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in96fe15-a | A Internet um ambiente propcio para os altos e baixos do corao. Isso todo mundo ficou sabendo ao acompanhar o romance entre Dara e Jlio Falco, na novela Explode Corao, da TV Globo. Na grande rede de computadores que interliga pessoas no mundo todo, o amor e o dio esto presentes, por isso, ontem, dia de So Valentim (Valentine's Day), em que se comemora o dia dos namorados em vrios pases do Hemisfrio Norte, a grande rede abriu espao para os apaixonados. Na Internet h vrios endereos dedicados ao assunto. Neles, pode-se comprar chocolate, vinho, lingeries, enviar cartes e at pedir o ser amado em casamento pela rede, de modo pblico ou no. Um dos endereos mais bvios o Valentines.com - love at first site (amor no primeiro endereo) (http://www.valentines.com). Nesse ciberlocal, o objetivo ajudar os apaixonados a manter a chama do amor acesa. H cartes de visitas, cartas romnticas. Duas pessoas respondem dvidas amorosas via correio eletrnico. Entre as dvidas dos internautas apaixonados esto: o que fazer se uma mulher lhe oferecer flores ou como confiar em algum depois de ter sido magoado em outro relacionamento. No Palcio do amor de Afrodite (http://www.purple.co.uk/purplet/love.html), alm de ligaes para vrias outras pginas regidas pelo Cupido, os enamorados encontram, entre muitos desenhos melosos e apaixonados, msicas, poemas, cartes, dicas para mimar os amantes e arquivos com sons de vrios tipos de beijo (french kiss, cyberkiss, english french kiss), alm de uma proposta de casamento on-line, em que basta preencher seu nome e nome do futuro cnjuge. Nessa pgina, h ligaes para pginas comerciais onde pode-se comprar flores, vinho, chocolate, lingeries e at um carro para presentear namorados. Tmidos - Para os enamorados tmidos ou que tm dificuldade para lidar com as palavras, o melhor apelar para o The Cyrano Server (http://www.nando.net/toys/cyrano.html). Calcada na pea teatral escrita no sculo passado pelo francs Edmond Rostan - em que o feio Cyrano de Bergerac escrevia as cartas que apaixonavam a namorada de um amigo bonito -, a pgina se prope a escrever os e-mails enquanto o usurio leva a fama. Um detalhe: as cartas so escritas em ingls. Para o computador escrever uma carta pelo internauta, a mquina pede dados como o estilo de carta desejado (indecisa, surreal, desesperada, intelectual) e adjetivos que descrevam a pessoa amada, alm da comida preferida dela. Na pgina Valentine's Day (http://www.nando.net/toys/valentine.html) h dados curiosos sobre o dia de So Valentim, santo decapitado por um imperador romano no dia 14 de fevereiro de 269. Valentim, um bispo estudioso, entrou para a histria como um protetor dos jovens, aos quais ajudava a escrever cartas de amor. Seus ossos, guardados hoje na igreja de Santo Antnio, em Madri, atraem at hoje romarias de pessoas que vo pedir ao santo felicidade no amor. At o dia 17, na Internet, tambm est sendo comemorada a Semana do dia do casamento: no endereo http://www.randomc.com/rmachan fica-se sabendo que h vrios eventos sobre o assunto e, no mesmo site, possvel votar no casal mais romntico j existente. Outras pginas da World Wide Web (parte grfica da rede) tm sugestivos ttulos como A escolha do Cupido, The Valentine's Thief: a children story, Hearts- the game, Cupid's Chapel of Love, Love Bytes Web Valentine e a Screen Saver for Valentine's Day (um descanso de tela para o dia dos namorados). Como o dia dos namorados no Brasil cai em 12 de junho, d tempo de pesquisar as dicas nos endereos internacionais e utiliz-las por aqui. Namoro no ciberspao acaba em... casamento no ciberspao. Nada mais natural. Faltava apenas um casal que se dispusesse a reconhecer a seriedade de sua relao e resolvesse subir no altar informatizado. Os americanos Joseph Perling e Victoria Vaughn aceitaram o desafio e se tornaram pioneiros do sacramento on line. Ontem, em pleno dia dos namorados nos EUA, eles disseram sim e juraram fidelidade eterna via Internet - ele, de seu laptop em Venice Beach, na Califrnia; ela de seu terminal em Hollywood, no mesmo estado. A cerimnia, realizada atravs da rede Compuserve, foi abenoada e oficializada - via computador, claro - por um padre de uma igreja em Beverly Hills, tambm na Califrnia. | So Valentim , que entrou para a histria como protetor dos jovens, o patrono dos namorados. Ontem, seu dia e dia dos namorados, a Internet abriu seu espao para os enamorados em vrios sites. Nos vrios endereos eletrnicos, prope-se a atender a todos os gostos, dvidas e ansiedades dos apaixonados. Se algum quer presentear com vinho, chocolate , lingeries, enviar cartes ou cartas romnticas s buscar um dos sites. Os tmidos tm quem lhes exprima as declaraes ao/ amado/a conforme o seu gosto. s entrar no (Http://www.nando.net/toys/cyrano.html) . Outros querem estimular a paixo ouvindo msicas , poemas, diversos sons de beijos e at propostas de cansamento on-line ; basta procurar o Palcio do Amor de Afrodite. E ,para no se acusar isso de pura realidade virtual, ontem os americanos Joseph Perling e Victoria Vaughn concretizaram sua unio --- ele no seu laptop em Venice Beach , Califrnia; e ela no seu terminal em Hollywood, no mesmo estado. Logicamente, abenoados , via computador, por um padre em Beverly Hills. |
po96fe07-b | O ex-senador Nelson Carneiro, 85 anos, um dos mais ativos legisladores da poltica brasileira durante 48 anos, morreu ontem, s 18h50, em casa, em Niteri. O governador do Rio, Marcello Alencar, e o prefeito Csar Maia decretaram luto oficial por trs dias no estado e no municpio. O corpo est sendo velado na Cmara Municipal do Rio e o enterro ser hoje, s 17 horas, no Cemitrio So Joo Batista. Sua filha, a deputada federal Laura Carneiro, contou ontem que seu pai conversava com um amigo quando morreu. Nelson Carneiro tinha recebido alta hospitalar h poucos dias, depois de serecuperar de uma anemia e submeter a cirurgia abdominal laparoscpica feita em dezembro, em So Paulo. O ex-senador h 15 anos teve um cncer no estmago. O ex-senador esteve internado de 16 a 31 de janeiro, no Hospital Samaritano, no Rio, depois de passar 40 dias no Hospital Srio Libans, em So Paulo, para se recuperar da cirurgia. Os mdicos tinham conseguido reverter um quadro de desidratao e desnutrio. Em 1980 teve que ser operado de diverticulite (inflamao na parede do intestino grosso) com urgncia em So Paulo. Em novembro de 92 foi internado na Casa de Sade So Jos, no Humait, por causa de um derrame cerebral. Em 1972 j tinha sofrido acidente vascular cerebral no Mxico, por causa da altitude. Desta vez seu diagnstico foi hipertenso. Em novembro de 94, foi internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, por causa de um stress. Fez exames de rotina. O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em Braslia, que Nelson Carneiro dedicou toda sua vida defesa e consolidao da democracia. Foi tambm um dos principais arautos dos direitos da mulher no Brasil. Sua morte nos deixa tristes. Durante longos anos, ele iluminou os debates no Congresso Nacional. A morte do ex-senador foi recebida com pesar no Congresso Nacional. A sesso plenria de hoje no ser suspensa, mas se transformar em homenagem sua memria. Ele foi a imagem do homem dedicado ao parlamento, disse ontem o presidente do Congresso Nacional, senador Jos Sarney (PMDB-AP). Os dois senadores que o derrotaram na eleio passada foram os que mais choraram o desaparecimento do ex-parlamentar. Sempre lamentei t-lo derrotado, mas no fui s eu. No se esquea da Benedita, disse o senador Artur da Tvola (PSDB-RJ). Mas a senadora petista lembrou: Nelson, junto com o PT, apoiou o PDT a meu pedido. Mas Artur da Tvola no quis relembrar as crticas feitas por Nelson ao governador do Rio, Marcello Alencar, no discurso de despedida do Senado, quando chamou o governador de judas carioca, e o acusou de prejudicar sua tentativa de reeleio. Foram resqucios da campanha eleitoral, deixou escapar Tvola. Para ele, Nelson Carneiro um dos poucos parlamentares que podem se orgulhar de ter uma obra legislativa completa, marcando a mudana na face da sociedade brasileira. A senadora Benedita da Silva (PT-RJ) reagiu com emoo: Perdemos o grande parceiro na luta pelos direitos das mulheres. Nelson deve ser lembrado como o senador amigo das grandes causas feministas, disse a senadora. Nelson Carneiro era casado com Carmem e tinha trs filhos do seu primeiro casamento: Jorge Miguel, 42 anos; Luza, 40 anos e Laura, 32 anos. Um poltico obstinado, caxias, defensor dos direitos da mulher e extremamente emotivo. Com esse perfil, os 65 anos de vida pblica de Nelson Carneiro se confundem com a histria poltica do pas. Depois de cinco mandatos como deputado, trs como senador e 32 horas como presidente da Repblica - em 1990, durante uma viagem de Jos Sarney -, Nelson Carneiro considerado um dos mais destacados legisladores, com mais de 500 projetos, a maioria convertida em leis. Mas, sem dvida, a Lei do Divrcio, aprovada em 1977, foi a mais famosa de sua biografia poltica. A conquista ocorreu depois de 30 anos de luta contra a Igreja Catlica, apesar de catlico praticante fervoroso, devoto de Nosso Senhor do Bonfim - como todo bom baiano - e at coroinha durante a infncia. Nelson Carneiro atribuiu a derrota nas eleies de 54 para a Cmara de Deputados por sua defesa obstinada ao divrcio. Tambm foi autor do projeto que previa a equiparao da mulher casado ao marido (Lei nmero 4.121) e do que assegurava penso aos filhos de qualquer condio. A derrota de 54, no entanto, no foi a maior decepo sofrida por Nelson ao longo de sua vida pblica. Ela veio 40 anos depois, quando o senador, ento filiado ao PP, concorreu reeleio na coligao PSDB/PP/PFL/PL, ao lado do ento candidato ao governdo do Rio Marcello Alencar. Em uma entrevista emocionada - que o levou s lgrimas -, no dia 7 deste mesmo ano, Nelson Carneiro anunciou seu rompimento com Marcello. Nelson Carneiro atribuiu sua derrota ao empenho do tucano em eleger somente o outro candidato ao Senado da chapa, Artur da Tvola (PSDB). Fui trado calculadamente e a sangue-frio, desabafou. Nem mesmo o ento candidato presidncia da Repblica, Fernando Henrique Cardoso, escapou da mgoa do senador, que o criticou pela omisso diante do fato. Na poca, Nelson divulgou documento desfiando uma sucesso de episdios em que Marcello favorecia Tvola. Entre as provas, o senador citou a ausncia de outdoors com fotos suas - apesar de ter posado ao lado de Marcello e Tvola - e chegou a dizer que no era convidado a participar dos eventos de Fernando Henrique que, junto com Marcello e Tvola, percorria o Rio no avio do feliz banqueiro Ronaldo Csar Coelho. Tambm no perdoou o fato de uma emissora de TV ter registrado a imagem de Marcello votando apenas em Artur da Tvola para o Senado. Depois do incidente, Nelson apoiou, no segundo turno, a candidatura do pedetista Anthony Garotinho ao governo do estado. Enxugando as lgrimas em um leno branco, ele afirmou na entrevista que esperava, at o fim do mandato, aprovar um projeto que garantia s mes o direito de escolher com quem ficaria a guarda dos filhos aps a separao. Sempre me comovo com aos causas ligadas mulher, justificou. Esta, no entanto, no foi a nica ocasio em que Nelson deixou extravasar a emoo. Chorou tambm em fevereiro de 95, ao ouvir o Hino Nacional durante sua despedida do Senado Federal. Nascido em Salvador, em 1910, Nelson cursou Direito na Universidade Federal da Bahia. L teve seu primeiro contato com a poltica, filiando-se ao Partido Democrtico Universitrio da Bahia. Em 1929, iniciou sua carreira jornalstica em O Jornal. Especialista em direito da famlia e em direito das sucesses, comeou a se sensibilizar com os dramas das famlias constitudas que no podiam ser legalizadas. Em 45, filiou-se Unio Democrtica Nacional (UDN) e foi eleito suplente de deputado pela Bahia Assemblia Nacional Constituinte. Como jornalista, Nelson fez a cobertura do evento para o JORNAL DO BRASIL, onde escreveu como colaborador at a dcada de 70. Em 47, assumiu uma cadeira na Cmara, participando da Comisso de Legislao Social e da Comisso Especial de Proteo Natalidade. Trs anos depois, foi eleito deputado federal pela Bahia. Em 53, filiou-se ao Partido Libertador (PL). Mudou-se para o Rio e, em 58, elegeu-se pelo Partido Social Democrtico (PSD) carioca. Com a transferncia da capital para Braslia, passou a representar o estado da Guanabara. Eleito vice-lider do PSD, presidiu a Comisso Parlamentar de Inqurito (CPI) sobre o petrleo e a Comisso de Constituio e Justia da Cmara. Em setembro de 61, aps a renncia do presidente Jnio Quadros, relatou e conduziu a votao da Emenda Constitucional nmero 4, que instituiu o parlamentarismo no Brasil. Continuou a carreira poltica no Movimento Democrtico Brasileiro (MDB). Nas eleies para o Congresso, em 1978, foi ele quem desafiou a proibio de se fazer campanha nas ruas, ao comandar uma passeata na Avenida Rio Branco, enfrentando o cerco de mais de mil soldados. Nesse mesmo ano ele acrescentou a sua biografia outro feito eleitoral, ao eleger-se com mais de 2,2 milhes votos. | As manifestaes protocolares pela morte do ex-senador Nelson Carneiro contm , naturalmente, as frases feitas tpicas dos meios oficiais. Mas , entre elas, existe uma, do ex-presidente Sarney, que talvez seja a que melhor defina sua condio de homem pblico: Ele foi a imagem do homem dedicado ao parlamento. Nasceu em Salvador em 1910, cursou Direito na Universidade Federal da Bahia. No seu Estado, fez a iniciao poltica e exerceu o jornalismo. Sua experincia de 65 anos de vida pblica permitiu que ele percorresse vrias instncias do Poder Legislativo e vivenciasse mltiplas circunstncias da nossa histria poltica. Inclusive durante a Revoluo de 1964, quando comandou uma passeata na Av. Rio Branco, em 1978, desafiando uma proibio do poder militar. Mas a luta que melhor caracterizou sua persistncia e seu perfil de poltico foi aquela travada pela legalizao do divrcio, que lhe custou 30 anos de enfrentamento com a Igreja Catlica. Sua posio no era, porm, de ressentido contra a Igreja, mas de profissional consciente da legitimidade do direito pelo qual lutava. De fato, as causas que, de uma forma ou outra, envolviam os direitos da mulher mereceram dele um empenho desde muito cedo. Alm da persistncia , a emotividade --- muitas vezes extravasada em choro, publicamente---- era outro componente de sua personalidade. Parece que uma e outra esto relacionadas com as doenas que o acometeram: hipertenso , problemas vasculares, cncer de estmago podem ter sido resultado da emotividade; e o drible por muitos anos dos seus problemas de sade pode ter resultado da sua persistncia. Entre as manifestaes de pesar, esto as de concorrentes polticos que o venceram nas ltimas eleies. As do senador Artur da Tvola ---Sempre lamentei t-lo derrotado, mas no fui s eu--- disfaram mal a hipocrisia, comum no ambiente poltico. Nlson Carneiro ficou magoado com a ntida tendncia do presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador do Rio, Marcelo de Alencar, a favor de Artur da Tvola nas ltimas eleies. Se pudesse ouvir, reclamaria no tmulo |
br94fe8-50 | Leia a ntegra do pronunciamento de FHC Esta a ntegra do pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, em cadeia nacional de rdio e TV: Senhoras e senhores, boa noite. Diante da inflao, que beira os 40% ao ms e das dificuldades do povo, o governo apresentou ao Congresso um programa econmico para derrubar a inflao. Este programa funciona em trs tempos: primeiro, ajusta as contas do prprio governo, cortando gastos e equilibrando o Oramento; segundo, cria um padro estvel de valor, a Unidade Real de Valor, a URV, para que os preos e a economia se ajustem; terceiro, transforma esse padro em nova moeda nacional, forte, garantida pelo Banco Central, restabelece a confiana no dinheiro e desta forma elimina a inflao. Desde a minha posse no Ministrio da Fazenda venho afirmando que no se deve enganar o pas pulando etapas. preciso primeiro equilibrar o Oramento. Sem isso impossvel conseguir que a inflao baixe definitivamente. Para acabar de vez com a inflao preciso que o governo no gaste mais do que tem. Do contrrio ter que ir aos bancos, fazer emprstimos ou fabricar dinheiro e tudo isso gera mais e mais inflao. uma conta muito simples: se eu tenho cem, no posso gastar 150. Se gastar mais do que cem a diferena ter de vir de algum lugar. Quando o governo imprime dinheiro o povo que paga, no tenham a menor iluso. Com a inflao elevada quem perde sempre a imensa maioria da populao, que no possui conta nos bancos, no tem sequer acesso caderneta de poupana, no tem como defender-se da desvalorizao do dinheiro e empobrece a cada dia que passa. O governo do presidente Itamar Franco est fazendo tudo para equilibrar as suas contas e acabar com a inflao. Meus amigos. No Oramento deste ano o governo cortou cerca de 40% das despesas da mquina administrativa e dos investimentos. Conseguimos tambm o que os pessimistas diziam ser impossvel: Estados e municpios fizeram acordo com a Unio e esto pagando as suas dvidas, conforme as regras estabelecidas pelo Congresso. Isso, sem falar do rigoroso combate sonegao, com resultados concretos. Acabamos com os 'parasos fiscais', privilgio daqueles que no eram investigados. Mas, apesar de todo esse esforo, ainda faltam bilhes em cruzeiros reais para zerar o dficit. Pior ainda, no basta cortar gastos se o governo obrigado a entregar a maior parte das suas receitas para os Estados e municpios ou para outras despesas previstas na Constituio. De cada CR$ 100 que o governo federal arrecada, CR$ 80 j tm destino certo. Esto vinculados a despesas obrigatrias. Sobram apenas CR$ 20 para atender a todos os gastos com a sade, com o combate fome, com transporte, agricultura, a cincia e a tecnologia e os outros programas essenciais. Como equilibrar as contas nessas condies? Como eliminar a inflao? A sociedade cansou de pagar impostos, porque eles recaem injustamente sobre os pobres mais do que sobre os ricos. Foi por isso que o governo props a emenda constitucional que cria o Fundo Social de Emergncia. O Fundo serve para distribuir melhor a aplicao dos recursos, no para fazer gastos novos, mas para financiar os programas sociais que no podem e nem devem sofrer mais cortes. De outra forma, o governo vai continuar a se endividar para cobrir despesas essenciais, como fizemos em dezembro passado ao emitir mais de US$ 1 bilho em ttulos a juros de 25% reais ao ano, para pagar hospitais e outros programas sociais. Dos US$ 16 bilhes previstos para o Fundo Social de Emergncia, a maior parte se destina redistribuio de recursos, apenas US$ 3 bilhes, ou seja, cerca de 20% do Fundo, viro de aumento de impostos. Aumento indispensvel para cobrir despesas inadiveis. E quem vai pagar a conta? Os que podem mais. Quem ganha acima de CR$ 5 milhes por ms, as instituies financeiras, que pagaro 30% a mais na contribuio social sobre seus lucros. Os setores mais altos da classe mdia, que tero um aumento mnimo, bem menos de 2% em suas alquotas no Imposto de Renda, e os bancos, que no esto pagando o PIS e tero de pagar. Esse esforo tributrio no vai atingir os trabalhadores, nem a maioria da classe mdia. Estamos trocando a inflao, que o imposto dos pobres, pelo imposto dos ricos. Ainda assim no faltam demagogos para dizer que o governo s aumenta os impostos e no corta os seus gastos. Vamos falar claro e sem cerimnia sem o Fundo Social de Emergncia no haver condies de combater o pior de todos os impostos, que a inflao. O governo est seguro de que esse programa o melhor caminho para alcanar a estabilizao desejada e para proporcionar o crescimento sustentado da economia. Mas, s juntos e em parceria, sociedade, governo e Congresso, superaremos as dificuldades. O governo no pode nem quer impor esse programa ao Congresso. Todos os planos dos governos anteriores, a maioria deles com choques, confiscos, congelamentos, foram endossados pelo Congresso e praticamente sem discusso. Hoje, o Congresso no assim, felizmente, pois democracia participao, nem o nosso programa tem as caractersticas dos anteriores. Nunca um ministro da Fazenda no Brasil dialogou tanto com o Congresso para a aprovao de um plano econmico. Debati horas a fio com meus colegas parlamentares. Aceitei as boas sugestes, cedi a tudo que era possvel, desde que a nossa proposta de zerar o dficit no fosse prejudicada. Admiti manter intocvel os recursos dos Estados e municpios porque eles necessitam. Fiz o que pude. Cheguei ao limite do possvel. O que vai ser votado esta semana o resultado dessa ampla negociao. um trabalho conjunto do governo e do prprio Congresso. Agora, preciso que o Congresso decida, no porque o governo quer, mas porque o Brasil tem pressa. Voltamos a crescer em 1993 e devemos crescer mais em 94. O setor privado da economia se ajustou e progrediu, o Produto Industrial cresceu 9% em 1993. As exportaes atingiram quase US$ 39 bilhes, as importaes cresceram 25% e a balana comercial apresentou um saldo de US$ 13 bilhes. A massa salarial cresceu mais do que 10% e o nvel de emprego subiu 3%. As reservas do Brasil superam hoje os US$ 33 bilhes. recorde histrico. A dvida externa com os bancos privados, cuja negociao tem que ser concluda at o dia 10 de maro, no passa de US$ 35 bilhes. A entrada de recursos estrangeiros em 1993 no mercado financeiro foi superior a US$ 12 bilhes e recebemos US$ 1,3 bilho como investimento direto. Os investidores estrangeiros do um voto de confiana ao Brasil, mas ainda falta fazer muito. Falta fazer as reformas constitucionais na rea tributria, na Previdncia e redefinir as atribuies dos Estados, dos municpios e da Unio para citar apenas alguns exemplos. Essas mudanas so fundamentais para equilibrar definitivamente as contas do governo. Falta ainda um programa mais amplo de privatizao e estou lutando por ele, a fim de consolidar a estabilizao da economia. O Brasil vive hoje uma grande contradio. O Congresso e outros setores concordam que h necessidade de se acabar com a inflao e fazer as reformas constitucionais, mas resistem s medidas necessrias. Parte das bancadas liberais querem a reviso constitucional, mas discordam dos aspectos do programa econmico. As bancadas progressistas concordam parcialmente com o programa, mas no querem a reviso. Muitos defendem o mercado, a livre iniciativa, mas no pram de pressionar os cofres pblicos. Querem a liberdade, mas temem a competio e os riscos. Alguns falam em diminuir o Estado, mas no resistem aos grupos de presso contrrios ao enxugamento da mquina. Outros boicotam as privatizaes e pregam um nacionalismo mal colocado, defendem monoplios paralisantes mesmo em reas no estratgicas. Sabem pedir e reivindicar, mas fogem s suas responsabilidades. Mas o Brasil quer hoje claramente que cada um assuma sua parcela de responsabilidade. Como disse o presidente Itamar Franco, a governabilidade responsabilidade de cada um e de todos. A mudana ou ganha fora agora ou no ocorrer to cedo. O Congresso, que por meio da CPI est restaurando a dignidade da poltica, precisa agir responsavelmente na rea econmica. preciso que decida e diga sim ou no, que no se omita, nem deixe para depois. Se no estiver de acordo com o plano proposto, recuse-o, pois no faltar quem busque outros caminhos e formule alternativas. Ao ministro da Fazenda, se o Congresso aprovar o programa tal como proposto na sua integralidade, resta uma luta imensa a enfrentar. A pacincia sempre foi virtude do nosso povo, mas o pas no pode esperar. A responsabilidade de assumir as decises e agir a tempo de cada um de ns, governo e Congresso. O Brasil tem pressa e o governo est pronto para agir. Muito obrigado e boa noite. | ntegra do pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, em cadeia nacional de rdio e TV. Senhoras e senhores: Para enfrentar uma inflao de cerca de 40% ao ms e suas dificuldades, o governo apresentou ao Congresso um plano econmico para cont-la. So trs etapas :uma de corte de gastos e equilbrio de Oramento; a outra de criao de um padro estvel de valor(URV), para que os preos e a economia se ajustem; e a terceira de transformao desse padro em nova moeda nacional. Desde quando assumi o ministrio da Fazenda ,tenho afirmado que , sem isso, impossvel baixar a inflao. E no fazer penalizar os mais pobres. O governo Itamar est empenhado em cumprir sua parte.No Oramento deste ano o governo cortou por volta de 40% dos gastos com a mquina administrativa e com os investimentos. Tambm os Estados e municpios esto pagando suas dvidas com a Unio. E ainda um duro combate sonegao e aos parasos fiscais. Mas ainda faltam bilhes para zerar o dficit. Um lado oneroso para a Unio o repasse de 80% do arrecada aos Estados e municpios. Os 20% que sobram tm que cobrir as despesas com sade, combate fome, transporte , cincia e tecnologia e com outros programas essenciais. E o que fez o governo para equilibrar as contas nessas condies? Props a emenda constitucional que cria o Fundo Social de Emergncia. Para efetiv-lo sem onerar muito com impostos, somente 20% sero arrecadados com eles e, mesmo assim, sob encargo dos que ganham CR$5 milhes por ms, das instituies financeiras e dos bancos. O governo est seguro de que s assim haver estabilizao econmica e desenvolvimento sustentvel. Como o programa , logicamente, no ser imposto ao Congresso, coube a mim , ministro da Fazenda, um intenso dilogo com seus representantes. Aceitei sugestes , fiz concesses at o ponto de no prejudicar a meta . O que os congressistas vo votar nesta semana resultou de ampla negociao. da responsabilidade deles decidir, pois o Brasil tem pressa. Os frutos da atuao do governo nesse perodo esto a para todos verem. S faltam reformas constitucionais na rea tributria , na Previdncia e redefinir atribuies dos Estados , municpios e da Unio. E tambm um plano mais amplo de privatizao , com vistas a estabilizar a economia. O que pode emperrar o sucesso das medidas a contradio vivida hoje no Brasil. O Congresso e outros setores concordam quanto a necessidade de eliminar a inflao e fazer reformas constitucionais, mas resistem s medidas para tal. Ao Congresso , cuja atuao de saneamento na poltica tem sido levada pelas CPIs , cabe a responsabilidade de agir corretamente nas decises econmicas. Aprovado o plano, resta a mim a imensa luta, j que o pas no pode esperar. |
in96fe08-a | SANTO DOMINGO - Equipes de socorro retiraram ontem das guas do Atlntico 79 corpos dos 189 ocupantes de um Boeing 757-200 que caiu no mar por volta de meia-noite de tera-feira, cinco minutos depois de ter levantado vo do centro turstico de Porto Plata, na Repblica Dominicana. O aparelho, da empresa turca Birgen-Air, fretado pela agncia alem Oeger Tours, transportava 176 passageiros, todos alemes, com uma possvel exceo de dois deles, que seriam poloneses. Levava tambm 13 tripulantes, 11 deles turcos, e duas aeromoas dominicanas, as irms Francis e Ibeyse Ramos. Segundo a Fora Area Dominicana, que est sendo ajudada nos trabalhos de resgate por unidades da Guarda Costeira dos Estados Unidos, nada indica que tenham havido sobreviventes. O avio caiu numa rea infestada de tubares, onde ontem as ondas se elevavam a mais de trs metros. Pequenos pedaos do aparelho foram vistos flutuando em meio a uma grande mancha de combustvel e leo. Helicpteros e embarcaes particulares tambm participam da busca aos corpos. Por falta de lugar suficiente no necrotrio da cidade, eles esto sendo depositados em caminhes frigorferos, para posterior identificao. Comoo - Porto Plata um balnerio dominicano muito procurado por turistas alemes. O Boeing fazia um vo charter com destino a Berlim, com escala em Frankfurt. No aeroporto de Schoenefelf, em Berlim, os parentes dos passageiros, desesperados com as notcias do acidente e a impossibilidade de haver sobreviventes, tiveram sua disposio uma sala especial onde, isolados da imprensa e dos curiosos, eram atendidos por mdicos, psiclogos e religiosos. Em Hamburgo, o proprietrio da agncia de viagens Oeger Tours, Vural Oeger, disse estar informado de que as condies meteorolgicas eram extremamente desfavorveis no momento da decolagem, e que o aparelho foi muito provavelmente atingido por um raio, que paralisou suas duas turbinas. Em Frankfurt, Oliver Will, diretor da associao Cockpit (Cabine), de aeronautas alemes, afirmou que o acidente um exemplo tpico de linhas areas exticas que entram nos mercados alemes sem que estes conheam seus padres de segurana. Riscos - De acordo com Will, as pessoas devem ser sempre lembradas de que a passagem mais barata envolve algum risco, pois os preos reduzidos so geralmente uma decorrncia de cortes nas revises dos aparelhos e reduo do tempo de treinamento das tripulaes. O representante da Cockpit recusou-se a especular sobre as causas do acidente, mas rejeitou a hiptese de este ter sido conseqncia de um raio. Para um avio desse tamanho no existe mau tempo, disse. Investigaes - Depois de ter emitido uma nota segundo o qual o Boeing no estava segurado - o que significa que no tinha condies de vo -, o Ministrio dos Transportes da Alemanha retificou essa informao, quando a Oeger Tours apresentou as aplices de seguro. Ainda assim, o aparelho no tinha permisso para entrar no espao areo alemo, acrescentou o Ministrio. Tcnicos alemes partiram ontem para a Repblica Dominicana, para participar das investigaes sobre as causas do acidente, um dos maiores da dcada. Em 20 de dezembro do ano passado, um avio do mesmo tipo, Boeing 757, da empresa American Airlines, caiu na Colmbia, causando a morte de 161 pessoas. Em 1994, a queda de um Airbus da China Airlines, de Formosa, causou 264 mortes nas imediaes do aeroporto de Nagia, no Japo. Houve sete sobreviventes. | Um Boeing 757-200 da empresa turca Birgen-Air, fretado pela agncia alem Oeger Tours, caiu com 176 passageiros , na maioria alemes, logo depois de ter decolado do centro turstico Porto Plata na Repblica Dominicana. Segundo a Fora Area Dominicana , que prestava socorro ajudada pela Guarda Costeira americana, no deve ter havido sobreviventes . A regio da queda infestada de tubares e , no dia, as ondas se elevavam a mais de trs metros. por falta de espao no necrotrio Diferentemente de Porto Plata, onde os corpos eram depositados provisoriamente em caminhes frigorferos, no aeroporto Schoenefelf, em Berlim, os parentes das vtimas esperavam notcias atendidos por mdicos , psiclogos e religiosos. O proprietrio da agncia que fretou o avio informou que , na hora da decolagem, o tempo estava muito ruim e que , possivelmente, um raio tenha atingido a aeronave. J o diretor da associao de aeronautas alemes , sutilmente, censurou a entrada de linhas areas pouco confiveis no mercado alemo, alertou para o risco de viagens baratas e descartou a possibilidade de um raio ter afetado um avio daquele tamanho. O Ministrio de Transportes alemo retificou uma primeira notcia segundo a qual o Boeing no estava segurado. Mesmo com o seguro, ele no poderia entrar na Alemanha. Tcnicos alemes partiram para a Repblica Dominicana , a fim de participar nas investigaes. |
di94mr6-16 | A grande farsa do combate aos oligoplios Plano do governo contra inflao esconde apoio aos cartis, cobrana de tarifas em dobro e outras distores ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha O Plano Real est nas ruas. Pode-se discordar, e totalmente, de suas diretrizes. Pode-se considerar um absurdo que o pas seja submetido a nova experimentao, autoritria, por vaidades e ambies de alguns. Por maior que seja a discordncia, porm, j no h possibilidade de recuo, pois a desmoralizao do governo traria consequncias imprevisveis. S resta, ento, esperar que o Congresso evite aberraes contidas no plano. E que a sociedade esbraveje, exija providncias que realmente resultem em combate inflao, e que a equipe FHC continua com dificuldades de adotar. A queda da inflao pode ocorrer, se houver mudanas de comportamento, como se segue: Alimentos - H exatos trs domingos, as linhas finais desta coluna afirmavam que, j na quarta-feira de cinzas, o ministro FHC levaria uma paulada na cabea com os preos do feijo. Base para a previso: a seca dizimou a colheita de 400 mil toneladas da regio de Irec, Bahia, reduzindo-a a 20 mil toneladas, ou 5% do previsto. Quase nada. Tradicionalmente, so essas 400 mil toneladas que garantem o consumo no Sul/Sudeste em fevereiro/maro. Elas evaporaram, os preos teriam que disparar. A equipe no tomou conhecimento da escassez para minimizar seus efeitos, nem antes -nem agora. O desastre dos preos do feijo um exemplo da grande falha das equipes de economistas que se propem a combater a inflao com choques espantosos. As equipes parecem (parecem, repita-se) muito preocupadas com oligoplios, cartis e outras distores. Mas disparadas brutais de feijo, batata, soja, legumes, tambm fazem os ndices de inflao de determinados meses explodirem, e fazem a inflao continuar em alta nos meses seguintes -porque a correo monetria, a indexao, provoca a alta dos demais preos. Sem lobby - O presidente da Repblica deveria escolher j algum para acompanhar os preos dos alimentos in natura, para evitar a repetio de episdios como o do feijo. preciso algum que se preocupe com os interesses do produtor e do consumidor, isto , no pode ser um nome ligado ao lobby agrcola, que cruza os braos diante de alta de preos, porque aumentam os ganhos dos produtores. H tcnicos, como o economista Fernando Homem de Mello, que estudam permanentemente as questes agrcolas, do plantio venda no varejo, e tm iseno suficiente para priorizar o combate carestia e no outros interesses. Ditadura - O aumento de 46% nas tarifas de energia eltrica, que provocou indignao, mostra perfeitamente a necessidade de vigilncia do Congresso e da sociedade, e mostra tambm que, ao contrrio do que a imprensa tem apregoado desde o comeo do governo Itamar, um ministro da Fazenda todo-poderoso uma distoro absurda. Uma fonte de prejuzos, ora para o Tesouro (a sociedade), ora para o consumidor. Um foco de inflao, com decises das quais acha que no precisa prestar contas. O ministro FHC concedeu reajustes na faixa dos 40% para pequenas concessionrias da Amaznia. Para a Cesp, do governo paulista, autorizou aumento de 48,9%. Em janeiro, a empresa do governador Fleury j ganhara outro aumento, de 50,2%. Em novembro, alguma coisa parecida. Na poca, esses aumentos no provocaram reao, apesar de serem um desmentido s afirmaes do ministro FHC, de que as tarifas de energia subiriam 8% acima da inflao at outubro. No palanque, a promessa de conteno. Nas negociaes com governadores, a farra. Nada como ser um ministro-ditador. Pode adotar a poltica do dando que se recebe, s custas da classe mdia e do povo. Explorao O Instituto de Economia do Setor Pblico um rgo tcnico do governo paulista. Seus clculos sobre o preo da energia eltrica cobrado pela Cesp esto de estarrecer. Em 1989, a tarifa do quilowatt/hora era de US$ 43 para as residncias (classe mdia, basicamente) e US$ 21 para a indstria. Com a poltica de recuperao das tarifas do governo Collor, a residencial subiu para US$ 62 em 91 e US$ 72 em 92. Com Fernando Henrique/Fleury, passou para US$ 92 em dezembro ltimo e US$ 97 em janeiro antes do novo salto, agora em maro. Em sntese, de 89 para 94, o preo da energia paulista para residncias passou de US$ 43 para US$ 97. Mais de 120% de aumento real, acima da inflao. Para a indstria? De US$ 21 para US$ 23. isso mesmo. Entre sorrisos, o ministro FHC diz que autorizou aumentos para a Cesp porque havia defasagem. Entre sorrisos, o governador Fleury arranca o couro do consumidor e ganha o apoio dos empresrios para seus sonhos polticos. E garante votos, na Cmara, para os projetos do ministro sonhador. Tudo, em meio conversa fiada do combate aos oligoplios.... Reviravolta O economista Jos Milton Dallari foi convidado pelo ministro FHC para cuidar da guerra dos preos, negociando e teoricamente procurando evitar aumentos abusivos dos clebres oligoplios. Ele chegou a ser o responsvel por essa mesma rea, de controle de preos, na equipe do ex-ministro Delfim Netto. Ao deixar o governo, Dallari assumiu a funo de consultor e ocupa hoje o posto de presidente executivo da Associao de Produtores e Exportadores de Carne. Espcie de presidente efetivo, com conhecimentos tcnicos, ele quem efetivamente orienta o setor sobre questes como poltica de preos (isto , que preos cobrar...), concentrao empresarial (formao de cartis e oligoplios), etc. Alm disso, Dallari tambm consultor, isto , conselhador sobre os mesmos temas, de dois setores similares: indstria de alimentao (Abia) e supermercados (Abras). Suspeio As ligaes de Dallari com setores empresariais no seriam suficientes, por si s, para colocar em dvida seu empenho em evitar abuso nos preos. Afinal, se FHC e assessores progressistas mudaram tanto (e pe tanto nisso), Dallari tambm poderia assumir novas atitudes. As evidncias no mostram isto. Cumplicidade Logo ao assumir, Dallari foi colocado diante de crticas disparada dos preos do leite e derivados. Ele reforou a verso, divulgada bobamente pela imprensa, de que a culpa era dos pasme-se padeiros, que tinham aumentado sua margem de lucro em 100%. Ora, o sr. Dallari um tcnico competente, assessor da indstria de alimentao. Sabe que o setor de leite e laticnios est sendo dominado por cartis, grandes grupos nacionais e multinacionais. Nos ltimos anos, eles at compram pequenas fbricas de queijos ou usinas de pasteurizao no interior, e chegam a fech-las para ficarem como nicos compradores do leite. Aviltam preos para o produtor. E cobram preos de ouro pela venda ao consumidor. Naquele exato momento em que o preo do leite disparava para o consumidor e chegava aos CR$ 275,00 o litro, o produtor estava recebendo menos de 10% desse valor, ou CR$ 24,00 pelo litro extra-cota... Detalhe que o sr. Dallari (tambm) no deve ignorar: a Parmalat vem avanando no mercado, comprando pequenas e mdias empresas, com financiamento. De quem? Segundo reportagem da Folha, do prprio Banespa. O governo financia a formao de cartis e oligoplios. Sorrisos de l, sorrisos de c. Na entrevista de lanamento do Plano FHC, o economista Prsio Arida fez comovente declarao de crena no funcionamento do mercado. O plano vai dar certo disse ele porque as empresas no vo poder aumentar preos, porque quem aumentar no vai conseguir vender. muita f no funcionamento de uma economia de mercado perfeita, sem cartis e oligoplios. Muita teoria. Arida poderia ter feito uma consulta, ali mesmo, ao seu colega de equipe, Dallari. Durante todo o ano passado, os preos do boi e da carne, em dlares, estiveram muito acima (de 30% a 40%) de sua mdia normal. Mesmo com a concorrncia do frango (gigantesca expanso na produo) e da carne de porco, a carne bovina encareceu tambm proporcionalmente, isto , um quilo do produto passou a comprar maior quantidade dos produtos concorrentes (preos relativos). Capacidade de impor preos. Moral da histria: o combate aos oligoplios tem sido uma farsa e nada indica que v mudar. O brasileiro s deve acreditar se, amanh, os jornais estamparem uma manchete parecida com esta: Dallari convoca Dallari para explicar especulao com preos da carne e do leite. O resto farsa. ALOYSIO BIONDI, 56, jornalista, foi diretor de redao da revista Viso e editor de economia da Folha. | A grande farsa do combate aos oligoplios Plano do governo contra inflao esconde apoio aos cartis, cobrana de tarifas em dobro e outras distores ALOYSIO BIONDI- Especial para a Folha Por mais que se discorde do Plano Real, ele est a e o recuo do governo seria uma desmoralizao de conseqncias desastrosas. S resta o Congresso evitar certas aberraes contidas nele , e a sociedade exigir providncias eficazes de combate inflao. Para que este acontea, necessrio que se atente para alguns fatos: Diferentemente da quase inao do governo , casos como a reduo da colheita de 400 mil para 20 mil toneladas de feijo , na Bahia, por causa da seca , devem ter providncias. essa colheita a responsvel pelo abastecimento do Sul/Sudeste em fevereiro e maro, e sua queda provocar aumentos . As equipes parecem mais preocupadas com oligoplios, cartis e outras distores do que com disparadas de preos de produtos agrcolas , que fazem explodir a inflao em certos meses. O presidente da Repblica deveria nomear algum para acompanhar os preos de alimentos in natura , mas que no tivesse comprometimento com o lobby do setor. Outro fato que merece ateno do Congresso o aumento das tarifas eltricas . O ministro FHC , arbitrariamente, concedeu reajustes de 40% para pequenas concessionrias da Amaznia e 48,9% para a Cesp, do governo paulista, j tendo tido esta outro aumento de 50,2% . A promessa de palanque que as tarifas de energia subiriam 8% acima da inflao at outubro. Depois, o acerto com governadores foi o que se viu acima. O economista Jos Milton Dallari foi convidado por Fernando Henrique para vigiar os preos , em tese para evitar subidas abusivas pelos oligoplios. Suas ligaes com setores empresariais no seriam motivos suficientes para suspeies. Mas , ao assumir , foi criticado pela disparada dos preos do leite e derivados. A verso foi que a culpa era dos padeiros, que aumentaram seus lucros em 100%. Como tcnico competente, ele sabe que essa rea dominada por cartis , grandes grupos nacionais e internacionais, que compram pequenas fbricas, fecham-nas para terem o controle de compra do produto. s observar que , naquele momento, o leite disparou para CR$ 275,00 o litro, enquanto o produtor recebia CR$24,00. O senhor Dallari , por exemplo, sabe que a Parmalat vem crescendo, comprando pequenas e mdias empresas, e financiado pelo Banespa. O resultado tpico de fbulas: o combate aos oligoplios constitui uma farsa sem perspectivas de mudanas. |
br94ou16-16 | O jornal e seu papel MARCELO LEITE Para muita gente, em especial milhares de assinantes particularmente azarados da Folha, parecia que o mundo ia acabar. Era como se o Sol no tivesse aparecido, naquela manh, ou quem sabe os cachorros desaprendido a latir: o jornal no estava na porta. O desastre aconteceu no ltimo domingo, 9 de outubro, uma data s comparvel em importncia ao 14 de agosto em que a Folha superou a marca de 1 milho de exemplares. Desse episdio h muitas lies a tirar, sobretudo em relao febre dos fascculos que acomete a imprensa brasileira. E quero j adiantar antes de historiar alguns fatos que podem no ser do conhecimento geral que o juzo dos leitores devastador. No se concebe tragdia maior para um peridico do que deixar de circular, ainda que parcialmente. Foi o que aconteceu com 111.100 exemplares destinados a bancas do interior de So Paulo, distribudos pasme sem o primeiro caderno. Isso mesmo, sem a primeira pgina, sem editoriais, sem expediente. Outros 237.700 saram sem os cadernos Cotidiano e Finanas. O resultado dessa falha inacreditvel no poderia ter sido outro. Em dois dias, os telefones do jornal receberam mais de 7.000 chamadas de leitores indignados, ressentidos, decepcionados. Sentiam-se trados em algo bsico, a certeza de poder contar com o jornal preferido e, no caso dos assinantes, pago com antecedncia. Entornado o caldo, a Folha fez o que pde. Ao mesmo tempo em que enxugava o espao editorial (notcias e tudo o que no publicidade) at o ponto de quase desfigurar as edies ao longo da semana, a Redao tomou a nica atitude cabvel no caso: tornar pblicas as prprias dificuldades (nos dias que se seguiram, jornais como O Globo, Gazeta Mercantil e O Dia tambm trataram da questo). Em cinco reportagens extensas, publicadas na segunda, tera, quinta e sexta-feiras e ontem, a Folha escancarou a origem de suas agruras. O maior jornal do pas quase parou, atrasando em 11 horas a impresso de mais uma edio histrica, por uma razo para l de prosaica: falta de papel. Muitos leitores que ligaram para o ombudsman no se deram por satisfeitos com as explicaes publicadas resumidamente, a combinao de escassez de papel de imprensa no mercado mundial, atrasos na chegada de navios com papel importado e no-cumprimento pelas Indstrias Klabin de Papel e Celulose da entrega de cotas contratadas em julho. Segundo a direo da Empresa Folha da Manh S/A, que edita a Folha, compromissos assumidos por escrito pela Klabin exigiriam a entrega de no mnimo 204 toneladas por dia, este ms. At o ltimo dia 9, a mdia diria estava em 130 toneladas. O consumo total da Folha em outubro era projetado para 12.831 toneladas, mas dever ficar em 10.800. Com a veemncia previsvel do consumidor que se acredita ludibriado, os leitores cobravam duas definies: quais providncias seriam tomadas, e quando. Outros, ultrapassando a fronteira da simples decepo, lanavam a suspeita de uma grave falta de planejamento, de organizao ou at de responsabilidade empresarial. Quanto s definies, o leitor teve de esperar at sexta-feira para obt-las. Era o mnimo a fazer, um imperativo apontado mais de uma vez, durante a semana, na crtica interna da edio feita diariamente pelo ombudsman. Foi, assim, s na sexta que o leitor ficou sabendo que a regularizao do fornecimento deve ocorrer at o final deste ms. Sobre as providncias, o esclarecimento veio apenas na edio de ontem. Na realidade, so medidas mais para minorar os efeitos do fato consumado do que para revert-lo: um remanejamento e enxugamento geral de colunas e sees fixas, com o propsito de liberar 15% do espao disponvel para notcias propriamente ditas. Nosso objetivo tentar dar a volta por cima, fazer um produto melhor em um espao menor, diz Eleonora de Lucena, secretria de Redao encarregada da rea de Edio (e, portanto, da administrao do espao editorial). As suspeitas de alguns leitores, sobretudo a alegada falha estratgica de se lanar na rota de um aumento estrondoso das tiragens em meio a uma crise no mercado de papel, so rebatidas pelo diretor-presidente da Empresa Folha da Manh S/A, Lus Frias. Ele argumenta que, no fossem as falhas na entrega e o atraso dos navios, a Folha chegaria ao final deste ms com mais de 18 mil toneladas de papel em estoque. Ningum aqui se esqueceu de comprar o almoo de amanh, afirma. Como a Klabin aceitou engordar suas entregas Folha at o patamar de 350 toneladas dirias, tudo indica que o pior j passou. Dentro de oito dias, o espao de redao deve voltar ao normal. Hoje mesmo voc tem em mos um jornal comparvel aos dos ltimos domingos: 242 pginas, na edio So Paulo (a includas 80 da Revista da Folha); na semana passada, foram 250 pginas. E com um novo recorde de tiragem, 1.460.240 exemplares. Agora, s lies: 1. O transtorno causado ao leitor por esse curto-circuito administrativo-comercial irreparvel, mas muito mais grave o dano em sua confiana na Folha. Para reconquistar a parcela perdida ser necessrio muito mais tempo do que se consumiu em permitir que fosse desfalcada. O leitor, em particular o assinante, tem conscincia clara de que o jornal e no uma indstria de papel ou um capito de navio que tem compromisso com ele. 2. As perdas no se resumem aos exemplares no-entregues ou mutilados. Como a prpria Folha noticiou, deixaram de ser publicados quatro cadernos especiais. Entre eles, um sobre a Bienal de Artes Plsticas de So Paulo, para revolta de muitos paulistanos. Nestes casos, Ins morta. 3. Boa parte dos leitores dirige sua frustrao e mgoa contra os fascculos, como o Atlas e agora o dicionrio Aurlio (cuja circulao em bancas foi adiada para dia 24). Identificam-nos como os responsveis diretos pelos transtornos, j que sem eles no haveria o brutal aumento das tiragens. O raciocnio impecvel. Resumindo, o recado insistente dos leitores que eles querem antes de mais nada um bom jornal. Se vier com fascculos, timo. Mas se os fascculos resultarem em um jornal ruim, passaro a odi-los. Esto cobertos de razo. Escrevi esta coluna com cerca de 80% de seu tamanho normal. a minha maneira de contribuir, voluntariamente, para que o jornal leve ao leitor um pouco mais de notcias que so, afinal, o que realmente interessa. Fui informado pela Direo de Redao de que os jornalistas lvis Bonassa e Daniela Pinheiro reivindicaram espao fora desta coluna para prosseguir com nossa polmica sobre o caderno Olho no Voto (o texto deve estar publicado nesta mesma pgina). Lerei com ateno os novos argumentos. Aviso, no entanto, que s pretendo responder se representarem de fato uma oportunidade de contribuir para que se faa um caderno melhor, na prxima eleio. MARCELO LEITE o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovvel por mais um ano. Ele no pode ser demitido durante o exerccio do cargo e tem estabilidade por um ano aps o exerccio da funo. Suas atribuies so criticar o jornal sob a perspectiva do leitor recebendo e checando as reclamaes que ele encaminha Redao e comentar, aos domingos, o noticirio dos meios de comunicao. Cartas devem ser enviadas para a al. Baro de Limeira, 425, 8 andar, So Paulo (SP), CEP 01202-001, a.c. Marcelo Leite/Ombudsman. Para contatos telefnicos, ligue (011) 224-3896 entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. | O jornal e seu papel --- MARCELO LEITE No ltimo domingo, milhares de assinantes da Folha tiveram um choque: o jornal no foi entregue. O acontecimento permite um bom aprendizado, principalmente quanto fasciculomania da nossa imprensa. J adianto que o julgamento dos leitores impiedoso. Em dois dias, os telefones do jornal receberam mais de 7.000 chamadas. Consumado o acidente, a Folha empenhou-se em solues. Inicialmente, enxugou o espao dos editoriais. Mas viu que devia se expor mais: em cinco reportagens longas, falou da causa fundamental --- a falta de papel . Foi necessrio explicar a falta de papel de imprensa no mercado mundial, o atraso dos navios que traziam papel importado, do no-cumprimento da entrega das cotas pelas Indstrias Klabin de Papel e Celulose. Com veemncia, os leitores cobravam quais providncias seriam tomadas e a data. Ficaram sabendo que a regularizao se dar at o fim do ms. Quanto s providncias , alis paliativas no mento, iniciaram-se pelo remanejamento e enxugamento geral de colunas , a fim de liberar 15% de espao para notcias propriamente ditas. As suspeitas sobre falhas estratgicas relacionadas ao superdimensiomento das tiragens foram assim respondidas pelo diretor da Empresa Folha da Manh S/A: Ningum aqui se esqueceu de comprar o almoo de amanh. Quanto s lies , posso enumerar: a perda de confiana no jornal; a no-publicao de quatro cadernos especiais, entre os quais um sobre a Bienal de Artes Plsticas de So Paulo; a frustrao e mgoa dos leitores por no receberem os fascculos do Atlas e do dicionrio Aurlio. Os leitores querem principalmente um bom jornal e nisso esto cheios de razo. Da minha parte contribuo escrevendo esta coluna com cerca de 80% do tamanho normal. |
co94no27-17 | 'Quando morrer, quero ir para o Chanterelle' J.R.DURAN Especial para a Folha O meu apartamento em N.Y. fica na Mercer St. esquina com a 4th St., perto da New York University e da Washington Square, um lugar alegre e colorido. Isto quer dizer que grande parte da minha vida l, transcorre no downtown e no Soho, mesmo porque, para fins profissionais, a situao bem prtica. O Studio One, na 23 East, 4th St., um dos melhores estdios fotogrficos para alugar em N.Y., onde voc pode cruzar com Gilles Bensimon, Michel Comte, etc. Na 65 Bleeker St., existe o US Color, o melhor laboratrio fotogrfico dos Estados Unidos. Se voc disser que meu amigo, pode ganhar desconto e atendimento preferencial. Ento, estas dicas so todas de lugares que d para ir andando (exceto uma ou duas), mesmo no inverno, o que no pouca coisa para quem conhece o inverno de New York. O caf da manh no Dean & De Luca. Tem trs deles na rea e o meu favorito o da Prince Street. o mais calmo, tem mais espao e d para ler o New York Times sem ter que ouvir a conversa de quem estiver na mesa ao lado. Alm do mais, tem uma clarabia que proporciona uma luz agradvel em qualquer poca do ano. Livros e revistas podem ser na Rizzolli, da West Broadway, ou na Tower Books, da Lafayette St. Na verdade, a Rizzolli mais agradvel, os vendedores so mais educados e ainda se pode tomar um expresso em um barzinho que tem no andar superior. A Tower Books tem mais variedade de livros, mas os vendedores conseguem sempre mostrar o mesmo olhar de peixe morto para qualquer tipo de pergunta. Na outra Tower, a Tower Records, esquina da Broadway e Mercer St., o tratamento puxa mais para o Bronx Boys'on the Hood, mas compensa pela quantidade e a qualidade dos CDs. Para comprar roupas para dar de presente para algum como rika Palomino, tem a Patricia Fields, na 8th street, entre 5 e 6 Ave. So roupas exclusivas, divertidssimas e que um ms depois estaro em matrias de moda da Details. Se por acaso as suas amizades so mais comportadas, s ir at o Gap na Broadway e 8th street e comprar todos os bsicos que voc for capaz. A minha querida Alexandra Brochen prefere fazer compras na Tehen, esquina da Prince e Greene St. Eu prefiro comprar roupas na Agnes B (o estilo Jean-Paul Belmondo blas) na Prince St., ou na APC (uma coisa assim meio intelectual chic), 131 Mercer St. Na mesma Mercer St., a duas portas da APC, existe uma livraria que tem todos os livros de fotografia que qualquer fotgrafo procura (novos e usados) e que esqueci o nome, mas que a mais completa e suja que j visitei. Para compras paralelas e diversas, tem a Kate's Papeterie, na Broadway e Prince St., que vende aqueles caderninhos com pginas brancas da Cranc's, onde se pode escrever interminveis dirios (imaginrios ou no). Como curiosidade, tem a Evolution, 120 Spring St., que vende tudo o que relacionado com a evoluo da espcie. Voc pode comprar uma belssima caixa com borboletas da Papua-Nova Guin, um crnio de macaco do deserto do Kalahari ou um dente de crocodilo. Para aqueles objetos que a gente compra compulsivamente e depois quase se arrepende, tem a AD*HOC, na esquina da West Broadway e Spring. So milhares de sabonetes, perfumes, canetas, livros, vasos, roupa de cama e coisas assim que fazem enlouquecer a minha amiga Mnica Figueiredo toda vez que entra na loja. O que tem cada vez mais na regio so bares. Alm do tradicional Fanelli's, que aparece no fim daquele filme State of Grace, de Phil Joanou com Sean Penn e Gary Oldman, tem os novos: o Temple Bar, na 332 Lafayette St., com petiscos geniais e clima de chega mais. O Merc Bar, na Mercer St., entre Houston e Prince St., mais descolado, e com gimlets perfeitos (gimlets, voc sabe, a bebida preferida de Philip Marlove). E, alguns meses atrs, foi inaugurado o Match, um daqueles lugares que as pessoas fazem fila e choram na porta para poder entrar, quase em frente ao Merc Bar. Os restaurantes so numerosos e dependem da companhia. Toda vez que saio com minha amiga Leda Gorgone, a gente acaba indo ao Jerry's, um american food a preos razoveis que fica na Prince Street, perto do correio, onde na hora do almoo se encontram quase todos os alternativos do bairro. Tem o Jour et Nuit na esquina da West Broadway e Broome St., restaurante francs bom e barulhento sempre cheio de modelos, propriedade de Frederic que o namorado da Frederique, modelo famosa de tanto aparecer nos anncios de Victoria Secret. Outro restaurante, tambm francs, o favorito de Monique Pillard, presidente da agncia de modelos Elite. o Chez Jacqueline, que fica na MacDougal na esquina da Houston. Para impressionar, sem muito dinheiro, o Kelly & Ping Wooster entre Prince e Houston, um restaurante tipo chins de San Francisco dos anos 20, que parece sado de um livro de Tin-Tin. Barulhento e divertido e com massas chinesas timas. J se voc dispe de um bom capital e quer impressionar, tem o Chanterelle, bem mais downtown, mas que um Nirvana gastronmico aliado a um clima de paz e tranquilidade. Quando eu morrer, se no for para o cu, quero ir para o Chanterelle. Em ocasies de romance, onde o tiro e queda fundamental, o lugar o Alison ou Dominick, na Dominick St. e Varick. ntimo, no preciso falar, s sussurrar, e com comida estilo americano de primeira, o que no fcil de encontrar. No toa que vem sendo considerado pelos crticos, de alguns anos para c, como um dos trs melhores de N.Y. Para ir ao cinema, s chegar na esquina da Houston com Mercer e entrar no Angelika Film Festival. Um cinema com cinco salas, onde passa o melhor do melhor. Foi l que assisti estria de Pulp Fiction, de So Quentin Tarantino. E para uma coisa mais intensa e mais cult (tipo se voc encontrou com Arto ou Duncan Lindsay) temos Film Forum, na Houston com a 8th Ave, onde voc pode assistir a coisas como Architecture of the Dome, um documentrio sobre a ascenso e queda do nazismo visto atravs das artes alems daquele poca, ou ainda, Visons of Light o delicioso filme que no me lembro quem dirigiu, mas que a respeito dos fotgrafos de cinema. Na esquina da Lafayette e Great Jones St., tem o Times Cafe, famoso pelos eggs benedict e por ter sado em um anncio da gua mineral Perrier, mas o mais interessante est no subsolo. Se trata de um bar com msica ao vivo que se chama Fez. no estilo marroquino e tem jazz do melhor. Claro que se o que voc quer um jazz mais tradicional (Thelonius Monk, por exemplo), v ao Blue Note, na 8th St., entre 6th Avenue e Macdougal, reduto de turistas e jazzmanacos do mundo inteiro. Surpresas musicais acontecem no Bottom Line, uma casa de espetculos na esquina oposta minha. Um lugar onde voc pode convidar Matinas Suzuki para assistir Jimmy Scott em uma noite e na outra assistir o pavoroso Buster Poindexter ou os Ramones. J. R. DURAN, 42, fotgrafo e s gosta de Nova York quando est fora dela. | Quando morrer , quero ir para o Chanterelle J.R.DURAN --- Especial para a Folha Moro num apartamento em N.Y. , na Mercer St. Esquina com a 4th St., perto da New York University e da Washington Square, um lugar alegre e colorido. Minha vida transcorre por ali, o que, do ponto de vista profissional, bem prtico. Dois estdios fotogrficos da melhor qualidade ficam por ali: o Studio One e o US Color. O caf da manh num dos trs Dean & De Luca , o Prince Street, calmo e espaoso, onde se pode ler o jornal. Livros e revistas podem ser encontrados na Rizzolli ou na Tower Books. Roupas para presente se encontram na Patrcia Fields . Pessoalmente, prefiro comprar as minhas na Agnes B, na Prince St. , ou na APC . Ao lado da APC, h uma livraria com uma variedade de livros de fotografia. Quem quer compras diversas pode ir Kates Papeterie, na Broadway. Curiosidades sobre a evoluo da espcie se encontram na Evolution, 120 Spring St. E as quinquilharias ,objeto de compras compulsivas , so adquiridas na AD*HOC , na esquina da West Broadway e Spring. Na regio, os bares so numerosos. O tradicional Fanellis; o Temple Bar , com petiscos geniais ; o Merc Bar . Os restaurantes tambm . O Jerrys , um american food , a preos razoveis; o Jour et Nuit, bom e barulhento restaurante francs; o Chez Jacqueline, tambm francs; o Kelly & Ping Wooster , um restaurante tipo francs San Francisco , anos 20; para quem quer impressionar e tem dinheiro, o Chanterelle, com tima comida, tranqilo. E em ocasies romance, bom ir ao Alison ou Dominick , ntimo e com boa comida americana. Cinema , encontra-se na esquina da Houston com Mercer , o Angelika Film Festival, com bons filmes; e o Film Frum na Houston com a Oitava Avenida. Para satisfazer o ouvido, deve-se ir ao Bottom Line, uma boa casa de espetculos . |
di94jl17-04 | Uma agenda para o trabalho EDWARD J. AMADEO Agradeo o professor Pastore pela elegante resposta ao meu artigo O consenso sobre os encargos sociais (Folha de 04/06/94), onde mais que nada ele reafirma os pontos da sua entrevista Folha, que deu origem aos meus comentrios. Ao final de meu artigo, deixei claro que a discusso sobre a flexibilizao do trabalho no Brasil era importante, mas que no deveria ser confundida com a demanda pura e simples por reduo dos chamados encargos sociais. Mais uma vez o professor Pastore confunde as discusses sobre encargos e flexibilizao. Prefiro separ-las. Quando a empresa contrata um trabalhador por 100 unidades de salrio, ela sabe que ter que desembolsar 202, diz o professor Pastore em seu artigo. Discordo marginalmente dos nmeros. Meu principal argumento outro: dos 102 extras que a empresa paga, mais ou menos 70 vo para as mos do empregado. Isto significa que, dos 202, 170 representam a remunerao do empregado. Logo, a demanda por reduo de encargos ou se refere ao que vai para o Estado 30 dos 202, ou se refere reduo do salrio do empregado. preciso que o professor Pastore deixe claro o que tem em mente. claro que podemos pensar em formas para desonerar a folha de salrios. Isso se refere to somente aos 30 que vo para o Estado, que poderiam ter origem num imposto sobre o faturamento e no sobre a folha. Nesse caso, as grandes empresas, cuja relao faturamento/folha muito maior que nas pequenas empresas, passaro a pagar mais impostos. As pequenas pagariam menos. Uma boa idia. O professor Pastore argumenta que os encargos so responsveis pela informalidade do mercado de trabalho. Por mais atraente e difundido que seja o argumento, quero dizer que no h evidncias empricas a seu favor. Suponhamos que a empresa s pode pagar um total de 180 entre salrios e encargos. Ela poderia pagar 90 em carteira, mais 63 ao trabalhador (total 153) e recolher 27 ao governo. claro que ela pode preferir no recolher nem um tosto ao governo e pagar 180 ao trabalhador. Agindo assim, remunera seus trabalhadores melhor que a empresa que paga 170 e recolhe 30. Sonegar sempre uma opo, principalmente se no houver fiscalizao ou se os fiscais forem corruptos. Mas ser mesmo que as empresas que sonegam pagam salrios mais altos, como faz crer o argumento e o exemplo citados? No. Os trabalhos do professor Ricardo Paes e Barros, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada), no Rio, mostram que, quando comparados os salrios de trabalhadores com as mesmas caractersticas (educao, sexo, idade e regio), ganham mais os trabalhadores de empresas que assinam a carteira de trabalho. Estas empresas pagam os encargos e, alm disso, pagam salrios em carteira mais altos. No verdade, portanto, que as empresas deixam de pagar encargos para pagar salrios mais altos. A informalidade no decorre dos encargos. Como j disse antes, preciso diferenciar a discusso dos encargos da discusso sobre a flexibilidade do trabalho. O que significa flexibilidade? Flexibilidade significa tornar o mercado de trabalho e o trabalhador mais adaptveis a mudanas na tecnologia, no nvel de atividades e na composio setorial da demanda. Com mais flexibilidade, os custos sociais dos ajustes a estas mudanas so menores. H diferentes maneiras de obter flexibilidade. Uma dando s empresas o direito de demitir sem custos e sem interferncia dos sindicatos e reduzindo o nmero de leis que regem a relao de trabalho. Este o sentido convencional de flexibilidade e o sentido usado pelo professor Pastore. Ocorre que este tipo de flexibilidade, em que a empresa pode admitir e demitir livremente e em que a rotatividade do trabalho alta, gera uma situao em que as empresas no tm incentivos para investir em formao e treinamento e os trabalhadores no tm compromissos com os objetivos da empresa. Este tipo de relao entre empresas e empregados reduz outras fontes de flexibilidade, associadas capacidade do trabalhador de adaptar-se a mudanas. Simplesmente porque a adaptabilidade requer trabalhadores educados, treinados e comprometidos com a empresa. De fato, h dois modelos de flexibilidade. Um modelo liberal do qual o professor Pastore adepto, que se baseia na desregulamentao do mercado de trabalho, na descentralizao das negociaes e na reduo do papel dos sindicatos. Um modelo social-democrata, que valoriza a negociao em diferentes nveis entre patres e trabalhadores, como forma de flexibilizar o trabalho e aumentar o grau de cooperao entre empresas e empregados. O modelo liberal entrou na moda na dcada de 1980. Hoje, h inmeros estudos sobre a reforma liberal na Inglaterra e outros pases e a concluso triste, o que j torna o modelo um tanto demod. No melhorou a situao macroeconmica e a disperso salarial cresceu muito na Inglaterra. Os EUA, que sempre tiveram um modelo liberal, apesar de conseguirem gerar mais empregos que qualquer outro pas rico, tm pssimo desempenho no que se refere ao crescimento da produtividade do trabalho e enorme disperso salarial. Por isso, o ministro do Trabalho, Robert Reich, tem insistido em mudanas de natureza social-democrata. J tive oportunidade de argumentar em outros trabalhos que existem diferentes modelos de mercado de trabalho. preciso escolher entre eles. Dada a situao brasileira, em que a criao de empregos em si no um problema, mas a qualidade dos empregos e da relao capital-trabalho pssima, tenho me convencido de que a opo social-democrata a que melhor frutos traria. Isso no significa que o mercado de trabalho no Brasil no seja demasiadamente regulamentado. muito regulamentado e a Justia do Trabalho tem poder normativo, o que reduz muito o espao de negociao entre patres e empregados. preciso desregulamentar, mas, simultaneamente, aumentar o escopo de negociao. Sendo assim, reduz-se o papel da lei (da Consolidao das Leis do Trabalho e da poltica salarial, por exemplo) e em seu lugar introduz-se negociaes diretas entre patres e trabalhadores. Mas no negociaes em nvel de empresas apenas, porque a maior parte dos trabalhadores no Brasil no est organizada para negociar e tem seus direitos regidos pela CLT. Para estes, a descentralizao das negociaes e eliminao da CLT representariam uma enorme perda. Minha proposta que a negociao de condies bsicas de trabalho e reposio salarial se d em nvel nacional, depois setorial, depois nas empresas. Este o modelo social-democrata que permite coordenao na formao de salrios e preos e reduz a disperso salarial. Ao contrrio do que se imagina, o desempenho macroeconmico (medido pela inflao e o desemprego) melhor e a distribuio dos salrios muito mais igualitria em pases em que as negociaes so centralizadas, ou, pelo menos, sincronizadas no tempo, como no Japo. O princpio bsico da proposta que a flexibilizao no advm da ausncia de regras nem do enfraquecimento de uma das partes negociantes, mas de regras negociadas e que, portanto, tenham legitimidade. H outros ingredientes desta proposta que eu gostaria de ver comentados pelo professor Pastore. Em primeiro lugar, importante que haja reduo do poder normativo da Justia do Trabalho, que inibe a negociao direta. Em segundo lugar, preciso que o imposto sindical seja abolido, uma vez que este imposto est na raiz do peleguismo patronal e trabalhista, que reduz muito a representatividade dos sindicatos. Em terceiro lugar, preciso que os trabalhadores passem a ter representao formal dentro das empresas, independentemente da organizao sindical. Por ltimo, preciso que os recursos do Senai, Sesi e Sebrae tenham administrao tripartite, envolvendo trabalhadores, patres e o governo. Isto porque estes fundos deveriam ser a base de financiamento das polticas de mercado de trabalho no Brasil e, num contexto mais negocial, deveriam contar com a participao dos trabalhadores na sua gesto. Esta a agenda para o trabalho que proponho, a fim de flexibilizar o trabalho no Brasil. Flexibilizao civilizada, como quer o professor Pastore, mas negociada. EDWARD J. AMADEO, 38, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), professor do Departamento de Economia da PUC-RJ (Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro) e autor de Keynes's Principie of Effective Demand (1989) e Keynes's Third Alternative (1991) Edvard Elgar Publishing Co (Inglaterra). | Uma agenda para o trabalho EDWARD J.AMADEO Agradeo ao professor Pastore pela elegante resposta ao meu artigo O consenso sobre os encargos sociais , onde ele reafirma os pontos j expostos na sua entrevista. No final do meu artigo, deixei claro que minha defesa da flexibilizao no significava pura e simplesmente reduo de encargos sociais. Discordo dos nmeros do professor, quando diz que uma empresa, ao contratar um operrio por 100 , vai desembolsar 202. Minha posio que dos 102 extras que a empresa paga, aproximadamente 70 vo para o empregado. Os trabalhos do professor Ricardo Paes e Barros, do Ipea, no Rio, mostram que os salrios de trabalhadores com as mesmas caractersticas so melhores nas empresas que assinam carteira. Elas pagam os encargos e , ainda, salrios mais altos . No verdade, pois, que empresas que no pagam encargos remuneram melhor. Como j disse, preciso diferenciar a discusso sobre encargos das referentes flexibilidade de trabalho. Flexibilidade significa tornar o mercado de trabalho e o trabalhador mais adaptveis a mudanas na tecnologia, com custos menores dos ajustes s mudanas. H diferentes modos de alcanar flexibilidade. Uma dando o direito de demitir sem custos e sem intermediao dos sindicatossentido usado pelo professor Pastore. Ele gera uma situao que desmotiva as empresas de investir em formao e treinamento , e que reduz outras fontes de flexibilidade , relacionadas adaptao . O modelo de flexibilizao liberal que o professor Pastore defendebaseia-se na desregulamentao do mercado, na descentralizao das negociaes e na reduo da interferncia dos sindicatos. O modelo social-democrata valoriza a negociao em diferentes nveis , como forma de flexibilizar o trabalho e elevar o grau de cooperao. Os inmeros estudos sobre o modelo liberal na Inglaterra e outros pases so entristecedores . No melhorou a situao macroeconmica e a disperso salarial na Inglaterra , e nos Estados Unidos houve baixo desempenho de produtividade e grande disperso salarial. Minha convico que a opo social-democrata seria mais proveitosa. No Brasil, o mercado de trabalho muito regulamentado; convm desregulament-lo , mas tambm aumentar o objetivo da negociao, com negociaes diretas entre patres e empregados. Porm, que obedeam , no nvel de condies bsicas , uma hierarquia: em nvel nacional, depois setorial, depois nas empresas. Esse modelo permite coordenao na formao de salrios e preos e reduz a disperso salarial. Nos pases em que as negociaes so centralizadas, o desempenho macroeconmico melhor e a distribuio salarial , mais equnime . Mais alguns ingredientes da minha proposta: Que haja reduo do poder normativo da Justia do Trabalho; que o imposto sindical seja abolido, pois favorece o peleguismo patronal e trabalhista; que os trabalhadores passem a ter representao dentro da empresa ; e que os recursos do Senai, Sesi e Sebrae tenham administrao tripartite, com representao de trabalhadores , patres e governo. |
co94ou29-06 | Medo de mortes pode adiar ao no Rio Itamar teme que ocupao militar dos morros provoque morte de inocentes e pode decretar estado de defesa s aps 2 turno INCIO MUZZI Do Painel, em Braslia JOSIAS DE SOUZA Diretor-executivo da Sucursal de Braslia Os ministros militares traaram, por encomenda de Itamar Franco, os cenrios de uma eventual interveno armada contra o crime organizado no Rio. Concluram que, qualquer que seja a ao, grande o risco de muitas mortes. O alerta dos militares deixou Itamar angustiado. Ele quer agir no Rio, mas passou a temer o que chama de efeito Volta Redonda'', numa referncia ao do Exrcito contra grevistas da Companhia Siderrgica Nacional, em 88. A operao resultou em trs mortos e comps o ambiente que levou eleio da petista Luza Erundina em So Paulo. O almirante Mrio Csar Flores, ministro-chefe da SAE (Secretaria de Assuntos Estratgicos), construiu, em dilogo com o presidente, uma imagem ilustrativa. Ele disse que, alvejado por um tiro disparado de um barraco num morro carioca, um policial civil tentaria localizar o atirador. Em situao semelhante, um soldado do Exrcito no perderia tempo em procurar o agressor. Ele destruiria o barraco'', disse. Segundo o raciocnio de Flores, os soldados so treinados para a guerra e no para o combate criminalidade, em reas urbanas. O Planalto passou a considerar com maior intensidade os riscos embutidos da operao. Com ndices de popularidade superiores a 80%, Itamar teme sofrer um desgaste caso a ao no Rio resulte em chacina e morte de inocentes. Itamar j no exclui a hiptese de adiar para depois do segundo turno das eleies, em 15 de novembro, a decretao de estado de defesa no Rio. At l, seriam tomadas medidas tpicas, em conjunto com o governo carioca. O Exrcito tambm receia sair do episdio com a imagem arranhada. Afirma-se na cpula que h o risco de a operao transformar-se em um fiasco. A maior parte dos oficiais militares acha que, exposto no noticirio, o plano de interveno perdeu um trunfo: o sigilo. Acredita-se que os traficantes estejam se preparando para submergir, evitando a priso e a apreenso de armamentos e dos estoques de drogas. O Planalto e as Foras Armadas esto divididos quanto convenincia do estado de defesa. Divergem tambm em relao idia de mobilizar o Exrcito para ocupar os morros da cidade. O assunto foi discutido por Itamar em vrias reunies, na ltima quinta-feira. Participaram da discusso, em momentos diversos, os ministros militares, assessores civis do presidente e o embaixador do Brasil em Portugal, Jos Aparecido de Oliveira. Itamar busca no momento a cumplicidade do Congresso, de Nilo Batista e das principais lideranas da sociedade do Rio. Alm de enviar o ministro da Justia para dialogar com o governo estadual e com as autoridades militares que servem no Rio, o presidente pediu o auxlio do embaixador brasileiro em Portugal, Jos Aparecido de Oliveira. Aparecido deixou Braslia com uma pauta de encontros que inclua o cardeal d. Eugnio Salles e o presidente da Associao Brasileira de Imprensa, Barbosa Lima Sobrinho. Itamar espera ter um relato minucioso das conversas na segunda-feira, antes do encontro que ter, tarde, com o governador carioca Nilo Batista. Prega-se na cpula do Exrcito uma soluo intermediria: a interveno apenas no comando da PM fluminense, que seria entregue a um oficial do Exrcito. Entende-se como fundamental que a polcia passe por um processo de limpeza. A proposta foi apresentada informalmente ao governador Nilo Batista, que a recusou. Mesmo assim, o presidente voltar a insistir na medida, na segunda-feira. Itamar est impressionado com o nmero de cartas e abaixo-assinados que tm chegado ao Planalto, pedindo a interveno. Um assessor chegou a sugerir uma pesquisa para aferir a opinio dos cariocas. Itamar cortou rspido. Disse no ter dvidas de que o resultado seria 80% favorvel interveno. | Medo de mortes pode adiar ao Itamar teme que ocupao militar no Rio mate inocentes e pode decretar estado de defesa s aps 2 turno. INCIO MUZZI -- Do Painel , em Braslia JOSIAS DE SOUZA- Diretor-executivo da Sucursal de Braslia Por sugesto do presidente Itamar, os ministros militares compuseram cenrios do resultado de uma ocupao militar dos morros no Rio de Janeiro. Qualquer que seja a forma de ocupao, admitem que haver muitas mortes. O presidente Itamar ficou angustiado com a previso, porque teme efeito semelhante ao que ocorreu na interveno do Exrcito na Cia.Siderrgica Nacional, quando trs operrios morreram. Isso favoreceu a eleio de Luiza Erundina para prefeita de S.Paulo. O almirante Mrio Csar Flores, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratgicos , fez uma comparao amedrontadora: um policial que recebesse um tiro vindo de um barraco, procuraria achar o responsvel; um soldado do Exrcito destruiria imediatamente o barraco. O Exrcito prepara para a guerra e no para intervenes urbanas. Com o seu ndice alto de popularidade, Itamar no quer que a morte de um inocente tire o seu brilho. At pensa em adiar a interveno das Foras Armadas para depois do segundo turno. O Exrcito tambm teme sair com a imagem arranhada , aps um possvel fiasco. O Planalto e o Exrcito divergem quanto convenincia da interveno. O assunto foi discutido pelo presidente em vrias reunies. Surgiu at uma soluo intermediria na cpula do Exrcito: a interveno apenas no comando da Polcia Militar fluminense. E uma fundamental limpeza na polcia do Rio, idia que o governador Nilo Batista recusou. Cartas e abaixo-assinados pedindo interveno assustam Itamar pela sua quantidade. |
td94ma01-02 | Inventores transformam idias em dinheiro `Gnios' devem pedir registro de patente para lucrar com o invento; sorte pode render at um carro 0 km NELSON ROCCO Da Reportagem Local Boas idias podem render muito dinheiro e um carro 0 km. Bastam criatividade, sorte e principalmente esperteza para assumir a paternidade da inveno. A Associao Nacional dos Inventores vai incentivar os melhores gnios do pas sorteando um Corsa no fim deste ms (leia texto ao lado). Quem no quer depender da sorte deve ter em mente que talento fundamental, mas no suficiente para ter sucesso. O principal obter o registro dos inventos. Com o registro de uma inveno (patente), o dono da idia reserva para si o direito de explorao comercial ou industrial do produto ou processo de produo. Qualquer idia ou produto patentevel. O pedido feito ao Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). O registro demora at cinco anos para sair. Ana Paula Mazzei, 32, vice-presidente da Associao Nacional dos Inventores e diretora da Fama (empresa especializada em patentes), diz que existem quatro tipos de registros. O PI (patente de inveno) destinado criao de um produto novo e acabado. A patente do tipo MU (modelo de utilidade) se refere ao uso da inveno. Ana Mazzei cita como exemplo de patente MU o aparelho de fac-smile, que criou novo uso para a linha telefnica (que j existia anteriormente). Cada modelo de fac-smile, com suas especificaes tcnicas peculiares, recebe uma patente do tipo MI (modelo industrial). No um PI porque s funciona com algo que j existia (o telefone). O registro do tipo DI (desenho industrial) diz respeito configurao e cor do produto. Como registrar Para pedir patente de uma idia ao Inpi, preciso elaborar um esquema de funcionamento ou um prottipo do produto. Deve-se fazer um desenho descritivo da inveno, juntar os projetos da pea, cpias de documentos pessoais e lev-los ao rgo. Depois de dar entrada no processo, o Inpi concede um direito pretenso de patente, vlido enquanto no houver um registro definitivo. Se no houver registro anterior da mesma idia nem qualquer pedido de patente requerido, concedida a patente. Ana Mazzei diz que o rgo edita a Revista da Propriedade Industrial, onde publicado o andamento de cada processo. necessrio acompanhar a publicao at que a patente saia. Caso a pessoa perca o registro, a patente cai em domnio pblico e qualquer um pode explor-la. Carlos Mazzei, 31, presidente da associao, diz que h vrias formas de negociar um invento. Uma delas a venda da patente. Mazzei afirma que o inventor pode conceder uma licena de explorao do produto para terceiros e receber royalties (comisses). Os royalties variam de 3% a 10% sobre o valor pelo qual a empresa vende o produto, diz. Pode-se ainda procurar um parceiro que banque os custos de produo. A associao d todas as informaes sobre a obteno de patentes. H empresas especializadas no setor. A Fama, por exemplo, cobra entre US$ 500 e US$ 1.000, para encontrar um comprador. | Inventores transformam idias em dinheiro. Gnios devem pedir registro de patente para lucrar com o invento; sorte pode render at um carro 0 km NELSON ROCCO- Da Reportagem Local Boas idias podem ser um caminho para ganhar muito dinheiro e um carro 0 km. Alm da criatividade, necessrio ser esperto e registrar a idia. No basta s o talento. Com a patente na mo, o dono da idia tem o direito explorao comercial ou industrial do produto ou processo de produo. Para encaminhar o registro de uma idia ao Inpi, necessrio elaborar um esquema de funcionamento ou um prottipo do produto. Com o desenho descritivo na mo e cpias dos documentos pessoais , o interessado d entrada no rgo. No rpido o processo, mas , se no houver registro anterior ou um pedido de patente encaminhado, ela concedida. |
op94fe27-01 | Dia D, deciso ou decepo Chegou finalmente o Dia D, a hora do ataque frontal inflao. O governo batalhou nos ltimos meses para garantir as condies adequadas ao ataque. Amanh, com o lanamento da Unidade Real de Valor (URV), comea de fato a transio rumo nova moeda do Brasil. Talvez nunca se tenha alcanado, s vsperas de outros planos, condies to favorveis do ponto de vista econmico. Em primeiro lugar, destaca-se o nvel sem precedentes das reservas internacionais em poder do Banco Central. Isso significa que o governo tem poder de fogo contra os especuladores. Pode aumentar as importaes e garantir que as cotaes do dlar permaneam estveis em termos de URV. a chamada ncora cambial. Quanto s contas pblicas, deve-se reconhecer que aps vrios meses de negociao com o Congresso e outras lideranas, o esforo de aumento da arrecadao e combate sonegao, o aumento de alquotas e reduo de prazos e o Fundo Social de Emergncia tambm colocam o governo numa situao de vantagem frente s tentativas anteriores de estabilizao. Em muitos pacotes anteriores a economia foi sacudida, s vsperas, por tarifaos e maxidesvalorizaes cambiais. A muitos sempre pareceu bvio que iniciar uma etapa de estabilizao com uma mxi ou tarifao era injetar presses inflacionrias na pior hora. Dessa vez, entretanto, a situao das tarifas pblicas relativamente tranquila. A tal ponto que mesmo convertidas URV pela mdia ainda garantem s estatais a sade financeira indispensvel. Quanto taxa de cmbio, a performance do comrcio exterior brasileiro a evidncia maior de que no h nada de preocupante. Enquanto pases j estabilizados como Mxico e Argentina tm dificuldades, sem alcanar posies superavitrias no comrcio exterior, o Brasil tem reafirmado uma vocao fortemente competitiva, mesmo sob um ambiente superinflacionrio e de incremento das importaes. Finalmente, h as vantagens do compromisso com a liberdade de preos, que vem sendo respeitado pelo governo apesar das dificuldades polticas. provvel que muitos setores tenham formado, ao longo dos ltimos meses e semanas, margens de segurana que permitiro no apenas suportar a estabilidade, mas principalmente colaborar com ela, medida que a URV trouxer transparncia ao jogo real entre a oferta e a procura. H expectativas de que a demanda permanea contida. Justamente o contrrio de planos anteriores (como o Cruzado), quando se tentava estabilizar a economia com demanda aquecida. A perspectiva de juros reais ainda mais elevados nas prximas semanas refora a impresso de que, a partir de agora, as empresas vo operar numa economia com salrios estabilizados na mdia e mercados incapazes de sancionar puxadas de preos. Com todos esses fatores favorveis, no h quem duvide da capacidade do governo de obter considervel sucesso no curto e mesmo no mdio prazo. A fase de transio entre a URV e a nova moeda, cuja durao pode alcanar at 90 dias, culminaria portanto numa inflao bastante baixa -medida em URVs. Entretanto, cabe aqui uma dvida legtima, presente na conscincia de milhes de brasileiros que j tiveram de suportar as mais mirabolantes experincias de poltica econmica. Ningum duvida da capacidade do governo de derrubar a inflao. Isso j ocorreu vrias vezes. Mas o Dia D tambm o dia em que se renova a dvida: a inflao baixa, mas at quando? Amanh, a sociedade ingressar nessa nova experincia com o entusiasmo condicionado por essa dvida. Inquietao, alis, justificada no apenas pelo passado como por uma fragilidade das circunstncias a que bom estar atento. Fragilidade, antes de tudo, poltica, como revelam as sucessivas dificuldades no encaminhamento do ajuste fiscal e que esto ainda longe de se esgotar. Qual ser o valor do salrio mnimo e que impactos ter sobre o Oramento de 1994? Quando ser esse mesmo Oramento aprovado pelo Congresso? Quais as reais perspectivas de aumento da arrecadao num ano de crescimento econmico mais modesto? Como o governo tratar a entrada de recursos externos, com impactos inflacionrios? E qual a credibilidade do compromisso com a austeridade num ano eleitoral que promete disputas de virulncia indisfarvel? So incertezas, tanto tcnicas quanto polticas, que se devem contrapor com rigor s vantagens da situao atual frente a tentativas anteriores. Para que as dvidas desse Dia D decisivo no venham a ser, mais uma vez, tambm o prenncio de uma grande decepo. | Dia D, deciso ou decepo Chegou a hora do ataque frontal inflao. Foi grande o esforo do governo para garantir as condies bsicas para isso. O processo de transio para a nova moeda comea amanh com o lanamento da Unidade Real de Valor (URV). Possivelmente, nenhum plano anterior estruturou condies to favorveis. Primeiramente, destaca-se o timo nvel das reservas internacionais, o que significa poder do governo contra a especulao, facilidade de aumentar exportaes e de sustentar a estabilidade do dlar. Em relao s contas pblicas, o esforo para aumentar arrecadao e combater a inflao, a elevao de alquotas e reduo de prazos, e o Fundo Social de Emergncia aumentam as vantagens do governo. Os tarifaos e maxidesvalorizaes cambiais dos planos anteriores, pressionadores da inflao, agora no existem. A respeito da taxa de cmbio, o melhor aval o sucesso do comrcio exterior. Finalmente, o compromisso com a liberdade de preos vem sendo respeitado pelo governo. Provavelmente, muitos setores tenham se prevenido para sobrenadar durante a estabilidade e cooperar com ela. H expectativa de conteno da demanda. Com todos os esses ventos favorveis, no se duvida da capacidade do governo de obter sucesso em pequeno e mdio prazo. No entanto, cabe uma dvida : a inflao baixa , mas at quando? A nova experincia a ser vivida pela sociedade comporta essa inquietao, motivada no s por vivncias anteriores como pelas dificuldades atuais no encaminhamento do ajuste fiscal. Ficam estas perguntas: Qual ser o novo salrio mnimo e quais seus impactos sobre o Oramento de 1994? Quais as reais perspectivas de aumento da arrecadao num ano de crescimento mais modesto? Como o governo tratar a entrada de recursos internos, causadora de inflao? E que crdito o compromisso com a austeridade ter num ano eleitoral? |
