfriar, no surpresa vir tona a insatisfao popular e certamente a rejeio ao candidato responsvel" in96ab09-b,"SEUL - As Corias do Sul e do Norte puseram ontem mais lenha na fogueira diplomtica que comeou a queimar h quatro dias, quando os norte-coreanos iniciaram suas incurses militares na localidade de Panmunjom, na zona desmilitarizada entre os dois pases: Na sexta-feira o exrcito do Norte mandou 100 soldados regio; no sbado, 200; e no domingo, 180. O presidente sul-coreano, Kim Young-sam, alertou Pionguiangue que as inconseqentes provocaes no iro mais ser toleradas, aumentou o alerta militar e deu oprens de atirar se houver nova incurso. Os norte-coreanos acusaram seus vizinhos de estarem preparando uma invaso a seu pas, com a ajuda militar dos Estados Unidos. Violao - Os sul-coreanos tentaram ontem angariar o apoio mundial sua denncia contra a Coria do Norte pela violao da trgua acertada em 1953, que acabou com a guerra entre os dois pases. O porta-voz do ministro do Exterior, Suh Dae-won, disse que a Coria do Sul pediu a 30 pases, entre eles Estados Unidos, China, Japo e Rssia, para que pressionassem Pionguiangue a respeitar o armistcio de mais de 40 anos. Segundo indicou Suh, o pas pensa at em recorrer ao Conselho de Segurana das Naes Unidas contra as agresses. O ministro da Defesa sul-coreano, Lee Yang-ho, disse ontem que as tropas do pas, apoiadas por 37.000 soldados americanos, estariam prontas para responder a qualquer agresso militar de seus vizinhos. Ele revelou ter se reunido com os chefes militares do pas para decidir como agir frente s provocaes. Segundo a agncia Yonhap, as tropas foram instrudas ontem para atirar em qualquer soldado norte-coreano que cruzasse a partir de ontem a fronteira com a zona desmilitarizada. O Comando das Naes Unidas considerou a invaso norte-coreana de domingo uma violao significativa do armistcio, mas agregou que no havia motivo para um alarme. A mesma opinio partilhada pelo governo americano. Mesmo assim, os presidentes Kim Young-sam e Bill Clinton iro se reunir na prxima tera-feira, na cidade sul-coreana de Cheju, para discutir qual a melhor atitute frente s movimentaes militares norte-coreanas. Um editorial no jornal do Partido Comunista da Coria do Norte, Rodong Sinmun dizia ontem que os vizinhos do sul enfrentariam um desastre irrevogvel caso ignorassem os alertas de Pionguiangue sobre o que considerava ser movimentaes beligerantes. Os sul-coreanos realizaram exerccios militares, do dia 28 do ms passado ao ltimo dia 2, reunindo as trs Foras Armadas. Alm disso, Seul e Washington examinam a possibilidade de reforar a vigilncia sobre a Coria do Norte, principalmente com avies-radar. Tratado de paz - Muitos analistas acreditam que Pionguiangue espera, com suas supostas provocaes, obrigar os americanos a iniciar conversaes bilaterais. O objetivo seria substituir o velho acordo do armistcio por um tratado de paz negociado em separado. Assim, os norte-coreanos passariam por cima do governo de Seul, que consideram um marionete. Eles esto apenas pondo um ponto de exclamao na sua afirmao, feita ao longo dos ltimos dois anos, de que o armistcio est morto, analisou Jim Coles, porta-voz do Comando das Naes Unidas. ","A penetrao de tropas norte-coreanas numa regio desmilitarizada entre as duas Corias reesquentou o clima diplomtico dos dois pases , em paz desde o armistcio de 1953, que selou o fim da guerra entre eles. A Coria do Sul reagiu e ameaou contra-atacar se as provocaes continuassem. Tentou tambm angariar apoio de 30 pases ---entre eles Estados Unidos, China , Japo e Rssia--- , a fim de que eles pressionassem a Coria do Norte a respeitar a trgua. O ministro da Defesa sul-coreano informou que suas tropas, apoiadas por 37.000 soldados americanos, responderiam a qualquer ataque do vizinho. O Comando das Naes Unidas e o governo americano reconheceram a violao, mas no vem motivo para alarme. Mesmo assim, o presidente sul-coreano e Bill Clinton se reuniro para discutirem a melhor atitude a ser tomada. Por sua vez, um editorial norte-coreano contraps srias ameaas , se os sul-coreanos continuassem com movimentaes