mu94ma22-25 | Milagre chins d sinais de esgotamento Para especialistas, mercado de mais rpido crescimento do mundo pode estar prestes a sofrer uma queda Empresrios tiram capitais da China e levam a Hong Kong e Amrica Latina Clinton pode renovar o NMF e descobrir que no h dinheiro para ganhar na China DAVE LINDORFF Do The Nation, em Hong Kong medida que se aproxima o dia 3 de junho, o prazo final para o presidente Clinton decidir se renova o status comercial de Nao Mais Favorecida (NMF) para a China, o mundo empresarial norte-americano aumenta a presso para fazer a administrao esquecer a contnua represso exercida pela China contra os ativistas pr-democracia, os nacionalistas tibetanos e outros adversrios do Estado unipartidrio chins. O argumento do empresariado simples: se os Estados Unidos no separarem os direitos humanos da poltica comercial, eles perdero bilhes de dlares em comrcio e centenas de milhares de empregos. Para Frank Martin, chefe da Cmara de Comrcio Americana em Hong Kong, se os EUA cancelarem o NMF, correm risco de se exclurem do mercado de crescimento mais rpido no mundo. Clinton, que durante sua campanha presidencial criticou Bush por mimar tiranos em Pequim, expressou aberta simpatia pelos interesses do setor empresarial e parece estar disposto a conceder o NMF a Pequim. Enquanto isso, porm, um nmero crescente de sinlogos diz que o mercado de mais rpido crescimento do mundo pode estar prestes a sofrer uma grande queda. As pessoas esqueceram que quando um pas se abre e cresce muito rapidamente, ele passa por ciclos muitos fortes de crescimento e retrao, e acho que a China vai sofrer um revs muito srio, diz Marc Faber, diretor de uma firma de assessoria em investimentos, sediada em Hong Kong. Faber observa que a China passou de um supervit comercial lquido, em 1992, a um dficit comercial no ano passado e que esse dficit est aumentando. Durante os ltimos dois anos o pas sofreu uma evaso lquida de capitais, com investidores nacionais injetando dinheiro em Hong Kong e na Amrica Latina. A maioria das pessoas que vem a China com pessimismo fazem questo de se manterem no anonimato, para no incorrer no desagrado de representantes chineses. O governo chins admite que a inflao j de 20% e que em algumas regies urbanas chega a 40%, diz um economista muito importante de Hong Kong. Alguma coisa tem de ceder. Voc tem uma moeda que est se desvalorizando internamente e a perspectiva de uma moeda que se desvaloriza tambm no exterior. Voc tem a incapacidade das estatais de competir e de pagar seus funcionrios. As perspectivas de perturbaes sociais so enormes. Um economista que fala abertamente Thomas Chan, coordenador do Centro Empresarial Chins na Politcnica de Hong Kong. Diz Chan, que tem acesso fcil s estatsticas do governo chins (Pequim utiliza suas pesquisas): Acho que a inflao chinesa est to alta que uma aterrissagem dura para a economia tornou-se inevitvel. Chan argumenta que com o crescimento das vendas no varejo em menos de 5%, comparada com um crescimento industrial de 18%, no existe base de apoio para este crescimento. Quando o crescimento comea a cair, as empresas tero que fechar ou elevar seus preos. A maioria vai elevar os preos, agravando a inflao. Com isto, segundo Chan, os responsveis pela poltica econmica chinesa se vem num impasse. Ou o governo imprime mais dinheiro ou arrocha o crdito. Com metade das estatais j tecnicamente falidas, qualquer reduo no crdito levar a enormes falncias de empresas. J faz vrios anos que o governo vem dizendo que as estatais tero de manter-se de p por conta prpria. Mas como isto significaria a demisso de milhes de trabalhadores, ningum quis dar o primeiro passo. E por um bom motivo: quando as empresas tentam demitir trabalhadores, frequentemente enfrentam violentas greves irregulares. O governo oficialmente reporta 10 mil greves legais e vrias centenas de motins em 1993. Isto num pas em que as organizaes trabalhistas independentes so ilegais e quem instiga um tumulto corre o risco de levar uma bala na cabea. Ultimamente a reao do governo tem sido de aceder s reivindicaes dos trabalhadores, e Pequim vem imprimindo mais dinheiro para subsidiar empresas que enfrentam problemas. Milhes de chineses j esto trabalhando, ou esto simplesmente inativos, recebendo meio salrio mensal. Outros milhes vm trabalhando h meses sem serem pagos. Mais de 100 milhes de camponeses e trabalhadores agrcolas so hoje migrantes desempregados que vagueiam de cidade em cidade procura de trabalho temporrio. Segundo uma estimativa o nmero total de desempregados na China talvez j supere os 200 milhes, mas esse apenas um dos muitos problemas. De acordo com um informe do Banco Mundial, desde o incio dos anos 50 cerca de 30 milhes de pessoas foram expulsas de suas terras e casas, da mesma maneira, recebendo pouca ou nenhuma compensao. A ira que esses cidados desapropriados sentem sintomtica da crise provocada por vrios anos de desenvolvimento frentico, mal planejado e cada vez mais superaquecido. Em vista das vrias crises que o pas enfrenta, Chan prev uma recesso com caractersticas chinesas, que ele define como uma queda do ndice de crescimento anual, dos 13% atuais para apenas 4%, comeando este ano e durando at o incio de 1997. Os assessores econmicos de Clinton talvez considerassem um crescimento de 4% nos EUA como o paraso, mas num pas como a China, em que 900 milhes de pessoas ainda vivem em condies primitivas e onde a populao aumenta rapidamente, um crescimento lento dessa ordem seria um desastre poltico. Com a f no comunismo e na revoluo no ndice mais baixo j visto (numa pesquisa recente, apenas 7% dos jovens disseram acreditar no comunismo e conversas particulares com quadros do governo mostram que at mesmo os membros do partido so leninistas relapsos e marxistas descrentes), a nica base de legitimao e poder do regime tem sido seu xito em expandir a economia e elevar os padres de vida pelo menos nas cidades. Um crescimento to lento quanto aquele previsto por Chan significaria ndices ainda mais altos de desemprego, desabrigo e fome e, inevitavelmente, distrbios sociais (especialmente quando uma parcela considervel dos ganhos comerciais do governo e do capital estrangeiro investido contribuem para um macio fortalecimento das reservas militares). Este retrocesso econmico que se aproxima ameaadoramente vem num momento em que o governo enfrenta uma crise poltica sobre a sucesso de sua liderana. Com a antecipada morte do patriarca enfraquecido Deng Xiaoping, que est com 89 anos, a liderana ter que vir de burocratas mais jovens, aos quais falta o prestgio associado aos combatentes da revoluo de 1949. As brigas por posies entre conservadores maostas, liberais econmicos e reformistas polticos de todas as estirpes j esto se tornando complexas e viciadas. Com os funcionrios do governo central preocupados com intrigas palacianas, os lderes provinciais e at mesmo de condados esto pura e simplesmente ignorando as diretrizes de Pequim. No ano passado, por exemplo, as autoridades de Guangdong, confrontadas com ordens de Pequim para limitar o consumo de petrleo, simplesmente assinaram contratos para a entrega de petrleo estrangeiro Provncia. Em lugar de deixar-se desmoralizar, admitindo que no tem meios de fazer implementar suas decises, o governo central hoje habitualmente as rev, transformando-as em medidas mais brandas quando confrontado com oposio regional. Num estudo publicado nesta primavera pelo Instituto Internacional de Estudos Estratgicos, sediado em Londres, Gerald Segal interpreta estes sinais como indcios de uma prxima descentralizao econmica e poltica da China, talvez at mesmo de sua fragmentao. verdade que a opinio prevalecente mantm um viso mais otimista do futuro da China. Acho que a economia vai crescer a um ndice real de 10% este ano, que uma desacelerao em relao aos 13,4% do ano passado, diz Jason Kwok, economista-chefe do Citibank em Hong Kong. No ano que vem acho que a desacelerao vai continuar, com 9% a 9,5%. Kwok diz que sua viso mais otimista do que os cticos porque eles no tm f no governo chins e eu tenho. Vale lembrar que o Citibank tambm teve muita f na economia latino-americana nas dcadas de 70 e 80. Um funcionrio consular econmico ocidental ecoa as idias de Kwok: Qualquer queda seria simplesmente parte do ciclo contnuo que vem sendo vivido desde que a poltica de reforma e abertura econmica comeou, em 1979. A queda poderia durar dois a trs anos, mas a tendncia a longo prazo na China continua sendo de crescer cada vez mais. Este observador admite que v com inquietao o dficit infraestrutural. Como diz, a falta de usinas eltricas, ferrovias e rodovias pode abater a economia chinesa a mais longo prazo. No se pode ter um crescimento contnuo de 13% quando as ferrovias j funcionam com 100% de sua capacidade. O funcionrio consular reconhece a incerteza poltica provocada pela corrupo e pelo desemprego, alm da insatisfao na zona rural, onde o crescimento econmico e a melhoria nos padres de vida no vm acompanhando a China urbana. Parte do que se ouve na imprensa chinesa e internacional sobre corrupo e perturbaes propaganda. a maneira do governo fazer saber ao povo que est ciente do problema. Mas em parte se deve ao fato de que eles realmente temem que as coisas estejam fugindo a seu controle. Wei Jingsheng, o mais famoso dissidente chins do Muro da Democracia, que acabou de cumprir 15 anos de encarceramento e voltou a ser preso em abril por acusaes no especificadas, publicou recentemente um ensaio num jornal de Hong Kong aconselhando os investidores estrangeiros na China a no se deixarem ser vistos como estando apoiando o atual regime comunista, para no virem a incorrer na ira popular mais tarde. Antes de ser preso esta ltima vez, Wei conclamou os EUA a manterem a presso econmica sobre o governo chins. Os entendidos em poltica podem discutir se ou no do interesse do povo americano e do interesse do povo chins ver a economia chinesa desabar. Mas isso no tem sido o tema da discusso sobre a renovao do NMF, que em lugar disso vem focalizando os interesses econmicos imediatos dos EUA. Seria um caso de justia potica se a administrao Clinton traindo mais uma promessa feita durante sua campanha, em nome do Realpolitik e da promoo do comrcio cortasse o vnculo entre direitos humanos e NMF e lavasse suas mos de responsabilidade pelos ativistas democrticos na China, apenas para descobrir que no h dinheiro para ser ganho. Traduo de Clara Allain | Milagre chins d sinais de esgotamento Para especialistas, mercado de mais rpido crescimento do mundo pode estar prestes a sofrer uma queda Empresrios tiram capitais da China e levam a Hong Kong e Amrica Latina Clinton pode renovar o NMF e descobrir que no h dinheiro para ganhar na China Quanto mais se aproxima o prazo de Clinton decidir sobre a renovao do status comercial Nao Mais Favorecida (NMF) conferido China , mais o empresariado americano pressiona para que o governo esquea a represso chinesa contra os adversrios do Estado chins. O argumento o de que , se isso no acontecer, os Estados Unidos perdero milhes de dlares e milhares de empregos. Clinton, apesar de crticas a Bush por mimar tiranos , est disposto a concordar com os empresrios. Mas vrios sinlogos afirmam que o mercado de mais rpido crescimento do mundo est para desabar. Marc Faber, diretor de uma firma de assessoria em investimentos, assinala que um pas que cresce muito rapidamente oscila para momentos de retrao e acredita que a China ter um revs muito srio. Um sinal que , nos dois ltimos anos, houve evaso de capital lquido para Hong Kong e Amrica Latina. . Um economista importante de Hong Kong informa que o governo chins admite que a inflao j est em 20% e em algumas regies urbanas j chegou a 40%. Ele acrescenta que a desvalorizao da moeda internamente e no exterior , a falta de competitividade das estatais e sua incapacidade de pagar funcionrios acarretam graves perturbaes sociais. Thomas Chan, coordenador do Centro Empresarial Chins na Politcnica de Hong Kong , com bases nos dados do governo chins , afirma que a inflao to alta do pas somente pode resultar numa aterrissagem dura da economia. Ele mostra o descompasso entre o crescimento de 5% no varejo e o crescimento industrial de 18% , o que significa falta de sustentao para a produo. H tempo que o governo fala que as estatais tm que andar com as prprias pernas, mas ningum assume porque a ameaa de desemprego iria provocar reaes violentas dos trabalhadores. Milhes j esto trabalhando e recebendo s meio salrio ou sem serem pagos. Milhes de camponeses e trabalhadores j so migrantes vagando pelas cidades em busca de emprego temporrio. A recesso prevista por Chan dos atuais 13% anuais para 4% resultaria num quadro alarmante. Principalmente agora, quando a crise poltica relacionada sucesso de liderana envolve brigas entre conservadores, liberais. As oposies regionais agora so enfrentadas com medidas mais brandas pelo governo central, a fim de no desmoralizar-se por no poder impor suas decises. Apesar desse quadro, ainda prevalece uma posio otimista quanto ao futuro da China . Jason Kwok, economista do Citibank em Hong Kong estima uma taxa de crescimento de 10% , mais realista do que a do ano anterior. Um funcionrio consular da rea econmica do Ocidente tem o mesmo otimismo de Kwok. S acha que h dficit na infra-estrutura no setor eltrico, rodovirio e ferrovirio. Os entendidos em poltica podem discutir se do interesse americano ou at dos chinesesver a economia chinesa ruir. O duro Clinton aps descumprir promessas de campanha no se importar com as infraes da China com relao aos direitos humanos e verificar depois que no h dinheiro para ser ganho. |
br94de25-11 | O efeito Gutenberg MARCELO LEITE Um leitor qualificado e perspicaz sugeriu-me outro dia uma pergunta difcil: como se comportar a Folha em relao ao governo Fernando Henrique Cardoso? No maniquesmo inerente ao jornalismo, s haveria uma alternativa: ou amor ou dio. A questo pertinente, dada a notria proximidade do jornal com o presidente eleito. At setembro de 1992, FHC mantinha uma coluna semanal na pg. 1-2, publicada s quintas-feiras. Tal relao de colaborao s foi interrompida porque o senador peessedebista se tornou chanceler de Itamar Franco. (Segundo praxe da Folha, um colunista no pode simultaneamente ocupar ou candidatar-se a cargo no Executivo. Nesta condio, sua coluna correria o risco de transformar-se em tribuna para defesa de um interesse privado a reputao como governante.) Fernando Henrique no foi o nico tucano a ocupar esse espao, conhecido na Redao como coluna vertical. Depois de amanh dever ser publicado o ltimo texto do futuro ministro do Planejamento Jos Serra. Pertinente, a questo no porm nova. O prprio retrospecto das colunas de ombudsman aponta para uma simpatia espria: Durante a campanha eleitoral, minha antecessora apontou fernandohenriquismo do jornal; Ao estrear, emiti a opinio de que este e outros dirios tinham mesmo henricado; A 30 de outubro, na coluna Lua-de-mel na Europa, critiquei a condescendncia da Folha com o presidente eleito. Quando FHC enfim se lanou ao primeiro ato de governo, montar seu ministrio, temi pelo pior. No episdio da escolha de Pedro Malan para ministro da Fazenda, intencionalmente vazada para reprteres, os jornais evidenciaram sua tibieza. Com arrogncia, FHC desqualificou as manchetes de 1 de dezembro, dizendo que era um ministrio Gutenberg (referncia a Johannes Gutenberg, que inventou a imprensa de tipos mveis no sculo 15). Ficou por isso mesmo. Em outras pocas, a Folha teria posto a boca no trombone, denunciando a tentativa de manipulao. FHC seguiu a seu modo a receita do seu sucessor na Fazenda, aquele premiado com a embaixada em Roma pela ajuda ao candidato: esconder o que ruim (as presses para indicar Serra no lugar de Malan) e faturar o que bom (a imagem favorvel de Malan). No ltimo dia 14, perguntei em minha crtica interna da edio documento distribudo diariamente na Redao se o termo loteamento tambm no se aplicaria s negociaes em curso, em especial as tratativas com o fisiolgico PMDB. Afinal, eram um tanto semelhantes s entabuladas por Itamar dois anos antes e desancadas pelo jornal. Dois dias depois, uma chamada na capa do jornal anunciava: FHC cede a presso e loteia ministrio. Ao elogiar a iniciativa crtica, no entanto, fiz uma ressalva: Faltou mencionar um ponto importante, na anlise das 'presses': FHC teria condies, sem contemplar PMDB, de fazer a reforma constitucional (ou pelo menos fiscal) exigida por todos, inclusive esta Folha? uma espcie de outro lado neste caso, da questo. A necessidade de criticar o emprego de mtodos polticos atrasados, como a distribuio de cargos, no desobriga de outra, a de eventualmente reconhecer que pode no haver outra moeda no mercado para negociar a estabilidade. A palavra-chave do comportamento que a Folha deve observar frente ao governo qualquer governo equilbrio. Sem simpatia nem rancor. O perigo das relaes estremecidas, como no caso FHC-Folha, so as hiper-reaes resultantes de encontres fortuitos. Foi o que sucedeu com o socilogo Luciano Martins, amigo de FHC e organizador de um convescote acadmico em Braslia. Na vspera do seminrio, ele tinha dado entrevista Folha e falado da crise do Estado-Nao, publicada sob ttulo Acabou o Estado nacional, diz tucano. Era um exagero, mas confesso que nem me chamou a ateno. Por vaidade, ou cioso das diferenciaes que matizam o pensamento, seu ofcio, Martins chiou. Em carta ao Painel do Leitor, exps suas divergncias e levou troco imediato, na forma de uma atordoante Nota da Redao: Por serem resumos extremamente condensados, os ttulos jornalsticos quase nunca comportam filigranas como esta que tanto preocupa o missivista. Para Luciano Martins, o conceito de Estado nacional no acabou, mas est em crise. E da? A imprensa deve melhorar seus ttulos, no h dvida. Mas os intelectuais agora transformados em aprendizes de polticos ajudariam muito se comeassem a falar de maneira categrica ou, pelo menos, clara. O reflexo desse destempero pde ser visto pelo pblico no prprio Painel do Leitor, 11 dias depois: quatro cartas de protesto, nenhuma de apoio ao jornal, nenhuma nova nota justificando ou se desculpando pela anterior. Os leitores esto certos. Se o jornal acha que intelectuais no tm nada de importante ou compreensvel para dizer, no deveria insistir em entrevist-los. Se entrevista, tem de cobrar clareza durante a conversa; depois, s lhe resta ser fiel ao que dizem. Atritos como esse so exceo. No geral, a relao entre tucanos e reprteres afvel. Sua melhor expresso o off, um acordo entre fonte e jornalista para manter a primeira no anonimato. Na ltima tera-feira, o colunista Lus Nassif levantou questes pertinentes sobre o abuso dessa modalidade de investigao. Seu alvo eram as muitas reportagens abusivamente atribudas famosa equipe econmica. Aproveitei a deixa para anotar que a distoro afetava grande parte, talvez a maior, do noticirio sobre o governo Itamar Cardoso. No caso deste jornal, sem que as reportagens respeitassem norma do Novo Manual da Redao, que manda identificar o off com a expresso a Folha apurou. Foi o caso, entre outros, da notcia sobre a escolha de Malan para a Fazenda (ironizada e depois confirmada). E tambm da indicao de Bresser para o Itamaraty (manchetada e depois revista). Trata-se de uma distoro, sim. Embora a prtica jornalstica brasileira sugira o off como ferramenta bsica de reprteres, ele contraria o direito informao. Deve ser encarado como exceo, e nunca oferecido pelo prprio reprter, muito menos aceito, se o confidente no tiver motivos slidos para manter-se em sigilo. No me parece que o anncio a conta-gotas do ministrio possvel de FHC, todo ele em off, se enquadre nessa exigncia. A identificao da fonte crucial para a credibilidade de uma informao. O jornalista que admite a exceo no pode esconder do leitor que se trata de um off, pelo simples fato de que o interesse no anonimato pode comprometer aquilo que se revela. Afinal, no foi para esconder informaes que Gutenberg inventou a imprensa. O ombudsman estar de folga at o dia 2. Se voc tiver alguma reclamao, deixe recado na secretria eletrnica ou mande fax. Na volta, respondo. | O efeito Gutenberg -- MARCELO LEITE Um leitor me sugeriu uma pergunta difcil: como se comportar a Folha em relao ao governo Fernando Henrique Cardoso? Se o jornalismo maniquesta, s podia ser de amor ou dio. Faz sentido a pergunta , j que a coluna semanal de FHC na Folha condicionava uma proximidade com o jornal. Com a sua nomeao a chanceler, interrompeu-a , seguindo praxe da Folha. No foi o nico tucano a ocupar esse espao. E o retrospecto que fiz em gesto anterior do meu cargo mostrou compadrio durante a campanha eleitoral, relao que eu critiquei na Folha e em outros dirios. Na escolha de Pedro Malan para o ministrio da Fazenda, houve vazamento intencional imprensa. Dada a indiferena dos jornais , Fernando Henrique reagiu com arrogncia. Se fosse em outras pocas, a Folha teria retrucado duramente. Na minha crtica interna ---documento distribudo diariamente na Redao--- , ao tratar da questo de indicao de cargo, perguntei se o loteamento no estava sendo includo nas negociaes com o PMDB, como tinha ocorrido antes no governo Itamar procedimento to criticado pela Folha O resultado veio dois dias depois: FHC cede a presso e loteia ministrio. Elogiei a iniciativa , mas com uma ressalva : a de que a crtica aos mtodos atrasados de distribuio de cargos deveria ser acompanhada do reconhecimento de , s vezes,no h outro caminho para negociar a estabilidade. O estremecimento das relaes entre FHC e Folha resultou num desdobramento indigesto: o socilogo Luciano Martins, amigo do presidente , falou numa entrevista ao jornal sobre crise Estado-Nao. O ttulo que saiu foi Acabou o Estado nacional. A divergncia do socilogo quanto interpretao mereceu uma resposta despropositada. O reprter disse que era impossvel resumir um texto e contemplar , ao mesmo tempo, idias menores como aquela que o missivista reclamava. E acrescentou que, se a imprensa deve melhorar seus ttulos, os intelectuais aprendizes de poltico deviam expressar-se com mais clareza. Os prprios leitores no apoiaram a Folha, com o que concordo. Se o jornal acha que eles no tm algo importante a dizer , no deve entrevist-los. No entanto, esses atritos no acontecem sempre entre o jornal e os tucanos. At , com mais freqncia do que seria esperado, os reprteres preservam o anonimato dos entrevistados. |
co94jl07-23 | Escolas conseguem lucro mdio de 7,52% Consultor afirma que resultado 'mais que razovel'; dono de escola diz que situao no to boa PAULO SILVA PINTO Da Reportagem Local Escolas de So Paulo tiveram lucro mdio de aproximadamente 7,52% sobre seu faturamento em maio, segundo a CNA Consultores, que atende 70 estabelecimentos de ensino de pr-escola ao 2 grau. Para julho, a previso dos consultores de que isso deve diminuir um pouco porque desaparece o ganho financeiro dos prazos de recolhimento de impostos (veja quadro ao lado). Mas, se no houver despesas imprevistas, vai sobrar dinheiro do item reserva, resultando em nmeros prximos aos de maio. Em abril a rentabilidade foi de 8,46% e em maro, de 15,19%. Para Mrcio Orlandi, 51, da Fundamental Research Consultoria, que atende empresas de outros setores, o resultado apresentado pelas escolas pode ser considerado mais que razovel. Para a avaliao ele considera o baixo risco financeiro da escola muito difcil uma fuga em massa dos alunos e da receita de um ms para outro e um risco civil um pouco maior so muitas crianas e adolescentes sob responsabilidade dos proprietrios. Mas Orlandi acha que o resultado s possvel em um modelo de escolas particulares como o brasileiro, em que predominam instalaes adaptadas em prdios alugados e improvisados para a escola. O lucro sobre patrimnio tambm bem superior ao que paga o mercado financeiro. Sobre o capital empatado do Colgio Oswald de Andrade, por exemplo, de US$ 100 mil, houve retorno de US$ 70 mil (70%) no ano passado, acima da mdia do mercado financeiro. O overnight est hoje com juros projetados para 45% ao ano. Eugnio Cordaro, 40, um dos proprietrios da CNA e do colgio Oswald de Andrade, acha, porm, que a situao no to atraente assim. Do que recebemos, tivemos que investir US$ 50 mil s em informtica com fins educacionais. Quem no fizer isso neste momento vai ficar para trs, afirma. Alm disso, no so todas as escolas que conseguem manter uma situao to estvel. Dois teros dos seus clientes da CNA esto com lucro abaixo da mdia. o caso da escola B (veja quadro ao lado), que no permitiu a divulgao de seu nome e deve fechar o ano no vermelho. Cinco das 70 escolas atendidas pela CNA esto venda desde o incio do ano, sem encontrar compradores. O consultor Joo Paulo Nogueira, 40, um dos proprietrio da CNA, afirma que pelo menos a situao financeira dos estabelecimentos de ensino melhorou. H seis anos a maioria era deficitria. Mas, para Mauro de Salles Aguiar, diretor do Colgio Bandeirantes, um indicador de que escolas continuam no sendo um negcio dos mais atraentes do mercado a ausncia de novos investimentos por parte de pessoas de fora do setor. A disparidade entre o lucro das escolas ocorre pela variao de custos que influem na qualidade mas podem no ser claros aos pais. Alm de equipamentos, h o preo da hora-aula, trabalho fora das classes (no Bandeirantes 45% da remunerao de professores para atividades como preparo de laboratrios e programas de computador etc). Entre as escolas que esto com lucro acima da mdia, h resultados supreendentemente altos, como o da escola A (que tambm no permitiu a identificao), com uma rentabilidade de 47% sobre seu faturamento. Se a remunerao dos scios fosse menor, ela daria lucro at com a MP 524 aquela que foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal e diminua em 50% a mensalidade das escolas. O presidente do Sieeesp (sindicato das escolas particulares de So Paulo), Jos Aurlio de Camargo, 45, diz que no conhece nenhuma escola nesta situao. O Sieeesp no pede a seus associados as planilhas de custos. A lucratividade resultado de competncia gerencial e indispensvel para novos investimentos, afirma. Segundo o Conselho Estadual de Educao, desde 1991 as escolas esto desobrigadas, por lei federal, a apresentar ao rgo suas planilhas de custos. | Escolas conseguem lucro mdio de 7,52% Consultor afirma que resultado mais que razovel ; dono de escola diz que situao no to boa PAULO SILVA PINTO --- Da Reportagem Local Escolas de So Paulo tiveram lucro mdio de aproximadamente 7,52% sobre o faturamento em maio.Em abril foi de 8,46$ e maro , de 15,19% , resultado mais que razovel , segundo o consultor Mrcio Orlandi, da Fundamental Research Consultoria. Para julho , a previso dos consultores de que diminua . Mas Orlandi acha o resultado s possvel no modelo, em predominam as escolas em prdio alugado. O lucro sobre o patrimnio tambm supera o mercado financeiro. Dos US$100 mil empatados no Colgio Oswald de Andrade houve um retorno de US$70 mil. Eugnio Cordaro , um dos proprietrios do CNA e do colgio Oswald de Andrade no considera to atraente a situao. Do que recebemos , tivemos que investir US$ 50 mil s em informtica com fins educacionais. Dois teros dos seus clientes esto abaixo da mdia. Cinco das 70 a que presta servios esto venda. Para o direitor do Colgio Bandeirantes , Mauro de Salles Aguiar, um sinalizador de que no tem sido um mercado to atraente a pequena presena de novos investidores. Alm dos equipamentos, h as horas-aula , trabalho fora de classe. Uma das felizardas teve lucro de 47% sobre o faturamento. Daria lucro at com a MP524, que diminua a mensalidade em 50% , se a remunerao dos scios fosse menor. Jos Aurlio de Camargo , presidente da Sieeesp( sindicato das escolas particulares de So Paulo) diz no conhecer nenhuma escola nessa situao. |
ce94jl31-b | Apesar do consenso sobre a necessidade de reformular a Previdncia Social, as propostas hoje em discusso apresentam pontos divergentes. Para que as mudanas sejam feitas, o Congresso ter que realizar mudanas na Constituio. A criao de um sistema bsico e pblico de previdncia tem o apoio de parlamentares de diversos partidos. O sistema bsico concederia benefcios apenas para quem contribui. As divergncias surgem no momento de definir, por exemplo, qual o valor mximo do benefcio do sistema bsico. Variam de um a dez salrios mnimos. A proposta da Fiesp (Federao das Indstrias do Estado de So Paulo) prev a criao do VRS (Valor de Referncia Social), igual a um salrio mnimo na data da reforma. A partir da, o seu valor seria corrigido pela variao do custo de uma cesta bsica. O benefcio do regime bsico seria at trs VRS e custeado unicamente pelo trabalhador. A Febraban (Federao Brasileira das Associaes dos Bancos) defende um regime bsico com benefcios at dois salrios mnimos. A CUT (Central nica dos Trabalhadores), por sua vez, defende que o valor mximo dos benefcios do sistema bsico seja equivalente a dez salrios mnimos, o equivalente hoje a cerca de R$ 650. No caso da aposentadoria por tempo de servio, a tendncia criar no seu lugar um sistema misto. Apenas sete pases em todo o mundo adotam o sistema de aposentadoria por tempo de servio, entre eles o Brasil. A idia do sistema misto levar em conta a idade e o tempo de contribuio do trabalhador para a Previdncia. o caso, por exemplo, da frmula 95, apresentada por Wladimir Martinez, especialista no assunto. Por ela, o trabalhador se aposentaria quando a soma de sua idade e do tempo de contribuio fosse igual a 95. O deputado Reinhold Stephanes (PFL-PR), ex-ministro da Previdncia, prope que os critrios de aposentadoria sejam iguais para os homens e para as mulheres. Para ter direito aposentadoria por tempo de servio, o trabalhador precisaria de 40 anos de contribuio. A aposentadoria por idade seria concedida aos 62 anos e 35 anos de contribuio. A CUT quer a manuteno da aposentadoria por tempo de servio. A extino da aposentadoria por tempo de servio defendida pela Fora Sindical. A Febraban defende a aposentadoria por idade aos 63 anos para ambos os sexos. Outro ponto polmico a fonte de financiamento da Previdncia. A CUT quer manter a contribuio atual das empresas. A Fiesp prope que a contribuio previdenciria do empregador seja eliminada. A proposta da Febraban prev o financiamento atravs de contribuio dos segurados e das empresas at a faixa de dois salrios mnimos. As alquotas seriam diferenciadas de acordo com o tipo de benefcio, totalizando 22% para ser dividida entre empresa e empregado. A proposta baseada no modelo chileno prev um regime de capitalizao. Haveria contribuies individuais dos trabalhadores e um seguro obrigatrio de riscos e enfermidades ocupacionais. O regime seria obrigatrio para os empregados e facultativa para os trabalhadores autnomos. Para o homem se aposentar aos 65 anos e a mulher aos 60 anos, seria necessrio estarem filiados ao sistema h pelo menos 20 anos. O valor mnimo do benefcio corresponderia a 85% do menor valor base de contribuio para indviduos com menos de 70 anos e de 90% para quem estiver acima dessa idade. Para penso, o valor mnimo de 85% do menor valor base de contribuio. Est previsto ainda um benefcio de carter assistencial para a populao carente. Seria de 50% da penso mnima. No haveria aposentadoria por tempo de servio. Seriam adotadas as mesmas regras para os servidores pblicos. Para viabilizar as mudanas na Previdncia, sero necessrias mudanas na Constituio aprovada em 1988. | Apesar do consenso sobre a necessidade de reformular a Previdncia Social, as propostas em discusso apresentam pontos divergentes. Por exemplo, se h bastante consenso sobre a criao de um sistema bsico e pblico, que beneficiaria apenas quem contribui, h divergncia quanto definio do valor mximo do benefcio. As classes patronais propem menos ( Fiesp, um salrio mnimo na data da reforma; Febraban, at dois salrios); a Central nica dos Trabalhadores - CUT - defende at 10 salrios mnimos como valor mximo do regime bsico. Para substituir o sistema de aposentadoria ---que funciona s em sete pases, entre os quais o Brasil--- a tendncia criar um sistema misto ---idade e tempo de contribuio. O especialista Wladimir Martinez , criador da frmula 95, defende que o trabalhador se aposente quando a soma da sua idade e do tempo de contribuio 95. O deputado Reinhold Stephanes prope critrios iguais para homens e mulheres. A CUT e a Fora Sindical pensam diferentemente: a primeira quer a aposentadoria por tempo de servio; a segunda defende sua extino A fonte financiadora outro ponto de discordncia. A CUT quer manter a contribuio atual das empresas. A Fiesp, no. A Febraban defende a contribuio de segurados e empresas , at a faixa de dois salrios mnimos. H ainda a proposta baseada no modelo chileno, uma forma de capitalizao , com contribuies individuais e um seguro obrigatrio . Esse regime seria obrigatrio para os empregados e facultativo para os autnomos. Tambm prev o valor mnimo do benefcio para os contribuintes e um valor menor, de carter assistencial, para os carentes. |
co94ma15-03 | Novo presidente do TJ quer agilizar Judicirio paulista nfase maior na proximidade do juiz com a comunidade tambm meta YURI CARAJELESCOV Free lance para a Folha O novo presidente do Tribunal de Justia (TJ) de So Paulo, desembargador Jos Alberto Weiss de Andrade, 68, quer dinamizar a atuao do Poder Judicirio paulista. O Poder Judicirio deve tomar decises mais rpidas e que atendam ao interesse da populao. Weiss de Andrade juiz h mais de 40 anos e j foi presidente do Tribunal de Alada Criminal (1980/81), corregedor-geral da Justia (1992/93), duas vezes diretor da Escola Paulista de Magistratura (1988 e 1990) e vice-presidente do TJ. Eleito com o voto de 92 dos 132 desembargadores do Estado, Weiss de Andrade substitui Francis Davis, que se aposentou em abril. Seu mandato termina no final de 95. Alm de dinamizar o atendimento jurisdicional, daremos nfase a uma maior proximidade do juiz com a comunidade, afirmou. Para o presidente, a implantao dos Juizados de Pequenas Causas representa a principal forma de garantir essa aproximao. Os Juizados de Pequenas Causas tm procedimento informal. As partes em conflito no precisam de advogados, o pedido pode ser formulado oralmente e prevalecem as tentativas de acordo. Hoje, apenas as demandas que no excederem 20 salrios mnimos (cerca de 1.280 URVs) so apreciadas por esse juizado. Weiss de Andrade sugere ainda uma mudana de mentalidade dos juzes. Para ele, os juzes existem para servir a populao e no o contrrio. A funo dos magistrados deve ser a de solucionar os conflitos, promovendo a pacificao social. O presidente criticou a postura de juzes que no recebem as partes ou seus advogados. dever dos juzes receber os advogados e as partes. Eventuais irregularidades a este respeito devem ser denunciadas. Como chefe do Poder Judicirio de So Paulo, Weiss de Andrade disse que exercer atividades polticas de representao, diferenciadas da atuao partidria. A atividade poltica do presidente do TJ deve ser entendida num sentido amplo, sem significar atividade poltico-partidria. Alm das atribuies gerais de dirigente da Magistratura do Estado, o presidente do TJ tem funes previstas no artigo 193 do regimento interno do tribunal e leis de organizao judiciria. Problemas Segundo Weiss de Andrade, o maior problema enfrentado pelo Judicirio a falta de recursos humanos e materiais. No conseguimos preencher a maior parte das vagas que oferecemos nos concursos para juiz porque os candidatos so despreparados tecnicamente. A morosidade do Judicirio deve ser combatida com medidas conjugadas. Alm da informatizao, preciso simplificar as regras procedimentais e aumentar o nmero de juzes para proferir decises, disse o desembargador. Em uma sociedade com mltiplas carncias, naturalmente os problemas se avolumam e, por consequncia, exigem solues em maior nmero. O Judicirio no cria problemas, apenas os resolve lembrou. Para o presidente do TJ, com a instabilidade econmica e social por que passa o pas aumenta o nmero de pessoas que procuram socorro no Judicirio. Democratizao O Poder Judicirio no precisa ser democratizado, isso porque, segundo Weiss de Andrade, o Judicirio j democrtico. `O ingresso na magistratura feito por concurso pblico, aberto a todas as pessoas interessadas, desde que possuam os requisitos tcnicos (formao jurdica) exigidos na Constituio. Na mesma linha de argumentao de outros chefes do Judicirio, o desembargador criticou a proposta de controle externo do Poder Judicirio. Para ele, corre-se o risco de ingerncia nas decises e liberdade dos juzes, que constitui a maior garantia do cidado. J existe controle disciplinar interno eficaz, exercido pelas corregedorias, e controle administrativo externo, feito pelo Tribunal de Contas. Alm disso, a experincia de controle externo em outros pases mostrou-se nefasta, disse. Corrupo A regra geral a probidade dos magistrados. Os casos isolados, objetos de denncia, tm sido prontamente apurados pela corregedoria, afirmou. O Poder Judicirio apura os casos de corrupo dos juzes atravs da atividade de suas corregedorias. H a necessidade de denncia e prova efetiva de irregularidades praticadas. A garantia da transparncia do Judicirio est na lei, segundo o desembargador. Todas as audincias so pblicas e de livre acesso a qualquer interessado, salvo aquelas em que a prpria lei exige segredo de justia. A fiscalizao administrativa exercida pelo Tribunal de Contas foi lembrada por Weiss de Andrade como outra forma de se garantir a transparncia do Judicirio. Sobre o sentimento de impunidade da sociedade brasileira, o desembargador declarou que o Judicirio tem contribudo para diminu-lo. | Novo presidente do TJ quer agilizar Judicirio paulista nfase maior na proximidade do juiz com a comunidade tambm meta YURI CARAJELESCOV (Free lance para a Folha) O novo presidente do Tribunal de Justia de So Paulo, desembargador Jos AlbertoWeiss de Andrade, quer dinamizar o Poder Judicirio paulista. Alm disso, aproximar o juiz da comunidade. A melhor forma para isso a implantao dos Juizados de Pequenas Causas, em que as partes no precisam de advogados, a formulao do pedido oral e as tentativas de acordo predominam. Ele prega a necessidade de mudana da mentalidade dos juzes, esclarecendo que eles devem servir comunidade e no o contrrio; e que sua funo solucionar conflitos visando a harmonia social.E critica os juzes que no recebem as partes e os advogados. Segundo o presidente, o maior problema do Judicirio a carncia de recursos humanos e de materiais, que redunda em morosidade e na conseqente acumulao de processos. Tambm de acordo com ele, o Poder Judicirio no precisa ser democratizado , porque j . E alega que o acesso magistratura feito por concurso pblico, aberto a todas as pessoas. E no concorda com a proposta de controle externo, at porque a experincia em outros pases foi nefasta. Quanto corrupo no Judicirio, diz limitar-se a casos isolados , que so apurados pelas corregedorias. E tenta confirmar a probidade dos magistrados dizendo que todas as audincias , salvo casos especficos, so abertas a quem quiser. |
mu94de04-c | Franois Mitterrand quer ser lembrado como o grande construtor da Europa. Alguns erros polticos e revelaes sobre seu passado ameaam abalar essa imagem. Sofrendo de cncer na prstata, Mitterrand vive dias difceis no fim de seu mandato e de sua vida. Sua ligao com a extrema direita na juventude, revelada este ano -em parte, por vontade do prprio presidente, que quer acertar contas com seu passado-, chocou os franceses. Mitterrand definiu suas posies do passado como erros da juventude. O fato que, aps a guerra, aos poucos ele se imps como lder da esquerda e maior adversrio do general Charles de Gaulle. Faanha Em 1965, aos 49 anos, ele alcanou a faanha de levar De Gaulle ao segundo turno da eleio presidencial. Quatro anos depois, os socialistas preferiram escolher Gaston Defferre como candidato e naufragaram, com apenas 5% dos votos. Mitterrand retomou as rdeas do partido em 1971, no congresso de Epinay. No ano seguinte, assinou com o Partido Comunista o programa comum da esquerda. A aliana durou cinco anos e s beneficiou os socialistas, que roubaram boa parte do eleitorado cativo dos comunistas. Foi com a ajuda desses votos que, finalmente, Mitterrand alcanou seu objetivo, derrotando por pouco Valry Giscard d'Estaing na eleio presidencial de 1981. Em 1988, foi reeleito facilmente. Aps dois anos de coabitao com Jacques Chirac, um premi de direita, Mitterrand bateu o prprio Chirac no segundo turno. O balano de seus dois mandatos polmico. Para uns, foi um perodo de paz em que a Frana enriqueceu; para outros, a maioria dos compromissos de campanha foi esquecida. Mesmo esquerda, muitos o vem como um homem obcecado pelo poder e impiedoso. Vacilaes Na poltica estrangeira, algumas vacilaes marcaram os ltimos anos do seu governo. O presidente no percebeu a tempo a queda do comunismo: no previu a queda do Muro de Berlim em 1989, e chegou a flertar com os golpistas de Moscou em 1991. Apesar de criticado por seus adversrios, devido s contradies que marcaram sua carreira, Mitterrand se manteve coerente em pelo menos um ponto: a defesa da Unio Europia. J em 1951, durante um congresso socialista, o futuro presidente dizia que nada possvel, muito menos a paz, se a Frana no for o agente da Europa. Treze anos depois, Mitterrand escreveu: Creio que a Europa corresponde vontade da histria. Em 1973, ameaou renunciar liderana do partido, dividido entre pr e antieuropeus. Em 1992, o presidente reviveu seus grandes momentos de campanhas do passado ao se engajar na luta pela aprovao em plebiscito do tratado de Maastricht, que prev a moeda nica na Europa. Mitterrand aceitou participar de um debate na televiso contra Philippe Sguin, deputado conservador que se opunha ao tratado. Apesar da diferena de idade (75 anos contra 49, poca), Mitterrand se mostrou jovial e foi considerado vencedor. O tratado foi aprovado por pequena margem. Mas h setores que se opem unio sem fronteiras. A Frana foi a principal responsvel pelo adiamento da livre circulao de pessoas no interior da Comunidade, prevista para janeiro de 95. O motivo alegado foram dificuldades para implantar o banco de dados de todas as polcias europias, em Estrasburgo. Os franceses receiam o trfico de drogas e a imigrao clandestina. Por fim, os agricultores so a classe social que mais se ope UE. Eles se queixam do fim de vrios subsdios, extintos por Bruxelas. comum encontrar espantalhos com cartazes de protesto nas estradas do interior francs. | Apesar de ser um produto da direita na juventude, Franois Mitterrand se definiu politicamente na esquerda. Em 1965, levou o cultuado De Gaulle ao segundo turno. Quatro anos depois, foi preterido pelos socialistas, que escolheram Gaston Defferre e perderam. Continuou a militncia e , na eleio presidncia em 1981, venceu Giscard dEstaing , com a ajuda de votos do eleitorado comunista.. Facilmente, ainda foi reeleito em 1988. polmica a avaliao de seus dois mandatos: para uns , foi um perodo de paz e prosperidade; para outros, ele esqueceu a maioria das promessas de campanha. Sua postura poltica em relao ao mundo mostrou alguns equvocos: por exemplo, o de no ter percebido a queda do muro de Berlim e o de ter flertado com os golpistas de Moscou em 1991. No entanto, manteve coerncia na defesa da Unio Europia. Tanto que, em 1992, se engajou na luta pela aprovao do plebiscito do tratado de Maastricht, que aprovaria a moeda nica na Europa. O caminho para a estruturao da unidade europia no foi pacfico: a prpria Frana relutou em aceitar de imediato a livre circulao em todo o territrio europeu. verdade que com um argumento pondervel: no estava ainda implantado o banco de dados das polcias europias, que fiscalizaria o trfico de drogas e a imigrao clandestina. O setor agrcola francs foi o que mais se ops formao da UE, pois receava a extino de vrios subsdios |
td94ja22-01 | Preo de material escolar supera inflao Pesquisa da Sunab mostra que variao em lojas de So Paulo atinge at 1.433%; perspectiva de preos altos MRCIA DE CHIARA Da Reportagem Local Tanto o material escolar como o livro didtico bateram a inflao em 93. A perspectiva de que os preos continuem em alta durante as prximas semanas, quando a procura cresce por causa da volta s aulas. A disparidade de preos grande atinge 1.433% para o papel almao em So Paulo, informa a Sunab. O Procon afirma que o preo mdio de 81 itens da lista de material escolar subiu 2.778,30% nos ltimos doze meses para uma Taxa Referencial (TR) acumulada de 2.594,85%. A Fipe aponta alta de 2.598,68% para o material escolar e de 3.269,90% para o livro didtico. A inflao acumulada foi de 2.490,99% em 93. Na segunda quadrissemana encerrada em 15 de janeiro, por exemplo, o material escolar subiu 41,56% e o livro didtico 55,83%, para uma inflao de 40,35% apurada pela Fipe. Mas os varejistas dizem que o preo real igual ao do ano passado. Antonio Martins Nogueira, 53, presidente do Sindicato do Comrcio Varejista de Materiais de Escritrio e Papelaria de So Paulo, no tem estatsticas. Ele afirma que o preo real do caderno recuou cerca de 10% em relao a 93. Essa queda resultado da entrada de novos fabricantes nacionais e dos importados no mercado. Alm disso, a indstria reduziu a variedade de capas para cortar custos e aumentar a competitividade. Caio Coube, 36, presidente da Tilibra, que produz cadernos e material de papelaria, conta que reduziu de 150 para 102 o nmero de itens fabricados. No queremos reajustes de preos acima da inflao, diz Jos Milton Dallari, assessor especial do Ministrio da Fazenda. Segundo apurou entre os prprios fabricantes do setor, o preo do caderno est dolarizado desde outubro, o que facilita a adoo da URV. O livro didtico subiu 40% acima da inflao entre dezembro e janeiro. Mas um aumento sazonal que no deve se repetir, diz Dallari. Mesmo assim, ele recomenda pesquisar preos, pois a disparidade do mesmo produto entre lojas significativa. O papel almao e o giz de cera lideram o ranking dos itens com maior diferena de preos em duas pesquisas realizadas nesta semana em So Paulo. Levantamento da Sunab constatou variao de 1.433% no preo de 10 folhas de papel almao entre as papelarias Saraiva do shopping Paulista (CR$ 60) e Dux do shopping Morumbi (CR$ 920). Pesquisa do Procon revela diferena de 625% para o mesmo produto. A caixa com 12 unidades de giz de cera foi encontrada com diferena de 580% entre as papelarias EB (CR$ 250) e Universal do shopping Penha (CR$ 1.700), ambas da zona leste, segundo a Sunab. Os nmeros do Procon indicam variao de 476,5%. | Preo de material escolar supera inflao Pesquisa da Sunab mostra que variao em lojas de So Paulo atinge at 1.433%, perspectiva de preos altos MRCIA DE CHIARA Da Reportagem Local Material escolar e livro didtico superaram a inflao em 93. Segundo a Sunab , os preos do papel almao em So Paulo variaram em at 1.433%. O Procon constatou que , nos doze ltimos meses, 81 itens do material escolar subiram 2.778,30% , para uma TR acumulada de 2.594,85%. Os varejistas contestam dizendo que o preo real igual ao do ano passado. Antnio Martins Nogueira, presidente do sindicato do ramo, informa que o preo do caderno recuou aproximadamente 10% em relao a 93resultado da competio de fabricantes nacionais e dos produtos importados. Tambm a indstria diminuiu a variedade de capas . Segundo apurou Jos Mlton Dallari, assessor especial do Ministrio da Fazenda, o aumento de 40% acima da inflao do livro didtico foi sazonal . Mas recomenda pesquisar preos, pois h variaes inexplicveis , como o caso observado do papel almao. |
in96ju10-a | GDANSK, POLNIA - Os estaleiros de Gdansk, no norte da Polnia, de que emergiram ao poder o Sindicato Solidariedade e seu primeiro lder, o ex-eletricista e ex-presidente Lech Walesa, no resistiram mar capitalista. No sbado passado, a junta geral de acionistas decidiu pela liquidao da Stocznia Gdanska SA, bero histrico da luta contra o regime comunista polons a partir dos anos 80. A companhia vai falncia afogada em dvidas que podem chegar a US$ 110 milhes. Em seu lugar, o governo, que detm 60% das aes, pretende criar uma empresa que funcione por 12 meses, apenas para terminar cinco navios em construo. Para Walesa, que voltou simbolicamente a ocupar o cargo de eletricista aps perder, para os ex-comunistas, as eleies presidenciais de novembro de 1995, tudo no passa de uma manobra poltica. Finalmente, os ex-comunistas sentem a satisfao de liquidar os estaleiros de Gdansk, disse, ontem, Walesa, que liderou, em 1980, a criao, dentro as instalaes da companhia, do primeiro sindicato livre do Leste Europeu. Naquele ano, o Sindicato Solidariedade seria reconhecido por fora de uma greve geral que abalou o governo comunista. No ano seguinte, com a decretao de lei marcial, o movimento foi reprimido, e Walesa, preso. Protestos - Ainda assim o Solidariedade seria o motor das reformas democrticas na Polnia e, de algum modo, inspirao para a queda do socialismo em todo a Europa socialista no final da dcada. Em 1989, o movimento voltou legalidade e ganhou fora de partido. Walesa, que encabeou o Solidariedade por 10 anos, chegou presidncia da Repblica em 1990. O ex-presidente prometeu apoiar as manifestaes contra a falncia dos estaleiros, que os operrios - detentores de 40% das aes da empresa - prometem levar s ruas. Mas Walesa, que atualmente se ocupa de proferir palestras mundo afora, recusou-se a lideras protestes. Diriam que revanche. Mas, no lugar dos operrios, lutaria pelos estaleiros. Naturalmente, com mtodos pacficos, disse Walesa, que acusou o governo de nada ter feito pela empresa. O chefe do sindicato dos operrios de Gdansk, Jersy Borowczak, disse que os trabalhadores promovero passeatas e bloquero estradas. H meses, os operrios vm recebendo salrios com atraso e em parcelas. Amanh, devero receber 65% do salrio de maio. Somente a bancos e companhias locais, os estaleiros devem US$ 56 bilhes. Ao decidir pela falncia - com que condordaram 79% dos acionistas -, a junta alegou falta de dinheiro para cobrir as perdas da companhia no ltimo ano, estimadas em US$ 31,7 milhes. Os estaleiros tinham 18 navios encomendados por um total de US$ 580 milhes. Cinco estavam em construo, e o governo polons no descarta pretende criar uma empresa sobre as runas econmicas do velho complexo. O novo estaleiro deve herdar apenas 3 mil dos 7.300 operrios da antiga companhia. A previso de que funcione apenas por um ano, proibido de aceitar novos contratos. Ainda assim, nasce com os mesmos problemas da empresa que faliu: depende de que bancos financiem a construo dos navios e cubram as eventuais perdas. | Os estaleiros de Gdansk , que ascenderam ao poder o Sindicato Solidariedade e Lech Walesa , est em vias de liquidao , por questes econmicas. Dali surgiu a luta histrica contra o regime comunista polons e um lder operrio, que comandou o sindicato por dez anos, e que chegou presidncia do pas. O ex-presidente prometeu apoiar as manifestaes contra a falncia do Solidariedade , mas , agora empenhado em fazer palestras pelo mundo afora, diz que no vai liderar os protestos , at porque isso soaria como revanche. Mas , no lugar dos operrios, lutaria pelos estaleiros; naturalmente, com mtodos pacficos. O chefe do sindicato dos operrios, Jersy Borowczak, disse que os operrios, sem receber h meses, promovero passeatas. Diante dessa tendncia falimentar dos estaleiros, o governo v como sada a criao de uma nova empresa que cumpra a produo de 18 navios encomendados , mas que no aceite novos contratos e que , portanto , no sobreviva a um ano. |
di94ju29-24 | A ncora monetria do real MRCIO G.P. GARCIA A partir da reforma monetria de 1 de julho a inflao certamente cair abruptamente. Para mant-la em nveis reduzidos, o governo recorrer a uma ncora monetria. A ncora monetria consistir em um conjunto de regras que limitar a emisso monetria pelo Banco Central (BC). Sobre a efetividade dessa ncora em manter baixa a inflao pairam algumas ameaas. A mais notria delas so as presses por maiores gastos pblicos. H, contudo, uma outra ameaa que advm do mecanismo operacional adotado pelo BC nas ltimas duas dcadas para conviver com a inflao. O regime de poltica monetria atualmente em vigor caracterizado pelo BC ter como principal objetivo de poltica monetria manter o juro real do mercado de reservas bancrias (open market) em um nvel que o BC considera adequado. Este nvel adequado no deve ser to alto de forma a impingir um custo muito elevado ao Tesouro, nem deve ser to baixo de forma a provocar fuga da moeda nacional. Tal objetivo atingido atravs das operaes dirias de compra e venda de ttulos que o BC realiza no open market, inclusive a famosa zeragem automtica. Uma das funes que a zeragem automtica realiza a de prover liquidez a baixo custo a bancos que necessitem de reservas ao final do dia. O objetivo de fazer uma dada taxa real de juros torna a oferta de moeda completamente endgena e passiva, o que uma condio sine qua non para a exploso inflacionria que observamos no Brasil. Note-se que no a fixao da taxa real de juros em geral que torna passiva a oferta monetria. Uma regra de fixao da taxa real de juros que elevasse suficientemente a taxa real sempre que a expectativa inflacionria subisse seria compatvel com um controle da oferta de moeda. Por exemplo, a poltica monetria do banco central dos EUA equivale a uma regra de fixao de taxas de juros real. Toda vez que a expectativa inflacionria se eleva em 0,5%, o banco central norte-americano eleva a taxa de juros real tambm em 0,5%, subindo a taxa de juros nominal em 1%. O que torna a oferta monetria passiva no Brasil a forma especfica de fixao da taxa real de juros que o BC segue, no elevando, ou elevando insuficientemente, os juros reais quando se eleva a expectativa inflacionria. Quando a inflao atinge os nveis elevadssimos atuais, o controle desta via elevao de juros reais torna-se invivel. Mas, para que a inflao permanea baixa aps o impacto inicial da reforma monetria, imprescindvel que a passividade da oferta monetria seja rompida. Esta deve ser uma das funes da ncora monetria. Quando a inflao cair aps 1 de julho, a demanda por M1 (a soma de depsitos em conta corrente com o papel moeda) certamente crescer. Esse aumento da demanda por moeda exige um aumento correspondente da oferta de moeda. Tal aumento da oferta de moeda no inflacionrio, pois apenas atende ao aumento da demanda. O problema que ningum sabe a quanto subir a demanda de moeda. Assim, fica difcil dizer a priori quando dever ocorrer de expanso da oferta monetria. Se expandir pouco, os juros ficaro desnecessariamente altos, diminuindo o nvel de atividade. Se expandir demais, os juros caem e a inflao recrudesce (o caso do Plano Cruzado). A ameaa que reside na implementao da meta monetria trimestral deriva do carter de quase-moeda que tm atualmente os FAFs e demais fundos. A poltica do BC acima descrita de fixar a taxa real de juros a responsvel pela proviso de liquidez a tais fundos. E precisamente a proviso de liquidez s cotas de tais fundos que permite economia brasileira funcionar com um grau de monetizao (M1/PIB) mais de dez vezes inferior ao registrado nos EUA. A queda da inflao que ocorrer com a reforma monetria aumentar a demanda por M1. De quanto ser tal aumento depender em grande medida da poltica monetria do BC. Explico atravs de meu prprio exemplo. Atualmente, mantenho meu salrio num fundo do banco mais prximo da PUC-Rio. medida que emito cheques, o banco retira os recursos necessrios do fundo, transferindo-os para minha conta corrente. Isso s possvel porque o banco sabe que pode obter liquidez barata do BC, vendendo os ttulos pblicos quando precisar de reservas bancrias sem grande perda de capital. Se tal procedimento de prover liquidez barata aos bancos no for alterado pelo BC, o banco no precisar me impor nenhuma restrio adicional, nem eu precisarei mudar meu cmodo comportamento atual. Assim, aps a queda da inflao com a reforma monetria, eu apenas andarei com um pouco mais de dinheiro na carteira (nem tanto, pois moro no Rio de Janeiro!). Se as demais pessoas e as firmas tampouco alterarem seus comportamentos atuais, no haver um grande aumento na demanda por M1. Isto pode parecer bom, pois manteria a oferta de moeda abaixo da meta estipulada. Na realidade, se a poltica monetria do BC no se alterar, isso representar a volta lquida e certa da inflao. Vejamos por qu. A forma atual do BC prover liquidez a ativos que rendem juros conduz inapelavelmente ao rompimento de qualquer meta nominal que se imponha a qualquer agregado monetrio no longo prazo. Na medida em que as taxas de juros de tais ativos contenham a expectativa de inflao (mais o juro real), aumentos na expectativa da inflao sero repassados aos juros pagos pelos ttulos. Os juros mais altos, devido poltica do BC de conferir liquidez aos ttulos, acabaro aumentando a base monetria. Ou seja, a manuteno do mecanismo operacional atual de poltica monetria do BC, o qual inclui a zeragem automtica, pode ser responsvel num primeiro momento (alguns meses) pela observncia da meta monetria, mas, no longo prazo, trar inevitavelmente de volta a inflao. Uma outra forma de entender este fenmeno se pensar no financiamento do dficit pblico. Presume-se que a meta monetria vai impedir o BC de financiar o dficit pblico. Entretanto, ao manter o mecanismo atual de poltica monetria, o BC mantm um mercado privado adicional para a dvida pblica, posto que esta pode ser usada como quase-moeda. Assim, o Tesouro, bem como os Estados e municpios que emitem dvida mobiliria, ganham um flego adicional para financiarem seus dficits via colocao de dvida mobiliria. Ou seja, sem a mudana da regra operacional do BC, a meta monetria tampouco impe limites ao financiamento do dficit pblico, que pode se dar via dvida ao invs de via expanso monetria (senhoriagem). Em suma, o que se quer aqui chamar a ateno para a necessidade que a regra monetria que venha a ser adotada imponha desde logo custos significativos de iliquidez aos bancos. Ou seja, o que se quer a eliminao da moeda indexada, da ciranda financeira, ou do substituto domstico de moeda. O crescimento da demanda por moeda depender do que os bancos acreditaro que o BC far. Se o meu banco na PUC-Rio achar que no poder mais ter liquidez barata no BC, ele no poder mais me dar a combinao de liquidez diria e proteo inflacionria no FAF e nos demais fundos. Assim, terei que deixar mais dinheiro na conta corrente para no passar cheques sem fundos. A demanda por M1 crescer mais no incio do plano, exigindo uma maior expanso da oferta de reservas bancrias, mas poder no apresentar o movimento de contnuo crescimento que certamente se registraria se mantida o atual procedimento operacional do BC. Portanto, acredito que uma meta monetria definida a priori, para ser inscrita em lei com o fim de conferir confiana plano, no necessariamente garanta os resultados pretendidos. As metas devero ser definidas adaptivamente medida que a implantao do real progredir e se souber melhor qual a demanda por moeda. Para evitar excessos nessa fase inicial, uma proposta interessante a do professor Mrio Simonsen, de congelar temporariamente o M4, atravs da imposio de um depsito compulsrio de 100% na margem. A confiana no plano ser reflexo das aes do BC. Por exemplo, o plano ganhar certamente a confiana do mercado se o BC mostrar que de fato exerce sua funo de regulador da atividade bancria, livre de ingerncias polticas, certamente muito fortes neste perodo eleitoral, agindo com rigor com qualquer banco que no cumprir as normas do BC, como o caso de algumas instituies estaduais e oficiais. MRCIO G.P. GARCIA, 34, doutor em Economia pela Universidade de Stanford (EUA), professor do Departamento de Economia da PUC-RJ (Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro) e editor da Revista de Econometria. | A ncora monetria do real MRCIO G.P. GARCIA A partir da reforma monetria de 1 de julho, a inflao certamente cair repentinamente. Para mant-la em nveis baixos, o governo se valer de uma ncora monetria, conjunto de medidas que limitar a emisso monetria . A eficcia dessa ncora sofrer algumas ameaas, a mais forte so as presses por mais gastos pblicos. A outra causada pelo fato de o Banco Central ter como principal objetivo de poltica monetria manter o juro real do mercado de reservas bancrias em nveis , segundo ele, adequados. Esse nvel no deve ser to alto a ponto de sobrecarregar o Tesouro, nem to baixo que provoque fuga da moeda nacional. Estabelecer uma taxa real de juros torna a oferta de moeda endgena e passiva, condio pressionadora da inflao. Esta a poltica seguida pelo Banco Central, que no eleva ou eleva insuficientemente os juros reais no caso de expectativa inflacionria . Quando os nveis de inflao so muito altos, o controle por meio da elevao de juros torna-se invivel. Ao cair a inflao aps 1 de julho, a demanda por M1 ( soma de depsitos em conta corrente com o papel moeda) certamente crescer. . Tal aumento no inflacionrio , pois simplesmente atende demanda. O que difcil antecipar quanto de expanso vai ocorrer. Se pequena, os juros aumentaro muito, diminuindo a aplicao produtiva; se grande, os juros caem e a inflao reacende. O que se quer aqui chamar a ateno para a necessidade de a regra monetria a ser adotada impor altos custos de iliquidez aos bancos. O que significa a eliminao da moeda indexada, da ciranda financeira, ou do substituto domstico da moeda. O crescimento da demanda por moeda depender da crena dos bancos nas medidas futuras do BC. Se determinado banco sentir que no obter mais liquidez barata no BC, no poder oferecer mais ao cliente a combinao de liquidez diria e proteo inflacionria no FAF e nos demais fundos. Assim , o cliente ter que deixar mais dinheiro na conta corrente . A demanda por moeda (M1) se elevar mais no incio do plano, exigindo maior oferta de reservas. Minha opinio que uma meta monetria pr-definida , a fim de ter configurao legal para dar confiana ao plano, no garante obrigatoriamente os resultados pretendidos. As metas devero ser definidas conforme progredir a implantao do real e se souber qual a demanda. |
ce94se21-72 | Um esporte em que a terra o fim 'Trata-se de um jogo geomtrico, uma luta pelo equilibrar-se na maior inveno do homem: o retngulo' ' o nico esporte de que me lembro onde a bola um corpo celeste, mensageiro a ser acariciado' LUIZ PAULO BARAVELLI Especial para a Folha Os americanos, com sua mania de compartimentar em caixas os fenmenos da cultura, inventaram o termo spectator sports, esportes para serem observados. H esportes autocentrados (regatas, alpinismo, ralis), que so s para serem exercidos e que, embora no repudiem o espectador, no so feitos especialmente para ele. Todo esporte uma forma de simbolizar (para tentar entend-las) as foras em ao no mundo e na sociedade. Estes esportes non-spectator, se exercidos sem hipocrisia, so uma forma quase religiosa de procura, anloga aos 40 dias e 40 noites passados em meditao solitria no deserto indivduos com o melhor de sua constituio e engenho em confronto simblico com os limites maiores da natureza. So viagens particulares, inescrutveis. Em que pensa o alpinista solitrio assunto seu e no necessariamente visvel externamente. Suspenso por uma corda a 300 metros de altura, pode refletir gravemente sobre a vida e a morte, mas pode tambm estar pensando no mau negcio que fez quando trocou os amortecedores do carro. Nunca saberemos: ele no nos dir e, principalmente, no estaremos l para ver. Por outro lado, os esportes para espectadores so uma forma de arte. So encenaes, espetculos calculados para serem vistos e lidos. No so exatamente teatro porque o desfecho imprevisvel. O teatro uma caixinha de no-surpresas, mas um jogo junta os participantes, impe as regras e deixa o roteiro/enredo ser escrito ao vivo. Um jogo de futebol algo de verdade, talvez uma das nicas coisas de verdade dentre as que so feitas para serem assistidas. Se vemos na TV que a bola entrou, este um instante absoluto no foi ensaiado, no h verses pessoais, no pode ser editado, desmentido, colorizado ou receber efeitos especiais. Em um mundo onde tudo, dos ndices de inflao a quem ganhou uma guerra, depende de interpretao, uma bola na rede a epifania possvel da verdade (o quanto a presena cultural cada vez maior dos esportes influencia as artes assunto para outro artigo o que foi o modernismo seno a introduo dessa verdade futebolstica no reino anterior do artifcio e da fabricao?). Se todos os esportes simbolizam e teatralizam as relaes sociais e pessoais, cada um escolhe enfatizar uma parte delas. Imagino que o futebol seja o mais abrangente por sua complexidade, e no de surpreender sua preferncia mundial. Gosto muito, como todo mundo, mas tenho (e quero tentar entender aqui) uma atrao misteriosa pelo vlei. Pelos padres do futebol montono, imvel, repetitivo, limitado. O que h nele para ver? Ou, de outro modo, o que est sendo dramatizado ali? De todos os jogos fsicos este um dos mais geomtricos. Estamos sempre conscientes dos alinhamentos, espaamentos, paralelas e diagonais. jogado em um campo retangular, duro, liso e pequeno o suficiente para ser visto de um golpe s. um jogo que, em princpio, ocupa o campo todo o tempo todo. Ligado a isto h um longo e fascinante assunto que tento resumir em poucas palavras: talvez a grande inveno da humanidade no tenha sido nem o fogo nem a roda; os dois existiram desde sempre na natureza, nosso mrito foi observ-los e aprender como fabric-los e utiliz-los. Por outro lado (e isso deve ter interesse maior para os esportistas), ns, devido nossa antecedncia, hum... simiesca, tivemos que inventar um jeito de ficar de p. Nenhum bicho sem asas tem uma base to pequena em relao altura como os ps de uma pessoa. Isto implica em um contnuo equilibrar-se, procurando no cair, jogando o peso do corpo em torno de um eixo vertical. Por isso, tambm s estamos confortveis em uma superfcie dura, plana e horizontal. Quando deixamos de ser quadrpedes, passamos a ser um desejo ambulante pelo ngulo reto. Isso fez com que inventssemos algo que no existe na natureza, para nos simbolizar: o retngulo. Talvez essa tenha sido a inveno decisiva, porque da para a frente toda nossa civilizao foi uma ao dentro de um retngulo. nosso repdio ao mundo animal, a afirmao de nossa artificialidade. Em outras palavras, quanto mais retangular e urbano, mais civilizado. A geometria do vlei o torna um dilogo entre dois retngulos, duas salas cheias de gente autoconsciente. A entra um segundo aspecto no menos importante. Estas salas so povoadas no de gente, mas de mulheres. O vlei um jogo essencialmente feminino. claro que homens podem jogar, mas so homens jogando um jogo de mulheres fica errado, muito rpido e forte, to errado quanto mulheres jogando basquete, um jogo para rapazes, que se esbarram tentando alcanar um aro quase inatingvel, duro, mas com um interior macio, e enterrar; um sexo mecnico, repetitivo, suarento, juvenil. Os jogos sem retngulo so essencialmente aventuras masculinas e, portanto, infantis, cegas, desordenadas ( fascinante pensar que na antiguidade, enquanto homens/crianas estavam ocupados em suas guerras, viagens e caadas caticas, as mulheres estavam pacientemente inventando o quadriculado da computao em seus teares e bordados. Hoje somos todos mulheres, mas isso tambm outra histria). O jogo das mulheres pode ser furioso e concentrado, mas nunca violento; elas nunca matam, como os homens fazem. Matar no feminino. Para mim, feminino e metafsico tm mais ou menos o mesmo sentido. O vlei um jogo do ar. impossvel para seres humanos existirem no nada, mas esse jogo se passa no meio fsico menos fsico e denso que podemos habitar. O futebol essencialmente um jogo da terra, mas a terra no vlei o fim, a derrota; perde-se quando no se consegue evitar o curto-circuito da bola com a terra. Um jogador de futebol parece ter seu centro de gravidade l em baixo, no eixo dos quadris, imagino, mas uma jogadora de vlei gira em torno de um ponto entre o plexo solar e a cabea (no sei se isto mesmo assim; estou pensando no em ortopedia mas na imagem, e imagem a raiz da palavra imaginao). Falei antes na sala. Esse jogo tambm feminino, no sentido da casa. Acho que um jogo de defender sua casa e, de dentro dela, atacar a casa das rivais. A mitologia est repleta de Danaides, Musas, Amazonas, Pliades, grupos de mulheres que lutam juntas e compartilham um destino comum. Essas casas se observam atravs de uma janela, uma trama retangular (de novo a computao), e que, como na histria da inveno do retngulo ou do quadro de pintura, o reconhecimento dos limites do universo conhecido e em que, em ambos os casos, no se pode tocar. A bola passar por cima o exerccio desta metafsica a que me referi. Um saque queimar a rede uma boa metfora do que acontece quando o fsico e o metafsico se tocam. No importa qual veio antes, mas o tnis conceitualmente um primo pobre do vlei, um jogo solitrio, rasteiro, histrico (sem falar em coisas piores como pingue-pongue e badminton). No tnis, a bola um ponto, uma mosquinha amarela a ser raquetada rapidamente; no vlei uma esfera branca a ser tocada com a ponta dos dedos. O vlei o nico esporte de que me lembro em que a bola uma esfera, corpo celeste, um mensageiro a ser acariciado. E a mensagem sempre : ns conseguimos existir s no ar, mas faremos vocs terem conscincia do fim, da terra. Essa geometria simblica pode ser entendida melhor no diagrama de uma jogada tpica: saque, devoluo, largadinha. Essas trajetrias so parbolas. Os ps existem no retngulo duro; as mos, o mais alto que podem, enviam a bola mensageira em curvas elegantes, mas mortais. Uma cortada um raio (uma reta) dirigido ao reino dos ps como a nos lembrar que a derrota ser devolvido geometria bsica de tentar ficar em p. O feminino no vlei particularmente ertico porque se trata de mulheres concentradas, em luta entre si, e que no esto pensando nisso, nem olhando para ns. No h nada menos ertico do que fotos erticas nas revistas para homens. Elas sabem que esto sendo fotografadas e fazem suas caras e bocas calculadamente para ns (para brochar de vez faa uma experincia de tapar o resto e deixar apenas os olhos delas nessas fotos). O realmente ertico do vlei que ele no feito para isso. S um marido muito ingnuo acha mais excitante quando sua mulher usa lingerie preta e segura uma rosa nos dentes do que quando est pensando em outra coisa, de luvas e macaco, cuidando do jardim, suada e com o cabelo caindo na testa. Isso est subjacente na prpria organizao da quadra; o vlei um dos jogos onde se pode estar mais perto da quadra, mais perto das jogadoras. feito para se olhar de perto (sim, apesar de as regras serem feitas pelos burocratas esportivos, elas tambm embutem uma psiqu). Mulheres nunca brincam, muito menos em pblico, e sua concentrao o realmente atraente. A essncia do erotismo a mulher querer e estamos aqui para ver isso (e, por falar nisso, a essncia da pornografia a mulher no querer). essa mgica do querer que transforma um bando de varapaus mal acabadas em deusas voadoras. Na verdade, como jogo feminino, no se joga para ganhar. Creio mesmo que o jogo todo existe s para que se possa ter um eplogo, que acho encantatrio. A rede, que durante o jogo todo no pode ser tocada nem atravessada, serve, no fim, para uma cerimnia: as jogadoras dos dois times se tocam delicadamente sob o retngulo, como que reafirmando uma solidariedade e uma identificao abaixo do limite da civilizao. Tudo termina em restaurao nesse escuro simblico e vamos todos para casa pensar na vida. Luiz Paulo Baravelli, 51, artista plstico | Um esporte em que a terra o fim Trata-se de um jogo geomtrico, uma luta pelo equilibrar-se na maior inveno do homem: o retngulo o nico esporte de que me lembro onde a bola um corpo celeste, mensageiro a ser acariciado LUIZ PAULO BARAVELLI Especial para a Folha Em sua mania de compartimentar a cultura, os americanos criaram o termo spectator sports, cujo significado esportes para serem observados. H esportes autoconcentrados ( regatas, alpinismo, ralis), s para serem exercidos , embora no excluam o espectador. Todo esporte uma forma de simbolizar as foras em ao na sociedade. Os esportes non-spectator, se praticados sem hipocrisia, constituem um modo de procura , como os jejuns prolongados dos anacoretas. So viagens inescrutveis, como a do alpinista solitrio , cujo pensamento indevassvel. J os esportes para espectadores so uma forma de arte, espetculo calculado para ser visto . O futebol pertence a essa categoria. Uma bola dentro da rede uma constatao que no depende de verses pessoais; a verdade absoluta. Se todos os esportes simbolizam e teatralizam as relaes sociais e pessoais , cada um enfatiza uma parte delas. Embora eu conceba o futebol como o mais abrangente da sua preferncia mundial-- , sinto uma atrao misteriosa pelo vlei. De todos os jogos fsicos o mais geomtrico. praticado num campo retangular, duro, liso e pequeno o bastante para ser visto de uma vez. Devido nossa origem simiesca , tivemos que aprender a ficar de p. Nossa base a menor entre os animais, o que explica a necessidade de equilibrar-se constantemente. S estamos confortveis em uma superfcie dura, plana e horizontal. A nossa civilizao , desde ento, uma ao dentro de um retngulo. O afastamento do mundo animal se concretiza na busca do retngulo. E no vlei ela se realiza. E de maneira mais interessante: o dilogo entre mulheres. Embora possa ser exercido por homens, um esporte essencialmente feminino. Os jogos sem retngulo so masculinos e , portanto, infantis, desordenados. J na Antigidade, enquanto os homens caavam e guerreavam, as mulheres inventavam o quadriculado nos seus teares. Diferentemente dos jogos masculinos, os praticados pelas mulheres, mesmo quando impetuosos , no so violentos. Enquanto o futebol um jogo da terra, o vlei um jogo do ar, em que a terra representa derrota. Tambm o vlei um jogo feminino por sua relao com casa: da sua casa as contendoras a defendem atacando o inimigo. Outra simbologia importante do vlei consiste na passagem da bola por cima da rede, sem toc-la .Queimar a rede representaria o contato do fsico e do metafsico, portanto o desastre. O vlei deve ser o nico jogo em que bola , uma esfera, lembra um corpo celeste , um mensageiro a ser acariciado. J a cortada como o raio dirigido aos ps, representando a volta condio de quadrpede. A concentrao das mulheres no vlei , indiferentes a quem as rodeia, particularmente ertico. A intencionalidade das modelos quando fotografadas, a conscincia de que esto ou vo ser observadas eliminam o erotismo. No vlei, essa mgica que transforma um bando de varapaus em deusas voadoras. |
ce94jl11-b | At o fim do sculo o mundo vai assistir ao fenmeno da desmetropolizao, ou seja, a tendncia desta dcada ser a desconcentrao populacional das metrpoles. Em alguns casos, espera-se crescimento negativo nas grandes cidades. Uma das razes para a guinada na expectativa de crescimento, na opinio de Elza Berqu, diretora do Nepo (Ncleo de Estudos de Populao da Unicamp), a busca macia, por parte dos habitantes dos grandes centros urbanos, de uma qualidade de vida melhor da que oferecem as metrpoles. Segundo Berqu, haver a fixao das pessoas em cidades medianas que se transformaro em plos de referncia, menores e com menos problemas que as megacidades. Algo parecido com o que est acontecendo em Campinas e Ribeiro Preto, no interior de So Paulo, que oferecem vida cultural e infra-estrutura de servios parecida com a das grandes cidades, sem, no entanto, estarem saturadas. Essa mudana na concentrao populacional estar ocorrendo ao mesmo tempo em que outra tendncia for se cristalizando: uma distribuio de renda mais harmnica e mais equitativa. O sonho de que as solues para todos os problemas esto nos grandes centros est no fim. E isso uma boa notcia. Deve-se comemorar, diz Berqu. Nmeros do Seade (Sistema Estadual de Anlises de Dados) mostram que a cidade de So Paulo, por exemplo, cresce menos a cada dcada. Nos anos 60/70, tinha sua populao aumentada anualmente na razo de 4,92%. Nos anos 70/80, o crescimento diminuiu e foi para 3,67%. De 1980 a 1991, o crescimento anual chegou a 1,15%. At o ano 2000 no deve sair desse patamar percentual. De acordo com dados do Nepo, a taxa atual de fecundidade no Brasil de 2,5 filhos por mulher. Em 1980, era de 4,5 filhos por mulher. At na regio Nordeste, onde essa taxa chegou, em 1980, a seis filhos por mulher, atualmente j baixou para 3,7. Hoje vivem no Brasil 152 milhes de pessoas. Em 2000, sero 179 milhes de brasileiros. Com exceo dos pases africanos, a taxa de fecundidade no mundo est diminuindo, com forte tendncia de estabilizao ou crescimento populacional negativo. Na frica, a mdia de fecundidade ainda de seis filhos por mulher. No caso especfico do Brasil, a expectativa dos cientistas que a partir de 2020 o pas v ter seu crescimento populacional estabilizado e, por volta de 2050, essa taxa chegar a zero. Isso significa que o nmero de mortes vai se igualar ao de nascimentos. A desacelerao populacional no Brasil poderia at ser mais rpida, no fosse o alto contingente de mulheres que ainda est se reproduzindo, segundo Elza Berqu. Se o excesso de populao um problema, a imploso demogrfica tambm. Hungria, Alemanha e Itlia, entre outros pases, enfrentam crescimento populacional negativo e envelhecimento de suas populaes. Ou seja, em breve tero que importar gente para suprir as atividades mais corriqueiras. Na Itlia, por exemplo, o nmero de bitos maior que o de nascimentos. Na Frana, a mdia de fecundidade de 1,3 filho por mulher. Para efeito de comparao, em So Paulo, segundo a demgrafa Bernadete Waldvogel, do Seade, a mdia de 2,2 filhos por mulher. Na dcada de 80, cada brasileira tinha 3,4 filhos. Na de 70, 4,2. Em cada dcada est diminuindo um filho, resume Waldvogel. Sem levar em conta essa tendncia de queda apontada pelo Seade e Nepo, um relatrio produzido pela ONU (Organizao das Naes Unidas) projeta que em 2010 a cidade de So Paulo ser a segunda maior do mundo, perdendo apenas para Tquio e na frente de Bombaim, Xangai, Lagos, Cidade do Mxico, Beijing, Dacar, Nova York e Jacarta, nessa ordem. O relatrio da ONU mostra uma So Paulo catica no ano 2000, com 25 milhes de habitantes. Estudos do Seade projetam uma cidade parecida com o que hoje, com 10,7 milhes de habitantes. No segundo semestre deste ano, no Cairo (no Egito), acontece uma conferncia internacional sobre crescimento populacional. | At o fim o ano 2000, haver uma desconcentrao populacional nas metrpoles do mundo--- em algumas , o crescimento ser negativo. Cada vez mais , as pessoas procuram cidades de porte mdio, com menos problemas que as metrpoles, sem perder na oferta de vida cultural e infra-estrutura de bens de servios. Segundo Berqu, diretora da Nepo ( Ncleo de Estudos de Populao da Unicamp) , uma das razes a busca de qualidade de vida. Paralelamente a essa desconcentrao , ocorre uma melhor distribuio de renda. Ir para a capital , a fim de fazer a vida, j no o grande sonho. Clculos do Seade indicam que as dcadas de 60 , 70, 80 apresentam , respectivamente, ndices de 4,92% , 3,67% , 1,15% , para a cidade de S.Paulo A relao mulher/filho tem diminudo, inclusive no Nordeste , onde de 6 filhos por mulher em 1980 , caiu para 3,7. Com exceo dos pases africanos, a taxa de fecundidade vem diminuindo no mundo inteiro. No Brasil, segundo cientistas, at o ano 2020 , o crescimento estar estabilizado , e aproximadamente at 2050, ser zero. Desprezando os clculos da Nepo e do Seade, a ONU apresentou um relatrio falando da exploso populacional de So Paulo, que ser a segunda maior cidade do mundo at o ano 2010. Se pavorosa essa anteviso , tambm o a imploso demogrfica, que j ocorre na Hungria, Alemanha e Itlia, que precisaro importar gente para determinados servios. |
ce94jl31-c | A taxa oficial de analfabetismo no Brasil de 18%. Isto quer dizer que, para as estatsticas, cerca de 28 milhes de brasileiros no sabem nem ao menos identificar letras. Educadores concordam que no h como comear a reverter esse quadro sem tornar novamente interessante a carreira do magistrio. Isto , pagar melhores salrios, treinar e exigir mais dos docentes. Aumentar simplesmente o nmero de escolas e vagas no prioridade. Mesmo em estados onde a cobertura escolar vagas disponveis- aceitvel, o desempenho escolar sofrvel. A situao de boa parte dos 82% 'no analfabetos' no muito melhor que a dos que nunca foram escola. O critrio oficial identifica alfabetizados pela capacidade de saber escrever um bilhete simples. Conceitos mais exigentes, no entanto, abarcariam quase 60 milhes de brasileiros na categoria de analfabetos. Para os critrios mais refinados, defendidos por pesquisadores de servios de estatsticas educacionais e educadores, a exigncia de quatro anos de escolaridade o requisito mnimo para que algum no seja considerado um analfabeto funcional. Isto , aquele capaz de aproveitar de alguma forma produtiva a instruo que recebeu e no regredir. No Brasil, quase metade da populao de mais de 10 anos de idade no completou esse ciclo. O critrio que qualifica algum que saiba rabiscar um bilhete como alfabetizado foi estabelecido pela Unesco em 1958. A revoluo tecnolgica nos sistemas produtivos jogou esse padro no lixo. Mudou o paradigma da educao. As prprias empresas chegaram concluso de que se a mo-de-obra no for melhor preparada, o pas no ter condies de competir internacionalmente, diz Clio Cunha, chefe do departamento de Projetos Educacionais do ministrio da Educao. justamente nessa rea que o governo federal investe menos. atribuio dos governos municipais e estaduais a educao bsica, mas a maioria deles no tem recursos para construir escolas que no sejam taperas, quanto mais para bancar um ensino de qualidade. Nos municpios menores, a situao da educao bsica muito ruim, tanto em termos de evaso e repetncia como em termos de nvel de conhecimentos dos alunos aprovados, diz Azuete Fogaa, professora da Universidade Federal de Viosa. Pelo menos nos ltimos cinco anos, o governo federal vem investindo cerca de 50% a 60% de seus recursos em educao no ensino superior nas instituies federais de ensino. Recursos federais quase no vo para a educao primria. O resultado que a Constituio no cumprida, diz Cunha. A Unio obrigada a investir 18% de seus recursos em educao. Boa parte desse dinheiro, cerca de 75%, gasta com a rede federal, ou seja ensino superior e escolas tcnicas. Desse dinheiro, 25% gasto com aposentadorias das universidades, afirma Cunha. Professores A Coria, em meados dos anos 60, tinha um quadro educacional to ruim ou pior do que o brasileiro. Em duas dcadas e meia conseguiu que 95% dos jovens completassem o 2 grau, diz a professora Azuete. Como a Coria fez isso? Investiu na formao e na carreira do professor. Hoje, no Brasil, o magistrio primrio a carreira de quem no tem horizontes, diz Azuete. Tanto Azuete como Clio Cunha concordam que a extenso da rede escolar brasileira tem falhas, mas satisfatria. O Brasil j conseguiu colocar cerca de 90% das crianas nas salas de aula, mas s poucas se formam e estas so despreparadas, diz Cunha. A rede atende muita gente, mas atende muito mal. S 20% dos que entram chegam s ltimas sries do 1 grau. muito dinheiro desperdiado pelo Estado e pelas pessoas, afirma Azuete. Segundo ela, um exemplo de reforma o Japo do ps-guerra. na reconstruo, o governo selecionou os melhores alunos das universidades vocacionados para o magistrio. Alguns deles viviam em internatos, para se dedicarem mais intesnsamente aos estudos, conta. A qualificao do corpo docente depende tambm de uma reforma na poltica de carreira e de salrios dos professores, segundo Azuete. No Japo, um professor ganha mais do que os tcnicos de nvel mdio. Em geral, duas vezes e meia mais. Com isso, h procura suficiente para escolher os melhores, afirma a professora. | A taxa oficial de analfabetismo no Brasil de 18% , ou seja, de 28 milhes de brasileiros que sabem escrever um bilhete simples, conforme o critrio estabelecido pela Unesco em 1958. A situao dos 82% dos alfabetizados no muito melhor. Como a proposta de critrio para se considerar algum alfabetizado , hoje, que se tenha quatro anos de escolaridade , a situao nossa mais sria. As prprias empresas no vem possibilidade de competio com o mundo globalizado , se o pas no melhorar o preparo escolar de seus trabalhadores. A falha brasileira no tanto de quantidade quanto de qualidade. Para tanto, necessrio investir na qualificao do professor e na melhoria salarial. Se se examinar a forma como o governo federal cumpre a obrigatoriedade constitucional de investir na educao , percebe-se uma distoro muito grande : 75% dos 18% reservados para a educao so aplicados no ensino superior ; e 25% desse montante destinado a pagamento de aposentadorias nas universidades. O ensino fundamental e mdio incumbncia dos Estados e Municpios. No o que aconteceu com dois pases , que servem de lio ao Brasil nesse campo: Coria e Japo. O primeiro , comeando nos meados de 60, conseguiu , em duas dcadas, que 95% dos jovens terminassem o segundo grau. O segundo , no ps-guerra, qualificou o seu corpo docente e o remunerou significativamente. O resultado foi o boom de desenvolvimento que conhecemos. O desafio continua para ns, apesar do esforo de ampliao quantitativa do ensino fundamental. |
di94ag09-08 | A questo dos encargos trabalhistas RUBEN D. ALMONACID, MRCIO I. NAKANE ; SAMUEL A. PESSA Um importante debate tem acontecido neste espao e que diz respeito importncia (ou no) dos encargos trabalhistas na composio dos custos das empresas e, portanto, seu impacto sobre a gerao de empregos e competitividade das empresas brasileiras. O professor Jos Pastore, em entrevista na Folha de 23/04/94, comentando os resultados de uma pesquisa recente (Flexibilizao dos Mercados de Trabalho e Contratao Coletiva, Editora LTr, 1994), manifestava a opinio de que os elevados encargos trabalhistas constituem um forte fator de inibio na gerao de empregos no Brasil. O professor Edward J. Amadeo, em dois artigos (Folha de 04/01/94 e 04/06/94) manifestou posio diversa; enquanto este calculava encargos de 24,5% sobre a folha de salrios, o professor Pastore chegava ao total de 102,1% para os mesmos. Tal diferena deve-se ao fato de que os dois autores tm conceitos distintos de encargos. Para o professor Amadeo os encargos so a diferena entre o que o trabalhador recebe e o que a empresa paga, enquanto para o professor Pastore os encargos sociais compem o custo final do fator trabalho para a empresa. A diferena que o professor Amadeo no considera como encargos os gastos do empregador que retornam ao trabalhador como por exemplo, o 13, o abono de frias, o FGTS, o uso do dinheiro do Sesi, o vale transporte, o salrio maternidade e doena etc.. Para resumir, diremos que os gastos do empregador dividem-se em dois grupos: aqueles que no retornam ao trabalhador (por exemplo, INSS), que chamaremos de encargos; e aqueles que retornam a ele (por exemplo, repouso semanal e dcimo terceiro salrio), que chamaremos de salrio indireto. Em contraposio, chamaremos de salrio indireto ao pagamento por hora trabalhada ou por tarefa. Portanto, o professor Amadeo considera como encargo trabalhista somente o que chamamos de encargos (na sua avaliao, INSS, salrio educao e contribuio relativa a acidentes do trabalho); enquanto o professor Pastore considera como encargo trabalhista a soma dos encargos com o salrio indireto. No pretendemos nesta nota entrar no mrito da discusso emprica, qual seja, se tais encargos so ou no elevados, mas sim, chamar a ateno para alguns pontos conceituais que julgamos importantes para uma melhor compreenso da questo. Do ponto de vista econmico a discusso relevante saber o impacto destes encargos sobre a eficincia produtiva. Isto equivale a discutir qual o conceito de salrio relevante nas decises dos agentes econmicos (empresrios e trabalhadores). Quando o professor Amadeo exclui dos encargos o salrio indireto ele entende que o conceito relevante de salrio para as decises do trabalhador a soma deste com o salrio direto. Esta soma dividida pelas horas trabalhadas (ou pelas tarefas) constitui seu salrio mdio. Para que o leitor entenda o ponto que desejamos ressaltar considere o seguinte exemplo. Suponha que existam na economia dois tipos de empresas. As empresas tipo um no pagam salrio indireto, pagam R$ 1,00 por hora trabalhada e trabalha-se dez horas por dia. Portanto, seu trabalhador recebe R$ 10,00 por dia com um salrio mdio de R$ 1,00. As empresas tipo dois pagam R$ 5,00 de salrio indireto por dia, R$ 0,50 por hora trabalhada e tambm trabalha-se dez horas por dia. O salrio por dia e o salrio mdio, portanto, so idnticos para os trabalhadores de ambas as empresas. Nesta situao, diria o professor Amadeo, os trabalhadores de ambas, por receberem o mesmo salrio mdio, comportar-se-iam da mesma forma e as empresas, portanto, produziriam com a mesma eficincia. A teoria econmica ensina, contudo, que os agentes reagem a incentivos marginais, que no exemplo corresponde ao salrio por hora trabalhada. de se esperar que o comportamento dos trabalhadores em ambas as empresas seja, assim, radicalmente distinto: certamente o incentivo presena no trabalho maior nas empresas do tipo um onde a falta de um dia acarreta uma perda de R$ 10,00 do que nas empresas do tipo dois que acarreta uma perda de R$ 5,00. Um outro exemplo ajudar o leitor a entender a distino entre incentivo mdio e marginal. Imagine duas churrascarias: a primeira funciona no sistema a la carte (o consumidor paga por poro de carne pedida) e a segunda funciona no sistema rodzio (o consumidor paga uma quantia fixa e consome vontade). claro que o mesmo comensal ter comportamentos distintos nas duas churrascarias. Consumir menos carne na churrascaria a la carte ainda que o gasto seja o mesmo. No que diz respeito, portanto, eficincia produtiva o conceito relevante de salrio o marginal. Certamente, parte do salrio indireto, por exemplo, o abono de frias, salrio-maternidade, vale-transporte, por aumentar o salrio mdio, mas no o marginal, no tem impacto sobre o esforo de trabalho. claro que outros itens, como o repouso semanal remunerado, se assemelham a uma remunerao na margem e, assim, devem ser excludos dos encargos. Note que para o professor Pastore os encargos so entendidos segundo seus impactos sobre o custo do empregador. Mas se a discusso refere-se aos efeitos sobre o mercado de trabalho est correto o professor Amadeo ao afirmar que o importante a diferena entre o custo percebido pelo empregador e o salrio recebido pelo trabalhador. No entanto, ao considerar o salrio mdio e no o marginal, subestima esta diferena. Outro importante ponto o tratamento assimtrico dispensado pelo professor Amadeo ao FGTS vis--vis o INSS. O primeiro contabilizado como salrio indireto quando sabe-se que sua correo feita por ndices que subestimam a taxa de inflao e seu acesso restrito. Assim, este fundo no retorna integralmente ao trabalhador. Quanto ao INSS, parte de sua contribuio retorna a ele sob a forma de servios de sade e pagamento de penses. No se justifica, portanto, a sua total excluso do salrio indireto. Este ponto mais relevante quando se trata de comparaes entre pases: quanto maior for a eficincia do setor pblico na gesto desses fundos (aposentadoria e correlatos) e na administrao da assistncia sade maior o salrio indireto e menores sero os encargos para um mesmo montante de contribuio. Entre os itens que compem os encargos merece meno os custos de resciso contratual. Estes custos, novamente, podem ser divididos entre aqueles que retornam ao trabalhador (por exemplo, aviso prvio e indenizao de 40% calculada sobre o saldo do FGTS) e aqueles que no retornam. Nesta ltima so de particular importncia os custos para a empresa da Justia trabalhista. uma posio de senso comum (que merece um estudo mais rigoroso) que a Justia trabalhista tem um vis pr-trabalhador. Mesmo em demandas sem fundamento sua posio tem sido favorvel a ele. Esta peculiaridade faz com que o benefcio para o trabalhador de uma pendncia seja alto enquanto o custo baixo uma vez que os advogados trabalhistas cobram um percentual sobre o resultado da ao. A estrutura de incentivos clara: quer o trabalhador tenha ou no razo sente-se estimulado a entrar com a ao. Assim, apesar de difcil mensurao, tais consideraes nos levam a crer que o valor apresentado pelo professor Pastore para as despesas de resciso contratual (2,57%) encontra-se subestimado. Assim, acreditamos que uma avaliao emprica que considere os pontos aqui discutidos (distino entre salrio mdio e marginal, eficincia do setor pblico e os elevados custos da resciso contratual) ajudaro a uma melhor compreenso do real impacto sobre a eficincia produtiva dos encargos trabalhistas. RUBEN D. ALMONACID, 50, doutor em Economia pela Universidade de Chicago (EUA). Foi professor da Faculdade de Economia e Administrao da USP (Universidade de So Paulo) de 1971 a 1991. MRCIO I. NAKANE, 28, mestre em Economia e professor da Faculdade de Economia e Administrao da USP. SAMUEL A. PESSA, 31, doutor em economia pela Faculdade de Economia e Administrao da USP e professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). | A questo dos encargos trabalhistas RUBEN D.ALMONACID, MRCIO I. NAKANE, SAMUEL A PESSA Tem acontecido um importante debate sobre a relevncia dos encargos trabalhistas na composio dos custos das empresas e, portanto, seu impacto sobre gerao de empregos e competitividade das empresas. O professor Jos Pastore , ao comentar recente pesquisa, opinava sobre a relao dos encargos trabalhistas e a forte inibio de empregos no Brasil. O professor Edward J.Amadeo manifestou opinio diversa: para ele os encargos representam 24,5% da folha de salrios, enquanto que para o professor Pastore representam 102,1%. que os dois tm opinies diferentes de encargo. Para o professor Amadeo eles so a diferena entre o que o trabalhador recebe e o que a empresa paga ; para o professor Pastore os encargos sociais compem o custo final do fator trabalho para a empresa. Os gastos do empregador se distribuem em dois grupos: os que no retornam ao trabalhador ( INSS, por exemplo) , que chamaremos de encargos ; e os que retornam ( por exemplo, repouso semanal , dcimo terceiro), que denominaremos de salrio indireto. Do ponto de vista econmico , o importante saber quanto os encargos interferem na eficincia produtiva. Ao excluir dos encargos o salrio indireto, o professor Amadeo quer dizer que o conceito relevante de salrio para o trabalhador a soma deste com o salrio direto, que dividida pelas horas trabalhadas constitui seu salrio mdio. Imaginemos dois tipos de empresa: as do tipo um , que no pagam salrio indireto, remuneram com R$1,00 a hora trabalhada e em que se trabalha dez horas por dia. Seu trabalhador recebe R$10,00 por dia , com um salrio mdio de R$1,00. As do tipo dois pagam R$5,00 de salrio indireto por dia , R$0,50 por hora trabalhada e se trabalha tambm dez horas por dia. Portanto, o salrio mdio e o salrio por dia so idnticos para os trabalhadores de ambas. O professor Amadeo concluiria que , por receberem o mesmo salrio mdio, eles se comportariam da mesma forma, e as empresas produziriam com a mesma eficincia. No entanto, a teoria econmica ensina que os agentes reagem a incentivos marginais, no caso o salrio por hora trabalhada. Assim, a assiduidade maior nas empresas um,onde a perda por falta de R$10,00,enquanto nas empresas dois de R$5,00. Assim, o incentivo marginal mais relevante para a eficincia produtiva. Para o professor Pastore , os encargos so avaliados conforme seus impactos sobre os custos do empregador. Mas se a discusso se refere aos efeitos sobre o mercado de trabalho, vale a posio do professor Amadeo, quando afirma que o importante a diferena entre o custo percebido pelo empregado e o salrio do trabalho. Outro ponto importante a conceituao assimtrica de ambos os professores quanto ao FGTS e INSS. O primeiro classificado como salrio indireto , embora se saiba que sua correo frente inflao subestimada. J o INSS retorna em parte sob a forma de atendimento sade e pagamento de penses. No deve, pois, ser totalmente excludo do salrio indireto. Entre os encargos , destacam-se os custos de resciso contratual, divididos entre os que retornam ao trabalhador (aviso prvio e indenizao de 40% sobre o saldo do FGTS) e os que no retornam |
td94ja23-10 | Cariocas j podem montar empresa em casa Lei permite que empresrio use residncia como local de trabalho e pague IPTU na categoria residencial Da Sucursal do Rio e da Agncia Folha O microempresrio carioca j pode montar sua empresa dentro de casa. A lei com a proposta de conciliar moradia e trabalho foi sancionada em 16 de dezembro passado pelo prefeito Csar Maia (PMDB). Uma das vantagens manter o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) do pequeno empresrio na categoria residencial mais barata que a comercial. A lei 2.062 considera 80% dos imveis do municpio como prprios para conciliar residncia e local de trabalho. As micro e pequenas empresas podem funcionar na casa de seus donos desde que no estejam situadas em local de preservao ambiental, em torno de bens tombados ou sem ordem do condomnio, no caso das reas multifamiliares. Cada uma dessas empresas pode ter, no mximo, dois empregados. Algumas atividades so vetadas pela lei, como instalaes mdicas, estabelecimentos de ensino, venda de combustveis, material qumico, armas e munio, casas de espetculos e parques de diverses. Para obter o alvar de funcionamento em casa, preciso procurar a Inspetoria Regional de Licenciamento e Fiscalizao do bairro em que o imvel foi construdo. Quem quiser fechar uma microempresa j existente e se transferir para a residncia, basta comunicar a troca de endereo inspetoria. O vereador Roberto Saturnino Braga (PSB) que apresentou o projeto que originou a lei instalou em seu gabinete na Cmara de Vereadores um balco de informaes. Os interessados podem se informar ainda atravs do telefone (021) 292-4141.EmEm So Paulo, as pequenas empresas tambm podem funcionar em residncias, mas h algumas restries. A Lei de Zoneamento do municpio prev cinco reas de instalaes, que vo da estritamente residencial at a totalmente industrial. Por determinao estadual, a microempresa que estiver funcionando na moradia deve ter entrada separada. Servio Os micro e pequenos empresrios de Belo Horizonte j tm disposio um servico de consultoria gratuita, atravs do qual podem organizar e planejar melhor os seus negcios. Trata-se da Clnica da Micro e Pequena Empresa, criada pelo Clube dos Diretores Lojistas (CDL) de Belo Horizonte em conjunto com Sebrae-MG. A clnica funciona na sede do Clube de Diretores Lojistas (CDL) de Belo Horizonte e conta com oito consultores, que do assessoria nas reas financeira, mercadolgica (administrao de material, vendas e formao de preos), organizacional, de recursos humanos, contbil, tributria, trabalhista e de informtica. O servio atende os associados do CDL e pequenos empresrios indicados pelo Sebrae. Segundo Marcos Alexandre Ricaldoni de Miranda, vice-presidente de tecnologia e gesto empresarial do CDL, a idia da clnica surgiu da necessidade de dar suporte tcnico aos associados. O servio pode fazer ainda pesquisas de mercado. | Cariocas j podem montar empresa em casa Lei permite que empresrio use residncia como local de trabalho e pague IPTU na categoria residencial Da Sucursal do Rio e da Agncia Folha A lei 2.062, sancionada em 16 de dezembro passado, permite que microempresrio carioca monte sua empresa na prpria residncia , aproveitando-se de IPTU mais barato. Desde que as residncias no estejam situadas em local de preservao socioambiental , em torno de bens tombados ou sem permisso do condomnio. Tambm restringe algumas atividades como instalaes mdicas, estabelecimentos de ensino , venda de combustveis, material qumico, armas e munio, casas de espetculos e parques de diverso. Em So Paulo, tambm h lei equivalente, com as devidas restries. Em Belo-Horizonte, os micro e pequenos empresrios contam com a Clnica da Micro e Pequena Empresa, que presta consultoria gratuita nas reas financeira, mercadolgica, organizacional, de recursos humanos, contbil, tributria, trabalhista e de informtica. |
mu94de14-a | Por exigncia da editora, as livrarias sul-africanas s comearam a vender no final da tarde de ontem Longa Caminhada para a Liberdade (Macdonald Purnell, 630 pgs., R$ 20), a autobiografia de Nelson Mandela. No foi a nica exigncia voltada a ampliar o impacto de uma obra que, sem publicidade, j tem garantia de vendas por retratar a vida de um dos polticos mais importantes da atualidade. Em entrevista anteontem rdio 702, a mais ouvida de Johannesburgo, Mandela afirmou que teve que lutar muito com a editora americana para que o livro mantivesse suas caractersticas originais. Apesar disso, ele acabou aceitando personalizar o livro, que narrado na primeira pessoa. Isso foi feito para agradar o enorme pblico leitor dos EUA e contrariou, de certa forma, a idia incial de que o livro deveria ser um registro histrico, afirmou. Mas essa declarao apenas se soma aos 115 captulos do livro para demonstrar uma das caractersticas mais marcantes do presidente sul-africano: a humildade. Mandela diz que sua politizao no se deu de repente: O acmulo de mil desfeitas, mil indignidades e mil momentos foram produzindo uma raiva, uma rebeldia, um desejo de lutar contra o sistema que aprisionou meu povo. Aps 27 anos de priso, Mandela liderou uma transio que muitos julgavam impossvel: a tomada do poder sul-africano pelos negros. Mandela disse na entrevista que quer ser considerado um santo, se por santo entendemos um pecador que continua tentando. E pediu pacincia populao para as mudanas que ainda esto por vir. O livro foi escrito em colaborao com o editor Richard Stengel, que acompanhou Mandela desde sua libertao em 1990. Apesar dos valores liberais da universidade, eu nunca me senti totalmente confortvel l. Sempre ser o nico africano, alm dos empregados, ser considerado na pior das hipteses uma curiosidade e na pior como um intruso, no uma experincia agradvel. (...) Wits abriu um novo mundo para mim, um mundo de idias e crenas e debates polticos, um mundo onde as pessoas eram passionais sobre poltica. Eu estava entre intelectuais brancos e indianos da minha prpria gerao, jovens que formariam a vanguarda dos mais importantes movimentos polticos dos anos seguintes. Descobri pela primeira vez pessoas da minha idade firmemente alinhadas com a luta pela libertao, que estavam preparadas para se sacrificar pela causa dos oprimidos. Logo depois do amanhecer do dia 5 de dezembro de 1956, eu fui despertado por uma forte batida na porta. Nenhum vizinho ou amigo bate na porta de um jeito to peremptrio e eu sabia imediatamente que era a polcia de segurana. Eu me vesti rapidamente e encontrei o chefe de polcia Rousseau, um oficial da segurana que era conhecido na rea, e dois policiais. Ele apresentou um mandado de busca, quando os trs imediatamente comearam a revistar toda a casa procurando por jornais ou documentos incriminatrios.(...) Depois de 45 minutos, Rousseau de fato disse: 'Mandela, ns temos uma ordem judicial para prend-lo. Venha comigo.' Eu olhei para a ordem e as palavras saltaram: ALTA TRAIO. O maior acontecimento do pas em 1958 eram as eleies gerais 'gerais' apenas no sentido de que 3 milhes podiam participar, mas nenhum dos 13 milhes de africanos. Debatemos sobre realizar ou no um protesto. Uma eleio em que apenas brancos podiam participar fazia diferena para os africanos? A resposta, no que dizia respeito ao CNA, era de que no podamos ficar indiferentes mesmo quando ramos deixados de fora. Ns estvamos excludos, mas no insensveis: a derrota do Partido Nacional seria do nosso interesse e de todos os africanos. Em 1969, chegou um jovem carcereiro, que parecia particularmente ansioso em me conhecer. Eu tinha ouvido rumores de que nosso pessoal do lado de fora estava organizando uma fuga para mim e tinha infiltrado um carcereiro na ilha que iria me ajudar. Gradualmente, esse homem me informou que estava planejando a minha fuga. Ouvi o plano inteiro e no revelei a ele como soou sem confiana. Eu consultei Walter e ns concordamos que este homem no merecia confiana. Nunca disse a ele que eu no faria, mas nunca tomei nenhuma das aes exigidas para implementar o plano. Ele deve ter entendido o recado porque foi logo transferido para fora da ilha. Minha desconfiana era justificada porque ficamos sabendo que o carcereiro era agente da Boss, agncia de inteligncia secreta da frica do Sul. Eu acordei no dia da minha libertao depois de poucas horas de sono, s 4h30. Onze de fevereiro era um dia sem nuvens, de fim de vero, na Cidade do Cabo. Eu fiz uma verso reduzida dos meus exerccios usuais para regime, me lavei e tomei o caf da manh. (...) Eu estava espantado e um pouco assustado. No esperava uma cena como aquela no mximo, eu tinha imaginado que haveria algumas dzias de pessoas, principalmente os carcereiros e suas famlias. Mas isso provou ser apenas o comeo. Percebi que ns no tnhamos nos preparado totalmente para o que estava para acontecer. | O lanamento da autobiografia de Nelson Mandela ,Longa Caminhada para a Liberdade, mesmo sem propaganda, trazia a expectativa de recorde de venda, dada a importncia do lder biografado. O autor, entrevistado, disse que preferia manter um tom de impessoalidade , para retratar com iseno um momento histrico, mas o fez em primeira pessoa para agradar o enorme pblico dos EUA, segundo declarou. Para ele , a prpria formao poltica se alicerou nos mltiplos sofrimentos, humilhaes, que acrisolaram uma rebeldia capaz de se exteriorizar em luta contra o sistema. Vinte e sete anos de priso foram uma escola para o lder , que posteriormente comandou a devoluo do poder aos negros. Na entrevista , ele pediu pacincia populao para aguardar as mudanas que ainda viriam. Falou de sua experincia na universidade , que, apesar de cultivar valores liberais, no era o habitat em que se via vontade: sentia-se, s vezes, um objeto de curiosidade, um intruso. No entanto, foi uma oportunidade de abertura para o mundo das idias essa convivncia com jovens intelectuais brancos e indianos, dispostos a lutar pela libertao. Seu aprisionamento em dezembro de 1956 veio de forma arbitrria por intermdio de uma ordem , que falava de alta traio. Na priso, assistiu s eleies gerais, das quais somente participaram 3 milhes de brancos. Em 1969, chegou um jovem carcereiro, que supostamente facilitaria sua fuga. Mas sua intuio lhe dizia que era um traidor: de fato, pertencia inteligncia secreta da frica do Sul . Na entrevista, falou tambm do dia de sua libertao, em que estava espantado e um pouco assustado. |
td94ja23-11 | Veja como enfrentar a 'ressaca' nas vendas Para amenizar a tradicional baixa de janeiro e fevereiro, os lojistas apelam para promoes e descontos NELSON ROCCO Da Reportagem Local Para minimizar os prejuzos com a tradicional ressaca de vendas dos meses de janeiro e fevereiro, os pequenos comerciantes esto apostando em decontos e promoes. Vale tudo, desde parcelamento em duas, trs ou quatro vezes sem acrscimo, descontos que chegam a 50% sobre o preo vista, anncios em jornais e revistas e oferta de brindes. Quem ainda no escolheu suas armas no pode perder tempo, principalmente nos setores de roupas e calados que registram tradicionalmente os piores resultados (veja quadro ao lado). O Shopping das Meias, na rua Oscar Freire, nos Jardins, por exemplo, est parcelando qualquer compra em quatro pagamentos quinzenais. Com isso, tem conseguido manter as vendas em cerca de 50 peas por dia. Em dezembro, vendamos entre 150 e 200, diz Josephina Beraldi, 60, gerente. A Prola Negra Calados, no Itaim Bibi, outra que entrou em promoo no dia 10 de janeiro. Qualquer mercadoria vendida em dois ou trs pagamentos. Para compras vista, a loja oferece 15% de desconto e aceita cartes de crdito sem acrscimo. Bernadete Alves dos Santos, gerente, diz que as vendas melhoraram com a liquidao. Por dia, saem de 20 a 25 pares de sapatos, a metade de dezembro. A loja de confeces femininas Sueli Censini, do Shopping Iguatemi, manteve os preos da coleo vero iguais aos de dezembro. Alm disso, toda a linha bsica da loja pode ser paga em duas vezes. Slvia Misrahi, assessora de moda, diz que a promoo tem mostrado resultados. As pessoas vm comprar alguma coisa e acabam levando uma pea da promoo, devido ao preo baixo. Telefonar para os clientes ou enviar correspondncias informando de promoes e novos produtos que chegaram loja so tcnicas pouco usadas pelo comrcio, mas que podem trazer bons resultados. Sidnei Docal, consultor da Associao Comercial de So Paulo, diz que para enfrentar a queda nas vendas, preciso ser agressivo. Ele sugere que as empresas de pequeno porte adotem prticas comuns s de grande, como manter um cadastro atualizado dos clientes, com informaes sobre seus hbitos de consumo, e usar esses dados para contatos por telefone ou por correspondncia. preciso comear a pensar a longo prazo, diz. Melhora As vendas no comrcio em So Paulo, nos primeiros dias de janeiro, revelam uma ligeira melhora em comprarao s do ano passado considerado o pior ms desde 79. Dados da Associao Comercial de So Paulo mostram que as consultas ao sistema Telecheque (vendas vista) somaram 356.433 contra 316.906 em 93. | Veja como enfrentar a ressacanas vendas Para amenizar a tradicional baixa de janeiro e fevereiro, os lojistas apelam para promoes e descontos NELSON ROCCODa Reportagem Local Para suavizar o refluxo de vendas em janeiro e fevereiro, os pequenos comerciantes apostam em descontos e promoes. Esto parcelando em at quatro vezes sem aumento e oferecem descontos de at 50% sobre o preo vista, anncios em jornais e revistas e brindes. J tempo de os pequenos comerciantes escolherem suas armas, principalmente no setor de roupas e calados. O Shopping das Meias, na rua Oscar Freire, est vendendo em at 4 pagamentos quinzenais. A Prola Negra Calados , no Itaim Bibi, parcela qualquer mercadoria em at trs pagamentos e d 15% de desconto para preo vista. A loja Sueli Censini, do Shopping Iguatemi, segurou os preos de dezembro para a sua coleo de vero; e ainda aceita dois pagamentos. Telefonar para os clientes ou enviar correspondncias pode trazer bons resultados.E Sidnei Docal da Associao Comercial de So Paulo, sugere que as empresas de pequeno porte imitem as grandes , mantendo cadastro atualizado dos clientes , com informaes sobre seus hbitos. |
td94fe20-09 | Servio requer organizao e pontualidade Empresas do setor lucram com a taxa cobrada pela entrega ou com o desconto no preo dos bilhetes ROBERTA JOVCHELEVICH Free-lance para a Folha Atividade consagrada nos Estados Unidos e Europa, a entrega em casa de ingressos para shows, peas de teatro, eventos esportivos e culturais, entre outros, desponta como nova oportunidade de negcio no Brasil. Com uma linha telefnica, de preferncia com pelo menos dois ramais, possvel comear no ramo. O investimento vai variar de acordo com a infra-estrutura (funcionrios, carro ou moto para a entrega). Um computador com impressora e um aparelho de fac smile para se comunicar com as bilheterias, pois os ingressos no comercializados pelas empresas devem ser devolvidos em tempo hbil para que possam ser vendidos ao pblico tm grande utilidade na rotina da empresa. A comercializao de ingressos possvel atravs de um acerto com as produes de cada espetculo. Elas repassam uma cota de ingressos empresa, que vai funcionar como canal paralelo de venda. O lucro do negcio sai da taxa cobrada pela entrega. Em alguns casos, as produes do desconto s empresas no preo do ingresso. Dificilmente alguma empresa consegue exclusividade: os organizadores preferem distribuir os ingressos em diferentes pontos de venda. Na hora de iniciar o servio necessrio delimitar uma rea a ser atendida. Caso contrrio, dizem empresrios do setor, o custo operacional (combustvel e tempo) acaba sendo muito alto, e o preo final da taxa acaba inviabilizando o negcio. Estipular um nmero mnimo de ingressos para fazer a entrega outro ponto importante -o limite mximo vai ser dado pela cota disponvel. As empresas do ramo fazem as entregas a partir do pedido de pelo menos dois ingressos. Pontualidade e infra-estrutura de entrega, bom atendimento e uma taxa que oferea uma boa relao custo-benefcio so algumas das regras exigidas para que o negcio deslanche. Segundo Anselmo Tom, 40, scio da Tele-Ingressos Statione, a venda de ingressos com entrega em casa responde por 50% do faturamento da empresa, que atua tambm no setor de administrao de estacionamentos e de servios de entregas rpidas para pessoas jurdicas. A Tele-Ingressos cobra, atualmente, uma taxa de CR$ 850 por ingresso. Esse valor nos permite atender tanto regies prximas quanto as mais distantes, afirma Tom, que atende praticamente toda a regio da Grande So Paulo. A Fun by Phone comeou comercializando ingressos de espetculos internacionais. Desde o ano passado, a empresa passou a trabalhar tambm com a entrega em casa de ingressos para eventos nacionais. A taxa cobrada varia de acordo com o preo da entrada. Segundo Rosaly Papadopol, 37, gerente comercial da Fun by Phone, o mercado est em pleno crescimento. | Servio requer organizao e pontualidade Empresas do setor lucram com a taxa cobrada pela entrega ou com o desconto no preo dos bilhetes ROBERTA JOVCHELEVICH- Free-lance para a Folha J com tradio na Europa e nos Estados Unidos, a entrega de bilhetes para uma variedade de eventos surge como uma oportunidade de negcios no Brasil. Com uma linha de telefone, possvel iniciar. O investimento depende da infra-estrutura : funcionrios, carro ou moto, computador com impressora , fax para comunicar-se com as bilheterias. possvel um acerto com a produo do espetculo. Os produtores repassam uma quantidade de ingressos empresa, cujo lucro vem da taxa de cobrana da entrega. . No h exclusividade de empresas: os produtores preferem diversificar os pontos de venda. Dado o custo operacional, necessrio delimitar a rea de entrega e estipular a quantidade mnima de bilhetes para cada entrega. O sucesso do negcio depende da pontualidade, infra-estrutura , bom atendimento e uma taxa condizente com o custo-benefcio. Anselmo Tom, scio da Tele-Ingressos Statione, diz que a venda de ingressos com entrega responsvel por 50% do faturamento . A Fun by Phone comeou com a venda de ingressos de espetculos internacionais e , atualmente, tambm faz entrega para eventos nacionais. |
co94ag28-15 | 'Me preparei para levar tiros' 'Senti que ele mereconheceu. Fiqueigelado. Eu suava. Masconsegui me controlar' 'Foi o pior momentoda minha vida. Haviasido desmascaradoem plena Bolvia' Da Reportagem Local No final de 91, viajei para Corumb (MT) para tentar pegar Ramon, grande traficante boliviano que preparava a entrega de 50 quilos de cocana em So Paulo. A droga sairia da Bolvia, passaria por Corumb e da viria para So Paulo. Fiquei no hotel Santa Mnica. No registro do hotel, minha profisso: empresrio. Fiz chegar ao conhecimento de Ramon que um grande empresrio estava querendo falar com ele para comprar cinco quilos de p. No foi difcil. Nossa vantagem que que traficantes tm muito produto para poucos compradores. Quando surge um novo mercado, eles do a vida para t-lo. Ramon mandou um empregado ao hotel marcar almoo para o dia seguinte. Em vez de ficar feliz em ter atingido o primeiro objetivo, fiquei tenso. No dormi direito aquela noite. Tive pesadelos. No restaurante, foi pior ainda. Enquanto eu o esperava, minhas mos suavam, as pernas tremiam. Ramon chegou. Sentou e se apresentou. Minha sorte foi que ele gostou de mim. Foi o primeiro a falar sobre o assunto: 'Soube que trabalhamos com a mesma mercadoria', ele disse. Eu confirmei. Ramon me convidou para ir a sua casa no dia seguinte, em Porto Soares, uma cidade boliviana muito pobre a cerca de 20 km de Corumb. Mas a casa do homem era fantstica. Serviu usque. Ramon disse que preparava um carregamento de 50 kg para So Paulo e deu seu preo: US$ 2.400 por quilo. Aprovei. Marcamos novo encontro no dia seguinte, na Bolvia. Na verdade, a trabalho eu no poderia ir l. Mas fui assim mesmo. Ele me levou a um galpo perto de sua casa. Um empregado me mostrou a cocana. Mas eu no podia prend-lo. Ele no estava no Brasil. Seria ilegal. Voltei para a casa de Ramon. Combinamos que o pagamento s seria feito em So Paulo. Veio o imprevisto. Ramon quis que conhecesse o motorista que levaria a droga, Lus. Assim que Lus entrou na sala, senti que me reconheceu. No sei como... a sensao... a forma como me olhou. Fiquei gelado... Eu suava. Mas consegui me controlar. E Lus no falou nada ali. Ramon me abraou e se despediu. Eu teria que ir embora com Lus, que tambm morava em Corumb. Um txi nos esperava na porta da casa de Ramon. Assim que entramos no txi, Lus perguntou de bate-pronto: 'O patro sabe quem voc ?' Dessa vez, o meu susto foi maior. At ento eu agia e parecia um grande empresrio. Ser que ele me reconhecera? Ser que eu j havia prendido ele alguma vez? Lus reforou o tom de voz: 'Quero saber se o patro sabe que voc policial!' Foram os piores momentos da minha vida. Eu havia sido desmascarado em plena Bolvia. Tentei disfarar. 'No contei no', disse a ele. 'No achei ser o caso. Voc acha que precisa?' Lus se enfureceu: 'Se eu acho que precisa contar?!' No havia mais sada. O taxista j manobrava o carro para voltar casa de Ramon. Eu sentia que ia morrer. Mas essa certeza, inexplicavelmente, me trouxe tranquilidade. Eu tinha que fazer algo, e fiz. Continuei meu papel, como um ator. Disse a Lus que era policial, mas tambm era traficante. E da? Falaria com Ramon, sim. Ramon achou estranho voltarmos. Na sala dele, me preparei para levar tiros nas costas. Pensei na minha mulher, filhos, nos amigos... E falei... Quando o traficante ouviu a revelao se apavorou. Mantive a calma. Por meia-hora falei que no havia problemas em ser policial, que meu esquema era perfeito. Ganhei o cara. No final, Ramon ficou tranquilo e mais feliz. Achou que tinha achado o esquema seguro dentro da polcia. Marcou a entrega para sete dias depois em So Paulo, na entrada da marginal Tiet. A carga seria transportada por Lus e pelo gerente de Ramon, Manoel. Eu sabia que no daria para pegar Ramon, mas ia desarticular uma parte da rede em So Paulo. Eles colocavam pelo menos 50 quilos por ms na cidade. Voltei para Corumb com Lus. Fiquei sabendo como ele me reconhecera. Ele trabalhou numa transportadora na zona cerealista de So Paulo e j tinha me visto vrias vezes dentro do carro da polcia. Foi muito azar e muita sorte... Na apreenso da carga, uma semana depois, tive mais sorte ainda. Quando passavam por Campinas, Lus encontrou um amigo em um posto. Manoel, que estava junto, no desceu do caminho. Mas viu a cena e estranhou que o motorista falasse com algum estranho. Quando ambos foram presos, na entrada da marginal Tiet, Manoel fez chegar ao conhecimento de Ramon, atravs de advogados, que Lus era o traidor e culpado, que havia delatado tudo a um sujeito em um posto de gasolina. Dois dias depois de presos, Ramon telefonou da Bolvia para minha casa (eu havia dado o nmero). No desconfiou de nada. Pediu mil desculpas por uma falha tcnica na entrega e disse que providenciaria nova carga para a semana seguinte. Fiz o papel de bravo e insatisfeito. Disse que desse jeito no dava para negociar e desliguei. Ainda penso que vou peg-lo. Relato do investigador Hurdt | Me preparei para levar tiros Senti que ele me reconheceu. Fiquei gelado. Eu suava. Mas consegui me controlar Foi o pior momento da minha vida. Havia sido desmascarado em plena Bolvia Da reportagem Local No final de 91, viajei para Corumb para tentar pegar Ramon, grande traficante boliviano. Mandei recado a ele dizendo que um grande empresrio estava interessado em cinco quilos de p. Ramon mandou um empregado ao hotel para marcar um almoo para o dia seguinte.Em vez de ficar feliz com a primeira etapa, fiquei nervoso. No restaurante , foi ainda pior. Ramon chegou, sentou-se e apresentou-se. Por sorte, foi com a minha cara. Me convidou para ir sua casa no dia seguinte, em Porto Soares. Disse que estava preparando uma carga de 50 quilos para So Paulo. US$2.400 o quilo. Aprovei. Ele me levou a um galpo perto da casa e um empregado mostrou a cocana. Por estar na Bolvia no podia prende-lo. Combinamos que a carga seria entregue em So Paulo, na marginal do Tiet. Ramon quis que conhecesse o motorista que levaria a droga, o Lus. Assim que o vi, senti que me reconheceu e gelei. Eu teria que ir embora com ele. No txi , ele foi direto: O patro sabe quem voc ? . Me apavorei. Ele alteou a voz: Quero saber se o patro sabe que voc policial! Tentei disfarar, neguei. No havia sada . O taxista j manobrava para voltar casa de Ramon, que estranhou. Com a minha confisso , ficou apavorado. Tranqilizei-o dizendo que o meu esquema como policial era perfeito . Na volta a Corumb com Lus, fiquei sabendo como me reconhecera: trabalhou numa transportadora na zona cerealista de S.Paulo. Quando ele e Manoel vieram entregar a mercadoria, passando por Campinas, Lus encontrou um amigo num posto. Manoel estranhou que falasse com um estranho. Esse detalhe me salvou , pois , ao serem presos na marginal do Tiet, Manoel fez chegar a Ramon a informao de que Lus os tinha trado. Ramon no s no suspeitou como me pediu desculpas . |
op94ag10-a | Um dos aspectos positivos da atual poltica cambial reside no fato de ela no pretender envolver-se na defesa de uma taxa de cmbio real potencialmente insustentvel a longo prazo. O ministro da Fazenda tem dito, com frequncia, que o compromisso com o cmbio estvel vai at dezembro. No h qualquer obrigao de interveno no mercado de cmbio, a no ser que a cotao do dlar supere um real. Essas informaes so importantes porque o nosso comrcio exterior est longe de apresentar resultados satisfatrios. Entre 1988 e 1993, com um Produto Interno Bruto revelando um crescimento mdio da ordem de 0,8% e uma ampla capacidade ociosa no setor industrial, nossas exportaes cresceram a uma taxa de apenas 2,8% ao ano, enquanto as exportaes mundiais cresciam a 6,2% ao ano. Nossa participao nas exportaes mundiais caram de 1,2% para 1% no perodo. Por outro lado, as importaes, graas desburocratizao, eliminao de barreiras no-tarifrias e dramtica reduo tarifria, cresceram taxa mdia anual de 12%. Nossa participao nas importaes mundiais passaram de 0,6% para 0,8%, forando um amplo aumento da produtividade e da qualidade da produo nacional para enfrentar a competio externa. O saldo exagerado da balana comercial foi reduzido de 19,2 bilhes de dlares, em 1988, para 13,1 bilhes, em 1993. A situao do balano de transaes correntes no , entretanto, to brilhante como se quer fazer crer. Nos ltimos seis anos (1988-1993) tivemos um saldo positivo em transaes correntes da ordem de 6,7 bilhes de dlares, praticamente construdo pelas remessas unilaterais de brasileiros que esto trabalhando no exterior e que atingiram a 6,4 bilhes de dlares no perodo. Sem essas remessas, o Brasil teria registrado equilbrio nas transaes correntes ao longo dos ltimos seis anos. A fantstica acumulao de reservas internacionais (no conceito de caixa) nos ltimos 29 meses (janeiro de 1992 a maio de 1994) da ordem de 30 bilhes de dlares deveu-se praticamente ao movimento de capitais estimulado pela maior taxa de juro real de que se tem notcia no mundo civilizado. Ela foi financiada por emisses de papel-moeda e pelo crescimento da dvida interna, num movimento de auto-reforo: juro real estratosfrico atrai capital externo, o que aumenta a dvida interna e exige juro real ainda mais alto para induzir os agentes a ret-la em suas mos. Tudo isso custa da manuteno de ampla capacidade ociosa e desemprego para milhes de brasileiros... O que acontecer quando os juros tiverem que diminuir? Provavelmente teremos no mercado de bens e servios um aumento do nvel de atividade (o que desejvel), que retirar um dos estmulos s exportaes e elevar o nvel das importaes (o que tambm saudvel). E no mercado financeiro uma reduo do fluxo de entrada. S ento saberemos se manipular a taxa de cmbio nominal pelo diferencial de juros interno e externo e esperar que a taxa de cmbio real se ajuste pela reduo dos preos internos foi uma aposta sustentvel. Mas no ser a hiptese implcita nesse modelo (flexibilidade dos preos para baixo) um pouco extravagante? | No insistir na manuteno de uma taxa cambial insustentvel a longo prazo tem sido uma boa poltica do ministro da Fazenda. Isso importante porque nosso comrcio exterior est em baixa. O crescimento do PIB medocre, a capacidade ociosa no setor industrial grande e as exportaes ( entre 1988 e 1993) s cresceram 2,8% , diante de um mdia mundial de 6,2%. Em contrapartida, as importaes cresceram , em mdia, 12%. No mesmo perodo ( 1988-1993) , o saldo da balana comercial veio de 19,2 bilhes de dlares para 13,1 . Ainda no perodo, o saldo positivo de 6,7 bilhes de dlares nas transaes correntes se deveu s remessas de brasileiros que trabalham fora do pas. J de 1992 a 1994, a acumulao de reservas de 30 bilhes de dlares veio da generosa taxa de juros oferecida ao capital internacional, com o trgico aumento da dvida interna e do desemprego de milhes de brasileiros. A reduo dos juros possivelmente estimular a produo e reduzir as importaes e o ingresso de dlares de especulao. |
po96fe28-a | BRASLIA - O presidente da Central nica dos Trabalhadores (CUT), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, foi a grande estrela, ontem, na audincia pblica realizada no plenrio da Cmara dos Deputados, sobre a reforma da Previdncia. Seu discurso, de cerca de 15 minutos, foi o nico assistido pelo presidente da Cmara, deputado Lus Eduardo Magalhes (PFL-BA), e pelos 400 deputados presentes audincia. E foi diante dessa platia que Vicentinho fez crticas veementes ao substitutivo do deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM), alm de defender o fim imediato do Instituto de Previdncia dos Congressistas (IPC). Lus Eduardo Magalhes, alis, no se fez esperar. E, tambm ontem, apresentou aos lderes de todos os partidos o projeto de lei que extingue o IPC. Logo em seguida, porm, ao perceber que o clima no era favorvel, cancelou a audincia pblica que seria feita hoje, sobre a aposentadoria dos parlamentares. Pelo projeto de extino do IPC, que deve ser votado dia 6 de maro, os parlamentares que j cumpriram os requisitos para a aposentadoria - oito anos de mandato e 50 de idade - podero optar pelo benefcio ou ter suas contribuies ressarcidas. Os outros recebero o dinheiro de volta e os que j gozam do benefcio passaro a ser pagos pelo Tesouro Nacional. A periculosidade, a insalubridade e a penosidade dos parlamentares no to grande assim, para que vocs se aposentem aps oito anos de mandato. Como vamos justificar esta aposentadoria perante a sociedade?, indagou Vicentinho, que foi aplaudido por cerca de 200 sindicalistas, que estavam nas galerias. Apesar de criticar o substitutivo de Euler Ribeiro, Vicentinho enumerou os avanos conquistados pelas centrais sindicais na reforma da Previdncia - como a manuteno do teto de 10 salrios mnimos para a aposentadoria, a permanncia da aposentadoria especial de professores e trabalhadores rurais e a criao da gesto quadripartite. Euler - Os pontos de discordncia com o relatrio de Euler Ribeiro so muitos. A irritao da CUT com o deputado to grande, que a central elaborou documento - entregue de manh a Lus Eduardo - onde so feitos ataques a Euler Ribeiro. Em 29 pginas, a CUT chama o texto de confuso e, em vrios momentos, contesta o relator, dizendo que ele no cumpriu o acordo com os sindicalistas. tarde, as consideraes da CUT sobre Euler Ribeiro foram retiradas do documento, a pedido dos lderes do governo, deputado Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), e do PMDB, Michel Temer (SP). Na verso final, s ficaram os pontos que a CUT no considerou contemplados pelo relatrio, mas que fizeram parte do acordo com as centrais sindicais. O presidente da Cmara tambm est indignado com Euler Ribeiro, que pediu para no comparecer audincia pblica da Previdncia. Anteontem noite, o relator procurou Lus Eduardo, para perguntar se sua presena seria importante, pois estava querendo ir a Manaus, participar das comemoraes do centenrio do Teatro Amazonas, que contaram com a presena do presidente Fernando Henrique. Alm de Vicentinho, discursaram os presidentes da Fora Sindical, Luiz Antonio Medeiros, da Confederao Geral dos Trabalhadores (CGT), Canind Pegado, da Central Geral dos Trabalhadores (CGT), Antnio Neto, e da Confederao Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), Francisco Urbano. Todos eles defenderam a criao de um sistema nico de Previdncia para os trabalhadores privados e do setor pblico. Detalhe: Medeiros foi o nico vaiado pelos sindicalistas presentes audincia. | Ontem, no plenrio da Cmara dos Deputados, Vicentinho ,da CUT, foi destaque. Com a casa cheia, fez crticas veementes ao substitutivo do relator Euler Ribeiro e defendeu o fim imediato do IPC. O presidente da Cmara, Lus Eduardo, apresentou depois o projeto para a extino do Instituto . Mas , vendo ventos contrrios, suspendeu a audincia pblica , marcada para hoje, sobre a aposentadoria dos parlamentares. O projeto j garante o benefcio com oito anos de mandato e 50 de idade. Os outros recebero a devoluo do dinheiro. Vicentinho ironizou as duras condies de trabalho dos parlamentares para merecerem tal privilgio.Foi muito aplaudido pelos sindicalistas. Suas crticas ao substitutivo de Euler Ribeiro no impediram de notar os avanos conquistados pelas centrais sindicais na reforma da Previdncia. O documento entregue a Lus Eduardo, em que criticava o texto de Euler foi no mesmo dia expurgado dos ataques e somente manteve as referncias aos pontos que no foram contemplados pela CUT. Tambm o presidente da Cmara manifestou indignao contra Euler, por este ter pedido para no comparecer audincia pblica da Previdncia. Alm de Vicentinho, vrios outros presidentes de entidades trabalhistas se pronunciaram , defendendo um sistema nico de aposentadoria para servidores pblicos e iniciativa privada. |
td94ju12-03 | Saiba como calcular o valor de um negcio Determinar o preo de uma empresa 'pronta' requer levantamento de itens como caixa, estoque e dvidas NELSON ROCCO Da Reportagem Local Saber calcular quanto vale um estabelecimento fundamental para fazer um bom negcio na hora de vender ou comprar uma micro ou pequena empresa. O procedimento tambm importante quando o objetivo buscar um novo scio. Tomar o valor do faturamento mensal e multiplicar por dez para chegar ao valor total da empresa tem sido a praxe do mercado. H uma srie de fatores, no entanto, que influenciam o valor de um negcio e devem ser levados em conta. Celso Marchi, 47, economista e consultor do Sebrae SP (Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de So Paulo), diz que preciso determinar o patrimnio lquido da empresa. Para chegar ao patrimnio, deve-se calcular ativo e passivo (veja quadro ao lado). Fazem parte do ativo todo o dinheiro em caixa, aplicaes financeiras, estoques, crditos a receber, veculos, telefones, mquinas e instalaes. Para se chegar ao valor de cada item, recomendvel fazer uma pesquisa junto aos fornecedores e revendedores. O final do ms a melhor poca para fazer os clculos, diz Marchi. Isso porque pode-se ter idia do faturamento mensal e de todas as contas a pagar. Chegando-se ao total do ativo, preciso deduzir todas as contas que a empresa tem a pagar para determinar o patrimnio lquido. Se o nmero apurado for positivo, esse o valor contbil da empresa, afirma o consultor. Se for negativo, significa que a empresa tem mais dvidas do que ela vale e, para um eventual comprador, significa um negcio de alto risco. Se o prdio fizer parte da negociao, tambm deve ter o valor includo na soma. preciso verificar na prefeitura se no h dbitos de impostos. Uma busca em cartrios de registro de imveis pode fornecer informaes sobre se o prdio est penhorado ou hipotecado em garantia de dvidas. Caso o imvel seja alugado, segundo Marchi, necessrio verificar o tempo de durao do contrato e se o proprietrio est de acordo com a troca de locatrio. Um ponto com contrato de aluguel de um ano vale menos em relao a outro com prazo de cinco anos. Segundo o consultor do Sebrae, um dos grandes atrativos em uma negociao so os estoques. muito importante verificar se eles esto pagos. Sonia Regina dos Santos, 42, est vendendo sua empresa de aluguel de roupas, a Kareni Della Firenzi Rigor, que fica em Santana (zona norte de So Paulo), por US$ 25 mil. A empresa fatura US$ 8.000 por ms e tem instalaes completas, incluindo mquinas de costura, mquina de escrever e geladeira. A empresria diz, no entanto, que o maior valor de Kareni est nos estoques. So 500 peas de roupas masculinas, femininas, infantis e vestidos de noiva. Estoque tambm o principal atrativo da Games World Locadora, do bairro de Santo Amaro (zona sul de So Paulo), que est venda por US$ 43 mil. Alm de consoles de videogame e aparelhos de TV, a locadora tem um acervo de 740 cartuchos de jogos. Marchi diz que em negociaes para a admisso de um novo scio importante levantar dados sobre o passado financeiro do candidato. | Saiba como calcular o valor de um negcio Determinar o preo de uma empresa prontarequer levantamento de itens como caixa, estoque e dvidas NELSON ROCCODa Reportagem Local Saber avaliar um estabelecimento fundamental para um bom negcio de compra ou venda de uma micro ou pequena empresa. A praxe de mercado tem sido tomar o faturamento do ms e multiplicar por dez. Mas h vrios outros fatores interferentes. Celso Marchi, economista e consultor do Sebrae SP, informa que necessrio determinar o patrimnio lquido da empresa. Para tanto, deve-se calcular o ativo e passivo. O ativo composto pelo dinheiro em caixa, aplicaes financeiras, estoques, crditos a receber, veculos, telefones, mquinas e instalaes. Depois disso, preciso deduzir as contas a pagar. Se o resultado for positivo, esse o valor contbil da empresa. Se negativo, a empresa deve mais do que vale. Caso o prdio faa parte do negcio, deve-se somar seu valor. Mas tambm necessrio verificar dbitos junto Prefeitura e pendncias no cartrio de registro de imveis. Segundo Marchi, um dos atrativos em um negcio so os estoques, mas importa verificar se esto pagos ou no. |
co94ou22-04 | Militares no querem subir morros Foras Armadas preferem que a ao no Rio seja como a feita na Eco 92, apenas nas ruas Da Sucursal de Braslia As Foras Armadas esto prontas para intervir no combate violncia no Rio. Em reunies fechadas, os comandos do Exrcito, Aeronutica e Marinha na cidade j traam um plano comum de ao. Mas eles trabalham para evitar que tenham de subir os morros. O ministro da Marinha, Ivan Serpa, afirmou ontem que o emprego das tropas nesta operao ter de ser intensivo para dar resultado. Ele culpou ontem a ineficcia da ao policial'' pelo aumento da criminalidade no Rio. Segundo Ivan Serpa, os fuzileiros navais do Rio esto preparados para participar de uma operao a ser comandada pelo Exrcito. Temos condies de combater um oponente armado.'' O ministro disse no haver a menor possibilidade'' de evitar mortes, se os militares subirem os morros para combater o crime. No h nenhum exagero em prever que num combate srio ao crime haver baixas.'' Ele disse que a autoridade qual a polcia subordinada tem responsabilidade pelo aumento da violncia, numa referncia ao ex-governador Leonel Brizola e ao governador Nilo Batista. Ivan Serpa disse ter motivos pessoais para estar absolutamente preocupado'' com a criminalidade no Rio: a partir de janeiro vai morar em Ipanema e os seus filhos e netos j moram na cidade. Na segunda-feira, o ministro da Justia, Alexandre Dupeyrat, passa todo o dia reunido com os comandos das trs Foras no Rio para traar as estratgias. Na tera, ele espera conversar com as autoridades da rea civil. O presidente Itamar Franco receber na quarta-feira o relato do ministro Dupeyrat. A deciso sobre as aes caber a Itamar. O ministro Henrique Hargreaves (Casa Civil) disse que Itamar vai seguir as normas legais e constitucionais para autorizar a operao. Dupeyrat adiantou que o governo tomar medidas de longo prazo. Se no, o crime organizado e a criminalidade em geral tendem a se expandir.'' Ele descartou uma interveno militar que fira a autonomia do governo estadual. O diretor-geral da PF, coronel Wilson Romo, disse ontem em Recife desconhecer solicitao feita por Dupeyrat para que a PF atue em conjunto com as Foras Armadas contra o crime organizado no Rio. Ele confirmou, porm, que a corporao j tem pronto um plano de ao nos morros cariocas. Seriam utilizados, segundo o coronel, de 2.000 a 3.000 homens'' do Exrcito e das polcias Federal e Militar e Civil no cerco aos morros. um plano simples, cercamos a rea, vasculhamos e tiramos os bandidos'', afirmou. Se reagir, ser retribudo altura.'' Segundo Ivan Serpa, uma operao militar de combate ao crime precisar estar acompanhada de uma ao constante'' da polcia. O ministro disse que o esquema montado pelo Exrcito na conferncia Rio-92 criou um hiato'' na criminalidade. Para que melhore definitivamente, a polcia tem de ter uma ao constante.'' A Folha apurou que apesar de se dizer preparada para subir o morro, a cpula das Foras Armadas trabalha para evitar que isso acontea. Os chefes das Foras Armadas temem as consequncias e preferem o que eles chamam de estilo Eco/92'': ficar porta do morro, tomar o asfalto e virar o canho para a favela. No morro sobem a PM e a PF. Os militares no querem subir por dois motivos. Motivo tcnico: militar treinado para matar, destruir, arrasar e tomar uma posio e leva tempo para saber se movimentar de forma defensiva entre barracos e no meio dos civis. Motivo poltico: eles temem que ao primeiro fogo cruzado, matem algum civil e sejam comparados PM. Um general disse ontem Folha, que, nesse momento, ningum lembrar que a morte foi acidental ou em legtima defesa. O Exrcito avisou ao Ministrio da Justia e ao governo estadual que s entrar de forma mais ostensiva no combate violncia sob ordem expressa do presidente. (Silvana de Freitas e Rui Nogueira) Colaborou FABIO GUIBU, da Agncia Folha. | Militares no querem subir morros Foras Armadas preferem que a ao no Rio seja como a feita na Eco 92, apenas nas ruas Da Sucursal de Braslia (Silvana de Freitas e Rui Nogueira) .Colaborou FABIO GUIBU, da Agncia Folha. As Foras Armadas esto preparadas para ajudar no combate violncia no Rio. J tm um plano , mas evitam subir os morros. O ministro da Marinha, Ivan Serpa , afirmou que o emprego de tropas nesse caso tem que ter continuidade. E atribuiu a culpa do crescimento do crime ineficcia policial e atuao do ex-governador Brizola e do atual governador, Nilo Batista. E acrescentou que um combate srio resultar em baixas. O ministro da Justia, Alexandre Dupeyrat, aps encontro com o comando das trs Foras para traar estratgias, entregar ao presidente Itamar Franco um relatrio. Na sua fala, adiantou que tomar medidas a longo prazo, sem o que o crime organizado tender a expandir-se. O coronel Wilson Romo, diretor-geral da PF no confirmou que foi solicitado a atuar junto com as Foras Armadas , mas adiantou que tem um plano para enfrentar os morros. E que simples: junto com as Foras Armadas, polcias Civil e Militar, fcil cercar a rea, vasculhar e prender os bandidos. Os que reagirem tero retribuio equivalente. As Foras Armadas, que relutam em subir os morros, apresentam dois motivos: um tcnico, baseado no fato de que militar treinado para matar, destruir, arrasar , e no fato de que leva tempo para agilizar-se defensivamente entre barracos com moradores; outro poltico , que consiste na possvel comparao com a PM , caso um infortnio leve um policial do Exrcito a matar um civil. |
td94jl31-10 | Paulistano sonha em ter sua prpria loja Maioria abriria comrcio ligado a alimentos ou roupas se tivesse capital suficiente para montar um negcio Da Reportagem Local O comrcio , de longe, a atividade preferida pelos paulistanos. Pesquisa Datafolha mostra que 56% dos entrevistados abririam algum tipo de comrcio se tivessem dinheiro para montar um negcio prprio. A rea de servios vem em seguida, com 23% das preferncias. Apenas 6% montariam uma indstria. Ter uma loja de roupas o grande sonho do paulistano. 13% dos que abririam um comrcio gostariam de trabalhar com confeces. Lanchonete e minimercado/mercearia tambm esto em alta. Se somadas, as atividades ligadas alimentao bar, doceria, quitanda etc. aparecem como lderes de interesse (37% dos entrevistados investiriam na rea). Emlio Alfieri, 44, diretor do Instituto de Economia da ACSP (Associao Comercial de So Paulo), acredita que essas duas atividades renem negcios relativamente simples de montar e que no exigem muitos conhecimentos especficos. Basta entender um pouco. H muita informao na imprensa sobre como montar e investir nesses setores, afirma. Para Alfieri, abrir loja de roupas, mercearia ou pizzaria exige menos know-how e investimento que o comrcio de mveis ou de eletrodomsticos, por exemplo. Entre os 23% dos paulistanos que escolheriam o setor de servios, 4% abririam uma escola. Mesmo entre os 6% que gostariam de montar uma indstria, 4% afirmaram que se dedicariam a confeces. Sigmar Malvezzi, 52, professor da rea de psicologia da USP (Universidade de So Paulo), afirma que o interesse em ser empresrio varia de acordo com identidade profissional de cada indivduo. Insegurana e insatisfao com o emprego so motivos apontados por Malvezzi para que as pessoas sonhem com uma empresa. Outro fator seria a mudana nos objetivos profissionais provocada pelo aperfeioamento do mercado de trabalho e pelas demisses. Como exemplo, ele cita que, em 70, para fabricar mil carros a indstria automobilstica precisava do trabalho de 800 pessoas. Hoje, para fazer mil carros so necessrias 170 pessoas, diz. A alterao faz com que as pessoas busquem alternativas de trabalho. Capacidade A pesquisa do Datafolha revela que 12% dos paulistanos j abriram um negcio e fecharam, o que mostra que para ser empresrio no basta querer. Um estudo do Senac (Servio Nacional de Aprendizagem Comercial) aponta como caractersticas fundamentais do empreendedor a autoconfiana, a dedicao ao trabalho e a busca constante de informaes. Irani Cavagnolli, 49, diretor-superintendente do Sebrae SP (Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de So Paulo), diz que ficou surpreso com o fato de que 49% dos paulistanos gostariam de ter sua prpria empresa. uma surpresa saber que existe um esprito empreendedor em potencial to alto. Isso positivo para o pas, diz. Segundo Cavagnolli, a conjuntura econmica um dos fatores que restringem o potencial empreendedor do brasileiro. Para que o potencial se desenvolva, importante a manuteno do Plano Real, j que as empresas podem passar a pensar a longo prazo, diz. | Paulistano sonha em ter sua prpria loja Maioria abriria comrcio ligado a alimentos ou roupas se tivesse capital suficiente para montar um negcio. Da Reportagem Local Pesquisa Datafolha mostra que 56% dos paulistanos interessados em abrir um negcio prefeririam o comrcio. Em seguida, viria a rea de servios (23%) e apenas 6% optariam por uma indstria. Dos que optaram por comrcio , 13% investiriam em confeco. Todas as atividades ligadas alimentao, somadas, seriam escolhidas por 37% dos entrevistados. Segundo Emlio Alfieri, diretor do Instituto de Economia da ACSP, a preferncia por essas duas reas possivelmente se deva facilidade de montagem e menor exigncia de conhecimentos bsicos. O professor de psicologia da USP, Sigmar Malvezzi, afirma que a opo por ser empresrio varia conforme a identidade profissional de cada um e com o grau de insegurana e insatisfao com o emprego. Outro fator seria a mudana nos objetivos profissionais , resultado do aperfeioamento do mercado de trabalho. A pesquisa tambm revela que 12% dos paulistanos j abriram negcio e fecharam.Nem sempre querer poder. Um estudo do Senac seleciona como caractersticas do empreendedor: confiana , dedicao e busca constante de informaes. |
br94ou09-16 | De olho no voto e no segundo turno MARCELO LEITE Uma das poucas surpresas na eleio anticlimtica por que passou o pas foi a alta incidncia de votos brancos e nulos nas eleies legislativas e para os governos estaduais. Estou certo de que isso tem muito a ver com a preponderncia da eleio presidencial sobre as demais, sobretudo com a despolitizao da campanha provocada pela fora arrebatadora do Plano Real. Se abordo este tema aqui no para arriscar-me na anlise poltica, coisa que outros faro melhor do que eu. Meu intuito tentar entender que papel teve a imprensa nessa histria. Tome-se o exemplo do Estado de So Paulo. O grande vencedor do primeiro turno no foi Francisco Rossi (PDT), que derrubou Mrio Covas (PSDB) do pedestal das pesquisas de inteno de voto e o arrastou para um segundo turno cheio de incertezas. O segundo lugar na contagem dos votos, na realidade, coube para os votos nulos e brancos. Somados, eles devero alcanar algo em redor de 24%, mais do que o azaro Rossi. Espante-se comigo: um quarto dos eleitores do Estado mais desenvolvido preferiu omitir-se na escolha do governante que decidir sobre boa parte dos impostos que tero de pagar. E isto em uma eleio livre, democrtica. Em outros Estados, a situao mostrou-se ainda mais grave. Em quatro deles Bahia, Maranho, Par e Piau, brancos e nulos foram simplesmente os campees. Em outros seis, alm de So Paulo, ficaram em segundo lugar, conforme noticiou a Folha em sua primeira pgina de quinta-feira (no sem atraso: jornais concorrentes, como O Estado de S.Paulo e o Jornal do Brasil, j tinham destacado nmeros semelhantes no dia anterior). Em maior ou menor grau, dados preocupantes como esses repetem-se nas eleies legislativas (Senado, Cmara dos Deputados e Assemblias Legislativas). At mesmo para as presidenciais observou-se uma absteno trs vezes superior ao pleito de 1989. A explicao mais comum, desencanto com os polticos, no satisfaz. Sob esse rtulo pejorativo e politicamente regressivo, que no pode e no deve ser confundido com o desenvolvimento de uma conscincia poltica crtica, compreende-se usualmente deputados e senadores, no governadores. Salvo poucas excees, estes no estiveram no centro das tempestades de escndalos. Desconfio de que essa apatia eleitoral est muito mais relacionada com desinteresse e desinformao do que com qualquer outra coisa. A imprensa pode ter um papel indutor, pedaggico, algo muito diverso da mitologia do Quarto Poder (gosto de dizer que o nico poder da imprensa o de cumprir com sua obrigao). E foi a que ela falhou, no meu entender. Em poucas palavras, ela se deixou ofuscar pelo brilho do real (o novo dinheiro, entenda-se). Concentrou quase todo seu noticirio na cobertura da corrida presidencial, cujo diapaso foi ditado exclusivamente pela moeda forte. Essa preponderncia da corrida presidencial fica evidente em levantamentos do Datafolha sobre o espao dedicado em cada um dos quatro grandes dirios aos diferentes nveis de eleio. No caso da Folha, no ms de agosto, nada menos do que 70,3% de tudo que se publicou sobre eleies no jornal se referia s presidenciais. A campanha para governador mereceu somente 7,9% do espao total (incluindo textos, fotografias e tabelas). O Congresso, ridculos 3,2% (o restante foram reportagens de interesse geral). Em setembro, a coisa progrediu um pouco: presidenciais, 54,4%; governo do Estado, 9,6%; Congresso, 16%. Note-se que o destaque para a eleio a governador na prtica no se alterou. Foi o noticirio sobre o Congresso que cresceu exponencialmente, com o combustvel farto fornecido pela grfica do Senado e pelo to alentado (28 pginas) quanto polmico suplemento Olho no Voto (leia abaixo). Em agosto, a Folha reinou solitria em sua predileo pela disputa FHC-Lula (os concorrentes ficaram em redor da casa dos 60%). De agosto para setembro, os nmeros mostram que o jornal transferiu-se para o patamar comum, em torno de 50-55%. Menos mal. Esses nmeros mostram com eloquncia o pouco caso da imprensa com as eleies legislativas e para governador. So o reflexo sobretudo de uma prioridade estabelecida fora da arena poltica, na esteira do Plano Real e chancelada pelo eleitorado, nunca demais lembrar. Tudo se reduzia a ser contra ou a favor do real. Lula ou FHC. No meio, falando sozinhos, os candidatos a governador, senador, deputado. A esse imperativo estranho se curvou docilmente a imprensa. Renunciou quase em bloco quele pouco de espao iluminista, esclarecedor, que d algum sentido profisso e a seu em grande parte injustificado prestgio social. Ao menos no caso das eleies para governador nos poucos Estados em que haver segundo turno, ainda d para recuperar parte do tempo perdido. Uma das poucas e mais srias tentativas de pr o jornal a servio das carncias do eleitor foi o caderno especial da Folha batizado como Olho no Voto, que circulou em 18 de setembro. Uma idia excelente: publicar como votaram em algumas decises importantes os deputados federais candidatos reeleio e apontar quantas vezes faltaram ao trabalho. Ocorre que a boa idia foi posta em prtica com alguns erros, de informao e de enfoque. Na coluna que escrevi na semana passada, afirmei que esses erros comprometeram todo o esforo. Essa observao motivou uma resposta dos jornalistas Elvis Cesar Bonassa e Daniela Pinheiro, da Sucursal de Braslia da Folha, que trabalharam dois meses no levantamento de mais de 30 mil informaes. Eis os trechos principais de sua contestao: Em sua coluna do ltimo domingo, o ombudsman faz referncia ao caderno Olho no Voto. Em poucas linhas, afirma que a quantidade de erros comprometeu a credibilidade do trabalho. uma crtica destituda de fundamento. At agora, houve apenas trs Erramos em relao s tabelas publicadas o que est longe de comprometer a credibilidade do caderno. O ideal seria que no houvesse nenhum erro, mas os trs erros significam muito pouco frente quantidade de dados que foram usados. (...) O ombudsman aparentemente admitiu como erros a gritaria dos deputados contra o caderno. Todas as cartas que chegaram Redao foram respondidas no Painel do Leitor. Vrios deputados tentaram apontar supostos erros, mas eles que estavam errados. As reclamaes corporativistas dos parlamentares contra uma anlise de seu comportamento, anlise esta baseada em dados objetivos e verificveis, no podem ser consideradas erros do caderno. Ao contrrio, talvez sejam o melhor ndice de seus acertos. Pelo visto, os jornalistas da Sucursal de Braslia e este ombudsman s esto de acordo em duas coisas: os deputados devem prestar contas de seus votos e faltas na Cmara; e o ideal que no haja erros. Agora, as discordncias: 1. No mencionei quantidade de erros. Mas j que a questo foi introduzida, gostaria de retificar o nmero mencionado. Os apenas trs Erramos correspondem na realidade a cinco erros, pois um deles corrige de um s golpe trs informaes. A esses cinco deve ser somado mais um, admitido em Nota da Redao de resposta ao deputado Nilmrio Miranda, nunca registrado em Erramos. E mais dois apontados em carta do deputado Fabio Feldmann que no foi respondida no Painel do Leitor, ao contrrio do que afirmam Bonassa e Pinheiro, nem objeto de Erramos. Ao todo, portanto, oito erros identificados. Sugiro que se pergunte aos que foram prejudicados por eles se significam muito pouco. 2. Nas Notas da Redao como agora na resposta dos reprteres de Braslia, a Redao adota uma postura defensiva. Pretende pr um ponto final nas crticas dizendo que as informaes so objetivas e verificveis e foram publicadas no Dirio do Congresso. Com isso, tenta castrar a nica discusso que interessa: a Folha adotou o melhor critrio para aferir a assiduidade dos parlamentares? Poderia ter includo em seu cmputo a presena em comisses e subcomisses? correto ressalvar no meio do texto que este tipo de atividade parte integrante do trabalho parlamentar e depois publicar pginas e tabelas com percentuais alarmantes de faltas em que essa ressalva no est destacada? A maioria das 14 cartas que compem a gritaria dos deputados prope essas questes, mas as Notas de Redao ignoram-nas olimpicamente. 3. H certa ironia na tentativa de desqualificar as crticas como corporativistas. A julgar por ela, passa a vigorar a seguinte regra: quanto mais pessoas reclamarem de uma notcia, mais correta ela ser. Para encerrar, s me ocorre dizer que o trabalho de um ombudsman se baseia em premissas exatamente opostas. E que nove leitores ligaram ou escreveram para o da Folha com o propsito de comentar o Olho no Voto. S trs a favor. Recebo carta do colunista Giba Um em resposta nota Desinformao, publicada domingo passado nesta coluna. Ele nega que a newsletterpor ele editada seja annima: o primeiro boletim com informaes reservadas distribudo, diariamente, por fax a seus assinantes e tem, na primeira pgina, a editora. Prossegue: No rodap da primeira pgina de transmisso, h mais dados sobre o expediente e o nome de seu Editor e Publisher, Gilberto L. Di Pierro (...) que, propsito (sic), no guarda `quaisquer rancores' com referncia empresa onde trabalhou cerca de 25 anos. O colunista pede ainda, com mais falhas de portugus, que sejam identificados os erros que cometeu em sua nota delirante. Eis aqui uma relao incompleta, acompanhada da sugesto de que os dirija diretamente para os quase mil assinantes de seu boletim: minha antecessora, Junia Nogueira de S, no foi afastada nem demitida, saiu por vontade prpria; seu mandato, como o meu, de um e no de dois anos (renovvel por outro ano); o estatuto da funo regido por norma interna da Folha, no por conveno internacional. MARCELO LEITE o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovvel por mais um ano. Ele no pode ser demitido durante o exerccio do cargo e tem estabilidade por um ano aps o exerccio da funo. Suas atribuies so criticar o jornal sob a perspectiva do leitor recebendo e checando as reclamaes que ele encaminha Redao e comentar, aos domingos, o noticirio dos meios de comunicao. Cartas devem ser enviadas para a al. Baro de Limeira, 425, 8 andar, So Paulo (SP), CEP 01202-001, a.c. Marcelo Leite/Ombudsman. Para contatos telefnicos, ligue (011) 224-3896 entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. | De olho no voto e no segundo turno MARCELO LEITE O que chamou a ateno nessas eleies foi a quantidade de votos brancos e nulos para o Legislativo e governos estaduais.Boa parte da razo foi o destaque dado eleio presidencial por via do Plano Real. Veja-se So Paulo: o segundo lugar na contagem coube aos votos nulos e brancos 24% -- , acima de Francisco Rossi. Em outros estados, a situao foi mais grave. Nas eleies legislativas, com variaes, a situao foi to diferente. A justificativa no pode ser atribuda ao desencanto com os polticos. Na minha opinio, antes tem a ver com o desinteresse e com a desinformao. A imprensa pode exercer um papel pedaggico e insinuante e , ao meu ver, foi nesse aspecto que falhou . Ela ficou encantada com o real e enfatizou excessivamente a campanha presidencial. No ms de agosto , 70,3% do que se publicou relacionou-se com a campanha federal; somente 7,9% com a estadual e 3,2% com a legislativa. Em setembro melhorou um pouco. Esses nmeros mostram muito bem a pouca relevncia dada s eleies a governador e legislativas. Para governador, ainda haver uma chance nos estados em que houver segundo turno. Uma das poucas e srias tentativas da Folha de informar o leitor foi o caderno Olho no Voto , com a idia de mostrar a posio dos deputados federais quanto a questes importantes, a sua assiduidade . Mas admiti tambm que continha alguns erros de informao e enfoque, que comprometeram todo o esforo. Essa observao motivou a resposta dos jornalistas da Sucursal de Braslia, que trabalharam no levantamento de dados. Revendo dados em que eles se basearam, no concordo com as argumentaes. Acho at que essa postura defensiva pretende pr fim s crticas , em lugar de abrir o caderno para melhorar a qualidade das informaes. |
di94fe20-10 | Afinal, o Plano FHC tira sua mscara Projeto que ser enviado ao Congresso Nacional mostra quem vai ser sacrificado. A sociedade vai reagir? ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Segunda-feira de Carnaval. Nos jornais, a manchetinha simptica: Caderneta de poupana escapa da URV. Vale dizer: a poupana continuar a pagar correo monetria de acordo com os ndices de inflao hoje existentes. No sofrer, portanto, o achatamento em seus rendimentos, inevitvel com o uso da Unidade Real de Valor, j que a criao da nova moeda prev que os reajustes sero feitos pela inflao mdia de meses anteriores. Para milhes de brasileiros, a manchetinha parece tranquilizadora e agradvel. Mostra que o ministro Fernando Henrique Cardoso e sua equipe so sensveis, querem evitar prejuzos aos milhes de pequenos investidores com dinheiro na poupana. Quem ler o noticirio at o final, porm, vai ver que a realidade muito diferente. A manchetinha simptica, sim, ao ministro e sua equipe, pois ela claramente manipula a informao, ao sugerir que a poupana vai ter um tratamento diferenciado. E no nada disso. A reportagem um furo. Traz uma sntese das decises tomadas, em pleno Carnaval, pela equipe econmica, para implantao da URV, isto , para reajustes de acordo com a inflao mdia. A poupana, como se viu, fica de fora. E as demais aplicaes financeiras, de interesse dos especuladores e participantes da ciranda? Vamos dar a palavra ao noticirio, para que no haja dvidas: Demais aplicaes continuam com seus indexadores atuais. E os impostos? A Receita Federal no quer usar a URV... A Ufir pode continuar indexando os impostos... E o Oramento da Unio? A MP manda no (sic) usar no Oramento Geral da Unio. At aqui, portanto, esto fora do achatamento a poupana e todas as demais espcies de jogos de ganhar juros, sem trabalhar um dos maiores focos da inflao brasileira. Tambm esto de fora os impostos e o Oramento. Ento, o que que a URV vai achatar para derrubar a inflao? Os preos das empresas? Santa ingenuidade. A reportagem revela que a MP fala em mecanismos de induo para a converso dos preos de cruzeiros reais em URV. Traduzindo em portugus: a dupla Cardoso/Serra mantm os compromissos assumidos com os empresrios. O uso da URV, isto , os reajustes limitados pela inflao mdia, no sero obrigatrios. As empresas continuaro fazendo o que bem desejarem. Como os empresrios brasileiros raramente cooperam mesmo com os ministros altamente cooperativos a equipe FHC prev mecanismos de induo ou, pode-se apostar, a concesso de prmios, como a reduo de impostos, para empresas que reajustarem preos abaixo da inflao passada. Ento, isso. Esto fora do achatamento: o mercado financeiro, as empresas e empresrios, e o prprio governo (impostos). O que sobra? Ora, caros ingnuos: evidentemente sobra a massa trabalhadora. A MP prev que o salrio mnimo ser devidamente achatado pela URV. Os vencimentos do funcionalismo, idem. Os salrios em geral, ibidem. E, claro, as aposentadorias mais ainda. Ento, isso. O Plano FHC no existe. uma grande empulhao. Est provado, pela prpria Medida Provisria da equipe FHC, que seu nico objetivo achatar mais ainda os salrios, os ganhos da massa trabalhadora. O resto encenao. O ministro e seus assessores poderiam simplesmente ir TV e anunciar ao pas que, a partir de amanh, os ganhos do trabalhador sero ainda mais achatados (no se esquea que eles j esto sendo achatados, com os reajustes dez pontos percentuais abaixo da inflao e apenas at certas faixas. E que o trabalhador de salrio mnimo e os aposentados sero outra vez massacrados, vtimas de genocdio (fome, doenas, mortes) como na fase Marclio. Claro que esse anncio poderia provocar reaes. Ento, lana-se mo de um estratagema: inventa-se um plano mirabolante, arriscadssimo, capaz de lanar a economia no caos. Tudo, para encobrir a verdade. Por que a equipe FHC vai aprofundar o achatamento? Claro que no por sadismo (embora o deslumbramento trazido pelo poder costume justific-lo). A equipe FHC, simplesmente, aderiu s teorias ortodoxas, antigamente chamadas de conservadoras, que indicam a recesso como forma de derrubar a inflao. A sociedade no se apercebeu, mas o ministro quer levar o pas a uma recesso. aritmtico. O povo brasileiro ainda no se deu conta de que, sem a obrigatoriedade da URV, o consumidor vai continuar pagando a correo monetria da inflao velha nas prestaes da casa prpria, nas mensalidades escolares, nas tarifas de nibus, nos juros do credirio, nos contratos de aluguel, nos impostos etc.. E enfrentar a inflao nova, de hoje em dia, nos demais preos. Tudo isso com os salrios e aposentadorias devidamente achatados. Claro que o brasileiro vai comer menos. Comprar menos. Claro que o consumo vai cair, abrindo caminho a novo perodo recessivo. Fome, doenas, mortes. A sociedade brasileira no precisa aceitar bovinamente esse caminho. H alternativas para o combate inflao e um deles, repita-se, a prefixao de reajustes, negociada com empresrios e trabalhadores. A reao deve sensibilizar o Congresso pois ele detm a representao popular e no meia dzia de economistas. Para essa virada, outros sofismas e mentiras precisam ser urgentemente rebatidos: Salrios H exatos 30 anos, os ministros tentam combater a inflao com o simples achatamento dos salrios. O ministro Barelli, antes de ingressar na equipe tucana de FHC, chamou a ateno para o que parece bvio, mas sempre foi ignorado nas anlises econmicas: quando se retira uma fatia dos salrios para combater a inflao, as empresas deveriam tambm retirar uma fatia proporcional do reajuste de seus preos e a inflao deveria declinar. Lucros Na teoria, o achatamento dos salrios tem sido adotado para derrubar a inflao. Na prtica, as empresas continuam a reajustar preos, no mnimo de acordo com a inflao do ms anterior, ou de acordo com as expectativas da inflao futura. Resultado: a fatia retirada dos salrios vira nova fatia de lucro das empresas. E a inflao, em alta. Massacre Estudo divulgado pelo Dieese durante a semana mostra queda brutal dos salrios nos ltimos anos. Na mdia, seu poder de compra recuou em 50%, chegando aos 70% em algumas categorias. Vale achatar mais? Genocdio Numa encenao eleioeira srdida, ministros fingem que defendem um salrio mnimo de US$ 100, outros fingem que s d para pagar US$ 65. E t tudo combinado: no final, anuncia-se um valor de US$ 80 a US$ 85 e repete-se a cantilena de que tudo foi decidido democraticamente. . Milhes de famlias devem at festejar. Elas vo passar ainda mais fome, verdade. Mas tudo com democracia la FHC. Previdncia A equipe FHC quer achatar o salrio mnimo alegando que se ele fosse a US$ 100 a Previdncia quebraria, j que as aposentadorias acompanham o seu valor. Mistificao. Chantagem para forar o Congresso a aprovar mudanas na Previdncia, na reviso constitucional. A verdade? A gesto Britto mostrou, nestes ltimos anos, que tambm no caso da Previdncia no h falta de recursos, e sim falta de combate sonegao. E, ainda, excesso de bondade de ministros para com sonegadores, que tiveram suas dvidas parceladas em at 15 anos. Impostos Revelao da semana: a Receita Federal no recebeu verbas do Ministrio da Fazenda, nem para imprimir os formulrios do Imposto de Renda, nem para comprar o selo nos Correios. Por isso, o Leo precisa usar a Caixa Econmica Federal e o Banco do Brasil para entregar os formulrios de declarao anual. E se at esses tostes so negados, com atrasos e adiamentos previsveis na arrecadao, o que ser que est acontecendo com as verbas necessrias para reequipar, informatizar a Receita e combater a sonegao? Ao que tudo indica, persiste a poltica, adotada pelos ministros nos ltimos anos, de destruir a fiscalizao e impedir o combate sonegao. E da? s aumentar impostos. E achatar os vencimentos do funcionalismo. Nesta Quaresma, pare para pensar. Existe outro povo que aceitaria bovinamente todas essas contradies e desmandos? O brasileiro otrio? Ou otrio? ALOYSIO BIONDI, 56, jornalista, foi diretor de Redao da revista Viso e editor de Economia da Folha. | Afinal, o Plano FHC tira sua mscara Projeto que ser enviado ao Congresso Nacional mostra quem vai ser sacrificado. A sociedade vai reagir? ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Caderneta de poupana escapa da URV . a manchetinha simptica ao pequeno investidor , que no sofreria achatamentos nos seus rendimentos , previstos pela URV. Ela parece indicar a sensibilidade do ministro FHC e de sua equipe .Mas a leitura plena da reportagem mostra que o privilgio um engodo. Alm da poupana , ficam de fora do clculo da inflao mdia as demais aplicaes financeiras, os impostos e o Oramento da Unio. Ento, o que que a URV vai achatar para derrubar a inflao? Os preos das empresas? A MP fala em mecanismos de induo para conter os preos , o que , traduzindo, significa que elas continuaro a seguir o prprio nariz , ou ter prmios, como a reduo de impostos, para fazer reajustes com base na inflao passada. O que sobra? Sobra a massa trabalhadora , cujos salrios, segundo a MP ,sero achatados , inclusive os dos funcionrios pblicos. O Plano FHC no existe, um engodo. Seu objetivo achatar os salrios. Se o ministro e seus assessores fossem TV anunciar essa verdade, provocariam uma reao. Ento, inventa-se um plano mirabolante, capaz de levar a economia ao caos. Ele calcada em teorias ortodoxas, que defendem a queda da inflao com a recesso. Com seus salrios achatados, a classe trabalhadora vai continuar pagando correo nas prestaes da casa prpria, nas mensalidades escolares, nas tarifas de nibus, nos credirios , nos impostos, etc. A sociedade no precisa submeter-se a isso, pois h alternativas para reduzir a inflao, entre as quais a prefixao de reajustes negociada com empresrios e trabalhadores. O achatamento salarial ,considerado o caminho antiinflacionrio , negado pelo prprio ministro Barelli antes de tucanar. Ele diz que a frao subtrada do salrio para combater a inflao deveria ter como correspondente a subtrao equivalente no reajuste dos preos. Na prtica , o que acontece que a fatia tirada dos trabalhadores soma-se ao lucro da empresa. A equipe de FHC diz que a convenincia de achatar o salrio-mnimo est na ameaa de quebra da Previdncia, pois os reajustes dos aposentados so feitos com base no mnimo. No verdade. Na sua gesto, Britto mostrou que, nos ltimos anos , no faltam recursos Previdncia , mas falta combate sonegao. Onde esto as verbas para reequipar, informatizar a Receita visando combater a sonegao? A poltica adotada pelos ministros no caminha nessa direo. Basta aumentar impostos e achatar salrios. |