militares. Muitos analistas vem a atitude dos norte-coreanos como uma forma de ser revisto o tratado de paz entre os dois pases , e conseguirem um outro em separado , com o qual se desvinculariam de compromissos com Seul. " op94ag14-a,"A leitura atenta das entrevistas de Fernando Henrique Cardoso (candidato pela coligao do PSDB) e Luiz Incio Lula da Silva (da aliana liderada pelo PT) Folha revela muito mais coincidncias do que divergncias. Semelhanas que comeam nas primeiras medidas que cada um deles anuncia como prioritrias para o incio de governo. Ambos mencionam a reforma tributria como ponto de partida, o que, de resto, segue uma lgica inescapvel: o Estado brasileiro est em evidente estado falimentar e no h governo que possa fazer o que quer que seja se, antes, no conseguir reorganizar racionalmente as suas fontes de recursos. At a frmula para a implementao dessa reforma indispensvel, a negociao com a sociedade, semelhante entre os dois candidatos que lideram todas as pesquisas de inteno de voto. A indagao acerca do rtulo poltico-ideolgico que cada um assume revela outra enorme semelhana. Lula, embora continue se afirmando socialista, menciona como modelo de pas a Dinamarca, que exatamente um dos prottipos da social-democracia. Fernando Henrique, por sua vez, assume por inteiro a qualificao de social-democrata. Para acentuar as semelhanas, a palavra Estado, com conotao positiva, foi certamente a mais empregada pelo candidato tucano ao longo da entrevista, acompanhada do enterro retrico do neoliberalismo. No h, alis, motivo para espanto no fato de os dois principais candidatos e, por isso mesmo, os dois grandes rivais do pleito presidencial mostrarem tantas coincidncias. O sepultamento do comunismo, com a queda do Muro de Berlim em 1989 e a derrocada da Unio Sovitica em fins de 1991, acabou por tornar muito mais convergentes as posies de correntes polticas antes mais distanciadas e das lideranas que as representam nas disputas eleitorais. Alm disso, o diagnstico sobre os males do Brasil est feito h algum tempo. No h candidato que ignore que reequacionar o Estado e, por extenso, as suas funes essenciais (educao, sade etc.) uma prioridade bvia. Da mesma forma, no h quem possa escapar constatao de que os problemas sociais so profundos e pedem providncias estruturais e de emergncia. natural, portanto, que todos os candidatos e no apenas os dois principais as incorporem como prioridades em seus respectivos programas de governo. Apontadas as semelhanas e parte de suas causas, fica mais difcil assinalar diferenas realmente de fundo. Pelo menos nas duas entrevistas que esta Folha publica hoje, as divergncias so mais de nfase. O discurso de Lula, previsivelmente, est profundamente pontilhado pela questo social. J o discurso de Fernando Henrique Cardoso, embora tambm trate dela, gasta mais palavras no tema da insero do Brasil no cenrio internacional. A questo das privatizaes , talvez, o ponto mais ntido de divergncia. Lula demonstra m vontade em relao no apenas s privatizaes j feitas, mas tambm no que se refere s que podem vir a ser feitas pelo futuro governo. J o candidato tucano aceita a desestatizao com boa vontade. Mas, de todo modo, os dois coincidem em tentar retirar da discusso o aspecto ideolgico que cercava o tema at muito recentemente e que para alguns candidatos, como Leonel Brizola, permanece ainda como questo de princpios. Bem feitas as contas, a diferena entre os dois candidatos que, ao menos por ora, so os favoritos na corrida para o Planalto muito mais de biografia e de alianas. De um lado, tem-se um grande lder de massas, como o prprio FHC definiu Lula. De outro, um grande intelectual, como Lula qualificou FHC. Se esto sendo absolutamente sinceros nessas respostas, o mais provvel que um venha a precisar muito do outro, seja qual for, entre os dois, aquele que vencer a disputa eleitoral.","Pelas entrevistas dos dois candidatos presidncia ---Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lus Incio Lula da Silva (PT) -- , conclui-se que h mais convergncias do que divergncias entre eles. Ambos mencionam a reforma tributria como