ce94jl11-c | O ano 1000 da era crist foi comemorado apenas numa pequena regio do planeta, por uma frao reduzida da humanidade. A data s tinha significado para uma cristandade sitiada, numa parte da Europa, por pagos do Norte, invasores nmades ao Leste e muulmanos ao Sul. Meio milnio mais tarde, a cristandade comeou sua conquista do mundo rebatizando-se aos poucos de Ocidente e impondo seu calendrio. O ano 2000, embora longe de gerar a ansiedade da virada anterior de milnio, suscitar uma comemorao mais ou menos planetria. O ano 1000 foi precedido de profecias apocalpticas. O que acontecer no ano 2000 e depois tem sido tema para escritores, economistas, politiclogos e cineastas. Todo um gnero literrio nasceu dessas especulaes: a fico-cientfica. Dois de seus primeiros praticantes, o francs Jules Verne e o ingls H.G. Wells, fizeram predies interessantes. Verne concentrou-se na evoluo da tecnologia e os desenvolvimentos que tematizou concretizaram-se antes do que se previa. A viagem lua de Wells tambm coisa do passado. Mas este, em A Mquina do Tempo, abordou as possveis consequncias de um aprofundamento do abismo entre as classes, imaginando que ele chegaria a gerar uma mutao que subdividiria a humanidade em duas espcies distintas. Num pas como o Brasil, isto talvez no esteja to longe de acontecer. No entanto, as trs obras de antecipao mais discutidas pertencem ao que poderamos chamar de fico cientfico-poltica. A primeira delas Ns do russo Ievguni Zamitin que, por sua vez, inspirou as duas outras, Admirvel Mundo Novo, de Aldous Huxley, e 1984, de George Orwell, ambos autores ingleses. As trs imaginavam qual seria o destino do homem num mundo concebido segundo as frmulas dessa inveno particularmente moderna: a engenharia social. Seu pano de fundo era o totalitarismo e todas se mostravam profundamente pessimistas. Hiroshima e Nagasaki, em 1945, realimentaram a fico-cientfica com o elemento central da ansiedade do primeiro milnio, pois a Bomba transformara, durante a Guerra Fria, o apocalipse numa possibilidade real. Mas em 1989 aconteceu o que nenhum escritor do ramo ousara profetizar: o bloco comunista comeou a desmoronar e, pouco depois, Leningrado foi desrebatizada, voltando a se chamar So Petersburgo. Nos Blcs, o futuro voltou ao passado, primeiro a 1941 e, agora, a 1912 ou mesmo antes. No Cucaso e na frica Central o que est ocorrendo um renascimento do neoltico ou talvez do paleoltico, com guerras tribais de todos contra todos, como j dizia, sculos atrs, Thomas Hobbes. Isso, novamente, quase ningum previu. O passado, alis, tornou-se no sculo 20 um assunto muito mais palpitante do que o futuro, principalmente porque a arqueologia produziu mais novidades do que a poltica ou a cincia. No a toa, portanto, que os livros dedicados a recontar a histria de acordo com novas teorias e conhecimentos O Nome da Rosa de Umberto Eco, ou Memrias de Adriano de Marguerite Yourcenar obtiveram mais sucesso que obras profticas e/ou especulativas. Assim, as fantasias futuristas deslocaram-se dos livros para o cinema. No h uma nica obra literria desse gnero que tenha conseguido a repercusso do 2001 - Uma Odissia no Espao, filme de Stanley Kubrick. No entanto, seu porvir assptico e seu imenso computador rebelde parecem hoje obsoletos. Afinal, os anos 80 domesticaram definitivamente o computador e a nova conscincia ecolgica faz muita gente imaginar o prximo milnio como algo superpovoado, poludo e sujo. A encarnao mais durvel, at o momento, da fantasia futurista se encontra em Blade Runner de Ridley Scott, que tematiza no apenas a degradao ambiental, mas tambm a engenharia gentica. O autor do livro em que se baseou o filme, Phillip K. Dick, foi dos poucos que, na fico-cientfica, aproximou-se da profecia ao tratar tanto desses assuntos como da importncia crescente das drogas no mundo moderno. As previses mais exatas, contudo, foram recentemente realizadas no por um futurlogo profissional nem por um roteirista hollywoodiano, mas pelo poeta e ensasta alemo Hans Magnus Enzensberger. O posfcio ao seu A Outra Europa uma reportagem ficcional extrada do The New New Yorker de 21 de fevereiro de 2006. O reprter americano que a escreve fala de Ceausescu, o ditador comunista da Romnia: Aquele velho gngster demoliu o que pde, at ser morto tiros por seu prprio pessoal. S que Enzensberger escreveu de fato seu texto em 1987, enquanto Ceausescu foi morto em fins de 1989. A reportagem refere-se tambm s runas do muro de Berlim e abolio do tabagismo nos EUA. Tal clarividncia rara, mas existe. E onde menos se espera. | O ano 1000 foi comemorado s numa parte da Europa , exatamente aquela em que contexto histrico mostrava a Igreja Catlica sitiada por trs foras invasoras ,que a ameaavam. No toa que ele foi precedido de profecias apolpticas, divulgadas pela prpria Igreja , com finalidade estratgica. A chegada do ano 2000 veio antecedida de previses de outra natureza, sem descartar ameaas apocalpticas comprovadas. Jlio Vernes e H.G. Wells previram acontecimentos fantsticos com base na evoluo tecnolgica, que de fato aconteceram. Mas as trs obras de previso com carter mais polmico esto ligadas fico cientfico-poltica. So elas: Nsdo russo Ievguni Zamitin , que inspirou as duas outras --- Admirvel Mundo Novode Aldous Huxley e 1984 , de George Orwell. As trs mostram a atuao totalitria do poder sobre a sociedade , numa viso muito pessimista. As bombas lanadas sobre Hiroshima e Nagasaki trouxeram as antevises apocalpticas para o plano real. Mas as surpresas que nenhum escritor do ramo conseguiu anunciar foram o desmantelamento da Unio Sovitica , e as guerras tribais que esto acontecendo no Cucaso e na frica Central. Esse retorno ao passado, no ano 2000, mais palpitante do que o interesse pelas conquistas do futuro. Mais recentemente, as fantasias futuristas foram incorporadas pelo cinema, por exemplo, em 2001 - Uma Odissia no Espao , cujo contedo j parece, hoje, obsoleto. O filme que mantm mais atualidade quanto a essa fantasia futurista Blade Runner . Alm de focalizar a degradao ambiental e a engenharia gentica, mostra a importncia crescente das drogas na atualidade. No entanto , as previses mais exatas vm pela sensibilidade do poeta e ensasta alemo, Hans Magnus Enzensberger. O posfcio do seu livro A Outra Europa uma reportagem ficcional de um americano , que fala dos abusos de Ceausescu e da sua morte a tiros pelo seu prprio pessoal. O curioso que seu texto de 1987 e a morte de Ceausescu de 1989. |
co94de16-28 | Governo dos EUA sorteiam 55 mil vistos em janeiro SRGIO MALBERGIER * Da Reportagem Local O governo dos EUA abre em janeiro de 95 mais uma loteria para concesso de vistos para residncia permanente no pas, conhecidos como green card. Ao todo sero concedidos 55 mil vistos para todo o mundo. Para a Amrica do Sul, sero sorteados 2.407 vistos em 95. Se os brasileiros tiverem muita sorte, podem ficar com todos. O sorteio, feito por um computador, por regio, no por pas. Neste ano, 477 brasileiros foram sorteados. Os portadores do green card podem viver e trabalhar nos EUA e, depois de cinco anos, ganham a cidadania americana. Se durante esses cinco anos se ausentarem por mais de 12 meses do pas, perdem o visto. A quota de vistos por regio baseada no nmero de green cards concedidos nos ltimos cinco anos. A loteria parte do Programa de Diversificao da Imigrao, do Departamento de Estado, cuja inteno equilibrar o fluxo imigratrio. Por isso, alguns pases esto excludos do sorteio este ano, j que forneceram elevado nmero de imigrantes aos EUA recentemente. So eles: China, Taiwan, ndia, Filipinas, Vietn, Coria do Sul, Reino Unido (exceto Irlanda do Norte), Canad, Mxico, Jamaica, El Salvador, Colmbia e Repblica Dominicana. As inscries devem chegar ao Departamento de Estado entre 31 de janeiro e 1 de maro do ano que vem. Elas devem conter nome, data, local de nascimento e endereo. As instrues de como se inscrever, inclusive sobre o tamanho do envelope, devem ser seguidas risca (ver quadro nesta pgina). Qualquer irregularidade implica a desclassificao. O nico pr-requisito para a inscrio nesta primeira fase ter segundo grau completo ou experincia de trabalho. S ser preciso apresentar prova de que atende ao pr-requisito aps a seleo. O escolhido dever atender aos requisitos normais para receber o green card, como ter prova de bons antecedentes, boa sade e de que no cometeu fraude contra o governo americano. At 1 de julho de 1995, um computador far a escolha aleatria dos candidatos para cada uma das seis regies geogrficas determinadas (Amrica do Sul, frica, Oceania, Europa, sia e Amrica Central). Os sorteados sero avisados pelo correio, no endereo escrito por eles na inscrio, e recebero as instrues de como dar prosseguimento ao processo. Pessoas no selecionadas no sero notificadas. As embaixadas e consulados dos EUA no exterior no tero listas com os ganhadores em sua regio. A inscrio gratuita e o governo americano ressalta que no h necessidade de recorrer a intermedirios para enviar as inscries. 477 sorteados A loteria do green card sorteou 477 brasileiros este ano. Eles ainda tero que apresentar uma srie de documentos e se submeter a uma entrevista no consulado, no Brasil, antes de receber o visto. O Departamento de Estado dos EUA comunicou os vencedores por carta. A lista dos nomes sigilosa e nem os consulados norte-americanos tiveram acesso. Sero concedidos green card para 2.589 dos 9.475 sorteados pelo computador para toda a Amrica Latina. O nmero maior para garantir que todos os Green Cards sejam distribudos, j que o departamento prev a desclassificao de parte dos concorrentes. Qualquer irregularidade ou inverdade nas informaes prestadas na primeira fase da loteria podem desclassificar o sorteado. Ficam de fora as pessoas que j cometeram alguma crime, tiveram ligao com o trfico de drogas ou praticaram fraude contra o governo norte-americano. Tambm so desclassificados os polgamos (pessoas que tm mais de um cnjuge) ou quem no preencher corretamente os novos formulrios distribudos pelo departamento. Os documentos obrigatrios com cpias que todos os sorteados devero apresentar na segunda fase so carteira de identidade, passaporte, declarao de imposto de renda, certido de nascimento, diploma de 2 grau ou comprovante de trabalho, atestado de antecedente e comprovante de servio militar, alm de duas fotos coloridas. Os casados tambm devem apresentar certides de casamento e de nascimento dos filhos (se houver). Aqueles que conseguirem o visto tm direito de levar marido ou mulher e os filhos solteiros menores de 21 anos para os EUA. Caso mais que 2.589 pessoas preencham os requisitos necessrios para receber o Green Card, sero contemplados apenas os primeiros na ordem de sorteio. Mundo Foram concedidos 55 mil vistos para o mundo todo este ano. Segundo o Departamento de Estado, 6,4 milhes de pessoas concorreram no sorteio. * Colaborou PATRICIA DECIA | Governo dos EUA sorteia 55 vistos em janeiro Da Reportagem Local (Colaborou PATRCIA DECIA) O governo americano sorteia, em janeiro de 95 , concesso de vistos para residncia permanente nos pas, chamados green card. Os portadores dos green card , aps 5 anos de moradia e trabalho nos EUA , recebero cidadania americana. Para a Amrica do Sul sero sorteados 2.407 em 95. O sorteio por regio . Neste ano, 477 brasileiros foram contemplados. A loteria faz parte do Programa de Diversificao de Imigrao, do Departamento de Estado, para equilibrar o fluxo imigratrio. Por isso, alguns pases esto excludos este ano , por excesso de contingente nos EUA. Para a primeira fase , s exigido certificado de segundo grau ou de experincia de trabalho . Os escolhidos devero atender estes requisitos: prova de bons antecedentes, boa sade, e no ter cometido nenhuma fraude contra o governo americano. At 1 de julho de 1995, um computador selecionar aleatoriamente os candidatos de cada uma das seis regies. Sero avisados pelo correio. Os 477 brasileiros contemplados neste ano tero que apresentar uma srie de documentos e ser entrevistados no consulado no Brasil. Para toda a Amrica Latina sero concedidos 2.589 green card dos 9.475 selecionados pelo computador. O exagero devido possvel desclassificao de alguns concorrentes. Sero desclassificados os que cometeram algum crime, que tiveram ligao com o trfico, praticaram irregularidade contra o governo americano e os polgamos. Segundo o Departamento de Estado, dos 6,4 milhes que concorreram , 55 mil receberam o visto. |
di94ma15-18 | O plano, a URV, o real e os economistas Com a taxa de inflao projetada de 50% para maio, a perda acumulada pelos assalariados considervel MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha O economista Delfim Netto de vez em quando faz crticas ao plano do governo com as quais sou obrigada a concordar, por sua objetividade, apesar de seu passado e de sua atual condio: um dos deputados mais atuantes da direita deste pas. Na ltima quarta-feira, porm, o ex-ministro escreveu nesta Folha um artigo intitulado Os economistas e a URV, no qual mistura um didatismo, herdado de sua condio de ex-professor, com meias verdades sobre a natureza do plano de estabilizao e que termina com um pito nos seus colegas do atual governo. Duas frases demonstram claramente o seu apreo ao lado conservador do plano e sua continuada adeso aos princpios do autoritarismo. Diz ele, textualmente: Estabelecendo que o salrio real mdio em URV permaneceria constante, as perturbaes distributivas mais perigosas foram neutralizadas e, no final do artigo, faz as seguintes consideraes: O lamentvel que o governo no consiga controlar os partidos que o apiam. Eles deveriam ficar quietos... Nestes ltimos 45 dias o silncio ouro! Evidentemente, o deputado gostaria de regressar ao silncio de chumbo da ditadura onde ele fazia o que queria e negociava com a bancada rural sem que a imprensa pudesse noticiar como agora os acordos que o governo est fazendo para ver aprovada a MP. A imprensa igualmente publicou os protestos do deputado Paulo Paim, do PT, contra um novo artigo, includo na reedio da MP, que probe a correo automtica dos salrios convertidos em URV em prazo inferior a um ano. Tambm publicou, meses atrs, embora sobre ataque geral dos editoriais e dos articulistas conservadores, uma proposta do mesmo deputado sobre a indexao mensal dos salrios ao dlar, destinada a evitar justamente que a distribuio de renda, j de si pssima, piorasse mais ainda com a acelerao inflacionria. Naquela altura, o deputado Delfim Netto foi um dos primeiros a atacar a proposta do PT que, no entanto, se destinava apenas a tentar garantir a neutralidade distributiva da dolarizao disfarada que estava a caminho. curioso que hoje Delfim reconhea em seu artigo que, afinal, o plano de estabilizao previu uma acelerao inflacionria que tenta mimetizar os efeitos de uma hiperinflao controlada e, apesar disso, acha perfeitamente legtimo que, nas suas prprias palavras, 1) A correo cambial seja praticamente coetnea com a inflao `projetada'; 2) que a correo salarial tenha uma defasagem de apenas duas ou trs semanas. Com a acelerao inflacionria ocorrida a partir de novembro e uma inflao projetada pelo mercado financeiro de 50% ao ms para maio, a perda acumulada pelos assalariados considervel e para os que no dispem de conta corrente remunerada, que so a maioria, intolervel. Devo dizer que, apesar de minha admirao pelo plano Cavallo ser muito remota, tenho de admitir que quando a Argentina se aproximou da hiperinflao o seu ministro teve pelo menos a hombridade de fazer um acordo que comprometia os empresrios argentinos a fixar os preos em dlar dos bens transveis de primeira necessidade (em particular os alimentos), fixando tambm o salrio mnimo em torno de US$ 125, cifra que era compatvel com o custo da cesta bsica familiar. Ou seja, a dolarizao argentina, ao ser instantnea, impediu a deteriorao contnua do poder de compra dos salrios e evitou uma catstrofe social. Como sabemos, o nosso plano de estabilizao no fez tal coisa. Manteve a liberdade de preos em cruzeiros reais e em dlar e no fixou sequer em URV os preos da cesta bsica, a qual alcanou em maro mais de US$ 90. Teve, porm, a audcia inominvel de fixar em URV (no-reajustvel durante um ano) o valor do salrio mnimo pelo equivalente, em 1 de maro, a pouco mais de US$ 60. Como os salrios no so pagos em dlar nem em URV, mas em miserveis cruzeiros reais, estamos assistindo ao maior arrocho salarial da histria recente do Brasil, com este inteligente experimento de hiperinflao controlada. Prosseguindo o meu dilogo com o prof. Delfim Netto, fao um apelo sua memria no que diz respeito aos oligoplios. Lembro-lhe que foi no seu seminrio da USP, em 1961, que tive o privilgio de ser apresentada, por seu intermdio, ao falecido economista polons Kalecki, que ensinou, a ns dois e a muitos economistas brasileiros e latino-americanos ali presentes, vrias coisas que nunca deveriam ser esquecidas por nenhum economista. Por exemplo: que no eram os salrios reais (s conhecidos como um resultado ex-post), mas as margens de lucro dos oligoplios que determinavam tanto os nveis de preos praticados em mercado pelos vrios setores quanto, em termos agregados, a distribuio de renda entre lucros e salrios. Assim, o oligoplio no um inimigo imaginrio, mas um dado da realidade contempornea que no se elimina por uma abertura externa pseudo-liberalizante, como ambos sabemos h muito tempo, em particular no que se refere ao preo da cesta bsica. A cesta bsica de nenhum pas pode ser inteiramente importada. No caso brasileiro, grande produtor e exportador de alimentos, o preo das importaes afeta sobretudo os preos internos dos insumos, em particular os energticos, que so um componente de custo muito importante na produo e transporte dos alimentos. Ora, os preos da energia, graas existncia de monoplios de Estado que permitem subsdios cruzados (ordenados por prioridades estratgicas e para equalizar os preos em um mercado continental), esto entre os mais baratos do mundo, para desgosto das elites financeiras que tanto gostariam de v-los privatizados. Infelizmente, a taxa de cmbio que o governo pretende converter em ncora contra a inflao joga sempre um papel perverso nas atuais condies de estagnao do mercado interno e acirrada concorrncia internacional. Se a taxa de cmbio sobe, encarece o custo das importaes de insumos bsicos, da produo de alimentos e do transporte e o custo da dvida externa expressa na mesma moeda. Se, pelo contrrio, baixa, como inteno do governo ao deixar atrasar a taxa real de cmbio e pretender congelar a nominal por certo perodo depois do real, ou as empresas deixam de exportar ou buscam formas de compensar essas perdas externas. Quais so as formas conhecidas de compensao? Subir a margem de lucro interna, expressa em dlares. Seja atravs da elevao das taxas de juros cobrados para comprar dvida pblica em troca das divisas entregues ao Banco Central, seja atravs de preos administrados internos mais altos em dlar, URV ou real. Qualquer observador no muito sagaz reconhece que esta ltima soluo foi a escolhida nos ltimos meses (da a chamada inflao em URV ou em dlar). Por todas essas razes, os ex-ministros e o atual deveriam reconhecer que as etapas do plano de estabilizao esto longe de ser neutras em qualquer sentido e que o candidato do governo teve cerca de um ano para corrigir o salrio mnimo, o que muito mais difcil de fazer depois de introduzir a nova moeda. Alis, todos os economistas que se pretendem srios esto cansados de saber que no existe poltica econmica neutra. Assim, a poltica econmica, para ser eficaz, requer negociao e no imposio, nem silncio, muito menos o silncio dos tanques. A necessidade de silncio na terceira fase do plano decorre de que, uma vez descartada por decreto a questo dos salrios, pelo menor poder de revide dos assalariados, o que est em tela de juzo a distribuio intercapitalista de lucros e a conta a pagar pelo Tesouro para comprar o silncio das classes dominantes e lev-las a apoiar o candidato do governo. Evidentemente, custa caro silenciar a bancada rural e, mesmo em silncio, difcil negociar, por debaixo do pano, o artigo 36 da MP, que tanto preocupa os banqueiros. O ex-ministro Delfim Netto, afinal, tem razo: nos prximos 45 dias, o silncio vale ouro! Ou ser que vale at chumbo? MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, economista, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp). | O plano , a URV, o real e os economistas Com a taxa de inflao projetada de 50% para maio, a perda acumulada pelos assalariados considervel MARIA DA CONCEIO TAVARES- Especial para a Folha Delfim Netto , vez outra, faz crticas ao plano do governo, com as quais sou forada a concordar, pela objetividade. Porm, no seu artigo da ltima quarta-feira Os economistas e a URV ,com meias verdades sobre a natureza do plano de estabilizao e com um pito nos seus colegas do governo, demonstra seu conservadorismo e sua afinao com princpios autoritrios. Diz ele: Estabelecendo que o salrio real mdio em URV permaneceria constante, as perturbaes distributivas mais perigosas foram neutralizadas , com as seguintes consideraes no final: O lamentvel que o governo no consiga controlar os partidos que o apiam . Eles deveriam ficar quietos... Nestes ltimos 45 dias o silncio ouro! Certamente, o ex-ministro preferiria retornar aos anos de chumbo da ditadura, quando ele mandava e desmandava , negociava com a bancada rural sem a liberdade que a imprensa tem agora. A imprensa publicou os protestos do deputado Paulo Paim, do PT, contra um novo artigo que probe a correo automtica dos salrios convertidos em URV em prazo inferior a um ano. Tambm publicou uma proposta dele sobre a indexao mensal dos salrios ao dlar, para impedir que a distribuio de renda piorasse mais. Naquele momento, o deputado Delfim atacou a proposta, que somente tentava garantir a neutralidade distributiva da dolarizao disfarada a caminho. Com o avano da inflao a partir de novembro e uma inflao projetada de 50% para maio, a perda salarial descomunal. Diferentemente da dolarizao argentina , que impediu uma deteriorao constante dos salrios, nosso plano no tomou tal medida. Porm ousou fixar em URV (no-reajustvel durante um ano) o salrio mnimo no equivalente a US$60. o maior arrocho salarial da nossa histria recente. Indicado por Delfim, conheci o economista polons Kalecki , que ensinou que no eram os salrios reais mas as margens de lucro dos oligoplios que determinavam a alta dos preos e a distribuio de renda entre lucros e salrios. A taxa de cmbio que o governo pretende converter em ncora contra a inflao sempre exerce um papel malvado durante a estagnao do mercado interno e a dura concorrncia internacional. Se ela sobe, eleva o custo das importaes de insumos bsicos, da produo de alimentos e do transporte e o custo da dvida externa; se baixa, as empresas ou no exportam ou buscam formas de compensar as perdas, subindo a margem de lucro interna soluo escolhida nos ltimos meses. Os ex-ministros e o atual deveriam reconhecer que as etapas do plano de estabilizao no so neutras e que o candidato do governo teve um ano para corrigir o salrio mnimo , o que dificilmente ser feito aps a nova moeda. |
ce94mr27-29 | Nem tudo foi treva e martrio na cultura Lembrado como um perodo de silncio e medo, o ciclo cultural durante o regime militar tambm teve Alegria, Alegria e gerou o tropicalismo, um movimento que continua influenciando a melhor cultura do pas MARCOS AUGUSTO GONALVES Editor da Revista da Folha A memria que se ergue do pasado cinzenta, sufocante, opressiva: censura, exlio, desespero a cultura brasileira nos anos do regime militar projeta-se na imagem dilacerante de um heri prometico condenado ao suplcio pela onipotncia do leviat autoritrio, irracional, devastador. Obras banidas ou mutiladas, autores presos, leituras clandestinas, universidades sob interveno. Silncio e medo. A imagem no falsa, mas considerada homognea e genericamente falseia o relevo e aplaina o terreno para que se erga no horizonte a miragem das mitificaes. Se impossvel pensar a cultura da poca sem a sistemtica ao autoritria do Estado contra o trabalho de artistas e intelectuais, igualmente foroso reconhecer que nem tudo resumiu-se ao glorificado herosmo da resistncia. Nem tudo foi choro e ranger de dentes, nem tudo foi treva e martrio, e por paradoxal que parea, ao longo dos anos da ditadura, a cultura esteve longe de ser condenada estagnao: por caminhos muitas vezes insuspeitados e tortuosos, seguiu a vereda da modernizao e da internacionalizao, aperfeioou suas tcnicas, desenvolveu novos instrumentos, confrontou-se com o consumo e desprovincianizou-se. A idia de que cultura e regime caminharam sempre em sentido oposto e conflitante e de que a atuao do Estado e de seu sistema voltou-se monoliticamente para a destruio do meio cultural elimina, pelo maniquesmo, nuances que podem ser esclarecedoras. No se trata de refazer a histria e dotar o perodo autoritrio de um vetor positivo em seu confronto com a produo cultural, mas de se reconhecer que houve etapas diferentes, com graus diversos de interveno, e que o modo pelo qual o Estado relacionou-se com a cultura no se restringiu negatividade da represso. Se do ponto de vista poltico e econmico, o governo militar apresentou-se para viabilizar, a ferro e fogo, a insero do Brasil numa nova etapa do mundo capitalista, que j se desenhava nos anos do desenvolvimentismo, sua estratgia diante da rea cultural no foi a da mera e brutal aniquilao, mas a de promover uma crescente institucionalizao do sistema de produo artstica e intelectual, seja sob o patrocnio do Estado (como nos casos da Embrafilme ou da Funarte), seja na organizao de uma indstria cultural moderna e bem aparelhada cujo caso exemplar a Rede Globo. Neste sentido, o perodo autoritrio correspondeu passagem de uma cultura de forte inclinao antimercadolgica, marcada pela experimentao esttica ou pela preteno revolucionria (com todos os seu cacoetes populistas) para um regime de criao cultural cada vez mais voltado para o mercado e o consumo. Duas atitudes bsicas, nem sempre distantes entre si, mas diversas em seus programas e projetos , caracterizaram a resposta do setor cultural ao advento do Brasil sob governo militar. De um lado, acirrou-se a reao marcadamente militante, mais diretamente identificada com as propostas poltico-ideolgicas das esquerdas organizadas, cujas manifestaes procuravam realar o que se entendia na poca por cultura nacional e popular, rechaando a influncia imperialista e suas armas culturais entre as quais incluiam-se a televiso voltada para o consumo e para a alienao, as formas artsticas americanizadas, a cultura pop e at... a guitarra eltrica. Esta vertente, francamente conteudista, derivava das experincias realizadas no perodo pr-64 pelos Centros Populares de Cultura (CPCs), ligados Unio Nacional dos Estudantes, que privilegiavam a mensagem e procuravam falar uma idealizada linguagem do povo. A cultura, neste caso, deveria submeter-se ao imperativo maior da transformao poltica e evitar a qualquer custo e combater as formas identificadas com o domnio ideolgico do imperialismo, com a elitizao e o formalismo. De outro lado, fixava-se a vertente que, igualmente em confronto com o regime autoritrio e com o obscurantismo oficial, considerava inevitvel e mesmo desejvel que o pas mantivesse seus ponteiros acertados com a contemporaneidade, abrindo-se para as influncias da cultura de massa, para a modernizao tecnolgica e para os movimentos internacionais. Herdeira do modernismo antropofgico de Oswald de Andrade, inclinada a experimentaes de vanguarda e vos formais, esta vertente, nem por isso descurava da inspirao popular. Foi este ramo da genealogia cultural dos anos 60, muito mais do que o tronco conteudista, que melhor soube trabalhar esteticametne e, neste sentido, politicamente as novas informaes do Brasil ps-64, produzindo uma cultura ao mesmo tempo sensibilizada pelos temas ligados desigualdade social e liberdade (no apenas poltica, mas tambm comportamental) e interessada em inovar, expandir, reler e reelaborar o repertrio formal da poca. Seu ponto alto e de ebulio aconteceu com a ecloso do tropicalismo em 1968, que catalizou, formalizou e dotou de um sentido orgnico, em torno da proeminncia da msica popular, manifestaes de reas diversas, anteriores ou paralelas ao movimento propriamente dito. O tropicalismo, antes de uma inveo original e especfica de um grupo liderado pelos compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, foi a elaborao no terreno da cano popular universitria de um sentimento de poca e de uma esttica que se j no estava pronta, certamente tinha seus traos nitidamente delineados em momentos da tradio moderna brasileira e em obras marcantes do perodo, como os filmes do cinema novo, especialmente de Glauber Rocha, o teatro de Jos Celso Martinez Correa e a arte de Hlio Oiticica que cunhou o termo tropiclia, ttulo de uma obra sua, adotado por Caetano Veloso na cano-manifesto do movimento. Num Brasil em que se exacerbavam os emblemas do arcasmo ideolgico (a carolice conservadora, o bacharelismo de provncia, a cafonice de sala de jantar, triunfantes no primeiro momento ps-golpe); onde sobressaam os contrastes entre o atraso e a modernizao; e onde propunha-se como alternativa cultural o nacionalismo purista e retrgrado, coube ao tropicalismo, em sentido amplo, retomar a linha evolutiva da cultura e apresentar uma resposta crtica, custica, alegre e alegrica, ao direitismo oficial e ao populismo de esquerda. O movimento incorporou as sugestes dos novos meios, quebrou preconceitos diante da TV e da comunicao de massa, abriu-se informao internacional, absorveu cdigos do repertrio erudito, bebeu na fonte popular e produziu um momento raro de refinamento esttico na cultura brasileira recente. Seus efeitos atingiram a prpria reflexo universitria, s voltas com a interveno saneadora do regime, e sensibilizaram representantes da alta cultura casos dos conflitantes Roberto Schwarz, crtico que dedicou, no calor da hora, um ensaio ao movimento (que ali qualificado de um esnobismo de massas) e dos poetas e ensastas ligados ao movimento da poesia concreta, especialmente Augusto de Campos, cujo livro Balano da Bossa e Outras Bossas frequentou a cabeceira de mais de uma gerao. Olhados com extrema desconfiana por setores da esquerda, mas tambm pela direita no poder, os principais protagonistas do movimento, Caetano Veloso e Gilberto Gil, hoje unanimidades nacionais, acabaram presos em 1969 e obrigados a um exlio em Londres. Expresso de uma crise, o movimento que lideraram foi a expolso e o estilhaamento da bomba de energias criativas dos artistas e intelectuais dos anos 60 que, a partir da dcada seguinte, se veriam s voltas com um longo, complexo e espinhoso processo de esfacelamento de suas utopias e de adequao de seus projetos ao realismo do mercado e do consumo. Este novo momento, que se desenhou com nitidez a partir do governo do general Ernesto Geisel, foi precedido por um perodo de recrudescimento da represso e de radicalizaes no campo das esquerdas e do movimento cultural. Aqui quando a guerrilha e a luta armada seduziam jovens militantes, um setor da juventude, ainda sob influncia da radiao tropicalista, fez florescer um controverso, mas interessante movimento de contracultura, voltado para produes marginais influenciado pelo iderio da revoluo interior e da rebeldia comportamental. poca de sufoco (para usar uma expresso ento corrente), de experincias com drogas e de muitas viagens algumas boas, outras ms, outras tantas fatais. O fato de que artstas daqueles idos permaneam iluminando jovialmente a cena cultural do pas demonstra que aquela foi uma gerao como poucas entre as que amaram e fizeram arte sob a constelao do Cruzeiro do Sul. | Nem tudo foi treva e martrio na cultura Lembrando como um perodo de silncio e medo, o ciclo cultural durante o regime militar tambm teve Alegria, Alegria e gerou o tropicalismo, um movimento que continua influenciando a melhor cultura do pas. MARCOS AUGUSTO GONALVES- Editor da Revista da Folha A lembrana do passado comandado pelo regime militar cinzenta e asfixiante . A censura, o exlio , o desespero fazem da cultura brasileira um novo Prometeu dilacerado e impotente diante da prepotncia . A caa s bruxas se estendeu a obras literrias, a peas teatrais, a msicas , a autores e centros culturais. Se verdade que a cultura nessa poca sofreu o peso do taco autoritrio do Estado, tambm verdade que nem tudo o que foi produzido levou o selo da resistncia; Apesar de nos parecer que , durante a ditadura militar, a cultura se estagnou ou se limitou ao grito da dor, ela tambm se modernizou , se internacionalizou , aperfeioou tcnicas e instrumentos , desprovincianizou-se. No se trata de resgatar a atuao do Estado militar quanto ao seu procedimento diante da cultura, mas sua estratgia no foi de pura aniquilao ; foi tambm a de institucionalizar a produo artstica e intelectual , quer sob o patrocnio do Estado, quer por via de uma indstria cultural modernaexemplificada principalmente pela Rede Globo. A cultura transitou de uma tendncia antimercadolgica , caracterizada pela experimentao esttica e pela pretenso revolucionria , para um culto do mercado e do consumo. Duas atitudes bsicas se confrontaram: de um lado , a reao militante, a posio poltico-ideolgicas da esquerda organizada que lutava contra o imperalismo e seus meios de alienao; de outro lado, a vertente que , embora continuasse combatendo o autoritarismo obscurantista, achava necessrio um salto para a contemporaneidade , uma abertura cultura de massa, modernizao tecnolgica e aos movimentos internacionais. E foi esta tendncia que melhor aproveitou as nossas experincias ps-64. Seu pice se deu com o tropicalismo em 68. Liderado pelos compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil , o movimento elaborou um sentimento de poca e uma esttica que tinham traos bem delineados em momentos de nossa tradio moderna , e em obras marcantes , como os filmes de Glauber Rocha, peas de Jos Celso Martinez Correia e a arte de Hlio Oiticica, criador do termo tropiclia. Num Brasil, marcado pelo arcasmo ideolgico , pelos contrastes entre o atraso e a modernizao, pelo nacionalismo purista retrgado nas artes, o tropicalismo significou a retomada da linha evolutiva da cultura e uma resposta crtica , alegre e alegrica tanto ao direitismo oficial quanto ao populismo de esquerda. Os dois lderes , malvistos por ambos os lados, acabaram presos e exilados em 69. Mas o movimento liderado por eles foi uma exploso de energias criativas na dcada de 60 |
ce94ab10-26 | Operrios da sade tocam a 'cidade' HC MAURICIO STYCER Da Reportagem Local Cidade habitada por 10.500 funcionrios, o Hospital das Clnicas abriga personagens que ficariam mais vontade em uma epopia do que numa casa de sade. Escondem-se no HC, por exemplo, artesos capazes de construir cadeiras de rodas, mveis ou muletas, entre outros objetos utilizados por pacientes enfermos. Em plena era da terceirizao, o hospital resiste como um ncleo produtor dos mais variados bens e servios. Cozinheiros produzem 40 diferentes dietas, servidas todo dia nas 26 unidades do hospital. Funcionrios que ganham CR$ 80 mil por ms so responsveis pela lavagem das 12 toneladas de roupas que o hospital suja diariamente. Infelizes ou entusiasmados pelo trabalho que fazem, esses personagens se espalham por todos os 282 mil metros quadrados do HC. Sangue Sorriso de orelha a orelha, Hlio Otvio da Silva, 47, h 21 anos faz coleta de sangue no HC. Desde 1984, s tira sangue de crianas. Como os demais funcionrios da coleta, Hlio trabalha sentado num banquinho. Faltam cadeiras. Ach-lo ali, entre duas dezenas de auxilares de anlises clnicas, fcil: ao seu redor, concentram-se uma dezena de mes espera da hora de entregar suas crianas. Em 1991, uma paciente calculou que Hlio j havia tirado o sangue de 350 mil pessoas. No seu atual ritmo 60 crianas por dia, ele deve estar prximo dos 400 mil pacientes. Por duas vezes, o seu nico filho, hoje com 3 anos, sentou-se a sua frente: Na segunda vez, ele ameaou chorar. Eu disse que era importante para ele fazer o exame e ele no chorou, diz. Hlio no revela qual o seu segredo como consegue recolher sangue de Eric, um menino de 4 anos e 10 meses que sofre de cncer, sem provocar choro ou gritaria. S tiro com tio Hlio. Ele no deixa doer, diz Eric. Cozinha Um cartaz na entrada da cozinha tenta conquistar os 305 funcionrios que preparam as 6.000 refeies servidas todo dia no hospital: Ningum est vendo se voc lavou as mos. Mas voc sabe... Por culpa dos baixos salrios, a fbrica no consegue preencher 15 vagas, abertas h um ano. Um cozinheiro ganhou CR$ 83 mil em fevereiro o que d para comprar no mais de 30 quilos de alcatra. O HC consome 1.930 quilos de carne por semana. Isso aqui uma indstria. Pegamos a matria-prima, processamos e servimos os clientes. Nossa responsabilidade enorme, diz a diretora da fbrica, a nutricionista Janete Maculevicius, h 36 anos no HC. Est escrito na minha linha da vida: vou ser nutricionista do HC at morrer. Relgios Relojoeiro h 29 anos, Matias de Matos acerta os relgios do HC desde 1982. Entre relgios de parede e de ponto, ele calcula haver 700 aparelhos espalhados pelo hospital. Todo dia tem relgio para consertar. Se no tem, fao manuteno preventiva. Matias tambm conserta cronmetros usados em exames de laboratrio. S no conserta relgios de pulso. O pessoal vem pedir, mas dispenso, diz. O relojoeiro tem conscincia que nenhum de seus quatro filhos seguir sua profisso: uma funo que est sendo extinta pelos relgios digitais, diz. Pronto-Socorro Joanninha Amaro da Silva entrou no HC no dia 16 de maio de 1946, como escriturria. H 30 anos caminha com passos curtos, mas apressadssimos, por entre as macas espalhadas pelos corredores do Pronto-Socorro. conhecida ali como santa Joaninha. Arruma um pijama para um paciente, troca o vidro de soro de um outro, resolve a burocracia necessria para a internao de um recm-chegado com quadro de derrame, substitui uma enfermeira que saiu para almoar. Joanninha nunca almoa. O seu horrio de trabalho das 6h s 16h. Nunca vai para casa antes das 23h. Por causa de um problema nos rins, no poderia fazer esforo. No tomo conhecimento. Voc no pode se entregar doena. preciso ter fora de vontade para viver, diz, aos 69 anos. As pessoas saudveis no tm noo do que um hospital. Isso choca. Dar uma vrgula de ateno para um doente, aqui, j muito. Vesvio A maior lavanderia da Amrica do Sul processa todo dia at 12 mil quilos de lenis, pijamas e panos usados em cirurgias. Trs vezes por semana, as sete mquinas de lavar do HC, com capacidade para 200 quilos cada uma, funcionam 46 horas sem parar. Quando a caldeira eltrica precisa de reparos, acionada uma caldeira movida a leo e a, os vizinhos do hospital gritam. A chamin de 45 metros por onde sai a fumaa da caldeira ganhou o sugestivo apelido de Vesvio (o vulco que destruiu Pompia, na Itlia, no ano 79). A fumaa negra do Vesvio paulistano atinge os fundos de um prdio na rua Oscar Freire. No tem soluo. No podemos parar, diz a diretora da lavanderia, Maria Trito, 58 anos (e 33 de HC). Pijamas Entre os 200 funcionrios da lavanderia, h 5 deficientes visuais e 16 costureiras. Os cegos trabalham dobrando pijamas recm-lavados. Eles so mais felizes que os que enxergam, diz Maria Trito. As costureiras, comandadas por Catarina Greco, 55 anos (e 21 de HC), produzem e reparam aventais, camisolas para obesos e capas. Tambm produzem e se orgulham especialmente disso manguitos (braadeiras para aparelhos de presso) a serem usados em braos de criana. Artesos Por causa da crise, os cerca de 170 funcionrios que trabalham nas nove sees da Diviso de Construo e Conservao do HC hoje mais conservam do que constroem, explica o chefe deles, Manoel Fabiano, 65 anos (e 43 de HC). Apesar disso, ainda h muito trabalho para esses artesos. Ernando Cezario, por exemplo, tem 58 anos e h 37 faz chaves e troca fechaduras no hospital. No dia em que conversou com a Folha havia trocado trs fechaduras. Tem muita porta que no pode ficar aberta de jeito nenhum. Gavetas onde so guardados psicotrpicos tambm do trabalho. Eu pego a fechadura, trago aqui correndo, troco e volto voando. Cadeira de rodas Na serralheria, Jos Vilemar, 40, trabalha h duas semanas na construo de uma cadeira de rodas especial, capaz de suportar o peso de um paciente de mais de 400 quilos, aguardado pelo hospital para os prximos dias. Procuro fazer o mximo para ajudar as enfermeiras, diz. Os pacientes tambm usufruem do trabalho dos tapeceiros, funileiros e, especialmente, dos marceneiros, como Jos Cipriano, 59 (h 18 anos no HC), que faz muletas, bengalas e macas em sua oficina. Craniotomia Uma placa na entrada de uma sala no terceiro andar do Instituto de Psiquiatria informa: Artes mdicas. Descobre-se entrando ali que a sala , na verdade, um ateli. Fao um trabalho de artes plsticas voltado para a medicina, diz Jos Falcetti, 44. O artista assistiu inmeras cirurgias e dissecaes de cadveres antes de comear a fazer desenhos representando partes internas do corpo humano, em 1980. O trabalho de Falcetti, que j fez uma exposio no prprio HC, muito utilizado em aulas e congressos de medicina. Gosto muito de desenhar o abdmem, muito rico em detalhes. O corao muito simples. O mais difcil desenhar uma craniotomia, uma cirurgia de crnio, diz. O sonho de Falcetti montar uma escola de artes mdicas no HC. H quatro anos apresentou projeto nesse sentido direo do hospital, orado em US$ 70 mil, mas no teve resposta. Seria interessante que algum continuasse esse trabalho, diz. Hot-dogs H 12 anos, Therezinha Rodrigues Pereira, 70, vende cachorros-quentes na porta do HC, na rua Enas de Carvalho Aguiar. Therezinha uma das 36 ambulantes cadastradas pela Prefeitura de So Paulo para atuar na rua do hospital. Atualmente, eles enfrentam problemas por causa das cadeiras que instalaram em frente s barracas. s vezes, o doente est sentando aqui comendo e o fiscal chega e leva a cadeira, reclama. Os mdicos no tm medo. Comem aqui, sentadinhos. Alm do mais, no tm perigo. Se passar mal, a gente leva para o hospital. | Operrios da sade tocam a cidade HC MAURICIO STYCER -- Da Reportagem Local O Hospital das Clnicas uma verdadeira cidade com os seus 10.500 funcionrios que o fazem funcionar atuando em vrias reas de bens e servios. Sempre risonho, Hlio Otvio da Silva coleta sangue , atualmente s de crianas , que no outro, pois ele no deixa doer. Segundo uma paciente , ele deve ter coletado sangue de 350 mil pessoas at hoje. Na cozinha 305 funcionrios preparam diariamente 6.000 refeies. Um cartaz lhes serve de alerta: Ningum est vendo se voc lavou as mos. Mas voc sabe.... As 15 vagas a no so preenchidas por causa dos baixos salrios. H 29 anos, Matias de Matos acerta e conserta variados tipos de relgios e cronmetros de laboratrio. O Pronto-Socorro, entre outras funcionrias, tem a santa Joaninha , que , apressadssima e incansvel , percorre as macas cumprindo uma srie de atividades. O seu horrio das 6h s 16h, mas no sai antes das 23h. A lavanderia do hospital a maior da Amrica do Sul. Processa at 12 mil quilos diariamente. No ritmo alucinante , a caldeira eltrica pra e substituda por uma a leo, para desespero dos vizinhos , que a apelidaram de Vesvio. Entre os 200 funcionrios da lavanderia, h cinco deficientes visuais e 16 costureiras, que produzem e reparam. Nas nove sees da Diviso de Construo e Conservao do HC , trabalham 170 funcionrios, que , neste momento de crise, mais reparam do que constroem. Ernando Cezario, por exemplo, faz chaves e fechaduras. Na serralheria, Jos Vilemar , no momento, constri uma cadeira de rodas para um paciente de mais de 400 quilos. |
td94ab03-08 | Maquetes crescem com mercado imobilirio Trabalhos so vendidos por at US$ 15 mil e podem ser tambm usados em projetos educacionais e artsticos CLUDIA RIBEIRO MESQUITA Free-lance para a Folha Maquetes so como bolas de cristal que antecipam, de forma tridimensional, edifcios, parques, usinas, cenrios, projetos educacionais e culturais e os mais variados tipos de produtos. Seu grande filo o mercado imobilirio, que, quando aquecido como est ocorrendo este ano, agita freneticamente os artesos das oficinas. Maquetes de prdios e conjuntos residenciais respondem por mais de 80% dos pedidos e so as mais bem pagas. Uma maquete simples, de um prdio de 20 andares, por exemplo, pode custar entre US$ 4.000 e US$ 7.000. Outros modelos mais complexos chegam a valer o dobro, como uma maquete do projeto de um conjunto residencial em Campinas (interior de So Paulo), o Bougamville, encomendada Kenji Maquetes por US$ 15 mil. O objetivo desse tipo de modelo promocional, para auxiliar na venda dos imveis. A funo da maquete, nesse caso, elucidar ao leigo o que foi projetado em duas dimenses e instig-lo, diz Kenji Furuyama, 61. H 32 anos no mercado, Kenji conta com 15 empregados e fatura por ms cerca de US$ 30 mil, 20% dos quais computados como lucro. Segundo ele, as despesas com mo-de-obra ficam em quase 70%. Meus funcionrios recebem um salrio e uma comisso de 30% em cada trabalho que executam, diz. Kenji comeou a trabalhar com maquetes aos 19 anos na Kevel, uma das poucas maquetarias de So Paulo no ano de 1954. Por ali passaram tambm dois outros maquetistas da cidade, Adhemir Fogassa e Achiles Maimoni. Os trs aprenderam o ofcio na prtica. A formao de um maquetista aleatria, afirma o professor Jlio Katinsky, do departamento de histria da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Segundo ele, muitos comearam com aeromodelismo e, hoje, so profissionais bem remunerados. So poucos os que se dedicam a essas miniaturas. Em So Paulo, de acordo com os maquetistas, deve haver cerca de 60 profissionais. Quem est no ramo no reclama. Um autnomo, em um bom ms, pode faturar at US$ 6.000. Mrio Segall, 39, abriu seu escritrio em 93. Segundo ele, o investimento para montar a oficina ficou em torno de US$ 10 mil. Alguns equipamentos foram trazidos de Londres. Sua capacidade de produo de quatro a cinco maquetes por ms. Em meses de pico, Segall afirma que fatura cerca de US$ 6.000, e seu lucro beira os 25%. As maquetes, em Londres, so respeitadas como parte do projeto, conta. Aqui, nem tanto. Roberto Cardoso, arquiteto recm-formado, comeou a fazer maquetes para os projetos de faculdade e, hoje, a maior parte de sua renda vem delas. Segundo ele, d para lucrar, em mdia, US$ 1.000 por ms. Mas em 92, por exemplo, ele e mais um grupo de maquetistas receberam, cada um, US$ 5.000 por 45 dias de trabalho para a produo de uma maquete do projeto de despoluio do rio Tiet, apresentada na Eco 92. | Maquetes crescem com mercado imobilirio Trabalhos so vendidos por at US$15 mil e podem ser tambm usados em projetos educacionais e artsticos CLUDIA RIBEIRO MESQUITA- Free lance para a Folha Maquetes so antecipaes tridimensionais dos mais variados tipos de construes e produtos. Seu carro-chefe o mercado imobilirio, que responde por mais de 80% dos pedidos. Uma maquete comum de um prdio de 20 andares oscila de US$4.000 a US$7.000. A maquete auxilia a venda , esclarecendo ao leigo o que foi projetado. Kenji Furuyama, h 32 anos no mercado, com 15 empregados, fatura mensalmente cerca de US$30.000 , com um lucro de 20%. Segundo ele, as despesas com mo-de-obra oram em quase 70%. O professor Jlio Katinsky , do departamento de histria da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP , afirma que o maquetista tem formao aleatria, muitos comeando pelo aeromodelismo. So profissionais bem remunerados. O mercado no concorrido em So Paulo. Um autnomo pode ganhar US$6.000 num ms . Mrio Segall abriu seu escritrio em 93, investindo na oficina cerca de RS$10 mil. Num bom ms , fatura US$6.000 , com aproximadamente 25% de lucro. Roberto Cardoso, arquiteto recm-formado, comeou a fazer maquetes para os projetos da faculdade e, hoje, tem nelas uma razovel fonte de renda. |
br94ma15-33 | ntegra do discurso que FHC no quis ler Faz parte da marca do PSDB o fato de que, entre ns, os projetos pessoais vm sempre depois daquilo que entendemos ser melhor para o nosso partido e principalmente para o pas. Chego a esta conveno certo de que vamos mais uma vez reforar esta marca que nos orgulha e nos diferencia positivamente perante a opinio pblica. O PSDB, por intermdio de expressivas lideranas, manifestou seguidamente o desejo de que eu assumisse a candidatura Presidncia da Repblica. Pouco antes do prazo final para minha desincompatibilizao do cargo de ministro da Fazenda, recebi apelos neste sentido da Executiva Nacional, de direes regionais, de parlamentares e filiados do partido. Antes disso, tanto eu como a direo do partido tentamos criar uma situao poltica que permitisse outra candidatura, capaz de assegurar a continuidade da recuperao econmica iniciada com atual Programa de Estabilizao e que possibilitasse aquilo que verdadeiramente conta: abrir o pas um caminho no s de esperana como de competncia e seriedade na gesto da coisa pblica, condies indispensveis para o resgate da imensa dvida social. Minha candidatura no nasce, portanto, de um ato de vontade pessoal, mas de uma situao objetiva que colocou nas mos do PSDB a possibilidade, e com ela a responsabilidade, de liderar a caminhada do pas na direo de suas aspiraes. No momento em que assumo minha parcela dessa responsabilidade, quero me dirigir aos convencionais e a todos os companheiros de partido, para expor de maneira muito direta e franca aquilo que considero fundamental sobre o papel que nos est reservado nestas eleies e no quadro poltico que ir emergir delas. Comeando pelo princpio: o PSDB um partido, j diz o nome, social-democrata. Para ns, social-democracia muito mais do que um par de palavras a enfeitar uma sigla. O PSDB cr profundamente na democracia e na necessidade do avano social. Por isso nosso primeiro e mais fundamental compromisso com a erradicao da misria que condena o conjunto da sociedade brasileira ao atraso. O PSDB entende que, na sociedade moderna, o mercado s funciona a contento quando contrabalanado pela existncia de um governo eficiente, a servio do interesse pblico e no das burocracias nem das oligarquias. Ao contrrio daqueles que pregam o Estado mnimo e, sob a bandeira do livre mercado, defendem na verdade os altos lucros e os salrios exagerados dos executivos do setor privado, sem contrapartida social, ns trabalhamos a favor de um Estado enxuto, mas forte, para corrigir as distores do mercado e executar polticas em favor dos mais pobres. Por isso combatemos com a mesma energia o clientelismo e o corporativismo, que minam a eficcia do Estado e o atrelam aos interesses de minorias. Mas o PSDB tambm sabe que o mercado instrumento indispensvel na regulao econmica. Reconhece a importncia da poupana e do investimento para gerar emprego, aumentar a produtividade do trabalho e assentar as bases materiais do bem-estar social. Sabe que a economia hoje est internacionalizada e que melhor ser orientarmo-nos nesse processo segundo nossos interesses do que ignor-lo e depois sermos, sem saber, objeto inerme de uma ao globalizadora nossa revelia. Por isso somos um dos poucos partidos a preconizar a vinda de capitais estrangeiros para aumentar a acumulao produtiva e a absoro de novas tecnologias. E no nos inibem falsos pruridos ideolgicos na negociao com os investidores nacionais ou estrangeiros. J provamos nossa firmeza e competncia para defender, diante deles, os interesses nacionais e populares pelos quais nos pautamos. Esta a viso da social-democracia moderna, que se distingue tanto do neoliberalismo dogmtico e conservador como do nacional-corporativismo arcaico. Coerentemente com ela, entendo que hoje, no Brasil, nosso combate principal duplo: inflao e misria. Permitam-me repetir aquilo que venho dizendo desde que assumi o Ministrio da Fazenda: estas so as duas caras da mesma moeda, da qual o lado da inflao como um placar que marca as sucessivas frustraes do pas tentando se livrar das teias do atraso social e poltico no outro lado. Minha j longa vivncia poltica e a intensa participao na conduo recente do governo me convenceram de que o Brasil chegou a um ponto extremo desorganizao e falta de perspectivas. O pas, custa de amargas desiluses, no espera mais remdios mgicos para a inflao crnica e as mazelas sociais. Mas anseia como nunca por rumos claros e sustentados que lhe devolvam a confiana no futuro, mesmo sabendo que o futuro s se constri com trabalho rduo e persistente. Propor esses rumos, dar-lhes sustentao firme, a misso dos polticos que, como ns do PSDB, tm esprito pblico, quaisquer que sejam suas opinies especficas sobre os problemas do pas. E isto ns no conseguiremos no isolamento sobranceiro, nem dos partido, nem muito menos da sociedade. Porque nasceu com a vocao de mudar concretamente o Brasil, e sabe que a envergadura das mudanas necessrias supera em muito a capacidade de qualquer fora poltica isolada, o PSDB nunca cultivou uma atitude de arrogncia nem se furtou cooperao com outros partidos. Foi assim em 1989, quando, mesmo enfrentando dissenses internas e a quase nenhuma flexibilidade dos virtuais aliados na discusso programtica, optamos claramente pelo apoio ao candidato do PT no segundo turno das eleies presidenciais. Foi assim no processo do impeachment de Collor de Mello, quando tivemos um papel decisivo na articulao de uma maioria parlamentar para sustentar a deciso reclamada pelo pas de afastar o presidente e para dar condies de governabilidade ao seu sucessor legal. Dentro da mesma linha de conduta, empenhamo-nos desde cedo na busca de alternativas a uma candidatura exclusiva do PSDB na prxima sucesso presidencial, partindo do princpio de que sempre melhor negociar alianas s claras antes das eleies do que no recesso dos gabinetes depois. No hesitariamos em oferecer a cabea de chapa a outro partido se fosse esta a condio para viabilizar uma coligao baseada baseada num programa de recuperao nacional, sem concesses ao atraso poltico nem demagogia. Com esse propsito, mantivemos conversaes com diferentes foras polticas. Conversamos longamente com o PT. Este, no entanto, mostrou reiteradamente que reservava ao PSDB uma posio subalterna, com certo ar auto-suficiente de quem est bafejado momentaneamente pelas pesquisas eleitorais. Alianas, para o PT, somente sob sua hegemonia. Mais grave ainda, o PT nunca aceitou uma postura realmente radical no sentido de ir raiz das questes. Em vez de assumir qualquer parcela de responsabilidade pelas medidas necessrias para conter o dficit pblico, quebrar a ciranda financeira, reduzir o desemprego atravs do aumento do investimento, combater o clientelismo dentro da mquina do governo, e assim por diante, o PT tem preferido sempre a demagogia dos aumentos meramente nominais dos salrios, imediatamente corrodos pela inflao, do atendimento das presses corporativistas, da ingenuidade absoluta no trato de questes como a da dvida externa. No se mostrou altura de enfrentar os problemas reais do pas. Tambm conversamos com o PMDB. O dilogo fluiu franco e fcil. A direo do PMDB no pde, entretanto, conduzir o processo de escolha do seu candidato presidencial sem que houvesse fragmentao e atropelo da discusso programtica por postulaes pessoais. Isto terminou por inviabilizar uma aliana, na medida em que lideranas peemedebistas com as quais temos maior afinidade passaram a ser contestadas e marginalizadas pelo neocoronelismo dentro de seu prprio partido. Quando eu ainda estava no Ministrio da Fazenda, depois das tentativas j mencionadas, a direo do PSDB foi procurada pelo PFL, com vistas a uma possvel aliana eleitoral, cabendo ao PSDB indicar o candidato a presidente da Repblica. Posteriormente, as conversaes se estenderam ao PTB, que tambm veio a se incorporar aliana. A essa altura, as lideranas dos trs partidos no Congresso identificavam uma ampla pauta de preocupaes comuns em relao reviso constitucional, que procuravam viabilizar junto com outras foras polticas e em face da obstruo encarniada do PT e PDT. Ns do PSDB fomos co-autores importantes da Constituio e disso nos orgulhamos: os avanos democrticos e as garantias sociais que l esto foram escritos com nosso apoio (e s vezes, diga-se de passagem, sob acirrada crtica do PT, que se recusou a assinar a Constituio sob a alegao utpica de que estava aqum do desejvel). Mas isso no nos impede de, responsavelmente, ver as limitaes que a Constituio possui e defender modificaes, sobretudo no campo fiscal, para dar maior viabilidade ao governo e ao pas. O insucesso da reviso constitucional nos inquieta, desse modo, como um sintoma grave da desorganizao e falta de rumos j mencionadas, e principalmente como prenncio das dificuldades que o futuro governo ter de enfrentar. O que s refora nossa preocupao com a necessidade de compor uma maioria ampla o bastante, no s para ganhar as eleies nacionais, mas para dar curso s mudanas necessrias, tanto na esfera do Executivo como do Legislativo. Nesse sentido, tanto eu como a direo partidria continuamos conversando com outras foras polticas, como o PP, o PPS, o PV e setores do PMDB. Assim como gostaramos de voltar a conversar com o prprio PT, pensando nas condies de governabiLidade do pas depois das eleies, se o PT no rechaasse qualquer tentativa de dilogo que no tenha por suposto a adeso a candidaturas. Trazemos para essa articulao a fora das nossas convices social-democratas e as diretrizes de combate inflao e misria, reorganizao do Estado e modernizao da economia em que elas se traduzem diante dos desafios do Brasil. Com base nelas iniciamos a elaborao do nosso programa de governo, onde especificaremos nossas metas e solues para a gerao de empregos, que ser o eixo da nossa ao; a revoluo educacional e a recuperao do sistema pblico de atendimento sade; a descentralizao radical dos servios pblicos, aumentando a autonomia de estados e municpios; o enxugamento da mquina estatal, precisamente a fim de evitar seu desmantelamento e aumentar sua eficcia; o estmulo ao investimento produtivo, nacional e estrangeiro e o fomento competivividade da economia brasileira. As mesmas diretrizes programticas norteiam nossas conversaes sobre alianas eleitorais. este o passo a ser dado agora, antes da discusso mal posta, quando no posta de m f sobre supostos riscos de nos aliarmos a partidos com histria distinta da nossa, como se em funo dela o PSDB pudesse vir a se despreocupar de sua histria e de seus compromissos programticos. Aos de boa f respondo: alianas, quando so srias, so feitas base da definio de objetivos comuns, com o propsito de assegurar votos para ganhar eleies e dar sustentao ao futuro governo. Unindo partidos diferentes na sua histria, na sua composio e no seu estilo, pois unio entre os que pensam do mesmo jeito seria mais propriamente incorporao ou adeso do que aliana. Acreditar que o PSDB sozinho vai eleger o Presidente e uma maioria de governadores e parlamentares que lhe permita governar o pas, ignorar os fatos mais elementares da realidade poltico-eleitoral. com apenas dois minutos no horrio eleitoral gratuito de televiso e sem uma rede de diretrios municipais suficientemente densa, buscar o voto sem aliados nesta eleio seria como tentar romper pedreiras com as prprias mos. De outra parte, acreditar em desvirtuamento do nosso programa, da nossa ao de governo, do nosso estilo, porque fazemos alianas com outras foras, equivale a no acreditar em ns prprios. E por acaso no temos histria enquanto partido? Acaso no temos biografia? O governo Itamar Franco deu a oportunidade de mostrar ao pas que o PSDB capaz de imprimir sua marca, apesar da diversidade e at das incongruncias das foras polticas em presena. Sem diminuir a importncia da colaborao dos outros partidos, fomos capazes de propor ao pas uma alternativa econmica cuja implantao, ora em curso, abriu no mnimo um horizonte de esperana. Por que, agora, quando o PSDB encabea uma coligao com seu candidato a Presidente, seramos menos marcantes? No nos desfiguraremos nas alianas porque objetivos so claros e porque podemos afirmar sem medo que ns sabemos o que fazer e como fazer, pois j o fizemos. Estou certo, por isso, que o PSDB continuar a agir de maneira responsvel e realista. O realismo exige o conhecimento das verdades eleitorais. A responsabilidade exige determinao na consecuo dos objetivos programticos. E tudo isso exige firmeza da direo do partido. A costura de alianas na poltica nacional nunca ser fcil num pas to grande e diversificado como o Brasil, ainda mais com a colcha de retralhos que o nosso sistema partidrio. Quem tiver dificuldades regionais, contar com nossa compreenso para a busca de solues polticas. Mas, a partir do momento em que a algazarra interna passa a ser usada contra ns pelo competidor, a escolha se impe: quem for tucano nos apoiar. O PSDB j provou, tanto na oposio como no governo, que no tem medo de escolhere o caminho mais difcil para ser coerente com seus princpios. Soubemos dizer no s benesses do poder quando o poder dava as costas para os interesses maiores do pas e para o sentimento das ruas. Soubemos dizer sim aos desafios da governabilidade e da estabilizao econmica quando os cnicos e os puros, numa s voz, nos aconselhavam a empurrar os problemas do pas com a barriga at as prximas eleices (como se eleies e democracia fossem uma ddiva dos cus e no uma conquista que tem de ser renovada a cada dia pela capacidade dos democratas de tomar decises). Hoje a linha de coerncia com essa trajetria nos conduz diretamente ao reconhecimento popular. O povo cansou de politiquice, de falsos argumentos ideolgicos, de alegadas purezas doutrinrias. Tanto quanto a corrupo, no suporta mais a ineficincia, a demagogia e a falta de deciso. Exige de quem pretende govern-lo que tenha firmeza e convico para, sendo necessrio, dizer no e enfrentar as foras contrrias. E ao dizer sim, cumprir o prometido. O que se faz com um programa realista de governo aliado seriedade, competncia e respaldo poltico para lev-lo prtica. Esta a marca do PSDB. Esta ser a marca da minha candidatura. Com ela vamos para a vitria, que no ser s nossa e dos nossos aliados mas do povo que soube conservar a f na democracia espera do momento em que ela comear a se traduzir em emprego, salrio e dignidade para todos os brasileiros. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Contagem, MG, 14 de maio de 1994 | ntegra do discurso que FHC no quis ler. O PSDB prioriza os interesses do partido e do pas aos pessoais. O partido , em repetidas e expressivas manifestaes, insistiu na minha candidatura Presidncia.Antes de eu me desincompatilizar do cargo de ministro da Fazenda, tentamos criar um clima poltico para outra candidatura que desse continuidade recuperao econmica iniciada com o Plano de Estabilizao . Portanto, minha candidatura no surge de vontade prpria, mas da inteno do partido em liderar a caminhada do pas. A conscincia democrtica marca do PSDB , que v no avano social ---com a forosa erradicao da misriaum objetivo intransfervel. O partido tambm entende o mercado s funciona com a presena eficiente de um governo que coloca o interesse pblico acima das burocracias e das oligarquias. Trabalhamos por um Estado enxuto , mas forte a fim de corrigir das distores do mercado. Tambm sabe que a regulao econmica depende do mercado ; que a poupana importante , assim como o investimento para gerar emprego; que vivemos num mundo globalizado e no adianta fechar os olhos para isso e ser pegos de surpresa. Por isso, estamos abertos ao capital estrangeiro, para aumentar a produo e para a absoro de novas tecnologias. Hoje, no Brasil, inflao e misria so nossos piores inimigos. O pas, a duras penas, entende que no se devem esperar remdios mgicos para enfrent-los. Propor rumos nessa direo misso de todos os polticos bem intencionados. E no conseguiremos trabalhando isoladamente. Procuramos , desde cedo, buscar alianas compatveis com nossos objetivos fundamentais. As longas conversas com o PT no prosperaram , porque o partido insistia numa posio subalterna para o PSDB. Tambm algumas posies do partido contrariavam metais fundamentais para ns. Por exemplo, a luta a qualquer preo por aumentos nominais do salrio impediria o controle da inflao. Com o PMDB , o dilogo no foi adiante porque havia o risco de fragmentao do partido. Fomos , posteriormente, procurados pelo PFL com objetivo de uma aliana eleitoral , cabendo ao PSDB a indicao do candidato a presidente. A conversa se estendeu depois ao PTB, que tambm veio compor a aliana. A essa altura, as lideranas dos trs partidos organizavam uma ampla pauta de preocupaes relacionadas com a reviso constitucional, fundamentalmente no campo fiscal. Essa uma das nossas inquietaes bsicas e , por isso, em formar uma ampla maioria . Iniciamos a elaborao do nosso plano de governo, em que especificaremos nossas metas: gerao de emprego, revoluo educacional, recuperao do sistema pblica de atendimento sade, descentralizao do servio pblico, enxugamento da mquina estatal, estmulo ao investimento produtivo, nacional e estrangeiro, e aumento da nossa competitividade econmica. Aos que criticam nossa aliana com partidos de base histrica to diferente respondo: alianas, quando srias, so feitas com base em objetivos comuns, visando ganhar as eleies para dar continuidade aos planos governamentais. E o PSDB tem conscincia de que sozinho no conseguir; basta ver nossa histria poltico-eleitoral. Mas tambm tem conscincia de que tem personalidade poltica para no ser desvirtuado.Soubemos dizer no s benesses do poder quando este contradizia os interesses do pas e do povo. Soubemos enfrentar os desafios da governabilidade , da estabilizao econmica quando nos aconselhavam a empurrar os problemas com a barriga at as prximas eleies. com essa trajetria que temos o reconhecimento popular. |
mu94de09-a | Comea hoje em Miami, costa leste dos EUA, a maior e mais importante reunio de chefes de Estado e de governo j realizada nas Amricas. At domingo, os presidentes e primeiros-ministros de 34 pases do hesmisfrio ocidental (todos menos Cuba) discutiro temas ligados a comrcio, democracia e desenvolvimento sustentado. Espera-se que, no seu final, eles anunciem a inteno de colocar em operao at o ano de 2006 a rea de Livre Comrcio das Amricas (Afta, na sigla em ingls), para promover a integrao comercial de toda a regio. Esta a terceira vez que lderes do continente realizam uma reunio de cpula. As outras duas foram em 1956, na Cidade do Panam, e em 1967, em Punta del Este, Uruguai. Mas a Cpula das Amricas em Miami a primeira em que todos os governantes presentes foram eleitos democraticamente em seus pases e tambm a primeira de que o Canad participa. Cuba ausente O governo de Cuba no foi convidado pelos EUA sob a justificativa de que seu presidente, Fidel Castro, no foi eleito. Mas a questo cubana vai estar presente. Amanh, 300 mil cubanos e seus descendentes devem fazer a Marcha pela Liberdade nas ruas principais de Miami. O presidente da Argentina, Carlos Sal Menem, tambm pretende levantar o assunto de Cuba durante a reunio, embora ele no conste da agenda oficial. A idia da Cpula das Amricas foi lanada no incio do ano pelo vice-presidente dos EUA, Al Gore, durante a solenidade de ratificao do Acordo Norte-Americano de Livre Comrcio (Nafta), na Cidade do Mxico. A princpio desorganizada e sem pauta, a cpula parecia destinada a ser mero exerccio coletivo de relaes pblicas. Em especial porque os norte-americanos queriam deixar as questes comerciais fora da pauta. Presso conjunta dos principais pases da Amrica Latina acabou forando a incluso dos temas de comrcio na agenda do encontro. Os organizadores prometem fazer com que todas as deliberaes tomadas pelos 22 presidentes e 12 primeiros-ministros em Miami sejam acompanhadas de cronograma para que possam de fato colocadas em prtica. Entre as decises a serem tomadas esto o lanamento de um esforo regional para acabar com o analfabetismo e incentivos para a participao de empresas privadas no provimento de assistncia mdica bsica, em particular para crianas. Alm disso, devem decidir por expanso do intercmbio multinacional para a explorao dos recursos biolgicos, medidas de combate ao narcotrfico e lavagem de dinheiro e desenvolvimento de esforos para preveno de poluio. Clinton, Gore e Hillary O presidente Bill Clinton e o vice-presidente Gore chegaram ontem noite a Miami e seu primeiro compromisso hoje ser um encontro com milhares de voluntrios que esto trabalhando na cpula. A primeira-dama Hillary Clinton estar coordenando um simpsio sobre a situao das crianas nas Amricas, ao qual estaro presentes as primeiras-damas do continente. O Brasil ser representado pela embaixatriz em Washington, Lcia Flecha de Lima. O primeiro governante do Exterior a chegar a Miami foi o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle, na quarta-feira. O presidente Itamar Franco deve chegar hoje s 13h. O Brasil ser o nico pas representado por dois presidentes, Itamar e Fernando Henrique Cardoso o qual, no entanto, do ponto de vista formal, ser apenas um membro da delegao do pas. Cerca de 5.000 jornalistas foram credenciados para cobrir a Cpula das Amricas (75 deles do Brasil). As reunies de trabalho da cpula tm incio amanh s 8h e se prolongam at a tarde de domingo. Haver duas recepes, uma de boas-vindas, hoje noite, e outra de gala, amanh noite. | Presidentes e primeiros-ministros de 34 pases do hemisfrio ocidental se reuniro em Miami para discutir temas ligados a comrcio, democracia e desenvolvimento sustentado, com vistas a implantar a Afta at 2006. a terceira reunio de cpula de lideranas do continente , da qual s no participa Cuba, que no foi convidada pelos EUA , sob o pretexto de seu presidente no ter sido eleito . Apesar disso, a questo cubana estar presente , na forma de uma passeata em Miami de 300 mil cubanos e seus descendentes, e na fala do presidente argentino, Carlos Menem. A idia de reunio de Cpula das Amricas foi do vice norte-americano, Al Gore, e estaria fadada a um exerccio diplomtico, pois a questo comercial no foi inicialmente colocada em pauta. A presso dos pases da Amrica Latina obrigou a incluso do tema. Entre as decises a serem deliberadas , constam : um esforo regional para eliminar o analfabetismo; incentivo a empresas privadas para subsidiar assistncia mdica bsica , principalmente para crianas; intercmbio multinacional para explorao de recursos biolgicos; combate ao narcotrfico, lavagem de dinheiro; preveno da poluio. Haver um simpsio coordenado pela primeira-dama Hillary Clinton , que tratar da situao das crianas nas Amricas, com a presena das primeiras-damas do continente. Cinco mil jornalistas credenciados cobriro o evento. |
mu94de07-a | Os baixos salrios pagos na maior parte dos pases latino-americanos tendem a ser um foco de profundas divergncias entre os EUA e seus vizinhos do Sul, quando se iniciarem as negociaes concretas para o estabelecimento da Afta (Zona Americana de Livre Comrcio, em ingls). A Afta ser proposta formalmente nos dois documentos a serem assinados domingo, em Miami, pelos 34 chefes de governo dos pases americanos, reunidos na chamada Cpula das Amricas, que se inicia sexta-feira. Mas, nas discusses preliminares sobre ambos os textos, a questo dos baixos salrios foi uma das mais difceis de se contornar, para se chegar a uma convergncia nos documentos j prontos para a assinatura dos governantes. A tese dos norte-americanos (e tambm dos europeus) a de que os salrios baixos pagos em quase toda a Amrica Latina configuram uma espcie de dumping social. O dumping convencional caracteriza-se pelo lanamento, no mercado internacional, de produtos a preo de custo ou at abaixo, para conquistar mercados. Com o baixo nvel salarial dos pases ao Sul do Rio Grande, cria-se, na viso norte-americana, uma concorrncia desleal com a produo dos EUA, obviamente encarecida pelo fator salrio. Mas os latinos, capitaneados pelo Brasil, presidente de turno do Grupo do Rio, rejeitaram a tentativa norte-americana de vincular o tema salarial abertura comercial inerente Afta. O argumento utilizado o de que essa questo ainda est sendo discutida em organismos multilaterais, como o Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comrcio, a ser substitudo em janeiro pela Organizao Mundial de Comrcio) e a OIT (Organizao Internacional do Trabalho). Chegou-se a uma conciliao tipicamente diplomtica: o tema salrios no mais figura na parte de proposies operativas do documento batizado de Plano de Ao. Mas bvio que a manobra serve apenas para jogar para o futuro a discusso, dado que a diferena de enfoque bastante grande. Os EUA pretenderam vincular tambm o respeito ao meio ambiente como pr-condio para o livre comrcio, o que foi igualmente rejeitado pelos latinos. No que eles sejam contra o respeito ao meio ambiente (ningum, alis, diz que ). So contra a vinculao entre um tema e outro, porque criaria o que a diplomacia brasileira chama de neoprotecionismo. Traduzindo: a pretexto de que os baixos salrios e o desrespeito ao meio ambiente representam uma concorrncia desleal com a produo norte-americana, os EUA (e a Europa) poderiam impor medidas protecionistas. O Plano de Ao o documento mais substantivo dos dois a serem assinados em Miami. O outro uma Declarao Poltica, que, como tal, d apenas as diretrizes gerais, em tom bastante genrico. Exemplo: o documento diz que os presidentes e chefes de Estado eleitos nas Amricas comprometem-se a promover a prosperidade, os valores democrticos e institucionais e a segurana no hemisfrio. No Plano de Ao, entram propostas de medidas concretas para que se atinjam as metas expostas no texto poltico. Na questo principal da reunio, a criao da Afta, o documento poltico limita-se a dizer que as Amricas esto unidas na busca da meta de prosperidade por meio do livre mercado, da integrao hemisfrica e do desenvolvimento sustentado. J o Plano de Ao dever fixar uma data concreta (talvez 2005), no para estabelecer a Afta, mas para concluir os preparativos, a serem iniciados em 1995, com vistas sua criao. | As negociaes para a criao da Afta entre os Estados Unidos e os seus vizinhos do Sul vm com um impasse: Os EUA consideram que os baixos salrios pagos pelos pases latino-americanos constituem uma concorrncia desonesta. Dada a reao dos pases do Sul, os americanos tiraram a questo salrio das discusses do Plano de Ao ( que contm as questes concretas sobre a negociao) . A inteno , certamente, adiar a discusso para outro momento, e no abandonar o tema. Os americanos , tambm, querem vincular o respeito ao meio ambiente aos pr-requisitos do livre comrcio, com o que no concordaram os parceiros. Estes vem nas duas exigncias um pretexto para futuro protecionismo , pelo lado americano e europeu, caso algum pas sul-americano desrespeite uma das clusulas. H ainda a proposio de um outro documento a ser assinado junto com o Plano de Ao , em Miami. uma Declarao Poltica , com diretrizes genricas , pela qual os representantes eleitos se comprometem promover a prosperidade, os valores democrticos e institucionais, e a segurana no hemisfrio. |
ce94ja21-d | O deputado Joo Alves de Almeida (ex-PPR-BA) no est conseguindo andar nas ruas: Fui fazer compras com a proteo de um delegado e um safado gritou pega ladro. A coisa esquentou e eu tive que voltar para casa, disse Alves em seu apartamento. O poder poltico e econmico, Brasil afora, criou e aferrou-se a um mundo prprio, com regras e costumes particulares. Alves apenas um rosto que se tornou mais visvel em meio a este conglomerado de poder at h pouco invisvel. Um rosto sem rugas, o de Alves, graas plstica da clnica brasiliense Daher.e Joo Alves chegado a cirurgias corretivas. Nascido em So Miguel dos Campos (AL), declara ser natural de Macei. Os cabelos so negros? Tintura Tabletes Santo Antonio. As cirurgias so, s vezes, delicadas. Grace, aos l7 anos, a razo da vida do deputado. Na sala do apartamento, acima do piano Schneider e da estatueta de Franz Wagner, est o retrato de Grace. Que j foi neta e hoje filha de Alves. Nascida do amor de Joo com um sobrinha, Maria, Grace foi registrada inicialmente como filha de Carlos Almeida, filho do deputado. Quando ela tinha quatro anos, Joo Alves fez nova cirurgia corretiva. Foi ao cartrio e Grace deixou de ser neta para se tornar filha. Os olhos se enchem de lgrimas quando Alves fala de Grace. Com os gritos de pega ladro o deputado se trancou em seu mundo particular, mas os ecos fizeram mal filha. Perturbada, quando a CPI se iniciava foi atropelada e quebrou a bacia. Deitada na cama, o pai no conseguia afast-la dos telejornais. Ela no diz nada. Todo dia ela me d um abrao, um beijo, mas no diz nada, conta o deputado. Em Salvador o irmo, Ccero, assiste aos telejornais: horrvel, choca, voc no tem o que dizer. Ccero l3 anos mais novo, mas sabe que o irmo passava pouco dos 12 anos quando deixou o interior de Alagoas e rumou para Macei, onde trabalharia no comrcio por 8 anos at a mudana para Salvador. Em 1942 Joo Alves se tornava inspetor nacional da Previdncia. Da Previdncia viria o salto para a poltica. Ambicioso, Alves frequentava o Palace Hotel, na avenida Chile, o grande ponto de encontro de polticos e poderosos em Salvador. Atravs do senador e futuro governador Landulfo Alves, conheceu Getlio Vargas. Candidato a deputado federal, foi derrotado. Getlio, a pedido de Landulfo, nomeou-o delegado do Instituto de Aposentadoria e Penso dos Bancrios da Bahia.Getlio era um grande homem, muito amigo meu, diz Alves. Com Getlio, conheceu Joo Goulart. Com Jango chegou ao poder. Frequentava o Palcio do Catete, viajou com Jango pelo interior da Bahia montando o PTB e nesse partido obteve o primeiro dos seus oito mandatos em 1962. Empregava mdicos e funcionrios na Previdncia. o autor da emenda que permite aos mdicos a acumulao de dois cargos. dele a emenda que instituiu o 13. salrio para aposentados e pensionistas da Previdncia. ainda o responsvel pela legalizao do trabalho temporrio, das frias para trabalhadores avulsos, e pela lei que obriga o reajuste das aposentadorias e penses a cada elevao do salrio mnimo. O Joo Alves dos anos 60 chegou a ser um radical -e chegou a defender um golpe com Jango. Recordou Alves em sua conversa com a Folha: Eu cobrava do Jango uma aliana com os generais, no com cabos e soldados. Talvez pela explicitao de suas alianas preferenciais, o golpe dos generais, quando veio, passou ao largo do deputado radical. Nos governos militares e j nos anos 80, ele, na Arena e sucedneos, se tornaria o homem forte do Oramento. O deputado deixava escapar sinais exteriores de riqueza no final da dcada. A Mercedes-Benz cor de ouro comeou a ser usada mesmo para atravessar os 100 metros que separam os anexos 3 e 4 na Cmara dos deputados. O Learjet foi, repetidamente, oferecido aos amigos. Joo Alves de Almeida tem obsesso por tentar parecer aquilo que no , assim como imagina no ser o que . Eu no sei porque tudo isso, diz, na porta do elevador, pedindo um favor ao reprter, o nico em duas horas de conversa: Meu filho, v se bota uma foto onde eu t bonito. | Joo Alves de Almeida , um dos anes do Oramento, um representante bem tpico do mundo diferente do poder poltico, cujas normas de vida seguem padro prprio , diferente do da maioria dos mortais. Fez um esforo para colocar-se na fronteira do poder. Trabalhou inicialmente no comrcio, depois se tornou inspetor nacional da Previdncia. A ambio o levou a freqentar o ponto de encontro de polticos e poderosos de Salvador Esse convvio rendeu uma aproximao com Getlio Vargas, que , posteriormente, o nomeou delegado do IAPB ( Instituto de Aposentadora e Penso dos Bancrios) da Bahia. Depois , conheceu Jango e com ele chegou ao poder. A partir da, iniciou sua carreira de oito mandatos como deputado. Ao sabor dos seus interesses, defendeu um golpe com Jango, mas que fosse com o apoio dos generais e no com cabos e soldados. Esse feeling poltico , possivelmente, o tenha preservado depois do golpe de 64. Coerente com o princpio de Maquiavel, segundo o qual os fins justificam os meios, aps o golpe embarcou na Arena e se tornou o homem forte do Oramento. J ento, no continha a exposio de sinais de riqueza, exibindo a sua Mercedes-Benz e o Learjet, que freqentemente servia os amigos. Na vida particular, tambm, revelou estranhezas de comportamento , prprias da tica desse mundo do poder : do relacionamento com uma sobrinha, teve uma filha (Grace) , que inicialmente foi registrada como filha de Carlos Almeida, filho do deputado. Com o escndalo do Oramento, a tranqilidade do deputado foi ameaada, a ponto de no poder andar impunemente pelas ruas. Sua filha , perturbada pelos acontecimentos, foi atropelada e ficou imobilizada. Com o enclausuramento a que foi condenado, ela passou a ser sua razo de vida. Hoje, o trao que talvez o mantenha mais ligado ao mundo exterior a sua vaidade de manter a eterna juventude. |
td94mr13-09 | Feiras mostram novos equipamentos Mquinas nacionais e importadas permitem montar ou ampliar negcio nos setores de lavanderias e confeces NELSON ROCCO Da Reportagem LocalCom capital em torno de US$ 20 mil possvel equipar ou modernizar uma confeco com produtos expostos na 25 Fenatec (Feira Internacional de Tecelagem), realizada semana passada, no Anhembi, em So Paulo. Equipamentos para lavanderia expostos na 1 Interlav (Feira Internacional de Equipamentos, Produtos e Servios para Empresas de Lavanderia) podem ser vistos e comprados at hoje, tambm no Anhembi. A coreana Soosan que tem escritrio em So Paulo esteve na Fenatec com trs modelos de mquinas para fazer meias em tecido liso com preo em torno de US$ 21.500 cada. Para o acabamento, a empresa tem um equipamento que sai por US$ 7.000. As mquinas de costura representaram a maior concorrncia no evento, depois dos fabricantes de tecido. A Mitsubishi mostrou uma linha completa para a fabricao de jeans, tnis e calados. Nlio Pacces, da Tempo, representante da Mitsubishi, diz que os preos vo de US$ 7.000 a US$ 20 mil. A Phonner Industrial, de Santa Catarina, e a China Mquinas, que vende produtos do Japo e da China, ofereceram opes de mquinas de costura por preos entre US$ 600 e US$ 3.000. A Yamacom mostrou mais de 20 mquinas de costura japonesas. Um dos destaque da Fenatec foi a presena da espanhola Investrnica. Ela desenvolve sistemas informatizados para modelagem e encaixe de roupas, e para a rea de criao e estamparia. Segundo Nrcio Fernandes, diretor da empresa no Brasil, os preos dos programas variam de US$ 3.500 a US$ 30 mil. Para quem quer comear ou j atua em bordados para confeces, a Todima, representante da Melco norte-americana, apresentou a EP1, por US$ 11.250. Para concorrer com a mquina da Melco, a Marbor mostrou um modelo que opera com cartes de memria para os desenhos, por US$ 3.000. A Mold Plast trabalha com todos os produtos e equipamentos necessrios para o setor de confeces. Decio Zilberkan, dono, afirma que oferece mais de 800 itens. Temos de uma agulha at vrios tipos de software, diz. A Interlav apresenta vrios equipamentos para quem pretende abrir lavanderias. A Danvic representante de empresas norte-americanas est vendendo mquinas de lavar self-service, com capacidade de 8 kg a 18 kg de roupa, por preos entre US$ 2.500 e US$ 4.000. A paranaense Suzuki est lanando a linha Compacta Plus. So mquinas com capacidade de 10 kg at 30 kg, por preos a partir de US$ 2.700 (lavagem normal) e US$ 5.100 (lavagem a seco). A novidade da Electrolux o Euroclean, para lavar carpetes e tapetes. Parecido com um aspirador de p, tem dois reservatrios com capacidade para 38 litros cada. O preo US$ 3.800. | Feiras mostram novos equipamentos Mquinas nacionais e importadas permitem montar ou ampliar negcio nos setores de lavanderias e confeces NELSON ROCCODa Reportagem Local Com aproximadamente US$20 mil , possvel equipar ou modernizar- com produtos expostos na 25 Fenatec , realizada na semana passada , no Anhembi, So Paulo. A tambm podem ser comprados , at hoje, equipamentos para lavandeira expostos na 1 Interlav. No evento, as mquinas de costura s perdem em concorrncia para os fabricantes de tecidos. A Mitsubishi mostrou uma linha completa para a fabricao de jeans, tnis e calados com preos de US$7.000 a US$ 20 mil. A Phonner Industrial , de Santa Catarina, e a China Mquinas , que vende produtos do Japo e China , tinham opes com preos entre US$ 600 e US$3.000. A Interlav oferece vrios equipamentos para quem quer abrir lavanderias. A Danvic- representante de empresas americanas- vende mquinas de lavar self-service, com capacidade para 8 a 18 kg de roupa, com preos entre US$ 2.500 e US$4.000 A paranaense Suzuki vende mquinas com capacidade de 10 a 30 kg de roupas, por preos que variam de US$2.700( lavagem normal) a US$ 5.100 ( lavagem a seco). |
td94ju26-05 | Franqueado brasileiro jovem e tem pouco dinheiro Experincia profissional fator positivo para quem entra no sistema Da Redao O franqueado brasileiro jovem, tem instruo, experincia profissional e pouco dinheiro no bolso para investir no negcio. com esse perfil que os consultores elaboram projetos de franquia para empresas interessadas em crescer atravs do sistema. Os dados so da Cherto & Rizzo Franchising e do Instituto Franchising, segundo pesquisa com 484 participantes de seminrios sobre investimentos no setor. O sistema de franquia consiste em uma empresa repassar a tecnologia e o mtodo de trabalho de um negcio que comprovou ser eficiente, mediante o pagamento de taxas e royalties. O trabalho mostra que a maioria dos franqueados homem (71%), da regio Sudeste (58%), e quer entrar no sistema para ganhar dinheiro (58,9%). Os dados indicam que o franqueado jovem. 29,5% esto na faixa de 36 a 45 anos e 21,8% tm entre 30 e 35 anos. Marcelo Cherto, 40, diretor do Instituto Franchising, diz que a faixa entre 35 e 45 anos se destaca. quando as pessoas esto cansadas da atual atividade e ainda tm coragem de enfrentar mudanas. O que mais me impressiona, no entanto, o percentual de pessoas com at 25 anos (19,2%). Cherto afirma que durante suas aulas na FGV (Fundao Getlio Vargas), em So Paulo, tem notado que menos de 10% dos formandos saem com emprego garantido. Esse fator, segundo ele, justifica a quantidade de pessoas nessa faixa de idade que entram no sistema. As pessoas saem da faculdade sem garantia de emprego e decidem montar um negcio ou comprar uma franquia e aproveitar a experincia dos outros. A pesquisa mostra que os recursos que as pessoas tm para investir na franquia varia de US$ 15 mil a US$ 46 mil (63,2%). Esse o fator que inibe a expanso do setor no pas, segundo Cherto. A grande maioria das franquias custa mais do que as pessoas tm no bolso, diz. Segundo os clculos do diretor do Instituto, o preo mdio total de uma franquia de US$ 107 mil. Apesar do custo e do fator de inibio o sistema tem crescido de forma acelerada. Em 93, cresceu 37%. Para este ano, as estimativas do Instituto apontam para 30%. Para resolver a equao, o Instituto est fazendo uma parceria com um banco privado para a criao de um fundo de investimento. Cherto destaca que a pesquisa indica que o franqueado est preparado para entrar no segmento. At h alguns anos, as franquias eram compradas por executivos para a mulher ou para os filhos. Hoje, o prprio executivo que est deixando o cargo em busca de uma nova atividade que entra no setor, afirma. (NR) | Franqueado brasileiro jovem e tem pouco dinheiro Experincia profissional fator positivo para quem entra no sistema Da Redao O perfil do franqueado brasileiro inclui juventude, instruo, experincia profissional e pouco dinheiro para o empreendimento. assim que os consultores elaboram projetos de franquia, conforme dados da Cherto & Rizzo Franchising e do Instituto Franchising. Franquia o repasse de tecnologia e de mtodo de trabalho de um negcio que foi comprovado eficiente , mediante pagamento . A maioria dos franqueados so homens (71%), do Sudeste (58%) e buscam uma forma de ganhar dinheiro(58,9%) Cherto diz que tem notado em suas aulas na FGV que menos de 10% dos formandos saem com emprego e decidem montar um negcio ou comprar uma franquia aproveitando a experincia de outros. Na pesquisa, observou-se que recursos disponveis pelos candidatos variam de US$15 mil a US$46 mil (63,2%) , fator que inibe a expanso do setor, pois a maioria das franquias ultrapassa esse montante. Apesar disso , o sistema tem crescido bastante. E para eliminar parte dos empecilhos, o Instituto est fazendo uma parceria com um banco privado. |