ponto de partida para o prprio governo , coerentes , alis, com a condio bsica para a sobrevivncia do pas. E os dois pretendem faz-la , negociando com a sociedade. Tambm o perfil poltico-ideolgico de ambos se mostra cada vez mais prximo da social-democracia . uma tendncia observada aps o fim do comunismo , com a queda do Muro de Berlim (1989) e o esfacelamento da Unio Sovitica (1991). Ainda revelam semelhana quanto ao diagnstico sobre os males do Brasil , que so prioridades do Estado: educao , sade e vrias outras questes de ordem social. Fica at difcil , pelo menos at agora, apontar as diferenas . Lula enfatiza mais a questo social , e Fernando Henrique , sem descuidar dela, acentua a insero do Brasil no mundo. O ponto de maior divergncia quanto as privatizaes. Fernando Henrique aceita-as com tranqilidade ; Lula , no. Mesmo assim, ambos tentam enfoc-las sem o vis ideolgico recente. " in96fe26-b,"JERUSALM - Pelo menos 25 pessoas morreram na manh de ontem em Israel, vtimas de dois atentados terroristas praticados por membros da Organizao Fundamentalista Islmica, Hamas. No mais grave deles, uma bomba acionada por um terrorista suicida no interior de um nibus, no centro de Jerusalm, deixou 23 pessoas mortas e mais de 50 feridas. Pouco depois, novo atentado a bomba, em Ashkelon, no sul do pas, causou dois mortos e 22 feridos. O atentado ocorrido em Jerusalm, o mais sangrento de que se tem lembrana em Israel, ocorreu pouco antes das sete da manh, no momento em que um nibus lotado de passageiros, em sua maioria soldados que voltavam para suas bases, se aproximava da estao rodoviria. O terrorista esperou que o nibus parasse num sinal e acionou a bomba. O enorme impacto causado por cerca de dez quilos de dinamite destruiu totalmente o nibus e atingiu vrios outros nas proximidades. Os 50 feridos foram internados, e oito deles esto em estado grave. Metal - A Rua Jaffa, a principal de Jerusalm, se assemelhou a um campo de batalha, com dezenas de corpos mutilados espalhados num raio de dez metros, e feridos presos nas ferragens. Segundo a polcia, o efeito destruidor da exploso foi ampliado por pedaos de metal introduzidos na bomba para causar mais danos. Cerca de 45 minutos mais tarde ocorreu nova exploso. Disfarado numa farda do Exrcito israelense, um terrorista aproximou-se dos soldados que se aglomeravam num ponto de nibus de Ashkelon, prximo Faixa de Gaza, e acionou a bomba que trazia junto a seu corpo. A semelhana entre os dois atentados levou a polcia a deduzir que se tratou de uma operao coordenada por uma mesma faco do Hamas, num ato de vingana contra o atentado praticado por um extremista judeu h exatamente dois anos em Hebron, episdio em que 29 palestinos foram assassinados. Outra data lembrada foi a dos 50 dias do assassinato do terrorista Yahia Ayash, conhecido como o Engenheiro, presumivelmente praticado pelo servio secreto israelense. Pouco depois, um volante do Hamas encontrado prximo ao local do atentado de Jerusalm dizia que toda atividade armada ser suspensa quando Israel suspender todas as aes terroristas contra o grupo e libertar seus ativistas presos. Fronteiras - Os dois atentados de ontem ocorreram apenas dois dias depois da reabertura das fronteiras de Israel com os territrios palestinos de Cisjordnia e Gaza, determinado a partir de informaes de que radicais muulmanos tentariam vingar a morte de Ayash. O clima de insegurana que voltou a imperar em Israel obrigou o governo a fechar novamente as fronteiras, desta vez por tempo indeterminado. Tambm os contatos do governo com a Autoridade Nacional Palestina (ANC) foram suspensos, e s sero retomados depois dos funerais das vtimas. Pouco depois dos atentados, o primeiro-ministro Shimon Peres afirmou que seu pas no dar trgua ao terrorismo, e que prosseguir com o processo de paz com os palestinos. Em Gaza, o lder palestino Yasser Arafat condenou duramente os dois ataques. So aes terroristas, aes criminosas, voltadas no apenas contra pessoas inocentes mas contra todos o processo de paz, disse ele. Horas mais tarde, a polcia palestina prendeu na regio de Gaza cerca de 50 militantes do Hamas, e anunciou seu propsito de nas prximas horas deter mais 150 suspeitos. Os presidentes Bill Clinton, dos EUA, e Hosni Mubarak, do Egito, bem como o rei Hussein, da Jordnia, enviaram mensagens de condolncias s famlias das vtimas e ao governo israelense.","Dois ataques terroristas do grupo Hamas , num intervalo pequeno, mataram pelo menos 25 pessoas e deixaram cerca de 72 feridos. A violncia , principalmente do primeiro , praticado dentro de um nibus, fazia lembrar uma praa de guerra. Os dois atentados foram vingana contra o morticnio de 29 palestinos, praticado por um extremista judeu , dois anos antes, e contra o assassinato do terrorista Yahia Ayash , possivelmente praticado pelo servio secreto israelense. Os dois atentados , ocorridos apenas dois dias depois da reabertura das fronteiras de Israel com os territrios palestinos de Cisjordnia e Gaza, deixou um clima de insegurana tal que obrigou o governo a fech-las novamente. O primeiro-ministro Shimon Peres afirmou que no dar trgua ao terrorismo e que continuar com o processo de paz. Do lado palestino, Yasser Arafat condenou os dois ataques , prendeu 50 militantes do Hamas e anunciou o propsito de prender imediatamente mais 150. Bill Clinton , Hosni Mubarak , do Egito, e o rei Hussein da Jordnia enviaram condolncias s famlias das vtimas e ao governo israelense. " di94jl01-09,"A regulamentao do artigo 38 e a credibilidade do governo SRGIO RIBEIRO DA COSTA WERLANG O plano da estabilizao econmica ora em vigor bem estruturado em geral, mas desde sua primeira edio (medida provisria 434, publicada no Dirio Oficial da Unio de 28/2/94) contm uma falha grave: um de seus artigos altera as clusulas de correo monetria de contratos j em andamento (artigo 36 da MP 434). Atualmente, em sua verso definitiva, a lei 8.880, contm um artigo semelhante, o de nmero 38. Um contrato entre duas partes feito porque ambas as partes ficaro melhor. Claramente, um contrato de longo prazo em uma economia inflacionria tem de conter alguma clusula de indexao. Ocorre que qualquer contrato incompleto, isto , impossvel que todas as contingncias (ou seja, todos os acontecimentos possveis durante a vida do contrato) sejam definidas com preciso. Assim, se ocorrer um fenmeno que tem pouca chance de realizar-se, em outras palavras, se ocorrer uma surpresa ou um fato inesperado, comum haver recontratao, isto , a renegociao do contrato. A reviso contratual quando da realizao de uma surpresa no s um princpio econmico saudvel e correto uma vez que nunca se consegue listar em um contrato todas as possveis ocorrncias durante a vida do mesmo como tambm uma boa doutrina jurdica. Alis, muito comum que as instituies jurdicas indiquem a experincia passada de uma sociedade, representando os mecanismos legais que se mostraram mais estveis e mais agregadores de valor adicionado economia no longo prazo. Tem estado muito em voga a teoria institucional que cuida de no s verificar quais as instituies que emergem, mas tambm qual o efeito da ambincia institucional no longo prazo da economia. Em particular, esta linha de pesquisa tem sido muito popular nas disciplinas de law and economics e de histria econmica, tendo sido premiada no ltimo Nobel de Economia que foi dado a Douglass North e Robert Fogel. justamente a viso de longo prazo que deve nortear a correta regulamentao do artigo 38. importante que seja entendido qual o novo critrio de correo monetria sugerido pelo artigo 38 e qual seu impacto estimado em contratos corrigidos por ndices de preos. Por problemas estatsticos, impossvel medir um ndice instantneo de inflao. Assim, qualquer ndice de preos calculado com base no comportamento dos preos no passado. Dessa forma, toda vez que h uma queda brusca da inflao esta levar algum tempo a ser captada numericamente. Por exemplo, se a inflao de junho for de 45% ao ms, e se a inflao a partir de 1 de julho for zero (o que significa que o plano econmico foi um sucesso completo), haver ainda uma inflao residual no IGP-M lembre-se, isto apenas um efeito estatstico advindo da metodologia do clculo de ndices de 35% distribudos entre os meses de julho e agosto. A