in96ab19-a | BEIRUTE - O confronto entre Israel e a guerrilha fundamentalista do Hisbol (Partido de Deus) completou ontem oito dias de forma sangrenta. Bombardeios da artilharia israelense contra o Sul do Lbano provocaram dois massacres: o primeiro, em Nabati, matou 10 pessoas, entre elas um beb de trs dias. O segundo, horas depois, atingiu uma base das Naes Unidas transformada em acampamento em Can, nos arredores de Tiro, matando pelo menos 100 pessoas e ferindo mais de 190, quase todos civis, a maioria mulheres e crianas, que se haviam refugiado no local para escapar dos bombardeios israelenses. O bombardeio israelense aconteceu em resposta a um ataque com foguetes Katyusha, lanados pelo Hisbol de uma posio a 300 metros da base. A rota dos foguetes foi refeita por radares israelenses, e 15 minutos depois Israel bombardeou em resposta, errando o alvo. O Hisbol negou que tivesse lanado foguetes de posies prximas base da Fora Provisria das Naes Unidas no Lbano (Unifil, das iniciais em ingls), acusando Israel, num comunicado divulgado em Beirute, de espalhar boatos falsos. Mas o ataque do Hisbol foi confirmado por um porta-voz das Naes Unidas. O massacre deixou indignada a populao, arrasados at mesmo fotgrafos e cinegrafistas acostumados a registrar cenas semelhantes, e provocou imediata e vigorosa reao internacional. Parentes da vtimas gritavam ao lado dos corpos, culpando Israel mas tambm acusando o Hisbol, por ter atirado de local to prximo ao campo sabendo que Israel costuma rastrear os ataques. O primeiro-ministro israelense, Shimon Peres, disse lamentar o bombardeio, mas responsabilizou o Hisbol pelo episdio. O nico culpado o Hisbol, e se os srios e os libaneses no impedirem ele vai provocar uma tragdia no Lbano, afirmou o primeiro-ministro, durante entrevista coletiva imprensa, em Tel Aviv. Israel acusa o Lbano e a Sria de serem coniventes com os terroristas instalados em territrio libans, de onde atacam constantemente alvos civis no Estado judeu. Em entrevista televiso francesa Antenne 2, o primeiro-ministro libans, Rafic Hariri, declarou-se verdadeiramente comovido pelas declaraes de Peres, e desafiou o premier israelense a mostrar coragem, reconhecendo que o bombardeio foi um erro. Carnificina - Quinhentos civis libaneses se haviam refugiado no campo para fugir dos bombardeios israelenses ao Sul do Lbano. O reprter Brent Sadler, da rede de TV a cabo CNN, falou de cenas terrveis de carnificina. Sadler, que esteve no local, contou que muitos fotgrafos e cinegrafistas baixaram as cmeras e comearam a chorar diante dos corpos mutilados de homens, mulheres e crianas. Os feridos, entre eles alguns soldados da ONU, foram levados para hospitais de Tiro. Antes do bombardeio contra Can, um ataque da aviao israelense contra Nabati, tambm no Sul do Lbano, destruiu uma casa, matando 10 pessoas, entre elas uma me e sete filhos. Uma das crianas era um beb, de apenas trs dias. O pai, em peregrinao a Meca, no chegou a conhecer o filho. Apesar do choque provocado pela morte de tantos civis, Israel afirmou que pretende continuar os bombardeios. Acredito que a operao v continuar, pelo menos por alguns dias, mas impossvel fixar um prazo. Pode levar uma semana ou 10 dias, disse o ministro do Exterior, Ehud Barak, ex-comandante militar, rdio do exrcito israelense. Alvos - Um porta-voz do governo israelense, Uri Dromi, reiterou que Israel no tem outra escolha, pois a prioridade interromper os ataques de Katyushas contra o pas. Dromi afirmou que as operaes parariam se foguetes parassem de cair. Mas o Hisbol aumentou os ataques, em vez de cess-los, afirmou. Os israelenses acusam o Hisbol de se esconder atrs de civis. Questionado por um reprter da CNN sobre o ataque a Nabati, o chanceler Barak disse que Israel bombardeou a casa onde morreram vrios civis porque momentos antes avies israelenses tinham sido alvejados exatamente daquele local. Quando o reprter perguntou a Barak sobre a promessa de no atacar o Hisbol se houvesse perigo de matar civis, Barak respondeu que o piloto que bombardeou a casa no podia saber que havia civis l. Shimon Peres, que se reuniu com o presidente palestino Yasser Arafat ontem, reagiu ao ataque de Nabati (o outro no havia ocorrido ainda) dizendo que pensava que a cidade estava vazia, que todos foram instrudos a deixar suas casas. Mas os libaneses responderam a isso dizendo que no tinham para onde ir com seus filhos e perguntaram que direito Peres teria de mand-los sair de suas casas. O primeiro-ministro israelense disse que est disposto a aceitar o cessar-fogo proposto pelos EUA se o Hisbol se comprometer a parar de atirar contra o Norte de Israel. Em entrevista CNN, de Damasco, na Sria, o primeiro-ministro libans, Rafic Hariri, acusou Israel de obstruir as negociaes. No o Lbano que est recusando uma soluo poltica, Peres, disse Hariri. Veja o que est acontecendo. Ele est matando inocentes e deixando o Hisbol intacto, afirmou. Os ataques de Israel foram iniciados h nove dias, depois que foguetes Katyusha lanados pelo Hisbol feriram 36 civis na cidade israelense de Kiriat Shmona. Desde ento, Israel vem bombardeando sistematicamente o Sul do Lbano, sem ter conseguido impingir grandes danos ao grupo terrorista - as baixas so praticamente todas civis. | Em resposta aos foguetes Katyusha do grupo fundamentalista Hisbol , Israel bombardeou o Sul do Lbano, matando mais de 100 pessoas e ferindo cerca de 190 --- a maioria mulheres e crianas, que ali estavam refugiadas numa base. O massacre deixou indignada a populao , e os reprteres e cinegrafistas, apesar de acostumados a tais cenas ficaram arrasados. A reao internacional veio rpida e vigorosa. A auto-defesa dos responsveis pode ser resumida no simplismo irresponsvel das brigas de moleques: ---Foi voc! / ---No, foi voc! / ---Voc comeou primeiro! / ---No, foi voc! Apesar dos lamentos oficiais pelo bombardeio, um porta-voz do governo israelense disse que o pas no tem outro jeito, pois a prioridade a interrupo dos ataques dos foguetes Katyushas. Em nenhum momento , as declaraes oficiais priorizaram a vida humana --- de civis inocentes. |
mu94ab02-b | Sete pessoas foram assassinadas em Los Angeles num final de semana, nmero to normal que nenhum deles mereceu destaque nos principais jornais da cidade. Mas no Japo, onde assassinatos so um fenmeno quase desconhecido, dois deles provocaram comoo nacional. Dois estudantes japoneses morreram com tiros na cabea na semana passada no estacionamento de um supermercado prximo ao Marymount College (zona sul), onde eles estudavam. O assassinato de Takuma Ito e Go Matsuura o terceiro ataque fatal a japoneses em visita aos EUA em trs anos. Esses incidentes suscitaram temor numa nao que envia 50 mil estudantes e trs milhes de outros viajantes aos EUA todos os anos. S em LA, os turistas japoneses gastaram cerca de US$ 480 milhes em 93. As autoridades qualificaram o crime de sequestro de automvel. Os analistas de notcias de Tquio tiveram que explicar o que isto significava. No ano passado ocorreram apenas 100 homicdios em Tquio, cidade com 13 milhes de habitantes e que durante o dia tem uma populao de mais de 20 milhes. Estima-se que no Japo inteiro no existam mais que 100 mil armas de fogo -s concedidas com licena especial. Nos EUA, h cerca de 200 milhes de armas. O ndice de assalto nos EUA cerca de 130 vezes superior ao do Japo. Em 1992, de um rapaz de 16 anos em Baton Rouge, Louisiana, pelo dono de uma casa. O rapaz se confundiu com a casa em que estava sendo realizada uma festa de Halloween, para onde se dirigia. O dono da casa foi absolvido, tendo sido considerado que ele agira em defesa prpria. No ano passado, um japons de 25 anos foi baleado e morto numa estao ferroviria de Concord, Califrnia, durante um assalto. O caso ainda no foi resolvido. Desta vez o governo japons aconselhou seus cidados que pretendem viajar aos EUA ter prudncia na escolha dos lugares que pretendem visitar. Autoridades tursticas americanas prevem queda no nmero de visitantes do Japo. Mas a maioria dos especialistas acha que a reduo seria temporria; os EUA ofereceriam tantas atraes que alguns assassinatos no seriam o suficiente para afastar os turistas. O cnsul-geral japons Seiichiro Noboru diz que os assassinatos no vo 'mudar o amor que os japoneses sentem pela ensolarada Califrnia. Crimes acontecem em qualquer lugar do mundo. J as autoridades americanas esto pregando o perdo. Mil policiais extras no teriam conseguido evitar algo to brutal e sem sentido, disse o sargento Steve Foster, da polcia de Los Angeles. As autoridades americanas pedem desculpas e exortam os japoneses a no terem medo, mas a verdade que eles deveriam ter medo, sim. Todos sabemos que h lugares onde jamais iramos noite, e talvez nem mesmo de dia. Est na hora de os EUA, de todos ns, enfrentarmos esse problema, disse Jimmy Takeshi, da Liga dos Cidados Nipo-Americanos em Los Angeles. Ele encontrar apoio para suas posies no Japo. Depois do caso da Louisiana, muitos japoneses criticaram os EUA por suas leis permissivas referentes ao porte de armas. Os pais da vtima circularam um abaixo-assinado pela proibio do porte de armas nos EUA. O incidente recente deve suscitar um clamor ainda maior. As duas vtimas, de 19 anos, eram muito populares na universidade. Um cara fantstico e timo aluno, como John Escandan descreveu Ito, seu colega de quarto. Nenhum dos dois morreu instantaneamente. O Japo acompanhou a chegada de seus pais, que autorizaram os mdicos a desligarem os aparelhos. O prefeito de Los Angeles, Richard Reardon, sugere folhetos descrevendo a hora mais segura para se sair de casa e os locais onde (os japoneses) no devem ir. Mas provvel que o local onde foram assassinados os dois estudantes no constaria de uma lista desse tipo. A vizinhana de Marymount agradvel e tem baixo ndice de criminalidade. A faculdade diz que os alunos esto chocados com a tragdia. As bandeiras esto hasteadas a meio pau, em sinal de luto. Estudantes e amigos vm colocando rosas e velas onde eles foram baleados.(Richard Price e Jonathan Lovitt) | O nvel de apreo vida tem indicadores bem significativos: sete pessoas assassinadas em Los Angeles num fim de semana no mereceram destaque em nenhum dos principais jornais da cidade; dois estudantes japoneses, mortos perto do seu colgio , Marymount College, provocaram uma comoo no Japo. Em todo o Japo, avalia-se que existem 100 mil armas; nos EUA, cerca de 200 milhes. O ndice de assalto nos EUA , aproximadamente, 130 vezes superior ao do Japo. O Japo, que envia 50 mil estudantes e trs milhes de turistas aos EUA, anualmente, est aconselhando-os a serem prudentes na escolha de lugares que vo visitar. Autoridades tursticas americanas at acreditam na queda de visitantes; mas a maioria supe que seja temporria , dada a variedade de maravilhas que o pas pode oferecer. As autoridades americanas pedem desculpas e continuam estimulando os japoneses a perder o medo, mas a prudncia da Liga dos Cidados Nipo-Americanos em Los Angeles alerta para o problema . |
op94ju01-10 | Os partidos e a sucesso JOS ALVARO MOISS ...o eleitor no quer saber se um partido bom ou ruim, ele v quem so as pessoas de determinado partido que funcionam. Fernando Henrique Cardoso, 9.04.94, Folha de S.Paulo O sistema partidrio brasileiro um dos mais frgeis dentre os existentes em pases que se democratizaram recentemente. Ainda assim, os partidos esto concluindo o processo de escolha de seus candidatos Presidncia e, apesar da duvidosa deciso do STF permitindo que as microlegendas tambm possam faz-lo, tudo indica que a disputa ser entre os nomes hoje em campo. Resta, no entanto, uma preocupao: a campanha eleitoral de 94 ajudar ou atrapalhar a consolidao de um sistema de partidos no pas? A preocupao justifica-se caso se leve em conta, por um lado, a experincia profundamente disruptiva para o sistema de partidos representada pela eleio presidencial de 1989; e, por outro, a atitude que, surpreendentente, alastra-se entre setores das elites polticas do pas e, mesmo, em parte da mdia. Aos poucos, mesmo candidatos oriundos da luta democrtica permitem-se desqualificar os partidos e trat-los como se fossem legendas destinadas exclusivamente a viabilizar suas candidaturas Presidncia. Em 1989, em decorrncia da atitude irresponsvel de parte da liderana auto-intitulada democrata, o pas chegou s eleies com um sistema partidrio praticamente destrudo, apesar de existirem sinais favorveis sua reorganizao desde meados da dcada. Prova eloquente foi o fato de um partido que no existia 12 meses antes da eleio, o PRN, ter vencido o pleito, enquanto o PMDB e o PFL, fiadores da transio poltica, no alcanaram juntos mais que 5% dos votos. A distoro de 1989 explica-se, em parte, pela existncia de uma legislao partidria impeditiva da organizao dos partidos em sistema mas, alm disso, um erro isentar o ex-presidente Jos Sarney e as lideranas da Aliana Democrtica de sua responsabilidade. Eles atrelaram a sorte dos seus partidos administrao eleitoral da crise social e econmica, atravs dos rumos tortuosos do Plano Cruzado e das negociaes em torno da durao do mandato do presidente. Nos ltimos anos, as tentativas de se enfrentar os problemas da legislao partidria foram malsucedidas, chegando-se a pior-la no caso do financiamento das campanhas eleitorais. So cruciais, portanto, as iniciativas das lideranas polticas. Aps a experincia traumtica com Collor de Mello e o envolvimento de lderes do PMDB e membros do PFL, entre outros, nos escndalos de corrupo, ensaiaram-se alguns passos. Partidos como o PT esforaram-se mais, nos ltimos cinco anos, para tornar conhecida a sua concepo governativa atravs da elaborao do seu programa de governo. Outros, como o PSDB e setores do PDT, procuraram definir de modo mais ntido seu compromisso contra o clientelismo, o favoritismo e a corrupo. Mesmo se insuficientes, essas iniciativas valem por apontar caminhos para a constituio de um efetivo sistema de partidos no pas. A concepo moderna de democracia a da democracia representativa (e, lembra Bobbio, isso no exclui que ela se complemente com formas de participao semidireta); mas o princpio da representao implica que, atravs dos seus representantes eleitos e das instituies de mediao entre o Estado e a sociedade, os cidados representem-se no governo. No se trata, apenas, de os cidados controlarem os governos atravs de eleies (embora isso seja decisivo) mas, tambm, de que, atravs de mediaes como os partidos, seus interesses e aspiraes sejam canalizados nas arenas onde as decises so tomadas. Nas democracias consolidadas, os partidos so pea fundamental da estrutura que obriga governos e polticos a se responsabilizarem por suas aes diante do pblico. So, portanto, referncia indispensvel para a definio das preferncias dos eleitores. Bem ou mal, o regime democrtico sinaliza isso para os cidados, mesmo quando eles so parte de uma estrutura imperfeita de informao e de conhecimento sobre a poltica. Prova disso o que vem acontecendo no Brasil em torno da relao dos cidados com os partidos polticos: apesar do seu desempenho rudimentar, nos ltimos cinco anos a taxa dos eleitores que manifestam alguma preferncia partidria cresceu de 41% para 56%. Alm disso, como atestam as pesquisas do Datafolha, h uma extraordinria consistncia nas opinies: as taxas mais altas de preferncia por candidatos correspondem aos eleitores que, ao mesmo tempo, tm preferncia pelo partido do candidato; at a queda recente e simultnea, por exemplo, do apoio pblico ao Plano Real e a FHC mediada pela preferncia dos eleitores por partidos. Formam-se assim, no Brasil, condies subjetivas favorveis consolidao de um sistema de partidos: cabe, agora, s lideranas fazer a sua parte. Por isso to decepcionante a estranha posio embora elucidativa de candidatos que, supondo serem os detentores do monoplio de modernidade poltica, manifestam-se com desprezo ou raiva diante dos partidos e de suas dissidncias. Se o zigue-zague de Sarney, nas ltimas semanas, mostrou que a sua lealdade ao PMDB nunca foi sria, FHC suscita outras dvidas ao repetir declaraes como a do epgrafe acima. Aos crticos da aliana do PSDB com o PFL, chegou a recomendar, at, que apoiassem o candidato do PT, Luiz Incio Lula da Silva. O apoio , certamente, benvindo, mas a posio do candidato do PSDB/PFL sobre o lugar que reserva aos partidos na democracia representativa precisa ser mais esclarecida. Esse ponto, por certo, no escapar ao debate dos que, legitimamente, do tanta importncia ao tema da representao. JOS ALVARO MOISS, 48, cientista poltico, professor do Departamento de Cincia Poltica e coordenador do Programa de Poltica Comparada da Universidade de So Paulo. membro do Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contempornea). | Os partidos e a sucesso JOS LVARO MOISS ...o eleitor no quer saber se um partido bom ou ruim, ele v quem so as pessoas de determinado partido que funcionam. Fernando Henrique Cardoso, 9/04//94 , Folha de S. Paulo Dentre os partidos de pases de democracia recente, o sistema brasileiro um dos mais frgeis. Mesmo assim, nossos partidos esto se preparando para a escolha do seu candidato presidncia e , apesar da hesitao do STF sobre a permisso para microlegendas, parece que disputa se dar entre os nomes atuais. A preocupao se campanha de 94 ajudar ou no a consolidao de nossos partidos. desalentador ver que mesmo candidatos com retaguarda de luta democrtica desqualificam os partidos como se fossem simplesmente canal para eleger-se. A maior prova disso a vitria do candidato eleito pelo PRN, partido com menos de um ano, enquanto o PMDB e o PFL no obtiveram juntos mais que 5% dos votos. Ultimamente , as tentativas de enfrentar os problemas da legislao partidria foram infrutferas, chegando a pior-la na questo do financiamento das campanhas. Aps a trgica experincia com Collor de Mello e o comprometimento de lderes do PMDB e membros do PFL com corrupo , houve alguma reao. O PT avanou ao expor sua concepo de governo por intermdio do seu programa. Outros, como o PSDB e setores do PDT, buscaram ser mais claros no seu compromisso contra clientelismo, favoritismo e corrupo. No muito , mas um comeo . O conceito moderno de democracia se fundamenta na sua representatividade e implica que seus representantes e as instituies medeiem os interesses dos cidados com o Estado. As aspiraes do povo devem ser canalizadas para a arena das decises oficiais. a funo primordial dos partidos nas democracias slidas. Uma tendncia alvissareira a manifestao dos eleitores, nesses cinco ltimos anos, por determinado partido. Ela cresceu de 41% para 56%. J esto sendo construdas as condies subjetivas pr consolidao dos partidos ; que as lideranas faam sua parte, afastando-se do pensamento de FHC expresso na epgrafe. |
op94ma28-02 | Pele de cordeiro Na histria da humanidade, no so raros os exemplos de movimentos sociais de grande aceitao e respeitabilidade que acabam dando margem para deturpaes e desvios, ou mesmo que so utilizados por grupos ou setores especficos para travestir a defesa de interesses corporativos exclusivos. inegvel, por exemplo, que o anseio por moralizao na esfera pblica que se vem disseminando representa um alentador avano na trajetria cvica e poltica do pas. Isso no significa contudo que qualquer iniciativa que alegue ter um carter moralizador seja automtica e necessariamente correta, adequada ou mesmo desejvel. O difcil, mas essencial, distinguir o objetivo alegado para cada ato do seu significado concreto. Assim que causa profunda inquietao a notcia de que o Movimento pela tica na Poltica acaba de aprovar a criao de um comit destinado, entre outras tarefas, a fiscalizar o trabalho da mdia durante a campanha e apontar ao pas comportamentos alegadamente antiticos por meio de boletins. A questo delicada e merece anlise cuidadosa. Chama a ateno, desde logo, que num regime democrtico j facultado a todos os cidados fiscalizar se a imprensa, o governo ou qualquer outra entidade esto ou no cumprindo a lei. A apreciao de eventuais denncias, por sua vez, bem como a deciso sobre a ocorrncia ou no de efetiva irregularidade, ainda numa democracia, de competncia exclusiva do Poder Judicirio. O comit proposto pelo Movimento pela tica na Poltica representa um precedente muito perigoso e que deve ser evitado porque passa ao largo dessa indispensvel estrutura institucional de fiscalizao e cria uma instncia privada, particular e potencialmente parcial de julgamento da mdia. Por mais que no tenham fora legal, as opinies pessoais do membros desse comit _pois a isso que se resumiro seus boletins_ vo se aproveitar da aura de legitimidade do Movimento, adquirindo carter mesmo de uma condenao espria porque feita por rgo no competente e sem qualquer tipo de garantia de iseno. Perigo ainda maior o decorrente de uma iniciativa assemelhada originria da Federao Nacional dos Jornalistas. A Fenaj aprovou no seu mais recente congresso nacional _evento, alis, de representatividade questionvel_ e depois enviou ao procurador-geral da Repblica proposta de instituio de um ombudsman e de comisses de vigilncia da mdia para garantir uma suposta iseno desta durante a campanha eleitoral. No bastasse o fato de a entidade ser notoriamente ligada a um partido poltico especfico, o prprio texto da proposta to escancarado no seu facciosismo, to primariamente panfletrio, to ideologicamente viciado e tendencioso que torna ridcula _para no dizer grotesca_ a pretenso da entidade de arrogar-se paladina da iseno e da imparcialidade. A pea de fato fervilha de sofismas infantis como ...o governo Itamar Franco perpetuou a lgica neoliberal do governo Collor em sua poltica de privatizaes, de abertura da economia brasileira, de arrocho de salrios e de submisso s regras do sistema financeiro internacional, que, insistindo em permanecer na contramo da histria, tenta falaciosamente confundir movimentos estruturais de alcance global com o desastre collorido. Ao menos a chancela da Procuradoria-Geral essa aberrao no ter, j que em boa hora o titular do rgo rejeitou a proposta. Lev-la adiante, de fato, seria colcoar em risco a prpria independncia e liberdade da imprensa no pas. Cumpre notar, por fim, que para a imprensa essa liberdade j implica uma responsabilidade correspondente. H mecanismos legais que protegem a sociedade contra eventuais abusos e irregularidades da mdia, e o recente caso do direito de resposta obtido pelo governador carioca, Leonel Brizola, contra a Rede Globo _lido no ar por locutor do prprio Jornal Nacional_ deixa patente que esses mecanismos realmente funcionam na prtica. J no que se refere ao aspecto apenas ideolgico _e no puramente jurdico_ a avaliao da conduta da imprensa, esta cabe aos prprios leitores. nas mos destes que est o juzo do comportamento e da credibilidade dos rgos de informao, assim como o poder de rejeitar aqueles que considerar indignos da sua confiana. Um poder, alis, mortfero. | Pele de cordeiro Na histria da humanidade, muitos movimentos sociais de aceitabilidade e respeitabilidade so aproveitados por grupos ou setores especficos para a defesa camuflada dos prprios interesses. O anseio por moralizao pblica , por exemplo, representa um avano cvico e poltico. Mas iniciativas que se arvorem em defensores dessa linha no so necessariamente corretas ou desejveis. fundamental distinguir teoria da prtica. Causa preocupao , portanto, a notcia da criao de um comit pelo Movimento de tica na Poltica destinado, tambm, a fiscalizar a atuao da mdia durante a campanha e apontar suas falhas por meio de boletins. Num regime democrtico, esse trabalho fiscalizador envolvendo inclusive governo ou outra entidade pode ser feito por qualquer cidado. E a apreciao de irregularidades de competncia do Poder Judicirio. As opinies pessoais dos membros desse comit esto querendo aproveitar a aura de legitimidade do Movimento. Outro perigo ainda maior a iniciativa da Federao Nacional dos Jornalistas que prope a instituio de um ombudsman e de comisses de vigilncia da mdia para garantir suposta iseno na campanha. Alm de ser ligada a um determinado partido poltico, a entidade apresenta um texto por si faccioso, panfletrio e tendencioso. Nele aparecem sofismas infantis como ... o governo Itamar Franco perpetuou a lgica neoliberal do governo Collor em sua poltica de privatizaes, de abertura da economia brasileira, de arrocho de salrios e de submisso s regras do sistema financeiro internacional .O texto insiste em confundir movimentos estruturais globais com os desacertos de Collor. Felizmente, a Procuradoria-Geral rejeitou a proposta. Ela representa um risco para a liberdade da imprensa. J existem mecanismos para conter eventuais abusos e irregularidades da mdia . Reparos sua linha ideolgica devem ser feitos pelos leitores. |
ce94mr1-09 | Leia o texto integral do pronunciamento de FHC Eu quero agradecer a presena, nesta tarde, aqui conosco, dos ministros que aqui se encontram. Ministro Barelli, ministro lcio lvares, ministro Arnaldo, o secretrio Mauro Durant, ministro Mauro Durant, ministro Cutolo, ministro Stepanenko, ministro Canhim, advogado geral da Unio, que aqui nos honram com a sua presena, dr. Quinto, srs. secretrios, srs. presidentes de federaes governamentais, senhoras e senhores. Eu disse h alguns meses que eu considerava que a inflao e a misria eram os dois grandes problemas que afligiam o povo brasileiro. Ns hoje estamos dando mais um passo nesta guerra contra a inflao, para que isso nos permita continuar a combater a misria e para que ns possamos ter um xito nessa dupla luta contra esses dois males. Os brasileiros, todos sabem, tm assistido, que no fcil. Ns estamos vindo de dcadas de um comportamento inflacionrio, no qual houve uma imensa concentrao de renda, comportamento inflacionrio que levou aqueles que no tinham a capacidade econmica de proteger seus haveres, seus ganhos, seus salrios, colocando-os na moeda remunerada, mas que estavam desabrigados de qualquer defesa e que no dia-a-dia mal conseguiam fazer frente s suas necessidades. Esse comportamento que se cristalizou no Brasil precisava ser rompido e precisa ser rompido. Este um processo, uma luta. uma luta que tem que ser uma luta de todos ns. Fomos dando os passos iniciais no governo do presidente Itamar Franco, que com muita determinao, resolveu que ao invs de cruzar os braos e ao invs de se preocupar simplesmente com a conjuntura e com aquilo que pode afligir um governo, que por sua prpria natureza passageiro e no dispe de um grande perodo de tempo, tomou outro rumo, resolveu enfrentar pela raiz essas questes. E ns diagnosticamos esses dois males, a misria e a inflao, e ns os estamos atacando. Ao ministro da Fazenda e aos ministros das reas econmicas cabe a responsabilidade principal, sempre dentro das diretrizes do governo e do presidente da Repblica, no combate inflao. Mas isso no quer dizer que esses mesmos ministros, ao lado de outros da rea social, possam desinteressar-se do combate fome, pobreza, ao desemprego e misria. um processo convergente. No front de luta direto da rea econmica, ns lutamos por refazer o oramento da Repblica em 93 e 94. No vou entrar em detalhes, por uma razo muito simples. Se o governo gasta mais do que ele ganha, mais do que ele recolhe de impostos, ele obrigado a emitir ttulos, a pedir dinheiro emprestado, a pagar juros altos e ele ento passa a ser o principal alimentador da ciranda financeira, que mantm o pas em estado de perplexidade, vendo uma grande expanso da massa dos financiamentos a juros elevados e no sendo o governo capaz de fazer frente s suas necessidades, as mais elementares. Foi uma batalha dura e ns no a fizemos se no que com a parceria do Congresso. O Congresso fundamental nessa luta, o governo no pode se queixar. Com as dificuldades normais desses processos, o Congresso nos deu os instrumentos para o combate inflao, iniciando pelo oramento. Refizemos o oramento com enormes sacrifcios dos congressistas, dos ministros, que foram solidrios. No nada fcil cortar despesas quando j se parte de um patamar muito apertado. Agora, ns j temos condies de dizer que o Brasil est entrando num regime de equilbrio fiscal, ns podemos dar um outro passo. esse passo que est sendo dado a partir de amanh, cujas diretrizes foram assinadas pelo presidente da Repblica e publicadas no Dirio Oficial de hoje. Passo to difcil quanto os anteriores, mas aqui no buscamos o caminho da facilidade. Ns anunciamos cada etapa e mesmo antecipamos as etapas seguintes, sabendo muitas vezes que ao antecipar criaramos obstculos e reaes. Mas esses ministros que aqui esto, o presidente da Repblica e os que aqui no esto porque no puderam vir ou no so das reas diretamente concernidas, no tm medo de obstculo e preferem dizer que h obstculo, lutar, negociar, tentar vencer do que esconder. E tambm no querem fazer nenhuma mgica. No somos ilusionistas. No fizemos o caminho de primeiro dar aquilo que a todos agradaria, que seria a queda abrupta da inflao, eventualmente com congelamento. Eventualmente congelamento sempre significa tambm congelamento de salrio, comea pelos preos e pelos salrios, termina s no salrio. No foi esse o nosso caminho. Ns achamos que preciso que haja um outro caminho no Brasil. Um caminho no quel o pas no seu conjunto assuma solidariamente a tarefa de lutar contra a inflao, para que ns possamos, tambm juntos, lutar contra a pobreza e a misria. Daqui por diante, esse programa do governo Itamar Franco ou um programa do pas, no para um partido, no para um candidato, no para uma faco, no para uma classe, para o pas e a prpria cidadania tome em suas mos a responsabilidade de continuar esse combate ou no h programa. O Congresso foi solidrio em algumas decises. Vamos precisar dele de novo. Precisamos que o Congresso no se esquea de promulgar o Fundo Social de Emergncia, que componente vital do programa de equilbrio das finanas pblicas. Precisamos da solidariedade do Congresso, da compreenso do momento para que ns possamos levar adiante as novas medidas, que esto comeando a ser tomadas agora. O importante que ns no perdemos a rota. E ns temos sido fiis quilo que anunciamos. H dificuldades. Quem no percebe? Quem nega isso? Certamente no os ministros, certamente no o presidente. Mas, ns decidimos enfrent-las. Terminada a etapa de reformulao dos oramentos, ns temos que entrar agora no grande dilogo nacional. E ao enfrentar o grande dilogo nacional, ns estamos propondo ao Brasil uma referncia mais estvel, estvel, firme de valor. Qual o brasileiro hoje que sabe o preo relativo? Quanto custa um sapato? Quanto custa uma bicicleta? Quanto custa uma televiso? Quanto custa um automvel? Nem mesmo uma casa. Passamos a recorrer a moedas estrangeiras para ter alguma idia do valor relativo. O nosso pobre cruzeiro, chamado real, ia se dismilinguindo em nossas mos, virava sorvete, desaparece. Ns precisamos nos reacostumar a que os preos tm que estar estabelecidos, duradouramente, numa certa unidade de conta, por isso estamos criando a Unidade Real de Valor. Esta URV hoje parte do sistema monetrio. Esta Unidade Real de Valor vai servir de base fundamental para aferir tanto o preo quanto o salrio. Tanto o preo da mercadoria quanto o salrio e isso uma novidade muito importante. At hoje, nunca nenhum governo deu ao trabalhador, ao assalariado, a garantia no ponto de partida que o dinheiro que ele pensa que recebe no dia 1 do ms vai ter a mesma capacidade de compra no momento em que ele recebe de fato no fim do ms. Agora ter. Agora, o salrio cem, fixado em cem no dia 1 de maro vai ser recebido no dia 1 de abril com o mesmo valor de 100 URV. No dia 1 de maro, se fosse o salrio mnimo, ele valeria cerca de CR$ 55 mil. Quando chegar no dia 1 de abril ele vai valer CR$ 58 e qualquer coisa, no vai perder a capacidade de compra. O aposentado, que recebe num espao de tempo, aquele que recebe no 10 dia, 12 dia do ms, que realmente quando recebia o dinheiro, o salrio mnimo que fosse, pensando que era cem, na verdade quando chegava l isso j era 80 e mais no fim do ms 60. Agora no. Agora o aposentado que recebia no 12 dia do ms, se a inflao for de 40%, toda inflao entra no salrio dele e se ele tiver salrio mnimo de CR$ 55 mil, quando chegar no 12 dia til, que ele vai receber, ele vai receber CR$ 7O mil. Por qu? Porque o salrio est referido Unidade Real de Valor. E os preos? O pas inteiro clama e o ministro tambm, contra a especulao, o abuso dos oligoplios, daqueles que no querem entender que o momento hoje no o de espoliar ainda mais esse povo, o de apoiar um programa decente, limpo, claro. Por que ns no fizemos a URV para os preos? Porque ns no queremos dar aos preos a garantia que damos aos salrios. Hoje, o assalariado est com uma couraa protetora, que a URV. Se o preo sobe eu espero que no suba e vou ver, vou ver, os que tm abusado da pacincia desse povo. Pois bem, pois bem, quando subirem, se subirem os preos automaticamente sobem os salrios. Por qu? Porque a URV medida por trs ndices de preo e, portanto, automaticamente qualquer subida passa para os preos. Mas, ns no vamos congelar, porque isso no resolve. Isso somente serve para aular ainda mais a gana daqueles que querem ganhar no mercado negro, daqueles que vo jogar pelo desabastecimento. No haver congelamento, porque isso no funciona para com o povo. Haver a crena em que, na competio, ou os preos baixam ou no encontram quem compre. E quando o preo for de monoplio ou de oligoplio encontrar pela frente o governo instrumentado para uma negociao muito firme, que os levem a compreender que nesse momento de transio ns precisamos da unio de todos. No so palavras, o Brasil cansou. O Brasil cansou de mgica, cansou da explorao. O governo do presidente Itamar Franco, que se manifestou sempre com sensibilidade social sabe que o crescimento econmico importante. Ns no estamos fazendo um programa para recesso. Ns estamos fazendo um programa para o equilbrio. No se faz equilbrio com desemprego. Existem normas, na prpria medida provisria, que tornam mais difcil a dispensa injustificada. Mas ns queremos que, ao invs de pensar em dispensa, se pense em mais do que isso, se pense em emprego, se pense no aumento de oportunidades. Este programa vai permitir, em breve tempo, um investimento mais seguro, mais firme. As Bolsas so um exemplo disso. Ns no tomamos aqui nenhuma medida que venha a prejudicar o investidor, pelo contrrio, ns queremos investidor. Queremos investidor daqui e de fora. Queremos que realmente haja uma gerao de oportunidades. Queremos mais empregos. E ns no vamos descuidar tampouco dos programas especficos como o da fome, como disse aqui, do problema de emprego. Ns estamos mostrando a cara do Brasil na sua realidade. Nossa moeda nova vai se chamar real. Esse processo, esse programa um programa realista. Ns no estamos oferecendo iluses. Ento descobrimos, ou melhor, realamos talvez, algumas injustias que j existem e que vo deixar este pas ainda mais ansioso por resolv-las. Estamos dando um passo. Vamos buscar caminhos que melhorem a base da sociedade. Neste momento, o ministro da Fazenda, o que ele est fazendo, no uma poltica salarial, at porque h outros ministros que faro a poltica salarial. Ele est simplesmente fazendo uma converso de moeda e fazendo de modo que dento do possvel e assim , possvel, os grficos esto a disposio de todos, que o governo faa isso garantindo os salrios, a renda real. Ento, tenho certeza, que quando chegar o momento dos outros passos, da transformao da URV em real, em moeda de circulao livre no pas, vamos fazer do mesmo modo, como fizemos at agora. Faremos isso anunciando, pr-anunciando, no nos desviando dos objetivos, negociando. No creio que jamais tenha havido um programa de estabilizao to aberto quanto este. Quando foi oportuno e possvel conversei com as lideranas sindicais, praticamente todas as centrais sindicais. Aqui estiveram neste Ministrio os mais importantes lderes, o Jair Meneghelli, o Vicentinho, o Medeiros, o Pegado, o Urbano, da Contag, o Neto, nunca me furtei a conversar, a mostrar os dados, a pedir sugestes, a dizer que o governo estava e est aberto, mas quer sadas, no quer impasses, porque o Brasil no pode esperar que simplesmente se paralise tudo porque h uma reivindicao que momentaneamente no possa ser atendida. Fizemos a mesma coisa com o Congresso, quando abrimos totalmente o oramento para o Congresso. Faremos a mesma coisa com toda a sociedade. Esta fase da Unidade Real de Valor uma fase na qual os contratos vo se acomodar livremente. Ns s regulamos o que era necessrio regular. Quando definimos uma regra de converso dos salrios foi para proteger o assalariado. Quem compra faremos a mesma coisa. Daremos um espao negociao, negociao de aluguis, negociao das mensalidades escolares, dos planos de sade. Esperamos que a sociedade se acomode. Quando o contrato for escrito em URV e a partir de 15 de maro todos os contratos novos tero de s-lo a partir desse momento o contrato vale por um ano, sem reajuste, estvel em URV. Quando for renegociado, repactuado livremente pela sociedade, aplica-se a mesma regra. um momento de grande negociao na sociedade brasileira at que se veja que est madura para a definio da nova moeda. Eu sou perguntado todos os dias pela imprensa, e eu preciso da imprensa escrita, falada, televisiva, para que o povo entenda o programa, todos os dias eu sou perguntado quando que vem o real. Ele vir quando o povo quiser. Ele vir quando o pas estiver amadurecido e sentir que entendeu as regras, que j no vamos fazer nenhuma injustia aqui e ali e que o momento de passar para o real. Se ns fizssemos j a transformao, uns estariam ganhando muito, outros poucos, porque no teria havido essa acomodao. E aquilo que no momento parecia pico, vira vale no momento seguinte porque os preos podem subir e arrebentam o plano. Por isso no fizemos. A idia de que preciso ajustar pelas mdias para proteger a possibilidade da manuteno de um programa e para que essa mdia seja piso na negociao seguinte. Ns no estamos congelando o salrio de ningum. Est livre a negociao. Est livre a negociao e eu acredito que ns temos que aprender todos a negociar cada vez mais. Daqui para a frente o assalariado, o funcionrio pblico, ao qual demos uma data base 1 de janeiro, vai ter que discutir ajustes em termos reais. No se trata mais de recuperar a perda, a perda est automaticamente recuperada pela URV. Daqui por diante corrigir injustias. acertar as injustias e trabalhar mais, aumentar a produtividade. ganhar mais. fazer o Brasil crescer, porque o Brasil tem condio e vai crescer. E quando vier o real, ele ser a expresso desse novo pas. Um pas que, como eu disse aqui nesta sala no meu discurso de posse, tem que voltar a ter dignidade, tem que acreditar em si, no tem que ter uma moeda que se derrete, tem que ter uma pataca, uma moeda forte, firme, com a qual ele vai pagar o trabalho daqueles que suaram o tempo todo, que no vo mais ser iludidos por um ganho que desaparece. Daqui para a frente o trabalho vai ser muito grande, mas eu tenho confiana. Tenho muita confiana. Essa confiana eu a tenho, porque eu sinto no povo, com todas as dificuldades, com todas as agruras, o povo avana firme, negocia, discute. Eu sinto no governo. Esse governo democrtico, eu nunca vi talvez um governo to democrtico. A caracterstica do presidente da Repblica, Itamar Franco, essa. Ele ouve. Ouve muito, permite que se acomodem as divergncias. No pode haver governo onde um s fale, nem o presidente e muito menos um ministro qualquer. Todos ns temos o nosso direito, nosso dever de opinar. Uma vez decidido, est decidido e cumpra-se. Essa a democracia. Democracia muita discusso, consenso e fora solidria para que as coisas avancem, esse o nosso caso. E vo avanar, e vo avanar. Eu vou terminar dizendo que, embora este ano, talvez por suas peculiaridades histricas de eleies, seja um ano difcil para a estabilizao econmica, quem sabe por isso mesmo, num pas cansado de tanta corrupo, num pas cansado de tanta falta de que os responsveis assumam riscos, decidam e sejam firmes, talvez por isso mesmo, tenha chegado a hora de, efetivamente, ns estabilizarmos a economia. E que no haja um processo poltico interferindo nas decises nacionais. Poltico sim, mas partidrio no, candidaturas no podem interferir nas decises. Ou ns acreditamos realmente que h ainda esprito patritico, vocao de servir, isto vale tanto para os civis como para os militares, aqui esto civis e militares, que discutimos dentro de critrios democrricos e decidimos juntos. Ou ns acreditamos que assim ou ento seria grave. Mas ns acreditamos. Ns acreditamos. Ns temos certeza de que assim. Ns temos certeza de que no haver ganncia eleitoreira capaz de destruir o rumo econmico. Ns acreditamos que o Congresso sensvel, como foi ao clamor das ruas, e as ruas no querem clientelismo, as ruas no querem o dinheiro jogado em coisas desnecessrias para fins eleitorais. As ruas no querem que o ministro diga sim quilo que deve ser recusado porque no bom para o pas. As ruas querem outra coisa. As ruas querem o que elas j so, gente simples, decente, que trabalha, que acredita. Dentro do possvel os ministros que aqui esto fazem um grande esforo na mesma direo. E ns somos assim. Podemos errar aqui e ali, mas no conjunto, o prprio presidente da Repblica estimula essa atitude. No conjunto ns nem temos a convico de que s ns temos a verdade, nem somos pessoas que no lutamos por nossas convices. No somos dados a mordomias, somos dados ao trabalho, como todo o povo brasileiro. Esse programa feito para ser positivo, afirmativo para os que trabalham, no para os que ganham na usura, no para os que especulam, no para os que fazem os ganhos de monoplio, no para aqueles que no tm preocupao com o seu semelhante, no para quem no tem solidariedade, no para quem no acredita que este pas tem condies de acabar com a fome e a misria, mas feito precisamente para se a estabilizao puder servir e vai servir, ela h de servir para aumentar o crescimento, desenvolver mais o pas e dar um ganha-po justo e honrado a todos os brasileiros. Muito obrigado. | Texto integral do pronunciamento de FHC Quero agradecer a presena dos ministros , dos secretrios , dos presidentes de federaes governamentais. Senhoras e senhores. H alguns meses , disse que a inflao e a misria so os dois grandes males do Brasil. Hoje estamos dando mais um passo contra eles. No fcil , pois estamos vindo de um comportamento inflacionrio que concentrou a renda em poucos, desprotegendo os de menor poder aquisitivo. Esse comportamento precisa ser combatido com a luta de todos. No governo de Itamar Franco iniciamos os primeiros passos. Ao ministro da Fazenda e aos da rea econmica cabe a responsabilidade maior . Lutamos por refazer o oramento da Repblica em 93 e 94. Se o governo gasta mais do que arrecada , obrigado a emitir ttulos, a pedir dinheiro emprestado a altos juros, o que alimenta o jogo financeiro e, conseqentemente, a inflao. Para esta dura batalha contamos com a parceria do Congresso, que nos deu instrumentos para combat- la. Refizemos o oramento com enormes sacrifcios dos congressistas, dos ministros. difcil cortar despesas num patamar j apertado. Agora, podemos partir para outro passo, que muito difcil, mas para o qual os ministros presentes , os impossibilitados de vir, o presidente esto preparados, quaisquer que sejam os obstculos. E sem mgicas. Somos de opinio de que deve haver outro caminho para o pas, que os brasileiros devem assumir em conjunto: o do combate pobreza e misria. Do Congresso esperamos a promulgao do Fundo Social de Emergncia, componente vital do programa de equilbrio das finanas pblicas. A etapa seguinte a de criar um ponto de referncia estvel. Para isso, estamos criando a Unidade Real de Valor (URV) , que servir de base para avaliar preos e salrios.Com ela , o salrio determinado para um ms ser recebido no incio do outro com o mesmo poder aquisitivo. E como ficam os preos? Se subirem, automaticamente subiro os salrios , porque a URV medida por trs ndices de preos. Chegar um momento em que os especuladores , os oligoplios devem desistir, ou porque os salrios pagos por eles acompanham ou porque no tero para quem vender. O governo do presidente Itamar Franco sabe que o crescimento econmico importante e que no se consegue equilbrio com desemprego. Nessa linha , o programa vai ser interessante porque permite investimento mais seguro. O realismo deste programa est indicado no prprio nome da nova moedao real . Quando chegar o momento da transformao da URV em real , vamos anunciar com antecedncia, negociar sem nos afastarmos dos objetivos. J conversei com as lideranas sindicais, para expor-lhes dados , pedir sugestes, mas tambm para dizer que os trabalhadores no podem esperar atendimentos de reivindicaes que resultariam na inviabilizao do plano. Fizemos o mesmo com o Congresso . E estenderemos o mesmo recado populao. Daremos um espao negociao de aluguis, de mensalidades escolares, de planos de sade. A idia de ajustar pela mdia visa proteger o programa e fazer dela um piso para negociaes seguintes. No h congelamento de salrio. A negociao livre. Embora seja grande o trabalho daqui para a frente, tenho confiana . que , apesar das agruras sofridas, vejo no povo a disposio de ir em frente, negociar, questionar. E isso democracia. Num ano de eleies como este, reconheo ser difcil propor estabilizao econmica, mas, por outro lado, o fato de termos uma longa experincia com corrupo , com irresponsabilidade de quem comanda sirva de estmulo para cumprirmos meta to importante como esta. O programa positivo. No foi feito para os usurrios, para os especuladores , para os insensveis s dores do prximo, para os que no acreditam que o Brasil tem jeito. |
ce94de09-23 | Caetano lembra 'exuberncia esmagadora do talento de Tom' Da Redao Caetano Veloso escreve sobre Tom Jobim no press release de Antonio Brasileiro, ltimo disco do compositor. Leia a seguir o texto de Caetano: CAETANO VELOSO Como na cano de Chico Buarque, que, falando por ns, o classifica de maestro soberano, ele aqui se chama Antonio Brasileiro. A exuberncia esmagadora do seu talento tem sido, para os que crescemos sua luz, mais estimulante do que inibidora. que a criao da bossa nova, a par de uma subida do nvel de exigncia, trouxe muitas sugestes de rotas a explorar, que incluam do olhar para a tradio ao profundo dilogo internacional, do apuro tcnico ao desvendamento do Brasil. , ns atendemos ao chamado: de Edu Lobo a Paulinho da Viola, de Joo Bosco a Roberto Carlos, de Gilberto Gil a Milton Nascimento, de Hermeto Pascoal a Herbert Viana, de Lobo a L Borges, de Morais Moreira a Guinga, enfim, tantos que nos reconhecemos menores diante do grande mestre, no nos sentimos, no entanto, meramente redundantes ou necessariamente suprfluos: nos momentos de bom humor, reconhecemos estar cumprindo tarefas para as quais as ordens estavam embutidas nas harmonias, nas decises, nas recusas da bossa nova. por isso que ouvimos cada disco novo de Tom com um ouvido a um tempo privilegiado e comprometido um ouvido sensvel s referncias e cheio de responsabilidades. Para gente como ns, por exemplo, ouvir uma verso to ajustada do modern-jazzstico S Dano Samba, seguida da fortemente tradicionalista Piano na Mangueira, significa uma meditao sobre Orfeu da Conceio e o Beco das Garrafas. Sobre como a musicalidade de Tom cobriu esse amplo espectro que vai de um ao outro, levando cada segmento do longo caminho dignidade de seu som e ao refinamento de sua concepo pessoal. Que Piano na Mangueira seja uma composio mais complexa do que S Dano Samba e tambm, de certa forma, mais moderna do que esta s confirma a histria do homem que comps as canes-manifesto Desafinado e Samba de uma Nota S, mas que fez a revoluo com Chega de Saudade, a mais melodicamente tradicional das canes inaugurais do movimento. Insensatez na voz de Sting (que aqui soa um pouco Nat King Cole) faz pensar em todos os curiosos encontros e desencontros entre bossa nova e rock'n roll: no apenas nos inocentes enganos da cultura pop americana do incio dos anos 60, que tentou catalogar a bossa nova entre as danas da moda, mas tambm na new bossa inglesa dos anos 80 e, sobretudo, em como o que h de sofisticado na msica popular brasileira atrai os roqueiros que se aproximaram do jazz e tambm aqueles que se interessaram pela produo musical de pases no pertencentes ao Primeiro Mundo ou ao mundo de lngua inglesa. Faz pensar em Milton Nascimento e em como sua msica tem sido o mais claro exemplo disso. Nesse contexto, fascinante ouvir o Trem Azul de L Borges e Ronaldo Bastos cantado em ingls, na excelente verso feita pelo prprio Tom: fica mais evidente que o modo como os mineiros trataram o legado dos Beatles, ou seja, o que se ouve no universo sonoro de Milton e sobretudo nas solues composicionais de L, faz destes os precursores do estilo que justamente Sting viria a desenvolver anos mais tarde. Que isso se d exatamente num disco de Tom prova no s de sua receptividade, mas tambm do lugar vital que ele ocupa no organismo da msica brasileira. Por mais que ele ironize a solenidade de sua posio, fica patente que tudo passa por ele. Jobim carioca. No levar-se muito a srio faz parte da concepo de elegncia que lhe foi ensinada tacitamente. Seguramente enganosa a impresso de falta de rigor que ele deixa transparecer. Muitos jornalistas j meteram os ps pelas mos por causa disso. A expectativa do mercado americano em relao bossa nova como mais uma dana da moda no foi de todo frustrada porque em 66 Srgio Mendes lanou uma verso ultracomercial da msica popular brasileira moderna para o mundo. Bom msico, Srgio apresentou um produto fcil (de ouvir), mas de boa qualidade. O esquema utilizava vozes femininas. Logo tornou-se um som padro de samba moderno pra gringo, para o qual o bom gosto nacional torcia o nariz. Tom Jobim, nos ltimos anos, tem-se apresentado com um grupo de moas vocalistas. o bastante para que jornalistas afoitos ouam apenas a exterioridade dos sons que lhes lembra Srgio Mendes e se recusem a ouvir o que interessa. Eis o que interessa: o toque nico de Tom, cuja sabedoria a respeito do peso dos prprios dedos d uma voz inconfundvel ao seu piano; o refinamento dos contrapontos; a complexidade das harmonias que, no entanto, so sempre construdas sem que se percebam intenes no inspiradas; o desenvolvimento do seu estilo pessoal, de arroubos para sinfnicos e grandiloquentes que o livram das vinculaes histricas com a bossa nova. Quanto ao canto das moas sempre tranado com os outros sons que compem os arranjos, este surge como uma afirmao da leveza e da alegria, um modo despreocupado e sem pose de mostrar-se entre amigos que gostam da companhia feminina e de reconhecer que as mulheres parecem tornar todas as coisas mais agradveis. Talvez no seja muito fcil admitir que o nosso maior compositor possa combinar seriedade com o desejo de ser agradvel. Quando, num programa de televiso que eu comandava com o Chico Buarque, Piazzola e Jobim se apresentaram juntos, esse trao era o que mais contrastava entre eles. Eu pensei nas diferenas do Rio e Buenos Aires. Mas o fato que quando as moas do Tom entravam cantando aquele trecho do tema de Gabriela meus olhos se enchiam d'gua. claro que Tom tambm pode se enganar. Mas seus enganos sempre dizem mais, ensinam mais do que os acertos de muitos. Quando a gente, ouvindo as intervenes do vocal feminino de Tom, se lembra de Srgio Mendes, no que isso barateie Tom, isso dignifica Srgio. Para que a msica seja boa preciso que o msico seja grande mas tambm que o ouvinte no seja pequeno. Aqui, neste disco, as moas esto perfeitamente afinadas e a faixa Querida parece falar delas, tanto do ponto de vista afetivo quanto do esttico, muito melhor do que eu poderia aqui. Surfboard a mostra mais clara da altitude em que paira a msica de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. tambm a mais veemente confirmao do argumento do pargrafo anterior. Toda vez que eu ouo Surfboard eu penso que se trata de uma composio que ao mesmo tempo O Barquinho de Menescal e Samba de Vero de Marcos Valle, mas com a densidade de uma Estrada Branca. Como aquelas, uma crnica sonora da vida praieira carioca, mas, diferentemente delas, tambm uma experincia trgica da grande alegria e do perigo, da vertigem de estar dentro de uma paisagem demasiado intensa: vem-se ondas crescendo como montanhas, sente-se o Sol ressurgir na solido da manobra, observa-se o ritmo com que se alternam os tons das cores da gua e do ar; por outro lado, compartilha-se da nostalgia de quem olha tudo isso de longe e sabe que entende a msica oculta dos gestos do surfista que a executa sem pensar. O modo como os acordes se encadeiam no ritmo que traz essa densidade. E, no entanto, no haveria Roberto Menescal nem Marcos Valle se no tivesse chegado antes Jobim. Quer dizer, Surfboard a maneira de o velho sbio confirmar as observaes dos meninos que ele criou. Aqui as vozes das mulheres falam da alegria e da leveza com redobrada convico. E fica melhor dito o que eu tentei expor no pargrafo anterior. E que o Samba de Maria Luiza na voz da filha homenageada reduz ao essencial. Duas homenagens a Radams uma delas dividida com Pel so declaraes de identidade e de identificao na excelncia. Um poema de Bandeira tratado Villa Lobos o modo encontrado por Tom para definir sua insero no corpo do modernismo brasileiro. Dois duetos com Caymmi so a reafirmao do seu lugar na msica popular, da sua praia. Talvez a combinao de Caymmi com Radams complete um auto-retrato de Tom: Caymmi sendo o msico de formao popular que melhor ouve os clssicos e Radams, o msico de formao erudita que melhor ouve o popular. Depois de tantos anos sem gravar um disco seu, Jobim, nesse to variado e mltiplo Antonio Brasileiro, mostra acima de tudo sua generosidade. Os cuidados timbrsticos e o bom gosto das linhas, assim como o imaginoso das composies, asseguram que o Sol da nossa msica est na potncia total de sua luminosidade. Na fotografia que Aninha fez para a capa parece que se pode ver com os olhos o essencial da beleza de um homem cuja exterioridade fsica, na juventude, revelava de cara o que de divino havia de ser descoberto em sua msica, em sua percepo, em seu estilo. E ela o captou no momento de uma chama acesa. Mas o Tom que volta to cheio de parentescos estticos (e no s estticos) expostos, to enobrecedor de linhagens brasileiras e internacionais, to enriquecedor de passados e futuros, esse o que mais nos impressiona aqui. Ele no nos d apenas suas canes e seus sons. Ele prova ser excelente reprodutor biolgico, trazendo ao mundo filhos e netos que produzem boa msica, inclusive junto com ele. O violo e os arranjos de Paulinho, os teclados de Daniel (filho de Paulinho que divide com este a produo do disco) so outras tantas belezas que a gente deve indiretamente? a Tom. Como tambm as vozes de Maria Luiza e Elizabeth. No nepotismo: amor e talento. O amor de que o corao de Tom Jobim o maior repositrio: o amor pela msica, pelos homens humanos e pela travessia do Brasil. | Caetano lembra exuberncia esmagadora do talento de Tom Da Redao Caetano Veloso escreve sobre Tom Jobim no press release de Antonio Brasileiro, ltimo disco do compositor. Leia a seguir o texto de Caetano: CAETANO VELOSO Na sua cano , Chico Buarque classifica Tom de maestro soberano; aqui ele denominado Antonio Brasileiro. Ns, gerao de compositores influenciada por ele, no sentimos o peso de seu talento, mas uma fonte de estmulos . A bossa nova um leque de inspiraes .Seus discpulos Edu Lobo, Paulinho da Viola, Joo Bosco, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Hermeto Pascoal , Herbert Viana, Lobo , L Borges, Morais Moreira, Guinga, -- reconhecemos nele um mestre , mas no vemos nosso trabalho como uma redundncia ou superfluidade. Da o privilgio e o senso de responsabilidade, ao ouvirmos um disco dele. Neste temos S Dano Samba, Piano na Mangueira, Insensatez(por exemplo) , que faz pensar nos encontros e desencontros entre bossa nova e rockn roll. Um disco de Tom no s prova sua receptividade mas tambm o seu destaque na msica brasileira. Quando ele ironiza sua posio, no fundo est demonstrando uma concepo de elegncia a ele ensinada . No falta de rigor que alguns jornalistas apressados tentam passar. Em 1966 , Srgio Mendes lanou um disco comercial de msica brasileira moderna. Eram msicas fceis de ouvir, mas de qualidade. Utilizou vozes femininas. Para o pblico americano constituiu padro de samba moderna, contrariando o bom gosto nacional. Tom tambm tem se apresentado com vocalistas femininas. Isso fez alguns jornalistas relacionarem-no a Srgio Mendes , atentando mais para as exterioridades e menos para o fundamental. Deveriam ver a essncia: a voz inconfundvel do seu toque ao piano; o refinamento dos contrapontos; a complexidade das suas harmonias. A presena das moas nos seus arranjos constitui uma afirmao da leveza e da alegria, uma forma descontrada de mostrar-se entre amigos. Essa presena feminina como em Srgio Mendes no deprecia Tom; enaltece Srgio. Surfboard , outra msica do disco, tambm comprova a excelncia do compositor. como se fosse uma crnica da vida nas praias cariocas, mas tambm uma experincia trgica da alegria e do perigo, da vertigem de sentir-se numa paisagem intensa. Esta msica como se Tom se manifestasse nos seus discpulos Roberto Menescal e Marcos Valle. No disco , ainda, aparecem duas homenagens a Radams , que so declaraes de identidade e de identificao quanto excelncia. Dois duetos com Caymmi reafirmam seu lugar na msica popular. Caymmi , um msico de raiz popular que ouve clssicos; e Radams , msico de formao erudita que ouve msica popular , talvez completem um retrato de Tom. A capa do disco mostra a foto feita por Aninha , em que aparece um homem de beleza fsica harmonizando com o tom divinal da msica. |
di94fe13-14 | Se o presidente atacar a nova fantasia... Inflao cai e mostra que a equipe FHC no sabe fazer previses. Ainda tempo de vetar a nova moeda ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Os ndices de inflao recuaram quase dois pontos percentuais, para a faixa dos 38%, na primeira quadrissemana de fevereiro. Vitria da equipe FHC? Ao contrrio. Prova de sua falta de conhecimento do que acontece com os preos, no pas. E prova de que, mais uma vez, economistas cheios de teorias e pretenso provocam mais inflao como nos tempos de Mailson, Sayad, Abreu, Marclio e seus assessores/especuladores. Era perfeitamente possvel prever que a taxa de inflao entraria em queda no comeo de fevereiro. A previso foi feita nesta coluna, h trs, quatro semanas, como qualquer leitor pode testemunhar. No questo de chute, ou bola de cristal. Conforme j explicado milhares de vezes, a forma de calcular as taxas de inflao no Brasil cria distores, mostra na verdade a inflao velha, de quatro semanas ou um ms atrs. Ela se baseia na comparao dos preos mdios das ltimas quatro semanas, com os preos mdios da quadrissemana anterior e, com isso, h sempre esse prazo at que uma alta de preos (ou baixa) puxe o ndice. Em poucas palavras: a taxa de inflao do comeo de janeiro refletia na verdade as altas de preos ocorridas no comeo de dezembro, assim como a taxa de inflao (mais baixa) de fevereiro est refletindo a desacelerao das remarcaes em janeiro. A equipe FHC igual s anteriores. Os economistas falam todos os dias sobre o que est acontecendo no seu entender com a economia, mas detestam acompanhar os fatos, a conjuntura. Ou os preos, no caso. Por isso a equipe errou e voltou a provocar mais inflao neste comeo de ano, e no apenas por omisso. A responsabilidade da equipe bvia. Na virada do ano, com as remarcaes de dezembro, comearam a surgir os ndices assustadores (mas que refletiam remarcaes velhas, insista-se). Desprezando essa realidade, o ministro e assessores nada fizeram para esvaziar a histeria e consequente clima de altas que tomaram conta da economia. Ao contrrio: embarcaram na canoa de que a inflao estaria em alta, e o Banco Central elevou terrivelmente as taxas de juros. E a bola de neve continuou: os juros altos puxaram a TR (que calculada com base nas taxas dos CDBs, e no com base na inflao); por isso, surgiram as notcias de remunerao de 50% para as cadernetas, provocando mais histeria; os custos financeiros das empresas tambm subiram, puxando os preos, e assim por diante. Concretamente: a equipe econmica comportou-se como se fosse incompetente, como se ignorasse que a inflao do comeo de janeiro era velha, exagerada, e estava caindo naturalmente naquele momento. Criou, concretamente, especulao e insegurana, que leva a mais inflao. Criou inflao. A clebre inflao burra, desnecessria, que assola o Brasil. guas passadas? No adianta mais falar nisso pois agora a queda da inflao j est garantida, com a aprovao do pacote fiscal de FHC pelo Congresso? Engano total. O episdio mostra que a sociedade tem que defender-se contra a onda de mistificaes que est dominando a economia e a poltica nos tempos recentes. Se o Carnaval o reino em que a fantasia substitui a realidade, o Brasil vive mesmo um Carnaval permanente. Alternativa - Com a maior hipocrisia, os defensores do plano esotrico FHC dizem que ele tem que ser implantado de qualquer forma, porque ningum apresentou nenhuma alternativa... Falta de memria. Por volta de julho, surgiu a proposta de segmentos empresariais (PNBE entre eles) e at de ministros (Barelli, Andr Vieira) para o uso da prefixao, isto , um acordo para reajustar preos com uma reduo de cerca de dois pontos percentuais em relao inflao do ms anterior. Mas a equipe j dispunha de um roteiro do plano de criao da nova moeda, esboado pelo deputado Jos Serra, segundo revelao de seu admirador, Lus Nassif. Em julho, a inflao estava em 30% ao ms. Se a prefixao tivesse sido adotada, com reduo de 2% ao ms, a taxa hoje estaria abaixo dos 15%. Deuses Ningum duvide, pois verdade: basta ler a mensagem do ministro FHC enviada ao Congresso (escrita por economistas at com alguns termos do mais puro portunhol), acompanhando a proposta do ajuste fiscal, no final de dezembro. Est l, com todas as letras: o ministro e seus inspiradores admitem que a prefixao poderia derrubar a inflao. Mas seria tudo lento, gradual, e diz ele! a sociedade brasileira no suportava mais conviver com a carestia. Era preciso derrub-la rpido, com planos sofisticados. Incrvel. Ento, a equipe FHC acredita que a prefixao poderia derrubar a inflao com segurana, eliminando-a sem criar problemas que, estes sim, j massacraram de forma insuportvel a sociedade brasileira: achatamento de salrios, de aposentadorias, falta de dinheiro para hospitais, destruio da mquina de fiscalizao do Estado, tablitas, etc.. Mas agindo como verdadeiros deuses, que decidem o que bom para milhes de mortais, vetaram a prefixao. Conseguiram, com a ajuda da imprensa, calar a boca dos outros ministros um deles, irreconhecvel, hoje, totalmente afinado com esses descaminhos. Cegueira, s? Ou os interesses dos brasileiros, da classe mdia e do povo, foram sacrificados porque uns e outros queriam aparecer, como os pais de planos salvadores para chegar a postos mais altos? Democratas em sua mensagem-chantagem pela TV, o poltico FHC insistiu em que nunca houve um debate to democrtico entre governo e Congresso, quando como com este ajuste fiscal. Passei horas e horas conversando com deputados e senadores, repetiu. Democrtico, mesmo. A equipe conseguiu calar a boca at do presidente da Repblica, (tristemente irreconhecvel, depois que abriu mo de todas as suas posies (corretas). Durante sete a oito meses, trabalhou em segredo no Plano. Ateno: rejeitou qualquer alternativa, como se fosse dona absoluta da verdade. Democracia, isso? Ou o seu avesso? Ditadores Em resumo, o ministro e equipe gastaram umas horinhas para forar o Congresso a aprovar aquilo que eles, desde o incio, achavam que era bom. Para o pas? Ou para eles? Inverso total de processo. Numa democracia, o debte comearia pela prpria discusso dos objetivos que a sociedade coloca como prioritrios. A equipe no discutiu com a sociedade se ela considera inteligente zerar o dficit, eliminar a dvida do governo. Decidiu que isso deveria ser feito, traou seu plano. E chegou com tudo mastigado ao Congresso, admitindo discutir apenas como zerar. Congresso O ex-ministro Dornelles, conservador respeitado, realizou estudos, para o Congresso, mostrando que a equipe FHC estava manipulando as previses de arrecadao para 1994. Ela ser muito maior. O deputado Alosio Mercadante, progressista respeitado, realizou estudos mostrando que o tal rombo do Tesouro no existe, e em 1993 houve gigantesco superavit. A imprensa? Publica em manchete todas as impresses e ataques do ministro. Mas dedicou exatas trs linhas ao deputado Mercadante, e um pouco mais a Dornelles. Isso, um nico jornal. Os demais, nem registraram. Na opinio pblica, reforou-se a impresso de que o Congresso leviano. Reforou-se, na desmoralizao. No se deu sociedade chance de conhecer o teor das acusaes de manipulao contra o ministro e sua equipe. o avesso do comportamento da imprensa nos tempos da ditadura, quando se fazia qualquer malabarismo tentando abrir espao para opinies divergentes da oficial lembra-se, Jabor? Lembra-se, Mrcio Moreira Alves? Lembram-se, Bacha, Malan e outros ex-IPEA? O presidente da Repblica talvez possa usar os dias de Carnaval para reler a mensagem assinada por FHC e enviada ao Congresso. Constatar que h o elogio prefixao. E adot-la, j, antes que a expectativa de criao da URV faa os ndices de inflao subirem de novo. A, s haver Carnaval nos dias de Carnaval. Menos avessos em cena. PS.: O ministro voltou a dizer que no cuidar do feijo-com-arroz. Algum assessor (se ele tiver algum no-sofisticado, que acompanhe preos) deve avis-lo: ele que vai levar terrvel paulada na cabea, com os preos do feijo. Essa leguminosa, que como alguns sabem alimento tradicional, j chegou a CR$ 40.000 a saca no atacado. Triplicou em pouco tempo. A equipe? Fala de URV. Preos? Isso baixaria, brother. ALOYSIO BIONDI, 56, jornalista, foi diretor de Redao da revista Viso e editor de Economia da Folha. | Se o presidente atacar a nova fantasia... Inflao cai e mostra que a equipe FHC no sabe fazer previses. Ainda tempo de vetar a nova moeda ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Os ndices de inflao recuaram quais dois pontos percentuais para a faixa dos 38%- na primeira quadrissemana de fevereiro. Ao contrrio do que pareceria uma vitria da equipe de FHC, significou que ela desconhece o que ocorre com os preos. Era completamente previsvel a queda da inflao no incio de fevereiro, conforme esta coluna j tinha anunciado. que a forma de calcular a inflao no Brasil cria distores ela mostra na verdade a inflao velha. Na verdade , a taxa correspondente ao comeo de janeiro revelava da alta de preos do comeo de dezembro, assim como a inflao mais baixa de fevereiro reflete a desacelerao de preos de janeiro. Os economistas falam sempre do que est ocorrendo com a economia, mas no acompanham os fatos; por isso, a equipe errou e voltou a acelerar a inflao. Com as remarcaes de dezembro, comearam a aparecer ndices alarmantes ( na verdade, da inflao velha). Desprezando a realidade, o ministro e assessores tomaram isso como aumento da inflao, e o Banco Central elevou muito a taxa de juros. A bola de neve continuou. O episdio mostra que a sociedade precisa se proteger contra essa onda de mistificaes contaminadora da economia e da poltica atualmente . Fingidamente, os defensores do plano FHC insistem na sua implantao imediata , at porque nenhuma alternativa foi apresentada. No verdade: setores do empresariado e at ministros propuseram a prefixao. Inclusive a mensagem do ministro FHC ao Congresso confirma: o ministro e seus inspiradores admitem que a prefixao poderia derrubar a inflao. Mkas seria tudo lento, gradual ... e a sociedade brasileira no suportava mais conviver com a carestia. Como seres superiores, vetaram a prefixao. Pela TV o poltico FHC declarou que estabeleceu um debate democrtico com o Congresso . Na verdade, o ministro gastou umas poucas horas para convencer o Congresso a aprovar o seu plano. A equipe econmica no discutiu com a sociedade a convenincia ou no de zerar o dficit, de acabar com a dvida do governo. Simplesmente decidiu que isso deveria ser feito. Em seus estudos, o ex-ministro Dorneles, conservador respeitado, mostrou que a equipe de FHC estava manipulando as previses de arrecadao para 1994, que seria bem maior. Aloysio Mercadante , progressista tambm respeitado, desclassificou o chamado rombo do Tesouro e informou que houve enorme supervit em 1993. A imprensa alardeou o que disse o ministro e reservou mseras linhas para as declaraes dos dois economistas. |
co94jl12-46 | Adolescente viaja em roda de avio a -40C Garoto entrou no compartimento do trem de pouso de um Boeing da Transbrasil no Rio e foi descoberto em SP VICTOR AGOSTINHO Da Reportagem Local O adolescente M.A.C. foi retirado com vida na madrugada de sbado do compartimento do trem de pouso de um Boeing 767-200, da Transbrasil. O rapaz viajou do Rio para So Paulo, no vo 927, encolhido ao lado da roda traseira direita do avio. Ele teve que suportar, durante 45 minutos, temperatura de 40 graus negativos. Nessa rota, o avio viaja a cerca de 8,5 mil metros de altitude. Apesar da temperatura e do risco de ser esmagado pela roda, o adolescente no se feriu, passa bem e deu entrevista ontem no Juizado de Menores de Guarulhos para onde foi levado. A aventura de M.A.C. comeou em Princesa Isabel, no serto da Paraba, na quarta-feira passada, s 10h. Cansado de trabalhar com a enxada no campo, o rapaz decidiu ir para o exterior tentar um emprego, qualquer emprego. Cala jeans, camiseta, botina, jaqueta preta de napa, 17 anos que aparentam 14 e nenhum dinheiro no bolso, pegou carona numa caminhonete at a cidade de Tavares. De l, outra carona o deixou em Teixeira. Uma nova caminhonete e estava em Campina Grande. Assim foi vencida a primeira etapa de um plano traado dois anos antes, enquanto plantava e colhia arroz, feijo e mandioca junto com trs irmos, o pai e me na roa da famlia. M.A.C., ento, burlou os fiscais da Itapemirim em Campina Grande e entrou num nibus da companhia que estava indo para Rio. Foi descoberto em Feira de Santana, j na Bahia, mas os fiscais fizeram vistas grossas, segundo conta o garoto. Chegando ao Rio, foi direto ao Aeroporto Internacional do Galeo. Entrei ali pela lateral, onde ficam os avies pequenos, e fui indo. O motorista de uma perua me viu, mas no falou nada, disse. M.A.C. contou que subiu no primeiro avio que viu, o 767-200 da Transbrasil, com capacidade para 208 passageiros, que fazia a rota Manaus, Braslia, Rio e So Paulo: Tentei entrar onde ficam as cadeiras, mas percebi que no ia dar. Ento, pisei na roda e subi para dentro. Foi fcil. Fiquei enganchadinho l dentro. Mas quando o avio comeou a tremer e a roda a entrar, quase esmagou minha perna. Ele no sabia o destino do avio, mas devia ir para o exterior. M.A.C. afirmou que sentiu muito frio, medo e que ficou durinho. O garoto acredita que, se demorasse mais dez minutos, no iria aguentar. Achei que ia morrer. Aquele negcio comeou a ficar gelado e eu no conseguia me mexer. Ave Maria, eu congelei. Se desse para pular para fora, eu pulava. M.A.C., que cursou at a 5 srie em Princesa Isabel, continua querendo ir para o exterior qualquer exterior, menos o Japo, mas nunca mais de avio. O final da aventura de M.A.C. foi no Aeroporto Internacional de Guarulhos, meia hora depois de o avio ter aterrissado. Quando o moo veio me tirar, eu estava gelado. S depois de um tempo consegui andar. O adolescente seguiu andando para a sala do Juizado no aeroporto, onde passou o sbado e viu o jogo do Brasil contra a Holanda pela TV. Em Princesa Isabel, sua famlia no tem TV, s um radinho. M.A.C. disse que est preocupado com a reao dos pais. E no toa: quando deixou sua cidade, no avisou ningum que estava indo embora, simplesmente fugiu e, se conseguisse ir para o exterior, no ia avisar ningum, no. Acho que o pai agora vai me dar uma bronca. O rapaz afirmou tambm que no desistiu de ir para o exterior. S pretende esperar mais um pouco. De acordo com o juiz da Vara da Infncia e Juventude, Marcelo Matias Pereira, 26, M.A.C. deveria ser transferido ontem mesmo para o S.O.S. Criana e depois enviado Paraba. O juiz tentou ontem localizar os pais do rapaz, Maria do Socorro Casusa e Jos Santana da Silva. Como a famlia no tem telefone, acabou ligando para a rdio Princesa e pediu para um locutor anunciar o paradeiro de M.A.C.. Para a assessoria de imprensa da Transbrasil, foi um milagre o garoto ter sobrevivido. A companhia area destacou um piloto para conversar com M.A.C. e descobrir onde ele ficou instalado. Segundo Jorge Honrio, assessor da Transbrasil, a empresa daria mais declaraes depois da conversa do piloto com o rapaz. | Adolescente viaja em roda de avio a 40C Garoto entrou no compartimento do trem de pouso de um Boeing da Transbrasil no Rio e foi descoberto em SP VICTOR AGOSTINHO Da Reportagem Local O adolescente M.A.C. foi retirado com vida do compartimento do trem de pouso de um Boeing. Ele viajou do Rio a So Paulo, encolhido ao lado de uma das rodas. Teve que suportar , durante 45 minutos, a temperatura de 40C. Apesar da temperatura e do risco de esmagamento, no se feriu. Sua aventura comeou no serto da Paraba. Cansado do trabalho na roa, decidiu ir para o exterior em busca de trabalho. Com os seus 17 anos e aparncia de 14, sem dinheiro, foi de caronas at Campina Grande. A , burlando fiscais, pegou um nibus que estava indo para o Rio. Foi direto para o aeroporto do Galeo . Disfarou , entrou pelo trem de pouso no primeiro, que iria para So Paulo. Sua aventura terminou em Guarulhos. Felizmente para ele, que estava enregelado e achou que ia morrer. Seguiu andando at o Juizado no aeroporto, onde passou um dia e viu um jogo pela TV. Segundo ele, sua famlia s tinha um radinho. A sua preocupao agora era com os pais, pois fugiu sem avisar ningum. Mas a idia de ir para o exterior continuava, desde que no fosse para o Japo. Mas , acordo com o juiz da Vara da Infncia , ele seria transferido no mesmo dia para o S.O.S. Criana e de l retornaria Paraba. |
co94ou02-30 | Bahia faz 'liquidao' de animais em extino VICTOR AGOSTINHO Enviado especial ao sul da Bahia Com alguma lbia e pouco dinheiro qualquer pessoa pode comprar animais silvestres no sul da bahia. Apesar de caa e comrcio serem proibidos por lei federal crime inafianvel, a captura desses animais dentro das reservas faz parte do cotidiano da regio. Os animais vendidos nas cidades de Eunpolis, Barrolndia, Porto Seguro, Cabrlia e Itabela vm basicamente das reservas de Monte Pascoal e Vera Cruz. Mais do que a afronta lei, o maior problema que algumas espcies comercializadas pelos caadores so raras e outras esto ameaadas de extino, segundo levantamento feito pela S.O.S. Mata Atlntica. Uma jaguatirica (felino ameaado de extino) pode ser encomendada aos caadores por R$ 100 (no mximo R$ 150, se der muito trabalho), o mesmo preo do papagaio-de-cabeavermelha. Manuel Carlos Viana, caador que retira animais em Belmonte, explica que o preo da jaguatirica o mesmo do papagaio porque a ave tem muita procura. Todo mundo quer papagaio. Quem que vai ficar com a jaguatirica?, pergunta Viana. O caador ensina como captura o felino e a ave: A gente faz uma arataca (buraco no cho coberto por uma trama de gravetos) e coloca um leitozinho no centro. Quando a jaguatirica for comer o leito, a gente pega a bicha. J os papagaios so pegos com visco. Deixo fruta ou semente de dend num galho com visco (uma gosma). Ele fica grudado, diz. Alvani Lacerda, ex-caador, hoje cria, livres, nove micos-de-cara-branca atrs de sua casa, vizinha reserva Vera Cruz, em Porto Seguro. De vez em quando vende algum. A ttica para manter a criao sempre perto de casa: Peguei um casal e criei na gaiola. Quando tiveram filhotes, fui criando soltos e dando comida (frutas e bolo). Hoje, os filhotes j tiveram outros filhotes e todos ficam aqui por causa da comida. Se precisar, vendo. Eullio Ferreira dos Santos cria ilegalmente pacas na periferia de Eunpolis. At a semana retrasada, mantinha dez animais num cercado. Mas cinco fugiram. Agora vou ter que pegar algumas na mata para aumentar a criao. Ferreira dos Santos afirma que o pessoal do Ibama sabe das pacas, mas no faz nada. No estou criando para vender. Eu dou de presente. s vezes como uma. Ao norte de Eunpolis, perto da reserva de Monte Pascoal, Jos dos Santos mantinha em engradados trs periquitos jandaia. Ele oferecia as aves, por R$ 25, aos motoristas que passavam pela BR-101 e dizia que o periquito era papagaio. um papagaio beb. Com esse trambique, Jos conta que ele e um colega conseguiram vender 25 jandaias num domingo. Todos os caadores disseram saber que o que fazem crime. Os 2,24% de Mata Atlntica que sobraram no sul da Bahia correm risco de ser desmatados. S Eunpolis, que tem 15 serrarias em operao mas j abrigou 300, derruba todos os meses cerca de 5.000 rvores centenrias. A madeira retirada de forma irregular na regio. Quando h documentao autorizando o transporte das toras, geralmente falsificada, reconhece o Ibama. De acordo com denncias do Gamb (Grupo Ambientalista da Bahia), a madeira nobre retirada do sul da Bahia exportada para Europa e Estados Unidos. A menos valorizada vira carvo. Segundo o carvoeiro Ovdio de Deus, de Cabrlia, enquanto as serrarias cobram US$ 500 pelo metro cbico do jacarand, o peo contratado para fazer o desflorestamento irregular recebe R$ 22,50 por cada hectare (um campo de futebol) derrubado. Gilbercy Caminha, superintendente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis) na Bahia, afirma saber da ao dos caadores e que h desmatamento. Caminha diz que a partir desta semana o cenrio de caminhes repletos de toras circulando pelas estradas deve ser modificado: Retirei o escritrio regional de Porto Seguro e transferi para Eunpolis, no entroncamento das rodovias. Haver mais fiscalizao. | Bahia faz liquidaode animais em extino. VICTOR AGOSTINHO ---Enviado especial ao sul da Bahia No difcil comprar animais silvestres de caa proibida no sul da Bahia . Os que so vendidos nas cidades de Eunpolis, Barrolndia, Porto Seguro , Cabrlia e Itabela provm das reservas de Monte Pascoal e Vera Cruz. O pior algumas das espcies so raras e em via de extino. Uma jaguatirica pode ser comprada por R$100, o mesmo preo do papagaio-de-cabea-vermelha, que, por ser muito procurado, tem o preo da jaguatirica. Alvani Lacerda , cria , livres, no fundo da casa, nove micos-de-cara-branca. Vende , se precisar. Eullio Ferreira dos Santos cria pacas e afirma que o pessoal do Ibama, mesmo sabendo, no o incomoda , porque no comercia, doa, ou come. Todos os caadores confirmam que conhece a lei, que probe essa caa. Quanto ao desmatamento da Mata Atlntica continua. Das 300 , 15 serrarias continuam funcionando em Eunpolis, onde so derrubadas mensalmente 5.000 rvores centenrias. A madeira nobre exportada para a Europa e Estados Unidos. Segundo o carvoeiro Ovdio de Deus , de Cabrlia, o peo que desmata recebe R$22,50 por hectare, mas as serrarias vendem por US$500 o metro cbico de jacarand. Enquanto isso, Gilbercy Caminha, superintendente do Ibama na Bahia , afirma desconhecer a caa e desmatamento predatrios. |
br94ab14-59 | Leia a ntegra do pronunciamento do ministro da Fazenda na TV Boa noite. Voc trabalhador brasileiro, de qualquer nvel ou atividade, acaba de receber o seu primeiro salrio em URV. Na prtica, foi a primeira vez que sentimos o efeito do Programa de Estabilizao na renda dos assalariados. Mas sei que as pessoas ainda tm muitas dvidas, inclusive porque muito se tem falado sobre supostas perdas na converso dos salrios. A verdade, no entanto, que ningum at agora conseguiu demonstrar que de fato essas perdas aconteceram. Ao contrrio. Em alguns casos, houve at ganhos. Por isso, acertei com o presidente Itamar Franco que falaria esta noite ao pas, para explicar um pouco mais o programa econmico. Para o trabalhador, para a maioria de ns que recebemos salrio para enfrentar as despesas da famlia, o programa traz muitas vantagens. Receber o salrio em URV receber um salrio corrigido diariamente, de acordo com a inflao. Ao contrrio de outros planos, o nosso programa comeou pela proteo do salrio. A dona de casa que vai ao supermercado ou feira sabe melhor que ningum que os salrios sempre correram atrs dos preos. Por mais que houvesse reajustes e gatilhos, eles nunca serviram para proteger o salrio. Desta vez diferente. Com a URV o salrio passa a correr lado a lado com os preos em cruzeiros reais, na mesma velocidade. Alm disso, nesta etapa, os industriais e os comerciantes, alm do prprio governo, estaro convertendo contratos, preos e tarifas para a URV. Bem, mas a vocs podem perguntar: e o preo em cruzeiros reais, no continua aumentando todos os dias? verdade. Como eu disse antes, nesta etapa, os preos em cruzeiros reais continuam ainda correndo, e o salrio correndo ao lado. O que preciso parar essa corrida dos preos, pois s alguns poucos privilegiados ganham com ela. Neste momento, o salrio j est em URV e os preos tambm convertidos esto parando de aumentar. Por qu? Porque quem contrata em URV pra de reajustar, e assim o valor das coisas fica igual. E o governo est vigilante, como no caso da cerveja e dos remdios. Com o salrio de abril, voc poder comprar as mesmas coisas que comprou com o salrio de maro, o primeiro a ser corrigido. Hoje muitos produtos e servios j tm dois preos, um em cruzeiros reais, que ainda continua sofrendo aumentos, e outro em URV, que fica estvel e que tambm a medida do valor do seu salrio. O resultado que o comrcio j est aumentando as suas vendas e j se pode comprar a crdito em URV, sem inflao e sem gio. Dentro de pouco tempo, como o salrio e os preos estaro ambos em URV, os preos em cruzeiros reais no vo querer dizer mais nada. E logo vamos chegar ao momento esperado: em vez de s mudar o nome do dinheiro, vamos agora mudar o prprio dinheiro. Mas isso quando a URV j tiver cumprido o seu outro papel, que o de dar ao produtor e ao comerciante condies de prever os seus custos e assim estabilizar os preos. A idia uma s: o novo dinheiro vem quando a URV tiver completado o seu trabalho. E nesse momento vai entrar em campo o real, que substitui a URV, acaba com o cruzeiro real e ser o novo dinheiro de um Brasil sem inflao. Ser uma moeda forte, como a dos pases desenvolvidos. Um dinheiro que vale porque a inflao baixa, a economia funciona, e os salrios tm poder de compra. Estamos fazendo essa mudana sem surpresas, sem sustos, sem correrias, discutindo cuidadosamente sobre cada um dos prximos passos do programa. E vamos anunciar a chegada do real pelo menos com 35 dias de antecedncia. Temos agora uma grande chance, uma chance talvez nica de acabar de uma vez por todas com uma inflao que est destruindo o Brasil. Comeamos arrumando a casa, equilibrando as contas do governo, cortando gastos e indo atrs dos sonegadores de impostos para aumentar a arrecadao. Todos gostaramos de ter um salrio mnimo mais alto. E que todos os salrios pudessem ter ganhos ainda maiores. Mas vamos ser honestos. Neste momento, esses aumentos seriam uma iluso, pois iriam aumentar ainda mais a inflao. Alm disso, desequilibrariam gravemente o Oramento do governo. S para dar uma idia, um aumento do salrio mnimo agora acabaria de arrebentar o caixa da Previdncia Social e de muitos governos estaduais e prefeituras. O governo Itamar Franco nunca acreditou que pode salvar o pas sem o apoio de cada brasileiro trabalhador, empresrio, dona de casa, estudante, lder poltico. A responsabilidade deve ser de todos. Aos lderes polticos, aos candidatos, aos membros do Congresso, ao Poder Judicirio, fao mais uma vez o apelo para que compreendam a necessidade de manter o programa de estabilizao. Dem uma chance ao programa. Os pacotes econmicos que trouxeram choques, congelamentos, feriados bancrios e at confisco da poupana foram aprovados pelo Congresso, que lhes deu essa oportunidade de serem testados na prtica. Seria uma enorme injustia o primeiro plano realmente democrtico, sem choques, sem surpresas, sem violncias no merecesse o mesmo voto de confiana. O Congresso Nacional, que conhece os sentimentos, as angstias e as esperanas dos brasileiros, sabe que deve viabilizar um programa que rene todas as condies para dar certo, que s precisa de uma chance para provar isso. No vamos nos iludir, nem tentar iludir a opinio pblica. Sem a estabilizao da economia, no ser possvel melhorar os salrios e corrigir as injustias, nem dar ao governo condies para atender a sade, a educao, a segurana pblica, os aposentados, como seu dever. Esta a primeira vez que um governo, em ano eleitoral, ao invs de gastar mais, faz um plano que corta os seus prprios gastos, para que o prximo governo, seja ele qual for, possa receber a economia em ordem. preciso que todos os que querem governar este pas a partir do ano que vem compreendam que no podero cumprir suas promessas se assumirem com a economia em crise, com inflaoelevada, com o governo incapacitado de executar suas funes mais elementares. Os brasileiros no aceitaro que interesses menores impeam o programa de funcionar nestas semanas decisivas. Na verdade, todos ns sabemos disto, o interesse do eleitor est em acabar com a inflao. E no em ouvir, mais uma vez, promessas que no vo resolver os problemas do pas. E o maior problema social e econmico do Brasil de hoje a inflao. Esse o grande desafio, a razo da nossa luta. Com a ajuda de Deus e de todos os brasileiros, vamos alcanar o que buscamos e construir um pas melhor e mais justo, sem inflao e onde o dinheiro e o salrio recompensem o esforo de quem trabalha. Obrigado e boa noite. | Pronunciamento do ministro da Fazenda na TV Dirigindo-se aos trabalhadores , o ministro aborda a questo das dvidas e crticas ao plano econmico.Nega que tenha havido perdas para os trabalhadores, e afirma que os opositores no conseguiram provar isso. Na sua argumentao, lembra o fato de que o salrio corrigido diariamente--ao contrrio do que acontecia com os outros planos ficando, portanto, protegido o seu poder de compra.Com essa correo, aos preos acelerados em cruzeiros reais correspondero os ajustes de salrio. Isso desestimula aumentos desenfreados , at porque os contratos , j sendo feitos em URV, no sofrem reajustes. A experincia com a URVdiz o ministro--- mudar uma cultura inflacionria e permitir a mudana para uma nova moedao real--- , que j est em andamento. A idia no usar surpresas milagrosas. Antes, as contas do governo esto sendo equilibradas por meio de corte de gastos e da caa aos sonegadores de impostos. O ministro tambm alerta os trabalhadores para que no cultivem esperana de aumento de salrio, o que , no momento, deflagaria o aumento da inflao, exatamente o oposto do esperado com o plano. Com o seu pronunciamento, ele conclama , alm dos trabalhadores, as lideranas polticas, os candidatos, os membros do Congresso e do Poder Judicirio. O empenho repartir a responsabilidade pelo sucesso do plano. Lembra que planos anteriores foram aprovados pelo Congresso , ainda que fossem acompanhados de seqelas desconfortveis e provisrias: congelamento , confisco de poupana. Procura tambm mostrar a iseno do governo quanto a interesses eleitoreiros, dizendo que o governo, em vez de gastar mais naquele ano de eleies, propunha cortes . Mas tambm lembra aos candidatos que qualquer deles que vena as eleies , se quiser governar , deve ajudar a eliminar a inflao , apoiando a implementao do plano econmico. |