regulamentao sugerida pelo governo no artigo 38 eliminaria por completo estes 35%. A argumentao usada pelos integrantes da equipe econmica a teoria da surpresa que, como explicada acima, justificaria a reviso dos contratos. No entanto, fcil ver que a teoria da surpresa nem sempre se aplica ao caso. Com efeito, em muitas situaes, a inflao residual nos contratos foi antecipada, isto , foi levada em considerao quando da negociao inicial. O exemplo mais bvio foi na compra de NTNs indexadas ao IGP-M, aps as declaraes, por sinal muito saudveis, de Francisco Pinto em dezembro passado em favor da inalterabilidade dos contratos. Note-se que Francisco Pinto era, poca, o diretor do Banco Central responsvel pela dvida pblica. Desse modo, suas declaraes eram vistas como refletindo o pensamento unssono da equipe, de forma que o mercado passou imediatamente, a negociar NTNs indexadas ao IGP-M com juros mais baixos j que estes ttulos teriam uma correo adicional em relao, por exemplo, ao dlar, quando a taxa de inflao diminusse. Nesse caso especfico, no se pode dizer que a queda brusca da inflao representa uma contingncia imprevista ou uma surpresa, uma vez que foi antecipado. Assim, no deve haver recontratao. Por outro lado, imagine um indivduo no especialmente informado das sutilezas estatsticas de ndices de preo, que comprou um imvel quando a inflao j estava em nveis elevados (por exemplo, 30% ao ms) atravs de uma financiamento indexado ao IGP-M. Parece claro que esta uma situao em que a queda brusca da inflao introduz um elemento novo, uma surpresa. Portanto, neste caso, justo que grande parte (mas no a totalidade) do resduo da inflao do IGP-M seja expurgado de sua dvida. Os dois exemplos acima, ilustram que os ganhadores e perdedores com a queda abrupta da inflao no so claramente identificados a priori. Cada caso um caso. No primeiro exemplo, a nova regra de indexao proposta pelo artigo 38 flagrantemente injusta. J no segundo exemplo, a regra aproximadamente verdadeira. Tendo em mente isto, a seguinte pergunta fundamental: ser que ao invs de determinar qual a melhor maneira de identificar a priori qual ser a regra de passagem que diminui o grau de conflito (ou seja, diminui o desejo de recontratao) no seria melhor deixar que os agentes insatisfeitos entrassem com aes na Justia provando (ou tentando provar) que em seus casos particulares a queda brusca da inflao introduz um elemento de surpresa que justifica a reviso dos termos do contrato? Para responder a esta pergunta, procuro medir o efeito da perda de credibilidade que o governo federal teria com a adoo do artigo 38. Fao-o de modo muito conservador e centro-me especificamente sobre o impacto sobre as contas do setor pblico do aumento da desconfiana causada na dvida mobiliria interna do governo federal. Isto porque, sendo difcil estimar qual a melhor maneira de alterar os contratos em vigor, ao menos deve-se ter uma medida do custo da deciso de alterar estes contratos. Para medir-se o efeito lquido nas contas do setor pblico, devem-se estimar tanto os ganhos quanto as perdas do governo federal. Do lado dos ganhos, note-se que o expurgo nas NTNs reajustadas em IGP-M (NTN-B e NTN-C) seria de cerca de 35% do estoque destas NTNs que vende depois de primeiro de julho. Em dados de 1 de junho, do Banco Central, o governo federal perderia um total de US$ 1,6 bilhes. J para estimar as perdas, h dificuldades adicionais. Ser que possvel mensurar o efeito da perda de credibilidade que o governo sofrer com a introduo do expurgo pelo artigo 38? Um mtodo aproximado para calcular o efeito do artigo 38 o seguinte. Observa-se que as taxas de juros em NTNs cambiais curtas (de at trs meses) no incio de fevereiro eram pouco inferiores a 26% ao ano. A MP 434 foi editada no Dirio Oficial da Unio de 28/2/94. No dia seguinte, 1/3/94, o Banco Central leiloou NTNs cambiais curtas (e longas tambm). As taxas demandadas pelas instituies financeiras para as NTNs curtas variaram de 28% a 30% ao ano. O Banco Central desistiu de colocar os ttulos a este preo. Mas o fato importante que havia demanda por ttulos cambiais a dlar mais 26% ao ano