po96ju13-a | OSASCO, SP - O primeiro levantamento feito pelos peritos do Instituto de Criminalstica de Osasco no local da tragdia aponta para uma provvel negligncia da direo do Osasco Plaza Shopping. Como antecipou o JORNAL DO BRASIL, as exploses foram provocadas por vazamento de gs liquefeito de petrleo (GLP, gs de cozinha) numa tubulao subterrnea que passava por dentro de uma galeria - conhecida por caixa perdida - construda revelia do projeto original e que se estendia, entre o piso e o aterro, por toda a estrutura do shopping. Os indcios constatados pelos peritos derrubam a verso do superintendente do shopping, David Rocha que, anteontem, garantia que a rede de gs de cozinha era externa. Segundo os peritos, o gs foi vazando ao longo do tempo e formando bolses na rea subterrnea, que no tinha ventilao. Houve pelo menos dois locais em que as quatro exploses foram mais fortes. O primeiro foi na casa de mquinas, a seis metros da galeria onde ficam os botijes. O segundo, em baixo da loja Amor aos Pedaos, na Praa da Alimentao, atingindo, em seguida, uma rea de cerca de mil metros quadrados. Os peritos encontraram no local parte de uma rede de tubulao que teria se rompido e provocado o vazamento. Essa conexo deveria ter sido melhor elaborada, disse o perito Celso Rodrigues Maimone. Apesar dos indcios de negligncia, os peritos tm evitado acusaes precipitadas. O chefe da equipe, Ronaldo Egydio dos Santos, afirmou, no entanto, que a rede de tubulao no foi feita pela Construtora Wyslling Gomes. Ns precisamos analisar as plantas para ver de quem a responsabilidade, diz Ronaldo, que j descarta a possibilidade das exploses terem sido provocadas por gs metano - que se acumula em decorrncia de matria orgnica em decomposio -, conforme a suspeita levantada no dia da tragdia. Dvida - Temos quase certeza de que foi o GLP, afirmou. A dvida, no entanto, ser tirada hoje por uma percia a ser feita por tcnicos da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), que ontem coletaram amostras de gs na rea atingida. A rede de distribuio do gs sai de uma galeria construda na lateral do prdio - de frente para a Rua Batista de Azevedo -, em baixo do estacionamento. A tubulao tem uma elevao pelas paredes externas e depois segue por dentro da laje por uma extenso de 60 metros at o centro do shopping. Partem desse entroncamento outros ramais de tubulao que abastecem os comerciantes da rea mais atingida pelas exploses. O mais impressionante que a concentrao de gs, apesar das sucessivas queixas de forte cheiro h vrios dias, no foi detecada pela segurana do shopping, pela fiscalizao da prefeitura e nem pelo Corpo de Bombeiros que, segundo os peritos, estiveram no local h um ms e nada encontraram. bvio que houve falha na manuteno, disse um dos peritos. Freqentadores e lojistas do shopping fizeram vrias denncias e nenhuma delas foi confirmada. Os peritos explicaram ontem que a tragdia poderia ter sido bem maior: que o gs continuaria se acumulando e, como a laje oca subterrnea se estende por toda a estrutura da obra, as exploses seriam maiores e poderiam ter matado mais gente. A provvel causa da combusto foi uma fasca que partiu da casa das mquinas, provocada, segundo os peritos, por um interruptor ou um isqueiro. No exato local onde se supe ter comeado a tragdia foi encontrado o corpo de um funcionrio da rea de segurana, que os peritos supem ter sido a primeira vtima da tragtdia. O problema que a distribuio do GLP feita por forte presso e quando h qualquer vazamento, por menor que seja a fresta, ele vai se acumulando e formando bolses, diz Celso Maimone. O dia de ontem foi marcado por informaes desencontradas sobre nmeros de vtimas fatais na tragdia de Osasco. A duplicidade de registro em hospitais e no IML e a confuso com os nomes fez com que o nmero de mortos oscilasse entre 37 e 55. No final da tarde a Defesa Civil e o IML de Osasco confirmavam apenas 37 mortes. | Conforme levantamento do Instituto de Criminalstica de Osasco, a exploso no Osasco Plaza Shopping se deu por negligncia da direo, que no detectou a tempo o vazamento de gs na tubulao subterrnea , construda revelia do projeto original. De acordo com os peritos, o gs foi-se acumulando em bolses na rea subterrnea , sem ventilao. Da as exploses em mais de um ponto. Os peritos no tm feito acusaes precipitadas, apesar dos sinais de negligncia. Esto procura do responsvel pela construo da rede de tubulao , toda ela distribuda debaixo do shopping, em vez de percorrer a parte externa. A falha de manuteno fica evidenciada pelo fato de no ter sido tomada nenhuma providncia para as denncias de freqentadores, que reclamavam do cheiro de gs. Segundo os peritos , uma fasca de interruptor ou de isqueiro precipitou as exploses. Adiantaram que o desastre seria muito maior , se o gs continuasse a vazar por mais tempo. No dia do acidente, as informaes sobre a quantidade de vtimas eram desencontradas: de 37 a 55 mortos. |
td94no20-01 | 'Pool' viabiliza franquia com pouco capital Sistema, que permite dividir o investimento inicial, j adotado por redes como Micheluccio e Pastel & Amor NELSON ROCCO Da Reportagem Local Abrir uma franquia com um pool ou cooperativa de investidores uma alternativa para quem tem pouco dinheiro, mas sonha com o negcio prprio. O sistema, que comea a ser adotado por algumas redes, prev a diviso do capital inicial entre os participantes e delega a responsabilidade de operao para um ou dois scios. Ana Cristina Nogueira, 24, apostou na novidade. Investiu US$ 20 mil e abriu, com nove scios, a Pastel & Amor do shopping Ibirapuera, em So Paulo. A casa funciona desde outubro e Ana Cristina que participou com 10% do total investido responsvel pela operao. Para ela, o pool foi a sada para poder ter uma loja. Sozinha no teria condies de abrir um negcio, diz. Mnica Pedrassi, 28, e a cunhada Silvia Helena Pedrassi, 28, investiram US$ 6.500 e US$ 13 mil, respectivamente, e hoje so scias de uma franquia da pizzaria Micheluccio, no largo do Arouche (regio central de So Paulo). Inaugurada em 20 de setembro, a casa tem 11 scios, que, juntos, investiram US$ 130 mil, fora o ponto (US$ 60 mil). Mnica e Silvia so as operadoras do negcio (administram a pizzaria) e recebem R$ 1.000 cada uma, a ttulo de pr-labore. As duas dizem estar satisfeitas com a atividade. O faturamento de outubro ficou em R$ 50 mil, acima das perspectivas iniciais de R$ 30 mil determinadas pelo franqueador. O sistema de cooperativa de franqueados uma criao brasileira e ainda est em fase de adaptao. A maioria das casas que funcionam dessa forma tem menos de um ano. Hugo Crespi, 37, diretor da consultoria Franchise & Associados, diz que j auxiliou a criao de 40 cooperativas de franqueados. Segundo ele, a procura por informaes sobre franquia sempre grande entre pessoas com menos da metade do capital para entrar em um negcio, da a viabilidade do consrcio. Pesquisa realizada em 1993 pela consultoria Cherto & Rizzo Franchising, com 150 interessados em abrir franquia, mostra que 21,2% afirmaram ter at US$ 15 mil para comprar uma franquia. Outros 42% disseram ter entre US$ 16 mil e US$ 46 mil. Nos grupos montados pela Franchise & Associados, o nmero de scios sempre dez e o investimento dividido em dez partes. Cada scio deve ter ao menos 10% e no permitido que uma pessoa entre com mais de 40%, diz Crespi. Os contratos definem as regras de funcionamento da cooperativa, o papel do operador, dos investidores e suas responsabilidades. O operador recebe um rendimento mensal, que contado como despesa da empresa. Como responsvel pela administrao, caso o negcio d lucro, ele quem determina o valor que ser dividido entre os scios. | Poolviabiliza franquia com pouco capital Sistema, que permite dividir o investimento inicial, j adotado por redes como Micheluccio e Pastel & Amor NELSON ROCCO - Da Reportagem Local Organizar uma cooperativa de investidores para abrir uma franquia uma boa opo para quem tem pouco dinheiro. O sistema prev a diviso do capital inicial entre os participantes e delega a responsabilidade de operao para um ou dois deles. Ana Cristina Nogueira investiu US$20 mil e abriu com nove scios a Pastel & Amor do shopping Ibirapuera . Ela participou com 10% e a responsvel pela operao. Esse sistema de cooperativa criao brasileira e ainda est engatinhando no ramo. Hugo Crespi, diretor da consultoria Franchise & Associados, diz ter assessorado a criao de 40 cooperativas de franqueados. E diz que a procura por informaes a respeito grande entre quem possui menos da metade do dinheiro necessrio para o negcio . Os grupos que a consultoria forma so de 10 pessoas e cada scio deve ter pelo menos 10% , mas no mais que 40% do capital. O operador tem um recebimento mensal, que computado como despesa da empresa. |
mu94de25-07 | Droga ameaa estabilidade do Quirguisto Pas considerado 'Sua da sia Central' agora teme se tornar a 'Colmbia' da regio, diz presidente Askar Akaiev Todos os dias rezamos a Al para que na China haja paz, tranquilidade e prosperidade Temos uma moeda muito estvel. Nossa inflao em setembro foi de apenas 0,2% JAIME SPITZCOVSKY Enviado especial ao Quirguisto Depois de ganhar a etiqueta de a Sua da sia Central graas sua estabilidade e paisagens, o Quirguisto enfrenta o fantasma de se transformar na Colmbia da sia Central. O pas, produtor de drogas e rota do trfico de pio, pede socorro, conforme enfatiza o presidente quirguiz, Askar Akaiev. Em 1991, o imprio sovitico se despedaou em 15 pases, com o extico Quirguisto entre eles. O presidente Akaiev defende seu modelo, espelhado nos conceitos do Fundo Monetrio Internacional, e promete dias melhores. Alm da turbulncia da droga, a velocidade espantosa do milagre chins tambm assusta Akaiev, um ex-comunista transformado em muulmano e que diz rezar atualmente trs vezes ao dia para pedir tranquilidade e paz na China. Lembre-se que temos laos com eles ao longo de 22 sculos, observa o presidente. Akaiev recebeu a Folha no seu gabinete em Bishkek, a capital, e se esforou para repetir a hospitalidade tradicional dos antigos nmades quirguizes. Ofereceu ch com leite. A seguir, os principais trechos da entrevista. Folha - As ex-repblicas soviticas gostam de olhar para o Ocidente em busca de modelos econmicos, idias e assessores para guiarem as reformas. Mas a economia que mais rapidamente cresce no mundo, a da China, est aqui ao lado do Quirguisto. Por que a China no um modelo a ser seguido? Akaiev - verdade que estamos mais voltados para o Ocidente, mas tambm estamos estudando a experincia chinesa. A China o nosso grande vizinho. A experincia chinesa tem sido muito til para ns na agricultura. Assim como a China, aceleramos a reforma no campo, comeamos por a. Todos sabem que as reformas na agricultura foram a locomotiva que levou a China a seu estado atual. Por isso, j em 1991, comeamos a introduzir a propriedade privada da terra, desmontando o sistema socialista. Hoje ns temos o maior setor agrcola privado entre os pases da Comunidade de Estados Independentes (aliana que substituiu a URSS). Convidamos tcnicos chineses para nos ensinarem, por exemplo, a aumentar a produtividade em nossos cultivos de hortalias. Tambm foram criadas vrias empresas sino-quirquizes, sobretudo na rea de processamento de alimentos. Assim vamos trocando nossas experincias. Folha - E dos pases ocidentais, o que o Quirguisto est copiando? Akaiev - Tentamos usar aquilo que j se mostrou eficiente, queremos evitar erros cometidos, por exemplo, na Rssia. Estudamos com ateno a experincia dos pases da Europa Oriental, que comearam suas reformas em condies semelhantes s nossas. Refiro-me Polnia, Repblica Tcheca, Bulgria. Aproveitamos a experincia tcheca na rea de privatizaes e hoje temos o programa de privatizaes mais amplo de todas as ex-repblicas soviticas da sia Central. Estudamos a terapia de choque aplicada na Polnia, discutimos muito com o professor Jeffrey Sachs (economista norte-americano). Mas, em resumo, estamos criando nosso prprio modelo, sem copiar ningum e ao mesmo tempo buscando assimilar experincias positivas. Folha - Mas o seu modelo tem muito a cara das recomendaes do Fundo Monetrio Internacional, ou seja, priorizar estabilizao financeira, eliminar inflao, mesmo que ao preo de desemprego e queda na produo industrial. Akaiev - Bem, o sr. tem razo, mas quando o FMI e o Banco Mundial demonstraram interesse em nos ajudar, j estvamos trabalhando num programa econmico elaborado por aqui e que realmente estava de acordo com os conceitos do FMI. A primeira fase de nossas reformas tiveram sucesso. Temos uma moeda muito estvel. Em setembro, nossa inflao foi de apenas 0,2%, um recorde. Devemos fechar o ano com uma inflao anual em torno de 90% e para 1995, a meta consiste em baixar a taxa para 30% ou 40%. Trata-se de nossa prioridade para o ano que vem. Ao mesmo tempo, iniciamos a segunda fase das reformas: a reestruturao de nossa economia, de nossa indstria. Esse perodo deve durar trs anos. Folha - A oposio o acusa de ter tendncias ditatoriais. Atravs de um referendo, o sr. conseguiu se livrar do antigo Parlamento para tentar eleger, em fevereiro, um que seja mais submisso ao governo. E o sr. tambm mandou fechar um jornal oposicionista. Akaiev - Eu acho que para haver democracia so imprescindveis alguns fatores. Sou defensor da liberdade de imprensa, um forte poder judicirio que defenda os direitos e liberdades do indivduo, forte poder para autoridades e poderes locais, e oposio forte. Sem isso no h democracia. O problema que nossa oposio ainda uma oposio nomenklatura (elite do desaparecido Partido Comunista). Eles dividem todos em democratas e partocratas. Eu no concordo com isso. Todos fomos comunistas. Se eu no fosse comunista, filiado ao PC, no teria feito a minha carreira acadmica e me tornado presidente da Academia de Cincias (do Quirguisto). Eu prefiro dividir as pessoas entre aquelas que apiam as reformas e aqueles que so contra as reformas. Nossa oposio no construtiva, no apresenta alternativas. Mas sem liberdade de imprensa ou oposio no se pode falar em democracia. Teremos eleies livres, com a participao de 12 partidos. Ento por que ns fechamos um jornal? Eu mesmo tomei a iniciativa. Fiz atravs dos caminhos da lei, democraticamente. O jornal Svboda Gorai (Liberdade das Montanhas) fazia uma defesa sistemtica do anti-semitismo. Isso era inaceitvel. Publicava textos que comprometiam nossas relaes com outros pases, por exemplo, com a China, Israel. At o presidente do Turcomenisto (Saparmurad Nianzov) me ligou para reclamar de reportagens daquele jornal, que o teriam ofendido. Eu dizia, vocs (jornalistas) podem me criticar quanto quiserem, mas respeitem o presidente do Turcomenisto. Folha - O sr. descreveu seu pas como a Sua da sia Central, orgulhando-se da estabilidade e das paisagens. Mas o Quirguisto enfrenta o problema srio de ser um pas produtor de drogas, em especial pio. O sr. no teme que a etiqueta mude para Colmbia da sia Central? Akaiev - Essa questo me preocupa especialmente. Os quirguizes nunca consumiram drogas, embora produzissem certa quantidade. At os anos 70, 90% do pio da ex-URSS eram produzidos no Quirguisto. Eu mesmo trabalhei nesse cultivo. Durante as frias escolares, nos levavam para as fazendas para ajudar na colheita da papoula. Foi bom que nos anos 70 decidiram parar a produo de pio. No Quirguisto h fontes de matria-prima para drogas. Quando nos tornamos um Estado independente, muitos levantaram a questo de voltar a plantar papoula porque seria uma fonte de divisas. Um verdadeiro ouro. Mas fui categoricamente contra a volta dessa plantao. Mas agora muito do pio vem do Afeganisto, passa por aqui e segue para a Rssia e os pases da Europa ocidental. Trata-se de um impressionante trfico de drogas. Conseguimos apreender algo, mas no so quantidades muito expressivas, devo reconhecer. A maior parte da droga passa. Existem as autoridades locais que so corruptas e at pessoal das foras de segurana colaboram com o trfico. Tomara que essa mfia das drogas no consiga se estabelecer de forma mais organizada. Se eles conseguiram se estabelecer, ento combat-los ser impossvel. E para ns, com nossas prprias foras, muito difcil resolver o problema. No temos a experincia necessria, no temos os recursos financeiros. Por isso me dirigi comunidade internacional. J temos um programa de combate ao trfico feito em conjunto com a ONU. A ONU em 1994 j nos forneceu US$ 600 mil para comprarmos equipamentos, mas isso insuficiente. Tambm tive que me dirigir a outros pases, em busca de mais ajuda. E para evitar que abandonemos o sonho suo e tenhamos que enfrentar um quadro colombiano, ns dirigimos a Sua, que se tornou um de nossos principais doadores de ajuda financeira. A polcia sua muito forte, competente e agora est trabalhando num projeto para nos ajudar no combate ao trfico. Tambm fomos falar com os Estados Unidos e agora estamos combinando esforos com os pases da Comunidade de Estados Independentes. Folha - No Brasil, as Foras Armadas entraram em cena para combater o trfico. O sr. favorvel atuao dos militares nessa questo? Akaiev - Eu acho que podemos formar unidades policiais de elite para combater o trfico, mas no sou a favor de lanar mo das Foras Armadas para essa empreitada. Elas podem usar essa etapa como degrau numa tentativa de expandir a sua influncia, particularmente em pases como os nossos, recm-independentes. Pode ser que no Brasil no haja esse problema. Folha - Quando da independncia, em 1991, o Ocidente se mostrou assustado com a possibilidade de o fundamentalismo islmico se expandir nos pases muulmanos da ex-URSS. Por que isso no aconteceu, em especial no Quirguisto? Akaiev - O povo quirguiz muito tolerante. A crena religiosa por aqui sempre foi um elemento cultural, nunca houve fanatismo. Por exemplo, no construamos mesquitas e por isso quando os soviticos chegaram e impuseram o atesmo, os quirguizes disseram: Tudo bem. Eu me encontro frequentemente com lderes muulmanos e cristos e eles me ajudam a manter um clima de paz nacional. Mas temos alguns problemas na regio de fergana, onde vivem as minorias tadjiques e uzbeques. Eles tambm so muulmanos, mas muito mais militantes. L, existem mais mesquitas do que escolas, as mulheres devem andar com vus. E eles comeam a influenciar parte da populao quirguiz, dizendo que no lugar de um Estado democrtico devemos ter um Estado islmico, defendem a poligamia. Estamos preocupados com isso. Folha - O que preocupa mais: o fantasma do fundamentalismo islmico ou a instabilidade no gigante vizinho que a China? O patrono das reformas chinesas, Deng Xiaoping, j tem 90 anos e uma sade debilitada. Akaiev - Temos muito medo de instabilidade na China. Veja, daqui a 10, 15 anos a China ser uma incrvel potncia econmica e que Deus no permita turbulncias por ali. Todo dia, trs vezes ao dia, rezamos a Al para que na China haja paz, tranquilidade e prosperidade. A China ser um catalisador para o crescimento econmico do Quirguisto. Lembre-se que temos laos com eles ao longo de 22 sculos. | Mu10 Mu94de25-07.doc Droga ameaa estabilidade do Quirguisto Pas considerado Sua da sia Central agora teme se tornar a Colmbia da regio, diz presidente Askar Akaiev Todos os dias rezamos a Al para que na China haja paz, tranqilidade e prosperidade Temos uma moeda muito estvel. Nossa inflao em setembro foi de apenas 0,2% JAIME SPITZCOVSKY Batizada de Sua da sia Central por causa da estabilidade e paisagens, o Guirguisto est na iminncia de trocar para Colmbia da sia Central. , por causa produo e trfico de droga nos dizeres de seu presidente, Askar Akaiev. Alm da agitao da droga, o mpeto desenvolvimentista da China assusta Akaiev, que reza com freqncia para no haver transtornos no pas vizinho. Seguem trechos da entrevista: Folha- As ex-repblicas soviticas olham para o Ocidente em busca de modelos econmicos, idias e assessores. Por que no olham para a China , um modelo bem mais prximo? Akaiev- Estamos voltados para o Ocidente, mas tambm nos inspiramos na China, por exemplo,para acelerar a reforma no campo. Convidamos tcnicos chineses para ajudar a incrementar a produo de hortalia. Folha- Em quais pases ocidentais o Quirguisto est se inspirando? Akaiev- Fundamentalmente nos pases da Europa Oriental, como Polnia, Repblica Theca, Bulgria. Mas , apesar da influncia , estamos elaborando nosso prprio modelo, sem copiar. Folha- Mas o dedo do FMI est muito presente no seu modelo. Akaiev- De fato, mas antes de o FMI e o Banco Mundial abrirem as portas , j estvamos desenvolvendo um programa econmico. A nossa moeda muito estvel. Em setembro, a inflao bateu o recorde de 0,2% e pretendemos chegar em 95 com 30 ou 40% ao ano. Folha- A oposio o acusa de tendncias ditatoriais, ao desfazer o antigo Parlamento e fechar um jornal. Akaiev- Para haver democracia , so necessrios alguns fatores: liberdade de imprensa, forte poder judicirio, forte poder para autoridades e poderes locais, e oposio forte. O problema que nossa oposio ainda conserva o vezo da antiga Unio Sovitica. Eles dividem todos em democratas e partocratas. Eu prefiro dividir as pessoas entre as que apiam as reformas e os que no as apiam. Folha- O que o senhor tem a dizer da possvel transio do seu pas , nomeado de Sua da sia Central para a Colmbia da sia Central? Akiev- Isso nos preocupa certamente. At os anos 70, 90% do pio da ex-URSS vinha daqui. Com a independncia, houve quem quisesse incrementar a produo por causa do timo lucro. Fui contra. O que acontece que o pio vem do Afeganisto e passa por aqui. Infelizmente, algumas autoridades locais so corruptas , e o pessoal das foras de segurana contribuem para isso. Temos tomado providncias. Por exemplo, h um programa de combate ao trfico feito em conjunto com a ONU. Folha- No Brasil , as Foras Armadas entraram nesse confronto. O que o senhor acha de fazer o mesmo a? Akiev- Aceito uma contribuio , mas no um empenho total das Foras Armadas. Folha- Quando da independncia, em 1991, o Ocidente no via com bons olhos a possibilidade de expandir o fundamentalismo islmico nos pases muulmanos da ex-URSS. Por que isso no aconteceu , principalmente no seu pas? Akiev- A crena religiosa aqui sempre foi um elemento cultural, nunca manifestao de fanatismo. Basta ver, por exemplo, que no construmos mesquitas. Temos alguns problemas na regio de fergana, onde vivem os tadjiques e uzbeques, tambm muulmanos mas muito mais militantes. A sua influncia na populao j nos preocupa. Folha- E qual a preocupao maior, o fundamentalismo islmico ou a instabilidade da China? Akaiev- A instabilidade da China nos amedronta mais. |
ce94ja25-b | Para a maioria dos paulistanos que no estuda ou ensina l, a Universidade de So Paulo (USP) parece ser no muito mais que um parque Ibirapuera na zona oeste da cidade. Mas a USP se integra na cidade atravs de projetos que vo desde nibus a gs para a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos at o de coleta seletiva de lixo, alm de outros 3 mil servios especficos como atendimento veterinrio e cursos de aperfeioamento de executivos. Mas ao completar sessenta anos de fundao, no mesmo dia do aniversrio da cidade, a universidade responsvel por quase metade dos doutoramentos do pas pretende ampliar mesmo sua participao nos grandes debates nacionais. Atravs do Instituto de Estudos Avanados (IEA), a USP pretende discutir e apresentar propostas para questes como a Amaznia e o sistema Judicirio do pas. No vamos de modo algum diminuir o atendimento a solicitaes especficas da sociedade, mas vamos aumentar a ateno, na universidade, a propostas estruturais para o pas, como j fizemos no frum capital-trabalho ou no projeto para a reviso constitucional, diz Jacques Marcowitch, novo pr-reitor de Cultura e Extenso Universitria. Marcowitch vai apresentar seu projeto para a rea de extenso da USP no prximo dia dez de maro, no Conselho Universitrio. Servios A USP no pode tapar buracos na rea de servios sociais e de sade, diz Eduardo Siqueira Barbosa, diretor de projetos da Coordenao Universitria de Cooperao Universitria e Atividades Especiais (Cecae) da USP. Segundo Siqueira, o atendimento ao pblico em geral tem que estar relacionado ao aperfeioamento de pessoal e do conhecimento. O cuidado de Siqueira se transforma em susto quando se fala em divulgar mais os servios de laboratrio ou atendimento especializado de sade, por exemplo. Procurada pela Folha para confirmar o telefone do departamento, uma funcionria de um dos servios de sade da USP disse: Voc vai botar isso no jornal? Meu Deus, isso aqui vai virar o pronto-socorro das Clnicas. Na verdade, o atendimento de massa e genrico na rea de sade deve ser prestado por centros como as Clnicas -que se chama, por extenso, Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. E o atendimento mdico, psicolgico ou mesmo odontolgico na USP nas unidades de ensino mais dirigido s necessidades de ensino e pesquisa -em suma, trata-se de uma troca entre a populao, estudantes e pesquisadores. Mesmo assim, pessoas com problemas raros ou de baixa renda podem recorrer universidade (veja alguns exemplos no quadro ao lado). Siqueira, o diretor da Cecae, rgo que coordena e divulga muitos dos servios da universidade, diz que a USP no investe em divulgao de massa do atendimento que ela pode oferecer e talvez nem seja o caso de faz-lo. No teramos condies de receber todo mundo. Em alguns casos, deve haver uma seleo natural da procura. De qualquer modo, quem quiser procurar a USP para resolver algum problema pode se dirigir Cecae (tel.: 815-0163 ou 818-4165). Alguns dos servios so gratuitos, outros, como os de laboratrio e anlises clnicas, so cobrados. O atendimento em veterinria mais barato do que o das clnicas particulares. | Embora a maioria da populao no saiba, a USP presta servios fundamentais cidade, como projetos relacionados a nibus a gs, a coleta de lixo, alm de outros 3 mil servios , como atendimento veterinrio e cursos de aperfeioamento de executivos. Sem diminuir os atendimentos especficos sociedade , o novo pr-reitor de Cultura e Extenso Universitria, Jacques Marcowitch, atravs do Instituto de Estudos Avanados ( IEA) pretende que a Universidade se envolva com grandes projetos nacionais , por exemplo , a questo da Amaznia , o sistema judicirio do pas . Isto sem abandonar a sua responsabilidade por quase metade dos doutoramentos do pas. Eduardo Siqueira Barbosa, diretor de projetos do Cecae esclarece que o atendimento na rea de servios sociais e de sade deve estar relacionado ao aperfeioamento do pessoal e ao conhecimento. No se trata de mais um posto de sade. Tanto que a Universidade no alardeia publicidade sobre essa prestao de servio , a fim de no ser asfixiada por excesso de procura. |
td94mr27-09 | Venda ao exterior exige adaptao e cautela Produtos e embalagens devem ser remodelados; estratgia comprometer apenas uma parte da produo Da Reportagem Local Colocar a produo no mercado externo exige cuidados especiais. A empresa deve verificar se tem produo suficiente para atender novas encomendas e disponibilidade para fazer as adaptaes necessrias no produto. Confeces, por exemplo, devem ter uma modelagem especial para conseguir entrar no mercado europeu. Calados vendidos nos EUA tm medidas diferentes dos usados no Brasil. No incio, deve-se reservar um percentual da produo para atender encomendas externas. Joo Dias Neto, 30, dono da DPA consultoria na rea de comrcio exterior, afirma que o ideal vender em torno de 20% do que se fabrica. Normalmente, os importadores fazem uma primeira encomenda como teste e, quando satisfeitos, fecham contratos de longo prazo. Exportar no uma deciso de oportunidade, mas uma opo gerencial da empresa, diz. O empresrio deve elaborar folhetos explicando qual o produto, para que serve e com que materiais fabricado, entre outras informaes bsicas, e envi-los ao importador. A maioria das empresas internacionais exigem uma amostra do produto. A embalagem deve ter inscries, no mnimo, na lngua do pas para onde se destina. Segundo Mauro vila, 44, do Sebrae SP, deve-se pensar tambm em como acondicionar o produto para o meio de transporte que ser usado na operao, que pode ser areo, martimo, fluvial ou terrestre. Fazer seguro de toda mercadoria transacionada no comrcio externo fundamental. Alm da promoo da empresa no exterior, deve-se ter cautela quanto a determinao de preos e as formas de pagamento. Silvrio Rosa, 45, coordenador de comrcio exterior do Sebrae SP, afirma que durante a negociao com o importador o empresrio pode conseguir o pagamento antecipado ou uma Carta de Crdito. Ela deve ser, de preferncia, em carter irrevogvel. Efetivada a venda, a parte financeira da operao deve ser acertada com um banco que atue no comrcio internacional. Eles esto organizados para dar todas as informaes necessrias. A parte comercial da transao exige uma srie de documentos, da a necessidade de contatos com um despachante. O exportador tem que emitir uma Proforma Invoice para o importador, em ingls ou no idioma do pas do importador. Wellington Soares Campanha, 28, da Market & Co., diz que esse documento um espcie de oramento detalhado, com preos, condies de pagamento e at o nome da transportadora que ser usada. Ao receber o documento, o importador emite um pedido. Com o pedido nas mos, o empresrio brasileiro toca a produo e retira o Registro de Exportao no Banco do Brasil, em bancos comerciais ou corretoras de cmbio. Quando o material estiver pronto para ser exportado, deve-se emitir uma fatura comercial com as mesmas informaes do oramento, que dever acompanhar o produto e com a qual se far a cobrana do importador. (NR) | Venda ao exterior exige adaptao e cautela Produtos e embalagens devem ser remodelados; estratgia comprometer apenas uma parte da produo Da Reportagem Local. Exportar um produto exige cuidados especiais. A empresa deve certificar-se de que tem capacidade de atender as novas encomendas e disponibilidade de fazer adaptaes necessrias. Por exemplo: confeces devem obedecer a modelagem especial para o mercado europeu; os calados devem atender aos tamanhos do cliente americano. Logo de incio, deve reservar um percentual da produo para atender s encomendas .Os importadores costumam fazer uma importao-teste; se satisfeitos, firmam contratos mais longos. O exportador deve elaborar folhetos explicativos sobre o produto, sua finalidade , material de que feito e envi-los aos clientes. A maioria das empresas estrangeiras exigem uma amostra . As embalagens devem ter inscries pelo menos na lngua do destinatrio. Alm da promoo no exterior, preciso ser cauteloso quanto determinao de preos e s formas de pagamento. Efetivada a venda, a tramitao financeira deve ser feita por meio de um banco que atue internacionalmente, que sempre saber dar as informaes necessrias. Um despachante tambm importante, dada a srie de documentos envolvidos. |
in96ab18-b | TQUIO - O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, formalizou ontem uma parceria militar mais ativa com o Japo, que passar a partilhar com os EUA a responsabilidade pela defesa do Pacfico. De acordo com analistas polticos, o acordo pode abrir caminho para que o Japo participe no futuro de operaes militares no exterior (a Constituio do pas s permite que as Foras Armadas sejam usadas em defesa prpria). Clinton afirmou que os americanos vo continuar no Pacfico, ressaltando que a aliana entre Japo e EUA uma pea chave para a paz na regio. A parceria de segurana fundamental para manter a paz no Pacfico, especialmente nessa poca de profundas mudanas na regio, disse o presidente americano, durante uma entrevista imprensa concedida ao lado do primeiro-ministro japons, Ryutaro Hashimoto. O primeiro-ministro e eu concordamos firmemente em que, como duas das democracias mais fortes e economias mais importantes do mundo, Japo e Estados Unidos tm uma responsabilidade especial de liderana, acrescentou Clinton. Soldados - O acordo entre os dois pases prev a permanncia da fora americana na sia - 100 mil soldados, dos quais 47 mil esto no Japo. Os dois pases tero maior cooperao em reas como inteligncia e transferncia de tecnologia militar - esto previstos o desenvolvimento de novas armas, como os avies F-2, e o estudo de um novo sistema de defesa de msseis. Alm disso, Japo e Estados Unidos se comprometem a fornecer munio e servios em tempos de paz. Para que possa honrar este ltimo compromisso, o Japo far uma exceo proibio de exportar armas e componentes blicos, adotada em 1967. Uma outra declarao, assinada separadamente, amplia a cooperao em temas globais, incluindo o combate falta de alimentos, ao terrorismo, a doenas infecciosas e a desastres naturais. Para analistas polticos, o acordo firmado ontem muda substancialmente a relao entre EUA e Japo. At agora, os papis de segurana dos dois pases eram muito claros - o Japo era um escudo protegendo-se apenas a si prprio e os Estados Unidos eram a espada, comparou Tetsuo Meda, professor de poltica da Universidade Internacional de Tquio, para a agncia Reuters. Mas as declaraes de hoje [ontem] mostram que esses papis esto superados e que o Japo pode ser levado a fornecer algum tipo de espada. Restrio - O texto da declarao evita cuidadosamente qualquer sugesto de que os Estados Unidos estejam pedindo ao Japo para revisar sua Constituio de 1947, compreensivelmente pacifista depois do passado militarista do pas, exacerbado durante a Segunda Guerra. A Carta japonesa probe o uso de meios militares para resolver disputas internacionais - o que vem sendo interpretado, h vrios e sucessivos governos, como uma proibio a integrar foras de paz em outros pases. As boas vindas ao presidente americano, que viaja acompanhado da mulher, Hillary Clinton, foram dados pelo imperador Akihito e pela imperatriz Michiko. Clinton chegou a Tquio na tera-feira. Hoje de manh discursa no Parlamento, onde dever explicar o acordo assinado ontem, e tarde visita uma sucursal da montadora de automveis americana Chrysler. Depois, parte para So Petersburgo e Moscou, onde participar da cpula do G-7 (grupo dos sete pases mais ricos). Durante a estadia de Clinton em Tquio, o trabalho da imprensa foi bastante restringido, para evitar o registro de situaes como o que envolveu o ento presidente George Bush, em 1992 - que vomitou durante uma recepo. | O presidente norte-americano, Bill Clinton, e o primeiro-ministro japons, Ryutaro Hashimoto, assinaram um acordo militar , com o que o Japo se compromete com a defesa do Pacfico. Esse acordo pode levar o Japo a operaes militares no exterior , contrariando a sua Constituio , que estabelece que suas Foras Armadas sejam usadas em defesa prpria. O trato prev a permanncia da fora armada americana na sia , a cooperao em tecnologia militar , a produo de armas de ataque e defesa. Uma outra declarao, assinada separadamente, amplia a cooperao em temas como combate fome, ao terrorismo , a doenas infecciosas e a desastres naturais. Os analistas polticos vem no acordo uma mudana substancial na relao entre os dois pases. Apesar das evidncias, o texto evita explicitar que os Estados Unidos querem que o Japo mude sua Constituio ----fundamentalmente pacifista desde o fim da guerra. A agenda de viagem do presidente americano, que est acompanhado da esposa, Hillary Clinton, inclui as boas-vindas do imperador e da imperatriz, uma visita ao Parlamento, onde explicar o acordo assinado e uma montadora americana Chrysler. |
po96fe26-a | PORTO ALEGRE - A Comisso Especial dos Desaparecidos Polticos, que ter sua quarta reunio na quinta-feira quando ir estudar 20 novos casos, est reescrevendo para a Histria do Brasil as pginas mais obscuras da ditadura militar de 64: as das torturas, mortes e dos desaparecidos. Documentos e verses divulgados na poca pelas autoridades esto sendo desmentidos, formal e legalmente, um a um. Caem por terra todas as verses oficiais da poca, afirma o representante das Foras Armadas na comisso, general Osvaldo Pereira Gomes, 65 anos. O general Gomes se diz tranqilo e isento para ajudar a reescrever, com seus votos, os anos de chumbo da histria brasileira. Por isso, tambm com tranquilidade, o general Gomes apia totalmente a segunda e futura etapa dos trabalhos da comisso - tentativa de localizao dos corpos - por estar na lei de indenizao dos desaparecidos. Alm disso, uma questo humanitria, o direito de os familiares enterrarem os restos mortais dos seus entes queridos. Contraditrio - Nas reunies da comisso, fao o contraditrio, pois h muita paixo poltica envolvida. Alguns militares podem no gostar como atuo, mas ajo com iseno e independncia. Nunca recebi presses de quem quer que seja, nem aceitaria, garante o general. O presidente da comisso, Miguel Reale Jr, 52 anos, destaca que o regime militar autorizou e deu guarida a todas as violncias, mesmo quando a verso oficial era mentirosa, at bisonha. Ao reescrevermos essa parte da Histria brasileira, estamos resgatando a credibilidade sobre o conceito pblico de civilidade e dando o exemplo s novas geraes. Ao darmos nossos votos, ficaram e ficaro registradas as responsabilidades de todos nesse perodo perante a Histria. Suzana Lisboa, 44 anos, representante na comisso dos parentes de desaparecidos, confessa imensa emoo que j a fez chorar nas reunies, por ver restabelecida a verdade histrica que as famlias vm denunciando h tanto tempo, mostrando que a verso oficial sobre supostos atropelamentos, tiroteios ou suicdios era mentirosa. Responsabilidade - Os governos da poca tinham responsabilidade por aquela situao, j que a poltica oficial era essa, do aparato do Estado por trs dos rgos de segurana. Presidentes e ministros - com exceo talvez de alguns - sabiam o que estava acontecendo, completa. As antigas e falsas verses continuam a fazer parte de documentos da rea militar - como nos relatrios sobre desaparecidos entregues pelos ministros da Marinha e Aeronutica ao ento ministro da Justia Maurcio Correa (governo Itamar Franco) - alerta Suzana. Por isso, ela sugeriu comisso que, ao fim dos trabalhos seja publicado em livro o relatrio final. At 9 de maio a comisso, instalada no prdio Anexo II do Ministrio da Justia, estar recebendo novos pedidos de indenizao de famlias de mortos e desaparecidos, cifras que variam de R$ 100 mil a R$ 150 mil. Embora a comisso no tenha poder para responsabilizar individualmente os torturadores devido Lei da Anistia, Suzana alerta que as famlias podero utilizar futuramente as documentaes obtidas e aprovadas para, por exemplo, processar mdicos legistas que deram laudos falsos para acobertar torturas. | A Comisso Especial dos Desaparecidos Polticos est reescrevendo as verses sobre torturas, mortes durante a Revoluo de 64, convicta de que os relatos oficiais da poca esto cheios de mentiras. O general Osvaldo Pereira Gomes, representante das Foras Armadas, diz que nas reunies atua como contraditrio, procurando atenuar com iseno as paixes polticas . O presidente da comisso, Miguel Reale Jr. , destaca as arbitrariedades cometidas pelo regime militar, e tem a certeza de que o grupo est resgatando a verdade histrica e passando posteridade o exato conceito de civilidade pblica. Suzana Lisboa, representante dos parentes dos desaparecidos, fala da sua emoo ao ser esclarecida a verdade que as famlias vinham buscando h tempo. E , dada a continuidade de verses oficiais falsas, sugeriu que este trabalho da comisso se concretize em um livro. O trabalho da comisso inclui os pedidos de indenizao para as famlias dos mortos e desaparecidos. |
mu94ab03-a | A economia mundial ingressou numa fase nova. Anteriormente a locomotiva norte-americana era a nica fora operante que freava a recesso na Europa e no Japo. Mas at pouco tempo atrs a recuperao dos Estados Unidos havia sido fraca e incerta. Agora tudo isso chegou ao fim. A era do dinheiro fcil nos Estados Unidos acabou. O Federal Reserve (o banco central dos EUA) de Alan Greenspan foi levado a adotar uma poltica monetria restritiva. No incio de fevereiro, elevou repentinamente as taxas de juros de curto prazo; de l para c, os bnus de longo prazo entraram em queda contnua em Wall Street e este choque norte-americano desencadeou ondas de fraqueza financeira nos mercados de bnus do mundo inteiro. H muito tempo no ocorria pnico e temor to difundido. Meu telefone, na universidade, vem tocando a toda hora, com ligaes de jornalistas ansiosos por entrevistas ou alguma coisa que os ajude a entender melhor a situao. provvel que tudo isso seja apenas o comeo. provvel que o Federal Reserve ainda venha a impor mais apertos. A tendncia de alta do mercado de aes nos EUA e no resto do mundo no conseguir evitar este difcil teste. Ser que o Federal Reserve americano comprometeu as to longamente esperadas recuperaes na Europa e no Japo? Por que tudo isso aconteceu? Quais seriam as reaes desejveis no campo macroeconmico por parte das autoridades da Europa e do Japo? Apresento a seguir minha anlise do que aconteceu e tambm minhas recomendaes aos bancos centrais de pases importantes, que hoje precisam repensar suas polticas. Em primeiro lugar, preciso que compreendam que o Federal Reserve no sofreu uma simples mudana repentina de humor. O que move os mercados e move as autoridades do Fed o estupendo crescimento do PIB real dos Estados Unidos, que chegou a 7% anuais no ltimo trimestre de 1993. Ningum, racional ou irracionalmente, poderia ter previsto este acontecimento. Praticamente todos os analistas econmicos elevaram suas projees referentes ao crescimento econmico deste ano nos Estados Unidos. Taxas de 3% ou 4% hoje parecem plausveis, baseando-se apenas no mpeto atual. O prognstico consensual que estava sendo feito antes apontava para algo entre 2% e 3%. Observem que todos, de fato, esperam uma considervel desacelerao do crescimento, prevendo que ele no manter os picos recentes. As piores nevascas do sculo nos Estados Unidos, somadas ao grave terremoto na Califrnia, vo mascarar temporariamente a fora da economia no primeiro trimestre. Mas mesmo assim bem possvel que nos prximos 18 meses nosso ndice de desemprego caia para 6% ou menos, enquanto nossos nveis de produo comeam a tensionar nossa capacidade manufatureira. Poderamos perguntar: Por que um crescimento norte-americano mais forte implicaria problemas para a recuperao global? Com uma renda maior, os norte-americanos oferecero mercados de exportao mais fortes para a Europa em geral, para os pases do Sudeste Asitico e para o mundo em vias de desenvolvimento. Por que os mercados acionrios de Madri, Londres, Frankfurt, Tquio, Milo ou Cingapura no prosperam com a notcia da nova fora econmica dos EUA? assim que as pessoas costumavam argumentar. Aes e bnus costumavam ser investimentos alternativos. Um servia como hedge (proteo) para o outro. Quando a produo aumentava, as aes tambm disparavam e os bnus caam com o aumento induzido nas taxas de juros. No tem sido assim nos ltimos 15 anos. Com frequncia cada vez maior, as aes e os bnus parecem mover-se juntos. Quando os bancos centrais derrubam os preos dos ttulos, as aes tendem a acompanh-los -mesmo quando o aperto do crdito foi desencadeado pela perspectiva de lucros e produo em alta. Vimos um exemplo disso em 1987. A queda de Wall Street ocorreu na segunda-feira negra, 19 de outubro. As aes em Nova York caram 22% num nico dia. O exemplo norte-americano foi seguido imediatamente por um massacre financeiro no exterior, onde as aes caram em mdia ainda mais do que nos EUA. Foi uma fraqueza do PIB norte-americano ou sua fora que causou a queda de outubro de 1987? Evidentemente foi sua fora, e no sua fraqueza: no ltimo trimestre de 1987 os EUA tiveram uma taxa de crescimento econmico anual de 6% -a maior taxa de crescimento desde 1983, e que no voltou a ser equiparada novamente at o final de 1993. Ser que o Federal Reserve est um pouco paranico diante dos perigos atuais da inflao? Sim. Todos os presidentes de bancos centrais so dados a essa fobia. Ser que o dr. Greenspan e seus colegas vo terminar por exagerar no aperto ao crdito? Sim, bastante provvel. Mas, sendo realista, sou obrigado a admitir que nossas taxas de juros tendero a aumentar at que comecem a surgir sinais de fraqueza indubitvel na demanda. Os investidores norte-americanos vm aprendendo a enxergar a longo prazo: a comprar aes e conserv-las por dcadas, em lugar de tentar prever os altos e baixos do ciclo empresarial. Por essa razo, talvez no ocorra uma queda em Wall Street em 1994. Por outro lado, em comparao com os custos de reproduo de fbricas e instalaes, as empresas norte-americanas esto sendo avaliadas generosamente depois de nosso extenso perodo de alta das aes. E qualquer tendncia contnua a quedas futuras nos principais ndices de aes far com que os investidores voltem a adotar a ansiosa perspectiva de curto prazo. O que me preocupa a sia e a Europa. Hoje em dia, os mercados monetrios mundiais tendem a estar estreitamente vinculados. Os aumentos nas taxas de juros nominais e reais que os EUA podem suportar poderiam ser prejudiciais para uma recuperao sadia em 1994-95 para o resto do mundo. Sempre fcil fazer recomendaes de prudncia ao Federal Reserve: No exagere na histeria antiinflacionria. Se e quando ocorrerem sinais de que as restries monetrias estiverem sufocando a recuperao dos Estados Unidos, prepare-se para voltar ttica de manter baixas as taxas de juros. Tambm tenho recomendaes a fazer aos governos estrangeiros. Os bancos centrais europeus, individualmente e em conjuno informal, fariam bem em no deixar que suas taxas de juros aumentem proporcionalmente ao aumento norte-americano. Para isso ser preciso um pouco mais de relaxamento no crdito. Sim, isso poderia ocasionar uma certa fraqueza das paridades monetrias europias em relao ao dlar. Mas isso no negativo. E se vrios pases atuassem em conjunto -Espanha, Itlia, Frana e Reino Unido-, uma modesta apreciao do dlar melhoraria a competitividade europia, de maneira muito oportuna. Com um bom ajuste de suas polticas, a fora norte-americana pode acabar se mostrando benfica para a Europa. | A fase em que a economia americana freava a recesso na Europa e Japo chegou ao fim. O Federal Reserve ( Banco Central dos EUA)restringiu o crdito e elevou repentinamente as taxas de juros a curto prazo. Os negcios com bnus a longo prazo deterioraram dentro e fora do pas. H uma histeria no meio jornalstico , em busca de informaes para entender o que acontece. possvel que o Fed venha impor apertos , apesar da alta no mercado de aes , nos EUA e no resto do mundo. Seguem uma anlise do que aconteceu e recomendaes aos bancos centrais de pases importantes, que precisam repensar suas polticas. Primeiramente, preciso entender que , na raiz da deciso do Fed, est o enorme crescimento do PIB norte-americano, que chegou a 7% anuais no ltimo trimestre de 1993. O prognstico era de 2% a 3%. Mesmo que as fortes nevascas e o terremoto na Califrnia reduzam o mpeto econmico americano, nos prximos 18 meses a situao deve mudar. No faz muito tempo que pessoas do mundo econmico estranhavam que o crescimento norte-americano no propiciava recuperao dos pases europeus e do Sudeste asitico. Costumava-se ver o mercado de aes e de bnus como investimentos alternativos e que funcionavam como os pratos da balana: enquanto, por exemplo, as aes subiam , os bnus caam. Hoje, parecem funcionar na mesma direo. Em 1987, a queda de 22% num s dia, nas aes em Nova York teve reflexo foi imediato no resto do mundo. No entanto, esse fato no ocorreu por fraqueza do crescimento norte-americano: neste mesmo ano, o PIB foi de 6%. O Federal Reserve demonstra uma fobia da inflao , assim como os demais bancos centrais do mundo. Pode at ser que o presidente do Fed continue com o aperto de crdito, via aumento aumento de juros, mas a queda de demanda , certamente, abrandar a restrio. Essa observao deve servir como um conselho ao Federal Reserve, no sentido de que no exagere a preocupao antiinflacionria. E certamente valer para seus congneres europeus , que, alm disso, no devem vincular-se umbilicalmente ao aumento dos juros norte-americanos. |
op94ab26-a | Estudei engenharia, fui apaixonado por matemtica e acabei doutor em economia. No tenho, portanto, formao jurdica. Nessa rea toco de ouvido e com parcimnia. Ainda assim me arriscarei a questionar algumas teses jurdicas sobre a reviso constitucional, pela relevncia do tema. Para comear, reafirmo minha convico de que o Brasil no conseguir retomar seu desenvolvimento a mdio e longo prazos, nem consolidar a democracia, sem reformar amplamente a Constituio de 1988. Alis, o prprio texto constitucional previu a reforma. Uma das teses mais estapafrdias levantadas por alguns juristas que a reviso no poderia ser feita, pois estaria vinculada ao plebiscito sobre sistema de governo. Mantido o presidencialismo, nada haveria a revisar na Carta. A tese estapafrdia porque: 1) os dispositivos sobre o plebiscito e a reviso so independentes; 2) nada no texto constitucional restringe a reviso ao sistema de governo. Outra tese jurdica implausvel do ponto de vista lgico que apenas o Congresso atual, eleito em 1990, poderia fazer a reviso. Mas onde est dito ou subentendido que a reviso s poderia ser feita por um mesmo Congresso? O texto constitucional diz apenas que a reviso deveria ser feita aps 5 de outubro de 1993, ou seja, poderia comear nessa data ou no ano 2000. Apesar da advertncia de que, comeando em 5 de outubro, a reviso certamente iria fracassar por causa do ano supereleitoral de 1994, que alimenta o ausentismo dos parlamentares, a organizao dos contras e o desinteresse do governo, a maioria do Congresso decidiu inici-la logo, em vez de transferi-la para 1995. As previses sombrias foram confirmadas e no se aprovou praticamente nada at agora. O prazo termina em 31 de maio e ainda se tenta votar algumas emendas, mas o fundamental ficar de fora. Que fazer? O lgico no seria encerrar a reviso, mas apenas desativ-la at serem feitas as eleies ou at o comeo de 1995. Mas o relator Nlson Jobim acha que isso no possvel, porque uma emenda j foi promulgada, a do Fundo Social de Emergncia. O Supremo Tribunal Federal no aceitaria a prorrogao, argumentando que o Congresso estaria adotando um novo mtodo permanente de mudar a Lei Magna e, assim, a reviso no acabaria nunca. De fato, o Supremo nunca deliberou sobre o assunto. E a argumentao no convence, pois o Congresso Revisor poderia at alterar as normas de mudar a Constituio, que no configuram nenhuma clusula ptrea. Poderia, portanto, introduzir na Constituio uma data encerrando a reviso. Li ou ouvi a opinio de numerosos juristas sobre a possibilidade de adiamento para 1995. A mais recente o brilhante artigo do professor Miguel Reale no jornal O Estado de S. Paulo de sbado ltimo. Tambm opinam na mesma direo Miguel Reale Jr., Fbio Comparato (embora prefira o Congresso revisor exclusivo), Saulo Ramos, Trcio Sampaio Ferraz, Celso Bastos e Manoel Alceu Afonso Ferreira. Parece que as nicas coisas que esses juristas tm em comum serem paulistas e julgarem que a reviso pode ser adiada. Ser que todos esto errados? Parece-me improvvel, pois nenhum deles formado em economia... | Apesar de no ter formao jurdica ---s algumas informaes de autodidata--- , arrisco a questionar algumas teses sobre a reviso da Constituio de 1988. De incio, insisto na impossibilidade de o pas retomar o desenvolvimento sem essa reviso --- alis, j prevista no prprio texto. Uma das teses absurdas de alguns juristas que a reviso dependeria do plebiscito sobre o sistema de governo a ser adotado. Nada no texto a condiciona a um sistema de governo. Outra tese indefensvel logicamente a de que apenas o Congresso atual, eleito em 1990, poderia proceder reviso. O texto constitucional s diz que ela poderia ser feita aps 5 de outubro de 1993. A insistncia dos contras e o desinteresse do governo fizeram que ela comeasse logo em 5 de outubro. Com as eleies de 1994 e a conseqente ausncia de deputados , no se aprovou praticamente nada --- e o tempo est para terminar. A lgica mandaria desativar a reviso e recome-la depois, mas o relator , alegando j ter sido promulgada uma emenda, o STF rejeitaria o adiamento. A argumentao no procede , pois o prprio Congresso Revisor poderia alterar as normas de mudana da Constituio. Sobre o adiamento , pronunciaram-se favoravelmente vrios juristas respeitveis , o que dificulta aceit-lo como improcedente. |
mu94ma15-18 | Interesses alimentam a guerra de Ruanda Pases como Egito, Rssia, frica do Sul e Frana lucram com venda de armas e jogam lenha na fogueira do conflito FRANK SMYTH Do The Nation A queda de avio que matou os presidentes de Ruanda e do Burundi, em 6 de abril, apenas o ltimo ato da violncia sofrida por esses pases centro-africanos vizinhos. possvel que o avio tenha sido derrubado propositadamente. Nos ltimos anos, cerca de 100 mil pessoas morreram e mais de 1 milho fugiram de ataques tnica e politicamente motivados. Integrantes do Exrcito do Burundi, dominado pelos tutsis, assassinaram o presidente anterior do pas, um hutu, em outubro. O Exrcito de Ruanda, dominado por hutus, responsvel pela maioria dos abusos cometidos nesse pas, segundo a Human Rights Watch-Africa. Uma em cada oito pessoas em Ruanda est beira da morte pela fome, segundo relatrio de organismos assistenciais. O terror recomeou em Ruanda num momento em que o pas tateava em busca de uma soluo pacfica da guerra civil, que durou trs anos e terminou em agosto passado. O conflito foi acirrado por governos de pases que forneciam armas a Ruanda, num exemplo tpico do dumping acelerado de armas para pases subdesenvolvidos ps-Guerra Fria. Em outubro de 1990, guerrilheiros da Frente Patritica Ruandesa (FPR), procurando derrubar o presidente Juvenal Habyarimana, invadiram o pas a partir de Uganda. De vrias partes do mundo chegava um fluxo constante de armas, incluindo fuzis Kalashnikov, morteiros de 120 mm, obuses de 122 mm e lanadores de foguetes mltiplos de fabricao sovitica. Milhares de civis e combatentes morreram e 1 milho de pessoas foram expulsas de suas casas. Acho que todo mundo quer entrar nesse tipo de mercado, disse em 1993 o ministro da Defesa de Ruanda, James Gasana, acrescentando que a maioria dos pases e dos fornecedores independentes de armas estavam menos interessados em quem ganharia a guerra do que em ganhar dinheiro com ela. Hutus e tutsis As foras governamentais so compostas de hutus e a guerrilha, de tutsis. O conflito entre as duas etnias data do sculo 17, quando o Reino de Ruanda foi implantado como Estado organizado e estratificado. A maioria dos aristocratas, chefes militares, altos funcionrios e criadores de gado eram tutsis, hoje 14% da populao. O resto da populao eram hutus, predominantemente agricultores de subsistncia. As divergncias no eram tribais, mas tnicas e sociais. Os tutsis historicamente se acham superiores aos hutus. A monarquia tutsi dominou Ruanda at ser derrubada pelos hutus, em 1961, um ano antes de o pas tornar-se independente da Blgica que no decorrer dos anos havia se aliado aos tutsis, mas trocara de lado no final dos anos 50. Um dos primeiros atos do novo governo foi a execuo de cerca de 20 lderes tutsis proeminentes; multides hutus massacraram 20 mil cidados tutsis. Em 1973 o ministro da Defesa, o hutu Habyarimana, tomou o poder fora, prometendo ser justo com hutus e tutsis. Mas, em lugar disso, distribuiu a maioria dos recursos do pas e dos cargos-chaves a familiares, amigos e associados vindos de sua regio natal, no noroeste de Ruanda. Habyarimana governou o pas como Estado unipartidrio e os ministros eram em sua maioria seus parentes. Depois da invaso dos guerrilheiros, o regime distribuiu fuzis a autoridades municipais, operando em cooperao com os milicianos de seu partido. Lideradas por altos funcionrios do governo, essas milcias organizaram multides de hutus agitados, que percorreram aldeias e campos caa de tutsis. Roubavam feijo e matavam cabras e gado. Antes de incendiar as choupanas de bambu, dividiam a carne e as roupas. Cerca de 2.000 pessoas morreram, a maioria a golpes de faco. O regime de Habyarimana prendeu arbitrariamente pelo menos outras 8.000. Centenas de pessoas foram espancadas, estupradas e torturadas. Os guerrilheiros tambm cometeram abusos, executando centenas de civis suspeitos de colaborao com o regime de Habyarimana. Tambm foraram um nmero desconhecido de civis ao trabalho escravo, como carregadores de suas tropas. Embora os abusos cometidos por ambos os lados tenham sido documentados por uma comisso internacional, tanto o governo quanto a guerrilha negam que isso tenha acontecido. Mercado lucrativo A maioria dos pases e dos fornecedores de armas que facilitaram a carnificina em Ruanda tambm se nega a dar informaes. A Rssia e outros ex-integrantes do Pacto de Varsvia so hoje prolficos fornecedores de armas. O colapso do controle central em Moscou conferiu ampla liberdade de ao tanto aos governos quanto os funcionrios encarregados dos estoques de armas. Como essas armas j foram pagas, elas podem ser colocadas no mercado mundial a preos abaixo do custo. Os mercados e as guerras na frica e na sia vm sendo inundados de Kalashnikovs. Em maro de 1992, as partes em conflito na frica central podiam compr-los no atacado por US$ 220 a pea; de l para c, os preos caram para menos de US$ 200. Entre os combatentes uniformizados, a maioria usava uniformes camuflados vindos da ex-Alemanha Oriental. Fornecedores africanos de armas vivendo em Bruxelas aparentemente facilitam a entrega de material de ex-pases do Pacto de Varsvia frica oriental. Na frica do Sul, a estatal Armscor vem h anos fabricando armas de alta qualidade para suas foras de defesa e segurana, que no podiam comprar no exterior devido ao embargo imposto pela ONU. A resoluo que proibia vendas frica do Sul era respeitada, mas no a proibio s compras de armas desse pas. Segundo faturas da Armscor datadas de 19 de outubro de 1992, a frica do Sul vendeu a Ruanda pelo menos US$ 5,9 milhes em armas leves, metralhadoras, morteiros e munio. Hoje, cerca de 3.000 soldados ruandeses esto equipados com fuzis R-4, superiores aos Kalashnikovs. Contrato secreto Um contrato de venda de armas assinado em 30 de maro de 1992 diz: Comprador e fornecedor concordam em no revelar o contedo deste contrato a terceiros. O comprador era Ruanda e o fornecedor o Egito, numa transao de US$ 6 milhes que incluiu fuzis, minas, explosivos plsticos, morteiros e artilharia. Outros documentos indicam que a venda foi financiada por um banco internacional de primeira categoria aprovado pelo Egito. Ruanda pagou US$ 1 milho vista e prometeu pagar mais US$ 1 milho com dinheiro a ser obtido com a venda de 615 toneladas de ch, alm de US$ 1 milho anuais durante os quatro anos seguintes. Poucos bancos privados, operando por lucro, assumiriam esse risco. Mas o Crdit Lyonnais o assumiu. Embora possa ser privatizado em breve, em maro de 1992 ele ainda era um banco estatal francs. Na verdade, a venda foi um crdito sigiloso de assistncia militar da Frana para Ruanda. O crdito virou subsdio. O Crdit Lyonnais e Ruanda no esperavam a ofensiva da FPR em fevereiro de 93, na qual a guerrilha tomou a plantao de ch de Mulindi. O ch no foi colhido. Quanto dvida com o Egito, o Crdit Lyonnais por extenso a Frana obrigado a arcar com ela. A disposio do governo francs de apoiar Habyarimana militarmente vem de sua determinao de manter credibilidade na frica francfona. Desde a independncia de Ruanda, em 1962, at o incio da guerra, em 1990, o principal parceiro comercial, aliado poltico e patrono militar do pas era a Blgica. Com o incio da guerra, a Frana assumiu esse papel. A Blgica o nico pas da Otan cujas leis o probem de fornecer armas a um pas em guerra. Pouco aps a invaso da FPR, em 1990, a Blgica cortou sua assistncia militar a Ruanda. No ano passado, aps a publicao do relatrio sobre direitos humanos, a Blgica chamou seu embaixador de volta. As acusaes de que a Blgica teria ajudado a FPR so falsas e se devem ao ressentimento do regime de Habyarimana contra a neutralidade belga. Novo Vietn Representantes franceses, porm, defendem o regime Habyarimana. Foram mortos civis, como em qualquer guerra, disse o coronel Cussac, adido militar em Kigali e chefe da misso francesa de assistncia militar. Voc diz que a assistncia militar uma violao dos direitos humanos?, ele perguntou, afirmando que funcionrios da embaixada dos EUA em Kigali apiam a poltica francesa. A Frana e os EUA tm uma histria comum por exemplo, no Vietn. Na verdade, todos os diplomatas ocidentais no-franceses em Kigali criticam o papel da Frana. Imediatamente depois do incio da guerra, a Frana deslocou pelo menos 300 soldados da Repblica Centro-Africana para Ruanda. Tambm apressou-se a enviar assessores, peas de helicpteros, morteiros e munies. Depois da ofensiva da FPR, em fevereiro, o nmero de soldados franceses em Ruanda aumentou para pelo menos 680, abrangendo quatro companhias e incluindo pra-quedistas. As tropas francesas esto aqui para proteger cidados franceses e outros estrangeiros, disse Cussac. Mas diplomatas ocidentais, funcionrios de organismos humanitrios e oficiais ruandeses disseram que os franceses vm fornecendo apoio de artilharia para a infantaria ruandesa. O embaixador da Frana afirmou que a presena do pas necessria para defender Ruanda contra uma agresso de Uganda. verdade que Uganda no tem se mantido imparcial durante o conflito, embora seu governo negue isso categoricamente. Temos um compromisso com a FPR, declarou um oficial do Exrcito de Uganda, em Kampala. Se eles no tivessem nosso apoio, no estariam dando to certo quanto esto. Juntamente com os refugiados tutsis que serviram no Exrcito ugandense, cerca de 200 mil outros tutsis vivem em Uganda. Enquanto o presidente Yoweri Museveni tenta reconstruir o pas, depois da destruio sofrida sob o governo de Idi Amin, esses refugiados vm competindo com os ugandenses por gua, terra e outros recursos. Ao apoiar os guerrilheiros, o presidente Museveni parece menos interessado em conquistar territrio ruands do que em facilitar a repatriao dos tutsis. Enquanto Uganda abrigava e ajudava a armar a FPR, o Egito, a frica do Sul e especialmente a Frana armavam o regime Habyarimana, responsvel maior pela recente carnificina. Uganda nega, Egito e frica do Sul se recusam a comentar e a Frana ainda no revelou inteiramente seu papel. Frank Smyth autor de Arming Rwanda: The Arms Trade and Human Rights Abuses in the Rwandan War (Armando a Ruanda: o Comrcio de Armas e as Violaes dos Direitos Humanos na Guerra Ruandesa), que pode ser obtido junto ao Arms Project da Human Rights Watch. Traduo de Clara Allain | Interesses alimentam a guerra de Ruanda Pases como Egito, Rssia, frica do Sul e Frana lucram com venda de armas e jogam lenha na fogueira do conflito FRANK SMYTH- Do The Nation A morte dos presidentes de Ruanda e do Burundi com a queda (ou derrubada) de um avio apenas o ltimo ato de violncia sofrida por esses pases africanos vizinhos. Nos ltimos anos, aproximadamente 100 mil pessoas morreram e mais de 1 milho fugiram de ataques . Integrantes do Exrcito do Burundi, dominado pelos tutsis assassinaram o presidente anterior, um hutu. O exrcito de Ruanda , dominado por hutus, responsvel pela maioria dos abusos cometidas no pas. Uma em cada oito pessoas passa fome absoluta. O terror comeou num momento em que o pas tentativa uma soluo pacfica para a guerra civil, acirrada por pases fornecedores de armas. Em outubro de 1990, guerrilheiros da Frente Patritica Ruandesa (FPR) invadiram o pas , na tentativa de derrubar o presidente Juvenal Habyarimana. Armas chegavam de vrias partes do mundo. O resultado foi a morte de milhares de civis e combatentes e a expulso de suas casas de 1 milho de pessoas. As foras oficiais so formadas por hutus e a guerrilha, por tutsis. O conflito entre as duas etnias secular. A maioria dos aristocratas, chefes militares , altos funcionrios e criadores de gado eram tutsis- hoje 14% da populao. Os demais eram hutus, predominantemente agricultores de subsistncia. Os tutsis sempre se consideraram superiores . A monarquia liderada por eles dominou Ruanda at 1961 , quando foi derrubada pelos hutus, um ano antes de independer-se da Blgica, que se aliara a eles no final dos anos 50. Apesar de ter prometido ser justo com hutus e tutsis , o hutu Habyarimana , aps tomar o poder, distribuiu os recursos do pas e os postos-chave a parentes, amigos e associados provindos da sua regio. Entre as arbitrariedades , o seu regime prendeu cerca de 8.000 pessoas e espancou, torturou e estuprou centenas de pessoas. Os guerrilheiros reagiram cometendo tambm violncias. O conflito alimentou um comrcio lucrativo de armas , sempre negado e silenciado pelos fornecedores . A Rssia e pases ex-integrantes do Pacto de Varsvia forneceram muitas armas.Uniformes vinham da Alemanha Oriental . Na frica do Sul , a estatal Armscor produziu armas de alta qualidade, j que a ONU embargou compras no exterior . O Egito fez uma transao de armas para Ruanda financiada pelo banco francs Crdit Lyonnais, com promessa em contrato de ningum revelar o contedo do negcio. Para manter sua credibilidade na frica francfona , a Frana decidiu apoiar Habyarimana militarmente. Logo depois do incio da guerra, deslocou pelo menos 300 soldados para Ruanda , alm de enviar assessores , peas de helicpteros , morteiros e munies. Diplomatas ocidentais, funcionrios de organismos humanitrios e oficiais ruandeses confirmam esse apoio. Segundo o embaixador da Frana, a presena necessria para proteger Ruanda contra uma agresso de Ruanda. Alm de refugiados tutsis que serviram no exrcito ugandense, aproximadamente outros 200 mil tutsis vivem em Uganda e competem com os habitantes locais por gua, terra e outros recursos. Ao apoiar os guerrilheiros, o presidente Yoweri Museveni parece menos interessado em conquistar o territrio ruands do que repatriar os tutsis. |
mu94ag09-a | Israel e Jordnia abriram ontem a primeira passagem de fronteira entre os dois pases depois de 46 anos de estado formal de guerra. O premi de Israel, Yitzhak Rabin, entrou em territrio jordaniano e depois navegou com o rei Hussein da Jordnia no iate real em guas territoriais de Israel. A abertura da fronteira consolidou o acordo de paz assinado por Rabin e Hussein em Washington no ms passado. Ns esperamos 46 anos. Passamos por guerra, dor e sofrimento. Para evitar mais perdas, no podemos esperar nem mais um dia, disse Rabin em seu discurso. Ele respondia a crticos israelenses que consideram que o processo de paz est indo rpido demais. A fronteira entre Eilat, em Israel, e caba, na Jordnia, s estar aberta, por enquanto, para pessoas com passaportes estrangeiros. Sentimos que somos amigos e parceiros indo com determinao, viso, empenho em direo ao estabelecimento de fundaes de uma paz abrangente nesta regio, disse Hussein na cerimnia de inaugurao da fronteira. Hussein, que atravessou o espao areo e navegou em guas territoriais israelenses, disse pretender visitar santurios islmicos de Jerusalm e Hebron, na faixa de Gaza. As duas reas so parte do territrio ocupado por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 67. Depois de seu primeiro encontro pblico em territrio jordaniano, Rabin e Hussein admitiram que se conhecem h 20 anos. Oficialmente, a primeira vez que os dois lderes se viram pessoalmente foi na reunio de cpula de Washington. Quando nos encontramos os trs na Casa Branca, o presidente (dos EUA, Bill) Clinton, o rei Hussein e eu, Clinton virou-se e perguntou: 'Digam-me a verdade, h quanto tempo vocs se conhecem?' , contou Rabin. Eu olhei para o rei. Ele no respondeu. Eu respondi: 'H 21 anos'. Ento ele corrigiu: '20'. E ele estava certo, disse. O secretrio de Estado dos EUA, Warren Christopher, disse na abertura de fronteiras que Israel e Sria tm uma longa distncia a percorrer para a paz. Christopher esteve negociando com srios e israelenses e disse que Rabin e o presidente srio, Hafez al Assad, comearam a pavimentar a base para o progresso em direo paz. O chanceler israelense, Shimon Peres, disse que os recentes incidentes entre Israel e o Hizbollah, milcia xiita pr-Ir do Lbano, cessaram e atribuiu Sria uma influncia no fato. Segundo Peres, Israel disse a Christopher que a Sria poderia exercer influncia sobre o Hizbollah. Os EUA acreditam que a Sria no controla o Hizbollah, mas, como tem cerca de 30 mil soldados no Lbano, pode exercer presso. | Aps 46 anos de estado formal de guerra, Israel e Jordnia o acordo de paz, assinado por Rabin e Hussein, abrindo a primeira passagem de fronteira entre os dois pases--- inicialmente reservada s para quem portasse passaportes estrangeiros. O cerimonial constou de demonstraes pblicas da concretizao do acordo: entrada de Rabin em territrio jordaniano, navegao em guas territoriais de Israel, juras de paz eterna e promessas de Hussein de visitar santurios islmicos, em territrio ocupado por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 67 Apesar de se conhecerem h 20 anos --- segundo declarao dos prprios--- oficialmente, a primeira vez que se viram pessoalmente foi na reunio de cpula de Washington , durante o governo Clinton. O secretrio de Estado dos EUA afirmou que entre Israel e Sria a paz ainda est distante. E acrescentou que , na sua conversao com os dois pases, j percebeu um encaminhamento propcio. Nessa linha de boa vontade, est o reconhecimento, por parte do chanceler isralense, de que a Sria contribuiu para o cessamento de incidentes entre Israel e o grupo Hizbollah. |
co94ag28-09 | Estado de Direito Brasileira JACY DE SOUZA MENDONA Foi muito sofrido para a humanidade ultrapassar a fase da histria na qual a vontade do detentor do poder pblico tinha fora de lei. No poucos sofreram e at perderam a vida sob as injustias que o arbtrio pode produzir. Como legado da superao desse perodo, importantes princpios polticos e jurdicos foram descobertos pela inteligncia humana e passaram a ser implantados nas sociedades. Aprendeu-se a colocar a lei em lugar da vontade do prncipe. Lei, no sentido formal, deliberao tomada por maioria, num grupo de representantes da sociedade, por ela eleitos para essa funo. Hoje se repete, em quase todas as Constituies do mundo, que ningum pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei. Ou seja, a vontade do prncipe ou do presidente, a vontade de ministros ou governadores, no cria obrigao para ningum, nem quando revestida da forma de decreto, portaria ou resoluo. S a lei obriga. Aprendeu-se tambm que o poder de administrar a sociedade precisa estar separado do poder de legislar. Quem administra no pode legislar, quem legisla no deve administrar. a nica forma de fazer com que a lei no fique submetida vontade da autoridade, mas que a autoridade fique a ela submissa. A lei universal, gera direitos e obrigaes para todos, mesmo para o presidente. Na maioria dos pases politicamente desenvolvidos essa mxima levada a tal ponto que nem se reconhece ao chefe do Poder Executivo a iniciativa legislativa, ou seja, a faculdade de encaminhar ao Parlamento projetos de lei. No Brasil, nunca nos livramos do vis de nossos presidentes, ministros e autoridades em geral acreditarem ter poderes para impor sua vontade como se fossem fonte de lei, e j vivemos perodos em que o presidente da Repblica assumia suas funes de administrar, legislar, sob a forma de atos institucionais ou decretos-lei. Mas, pior que tudo isso, nosso regime constitucional, num lamentvel retrocesso histrico, assegura ao presidente da Repblica funes legislativas. As medidas provisrias foram previstas pelo constituinte para atender a casos de relevncia e urgncia, conceitos de tal forma elsticos que neles tudo cabe. Deveriam perder a eficcia se no fossem convertidas em lei no prazo de 30 dias, mas a generosidade interpretativa possibilita sua reedio tantas vezes quantas agradar a vontade do presidente. Os interesses polticos dos parlamentares, a incompetncia de alguns, a irresponsabilidade e a preguia de outros, tudo conspira para transformar o presidente da Repblica no maior, seno o nico verdadeiro legislador do pas. J tivemos que assistir envergonhados espetculos ridculos como o presidente ameaando o Congresso com a edio ou reedio de medida provisria ou parlamentares pedindo licena ao Poder para modificar o texto de medida provisria. Triste recada brasileira no regime arcaico e h muito superado pelos pases civilizados de submisso da sociedade vontade plenipotenciria do prncipe, com total inverso do sistema legislativo. No regime da lei, o parlamento prope, discute e aprova dispositivo legal para depois submet-lo aprovao ou rejeio do presidente; no regime das medidas provisrias, o presidente, sem discutir com ningum, impe um texto de lei e deixa ao Congresso a funo de rejeit-lo se puder. Grave risco para o exerccio das liberdades individuais, pois a amplitude das matrias disciplinadas pelo presidente tal que, mesmo se um dia fossem rejeitadas pelo Congresso, muitas poderiam j ter causado danos jurdicos irreparveis para os cidados. JACY DE SOUZA MENDONA, 63, diretor do Instituto Roberto Simonsen da Fiesp (Federao das Indstrias do Estado de So Paulo), vice-presidente do Instituto Liberal de So Paulo e membro honorrio do Grupo das Empresas Brasileiras de Capital Estrangeiro. Foi presidente da Anfavea (Associao Nacional dos Fabricantes de Veculos Automotores) de 1989 a 91. | Estado de Direito Brasileira JACY DE SOUZA MENDONA Ultrapassar a fase histrica do eu sou a lei foi muito sofrido para a humanidade. Muitos foram penalizados at com a morte por causa do arbtrio do prncipe. O homem superou esse perodo com a criao de importantes princpios polticos e jurdicos. Aprendeu a colocar a lei acima da vontade de quem governa. Tanto que em quase todas as Constituies do mundo reza que ningum pode fazer ou deixar de fazer algo que no esteja previsto na lei. Aprendeu tambm que quem governa no pode legislar e vice-versa. Nos pases mais evoludos o chefe do Executivo no pode ter iniciativa legislativa. No Brasil , no conseguimos nos livrar do autoritarismo conhecido como voc sabe com quem est falando? . O pior nosso regime constitucional permite ao presidente editar medidas provisrias para casos de relevncia e urgncia, conceitos muito vagos em que tudo cabe. Teoricamente, se no aprovadas pelo Congresso em 30 dias, perderiam a eficcia. Mas o nosso jeitinho permite sua reedio at que o Congresso seja convencido. No h dvida de que um arbtrio que traz srio risco para as liberdades individuais. |
in96ab30-a | PARIS - Est em ponto de ebulio na Frana a polmica provocada pelo apoio do Abade Pierre, considerado o homem mais popular do pas, a seu velho amigo o filsofo Roger Garaudy - ex-comunista e ex-catlico convertido ao islamismo - em torno das teses de reviso do Holocausto que este sustenta em seu livro Os Mitos fundadores da poltica israelense. A simpatia hipotecada pelo sacerdote ao polemista - e no necessariamente a todo o contedo de suas teses - repercutiu mal no momento em que Garaudy processado com base na lei que pune a negao de crimes contra a humanidade, e semeou a confuso na comunidade judaica e na opinio pblica. nimos - O tema no podia ser mais delicado, e os nimos, mais facilmente exaltveis. Militante islmico, Garaudy considera no livro que genocdio e holocausto so palavras exageradas para os pogroms nazistas; prope uma histria crtica dos crimes hitleristas; e assume posio combatente contra o dogma dos seis milhes de judeus exterminados, que segundo ele usado para justificar os excessos da poltica de Israel na Palestina e para deixar o Estado judeu acima das leis internacionais. Garaudy apresenta os historiadores crticos - ou negacionistas - como pesquisadores perseguidos cujos trabalhos no foram contestados cientificamente. E se aventura numa tentativa de relativizar o horror: segundo ele, gente de outros povos foi morta tambm pelos nazistas e nem todos os judeus morreram em cmaras de gs, mas tambm de fome, em marcha forada ou a bala. A questo poderia ser: aonde semelhante linha de pensamento levaria? Mas o fato que, relativizao, reviso ou negao, o que escreve Garaudy passvel, na Frana, das penas da lei Gayssot, que no seu caso foi invocada pelo Movimento Contra o Racismo e pela Amizade entre os Povos. O pensador foi indiciado e poder passar um ano na cadeia. Onde a porca torceu o rabo, no entanto, foi na interveno do Abade Pierre, o homem que espalhou pelo mundo as Comunidades de Emas, que ensinou os franceses a pensarem mais nos pobres, que renunciou fortuna pessoal, ajudou judeus a escaparem para a Sua durante a Segunda Guerra e membro da Liga Contra o Racismo e o Anti-semitismo (Licra). Calnia - Tambm simpatizante da causa palestina, o sacerdote de 83 anos foi solicitado por Garaudy a sair em sua defesa, como outros amigos. Comeou por considerar uma calnia confundir teu livro com as teses revisionistas. Mais adiante, reconheceu no ter lido o livro, mas um resumo, insistindo porm em argumentos como o do nmero de mortos no campo de concentrao de Auschwitz, onde se afirmou inicialmente que houve 4 milhes de vtimas, nmero corrigido posteriormente para 1 milho; mesmo considerando que a abominao a mesma, o abade sustenta haver a uma demonstrao de que o tema deve ser objeto de investigao imparcial. O Abade Pierre foi chamado a explicaes na Liga contra o Racismo. Recuou, disse que no entra no mrito do livro nem apia suas teses, mas repisou o argumento da integridade intelectual de Garaudy e da necessidade de debater livremente este tema. Os jornais esto cheios de contestaes, respostas e desafios ao abade. E ontem, enquanto a hierarquia catlica mantm cauteloso silncio, ele voltou carga em entrevista ao Libration, dizendo-se satisfeito com a polmica: Muita gente me tem dito obrigado pela coragem de questionar um tabu. preciso parar de chamar de anti-semita quem questiona a histria do Holocausto. No nos deixaremos mais chamar de antijudeus ou anti-semitas por dizer que um judeu canta mal. | Est quente na Frana a polmica provocada pelo apoio do Abade Pierre ao filsofo Roger Garaudy, convertido ao islamismo, que , no seu livro Os mitos fundadores da poltica israelense, prope uma reviso do holocausto judeu , considerado por ele uma forma de justificar os excessos israelenses contra os palestinos. O filsofo v exagero na atribuio a Hitler dos crimes contra os judeus , quer na quantidade quer na qualidade. Mesmo no inocentando o ditador, ele passvel de infringir a lei Gayssot, invocada pelo Movimento Contra o Racismo e pela Amizade entre os Povos para indici-lo. A questo se acende mais, porque o Abade, de 83 anos, conhecido pelo seu desapego aos bens, por ajudar judeus a escapar, por ser membro da Liga Contra o Racismo e o Anti-Semitismo . Mas tambm simpatizante da causa palestina , e, por isso, Garaudy pediu que o defendesse. E na defesa, mesmo dizendo s ter lido um resumo do livro , insiste em argumentos que pem em cheque a quantidade de judeus mortos. Chamado a dar explicaes na Liga contra o Racismo, o abade recuou dizendo que no entrava no mrito do livro e nem apoiava as suas teses, mas reforou sua convico na integridade intelectual de Garaudy e a necessidade de um debate despreconcebido sobre o tema. |
ce94ja25-a | Aos 440 anos So Paulo j foi cantada em pelo menos 1.800 msicas. Essa histria de citar a cidade comeou em 1750, quando dois compositores (Calixto e Anchieta Arzo) decidiram fazer Missa So Paulo, partitura recuperada e gravada pela primeira vez em 1970 com regncia de Jlio Medaglia. Depois disso, parece que no foi mais possvel conter homenagens e desiluses musicais dos compositores pela que hoje a terceira maior metrpole do mundo. At a primeira frase do Hino Nacional menciona So Paulo: Ouviram do Ipiranga... Esses dados foram pesquisados por um paraibano de Joo Pessoa, radicado em So Paulo desde 75, que h cinco anos levanta a histria musical da cidade em sebos e livrarias. O escritor e jornalista Assis Angelo, 41, est agora preparando o que ele chama de a primeira enciclopdia musical sobre So Paulo. Os primeiros 300 verbetes j esto escritos. Angelo acredita que o material resultante da sua pesquisa suficiente para 900 verbetes e umas 600 pginas de livro, espera de patrocinadores. E como seu trabalho enciclopdico, vale dizer que a cidade j foi cantada de A a Z, passando por X e Y, por intrpretes e compositores de todos os Estados brasileiros. Por exemplo, com Z, Zona Leste Total (de Luiz Carlos, 1991); com X, Xamego Paulista (de Arlindo Bettio e Nhozinho, 1987); com Y, Yay do Peruche (de L. Correa e Rodolfo Vila) e com A, entre outras, A Baixada do Glicrio (de Enerdino Ortiz, Joo Marques e Manoel Loureno). Se quantidade significar amor, Adoniram Barbosa foi o mais apaixonado dos cantores. Adoniram lidera o ranking com nada menos que 22 msicas sobre So Paulo. Tom Z e a dupla Tonico e Tinoco tambm tm l sua quedinha pela cidade. Cada um gravou 11 msicas. Quem pensa que Caetano Veloso parou na arroz de festa Sampa quando quis falar da cidade, mostra ou que no entende nada desta cidade ou que no sabe nada de Caetano. O doce brbaro fala de So Paulo em outras cinco msicas, menos que Itamar Assumpo (dez msicas) e mais que Alvarenga e Ranchinho, que gravaram quatro composies. O ano em que mais se cantou So Paulo foi o do 4. Centenrio, 1954. Foram gravadas 72 msicas, com verses at japons enaltecendo a cidade. Nem Hebe Camargo deixou de gravar a sua. A Hebe vai ficar uma arara, mas a msica que ela gravou, Paulicia em Festa, era um horror, muito ruim, diz o pesquisador Angelo. J a composio IV Centenrio, de Mrio Zan e J. M. Alves, fez tanto sucesso na poca, que vendeu, numa So Paulo quase provinciana, mais de cinco milhes de discos. S para registro, Mrio Zan o autor do bolero que s estourou e ficou bastante conhecido depois de gravado em espanhol. A estrofe esta: Dizem que os homens/ no devem chorar/ por uma mulher/ que no soube amar... Se o Campeonato Paulista algum dia for definido pela quantidade de msica composta para os times, s vai dar Corinthians. Das 140 msicas compostas para os clubes paulistas, 85 foram dedicadas ao time do Parque So Jorge. | Nos seus 440 anos , So Paulo j mereceu , pelo menos, 1.800 msicas. A primeira , Missa a So Paulo, de l750, foi gravada pela primeira vez por Jlio Medaglia. O Hino Nacional tambm registrou a presena da cidade: Ouviram do Ipiranga... O jornalista Assis Angelo est organizando uma enciclopdia musical sobre So Paulo, j com material suficiente para 900 verbetes e 600 pginas. Percorrendo o alfabeto , constam msicas cujas letras iniciam at com as menos provveis letras. Por exemplo: Zona Leste Total, Xamego Paulista , Yay do Peruche. Entre os compositores , Adorinam Barbosa bate o recorde , com 22 msicas falando da capital paulista; Tom Z e dupla Tonico e Tinoco, cada um com 11 msicas; Caetano Veloso , com 6 ; Itamar Assumpo, com 10 ; Alvarenga e Ranchinho com 4 composies. No entanto, Mrio Zan e J.M. Alves marcaram poca com o IV Centenrio, que vendeu na poca mais de cinco milhes de discos , um exagero a So Paulo de 1954. Mas se se for colecionar instituies celebradas, o Corinthians ganha de goleada: de 140 msicas dedicadas a clubes paulistas, 85 so para ele. |