logo antes do plano, e aps o mesmo a demanda passou a 28%-30%, sem que houvesse nenhuma alterao substantiva na liquidez da economia. Logo, pelo menos uma diferena de 2% a 4% ao ano na taxa de juros requerida pelo pblico foi observada, simplesmente pela edio da medida. Supondo-se que: 1) a dvida mobiliria interna fique constante em termos de dlares reais e 2) o prmio que a dvida pblica tenha que pagar pela perda de credibilidade seja de 2% ao ano, mas caia a zero linearmente em 40 anos; chega-se concluso (utilizando-se o juro real de longo prazo em dlares de 2% e 3% ao ano) de que o valor presente da perda de credibilidade em decorrncia da edio da MP 434 varia entre US$ 7,6 bilhes e US$ 8,9 bilhes! Como somente o artigo 36 da MP 434 altera as condies contratuais das dvidas do governo, a fonte desta perda de credibilidade reside a. Ou seja, no atual artigo 38 da lei 8.880. Conclui-se que o governo acaba por perder muito mais do que os US$ 1,6 bilho que so computados diretamente. E isto sem levar em considerao a perda de credibilidade que foi imposta a toda a economia brasileira, uma vez que houve interveno em todos os contratos da economia. Uma vez que o Executivo props uma medida que lhe danosa, e ao povo brasileiro em geral, cabe ao Legislativo corrigir isso. Basta que, ao regulamentar o artigo 38, o Congresso proponha que no se alterem os contratos em vigor. SRGIO RIBEIRO DA COSTA WERLANG, 35, doutor em economia pela Universidade de Princeton (EUA) e diretor-geral da Escola de ps-graduao em Economia da Fundao Getlio Vargas (RJ).","A regulamentao do artigo 38 e a credibilidade do governo SRGIO RIBEIRO DA COSTA WERLANG O plano da estabilizao ora vigente , em geral, bem estruturado , mas desde a primeira edio contm um falha grave: um de seus artigos as clusulas de correo monetria de contratos em andamento(art.36 da MP 434) . A lei 8.880 contm um artigo semelhante, o 38 ) Um contrato de longo prazo , em uma economia inflacionria , precisa ter uma clusula de indexao. Pelo fato de todo contrato ser incompleto, impossvel que tenha previstas todas as contingncias. Por isso, se ocorrer uma surpresa , comum uma reviso, que constitui um princpio econmico saudvel . comum que as instituies jurdicas levem em conta a experincia passada de uma sociedade, o efeito da ambincia institucional no longo prazo da economia , e no s as organizaes emergentes. exatamente a viso de longo prazo que deve servir de parmetro para a regulamentao do artigo 38. fundamental ficar claro qual o critrio de correo monetria sugerido por esse artigo e qual seu impacto em contratos corrigidos por ndices de preos, que tm sua atualizao baseada em preos passados. Por exemplo, se a inflao de junho for de 45% mensais, e a partir de julho , zero, haver uma inflao residual no IGP-M de 35% , distribudos entre os meses de julho e agosto. A regulamentao sugerida pelo governo no artigo eliminaria o resduo. a chamada teoria da surpresa , que justificaria a reviso dos contratos.Diferente dos casos em que a inflao residual j foi prevista por ocasio do incio das negociaes. O exemplo bvio desta situao a compra de NTNs indexadas ao IGP-M. No caso, no houve surpresa e, portanto, no deve haver recontratao. No a situao de quem, sem maiores informaes sobre ndices, compra um imvel com a inflao alta . Sua queda repentina ser considerada um elemento surpresa, que justifica o expurgo da inflao . Nos dois casos, ganhadores e perdedores com a queda abrupta da inflao no so identificados a priori. Assim sendo, fundamental perguntar: em vez de determinar qual a melhor maneira de identificar com antecipao os meios de evitar o conflito, no seria melhor deixar que a Justia resolvesse a contenda? Minha resposta leva em conta o grau de perda de confiabilidade do governo federal, no caso de aceitar o artigo 38. Se difcil avaliar o melhor caminho de alterar os contratos em vigor, que se leve considerao o custo da deciso , com base nos seus lucros e perdas. Uma vez que o Executivo props uma medida danosa a ele ao povo , cabe ao Legislativo corrigir, propondo , ao regulamentar o artigo, a no-alterao dos contratos em vigor."