td94ja9-02 | Empresa pode dar benefcios e lucrar Gastos com vale-alimentao e vale-transporte podem ser abatidos do Imposto de Renda Da Reportagem Local Dar benefcios aos funcionrios no significa apenas aumentar as despesas de uma empresa. Alm de elevar indiretamente os salrios, os chamados benefcios podem ser usados como uma estratgia para melhorar as condies de trabalho, diminuir a rotatividade da mo-de-obra e aumentar a qualidade dos servios prestados. Vale-transporte, vale-refeio, assistncia mdica, cesta-bsica e prmio produtividade so os benefcios mais comuns entre as pequenas e micro empresas (veja quadro ao lado). A exceo do vale-transporte, no h lei que obrigue a concesso de benefcios. Mas as empresas podem se beneficiar de vantagens fiscais se oferecerem algum subsdio ao funcionrio. o caso do vale-refeio e vale-transporte, que podem ser deduzidos diretamente do Imposto de Renda. Alm disso, os gastos com esses benefcios podem ser lanados na contabilidade da empresa como despesa, o que reduz o lucro e, consequentemente, o imposto a pagar. Esse procedimento pode ser adotado tambm em relao aos convnios mdicos e seguros-sade, caso todos os funcionrios sejam includos no programa. Os dois benefcios, no entanto, no do direito abatimento direto no IR. Antonio Teixeira Bacalhau, consultor da IOB Informaes Objetivas, diz que as empresas de pequeno porte, que optem pagar Imposto de Renda com base no lucro presumido ou estimado, podem deduzir mensalmente 5% dos gastos com alimentao ou 8% da despesa com transporte de empregado no valor do imposto a pagar. Se a empresa mantiver os dois benefcios, s pode abater 8%, afirma. O vale-transporte foi institudo em 1987 e prev que o empregado pague at 6% do seu salrio com conduo. O que exceder esse percentual de responsabilidade da empresa. Vale-refeio, cesta-bsica, refeies em restaurante prprio ou de terceiros so regulamentados pelo PAT (Programa de Alimentao do Trabalhador), do Ministrio do Trabalho, desde 1976. Para aproveitar as dedues, a empresa precisa se inscrever no programa e subsidiar a alimentao dos funcionrios que ganham at cinco salrios mnimos. O trabalhador no deve pagar mais que 20% do gasto total. As refeies menores, como lanches e caf da manh, de acordo com o programa, devem conter o mnimo de 300 calorias e tambm so dedutveis de imposto. Para o almoo ou jantar so necessrias 1.400 calorias. O PAT no determina a quantidade dos itens que compem a cesta-bsica. Em muitos casos, os acordos coletivos entre empregados e empregadores que fazem essa determinao. As microempresas, no entanto, no tm como aproveitar as dedues proporcionadas pelo PAT, vale-transporte ou as despesas com convnios mdicos, j que so isentas do pagamento de Imposto de Renda. (Nelson Rocco) | Empresa pode dar benefcios e lucrar Gastos com vale-alimentao podem ser abatidos do Imposto de Renda Da Reportagem Local Os benefcios aos funcionrios no devem ser vistos pela empresa como custos , mas como forma de obter trabalho mais qualificado e de reduzir a rotatividade de mo-de-obra. Alm disso, alguns benefcios como vale-refeio e vale-transporte podem ser deduzidos diretamente do Imposto de Renda e , ainda, contabilizados como despesa, o que reduz o lucro e , portanto, o imposto a pagar. Este procedimento pode tambm adotado no caso de convnio mdico e seguro-sade , desde que incluam todos os funcionrios. Podem-se enumerar outros benefcios como cesta-bsica e prmio produtividade , que , junto com os outros, melhoram as condies de trabalho e , conseqentemente, redundam em vantagens para a empresa. |
po96fe15-a | BRASLIA - Preocupado com a repercusso negativa da manuteno da aposentadoria privilegiada dos parlamentares, o presidente da Cmara, Lus Eduardo Magalhes (PFL-BA), decidiu ontem que o Instituto de Previdncia dos Congressistas (IPC) ser extinto. A idia acabar com o instituto atravs de lei ordinria a ser votada nos prximos 60 dias. Apesar de ter o apoio de todos os lderes, Lus Eduardo encontra fortes resistncias dos deputados. Acabar com o IPC inaceitvel. Os lderes no esto suficientemente respaldados para decidir a extino imediata do instituto, afirmou o vice-lder do PPB, deputado Grson Peres (PA). Causa espanto tratar como um privilgio o instituto de previdncia parlamentar. Isso existe em todos os pases onde h democracia, disse o deputado Prisco Viana (PPB-BA). uma loucura extinguir o IPC. uma posio radical e precipitada, argumentou o presidente do instituto, deputado Herclito Fortes (PFL-PI). Depois do carnaval, Herclito vai mandar um questionrio para cada um dos 513 deputados com o objetivo de saber sua posio sobre o fim do IPC. Os deputados e os lderes esto com medo da imprensa. frescura achar que o IPC um privilgio, argumentou o deputado Agnaldo Timteo (PPB-RJ). O coro dos descontentes foi engrossado pelo deputado Nlson Gibson (PPB-PE), que comeou a recolher assinaturas para a apresentao de um destaque mantendo o instituto. Vamos ver no painel de votao quem quem. Aqui h estrelas que so vestais e que fazem discursos contra o IPC, mas por baixo do pano trabalham pela manuteno do instituto, disse o relator da reforma da Previdncia, deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM). Pito - A operao para acabar com o instituto comeou ontem cedo pela manh, logo depois que Lus Eduardo leu os jornais. O presidente da Cmara ficou particularmente irritado com as declaraes de Euler Ribeiro. Para manter o IPC em seu substitutivo, Euler alegou que o lder do PMDB, Michel Temer (SP), tinha sofrido presses de vrios parlamentares. Como voc d um entrevista dessas?, cobrou Lus Eduardo do relator. Imediatamente, todos os lderes foram convocados para uma reunio no gabinete do presidente da Cmara. Na avaliao dos lderes e de Lus Eduardo, a polmica em torno do IPC poderia prejudicar a tramitao da reforma da Previdncia. Alm disso, o presidente da Central nica dos Trabalhadores (CUT), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, foi enftico ao defender o fim das aposentadorias privilegiadas dos parlamentares. E a manuteno do instituto poderia ser um pretexto para CUT sair das negociaes da reforma da Previdncia. Sou a favor do fim do IPC. bom que a Cmara d o exemplo. Isso um assunto menor que no pode empatar a reforma, afirmou Lus Eduardo. At ontem noite, trs partidos - PT, PDT e PSDB - fecharam questo a favor da extino do IPC. O PFL e o PMDB, os dois maiores partidos da Cmara, vo consultar suas bancadas para tomar uma posio. O lder do PFL, deputado Inocncio Oliveira (PE), garantiu, no entanto, que o partido tambm ser a favor do fim do IPC. No tem fora humana que salve o instituto. J consultei 30 deputados pefelistas e apenas um protestou, afirmou. Direitos - Cauteloso, Michel Temer alegou que a extino do IPC no depende apenas dos lderes. A aposentadoria um direito individual e, portanto, as bancadas tm que decidir sobre o fim do instituto, disse Temer. A lei propondo o fim do IPC preservar direitos adquiridos. Todos os parlamentares que tiverem oito anos de mandato e 50 anos de idade tero direito aposentadoria ou, se preferirem, recebero devoluo das contribuies pagas. Os outros recebero de volta as contribuies. Estima-se que os deputados que optarem pela devoluo recebero cerca de R$ 40 mil por mandato. Pelos clculos do governo, se todos os parlamentares optarem pela devoluo sero gastos R$ 97 milhes. O IPC tem hoje patrimnio de R$ 150 milhes. Atualmente, o instituto gasta mensalmente R$ 3,8 milhes com o pagamento de 2.757 penses a 793 ex-parlamentares, 506 parentes de ex-parlamentares, 995 ex-funcionrios e 463 parentes de ex-funcionrios. Existem apenas 17 deputados e senadores que recebem o benefcio mximo - R$ 8 mil - pago pelo instituto. | Por causa da repercusso negativa da aposentadoria privilegiada dos parlamentares, o presidente da Cmara , Lus Eduardo Magalhes, decidiu que o IPC ser extinto. E o seria por lei ordinria. Apesar do apoio de todos os lderes , h fortes resistncias. Os argumentos contra a extino do Instituto de Aposentadoria foram vrios : no privilgio, pois existe em todos os pases democrticos; uma posio radical e precipitada; os deputados e os lderes esto com medo da imprensa; h vestais , que parecem contra , mas so favorveis. O presidente da Cmara irritou-se com a entrevista do relator Euler, em que dizia ter Michel Temer sofrido presses de vrios parlamentares. Convocou os lderes para uma reunio e, na avaliao deles, a polmica prejudicaria a tramitao da reforma da Previdncia. Ainda mais que a posio de Vicentinho, presidente da CUT, contrria ao IPC poderia levar a central sindical a sair das negociaes da reforma . Trs partidos - PT, PDT e PSDB-j se definiram contra o Instituto; O PFL e o PMDB vo consultar suas bases. Michel Temer, do PMDB, acha que no cabe s lideranas decidir, mas s bancadas. A lei que prope sua extino prev os direitos adquiridos. |
mu94ab17-25 | Ameaa nuclear far EUA favorecer chineses JAMES BAKER Se a crise suscitada pelo programa nuclear norte-coreano no for resolvida, a administrao Clinton no ter opo seno recomendar que o Congresso renove o status comercial de Nao Mais Favorecida (MFN) concedido China quando o prazo expirar, em junho. A razo simples: a cooperao de Pequim crucial se os EUA e seus aliados quiserem frustrar a tentativa da Coria do Norte de renegar as obrigaes que assumiu sob o Tratado de No-Proliferao Nuclear e desobedecer salvaguardas da Agncia Internacional de Energia Atmica (AIEA). A promoo dos direitos humanos na China importante para os princpios dos EUA, mas impedir a nuclearizao da Coria do Norte essencial para nossos interesses vitais. A crise da Coria do Norte torna imperativa a prorrogao do status de MFN. Graas aos liberais no Congresso dos EUA, o governo chins h muito tempo vem sendo alvo de vinculao entre direitos humanos e comrcio. Agora, devido crise norte-coreana, a China est em condies de virar a mesa e usar a vinculao contra os EUA desta vez, entre a renovao do status de MFN e a cooperao chinesa quanto Coria do Norte. possvel que as negociaes mantidas entre EUA e Coria do Norte nos ltimos meses tenham agravado a situao. Ao transmitir aos norte-coreanos a impresso de que estvamos dispostos a aceitar algo menos do que a obedincia integral s salvaguardas da AIEA, demos sinais de fraqueza. Agora, a administrao Clinton est mudando de ttica. Os EUA despacharam msseis Patriot de defesa area Coria do Sul, incrementaram suas foras navais e pediram a retomada do exerccio militar EUA-Coria do Sul, Team Spirit (Esprito de Equipe). Essas medidas j deveriam ter sido tomadas h mais tempo. Os norte-coreanos precisam compreender que um ataque seu Coria do Sul significa guerra com os EUA. As medidas militares tomadas recentemente pela administrao devem reforar esse recado. Dissuaso nuclear A administrao deveria considerar a possibilidade de ir ainda mais longe, informando Pyongyang de que os EUA faro o que for preciso para defender a Coria do Sul. Devemos fortalecer a dissuaso, fazendo a Coria do Norte saber que se ela tentar transformar Seul num mar de fogo ns no excluiramos o recurso ao mesmo instrumento estratgico de dissuaso nuclear que durante quatro dcadas impediu a agresso stalinista Europa Ocidental. Uma atitude militar mais afirmativa dos EUA pode ajudar a deter a agresso. Mas no reverter o caminho resoluto por Pyongyang em direo opo nuclear ambio esta que ameaa a paz na pennsula coreana, a estabilidade na sia Oriental e a viabilidade dos esforos feitos para controlar as armas de destruio macia. Em Teer, Trpoli e Bagd, governos inescrupulosos esto observando para ver como o Ocidente vai resolver sua primeira crise de proliferao nuclear ps-Guerra Fria. possvel que a Coria do Norte abra sua instalaes a uma inspeo completa da AIEA. Mas os EUA no devem contar com isso. Qualquer estratgia para coibir as ambies nucleares de Pyongyang deve incluir a imposio de sanes econmicas internacionais. Aparentemente, a administrao Clinton j optou por uma estratgia desse tipo. Presume-se que seu plano seja comear modestamente, com uma simples condenao, e depois ir levando as resolues do Conselho de Segurana da ONU em direo s sanes se, como se prev, Pyongyang continuar a opor obstculos. Uma coisa certa: a China ser crucial. Em primeiro lugar, a China faz parte do Conselho de Segurana e poder vetar, ou diluir atravs de uma ameaa de veto, quaisquer sanes. Em segundo, a China mantm um relacionamento especial com a Coria do Norte. A China a maior parceira econmica da Coria do Norte, com um volume de comrcio estimado em quase US$ 900 milhes em 1993. A China responde por 75% da energia e dos alimentos importados pela Coria do Norte o que impede a economia norte-coreana, j cambaleante, de desmoronar completamente. Para que sanes funcionem, a ativa participao chinesa indispensvel. A China no tem qualquer interesse em uma Coria do Norte nuclearizada. A perspectiva de uma nova potncia nuclear na sia Oriental preocupante para Pequim o que me foi revelado pelos dirigentes chineses, quando visitei a China como secretrio de Estado, em 1991. E a cooperao chinesa foi de grande ajuda nos esforos para obrigar a Coria do Norte a aceitar as salvaguardas da AIEA, em janeiro de 1992. Mesmo assim, os EUA fariam bem em no pressupor que os pontos de vista norte-americano e chins em relao Coria do Norte so idnticos. Seja qual for a posio de Pequim em relao Coria do Norte, os dirigentes chineses faro o possvel para vincular sua cooperao na questo norte-coreana a concesses dos EUA quanto a direitos humanos. A administrao se mostra otimista em relao perspectiva de cooperao chinesa. Mas difcil imaginar essa cooperao sobrevivendo a uma revogao do status de MFN pelo Congresso dos EUA. A administrao Bush nunca se sentiu vontade para vincular o status de MFN com os direitos humanos. Acreditvamos que uma vinculao demasiado estreita no apenas solaparia os interesses comerciais americanos num dos mercados maiores e de mais rpido crescimento do mundo, como tambm, perversamente, atrasaria a implementao das reformas de livre mercado na China. Acreditvamos que no longo prazo a reforma econmica levaria liberalizao poltica, a maneira mais garantida de assegurar direitos humanos para todos os chineses. A poltica norte-americana era evitar tanto o isolamento direto quanto o aval exagerado da liderana chinesa. Durante as eleies de 1992, essa posio tornou-se alvo de muito desprezo por parte de deputados democratas e de vrios candidatos incluindo Bill Clinton. Opo desagradvel Apesar da retrica de campanha, a administrao vem emitindo sinais pouco claros desde que assumiu o governo. No vero passado, apoiou a renovao do status de MFN para a China, apesar das evidncias de que os abusos aos direitos humanos continuavam. Recentemente, altos funcionrios dos Departamentos do Tesouro e do Comrcio recomendaram que a nfase sobre direitos humanos fosse diminuda, em prol dos interesses comerciais norte-americanos. Hoje a administrao se confronta com uma realidade dura: Washington precisa da China para implementar sua poltica em relao Coria do Norte e Pequim sabe disso. A prorrogao do status de MFN ser, com quase certeza, parte do preo a ser pago para assegurar a cooperao chinesa em sanes contra Pyongyang. pouco provvel que tudo isso assuma a forma grosseira de um toma-l-d-c. Se os dirigentes chineses forem sbios, oferecero concesses superficiais a soltura de um ou dois dissidentes, o fim de uma restrio mal-vista, mesmo que pouco importante antes de os funcionrios da administrao serem obrigados a ir ao Congresso para enfrentar os defensores radicais dos direitos humanos em seu prprio partido. No ser uma experincia agradvel. A administrao ver conservadores comentando o quanto sua poltica em relao China se aproximou daquela praticada pela administrao Bush. provvel que setores liberais citem a retrica da prpria administrao Clinton como evidncia de hipocrisia. Mas, por mais desagradvel que seja para a administrao defender o status de MFN, ela no ter opo. Os argumentos continuam sendo poderosos: milhares de empregos norte-americanos esto em jogo. No h evidncias de que negar a renovao ter qualquer efeito alm de causar prejuzos economia chinesa e a seus reformadores e levar Pequim a opor-se ainda mais democratizao. A administrao Clinton, confrontada com uma daquelas opes desagradveis entre realidade e retrica, ser obrigada a renovar o status de MFN para a China. JAMES BAKER foi secretrio de Estado dos EUA no governo George Bush. Copyright Los Angeles Times Syndicate. Traduo de Clara Allain | Droga ameaa estabilidade do Quirguisto Pas considerado Sua da sia Central agora teme se tornar a Colmbia da regio, diz presidente Askar Akaiev Todos os dias rezamos a Al para que na China haja paz, tranqilidade e prosperidade Temos uma moeda muito estvel. Nossa inflao em setembro foi de apenas 0,2% JAIME SPITZCOVSKY Batizada de Sua da sia Central por causa da estabilidade e paisagens, o Guirguisto est na iminncia de trocar para Colmbia da sia Central. , por causa produo e trfico de droga nos dizeres de seu presidente, Askar Akaiev. Alm da agitao da droga, o mpeto desenvolvimentista da China assusta Akaiev, que reza com freqncia para no haver transtornos no pas vizinho. Seguem trechos da entrevista: Folha- As ex-repblicas soviticas olham para o Ocidente em busca de modelos econmicos, idias e assessores. Por que no olham para a China , um modelo bem mais prximo? Akaiev- Estamos voltados para o Ocidente, mas tambm nos inspiramos na China, por exemplo,para acelerar a reforma no campo. Convidamos tcnicos chineses para ajudar a incrementar a produo de hortalia. Folha- Em quais pases ocidentais o Quirguisto est se inspirando? Akaiev- Fundamentalmente nos pases da Europa Oriental, como Polnia, Repblica Theca, Bulgria. Mas , apesar da influncia , estamos elaborando nosso prprio modelo, sem copiar. Folha- Mas o dedo do FMI est muito presente no seu modelo. Akaiev- De fato, mas antes de o FMI e o Banco Mundial abrirem as portas , j estvamos desenvolvendo um programa econmico. A nossa moeda muito estvel. Em setembro, a inflao bateu o recorde de 0,2% e pretendemos chegar em 95 com 30 ou 40% ao ano. Folha- A oposio o acusa de tendncias ditatoriais, ao desfazer o antigo Parlamento e fechar um jornal. Akaiev- Para haver democracia , so necessrios alguns fatores: liberdade de imprensa, forte poder judicirio, forte poder para autoridades e poderes locais, e oposio forte. O problema que nossa oposio ainda conserva o vezo da antiga Unio Sovitica. Eles dividem todos em democratas e partocratas. Eu prefiro dividir as pessoas entre as que apiam as reformas e os que no as apiam. Folha- O que o senhor tem a dizer da possvel transio do seu pas , nomeado de Sua da sia Central para a Colmbia da sia Central? Akiev- Isso nos preocupa certamente. At os anos 70, 90% do pio da ex-URSS vinha daqui. Com a independncia, houve quem quisesse incrementar a produo por causa do timo lucro. Fui contra. O que acontece que o pio vem do Afeganisto e passa por aqui. Infelizmente, algumas autoridades locais so corruptas , e o pessoal das foras de segurana contribuem para isso. Temos tomado providncias. Por exemplo, h um programa de combate ao trfico feito em conjunto com a ONU. Folha- No Brasil , as Foras Armadas entraram nesse confronto. O que o senhor acha de fazer o mesmo a? Akiev- Aceito uma contribuio , mas no um empenho total das Foras Armadas. Folha- Quando da independncia, em 1991, o Ocidente no via com bons olhos a possibilidade de expandir o fundamentalismo islmico nos pases muulmanos da ex-URSS. Por que isso no aconteceu , principalmente no seu pas? Akiev- A crena religiosa aqui sempre foi um elemento cultural, nunca manifestao de fanatismo. Basta ver, por exemplo, que no construmos mesquitas. Temos alguns problemas na regio de fergana, onde vivem os tadjiques e uzbeques, tambm muulmanos mas muito mais militantes. A sua influncia na populao j nos preocupa. Folha- E qual a preocupao maior, o fundamentalismo islmico ou a instabilidade da China? Akaiev- A instabilidade da China nos amedronta mais. |
in96fe13-a | ROMA - O rigor da polcia do aeroporto internacional de Roma no impediu que Silvana Saturnina Santos - uma alagoana esperta - chegasse a Brescia, perto de Milo, no norte da Itlia, para apresentar o pequeno Lucas, de oito meses, ao pai italiano de dois de seus filhos. Depois de permanecer retida e isolada por quase 30 horas numa sala do posto policial do Leonardo da Vinci, aeroporto romano de Fiumicino, Silvana, 29 anos, artes e empregada num escritrio de advocacia em Caraguatatuba, So Paulo, acompanhada de suas trs crianas - Slvia, 11 anos, filha de um pai brasileiro; Brbara, 5, e Lucas, 8 meses, filhos de Davide Parziale, que conheceu h 6 anos quando o italiano trabalhava como pintor na cidade paulista, foi finalmente autorizada a terminar sua aventura em Brescia, como hspede da famlia Parziale. As 30 horas mais longas e angustiantes da vida de Silvana - como ela qualificou sua deteno no aeroporto de Roma - comearam s 7 horas de domingo, quando se apresentou, com os trs filhos, ao controle de passaportes da polcia italiana. A presena de uma jovem mulata, com crianas em idades de adoo, foi suficiente para tornar os policiais romanos suspeitosos, exigentes e intratveis. Esquecendo que a Itlia no exige vistos de entrada nos passaportes dos cidados brasileiros, sem levar em conta o fato de que Silvana possua quatro passagens com data marcada (o prximo 8 maio) de volta ao Brasil e uma documentao que confirmava a paternidade italiana de Brbara e Lucas, os policiais insistiam numa nica exigncia: que a brasileira exibisse US$ 1.000, quantia que consideravam indispensvel para as despesas de uma breve estadia na Itlia. Em vo, Silvana tentou explicar, em portugus, que viajava pela primeira vez Itlia a convite do pai e dos avs italianos de Brbara e Lucas, que seria hospedada na casa deles de Brescia. Nenhum dos policiais quis comunicar-se com os nmeros de telefones da famlia Parziale. O mais nervoso deles no queria perder tempo em conversas, gritando para que seus colegas expulsassem logo questa puttana (esta puta) da Itlia, Silvana contou mais tarde. A alagoana comeou a vencer sua guerra contra a intolerncia da polcia italiana recorrendo a uma espanhola que conhecera no vo da Alitlia de So Paulo a Roma. A ela, Silvana pediu que informasse aos Parziale de Brescia do drama que estava vivendo no aeroporto romano. A resposta a esse pedido de socorro chegou com um conselho de Davide, o italiano de 30 anos que a alagoana conhecera em Macei h seis anos. Diga que est se sentindo mal, faa-se internar num hospital. Silvana seguiu o conselho, mas no hospital, depois de vrios exames, os mdicos disseram que ela no tinha nada, era mais saudvel do que um peixe. De volta ao aeroporto, Silvana soube que seria reembarcada para So Paulo no vo noturno da Alitlia. Com a desculpa de comprar gua e biscoitos para os filhos, obteve autorizao para sair do isolamento - e esconder-se da polcia, por mais de trs horas, dentro das lojas do aeroporto. De onde ouviu tambm os diversos avisos lanados pelos alto-falantes de que o vo da Alitlia no podia mais retardar sua decolagem. Sem qualquer queixa contra o pessoal da companhia area, ontem noite, falando pelo telefone da casa dos pais de Davide Parziale em Brescia, Silvana no queria esquecer os momentos de discriminao, humilhao e de toda sorte de descortesias que viveu no aeroporto at a manh de ontem,quando seu caso se tornou notcia da primeira pgina do Corriere della Sera e o consulado geral do Brasil em Roma procurou saber do inspetor Pronabi, da polcia do aeroporto Leonardo da Vinci, que tratamento estava sendo dispensado cidad brasileira Silvana Saturnino Santos, me de duas crianas com direito cidadania italiana. Dois episdios que mudaram da gua para o vinho o tratamento dispensado moa morena das Alagoas, que ontem tarde pde ser recebida e abraada calorosamente por Davide, sua me e sua irm no aeroporto Linate de Milo, de onde seguiram para Brescia. | Silvana Saturnina Santos, alagoana , viajou para a Itlia a convite do pai e avs de dois de seus trs filhos--- o mais novo, de oito meses, ainda no apresentado ao pai. No aeroporto de Roma, foi detida no posto policial , apesar de todos os documentos em ordem, e tratada com descaso e ofensivamente. Os policiais no quiseram se comunicar com a famlia do marido, apesar de ela lhes ter dado o telefone. Queriam que ela comprovasse que tinha US$ 1.000 para uma pequena permanncia no pas. Caso contrrio , tinha que retornar a So Paulo. Sem poder se ausentar do aeroporto, recorreu a uma espanhola com quem viajou de So Paulo a Roma. Esta telefonou para a famlia de Davide, para cuja casa iria. Por conselho dele, fingiu estar passando mal, para ser internada no hospital. Infelizmente, os mdicos constataram que ela no tinha absolutamente nada. A estratgia no deu certo. Retornou ao aeroporto e tentou a ltima cartada: com a desculpa de comprar gua e biscoito para os filhos, obteve permisso para sair do isolamento. Conseguiu esconder-se da polcia por mais de trs horas, ali mesmo nas lojas do aeroporto. Com o truque , chegou ao destino. Sem queixas contra a companhia area, confessou-se humilhada pela polcia italiana. A notcia chegou primeira pgina do Corriere della Sera , e o consulado geral do Brasil em Roma cobrou do inspetor policial esclarecimentos sobre a arbitrariedade . Aps isso, o tratamento foi outro. |
td94jl31-02 | Falta de capital emperra novas empresas Pesquisa Datafolha revela que paulistanos no recorrem a emprstimos para viabilizar seu prprio negcio Da Redao A falta de capital a maior barreira para o surgimento de novos empreendedores. o que revela pesquisa Datafolha feita na cidade de So Paulo com 1.080 pessoas. Segundo o estudo, 26% dos entrevistados nunca pensaram em abrir um negcio prprio. Desse total, 45% apontam como motivo a falta de condies financeiras. Entre os entrevistados que demonstraram real interesse em montar uma empresa, o capital inicial tambm aparece como a principal dificuldade para 68%. Segundo a pesquisa, 49% dos paulistanos gostariam de montar um negcio, mas apenas 50% tm planos concretos de efetiv-los 40% desses querem estar com as portas abertas no prazo de at um ano. Para os outros 50% trata-se mais de um sonho. Entre os que efetivamente planejam virar empreendedores, a maioria (68%) pretende utilizar dinheiro guardado ou que vai guardar. A venda de bens tambm aparece como alternativa vivel. Um total de 10% esperam ter ajuda da famlia e 10% contam com indenizaes como Fundo de Garantia por Tempo de Servio. Apenas 9% afirmam que vo recorrer a emprstimos para comear uma empresa. Idade Jovens com idade entre 16 e 25 anos puxam a fila dos interessados em se tornarem patres (55%). Quanto mais a idade avana, diminui o grau de interesse: 41% entre as pessoas com 41 anos ou mais e 53% e entre 26 e 40 anos. O mesmo ocorre com a relao diminuio da escolaridade e da renda mensal. Os homens demonstraram mais disposio concreta de se tornarem empreendedores que as mulheres (58% contra 44%). Aumentar a renda e no ter mais patro so os principais motivos apontados pelos entrevistados para apostar nesse tipo de projeto. Garantia de trabalho e a possibilidade de no ter horrio tambm foram razes mencionadas. SociedadeA tradicional sociedade com parentes est em baixa. 51% das pessoas com objetivos de montar uma empresa no pretendem ter scios. Entre os que pretendem se associar, 14% preferem amigos e conhecidos e 13%, cnjuges. Apenas 9% apostam nos irmos como parceiros ideais. O comrcio aparece como a atividade preferida para 56% dos paulistanos. A venda de roupas e de alimentos lideram o ranking. O setor de prestao de servios fica com 23%. Montar uma indstria vontade de apenas 6% dos paulistanos entrevistados pelo Datafolha. A pesquisa do Datafolha um levantamento estatstico por amostragem estratificada, com sorteio aleatrio, tendo como universo a populao adulta da cidade de So Paulo. O levantamento foi realizado no dia 19 de julho de 1994 com 1080 pessoas, com idade a partir de 16 anos. A margem de erro de 3 pontos percentuais, dentro de um intervalo de confiana de 95%. A direo do Datafolha exercida pelos socilogos Antnio Manuel Teixeira Mendes e Gustavo Venturi, tendo como assistentes Mauro Francisco Paulini, Emilia de Franco e a estatstica Renata Nunes Cesar. | Falta de capital emperra novas empresas Pesquisa Datafolha revela que paulistanos no recorrem a emprstimos para viabilizar seu prprio negcio. Da Redao Segundo pesquisa da Datafolha feita na cidade de So Paulo, a falta de capital o maior empecilho para novos empreendedores. Dos 26% dos entrevistados que nunca pensaram em negcio prprio, 45% alegaram falta de condies financeiras. Dentre os que efetivamente querem seu prprio negcio , 68% pretendem utilizar dinheiro poupado ou a ser guardado. A venda de algum bem aparece alternativa vivel. 10% esperam ajuda da famlia, outros 10% se fiam em indenizaes , e somente 9% se arriscam a fazer emprstimos. Jovens entre 16 e 25 anos so os que desejam ser empresrios (55%). Com o avano da idade, o interesse diminui. O mesmo se d com a diminuio da escolaridade e da renda. Por 58% contra 44% , os homens superam as mulheres no desejo de autonomia empresarial. Mais renda e no ter patro so os motivos alegados. Tambm houve mudana quanto a firmar sociedade: 51% no pretendem ter scios. E entre os que pretendem ter, 14% optam por amigos e conhecidos e 13%, por cnjuges. Apenas 9% escolheriam sociedade com irmos. O comrcio a atividade preferida entre os entrevistados(56%); prestao de servio fica com 23% ; montar um indstria , com apenas 6%. |
di94se19-16 | No vale a pena provocar o caos para depois reconstruir A reduo tarifria pode ser catastrfica se implementada imperialmente OSIRIS LOPES FILHO Especial para a Folha O pas tem sido objeto (talvez seja mais apropriado dizer paciente tolerante) de polticas inspiradas por formulaes nobres, dotadas de boa-f, concebidas com os melhores propsitos, que obtm adeso da populao e terminam por no alcanar os resultados pretendidos, ou, o que pior, apresentam consequncias perversas, em contradio com seu objetivo generoso. Que cupim poderoso ou sava tenaz corri estas polticas altrustas? A constatao inicial a ser feita a de que a nobreza ou generosidade de sua concepo no garantia de xito. O planejar e o executar envolvem uma rdua e penosa tarefa de cuidar do detalhe, desprezada, regra geral, por nossos governantes e administradores. Cuida-se mais do grandioso, do espetacular, do que dos detalhes. Mas so estes que, superpostos, possibilitam a concluso feliz do projeto ou da obra. Muitas vezes o governante formulador da poltica se entusiasma em to elevado grau com a sua concepo, envolve-se em tal intensidade com o processo, que abandona, em transe, a racionalidade e adquire a dimenso de figura redentora e messinica. J no to somente o lder, o chefe, o planejador, mas pessoas iluminada por sapincia absoluta, sem vacilaes, intolerante s crticas e s contribuies que no sejam aplausos calorosos, que numa recorrncia lusitana de sebastianismo considerar-se o salvador. s vezes essas polticas bem-intencionadas provocam piores danos, do que aquelas formuladas com tendenciosidade original, pois estas ltimas, tendo vcios evidentes de concepo ou de finalidade, podem ser denunciadas e corrigidas, e, por consequncia, seu processo e rumo so suscetveis de aperfeioamento. As polticas bem-intencionadas, justamente por estarem impregnadas de generosidade de objetivos e convico de acerto, so mais difceis de serem corrigidas, at por que os projetos caracterizados por boa inteno so absorvidas com facilidade pela sociedade, que os apoia e legitima. Nestes dias, as autoridades do pas esto divulgando, atravs da imprensa, uma nova poltica tarifria para as importaes, dotada aparentemente de inspirao generosa, mas que tem srios riscos de produzir efeitos catastrficos, se implantada imperialmente, com a urgncia e amplitude anunciadas. Repete-se uma auto-suficincia normativa, tpica da superficialidade com que problemas complexos tem sido enfrentados no Pas. D-se valor absoluto alterao da lei, abstraindo-se que ela se dirije uma realidade. Pratica-se um reducionismo simplrio e monocular. Est-se aprofundando a liberao das importaes iniciada no perodo Collor, em contraposio exarcebao do protecionismo aduaneiro ocorrida na dcada de 70, quando se estabeleceram alquotas do imposto de importao elevadssimas, acima de 100%, em alguns casos em torno de 200%, para os produtos que poca foram chamados de suprfluos. Pretendia-se tornar proibitiva a importao de produtos considerados no-essenciais, para aliviar a crise cambial decorrente da elevao dos preos do petrleo. Ocorreu que com a superproteo tarifria os investimentos foram direcionados para a produo no pas desses produtos suprfluos, com toda a gama de bens eletroeletrnicos, aparelhos de som, de vdeo, televisores, invertendo-se a prioridade de investimentos baseada nos interesses e nas necessidades nacionais. Proteo elevada, produo cara, preos finais exorbitantes acarretaram como negcio prspero o contrabando, dada a vasta margem de preferncia que os produtos estrangeiros contrabandeados passaram a ter em matria de preos. Agora, para atender ao abastecimento da populao, forar um rebaixamento dos preos da produo nacional, conter a alta de preos, frear os ganhos excessivos dos fabricantes, acelerar a concorrncia e melhorar a produtividade nacional, tudo em nome da proteo do consumidor nacional e da salvaguarda do plano de estabilizao econmica e de fortalecimento da moeda, iniciou-se um processo temerrio e ambicioso de reduo tarifria das mercadorias estrangeiras importadas para o pas. Alguns pontos no tem sido avaliados adequadamente. A alquota do imposto de importao, como o prprio nome indica, representa uma parte da base de clculo. A base de clculo do imposto de importao o preo de transao da mercadoria. Se este preo subfaturado, prtica significativa e atual, a tarifa aduaneira perde totalmente a sua funo de proteger a indstria nacional. A determinao dos preos reais de importao de produtos estrangeiros , hoje, tarefa impossvel de ser realizada pelos rgos governamentais, de uma forma consistente. A alfndega no Brasil rgo integrante da Secretaria da Receita Federal e, desde a dcada de 50, ficou alienada do controle dos preos de importao. Tal funo foi atribuida CEXIM, e, posteriormente sua sucessora, a CACEX, e, finalmente, SECEX, rgo integrante da estrutura do Ministrio da Indstria, Comrcio e Turismo. Um sistema de controle de preos que era praticado valentemente pela CACEX, ainda que com tcnicas superadas, esfacelou-se administrativamente quando transferido para a Secretaria de Comrcio Exterior de um ministrio recm recriado. De que adiantam intenes eivadas de boa vontade, se a estruturao administrativa quase que inexistente e inadequada, e se so utilizadas tcnicas da idade da pedra em plena era espacial? Em suma, a fixao pelo governo dos preos de importao dos produtos estrangeiros um trabalho de difcil execuo no momento. Medida provisria editada recentemente reorganizou parcialmente a Secretaria da Receita Federal dotando-a de uma Coordenao de Inteligncia Fiscal, para investigao dos ilcitos tributrios, entre os quais o contrabando, impossveis de serem provados atravs da auditoria tradicional. Nessa linha, criou-se tambm a Coordenao de Valorao Aduaneira, com a finalidade de determinar os preos das mercadorias importadas, principalmente para identificar as prticas de subfaturamento e de superfaturamento nas atividades de comrcio exterior, bem como, os preos de transferncia realizados com frequncia por empresas multinacionais. Tudo isso, ainda se encontra em fase inicial. Muito trabalho deve ser feito para materializar esses rgos recm-criados. O que tem sido constatado que as fraudes na importao se avolumaram, principalmente com a utilizao de preos vil, estando o governo desaparelhado material e institucionalmente para reprimir, com consistncia, essas operaes danosas economia nacional e s finanas governamentais. Para agravar a situao, a base de clculo do imposto de importao, fixada no Cdigo de Valor do GATT, adotada pela legislao brasileira, agride aos interesses dos pases terceiro-mundistas, como o Brasil. O valor da transao, declarado pelo importador, pela regra adotadas de difcil descaracterizao. Vale dizer, mesmo tendo a administrao governamental o preo real da importao, para descaracterizar juridicamente o preo declarado pelo importador, h toda uma hierarquia de procedimentos que tornam difcil a exequibilidade da ao controladora do governo. No aceito o preo da transao, passa-se ao da mercadoria equivalente, que, inexistente, provoca a utilizao da mercadoria similar, e, se no identificado esse, implica a adoo de um sistema de reconstruo do preo da mercadoria no pas exportador, evidentemente quase que impossvel de ser realizado pela administrao alfandegria brasileira, pois agora que se est tentando solidificar sua atuao no territrio nacional em tal matria. Uma reforma tarifria deve se inspirar no princpio da publicidade, inscrito no artigo 37 da Constituio Federal. Deve-se discut-la aberta e democraticamente com os setores produtivos nacionais, com os sindicatos operrios, produto por produto, sem auto-suficincia arrogante e totalitria, em audincias pblicas, com a presena de todos os setores interessados, desde os mais poderosos ao pequeno produtor. A proteo da tarifa aduaneira essencial manuteno e crescimento do nvel de emprego no Pas e estabilidade do sistema produtivo nacional. A fixao das alquotas do imposto de importao demanda necessariamente uma calibragem, tendo-se em conta a preservao da economia nacional, o seu nvel de emprego e o bem-estar do consumidor nacional. No vale a pena inspirar-se na criao do mundo, em matria tributria, criando-se o caos, para ento comear a reconstruo. um caminho demasiado custoso, que, seguramente ser penoso trilhar. OSIRIS LOPES FILHO, 55, professor de Direito Tributrio da Universidade de Braslia e ex-secretrio da Receita. | No vale a pena provocar o caos para depois reconstruir A reduo tarifria pode ser catastrfica se implementada imperialmente OSIRIS LOPES FILHO Especial para a Folha Muitas de nossas polticas ,inspiradas nos melhores propsitos , bem recebidas pelo povo acabam no alcanando os objetivos declarados ou apresentando resultados avessos a eles. A nobreza ou generosidade da sua concepo no garantia de sucesso. Para planejar e executar , necessria a penosa tarefa de cuidar de detalhes, em geral desprezada por governantes e administradores. s vezes, polticas bem-intencionadas acabam sendo mais danosas do que as envolvidas com tendenciosidades, pois estas podem ser mais facilmente ser detectadas a tempo e corrigidas. As primeiras, at por serem bem aceitas pelo povo, so difceis de corrigir. No momento, as autoridades do pas esto divulgando uma nova tarifa para importaes, de inspirao generosa, mas que oferece riscos. Constitui-se num aprofundamento da liberao iniciada por Collor, em contraposio ao exagero protecionista da poca da revoluo militar. Naquele perodo, a sobretaxao tarifria incrementou a produo nacional de certos produtos , antes importados. S que a proteo elevada, produo cara e preos finais exorbitantes incentivaram o contrabando. Agora, para atender o abastecimento interno , reduzir os preos da nossa produo, frear lucros abusivos , acelerar a concorrncia e melhorar nosso produtosempre com o fito de proteger o consumidor e dar segurana ao plano de estabilizao--, tomou-se uma medida temerria de abaixar as tarifas de mercadorias importadas. A base de clculo do imposto o valor da mercadoria . Se ele subfaturado , hoje prtica comum, a reduo tarifria perde sua funo de proteger a indstria nacional. As boas intenes so incuas quando a estrutura administrativa est muito defasada na sua competncia de fiscalizar a prtica de importao. O valor da transao, declarado pelo importador, dificilmente pode ser verificado a ponto de ter suporte jurdico. O processo envolve uma hierarquia de procedimentos que dificulta o controle do governo. Uma reforma tarifria deve se inspirar no princpio da publicidade, conforme o artigo 37 da Constituio Federal. A proteo que ela exerce fundamental para a manuteno e crescimento do nvel de emprego e estabilidade do sistema produtivo. A fixao das alquotas exige uma calibragem , tendo em vista a preservao da nossa economia, do nvel de emprego e do bem-estar do consumidor. |
mu94de27-a | Quatro terroristas morreram e 25 pessoas ficaram feridas na operao policial que ps fim a 54 horas de sequestro de um avio da Air France, no aeroporto de Marselha (Frana), em Marignane. Um grupo de elite da polcia invadiu o aparelho no fim da tarde de ontem e matou todos os sequestradores. Estes haviam assassinado trs refns no aeroporto de Argel, onde o sequestro comeara. O Grupo Islmico Armado (GIA), formado por radicais muulmanos que combatem o governo argelino e pregam um regime fundamentalista semelhante ao do Ir, reivindicou a autoria. Estavam no Airbus, no instante do desfecho, cerca de 170 pessoas. J haviam sido soltos 65 refns. Treze passageiros, trs tripulantes e nove policiais foram feridos no resgate, segundo o Ministrio do Interior francs, que considerou a operao um sucesso. O ministro das Relaes Exteriores da Frana, Alain Jupp, disse que a violncia civil na Arglia vai durar muito tempo e que ataques contra interesses franceses ainda vo ocorrer. Um policial perdeu uma das mos. Dois dos passageiros feridos teriam sido baleados. O GIA, que combate o governo argelino, afirmou que o sequestro visava acabar com o apoio incondicional, poltico, militar e econmico da Frana a Argel. O GIGN (Grupo de Interveno da Polcia Nacional), especializado em situaes do gnero, iniciou o resgate s 17h15 (14h15 em Braslia), pouco antes do anoitecer. Membros do GIGN entraram por vrias portas do avio. Ouviram-se tiros e exploses por alguns minutos. Parte dos passageiros pde escapar do aparelho pelos tobogs de emergncia. Um membro da tripulao saltou da cabine do piloto e quebrou o brao na queda. Os sequestradores tinham dinamite e queriam explodir o avio, disse um refm, o cantor Ferhat Mehenni, 51, inimigo dos radicais muulmanos. Era impossvel deixar o avio decolar, explicou Hubert Blanc, chefe da polcia de Marselha. O sequestro O avio ia decolar de Argel s 11h15 de sbado (8h15 em Braslia), com destino a Paris, quando foi tomado por quatro homens vestidos como o pessoal do aeroporto. Eles comearam a controlar os passaportes dos passageiros, que no desconfiavam de nada. Em seguida, levaram porta do avio um policial argelino e um diplomata vietnamita, mortos com uma bala na cabea cada um. Os sequestradores obrigaram as mulheres a cobrir o rosto maneira islmica e, por rdio, revelaram suas reivindicaes. A principal delas era a libertao de dois ex-lderes da FIS (Frente Islmica de Salvao), Abassi Madani e Ali Benhadj, em priso domiciliar. Os terroristas tambm queriam ir para a Frana. Em grupos pequenos, foram libertados 63 passageiros. O governo argelino assegurou Frana cerca de 40 passageiros eram franceses que conseguiria resolver o problema. Mas, noite, um refm francs foi assassinado: Yannick Beugnet, cozinheiro da embaixada francesa. O corpo foi jogado do avio. O crime irritou o governo francs, que decidiu resolver o problema por conta prpria e pressionou Argel a permitir a decolagem do avio. Ele chegou a Marselha s 3h33 de ontem (0h33 em Braslia). tarde, dois refns foram soltos. Os terroristas pediram o reabastecimento do avio, provavelmente para ir a Paris, ao Sudo ou ao Ir. Eles ameaaram matar mais um refm, caso essa reivindicao no fosse atendida. s 17h, ouviram-se tiros. Aparentemente, os sequestradores dispararam na direo da torre de controle do aeroporto, onde haveria atiradores de elite. A operao de resgate comeou logo em seguida. Durante toda a fase de negociaes no aeroporto de Marselha, o resgate pelos policiais do GIGN vinha sendo planejado. Segundo as autoridades francesas, no entanto, o plano era intervir apenas caso houvesse risco de vida iminente para um dos refns. | O GIA ( Grupo Islmico Armado), que combate o governo argelino, seqestrou em Argel um avio da Air France, com destino a Paris. O grupo luta , entre outras coisas, pelo fim do apoio incondicional dos franceses ao governo da Arglia. O principal objetivo do seqestro era a libertao de dois ex-lderes da FIS ( Frente Islmica de Salvao) . Os seqestradores, logo de incio, mataram um policial argelino e um diplomata vietnamita. Durante as demoradas negociaes , foram libertados 63 passageiros; mas o impasse provocou o assassinato de mais um , cozinheiro da embaixada francesa. Foi a gota d gua para que o governo francs pressionasse Argel a liberar o vo. Em Marselha , os terroristas queriam que o governo francs reabastecesse o avio . Enquanto negociavam, sob ameaas, o GIGN (Grupo de Interveno da Polcia Nacional) , especializado em misses do gnero, iniciou o resgate. Muitos passageiros escaparam pelos tobogs de emergncia, mas houve vrios feridos, tanto de passageiros quanto de policiais e de tripulantes. Com esse saldo e quatro terroristas mortos , o Ministrio do Interior francs considerou um sucesso a operao. |
ce94jl10-a | O capitalismo tem proporcionado oportunidades para pessoas que desejam entrar, de alguma forma, no mundo dos negcios. Cada vez mais jovens, executivos, profissionais liberais e trabalhadores se transformam em empreendedores movidos por seus sonhos e pelas oportunidades oferecidas pelo mercado. Quanto mais aberto o mercado, mais oportunidades para que pessoas se arrisquem no mundo dos negcios. O livre mercado a fonte natural de novas oportunidades para empreendedores. E, ao contrrio do que alguns apregoam, cada vez mais existiro novas e notveis alternativas de empreendimento, em funo da entrada de novos atores no palco dos negcios. Como o mercado possui suas prprias leis e se move com grande velocidade preciso estar alerta. O mercado bondoso e recompensa os empreendedores que, atravs de sua inteligncia e trabalho, demonstrem competncia para competir. Por outro lado, o mercado enrgico e no hesita em penalizar aqueles que se estabeleceram, mas no adquiriram ou trouxeram novas formas para se autoproteger da concorrncia. Estes, que so a maioria, acabaram rotulados pelo fracasso. Com a velocidade do mercado, inmeros produtos, servios e negcios simplesmente desapareceram pela incapacidade de percepo ou adaptao s novas expectativas de consumo. Por outro lado, surgem novas e fantsticas alternativas para produtos, servios ou negcios que pela mudana de hbitos de nossa sociedade, proporcionam um terreno frtil para novos empreendimentos. No basta apenas sonhar para que um novo empreendedor obtenha sucesso. So inmeras as variveis para se garantir o sucesso de um empreendimento: capital, a nova idia, o ponto, a experincia anterior, o nicho, o grau de inovao, o nvel de diferenciao, a forma de atendimento, o horrio de funcionamento, o timing para entrada no negcio, o volume de trabalho despendido, a equipe e muito mais. Sugiro a anlise de um s item. Em j havendo o sonho, a experincia a principal pea para o acerto ou, pelo menos, para minimizar o insucesso. Muitas vezes, pela precariedade do sonho, que beira mais fantasia, e pela ansiedade do novo empreendedor -somado autoconfiana-, arrisca-se um novo negcio, sem qualquer experincia anterior. Movido, geralmente, pela errnea anlise da fruta do vizinho. Se fosse possvel, o sonho teria que acontecer com os ps no cho. A partir da, entra-se no processo de dominar a ansiedade, que, na maioria das vezes, determina o insucesso do empreendimento pela incapacidade de uma anlise mais detida sobre o assunto. A autoconfiana, que um fator altamente positivo, aliada ansiedade pode provocar um desastre. Pode-se evitar tudo isso com a experincia, preferivelmente, na atividade a ser exercida. Experincia fundamental para minimizar desacertos. S existe uma coisa pior do que a falta de experincia: um empreendedor desprovido de conhecimento anterior bsico para o novo negcio, mas com capital. Inexperincia, somada a capital, no garantia de xito. Se no for possvel contar com a experincia, o convvio indireto com a nova atividade e um conhecimento mnimo do mundo dos negcios podero proporcionar bons passos rumo ao sucesso. O que deve ser lembrado que cada caso um caso e no existe receita de sucesso. O que existe, sim, so fatores que podem evitar o fracasso. | O capitalismo , nos dias de hoje, oferece inmeras oportunidades para quem sonha entrar no mundo dos negcios , tem competncia e soma experincia no ramo. A mobilidade dos hbitos sociais est sempre oferecendo novas alternativas para os iniciantes. necessrio, porm, que no sejam ingnuos, que se informem o quanto podem, que se dediquem em perodo integral . preciso vigiar cada lado traioeiro dos negcios, pois o mercado no perdoa. Quem se arrisca nos negcios deve estar atento a estas condies para o sucesso: capital, a nova idia, o ponto , a experincia anterior, o nicho, o grau de inovao, o nvel de diferenciao, a forma de atendimento, o horrio de funcionamento, o timing para entrada no negcio, o volume de trabalho despendido , a equipe. Mesmo assim, a garantia no total . At o que qualidade pode servir de tropeo. Por exemplo, a autoconfiana, fator altamente positivo, se contaminada pela ansiedade, pode provocar o fracasso. |
td94ab03-01 | Despreparo 'derruba' empreendedor novato Passagem de assalariado para empresrio exige planejamento e persistncia; retorno demora, em mdia, um ano JOS VICENTE BERNARDO Editor-interino do Tudo A realizao profissional, financeira e pessoal em outras palavras, a felicidade de quem deixa a condio de assalariado para tentar a sorte em um negcio prprio est intimamente ligada maneira como feita a preparao para essa mudana. O domnio de aspectos psicolgicos como a conscincia de uma possvel perda de status, materiais estar preparado para investir durante pelo menos um ano e estratgicos pesquisar o mercado e avaliar sua afinidade com ele o principal fator de sucesso do novo empreendedor. possvel dividir os empreendedores em duas categorias, segundo Silvio Passarelli, 43, diretor da Faculdade de Economia da Fundao Armando lvares Penteado (Faap) e consultor de planejamento e marketing do Sebrae (Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas). Uma delas engloba profissionais entre 40 e 45 anos de idade que tiveram sucesso em suas carreiras como assalariados. Eles acumularam capital e conhecimento e dominam o funcionamento do negcio e do mercado. Mas sentem-se rfos com a perda da estrutura e da segurana que o velho emprego garantia, diz Passarelli. Eles sofrem um pnico inicial dois ou trs meses depois de inaugurar a empresa, pois trabalham mais, ganham menos e tm que se alternar em funes de diretor e de office boy, diz o consultor. Por outro lado, suas chances de crescimento no tm limites. No ficam presos a promoes, planos de carreira ou demisses de colegas para subir de posto. Quem vai julgar sua competncia o mercado, onde no h paixes, perseguies ou privilgios. Ele frio e justo e premia quem trabalha direito, diz Laerte Leite Cordeiro, 62, especialista em orientao profissional. O Sebrae estima que 90% dos empreendedores dessa categoria prosperam e se sentem felizes. O segundo tipo de empreendedor formado por profissionais que no atingiram cargos executivos, tm pequeno capital acumulado, forte desejo de liberdade e sentem-se maiores do que os cargos que normalmente ocupam. A mortalidade nesse grupo elevada cerca de 80% das microempresas fecham antes do primeiro ano de funcionamento. Sua maior dificuldade a falta de conhecimentos de gesto administrativa, de produo, finanas, recursos humanos e vendas. A sensao de frustrao e perda aparece quando o bolso vai mal, diz Passarelli. Em compensao, as ambies desses profissionais so menores. Quem conhece o mercado acaba se dando bem. Carlos Alberto de Siqueira Bueno, 34, abriu h dois anos a Helm Representaes Comerciais, depois de trabalhar como analista de sistemas e vendedor em grandes empresas. A sensao de realizao varia conforme o dia, diz ele. Mas, em geral, gratificante. | Despreparo `derrubaempreendedor novato Passagem de assalariado para empresrio exige planejamento e persistncia: retorno demora, em mdia, um ano JOS VICENTE BERNARDO Editor-interino do Tudo A realizao profissional, financeira e pessoal de quem passa de empregado a empregador depende fundamentalmente do modo como foi feita a transio. O controle de aspectos psicolgicos , materiais e estratgicos a pedra fundamental do sucesso. Os empreendedores podem ser classificados em duas categorias: a dos profissionais entre 40 e 45 anos, bem sucedidos como assalariados, que se sentem inseguros com a perda das garantias do emprego. Inicialmente , ficam apavorados , pois trabalham mais, ganham menos e tm que bancar um facttum. Por outro lado, as chances de sucesso no tm limites. Segundo o Sebrae , 90% dessa categoria prospera. A segunda categoria composta por quem no atingiu cargos executivos, tem pequeno capital, anseio de liberdade e se consideram acima dos cargos que ocupam. A sobrevivncia muito pequena. Faltam a esses empreendedores conhecimentos de administrao, de produo, finanas, de recursos humanos e de vendas. |
ce94jl31-a | Um estudo realizado com 25 municpios do interior paulista mostra que as prefeituras se esforaram em compensar o corte no financiamento federal assistncia mdica. Entre 1987 e 1992, houve uma queda de 39% nos gastos do governo federal em sade. No mesmo perodo, os 25 municpios aumentaram em 155% suas despesas com atendimento mdico, de acordo com um relatrio ainda a ser publicado pelo Cepam (Centro de Estudos e Pesquisa de Administrao Municipal), na USP. A municipalizao um dos princpios bsicos do SUS (Sistema nico de Sade). Criado com a Constituio, em 1988, o SUS d a todos os cidados o direito sade o que tambm foi uma grande conquista: antes de 1988, para ser atendido pelo extinto Inamps, o paciente precisava mostrar sua carteira de previdencirio. Como era de se esperar, a municipalizao que significa descentralizao de decises e distribuio de verbas, ou, em outras palavras, de poder encontrou e encontra muitas resistncias comparveis s encontradas no programa de privatizao. Mas apesar das resistncias, a extino do Inamps e a absoro de suas instalaes e funcionrios pelos Estados e municpios, fundamental descentralizao j est quase terminada. Praticamente todas as instalaes do Inamps que tinha 125 mil funcionrios e 670 unidades j foram transferidas aos Estados e municpios. As resistncias vieram e vm de todos os lados. Mas, de acordo com o Ministrio da Sade, a principal est dentro do prprio governo federal. Para que a descentralizao d certo, os municpios precisam ser responsveis no s pela assistncia mdica mas tambm pelo uso sensato das verbas de sade. O maior incentivo a essa otimizao financeira um decreto que d direito aos municpios receberem do governo federal, automaticamente e sem negociaes polticas, recursos proporcionais a suas populaes. Com verba fixa, eles vo precisar se virar como podem para custear as necessidades de seus pacientes e no simplesmente cuidar dos cidados e depois cobrar, atravs das AIHs os famosos cheques em branco da sade pelo servio prestado. O decreto, elaborado pelo ministrio, est h quatro meses na mesa do presidente da Repblica, Itamar Franco, esperando para ser assinado. Outro foco de resistncia so os funcionrios que fazem as auditorias do extinto Inamps. O SUS previa um sistema descentralizado de auditoria, em que os municpios e os prprios usurios do sistema de sade deveriam atuar na fiscalizao. No foi o que aconteceu. De acordo com tcnicos do ministrio, o grupo de auditores, cerca de 500, conseguiu fazer prevalecer um sistema centralizado de auditoria, o recm-criado Sistema Nacional de Auditoria que traz semelhanas com o sistema que fiscalizava o Inamps, to conhecido pelos escndalos e fraudes. Foi um revs para SUS, informou um tcnico do ministrio. As resistncias no vieram s de dentro do governo federal. Pea-chave na atomizao do poder, o conselho estadual tem a funo de formular as estratgias de sade nos Estado (veja figura). Metade dele composta por representantes dos usurios de sade e a outra metade por representantes dos segmentos do governo, prestadores de servios e profissionais da sade. Dos 5.000 municpios do pas, 1.400 j se integraram ao SUS. O Rio de Janeiro foi o que mais resistncia apresentou (leia texto abaixo). No coincidncia que o Rio a cidade que mais tem unidades do Inamps 27. O SUS est no caminho certo, pois investe em quem mais tem condies de tratar de sade os municpios. O que falta vencer as resistncias implantao e, com isso, permitir que os municpios corrijam as distores herdadas do antigo sistema federal.(Cludio Csillag) | A criao do SUS ( Sistema nico de Sade) com a Constituio de 1988 ampliou o direito de atendimento mdico a todos os cidados, eliminando a limitao imposta pelo sistema anterior , o Inamps , que exigia a apresentao da carteira de previdencirio. O novo sistema prev a municipalizao , com a conseqente descentralizao de decises , e distribuio de verbas , sem que os prefeitos tenham que ir de chapu na mo ao governo federal. Sem dvida, o processo agiliza o atendimento. Apesar da reaes contrrias , --- possivelmente por interesses polticos contrariados e por controle de verbas mais transparente --- , as instalaes e funcionrios do Inamps , praticamente, j foram transferidos para os Estados e Municpios. Houve, tambm, resistncia por parte dos funcionrios responsveis pelas auditorias no Inamps. Contrariando previso do SUS, conseguiram fazer prevalecer o Sistema Nacional de Auditoria, semelhante ao do antigo Inamps, famoso pelos escndalos e fraudes. O SUS est no caminho certo, pois delega aos municpios uma competncia que lhes mais prpria. O fato de s 1.400 dos 5.000 terem se integrado ao novo sistema , sem dvida, vai por conta de vantagens pessoais contrariadas. |
op94ag07-a | Vem ocorrendo, nos ltimos dias, uma sensvel mudana nas estratgias das duas principais coligaes que disputam a Presidncia. As agremiaes aglutinadas em torno da candidatura de Luiz Incio Lula da Silva assustaram-se com o surpreendente desempenho nas pesquisas eleitorais de seu maior rival, Fernando Henrique Cardoso. claro que o crescimento de FHC que assombrou at os tucanos est ligado percepo popular de xito do Plano Real. Assim, o PT optou por deixar de criticar o real e passou a defender a nova moeda, censurando porm os altos preos e baixos salrios. Parece difcil acreditar que o PT e seus aliados mudaram de posio em relao ao plano depois de ter procedido a uma reavaliao puramente tcnica das medidas. evidente que fizeram uma anlise poltica e concluram que no rende votos colocar-se contra uma bandeira que tem apoio da populao. Mesmo com a mudana de discurso, o PT se encontrava na posio incmoda de ter o Plano Real um projeto que no seu e ao qual se ops como principal ponto de discusso da campanha. Interessava a Lula encontrar outros temas para debater. A deixa foi dada pela prpria coligao tucana. Assim como ocorrera com Jos Paulo Bisol, ex-vice de Lula, uma srie de acusaes tornou a situao do senador Guilherme Palmeira insustentvel e a aliana PSDB-PFL teve de substitu-lo. O escolhido foi o tambm senador Marco Maciel. E, se Maciel de fato um candidato a vice sobre o qual no pesam graves acusaes de improbidade e que, em termos de peso poltico, oferece mais a FHC que Palmeira, seu passado sombra do regime militar foi o pretexto de que o PT precisava para tentar mudar o enfoque do debate eleitoral. Neste ponto, Maciel um perfeito representante do PFL. Sempre se manteve no poder. Nos governos militares, foi um dos articuladores do Pacote de Abril. Aps o fim do ciclo castrista, ocupou ministrios na administrao Sarney e foi lder do governo na gesto Collor. claro que a carreira de Maciel um bom ponto para ser explorado pelo PT, ainda que com resultados incertos. O passado do senador incomoda at certos setores do PSDB. H informaes de que seu nome fora vetado como vice por FHC antes da escolha de Palmeira. Para rebater as crticas petistas, entretanto, o PFL optou por uma ttica quase infantil. Pefelistas dizem que o vice de Lula, Aloizio Mercadante (PT-SP), est mais ligado aos militares do que Maciel porque filho de general. Quando se trata de analisar o passado poltico de algum, bvio, valem suas decises e aes, no sua rvore genealgica. De resto, o PFL se esqueceu de que seu candidato, FHC, filho de general e neto de marechal. bom que os partidos procurem diversificar mais o debate em torno do qual gira a campanha; afinal, embora a inflao seja um dos grandes males que hoje afetam o pas, o prximo governante ter inmeros outros problemas a enfrentar e convm que eles sejam levantados e discutidos. Resta a lamentar entretanto as sbitas mudanas de posio sem explicaes convincentes e, principalmente, a pura parvoce. | As coligaes que apiam, respectivamente, as candidaturas de Lula e Fernando Henrique tm , ultimamente, mudado a sua estratgia . Para o grupo de Lula , no d dividendos falar contra o Plano Real, pois a avaliao positiva que dele faz o povo que explica o sucesso do seu mentor. . Passou, ento , a defender a nova moeda, mas a condenar os altos preos e baixos salrios. Fica evidente a uma deciso poltica e no com fundamentos tcnicos. Mesmo com essa mudana, seria incmodo para o PT continuar centralizando os debates no Plano Real. O grupo adversrio que deu a deixa: o vice de FHC, Guilherme Palmeira, teve que ser substitudo. Foi escolhido Maciel, sobre cujo passado no pesam grandes acusaes de improbidade. Mas sua vinculao fiel ao regime militar foi a pista para o PT. O PFL , ingenuamente, quis atribuir ao vice de Lula , Aloizio Mercante , maiores ligaes aos militares por ser filho de general . Alm da bobagem em si, esqueceu-se de que Fernando Henrique filho de general e neto de marechal. importante que as discusses extrapolem mediocridades e o tema nico ---inflao--- , para subsidiar as futuras decises do vencedor. |
td94mr13-03 | Corra para lucrar com ovos de Pscoa Produo em pequena escala exige pouco investimento; lucro chega a 100% sobre o preo do material ROBERTA JOVCHELEVICH Free-lance para a Folha Faltam apenas trs semanas para a Pscoa, mas ainda d tempo para lucrar fazendo ovos e coelhos de chocolate sem sair de casa. Quem no conhece a tcnica, pode aprender em pouco mais de duas horas, fazendo um curso. importante ter uma geladeira exclusiva para colocar as frmas -o chocolate absorve odores muito facilmente, o que compromete a qualidade e o sabor. Todo o material necessrio barras, frmas e embalagens pode ser adquirido em lojas especializadas, que tambm do cursos. Quem vai entrar no negcio deve comear a divulgao primeiro, para trabalhar sob encomenda, evitando prejuzos desnecessrios. A propaganda pode ser feita no prprio trabalho, em clubes e na vizinhana. O uso de produtos de primeira e cuidados com a higiene na hora de manusear o chocolate so itens fundamentais para o bom desempenho das vendas. Segundo os fabricantes, para que o negcio seja vivel necessrio trabalhar com uma produo de pelo menos 50 quilos de chocolate, incluindo ovos, ovinhos, bombons para o recheio e coelhos. Os tamanhos dos ovos devem ser os tradicionais 250 gramas, 350 gramas, 500 gramas e 1 quilo. Para Geiza Saad Lemos Basto, 41, proprietria da Barra Doce, o preo de venda do ovo deve ser estabelecido de acordo com o quilo da barra. Na opinio dela, o fabricante no deve cobrar menos de CR$ 9.000 (considerando CR$ 3.500 o preo mdio do quilo de uma barra), pelo quilo do ovo ao leite. Ovos crocantes e demais variaes levam mais ingredientes e devem ter preo mais alto. Cristina Serafim, 43, funcionria de uma multinacional da rea de minerao e h oito anos comeou a fazer chocolate na Pscoa, depois que fez o curso da Barra Doce. Atualmente, ela tem uma produo de 600 quilos de chocolate na forma de ovos e coelhos. D trabalho, mas o lucro de mais de 100% compensa, afirma. Para poder atender todas as encomendas, muitas dos prprio colegas de trabalho, Cristina diz ter que, s vezes, trabalhar durante 24 horas seguidas. Segundo ela, a maior vantagem da fabricao do ovo caseiro, sob encomenda, a possibilidade de variar. Se o cliente pedir, eu tenho condies de fazer um ovo com uma casca crocante e a outra lisa. Porm, Cristina adverte para o cuidado que se deve ter com certos produtos. Coco, leite condensado e creme-de-leite se estragam muito rpido. S uso desde que a pessoa garanta que ir consumir logo ou guardar na geladeira. Outra que comeou a fazer chocolates na Pscoa e fez da atividade sua profisso foi a publicitria Paula Lima, 32. H cerca de dez anos, Paula resolveu promover uma degustao de ovos em sua casa. Convidou amigos, que acabaram gostando e levando amostras. As encomendas comearam a surgir e Paula se viu fazendo chocolates durante o ano inteiro. H sete anos, ela abriu a Sweet Brazil, que hoje conta com 12 funcionrios. A marca da loja, segundo Paula, so as embalagens sofisticadas, como fita de tule e papel encerado, e o uso de frmas originais. Nessa Pscoa, estou aproveitando a proximidade da Copa do Mundo e lanando coelhos com a camisa do Brasil e coelhinhas torcedoras, diz. Produtos diferenciados tambm so o segmento da Anusha Chocolates nesta poca. Os ovos trufados so o forte da empresa, que optou por no fazer o tradicional. O nosso nico ovo ao leite vem com a cara de um coelho desenhada, afirma a scia Ana Maria de Arruda Castanho, 39. | Corra para lucrar com ovos de Pscoa Produo em pequena escala exige pouco investimento; lucro chega a 100% sobre o preo do material ROBERTA JOVCHELEVICHFree-lance para a Folha A Pscoa j est a , mas para os interessados ainda h tempo de lucrar com ovos e coelhos de chocolate sem sair de casa. Os nefitos podem fazer um curso em aproximadamente duas horas. preciso ter uma geladeira exclusiva, pois o chocolate facilmente assimila odores. Lojas especializadas vendem todo o material necessrio: barras, formas e embalagens. Os interessados devem comear com a propaganda, para evitarem prejuzos desnecessrios. Tambm devem utilizar produtos de primeira e cuidar da higiene no manuseio : o cliente olha isso. Os fabricantes informam que , para a viabilidade do negcio, a produo mnima deve envolver 50 quilos de chocolate. A proprietria da Barra Doce diz que o preo de venda deve ser calculado de acordo com o quilo da barra. Os ovos cocrantes e outras variaes ficam mais caros. Cristina Serafim, funcionria de uma multinacional de minerao, faz ovos de Pscoa h oito anos e diz que, apesar do trabalho, o lucro de 100% compensa. Ela atribui outra vantagem ao ovo caseiro--- a possibilidade de variar. Mas adverte que h ingredientes muito perecveis e o cliente deve ser alertado. |
po96fe09-b | BRASLIA - No preciso desta m....! Com este grito de independncia e vrios outros palavres, o presidente da Comisso Especial da reforma da Previdncia, deputado Jair Soares (sem partido-RS), renunciou ontem ao cargo e impediu que o relatrio do deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM) fosse votado. Jair deixou tambm o PFL - do qual era presidente regional - e, conseqentemente, a vice-liderana do partido na Cmara. A atitude de Jair foi uma resposta s presses do lder do PFL, Inocncio Oliveira (PFL-PE), para que ele desrespeitasse o regimento interno da Cmara e abrisse o processo de votao de qualquer maneira. A ttica havia sido acertada na noite de anteontem, mas Jair denunciou o acordo e terminou o dia como um mrtir da oposio. Minutos depois de saber que Jair iria acatar um requerimento do lder do PDT, Miro Teixeira (RJ) - pedindo tempo, pelo menos at tera-feira, para que o plenrio da comisso analisasse os pontos novos do relatrio -, Inocncio comeou a agredir verbalmente o colega. De onde se encontrava, ao lado do lder do governo, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), e do deputado Benito Gama (PFL-BA), empinou o dedo para Jair, que ainda presidia a sesso, e xingou: Seu safado! Imediatamente, Jair suspendeu os trabalhos e saiu do plenrio, seguido pelo lder do governo e por Inocncio. F. d. p. nenhum vai me obrigar a nada, reagiu irritado. Inocncio voltou carga: Voc vai votar, porque eu estou mandando, f. d. p.! Eu sou o lder do maior partido da Cmara e voc vai fazer! Quando sentiram a presso sobre o presidente, os deputados da oposio saram em seu socorro. Comearam a gritar no plenrio, a ponto de constranger os outros lderes de partidos governistas, que bateram em retirada. Estadista - Numa sala ao lado, Jair Soares fazia um discurso de estadista: Tenho 62 anos de idade, 40 de vida pblica, e no me importo se ficar no ostracismo. No preciso de presidncia, de PFL, de m.... nenhuma! Morro pobre, com minha conscincia! Enquanto isso, Inocncio bufava, cerrava os dentes e detonava: Ele s foi presidente porque eu deixei! Eu poderia ter nomeado a mim mesmo para a presidncia da comisso! Quando conseguiu entrar na sala, onde Luiz Carlos tentava convencer Jair a retomar a sesso, Inocncio ofereceu mundos e fundos - conforme o prprio Jair relataria mais tarde - para salvar a votao. At viagem com o presidente Fernando Henrique entrou na negociao. Me ofereceram coisas imaginveis e inimaginveis, contou. Inocncio se ofereceu at para pedir desculpas pblicas por t-lo agredido. E ainda com esperanas de reverter a deciso de Jair, impedia o deputado de voltar sala da comisso e renunciar oficialmente. Voc diga o que quer, para no renunciar, implorava Inocncio. Mas foi em vo. Pensando estar livre, Jair voltou sala da comisso, onde foi apoiado por membros do PT, PDT, PC do B e PPS, que o receberam com aplausos. Sentou-se, mas, antes de renunciar, Inocncio o arrancou da cadeira, para outra conversa na sala da liderana. Novo fracasso. Na porta, parte do PT j cantava vitria e elogiava at a quarta gerao de Jair Soares. Isso que atitude de estadista e gacho macho!, bradava Paulo Paim (PT-RS). Protesto - A parte do PT favorvel ao acordo - ou seja, o deputado Jos Genono (SP) - entrou correndo no gabinete da liderana do governo, onde Inocncio tentava seduzir Jair Soares. O que o lder do PFL desconhecia que a atitude de Jair era um protesto contra tudo - inclusive contra o presidente Fernando Henrique. Se o governo quisesse fazer acordo, tinha que ter feito na comisso. Ou ento, o presidente deveria retirar a emenda e abrir o dilogo com as centrais, disse Jair. O deputado precisou simular uma fuga, para se livrar de Inocncio. Disse que ia ao banheiro. Quando percebeu que havia perdido o relator de vista, Inocncio gritou: Volta aqui, Jair! Eu confiei em voc, Jair! Quando conseguiu voltar ao plenrio e, finalmente, renunciar, Jair foi novamente recebido com aplausos pela oposio. E quase saiu dali carregado como heri. No final, j na sala da Comisso de Constituio e Justia (CCJ), o deputado se viu cercado por mais de 100 jornalistas e cinegrafistas, aos quais fez um relato de todo o processo de aprovao da reforma. Reafirmou sua postura contrria ao acordo - O governo no podia diminuir a comisso com este acordo -; fez crticas emenda da Previdncia - Quero a reforma verdadeira, no quero saber de falcia, engodo e meias-verdades -; e atacou o ministro Reinhold Stephanes (PFL-PR) - Ele no tinha clima na comisso. E no digo isso porque tenha desejado ser ministro... Se fiz campanha para o Esperidio Amin, vocs acham que eu teria a cara-de-pau de querer ministrio? Jair atacou a negociao - Pau que nasce torto, torto permanece - e denunciou as presses sobre o relator. Por fim, com ar de vitorioso, proclamou: No Rio Grande, todo mundo sabe uma frase: se quiser montar em mim, monta pelo lado certo. Porque, se montar errado, saio corcoveando... | A presso do lder do PFL, Inocncio de Oliveira , para que o presidente da Comisso Especial da reforma da Previdncia, Jair Soares, votasse a emenda de qualquer jeito, provocou uma revolta incontida e a sua renncia da presidncia da comisso e da presidncia regional do PFL. Dois dias antes , tinha havido um acordo para que a votao fosse realizada revelia do regimento interno. Foi o que Jair denunciou. O presidente da Comisso suspendeu os trabalhos e se retirou dizendo palavres. Inocncio de Oliveira devolveu no mesmo nvel, assumindo atitude autoritria. Na sala ao lado, Jair discursava insistindo na sua dignidade ofendida . Depois, o prprio Inocncio tentou convenc-lo a mudar de deciso. Fez promessas, suplicou. Inutilmente. O retorno de Jair Soares ao plenrio para oficializar sua deciso foi recebido com aplausos pela oposio. Nem o deputado Genono , da oposio, mas que aceitava o acordo, conseguiu demov-lo, pois a sua atitude inclua ,tambm, um protesto contra Fernando Henrique. Achava que a discusso do acordo com as centrais sindicais no podia passar por cima da comisso presidida por ele. No final, viu-se cercado por mais de 100 jornalistas e cinegrafistas, aos quais relatou todo o processo de aprovao da reforma. |
di94ja16-14 | Conflito distributivo e capitalismo selvagem H muito mais Brasis sob a face do sol do que a teoria ou a imaginao so capazes de abranger MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha O conflito distributivo brasileiro permanente e abrange todos os nveis da sociedade e do Estado. A disperso de rendimentos do trabalho, a variedade de formas de acumulao espria de capital e a proliferao dos podres poderes exprimem um tamanho grau de iniquidade que verdadeiramente difcil de imaginar sua superao a curto prazo. Hoje est claramente aceita at pelos poderes da Repblica a expresso ciranda financeira. Mas falta uma, cunhada tambm nos tempos da ditadura, por alguns intelectuais e pela prpria imprensa, que a expresso capitalismo selvagem. A pssima distribuio de rendas no Brasil e a superinflao, que so a manifestao mais gritante desta iniquidade, no podem ser atribudas, porm, apenas ao dos oligoplios ou monoplios, que sempre existiram, nem heterogeneidade da estrutura produtiva que tambm vem de longe. O atual grau de selvageria de nosso capitalismo deve-se profunda crise que atravessa a nossa sociedade, expressa na desorganizao e na fragmentao de interesses dos vrios poderes econmicos e polticos, que passaram a ter um comportamento predatrio. A desintegrao social brasileira atual no pode ser apreendida pela imagem dos dois Brasis, a famosa Belndia. H muito mais Brasis sob a face do sol do que a teoria ou a imaginao so capazes de abranger. Nem mesmo o olhar atravessado de um Nelson Rodrigues, mais dado crtica dos costumes do que crtica social, daria conta, hoje, da profundidade de nossa patologia social e dos conflitos potenciais latentes. A diversidade de situaes sociais de poder, de prestgio, de condies de trabalho e de vida expressa na maior desigualdade de distribuio de renda e de riqueza do mundo capitalista de tal natureza que no h qualquer ordem ou modelo de engenharia social conservadores capaz de resolv-la. Vale dizer, so necessrias reformas profundas no Estado e na sociedade para tornarmo-nos viveis como nao. O problema que nunca houve acordo mnimo entre as elites e a sociedade sobre a natureza das reformas. Enquanto isso, a biodiversidade da nossa selva social vem requerendo periodicamente, para no transformar-se num estado permanente de luta aberta e de desespero, um imaginrio coletivo que envolva a tolerncia e a negociao. O problema que hoje no basta o famoso pacto das elites. Quando a situao se torna dramtica demais e nenhuma negociao global parece possvel, necessrio buscar algum ponto de encontro, identificvel no territrio do simblico ou do sagrado, que v da redeno ao sentimento de transcendncia, como vem ocorrendo agora com a campanmha do Betinho. As lutas recentes passaram por fundos movimentos de massas que tiveram a anim-los um sentimento de alegria, felicidade e solidariedade de que foram exemplos a campanha das Diretas J ou a campanha de Lula de 1989. Sobre a precariedade e o desejo persistente da alegria e da felicidade, a nossa msica popular est cheia de versos poticos que penetram no corao de todos. A memria potica e a esperana na capacidade de transformao da realidade o que permanece, por cima das diferenas sociais e ideolgicas da maioria da populao que teima em acreditar que o Brasil um pas vivel. Brasileiro, profisso esperana e levanta, sacode a poeira e d a volta por cima foram duas das mais belas imagens criadas pela produo cultural deste nosso pas. Dadas as razes opressoras e autoritrias das elites dominantes brasileiras, que no fizeram seno sofisticar-se, e a violncia social dos mercados formais e informais, o imaginrio do homem cordial est hoje desacreditado. Mas ainda est profundamente enraizado na cultura tanto do povo como das classes dominantes o desejo ou a crena em solues mgicas ou simplesmente moralizadoras para nossos graves problemas. Independentemente das conjunturas esta foi uma das maiores dificuldades polticas que tiveram de enfrentar quase todos os presidentes eleitos legitimamente na histria do aps guerra. As aspiraes populares de justia social mnima, juntam-se sempre demandas contraditrias das elites, acompanhadas de resistncias surdas ou explcitas mudana social. Estas caractersticas estruturais tm conduzido sistematicamente a impasses (Vargas, Jango, Jnio e Collor). No se trata, como se tem sugerido, de obter alianas majoritrias no Congresso para poder governar ou da capacidade de deciso e coragem dos presidentes. A maioria deles se elegeu com alianas majoritrias dominadas pelas foras conservadoras e no entanto cada vez que tentaram empreender qualquer reforma que ameaasse o status quo ou se viram na impossibilidade de arbitrar os interesses mais pesados, econmicos ou regionais, foram sistematicamente acusados de populismo e levados a um impasse, mesmo quando sua aliana originria tivesse poderosas foras conservadoras e algumas das elites chamadas morais e bem pensantes. O regime autoritrio, apesar de seu aparente poder inconstratvel tambm no foi capaz de enfentar as desigualdades, a questo agrria e a educao de base. Apenas conseguiu fazer as reformas conservadoras e operacionais capazes de pr de acordo, por um perodo limitado, as fraes mais importantes das classes dominantes. Este acordo terminou antes mesmo da crise da dvida externa. Em compensao, a sua gesto macroeconmica contraditria, a criao da ciranda financeira e o endividamento externo excessivo criaram alguns vcios estruturais no Estado e no mercado pelos quais pagamos at hoje. O regime autoritrio no criou os monoplios (privados ou pblicos), os oligoplios, as construtoras, os banqueiros, os especuladores, apenas permitiu que o Estado fosse usado por eles de forma predatria, numa extenso at ento desconhecida. No criou as condies originrias do capitalismo selvagem, apenas as exarcerbou com a convivncia perversa de seus representantes mais poderosos, em decises secretas nos principais gabinetes e desvos dos sucessivos governos, sem controle social de qualquer espcie. A crise do modelo de desenvolvimento e da ideologia do Estado autoritrio comeou no final da dcada de 70 e contribuiria em muito para a sua derrocada. Infelizmente a ideologia neoliberal no contribuiu em nada para reformar o Estado e regenerar o setor pblico na direo dos interesses das grandes massas. No que se refere ao mercado, a idia da liberdade irrestrita da concorrncia ilimitada como mecanismo de eficincia, a privatizao desordenada, o desmantelamento de empresas estratgicas e dos sistemas de infra-estrutura que abrangem todo o territrio nacional, esto minando nossas possibilidades de competitividade internacional futura e agravando o desemprego e a injustia social. Estamos jogando fora as poucas vantagens sistmicas que o regime autoritrio anterior conseguiu com tanto sacrifcio do povo. Estamos liquidando o sistema de planejamento e a burocracia de Estado sem colocar nada no lugar; estamos contribuindo assim para um novo tipo de capitalismo selvagem que ultrapassa o herdado de nossas condies histricas. E, o que pior, pretendem legitim-lo sob a forma de uma doutrina neoliberal em que foram adotadas radicalmente as teses do livre mercado e confundidas, de boa ou m f, com o conceito de democracia. Assim, na crise atual, partidos, organizaes patronais, sindicais e burocrticas, empresas e bancos, travam entre si uma luta desordenada, sem qualquer possibilidade de construir um novo pacto hegemnico conservador e muito menos construir um novo projeto nacional. Lutam nos seus territrios menores sem quartel, sem tica, sem projeto, numa verdadeira ciranda poltica em que as alianas duram apenas o tempo de uma conjuntura particular. a guerra de todos contra todos, entrecruzada por alianas parciais e temporrias que no conduzem a nada. A nica novidade poltica a persistncia de um candidato de extrao popular nas intenes de voto de uma parte substancial da populao. Contra ele esto comeando a articular-se um conjunto de foras poderosas. Como proclamou esta semana, em manchete e com certa ironia, a Gazeta Mercantil (11/01/94): Procura-se um adversrio para Lula. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, economista, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Unicamp. | H muito mais Brasis sob a face do sol do que a teoria ou a imaginao so capazes de abranger. MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha O conflito da distribuio de renda brasileiro permanente e abrange os vrios segmentos sociais e nveis do Estado. A sua gravidade tal que dificilmente se enxerga uma soluo a curto prazo. Alm da expresso ciranda financeira , est cunhada uma outra tambm da poca da ditadura: capitalismo selvagem , que bem traduz a nossa pssima distribuio de renda. No se pode atribuir essa iniqidade apenas aos oligoplios e monoplios , nem heterogeneidade da estrutura produtiva . Ela advm da crise social que a sociedade atravessa ,cuja desorganizao e fragmentao dos interesses econmicos e polticos redundaram em comportamento predatrio. Hoje, no somos dois mas vrios Brasis. A diversidade das situaes sociais de tal natureza que no h modelo de engenharia social capaz de resolv-la. Isso porque nunca houve acordo entre as elites e a sociedade sobre a natureza das reformas. E para amenizar a situao , nossa selva social requer periodicamente um imaginrio coletivo que envolva tolerncia e negociao. Numa situao dramtica, necessrio buscar sintonia no territrio simblico ou religioso, como vem ocorrendo com a campanha de Betinho. O mundo das artes tambm fornece estmulo para a permanncia da esperana na capacidade de transformao da realidade .Brasileiro, profisso esperana e levanta, sacode a poeira e d a volta por cima so duas belas imagens da produo cultural. As razes opressoras e autoritrias das elites desacreditaram a definio do brasileiro como homem cordial. Mas tanto entre o povo quanto nas classes dominantes, persiste o ideal de solues mgicas ou moralizadoras. Essa foi a grande dificuldade dos polticos: conciliar as aspiraes populares com as das elites. Ter ou no aprovao da maioria no Congresso nunca foi o problema . que as foras conservadoras que subsidiaram qualquer candidato nunca permitiram qualquer reforma que ameaasse seu status quo. O regime autoritrio tambm no foi capaz de enfrentar as desigualdades , acelerando a reforma agrria e a educao bsica. Apenas conseguiram acordos provisriso de setores importantes das classes dominantes. A sua gesto macroeconmica contraditria , a criao da ciranda financeira, o endividamento externo excessivo criaram vcios estruturais no Estado , que ainda duram. O regime no criou monoplios, oligoplios , banqueiros , mas permitiu que fossem predatores do Estado . A sua derrocada teve incio na dcada de 70 com a crise de desenvolvimento e da ideologia do Estado autoritrio. Mas tambm a ideologia neoliberal no contribuiu para reformar o Estado e atuar no setor pblico rumo aos interesses de massa. Estamos desprezando uma das poucas vantagens sistmicas do regime militar : a liquidao do sistema de planejamento e da burocracia do Estado , sem compensaes ; portanto, contribuindo para um novo capitalismo selvagem. A nica novidade poltica a constncia de um candidato de origem popular capaz de captar os votos populares. Mas j esto maquinando contra eles. |
mu94de11-a | Existem muitas maneiras de enxergar os ltimos acontecimentos no Mxico: fim de um regime ao qual a populao j estava acostumada, renovao sexenal, continuidade reformadora e modernizante, perpetuao autoritria. Da anlise que cada um escolher decorrero as concluses prticas, polticas e pessoais s quais ir chegar. Poderamos aventar duas vises, por enquanto: uma, ctica e alarmada, que detecta na conjuntura mexicana uma crise profunda, sem soluo vista. Outra que, sem negar os problemas, considera que sua soluo relativamente simples e consiste em uma tranquilizante continuidade de fundo, ajustada por mudanas isoladas: no h nada que no possa ser consertado com o tempo. Essa segunda viso , ao que tudo indica, a que inspirou o presidente Ernesto Zedillo a formar sua equipe de colaboradores e a expor, em seu discurso de posse, no dia 1 de dezembro, seu projeto de governo para os prximos anos. Prevaleceu um enfoque ortodoxo e continusta. Nem o gabinete, nem a mensagem foram elaborados com um sentido de ruptura com o passado: em nenhum dos dois casos pretendeu-se dar a impresso de que se parte de um senso de crise aguda. Mais alm das individualidades algumas das quais se sobressaem, enquanto outras so lamentveis, o gabinete de Zedillo se distingue por um sinal crucial de mudanas e um carter continusta e conservador que destoa dele. O elemento de mudanas , evidentemente, a incluso de um representante do principal partido de oposio num cargo-chave a Procuradoria Geral da Justia, abrindo assim caminho para um eventual governo de coalizo, algum dia. Por mais que se diga que a indicao de Antonio Lozano no foi partidria, e sim individual, o fato que ele faz parte do novo governo por sua militncia no PAN e no por alguma capacidade individual socialmente reconhecida, embora esta possa existir. S podemos elogiar essa nomeao e as perspectivas que ela abre para o Mxico no mdio prazo: o incio do fim do monoplio do poder poltico por um partido. Uma andorinha no faz vero e, parafraseando Sartre, preciso mais de um panista (poltico do PAN) para corrigir dcadas de abuso, corrupo e violncia. O restante do gabinete, infelizmente, no reflete a mesma audcia. Presidiram a sua formao os critrios que classicamente ditam a escolha das equipes governamentais no Mxico: uma dose de lealdade toda prova; uma pitada de amizade distante, de preferncia universitria ou dos primeiros escales do funcionalismo; vrias colheradas de representao do velho governo, para que o presidente anterior no se sinta ameaado nem rechaado; e alguns gramas de proximidade a foras polticas excludas, mas ainda toleradas. Em todo caso, no um gabinete de guerra, isto , um governo de personalidades excepcionais. Vem da a deduo de que, j que Ernesto Zedillo poderia recorrer a esta alternativa e a descartou, ele simplesmente no a considerou imprescindvel. Ele no precisa de uma equipe de emergncia pela simples razo de que tal emergncia no existe. Menos triunfalismo A mesma convico parece permear o discurso inaugural do novo presidente. Ele incluiu vrios trechos felizes, em particular sobre a corrupo e as fortunas que devem ser feitas fora de seu governo, no dentro dele; sobre o presidencialismo, o trato com a oposio e a necessidade de consumar a democratizao; e, sobretudo, no tocante reforma do Judicirio. Inclusive sua nfase no combate pobreza, apesar de ocupar lugar de destaque na liturgia das posses presidenciais mexicanas, conferiu um toque menos triunfalista do que aquele ao qual Carlos Salinas vinha acostumando os mexicanos. De modo geral, o texto de Zedillo reflete uma avaliao mais realista e at certo ponto nova da situao. Mas no foi uma grande pea oratria que tenha partido de uma anlise dilacerante da realidade mexicana. O discurso de Zedillo indica problemas e aceita carncias; de nenhuma maneira reflete um reconhecimento da deteriorao do sistema poltico e da desesperana de boa parte da sociedade. Seu programa se baseia em um diagnstico crtico, mas no terminal, do regime poltico sob o qual o pas vive desde o final dos anos 20. Nem o levante de Chiapas, nem os assassinatos de Luis Donaldo Colosio e Jos Francisco Ruiz Massieu, nem o ceticismo que as eleies continuaram gerando, nem as denncias e as lutas internas do PRI, nem mesmo, em suma, a armadilha legada por Carlos Salinas desembocaram numa viso de ruptura e transformao. O programa de Zedillo, assim como seu gabinete e os discursos de posse de todos os seus predecessores, partem do sutil e tradicional jogo de sempre entre continuidade e mudanas em que o sistema mexicano se fundamenta: muda tudo o que secundrio, para que permanea o essencial. Provavelmente foi assim porque Zedillo e seus colaboradores no consideram que a situao exija mais. E eles podem ter razo: uma leitura vlida e verossmil dos resultados eleitorais de agosto de 1994, do triunfo esmagador e surpreendente conquistado pelo PRI nas urnas e, possivelmente, do estado de nimo da populao. muito possvel que, depois dos sustos do ano, os mexicanos anseiem por tranquilidade, segurana e o retorno normalidade morna dos tempos passados. Se for assim, o subestimar deliberado da gravidade da crise vai render politicamente: os mexicanos agradecero ao governo por ter desfeito o pnico que poderia ter se espalhado ao longo de 1994. Custo da vitria A outra leitura das eleies e do momento que vive o pas pode resumir-se a uma metfora histrica. Em 1918, a Frana, ao cabo de quatro anos de guerra, 1 milho de mortos, o holocausto de Verdun e a quase queda de Paris na batalha da Marne, se imps mquina de guerra alem. O esforo nacional, popular e das elites francesas foi extraordinrio. Mas a sobremesa revelou que o custo do triunfo foi exorbitante: a Terceira Repblica ficou exaurida. As consequncia seriam medidas nos anos 30, quando a sociedade francesa revelou-se incapaz de levar a bom termo as reformas da Frente Popular, em 1936, e em 1940, quando a classe poltica, empresarial, militar e intelectual francesa capitulou desavergonhadamente diante dos nazistas. Ameaado de morte em vrias ocasies este ano, o sistema poltico mexicano conseguiu sobreviver mediante um supremo esforo de unidade e concentrao Depois da insurreio de Chiapas, dos assassinatos, das divises, dos sequestros e das incertezas do primeiro semestre, e das previses e fraquezas das semanas que antecederam as eleies, o aparelho, o PRI e o governo souberam se unificar e sair garbosos de um transe que at o final se supunha ser insupervel. Mas a consequncia foi, como na Frana, excessiva: o sistema ficou exaurido. Comearam os confrontos, alguns a bala, outros fora de recriminaes. A inrcia se imps e a terrvel crise que o pas vive oprimiu pesadamente o sistema poltico mexicano e o PRI. Aps sua vitria veio o colapso interno: esgotaram-se as foras que lhe davam vida. Se consideramos vlida esta hiptese, a serenidade de Zedillo, de seu discurso e de sua equipe no emanariam de uma anlise fria da realidade mexicana. Viria da impossibilidade de agir de outra forma e do esgotamento. Neste caso, a inteno do novo governo de gerar uma sensao de serenidade ser frustrada, em pouco tempo, pelos efeitos da crise: novas surpresas e golpes abalaro, daqui a muito pouco tempo, a calmaria que hoje impera. O fato de ter feito da necessidade uma virtude no beneficiar muito a Zedillo: teria sido prefervel alarmar os mexicanos a tranquiliz-los. Os prximos dias e meses diro qual foi a viso acertada: a da crise light ou a de la France ternelle, prostrada por seus mortos em Verdun. JORGE CASTAEDA, 39, socilogo e economista mexicano, professor visitante da Universidade de Princeton (EUA) e catedrtico da Universidade Autnoma do Mxico (Unam). | A observao da realidade mexicana atual, aps to longa dominao do partido PRI, permite duas anlises: uma pessimista , que v uma crise profunda ; e outra otimista , que, apesar de no negar os problemas, v solues para eles sem ser preciso mexer nas estruturas bsicas. . A escolha de colaboradores feita pelo novo presidente eleito, Ernesto Zedillo, est de acordo com a segunda viso. O nico representante que acena para mudanas o Procurador Geral da Justia, Antonio Lozano, do partido da oposio (PAN). Mesmo assim, escolhido como possvel necessidade de aliana poltica futura. O restante foi indicado segundo tradicionais formas entre os eleitos pelo PRI: uma dose de lealdade a toda prova; amizade distante; preferncia universitria ou dos primeiros escales do funcionalismo; representao do governo anterior ,e um pouco de foras polticas excludas, mas toleradas. Talvez o ministrio escolhido esteja adequado a um momento de susto e intranqilidade da populao, que viveu o levante de Chiapas, os assassinatos de Luis Donaldo Colosio e Jos Francisco Ruiz Massieu . O programa do novo governo, certamente, est mais voltado para acertos secundrios do que para mudanas na essncia. Foi com essa mornidade que o PRI sempre governou. at possvel que o povo se contente com as reformas perifricas que amenizem a fome , a misria---sem resolv-las--- , mas que restaurem a tranqilidade. A histria tem mostrado que um esforo ingente para subverter estruturas continustas de privilgios tem um preo elevado e exaustivo. Mas , por outro lado, os remendos deixam aberta a possibilidade prxima de exploso das crises. A eleio de 1994 permitir , em breve, ver qual caminho percorrer o povo mexicano. |
po96ab09-a | BRASLIA - A Cmara dos Deputados vai gastar R$ 12,25 milhes em 1996 para conservar e reformar os 420 apartamentos funcionais ocupados pelos deputados federais. Com esse dinheiro possvelcomprar 68 apartamentos de quatro quartos em reas nobres de Braslia. A conta envolve desde reformas em apartamentos at a compra de eletrodomsticos e o pagamento de empresas que fazem vigilncia e limpeza nos prdios. O oramento da Cmara prev que a conservao de cada apartamento vai custar R$ 2.400 mensais, em mdia. Em 1995, o gasto da Cmara com os apartamentos dos deputados foi de R$ 10,57 milhes. Como so apenas 420 apartamentos para 513 deputados, a Cmara paga auxlio-moradia aos restantes. Neste caso, a conta ainda mais cara. Segundo a diretoria-geral da Cmara, o auxlio-moradia de R$ 3 mil mensais por parlamentar. O deputado tem duas maneiras de aproveitar este auxlio. A primeira apresentar Cmara notas fiscais comprovando gastos com aluguel, condomnio ou dirias de hotel. Neste caso, o parlamentar pode usar os R$ 3 mil por ms sem pagar qualquer imposto. A outra alternativa simplesmente ficar com o dinheiro, sem dar comprovao nenhuma Cmara. Fazendo isto, o deputado paga Imposto de Renda de 25%, mas ainda consegue somar R$ 2,25 mil mensais lquidos ao seu salrio de R$ 8 mil mensais. Pagar o auxlio moradia aos 83 deputados que no tm apartamento funcional consome mais R$ 2,98 milhes anuais da Cmara. O deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) fez o levantamento dos gastos da Cmara com imveis no Siafi, o sistema informatizado que controla todos os gastos pblicos da Unio. Carvalho diz que o valor que gasto na manuteno dos apartamentos funcionais e no pagamento do auxlio-moradia muito alto. Se a Cmara quer manter os imveis para os parlamentares deveria deixar que eles pagassem as despesas de condomnio, como vigilncia e limpeza. O auxlio-moradia tambm deveria seguir os valores de mercado da cidade, argumenta. Em Braslia, um apartamento de quatro quartos como os da Cmara pode ser alugado por um valor entre R$ 1.300 e R$ 1.500mensais. Carvalho tentou abrir mo do auxlio-moradia, mas teve o pedido negado pela buracoracia da Cmara. Optou ento por entregar o valor recebido a uma creche de Braslia. A Cmara equipa os imveis funcionais dos parlamentares com mveis e eletrodomsticos. Em 1995, comprou 406 foges marca Dako-Magister, pagando R$ 160 mil pelo lote. Tambm foram comprados 376 refrigeradores, por R$ 206 mil, e 350 mquinas de lavar roupas, ao custo de R$ 244 mil. Lus Eduardo -Outra fonte de gastos a reforma peridica dos apartamentos. Notas de empenho de despesa encontradas por Augusto Carvalho mostram que no ano passado a Cmara gastou R$ 212 mil com reformas e reparos em 18 apartamentos funcionais. Os maiores gastos so com despesas que em prdios normais caberiam ao condomnio, como a contratao de empresas de vigilncia, limpeza e zeladoria dos imveis. Em 1995, estas despesas consumiram R$ 2,7 milhes, segundo o levantamento feito pelo deputado Augusto Carvalho. Outros R$ 3,66 milhes foram gastos na conservao dos prdios. A empresa Dinmica Servios Gerais, encarregada da conservao, limpeza, portaria, zeladoria e controle das garagens dos prdios em que ficam os apartamentos funcionais da Cmara, recebeu em 1995 R$ 147 mil por ms. No final do ano, o contrato foi prorrogado e o valor reajustado para R$ 202 mil mensais. Outra empresa, a Ipanema Servios Gerais e Transportes, ganhou o contrato para servios de copa, cozinha, limpeza e conservao da residncia oficial do presidente da Cmara, Lus Eduardo Magalhes (PFL-BA), por R$ 3 mil mensais. A Cmara paga at mesmo o gs de cozinha consumido nos apartamentos funcionais dos deputados. | Em 1996, a Cmara dos Deputados gastar, para a conservar e reformar os 420 apartamentos funcionais ocupados por deputados, o equivalente para comprar 68 apartamentos de quatro quartos em reas nobres de Braslia--- uma mdia de CR$2.400 mensais. Para os que no conseguem esses apartamentos, gasta-se um pouco mais com o auxlio-moradia de CR$3.000 mensais, o que totaliza R$ 2,98 milhes por ano. O deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) , que fez o levantamento dos gastos , acha esse valor muito alto e sugere que , pelo menos, os gastos de condomnio deviam ser pagos pelos deputados, e que o auxlio-moradia devia acompanhar os preos do mercado. Ele prprio quis recus-lo , mas no pde. Optou por do-lo a uma creche de Braslia. A compra de foges , refrigeradores, mquinas de lavar , reformas peridicas dos apartamentos , contratao de empresas de vigilncia, limpeza e zeladoria constituem outras despesas onerosas mantidas por dinheiro pblico. |
po96ab09-c | Dois meses depois de amargar a reprovao de 86% dos cariocas - que o consideraram omisso quando da enchente responsvel pela morte de 67 pessoas -, o governador Marcello Alencar conseguiu recuperar, em parte, a credibilidade junto ao eleitor. A pesquisa JB-Vox Populi feita nos dias 30 e 31 de maro com 697 moradores da capital apontou um ndice de 54% de avaliao positiva do governo do Rio de Janeiro. Sem dvida, uma recuperao, mas a administrao do governador teve muito mais conceito pssimo (18%) do que timo (4%). A maior parte dos eleitores ouvidos (32%) classificou o governo de regular positivo. Outros 18% consideraram bom; 17% optaram pela avaliao regular negativa; e 10% disseram que a administrao Marcello Alencar ruim. Procurado pelo JORNAL DO BRASIL, o governador no quis comentar o resultado da pesquisa. O diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra, chama a ateno para o fato de os eleitores da capital serem mais normalmente mais exigentes e crticos com os governantes do que os do interior. No Rio de Janeiro, ento, o resultado no de se estranhar, porque a cidade tem uma tradio oposicionista intensa. Marcello Alencar sofre oposio tanto direita quanto esquerda, analisa Coimbra. Na avaliao do socilogo, o carioca reage imediatamente a situaes extremas. O eleitor da capital foi decisivo para eleger Marcello Alencar no segundo turno. O atual governador teve 56% de votos na cidade do Rio, contra 32% de seu adversrio, o pedetista Anthony Garotinho. Mas, diante de uma calamidade como a enchente de fevereiro deste ano, o carioca protestou: em pesquisa feita tambm pelo Vox Populi para o JB, 86% consideraram regular, ruim ou pssimo o desempenho do governador na poca. E 78% disseram que no votariam em Marcello para prefeito. Entre os cariocas ouvidos, 68% garantiram que no votariam em um candidato apoiado por ele. Passada a indignao com a tra gdia causada pelas chuvas, parte do eleitorado carioca voltou a ver pontos positivos na administrao de Marcello. O governador tucano comeou o governo em alta junto ao governo federal. Logo no incio do ano passado, conseguiu do presidente Fernando Henrique Cardoso a promessa de investimentos no Rio, para obras como ampliao do Porto de Sepetiba e concluso do metr. Alm disso, conseguiu trazer para o Rio a primeira fbrica de caminhes da Volkswagen, o que lhe garantiu grande prestgio com a populao. Nem tudo, porm, foi bem no governo Marcello Alencar. A onda de seqestros, a partir de junho de 1995, levou os cariocas a cobrar uma polcia mais eficiente e menos corrupta. E as chuvas de fevereiro ajudaram a afundar a popularidade de Marcello, agora parcialmente recuperada. Hoje, Marcello equilibra-se em uma corda bamba. Teve a aprovao de pouco mais da metade dos entrevistados. Em uma comparao com os demais governadores tucanos, ficou bem atrs (54%) de Tasso Jereissati (76%) e Eduardo Azeredo (70%), mas saiu-se melhor do que Mrio Covas, de So Paulo, que teve 47% de avaliao positiva. | A enchente responsvel pela morte de 67 pessoas levou o governador do Rio de Janeiro, Marcello Alencar, a ser reprovado por 86% dos cariocas. Passados dois meses, j obteve 54% de avaliao positiva. uma recuperao, mas que ainda convive com 18% de pssimo contra s 4% de timo. O diretor do Vox Populi , Marcos Coimbra, alerta para o fato de ser comum essa maior exigncia nas capitais , com nfase na cidade do Rio de Janeiro. O mesmo carioca que foi decisivo para lhe dar a vitria no segundo turno (56% contra 32% de Garotinho) foi intransigente depois da tragdia das chuvas. No incio de 1995, Alencar conseguiu do presidente Fernando Henrique promessa para investimentos no Rio: ampliao do Porto de Sepetiba e concluso do metr. Tambm trouxe a primeira fbrica de caminhes da Volkswagen , o que ampliou seu prestgio com a populao. Mas logo a onda de seqestros motivou a cobrana de uma polcia eficiente e menos corrupta. Em comparao com outros governadores tucanos, equilibra-se: 54% , contra 76% de Tasso Jereissati, 70% de Eduardo Azeredo . Mas cima de Covas , que teve 47%. |
in96jl02-a | MOSCOU - Aps um sumio de quatro dias, o presidente da Rssia, Boris Yeltsin, reapareceu ontem para um pronunciamento de dois minutos pela televiso. A mensagem - que leu no teleprompter - era um pedido aos eleitores para que no deixem de votar amanh no segundo turno que ele e o comunista Guenadi Ziuganov vo disputar. Sei exatamente o que fazer, tenho fora, desejo e deciso. O que preciso agora de seu apoio, afirmou Yeltsin com a voz cansada. Vocs no devem ficar em casa. No votar uma opo contra a Rssia. Praticamente sem se mover, mexendo apenas os lbios, Yeltsin era uma sombra do candidato que h semanas danou rock durante um showmcio para jovens eleitores. Se ontem tranquilizou o eleitorado (j se especulava que sofrera outro ataque cardaco e morrera) mostrando que est vivo, o presidente, que busca a reeleio, deixou muitas dvidas sobre sua sade e sua capacidade para governar a Rssia por mais quatro anos. Gripe - A explicao oficial para os quatro dias de sumio, quando deixou de comparecer a cerimnias oficiais e abandonou a campanha, foi dada pelo primeiro-ministro Viktor Chernomirdin: Yeltsin estava com laringite. Mas Yeltsin no parecia rouco e, rapidamente, a verso oficial passou a ser que ele est muito gripado. Foi o bastante para a imprensa russa especular sobre o ocorrido nas dcadas de 70 e 80 com Leonid Brejnev, Yuri Andropov e Konstantin Chernenko, que permaneceram no Kremlin, apesar de incapacitados. Quem tambm se lembrou dos velhos tempos foi o adversrio Ziuganov. No vemos o Senhor Yeltsin h quatro dias. Assim, o comunista comeou um pronunciamento pela televiso, antes do reaparecimento do presidente. Quero ver o laudo oficial sobre o estado de sade do Senhor Yeltsin. Gostaria de saber o que est acontecendo. Por que todos os compromissos oficiais foram cancelados? No Parlamento, Stanislav Govorukhin, deputado nacionalista partidrio de Ziuganov, disse que Yeltsin parecia um zumbi durante sua fala pela televiso. Sumiu durante dias e o que nos mostraram hoje (ontem) foi uma mmia pintada e esto pedindo que votemos nela. Govorukhin exigiu do Kremlin o adiamento das eleies por duas, trs semanas ou at um ms para dar a Yeltsin a chance de se recuperar. Em sua opinio, os assessores de Yeltsin esto se comportando como geraes de funcionrios do Kremlin que escondem a verdade at que seja tarde demais. Vocs se lembram que quando Stalin morreu, s anunciaram trs dias depois. Leis - Com Yeltsin parecendo estar na ante-sala da UTI, no se sabe o que pode acontecer de hoje para amanh. A Constituio diz que se o presidente ficar doente, o primeiro-ministro assume e convoca nova eleio em trs meses. Mas a lei sobre as eleies presidenciais diz que, se um dos candidatos ao segundo turno se retirar, ser substitudo pelo terceiro colocado no primeiro turno. No caso o general Alexander Lebed, atual responsvel pela segurana nacional. Aos 65 anos, Boris Yeltsin j viveu mais do que a mdia de seus compatriotas. Cardaco desde 1987, o presidente russo nos ltimos 18 meses esteve internado pelo menos trs vezes: em dezembro de 1994, no fim de julho de 1995 e em outubro passado. Da primeira vez, Yeltsin passou duas semanas no hospital, oficialmente para extrao de tumor benigno no nariz. Mas em julho de 1995, aps nova internao, o Kremlin foi obrigado a informar que ele sofrera uma isquemia do miocrdio (falta de oxignio no msculo cardaco) e ficaria 15 dias se recuperando. Trs meses depois, novo ataque cardaco e 60 dias no hospital. Os problemas cardacos do presidente russo datam de novembro de 1987 e so agravados pela cirrose, causada pela bebida. Alm disso, Yeltsin sofre de depresso e insnia e tem problemas de coluna, desde um acidente em 1990 na Espanha. | A aparncia do candidato Boris Yeltsin, ontem, no seu pronunciamento de dois minutos pela televiso indicava um pssimo estado de sade. Aos 65 anos, cardaco, o presidente esteve internado pelo menos trs vezes nos ltimos 18 meses. O sumio de quatro dias antes do seu pronunciamento foi explorado pela imprensa e , certamente, um prato cheio para a oposio , principalmente para o concorrente Ziuganov. Alm disso , as explicaes oficiais truncadas, a respeito do afastamento de quatro dias, permitem vos ao passado russo , durante o apogeu do comunismo, quando se escondiam informaes sobre a situao de sade de ocupantes do poder. A Constituio do pas diz que , se o presidente adoecer, o primeiro-ministro assume e convoca nova eleio em trs meses. Mas a lei sobre as eleies presidenciais informa que, se um dos candidatos ao segundo turno se retirar, ser substitudo pelo que ficou em terceiro no primeiro turno. No caso, o general Alexander Lebed, responsvel pela segurana nacional. |
in96fe29-b | NAES UNIDAS - Decidido a capitalizar no terreno diplomtico a crise surgida com a derrubada de dois avies civis americanos, no ltimo sbado, o governo de Cuba - visado na tera-feira por uma declarao do Conselho de Segurana da ONU que lamentava a derrubada dos avies - pediu a democratizao do organismo multilateral e denunciou a ascendncia poltica que nele exercem as potncias atmicas, e em especial os Estados Unidos. Negociando a apresentao das razes cubanas na Assemblia Geral, e no no Conselho, Cuba jogou suas cartas na tese da defesa da soberania de seu espao areo e de suas guas territoriais, freqentemente invadidos por organizaes anticastristas sediadas nos EUA. O que no discutiremos com este organismo [o Conselho de Segurana] nem com especialistas de organizao alguma nosso direito e nosso dever de proteger a soberania de nosso pas, disse Robaina ao chegar a Nova Iorque e anunciar que seu governo deseja que a investigao encomendada pelo Conselho Organizao de Aviao Civil Internacional (OACI) se estenda a incurses anteriores dos anticastristas. Para o chanceler cubano, o Conselho est sendo transformado pelos EUA numa espcie de tribunal universal para julgar qualquer pas que desobedea a seus desgnios; tornou-se uma dependncia do Departamento de Estado. Adversidade - Uma circunstncia adversa, para os cubanos, foi o fato de o Conselho estar (at amanh), sob presidncia americana. Presidindo os trabalhos, a embaixadora americana, Madeleine Albright, no conseguiu na tera-feira a desejada resoluo condenando Cuba, mas manteve o Conselho reunido por 16 horas at extrair dele pelo menos a declarao mais branda - apesar do pedido cubano de que Robaina fosse ouvido primeiro. O Ministrio cubano das Relaes Exteriores tambm considerou que a atuao do Conselho de Segurana da ONU demonstra o preo que representa, para os pases pequenos, viver num mundo unipolar sob a hegemonia dos Estados Unidos, encarecendo a urgncia de trabalhar pela democratizao das Naes Unidas e para encontrar formas de tornar mais representativo e imparcial o Conselho de Segurana. O Conselho formado por 10 pases que nele tm assento rotativamente e pelas cinco potncias nucleares oficiais (EUA, Rssia, China, Frana e Gr-Bretanha), nicas com poder de veto. Os cubanos decidiram - no se sabe ainda em que nvel administrativo ou governamental - derrubar os dois Cessna com quatro tripulantes da organizao anticastrista Irmos pelo Resgate apesar de a chamada Conveno de Chicago, sobre segurana no espao areo, rezar que avies civis no podem ser alvo de ataques militares em circunstncia alguma. Mas o governo de Cuba disse ontem que necessrio definir bem o que um avio civil, pois com avies supostamente civis procedentes dos Estados Unidos se cometeram muitos crimes contra nosso pas. Em entrevista ontem noite, Robaina disse que Cuba j obteve o apoio do Movimento dos No-Alinhados - formado por 110 pases - para convocar a Assemblia Geral onde Cuba expor suas posies. O chanceler cubano tambm afirmou que os EUA sero responsabilizados por quaisquer novas provocao e violaes do espao areo cubano. | A derrubada de dois avies civis que saram de Miami e invadiram o territrio cubano levou o Conselho de Segurana da ONU a exigir explicaes do governo de Fidel. O governo cubano pediu que o Conselho se democratizasse e no fosse porta-voz somente das potncias nucleares, fundamentalmente dos Estados Unidos. Por infelicidade de Cuba, naquele momento o Conselho estava sendo presidido pela americana Madeleine Albright. . Mesmo assim , ela no conseguiu extrair uma condenao de Cuba. O embaixador cubano procurou negociar suas razes na Assemblia Geral e no no Conselho. Insistiu na tese do direito do seu pas em defender o seu espao areo. Diante do argumento de que a Conveno de Chicago probe qualquer ataque militar a avies civis, Cuba contraps dizendo que necessrio distinguir avio civil de avio supostamente civil. E acrescentou que vrias outras incurses tinham sido feitas por elementos anticastristas provindos de Miami. O chanceler cubano tambm que os EUA seriam responsabilizados por novas violaes. |
td94fe27-02 | Informao por telefone tem bom mercado Com investimento inicial de US$ 20 mil em equipamentos, empresa pode comear operao no sistema 900 NELSON ROCCO Nova alternativa de negcio em So Paulo, a primeira empresa comeou em 91, o servio de teleinformaes pelo sistema 900 tem feito muito sucesso junto ao pblico. Alguns operadores afirmam receber mais de 100 mil ligaes por ms. H uma srie de tipos de servios em funcionamento (veja quadro ao lado), mas existem muitos setores inexplorados. Ivan Humberto Carrato, 38, dono da WCR do Brasil, empresa com 25 tipos de servios de teleinformaes, afirma que no incio, o sistema 900 ficou muito ligado ao sexo, mas agora as caractersticas esto mudando para a utilidade pblica. Uma alternativa para quem no trabalha com informaes, segundo ele, contrat-las de terceiros. Carrato diz que em abril ter novos servios, como condies de trnsito, meteorologia e cotao de preos de bens durveis. Para comear no sistema, preciso elaborar um projeto e encaminhar companhia telefnica do Estado onde est sediada a empresa. Aprovada a proposta, o interessado ter que ficar em uma fila de espera. Em So Paulo, segundo a Telesp (Telecomunicaes de So Paulo), h 160 propostas aguardando para entrar em operao. As linhas so alugadas pela companhia telefnica, que oferece uma central onde feita a triagem das ligaes e a transferncia para o prestador solicitado. O preo de cada ligao determinado pelo prprio empresrio e a companhia fica com um percentual. Segundo Tomas Burguete Santos, 30, dono da Surf Information, que oferece o servio Disque Surfe, a Telesp cobra 25% sobre o valor das ligaes. A cobrana feita pela companhia na conta telefnica de quem liga para o servio de informaes. As mensagens podem ser gravadas no disco rgido do computador ou transmitidas por um funcionrio. As gravaes podem ser feitas em um aparelho de som simples ou em um pequeno estdio. Neste caso, o prprio empresrio pode ser o operador. Se no tiver boa voz, melhor contratar um locutor. As mensagens ficam 24 horas no ar e so trocadas todo dia. Na Surf Information, o sistema operado por Santos, mas ele conta com 12 reprteres espalhados pelo litoral de So Paulo, que transmitem informaes sobre o clima, condies do mar para surf e outros esportes nuticos, e tambm das estradas. Ele diz que o faturamento da empresa est em US$ 8 mil mensais. necessrio ter no mnimo um computador tipo PC 386 ou 486, com placas de memria especficas para o sistema de audiotexto, o que permite a ligao de at 30 linhas. Com capital entre US$ 20 mil e US$ 25 mil d para comprar os equipamentos. Mrio Merson, 47, dono da Zeos Tec, alm de operar no ramo, fornece equipamentos e softwares para os concorrentes. Ele tem dez servios em funcionamento, como o Disque Tempo, que recebe mais de 100 mil ligaes por ms. A empresa pretende ampliar a atuao no sistema 900, com mais 36 opes at o final do semestre, incluindo informaes do mercado imobilirio e de material de construo. Segundo ele, preciso receber no mnimo 60 mil ligaes por ms para o negcio se tornar rentvel. Para divulgar o servio, deve-se investir em publicidade em rdio, TV e anncios classificados em jornais e revistas, dependendo do segmento de atuao. | Informao por telefone tem bom mercado Com investimento inicial de US$ 20 mil em equipamentos, empresa pode comear operao no sistema 900 NELSON ROCCO O servio de teleinformaes pelo sistema 900 tem sido uma alternativa de negcio bem sucedida junto ao pblico. Ivan Humberto Carrato, dono da WCR do Brasil, afirma que no incio predominava o interesse por sexo, mas os assuntos de utilidade pblica vm atraindo mais. Diz que em abril no leque de servios desponta: trnsito, meteorologia e cotao de preos de bens durveis. Para ingressar no sistema, preciso encaminhar um projeto companhia telefnica do Estado em que est sediada a empresa. As linhas so alugadas pela companhia telefnica , que dispor de uma central de triagem das ligaes e da transferncia para o prestador. O preo da ligao determinado pelo empresrio, e a companhia fica com um percentual. As mensagens , ou ficam gravadas no disco rgido, ou so transmitidas por um funcionrio. Exige-se , pelo menos , um computador PC386 ou 486 , com placas especficas para audiotexto. No total , os equipamentos custam entre US$ 20 mil a US$25 mil . Mrio Merson, dono da Zeos Tec, informa que , para o negcio ser rentvel, preciso receber pelo menos 60 mil ligaes por ms |
di94ma15-05 | O enigma da inflao em URV GUSTAVO H. B. FRANCO Conta-se que no Alasca existem mais de 50 palavras diferentes para designar neve. A profuso da lngua reflete neste, como em outros casos, a riqueza da experincia cotidiana. No Brasil, da mesma forma, no so poucas as maneiras de se expressar um aumento generalizado nos preos. As pginas econmicas dos jornais trazem, regularmente, uma vasta coleo de misteriosas siglas, seno vejamos: IGP e IPA, ambos da FGV-RJ (cada qual nas suas verses DI e OG; bem como M, com seus respectivos decndios, e 10). H tambm o IPC-Fipe e o IPC-Ipead-BH, o INPC (RJ e SP) e o IPCA (RJ e SP), ambos do IBGE, todos apresentando variaes quadrissemanais, e ainda o INCC-FGV, o CUB, o IPC-FGV-Brasil, o INPC-Brasil e o IPCA-Brasil (tambm encontrados na verso E), o IRSM e o IPC-Dieese. Existem muitos outros, de cobertura regional ou setorial, e tambm diversas unidades fiscais estaduais e municipais. Ainda que se possa justificar esta sopa de letras pelo fato de que cada qual apurado de acordo com metodologia prpria, procurando enfocar diferentes ngulos do fenmeno inflacionrio, inevitvel o desespero do cidado comum que, ao observar este verdadeiro lxico em javans e, em especial, as discrepncias entre os resultados, no pode deixar de pensar que a vida poderia ser mais simples e que estamos, talvez, desperdiando energia demais na coexistncia com a inflao. Todavia, no chega a ser surpreendente este interesse deformado pelos ndices de preos e sua hermtica tecnologia. Advinhar a inflao mais que simplesmente um frvolo esporte nacional: boa parte das aplicaes financeiras feita a partir de taxas nominais de juros e, portanto, o incentivo a acertar a inflao se torna monumental. No por outro motivo que, hoje em dia, pelo menos 30 instituies financeiras e pelo menos uma dzia de consultores privados montaram gigantescos departamentos de acompanhamento de ndices de preos, pagando fortunas pelos servios de especialistas de primeira linha, muitos com passagem pelo governo ou pelos prprios institutos de pesquisa e contando com extraordinrios recursos informticos. Muitos desses produzem ndices de preos em bases dirias, cobrindo diversas capitais, conseguindo antecipar, por vezes com incrvel preciso, o comportamento dos principais ndices e tambm, com frequncia, logrando identificar erros dos prprios institutos. As reputaes assim construdas so de tal ordem que as previses de alguns alteram substancialmente as expectativas e os negcios nos mercados financeiros. Enfim, trata-se de uma verdadeira indstria, essa da previso de inflao, da qual muitos derivam o seu sustento e outros tantos notvel prosperidade. Certamente, no por acidente ou idiossincrasia, vrios desses revelam evidente preocupao com o fim da inflao. Muitos no sabem fazer outra coisa e, secreta ou mesmo abertamente, torcem para as coisas darem errado. A criao da URV, primeira vista, seria apenas um a mais desses verbetes. Mas a realidade foi bem outra. A URV veio para simplificar uma das atividades mais conspcuas da vida desse pas: a utilizao de um indexador. Conceitualmente, foi definida como uma moeda de conta predominantemente contratual, com o objetivo adicional de permitir uma transio suave para nveis reduzidos de inflao, desintoxicando o organismo econmico dos vcios da inflao. Tal como a herona passa a compor o equilbrio orgnico de um dependente, a inflao penetra nas relaes econmicas, desfigurando preos e relaes contratuais, transferindo riqueza, de tal sorte que a sbita privao da droga provoca privaes de natureza imprevisvel. No h dvida que viciados em estgio avanado precisam de um tratamento cuidadoso a gradualizado. Para isso, a URV. Misteriosa ou no, A URV pegou. A credibilidade da URV incontestvel, bem como a percepo de que se trata de um estgio transicional para nos trazer de volta a uma realidade econmica h muito perdida. Sua adoo no ocorreu por voluntarismo ou pela disposio patritica de alguns. Os agentes econmicos a utilizam porque de seu prprio interesse, este sendo, possivelmente, um dos grandes segredos deste programa: oferecer sociedade, no mbito do esforo de estabilizao, mecanismos consistentes com os incentivos econmicos naturais em uma economia de mercado. Naturalmente, a partir da introduo da URV como moeda de conta surgiu, de imediato, a questo da inflao em URV. Que quer dizer isso? Tendo em vista que a URV evolui aproximadamente de acordo com uma mdia de trs ndices de inflao, no seria uma redundncia a inflao em URV? Ter significado econmico? Ser uma prvia da inflao em real? Vrios equvocos tm sido cometidos ao se tentar, precipitadamente, entender todas as nuances dessa matria. Certamente, no se deve dizer, de um preo estabelecido em cruzeiros reais, que, no momento de um aumento efetuado, digamos, quinzenalmente, houve aumento em URV. Este mesmo preo, convertido em URV dia-a-dia, mostra os j populares picos e vales ao longo do ciclo de reajuste. Pode haver mesmo deflao em URV, em se comparando preos mdios com URVs mdias. Os iniciados sabem que os resultados dos ndices considerados para a fixao da URV produzem, conjuntamente, um indicador que poderia, com certa liberalidade, ser interpretado como a mdia da variao dos preos em 30 dias, centrados no dia 4 de cada ms. Assim sendo, comparando-se a evoluo mdia dos preos no perodo atual com a variao mensal projetada pelos valores da URV, obtm-se percentuais diferentes, dos quais resulta a inflao em URV. Face metodologia empregada, a inflao em URV est correlacionada com a acelerao dos preos em cruzeiros reais. Essa correlao s seria evitada se, mediante bola de cristal, os tcnicos que definem a URV soubessem exatamente a inflao no perodo presente. tentadora, no obstante, a interpretao de que a inflao em URV reflete o que h por sobre a chamada inrcia inflacionria. Seria um indicador das verdadeiras presses latentes sobre os preos e, portanto, um indicador da inflao em real, caso fossem eliminadas as presses fiscais potenciais que emergem quando a inflao cai para nveis baixos e os mecanismos de represso fiscal, to amplamente utilizados no passado, se tornam ineficazes. razovel imaginar que a inflao em URV deve, em alguma medida, expressar coisas desse tipo, mas no se deve perder de vista que os fatores estatsticos anteriormente aludidos so de grande importncia. Os nmeros para a inflao em URV desde janeiro de 1993, reproduzidos na tabela, foram calculados pelos prprios institutos de pesquisa, mediante solicitao do Banco Central. A partir do ms de abril, esses ndices sero publicados regularmente pelos respectivos institutos e devero servir para que a sociedade se oriente durante a transio que nos levar ao real. Os nmeros no so surpreendentes. A mdia mensal da inflao em URV nos ltimos 12 meses esteve entre 0,51% e 1,50%, ou seja, entre 6,3% e 19,5% em bases anuais. Nada mal se chegarmos a isto depois de 1 de julho. evidente, contudo, que, em julho, com a chegada do real, altera-se substancialmente o comportamento dos preos na nova moeda. No sero mais to importantes as vicissitudes estatsticas na determinao da inflao em real, se medida de modo a que as bases de comparao sejam compostas de preos em URV. Os determinantes da inflao estaro ligados aos verdadeiros fundamentos do programa de estabilizao, aos quais o governo atribuiu enorme nfase desde o comeo: o equilbrio fiscal e a solidez das instituies e da poltica monetria. A inflao ir experimentar uma queda extraordinria e, nunca demais relembrar, sem choques, confiscos, congelamentos, tabelamentos e tablitas, mas atravs de um processo transparente de adaptao, mobilizando a sociedade atravs de um debate aberto e democrtico acerca dos caminhos a seguir. GUSTAVO H. B. FRANCO, 36, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil. Foi secretrio-adjunto de Poltica Econmica do Ministrio da Fazenda (governo Itamar Franco). | O enigma da inflao em URV GUSTAVO H.B. FRANCO No Alasca consta haver 50 palavras para designar neve , o que demonstra a relao entre as particularidades da realidade e a expresso lingstica. No Brasil , o mesmo se d em relao maneira de indicar aumento generalizado de preos. Vejamos: IGP , IPA , IPC-Fipe, IPC-Ipead-BH, INPC (RJ e SP) IPCA (RJ e SP) e outras siglas. Ainda que essa multiplicidade de designaes se justifiquem pela variao de metodologias, o desespero do cidado no iniciado o leva a pensar que a vida poderia ser mais simples. Na verdade, imaginar a inflao no um esporte inconseqente: muitas aplicaes financeiras so feitas a partir de taxas nominais de juros , o que torna desmedido o esforo para acertar a inflao. No outra a razo de haver , hoje, por volta de 30 instituies financeiras acompanhando o ndice de preos e cobrando fortunas por isso. Muitas o fazem diariamente, at com razovel preciso, chegando a corrigir os erros dos institutos. Muitas instituies at se preocupam com o fim da inflao , fonte do seu ganha-po. A URV , primeira vista, seria apenas mais uma sigla. No entanto, ela veio para simplificar a utilizao de um indexador, como uma moeda predominantemente de contratos , tambm com o objetivo de temperar a passagem para reduzir a inflao. O papel da URV assemelha-se ao da droga para o viciado. Com uma inflao elevada , ela constitui um amenizador. O fato pegou. Os agentes econmicos a utilizam porque do seu interesse: oferecer sociedade , na busca de estabilizao, mecanismos consistentes com os incentivos econmicos naturais em um economia de mercado. O que significa calcular inflao em URV? Vrios enganos tm sido cometidos , ao se percorrer os meandros da questo. Os iniciados sabem que os ndices considerados para a fixao da URV levam a um indicador , grosso modo, equivalente mdia de variao dos preos em 30 dias. Diante da metodologia empregada, a inflao em URV se correlaciona com a acelerao dos preos, o que seria evitado se os tcnicos identificassem a inflao no presente. convidativa, porm, a interpretao de que a inflao em URV retrata o que h por cima da inrcia inflacionria . Seria um indicador das verdadeiras presses subjacentes sobre os preos e, por isso, um indicador da inflao em real. Os nmeros para a inflao em URV desde janeiro de 1993 foram calculados pelos prprios institutos de pesquisa. A partir de abril, sero publicados regularmente para a orientao da sociedade durante a transio. Os nmeros no causam surpresa. A mdia mensal dos ltimos 12 meses variou entre 0,51% e 1,50%, ou seja, entre 6,3% e 19,5% em bases anuais. evidente, no entanto, a alterao substancial dos preos com a chegada do real. A inflao sofrer uma grande queda e sem choques, confiscos, congelamentos, tabelamentos, etc. |
mu94ab09-a | Em maio do ano passado, assistentes sociais de Monticello, Kentucky (EUA), descobriram que o garotinho Daniel Reynolds apresentava hematomas. Em junho os mdicos disseram que a perna direita do garoto, que estava quebrada, parecia ter sido torcida at quebrar. Daniel foi colocado sob os cuidados de uma famlia adotiva temporria. Em agosto, com o consentimento dos assistentes sociais, Daniel voltou a viver com a me. E no incio de dezembro, segundo a polcia e os promotores, Daniel morreu de um soco na cabea. Quando voc v uma coisa como essas, fica doente, diz o promotor Robert Bertram, que acusou o padrasto pelo assassinato e a me e quatro assistentes sociais por cumplicidade na morte do menino de 22 meses de idade. Os casos de abuso e maus-tratos de crianas continuam a chegar com persistncia desalentadora -cerca de 3 milhes de casos em 1993, segundo um relatrio entregue do Comit Nacional de Preveno do Abuso Infantil (NCPCA). O relatrio inclui os casos de 1.300 crianas que sofreram maus-tratos e negligncia que levaram morte. Algumas dessas mortes poderiam ter sido impedidas. De cada dez crianas que morreram, pelo menos quatro eram conhecidas dos funcionrios dos servios de proteo infantil. Muitas delas, como Daniel, foram retiradas de suas casas, mas depois enviadas de volta. A crise americana de abuso infantil cresce quando as crianas nascem no mesmo ambiente de pobreza, dependncia de drogas e abuso em que seus pais foram criados. Ela cresce quando organizaes com financiamento insuficiente enviam assistentes sociais com carga excessiva de trabalho a lares infelizes e pobres, para salvar famlias. este ciclo de maus-tratos e falta de cuidados -os 33% dos relatrios que citam reincidentes que j maltrataram crianas outras vezes- que suscitam o maior ultraje e indignao. Se eu estuprar ou espancar a criana do vizinho, no so assistentes sociais que cuidam de meu caso - a polcia, diz Patrick Murphy, cujo escritrio de guardio pblico do condado de Cook (Illinois) representa crianas que sofreram maus-tratos. Mas, se eu estuprar minha prpria filha ou espancar meu prprio filho, os assistentes sociais viro conversar comigo sobre como cumpro meu papel de pai ou como minha me cuidou de mim. E as estatsticas mais recentes sobre abuso de crianas talvez reflitam apenas 50% dos casos que realmente acontecem, diz Philip McClain, dos Centros para o Controle de Enfermidades. um problema gravssimo. Problemas insolveis Desde que um estudo feito em 1962 identificou pela primeira vez a Sndrome da Criana Espancada, o plano de combate ao abuso infantil foi modificado repetidas vezes. No final dos anos 70 a assistente social tirava a criana do lar em que era maltratada, diz David Mitchell, juiz da Corte Juvenil de Baltimore, por onde passam centenas de casos de abuso todos os anos. Nos anos 80 chegaram os advogados e os grupos de defesa, contestando aquela posio. Nos anos 90, diz ele, passamos a adotar o 'modelo dos direitos dos pais', priorizando sempre que possvel a opo de deixar as crianas com seus pais. Mas, segundo Mitchell, essa tica est mudando, medida que se torna mais claro que alguns pais talvez representem problemas insolveis. Quer se trate de abuso fsico, sexual, emocional ou falta de cuidados, muitos casos de destaque assombram a memria do pblico. As 19 crianas de Chicago encontradas num apartamento srdido. As meninas da famlia Schoo, cujos pais as deixaram sozinhas em casa enquanto tiravam frias no Mxico. Lisa Steinberg, de Nova York, espancada por seu pai adotivo at morrer, aos seis anos de idade, de danos cerebrais. por isso que o pblico se sente revoltado, diz Joy Byers, do NCPCA. A verdade que ele parece ver as mesmas histrias se repetindo sempre. | Os casos de abusos e maus-tratos contra crianas nos Estados Unidos espantam pela quantidade e qualidade. Cerca de 3 milhes em 1993, segundo um relatrio entre ao Comit Nacional de Preveno do Abuso Infantil. Em maio do ano passado, em Kentucky , assistentes sociais descobriram hematomas num garotinho. Em junho, mdicos notaram que ele estava com a perna quebrada e que parecia ter sido torcida at quebrar. Em dezembro , segundo a polcia e promotores , ele morreu de um soco na cabea. Muitos casos poderiam ter sido evitados. Muitos foram tiradas dos pais, mas depois devolvidas. O ambiente de pobreza , de dependncia de drogas e de abusos dos prprios pais potencializa as ocorrncias .Tambm organizaes com financiamento insuficiente mantm funcionrios com excesso de trabalho , e o resultado previsvel. Estatsticas mais recentes sobre abuso infantil talvez no reflitam nem 50% dos casos. Desde um estudo de 1962, quando se identificou a Sndrome da Criana Espancada, os critrios de combate a abusos se modificaram vrias vezes. De incio, retirava-se a criana da famlia; depois , advogados e grupos de defesa contestaram; em seguida, passou-se a defender o direito dos pais , sempre que possvel. Enquanto isso, o pblico continua a assistir a casos escabrosos e se revoltar . |
di94ju19-08 | Lies de Cartagena JORGE CASTAEDA Cartagena das ndias foi um lugar apropriado para a realizao da 4 Cpula dos Chefes de Estado e de Governo Ibero-americanos, encerrada na ltima quinta-feira, dia 16. Seu simbolismo resplandece na cidade amuralhada, jia da colnia, nos hotis modernos de origem financeira duvidosa, no mar do Caribe, povoado de navios repletos de turistas de meia-idade e do meio-oeste americano. No outro lado do morro, a outra cidade: negra, pobre, intransitvel noite ou debaixo de chuva. Os presidentes perceberam sem dvida que nada na Amrica Latina est isento de contradies, que tudo que vive e se move no continente est possudo como Sierva Maria, a jovem de Cartagena apaixonada e exorcizada do ltimo romance de Garcia Marquez por mltiplos demnios: os da imaginao e os da prpria realidade. Presa entre a democracia e a desigualdade, entre a abertura econmica e a necessidade de industrializar-se, a Amrica Latina vive momentos de grande alento e de conscincia cada vez mais aguda da gravidade de seus problemas. Primeiro, o lado bom. A democracia representativa deita razes na Amrica Latina. Nada eterno nem seguro. J surgiram conjunturas anlogas que demoraram pouco para desvanecer-se, mas no se pode negar as evidncias. Com as excees lamentveis e diferentes entre si do Haiti, de Cuba e do Mxico, a Amrica Latina hoje desfruta o encontro mais longo que j teve na histria com a democracia representativa. Em todo o hemisfrio prevalece a liberdade de imprensa, de manifestao e de organizao. A sociedade civil floresce, os Estados se vem obrigados a prestar contas e a internacionalizao em temas to diversos quando o meio ambiente e os direitos humanos refora vigorosos processos internos de mobilizao cidad. Grande novidade: pela primeira vez governantes corruptos so legal e institucionalmente tirados do poder. Um deles vai priso, outro perde o cargo e talvez sua fortuna. Muitos assistem com assombro e nervosismo. Existe tambm outro motivo de satisfao, menos exaltante porm igualmente crucial. Trata-se, evidentemente, do fim do perodo de ajuste econmico e do reatamento dos fluxos de capital para a Amrica Latina. O ajuste foi, sem dvida, pavoroso. Fez-se pelo lado dos gastos, no das receitas, em recesso e no em crescimento, exportando capitais via a fuga destes e via juros da dvida externa, em lugar de ser realizado captando-se dinheiro poupado vindo do exterior. Os estragos so visveis: mais de dez anos de estagnao, redues impiedosas dos gastos sociais, infra-estrutura desintegrada. Os nmeros falam por si: com exceo do Chile, da Colmbia, do Uruguai e da Costa Rica, a renda per cpita hoje, em dlares constantes, inferior ou igual de 1980 em todos os outros pases. Mas o pior j passou. Na maioria dos casos, a inflao foi controlada. As finanas pblicas foram saneadas. Em alguns pases, a dvida externa diminuiu, inclusive em termos reais, e em duas naes a reconverso microeconmica foi levada a cabo com sucesso. Graas em parte ao ajuste consumado, em parte aos menores rendimentos reportados pelas inverses nos pases industrializados, a regio voltou a receber recursos do exterior. J era tempo: ningum entendia como naes em via de desenvolvimento poderiam crescer sem dinheiro alheio. Agora h financiamento abundante e barato. O uso que dele for feito outro problema, mas pela primeira vez em 15 anos a Amrica Latina est importando capital. Se h inquestionveis pontos positivos, as coisas comeam a se complicar. O capital chega, o ajuste se consolidou, mas bem ou mal o crescimento no vem (Mxico, Bolvia, Venezuela, Amrica Central), ou vem com uma desigualdade crescente e intolervel (Brasil, Argentina, Colmbia, Chile). Pior ainda, uma das condies do ajuste a liberalizao comercial se transforma numa dificuldade aparente para a etapa seguinte: o crescimento. A ausncia deste ltimo, ou suas prprias caractersticas, acentua a desigualdade lacerante do continente, que por sua vez solapa a viabilidade destas precrias democracias. A abertura das fronteiras e a imposio das leis das vantagens comparativas surtiram alguns efeitos indubitavelmente benficos. Um teto foi imposto inflao: os preos dos bens e servios produzidos localmente no podem ultrapassar os preos dos bens e servios procedentes do exterior. Algumas empresas, incentivadas pela concorrncia estrangeira e beneficiadas por insumos mais competitivos, conquistaram novos mercados (embora o pas que menos liberalizou seu comrcio exterior, o Brasil, o que realizou o ajuste microeconmico mais bem-sucedido). E o imposto regressivo que era o protecionismo se abateu. Mas a moeda tem seu reverso. A regio est se desindustrializando, centenas de milhares de latino-americanos se no forem milhes perdem seus empregos, e o hemisfrio continua procurando, sem encontrar, os nichos nos quais seus recursos e fatores lhe permitam ser competitivo. Ningum com olhos abertos e conscincia tranquila pode manter-se indiferente diante do sentido da citada busca, aparentemente infrutfera, com o inegvel boom do narcotrfico em quase todos os pases ao sul do rio Bravo. A regio se aventurou na destruio de boa parte de suas atividades produtivas anteriores sem dvida protegidas e ineficientes sem saber quanto tempo levaria para encontrar novos nichos, nem quais estes seriam. No existe nada de graa no mundo. A abertura dos mercados de consumo de classe mdia na Amrica Latina onda de produtos provenientes dos Estados Unidos encerra suas prprias contradies. Alguns dos que antes trabalhavam ou investiam na indstria ou na agricultura ento protegidas agora investem ou trabalham em empresas concorrentes. Outros integram os diversos cartis do narcotrfico (Cali, Ciudad Jurez) ou foram trabalhar em... Los Angeles. Se as exportaes latino-americanas no crescerem de forma durvel num ritmo elevado e se a poupana interna no aumentar, as economias latino-americanas no crescero. Se no crescerem, ser impossvel reduzir a abismal desigualdade latino-americana, embora o crescimento no constitua condio suficiente para isso. Mas sem comear a reduzir a injustia ancestral vigente em pases como o Brasil, o Mxico e o Peru e, mais recentemente, na Venezuela, Argentina e no Chile, as democracias no iro sobreviver. No se deve confundir lua de mel com estabilidade conjugal. A sada da ditadura (no Chile ou no Uruguai), o triunfo sobre a hiperinflao (na Argentina ou no Peru), ou a luta contra a corrupo e o vigor da sociedade civil (Brasil e Venezuela) no so eternos antdotos contra a desigualdade. A democracia representativa no vivel quando o fosso que separa maioria pobre e minoria rica aumenta a cada dia. Todos os setores marginalizados, cujas aspiraes foram postergadas por tempo indefinido, aproveitam a liberdade que a democracia lhes proporciona para expressar suas exigncias. Aceitam uma demora limitada, devido necessidade de salvaguardar essa democracia incipiente, ou diante do imperativo de derrotar a hiperinflao, mas no aceitam esperar para sempre. A combinao explosiva: uma pobreza enorme, o sufrgio universal e a ausncia de perspectivas (o efeito tnel de Albert O. Hirschman) desembocam sempre na violncia e na instabilidade. J proliferam os indcios destes fenmenos: a revolta indgena em Chiapas, o ressurgimento do movimento operrio e dos professores no Chile, a revolta em Santiago del Estero, na Argentina, no final do ano passado, e as duras greves dos trabalhadores na indstria eletrnica na Terra do Fogo. Nenhum destes brotos de agitao social constituem ato alarmante por si s. No obstante, refletem processos de fundo que recorrem na regio inteira. Assim, os chefes de governo e de Estado tm motivos para reflexo. Seus pases e seus povos no vivem tranquilos; seus governantes, por isso, no podem dormir sossegados. Os demnios que perambulam pelas vielas antigas da velha cidade colonial no habitam apenas as maravilhosas pginas do filho prdigo do litoral colombiano. Perturbam o sono e se apossam das almas de milhes de latino-americanos, que ainda no encontraram o exorcista capaz de acabar com nossos males, antes que eles acabem conosco. JORGE CASTAEDA, 39, socilogo e economista mexicano, professor visitante da Universidade de Princeton (EUA) e catedrtico da Universidade Autnoma do Mxico (Unam). Traduo de Clara Allain | Lies de Cartagena JORGE CASTAEDA Cartagena das ndias foi o lugar adequado para a realizao da 4 Cpula dos Chefes de Estado e de Governo Ibero-americanos. Cidade amuralhada, preciosidade colonial, com hotis modernos construdos com dinheiro duvidoso, navios repletos de turistas. Em contraposio, a outra cidade negra, pobre , intransitvel noite ou sob chuva. Para os presidentes era o carto-postal das contradies da Amrica Latina, que vive entre a democracia e a desigualdade, entre a abertura econmica e o anseio de industrializar-se e, portanto , entre o entusiasmo e a conscincia de seus graves problemas . O lado bom o florescimento da democracia , cujas evidncias, embora no eternas, no podem ser negadas. Com as excees do Haiti, Cuba e do Mxico sob formas diferentes, vive seu mais longo perodo de representao democrtica. Em todo o hemisfrio , prevalece a imprensa livre e o direito de manifestao e de organizao. Os Estados so obrigados a prestar contas , e a internacionalizao em temas como meio ambiente, direitos humanos substanciam processos de cidadania. E ainda uma novidade: j ocorre a cassao de governantes corruptos , por meios legais. Tambm se concretizam o ajuste econmico e a entrada de capital na Amrica Latina. fato que o ajuste foi horroroso: deu-se com gastos e no com receitas , nem crescimento, mas com a fuga de capitais e de pagamento de juros . O interregno de mais de dez anos deixou fortes estragos na produo , no investimento social e na infra-estrutura. Mas o pior j passou. Controlou-se a inflao e sanearam-se as finanas pblicas. O retorno de capital externo satisfez o estranhamento dos que achavam impossvel o desenvolvimento sem dinheiro de fora. O crescimento, porm, no veio na mesma onda ( por exemplo, no Mxico, Bolvia, Venezuela, Amrica Central) , ou veio acompanhado de desigualdade crescente ( no Brasil, Argentina, Colmbia, Chile). A abertura de mercados e a imposio das leis de vantagens comparativas trouxeram alguns efeitos , mas com a inconvenincia da desindustrializao e do desemprego. A abertura dos mercados incentiva a onda de consumo de produtos norte-americanos , esfriando nosso processo produtivo. E , se no houver um crescimento durvel e crescente , e se a poupana interna no aumentar, impossvel reduzir o fosso social no hemisfrio; garantir a solidez das nossas democracias. A combinao de uma pobreza enorme, do sufrgio universal e da ausncia de perspectivas s pode desencadear violncia e instabilidade. A permanecer esse quadro, os chefes de governo tm muito com que preocupar-se. Se seus povos no esto satisfeitos, eles no podem dormir tranqilos. |
br94mr20-44 | Preos sobem sob controle de oligoplios Eles esto em todos os setores da economia e tm poder para garantir aumentos reais acima da inflao MARISTELA MAFEI Da Reportagem Local Jorge Benjor j disse que canja de galinha no faz mal a ningum. Mas o caldo, com certeza, faz. O preo do produto ficou 34,67% acima da variao do dlar comercial no ano passado. O que fez o caldo de galinha, junto com o leite, maionese e leo de soja, estar bem acima da inflao medida pela Fipe (Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas) em 93? E ainda o sorvete, margarina, presunto e salame; cigarro, cerveja e refrigerante; sabonete, creme dental e sabo em p? Antes que se arrisque uma resposta, um alerta: eles tm algo em comum. Todos pertencem a setores onde um nmero reduzido de fabricantes domina percentual que varia de 48% a 98% do mercado, e vendem seus produtos para uma infinidade de compradores. So conhecidos, por isso, pelo nome de oligoplios, e atingem todos os segmentos da economia. Da lista dos oligoplios com reajustes elevados consta tambm os fabricantes de antiinfecciosos, analgsicos e medicamentos para o sistema cardiovascular; fsforos e lmpadas; automveis e latas de alumnio; ao e vidro plano. Extensa, trata-se de uma lista desconhecida. Os que deveriam t-la em mos, como o secretrio especial de Poltica de Preos, Jos Milton Dallari, e o superintende da Sunab, Celsius Lodder, desconversam quando a imprensa a solicita. No o caso divulg-la, isso no contribuiria para nada, diz Lodder. As empresas citadas poderiam alegar constrangimento ilegal e entrar com ao na Justia, afirma Dallari. O fato de um nmero reduzido de empresas dominar o mercado de um determinado produto no significa necessariamente que elas combinam entre si patamar de preo abusivo. Quando isso acontece, o oligoplio torna-se cartel. Como muito mais fcil combinar e impor preos quando so poucos os que dominam o mercado, geralmente essa prtica a-tica acaba se concentrando nos oligoplios. Eles conseguem sustentar preos para seus produtos mesmo em pocas de recesso, atravs do controle da oferta. No caso da lista da Fipe, por exemplo, o item alimentos industrializados, no conjunto, apresentou queda de preos de 2,32% em 93. As baixas mais expressivas foram nos setores onde as participaes de mercado de cada fornecedor no chega a 10%, como o caso do macarro e do fub. Galinha e presunto No caso do caldo de galinha, 92% do fornecimento do produto feito pela Nestl (linha Maggi) e Refinaes de Milho Brasil RMB, (linha Knorr). Os supermercados dizem que funciona assim: em um determinado ms a RMB solta a tabela primeiro, e na sequncia vem a Nestl, com percentual pouco abaixo. No ms seguinte, a ordem se inverte. Essa uma prtica comum. Acontece muito de o segundo ou terceiro maior fabricante esperar o lder soltar a tabela. A partir daquele patamar, os outros vm na sequncia. um sinal para o mercado que aquele patamar de preo foi aceito, conseguiu pegar, diz um executivo de um oligoplio que pediu para no ser identificado. Pelo mesmo critrio da Fipe, o presunto subiu outros 24,27% reais em 93. Seu primo-irmo salame foi ainda mais longe: alta de 36,74%. Juntas, Sadia e Perdigo respondem pelo abastecimento de 68% da produo de presunto e 51% pela de salame. Leite e leo de soja No setor leiteiro, tm-se um oligoplio irmo-gmeo de um oligopsnio. A industrializao do leite pausterizado era relativamente pulverizada at o incio da dcada de 90. Com a entrada agressiva da multinacional italiana Parmalat no mercado, e a fuso das empresas Leco, Vigor e Flor da Nata em uma s (grupo Mansur), perto de 85% do abastecimento do produto na Grande So Paulo ficou, quatro anos depois, em mos de trs empresas. Alm das duas j citadas, domina o sistema a Cooperativa Central de Laticnio (Paulista). So Paulo ficou, assim, com um oligoplio no setor de abastecimento. Na ponta da captao do produto, tambm houve concentrao de empresas que dominam o mercado. A nvel de Brasil, formou-se um oligopsnico, com poucos compradores para uma matria-prima de mltiplos produtores. Atualmente, Nestl, Parmalat, Paulista, Itamb e Mansur compram 15 milhes do total de 20 milhes de litros de leite captados diariamente pelos laticnios. Pela Fipe, o preo do leite tipo C subiu 20,13% em termos reais em 93. O setor alega que est recuperando margens depois de 45 anos de tabelamento. O leo de soja outro exemplo de oligopolizao recente. Hoje os grupos Ceval (Soya), Cargill (Liza) e Sadia controlam 48% do abastecimento interno, com preos que subiram, acima da inflao, 18% no ano passado. Cerveja e refrigerantes exceo da Pepsi-Cola, que no atua no setor de bebidas alclicas, os fabricantes de cerveja e refrigerantes no Brasil formam basicamente o mesmo grupo. Juntas, Brahma, Antarctica e Kaiser (onde a Coca-Cola detm parte do controle acionrio) respondem por 94% do fornecimento de cerveja e 77,5% do de refrigerante (trocando-se Kaiser por Coca). Em 93, houve alta real de 1,7% nos preos da cerveja e 16,01% nos de refrigerantes. Mesmo perdendo mercado para marcas menores, os lderes sustentaram preos. O setor de cerveja esteve em meio a uma polmica que apontou suspeita de concorrncia desleal, de um lado, e indcios de unio dos lderes de mercado para derrubar marcas menores, de outro. A Schincariol, marca que conquistou 4,9% do mercado antes dividido pela Brahma e pela Antarctica, foi alvo de vrias denncias junto Secretaria da Fazenda do Estado de So Paulo por prtica de sonegao do ICMS. Blitz da Coordenadoria de Assistncia Tcnica (CAT) na sede da empresa em Itu (SP) no encontrou irregularidades, segundo informou o governo estadual. A Folha apurou, na ocasio, que a denncia havia surgido por presses da Brahma e da Antarctica que no quiseram se pronunciar sobre o assunto. Creme dental A Anakol, dona da Kolynos, a Colgate-Palmolive, da marca Colgate, e a Gessy Lever, com o Signal e a Aim, respondem por 100% da pasta de dente consumida no pas. O preo real do produto subiu 2,15%. J a margarina, um mercado abastecido em 80% pela Gessy Lever, Sanbra, Sadia e Ceval, teve acrscimo real de 7,30%. Sabo em p O setor tem um nome expressivo: Gessy Lever, dona de 74% do mercado de sabo em p e de 62% dos sabonetes. O sabo em p subiu 3,36% acima do dlar e, segundo a Lever, ainda assim custa menos aqui do que na Europa. A alta do sabonete foi na mesma faixa: 3,72%. Cigarros e sorvetes Juntas, Souza Cruz e Phillips Morris respondem por 98% da produo de cigarros no pas. Tabelas com os novos reajustes chegam quinzenalmente ao varejo, em dias e percentuais prximos. Na ltima quinta-feira, ambas anunciaram reduo de prazo no recebimento de suas faturas ao comrcio, como modo de compensar reduo de prazo para pagamento de impostos. Pelo estudo da Fipe, o produto ficou 8,46% acima da variao do dlar comercial em 93. O sorvete outro exemplo de expressiva concentrao de fornecedores. A Kibon, marca da Phillip Morris, e a Gelato/Yopa, da Nestl, abastecem 96% do mercado no pas. Em 93 o consumo de sorvete no pas recuou, levando os dois grupos a realizarem mudanas internas e de reorganizao societria. Os preos, no entanto, tiveram alta real de 34,28%. s vezes, produtos oligopolizados registram expressivas baixas de preos. Em 93, o preo do leite em p caiu 15,45% e o do leite condensado, outros 5,47%. Em ambos os casos, a Nestl, que detinha mais de 50% do mercado para esses produtos, passou a enfrentar a concorrncia agressiva da Parmalat, at ento ausente desses segmentos. Mas analistas do setor observam que, posteriormente, um furador de oligoplios poder enquadrar seus preos pelo pico. | Preos sobem sob controle de oligoplios Eles esto em todos os setores da economia e tm poder para garantir aumentos reais acima da inflao. MARISTELA MAFEI O que fez o caldo de galinha, o leite, maionese e leo de soja estarem acima da inflao em 93? Acompanhados do sorvete, margarina, presunto, salame, cigarro, cerveja, refrigerante, sabonete, creme dental e sabo em p? Todos pertencem a poucos fabricantes, que vendem para muitos compradores (oligoplios) . Os oligoplios dominam de 48% a 98% do mercado. Nesta lista , esto os fabricantes de antiinfecciosos, analgsicos e medicamentos para o sistema cardiovascular, fsforos, lmpadas, automveis , latas de alumnio, ao e vidro plano. A pequena quantidade dos que dominam o mercado facilita a prtica desonesta de sustentar preos pelo controle da oferta. Na lista sob controle da Fipe, alimentos industrializados apresentou queda de 2,32% em 93. Queda mais expressiva aconteceu com o macarro e fub , onde a participao de cada fornecedor no chega a 10% O contrrio acontece com o caldo de galinha , cujo fornecimento (98%) feito pela Nestl e pela Refinaes de Milho Brasil; com o presunto e salame , monopolizados pela Sadia e Perdigo. Todos esses produtos tiveram forte elevao de preos. No setor leiteiro, com a entrada da multinacional Parmalat e a conseqente fuso da Leco, Vigor e Flor da Nata , formou-se, junto com a Cooperativa Central de Laticnio, um oligoplio que controla perto de 85% do mercado na Grande So Paulo . A situao se agrava mais com a formao de um oligopsnio (grupo de poucos compradores) na captao do leite. O leite de soja tem seu abastecimento nas mos da Ceval, Cargill e Sadia. Os preos subiram 18% alm da inflao no ano passado. Brahma, Antarctica e Kaiser basicamente controlam o fornecimento da cerveja e dos refrigerantes.Circulou at uma polmica em torno de uma possvel presso sobre concorrente menor. A Schincariol foi acusada de sonegao de ICMS. Na ocasio, a Folha de So Paulo apurou que foi fruto de presso da Brahma e Antarctica. Souza Cruz e Phillips Morris, que respondem por 98% da produo de cigarros no Brasil, fazem reajustes quinzenais O mercado do sorvete (96% ) est nas mos da Kibon(Phillips Morris) e da Gelato. E quando algum produto oligopolizado tem queda expressiva (em 93, aconteceu com o leite em p e o leite condensado) , que houve presso de um concorrente forte. o que aconteceu com a Nestl, sob presso da Parmalat. Os preos, depois, retomam o patamar mais alto. |
td94ou16-01 | Grficas de convenincia agilizam negcios Birs de editorao eletrnica fazem desde diagramao de manuais a transparncias e recuperao de fotos antigas MARIA EDICY MOREIRA Free-lance para a Folha Usar servios dos birs de editorao eletrnica espcie de grficas de convenincia pode facilitar o trabalho de pequenas empresas e profissionais liberais. A gama de servios bastante ampla e a produo costuma ser rpida, s vezes, leva minutos. Em So Paulo, j existem dezenas de grficas de convenincia, que oferecem servios como digitao de textos e digitalizao de fotos transferncia de imagens do papel para a tela do computador, o que permite alteraes de cor, retoques etc.), edio de manuais e cpias em cores. A AlfaGraphics, por exemplo, faz cartes de visita, cpias coloridas, digitao e criao de logotipos. Na Akad, a especialidade a digitalizao de desenhos tcnicos e impresso de psteres. A Art & Byte tambm trabalha com desenhos tcnicos e edio de manuais. A Graphic Vision cria slides para a apresentao de negcios, faz logotipos, tratamento de imagens e trabalhos de digitao e diagramao. A Paper Express e Ponto & Meio oferecem ainda a produo de transparncias e fotolitos. Imagens O tratamento de imagens um recurso que tem sido bastante procurado por quem precisa colorir, mudar caracterstica de imagens e recuperar fotos antigas. Segundo Ivete Pugliesi, 34, dona da Graphic Vision, mdicos costumam recorrer ao sistema para melhorar imagens usadas em aulas e conferncias. Na Ponto & Meio, o recurso foi usado para recuperar as fotos antigas publicadas no livro Sadia 50 anos construindo uma Histria. Tecnologia Alm de tornar os negcios mais geis, os birs so uma alternativa para facilitar o acesso de pequenas empresas a tecnologias de alto nvel. Os pequenos empresrios no tm condies de manter-se atualizados tecnologicamente, da a importncia dos birs, diz Cezar de Almeida, dono da CZ Publicidade, que virou adepto das grficas de convenincia. Ele afirma que a contratao de uma grfica permite que a agncia mantenha o foco na sua atividade principal, no perdendo tempo e dinheiro com a operao e atualizao de equipamentos. O estdio grfico C & D tambm virou cliente dos birs, para a produo de provas e fotolitos. Segundo William Coracho da Torre, diretor de arte, a grande vantagem a agilidade e a rapidez com que os trabalhos ficam prontos. O empresrio Wagner Loyola Borba, 45, dono da Borba Negcios Imobilirios, outro que acredita que os birs aceleram os negcios. Ele imprime porta-flios na AlphaGraphics. O servio que demorava at 15 dias agora sai em 20 minutos com a computao. Borba usa os porta-flios para mostrar aos clientes imveis venda ou disponveis para aluguel. O sistema permite que o interessado saia do escritrio sabendo o que vai encontrar, diz. | Grficas de convenincias agilizam negcios Birs de editorao eletrnica fazem desde diagramao de manuais a transparncias e recuperao de fotos antigas. MARIA EDICY MOREIRA- Free-lance para a Folha Os servios dos birs de editorao eletrnica- espcie de grficas de convenincia- podem facilitar o trabalho de pequenas empresas e de profissionais liberais. Alm da extrema rapidez, a gama de servios bastante ampla. Em So Paulo, j existem vrias , que oferecem servios de digitao de textos e digitalizao de fotostransferncia de imagens para a tela do computador , o que permite vrias alteraes- edio de manuais e cpias em cores. O tratamento de imagens um servio bastante procurado por quem precisa colorir, mudar caracterstica de imagens e recuperar fotos antigas. Alm da agilizao, os birs permitem s pequenas empresas tomar contato com alta tecnologia. Cezar de Almeida, dono da CZ Publicidade, afirma que a contratao de uma grfica libera sua agncia para a atividade fundamental e permite a economia de tempo e dinheiro. |
mu94ag06-a | Avies da Otan bombardearam ontem posies srvias ao norte de Sarajevo. O ataque foi uma represlia tomada por srvios de armamentos pesados, retirados da zona de excluso da ONU em torno da cidade. Foi a primeira ao da Otan contra srvios desde o ataque areo s suas posies no encrave de Gorazde, em abril. Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse que dois avies norte-americanos e dois franceses bombardearam s 18h35 (13h35 em Braslia) posies srvias ao redor de Sarajevo. Porta-vozes militares disseram que um total de 12 aeronaves, com a participao tambm de holandeses, saram de bases da Otan na Itlia para realizar os bombardeios. A ONU disse que aps o ataque os srvios se comprometeram a devolver imediatamente as armas. O comandante do Exrcito srvio garantiu ao comandante das tropas da ONU em Sarajevo, general Michael Rose, que todas as armas retiradas da zona de excluso seriam devolvidas at hoje. Rose disse que se a promessa no for cumprida haver novos ataques. Ele informou que um blindado srvio foi destrudo no bombardeio. Segundo ele, foi escolhido um alvo isolado, para evitar que civis fossem atingidos. Por causa do mau tempo no foi possvel atingir as armas. Na manh de ontem, tropas srvias retiraram um tanque, dois veculos blindados e um canho antiareo de um depsito da ONU. Um helicptero da ONU tentou perseguir os srvios, que responderam a tiros. Em fevereiro, a ONU criou uma rea de excluso de 20 km em torno de Sarajevo, na qual foi proibida a presena de armas pesadas. Os srvios entregaram suas armas depois de ameaas de bombardeios pela Otan. Desde ento, foram registradas vrias tentativas pelos srvios de recuperar as armas. As tropas das Naes Unidas em Sarajevo entraram em estado de alerta aps o ataque. Por causa dos incidentes de ontem, a ONU voltou a suspender a ponte area de ajuda humanitria a Sarajevo. A retirada das armas ocorreu um dia depois de a Iugoslvia formada por Srvia e Montenegro ter interrompido todos os laos com os srvios da Bsnia, por causa da rejeio por eles de um plano de paz internacional para a regio. Centenas de caminhes que iam da Srvia para regies da Bsnia sob controle srvio foram impedidos ontem de cruzar a fronteira. A Srvia a principal fonte de armas e suprimentos para os srvios da Bsnia. O lder srvio Radovan Karadzic disse aps o rompimento que seu povo deve se preparar para lutar sozinho. Estamos preparados a ficar com fome, nus e descalos, mas temos de lutar por nossa liberdade, afirmou. | Em represlia tomada de armamentos pesados, avies da Otan bombardearam ontem posies srvias ao norte de Seravejo. O bombardeio no atingiu mais armas alm de blindado isolado, para evitar atingir civis e por causa do tempo. O comandante srvio garantiu ao comandante da ONU, general Michael Rose, que as armas seriam devolvidas. Em fevereiro, a ONU tinha criado uma zona de excluso em torno de Seravejo, em que foi proibida a presena de armas pesadas. Os srvios, sob ameaas , tiveram que entregar suas armas. Desde ento, tentam recuper-las. As tropas da ONU , por causa do incidente de ontem, voltaram a interromper a ajuda humanitria a Seravejo e passaram a vigiar melhor a fronteira que d passagem para a regio da Bsnia controlada por srvios. A Srvia a principal fonte de armas e suprimentos para os srvios da Bsnia. |
co94ag28-16 | 'No dia D fiquei apavorado' 'Traficantes contavampiadas sobre policiais.Eram piadas ridculas,mas eu tinha que rir' 'Ele nunca vaiesquecer que foipreso no dia doaniversrio do filho' Da Reportagem Local Aps seis meses investigando, no incio de 92 fiquei sabendo que Alba (nome verdadeiro), conhecida intermediria de traficantes bolivianos, estava em So Paulo. Atravs de um informante, mandei um recado a ela: eu era um sujeito muito rico que trabalhava no 'ramo'. Queria encontr-la. Dois dias depois, marcamos um jantar num restaurante fino em So Paulo. Cheguei com o informante num Escort XR-3 vinho, conversvel. Eu estava vestido impecavelmente. Durante o jantar, notei que Alba estava visivelmente flertando comigo. Era recm-divorciada, devia estar carente. Isso deixava as coisas mais fceis e aproveitei essa deixa tambm. Jantamos juntos mais duas vezes durante a semana e marcamos viagem para o Mato Grosso, Corumb (MT). Ela cada vez mais tentava se aproximar. Nos hospedamos no hotel La Siesta. Usei meu nome mesmo. Ficou uma situao difcil. Discutimos asperamente no hotel porque ela queria ficar no mesmo quarto que eu. No deixei. Para Alba, eu era um rico exportador de cocana para a Europa. Em dois dias ela j havia feito contato com dois traficantes. Eles nos encontrariam no hotel. Quando chegou o dia D, fiquei apavorado. sempre assim... Eles nos encontraram beira da piscina no hotel. Pediram bebidas. Eu no gosto de beber. Tomei um usque e j me sentia zonzo. Enquanto isso, os traficantes (Carlos e Antonio) contavam piadas de policiais, que eles chamam de cachorros. Eram piadas ridculas, mas eu tinha de rir. Ria por fora, mas, por dentro, queria mat-los. Depois comearam as suas lamrias: que perdem muita mercadoria, que no d para confiar nos empregados, que os compradores pechincham muito... Cobravam US$ 3.500 o quilo. Fizeram uma proposta: para cada um quilo que eu conseguisse colocar na Europa eles me dariam dez quilos em So Paulo. Aceitei. Antes de se despedirem, insistiram que eu tinha de ir a um churrasco na Bolvia, no dia seguinte. Seria um encontro de amigos. Recusei, com certo medo at. No sabia como eles iriam reagir. Eu disse que tinha de voltar a So Paulo no dia seguinte. Ficamos de combinar a entrega por telefone. Trs dias depois, me encontrei com Alba em So Paulo, num shopping. Ela iria telefonar para o responsvel pela entrega, Joo, gerente de uma transportadora da regio de Campinas. Quando ela discava, marquei o nmero. A ficou fcil. Ns grampeamos esse telefone. Quando a primeira carga chegou, sabamos sua rota. Pegamos tudo (18 kg), perto do pico do Jaragu (Grande So Paulo). Prendemos o motorista. Como a minha carga no chegara na data marcada, telefonei cobrando os traficantes. Me disseram que estavam chateados, mas a carga havia rodado (sido apreendida). Iriam mandar outra, mas s no ms seguinte. Pegamos de novo: 14 quilos num ms, e mais 16 quilos na semana seguinte. Os traficantes otrios no desconfiavam de nada, que ns tnhamos a escuta na sede da transportadora deles. Depois disso, perdi o contato com eles. Alba sumiu (no incio deste ano fiquei sabendo que havia sido presa na Espanha). Ficamos quase um ano sem nos comunicar. Fiz o papel do empresrio desiludido. No final do ano passado, retomei o contato com eles. Ficaram de mandar um casal para falar comigo em So Paulo. Eles vieram: Marcos e Joana. Eles tinham um filho de um ano. Passei a me encontrar com eles pelo menos duas vezes por semana. Eles me visitavam no flat em que eu me hospedava. O filho deles, de um ano, acabou se apegando tanto a mim que os dois decidiram me convidar para ser o padrinho do garoto. Essa hora di muito mesmo... A criana no tem culpa do que os pais so... Eu no podia aceitar, mas tambm gostei do garotinho. Tenho uma filhinha... Mas acabei dando uma desculpa para recusar. Marcamos nova entrega, mas dessa vez eu queria tratar com o prprio gerente da transportadora. Fui para o interior de So Paulo e o conheci: Jorge. Ele tinha uma carga para enviar e entregaria minha encomenda no mesmo dia. Marcamos o estacionamento de um shopping de So Paulo para a entrega. No dia marcado, nos encontramos. Jorge estava com pressa porque tinha que voltar para casa. Seu filho fazia um ano naquele dia. Apareci no local com um amigo (outro policial) e pedi licena para ir ao banheiro do shopping. Enquanto isso, Jorge mostrou ao meu amigo onde estava a droga. Imediatamente foi preso. Ele chorou muito e hoje est na Casa de Deteno. At hoje no sabe que eu era um policial, mas sei, atravs de informantes dentro do Carandiru, que ele jurou que vai descobrir quem eu sou e que vai me matar quando cumprir a pena (em 1999). s vezes eu sinto medo s de andar na rua. Sei que se ele me cruzar na rua vai me reconhecer e vai querer me matar. Ele nunca vai esquecer que foi preso no dia do aniversrio do filho. Relato do investigador Wladimir | No dia D fiquei apavorado Traficantes contavam piadas sobre policiais. Eram piadas ridculas, mas eu tinha que rir. Ele nunca vai esquecer que foi preso no dia do aniversrio do filho. Da Reportagem Local Depois de seis meses de investigao , tive informao de que Alba , intermediria de traficantes bolivianos, estava em S.Paulo. Mandei um recado a ela como sendo um indivduo rico e que traficava. Queria encontra-la. Marcamos encontro num restaurante fino. Durante o jantar, percebi que ela estava me paquerando. Jantamos juntos mais vezes e combinamos uma viagem a Corumb. L , discutimos no hotel porque ela queria ficar no meu quarto, com que no concordei. Para Alba eu era um rico comerciante de droga para a Europa. Em dois dias, ela j contactara dois traficantes.Eles nos encontraram no hotel beira da piscina. Ficaram bebendo e contando piadas ridculas de policiais. Eu ria forado. Fizeram-me a proposta de que para cada quilo vendido na Europa eu teria dez em S.Paulo. Topei. Ficamos de acertar a entrega por telefone. Encontrei com Alba num shopping . Quando ela ligava para o responsvel pela entrega---Joo, gerente de uma transportadora nas cercanias de Campinas---, consegui ver o nmero e o grampeamos. Quando a primeira carga chegou, pegamos tudo. Telefonei depois cobrando a minha carga, que no chegara. Eles no desconfiaram de nada.Prometeram mandar outra. Fiquei um tempo sem contato e com eles e o retomamos no final do ano passado. Prometeram mandar um casal amigo para me visitar em S.Paulo, Marcos e Joana. Encontramos algumas vezes e acabei afeioando-me com o seu filho. A ponto de me convidarem para padrinho , ao que recusei . Marcamos nova entrega , mas exigi tratar com o prprio gerente da transportadora., o Jorge. Ele tinha uma carga para entregar e mandaria a minha junto. Apareci no shopping onde tnhamos marcado o encontro, junto com um amigo. Enquanto fui ao banheiro, ele mostrou a encomenda ao meu amigo; imediatamente foi preso. Indignado por ter sido preso no dia do aniversrio do filho, promete me matar assim que cumprir a pena. |
mu94no27-18 | EUA buscam ingresso no 'Sculo Pacfico' Americanos se preparam para ajudar pases como China e Coria do Norte a enfrentar desafios no Extremo Oriente O desafio mais importante a emergncia de Pequim na era ps-Deng Xiaoping Os laos econmicos entre a China e o mundo externo so a garantia de atitude responsvel Infelizmente, o perigoso jogo norte-coreano de gato e rato nuclear parece ter dado resultado JAMES A. BAKER Ser que o ano 2000 vai marcar o incio do Sculo Pacfico, como prevem muitos especialistas? E ser que a ascendncia asitica oriental, como afirmam muitos especialistas, significar o eclipse dos Estados Unidos enquanto potncia dominante na regio? Busquei respostas a estas perguntas numa viagem que fiz recentemente a Cingapura, Taiwan e Japo. Para estas e outras naes dinmicas do Extremo Oriente, o Sculo Pacfico j comeou. Isto verdade, sem dvida alguma, no campo econmico. Apesar da recesso japonesa, as economias do Extremo Oriente continuam provocando inveja em seus competidores e funcionando como exemplo para os pases menos desenvolvidos do mundo inteiro. Mas os EUA no tm nada a temer de um Sculo Pacfico. Na realidade, estamos muitssimo bem posicionados para promover nossos interesses estratgicos, polticos e econmicos tanto na regio, quanto internacionalmente. Mas s poderemos faz-lo se estivermos preparados para usar nosso poderio militar e nossa influncia diplomtica para ajudar a enfrentar desafios crticos do Extremo Oriente, nos anos vindouros. Possivelmente o desafio mais importante a emergncia de Pequim na era ps-Deng Xiaoping transio que tem ramificaes enormes, no apenas para a China mas para a regio inteira. A abordagem de Deng liberalizao econmica, combinada com o autoritarismo poltico, rendeu resultados notveis em termos de crescimento de curto prazo. A longo prazo, porm, no sustentvel. Na verdade, o adiamento da transio a um governo de bases mais populares implica no risco de tumultos quando a gerao atual de lderes sair de cena. O cenrio mais provvel ser um perodo de calma, que durar possivelmente entre seis meses e dois anos, enquanto as figuras lderes da nova gerao dividem o poder com os lderes velhos. Depois disso, comearo as disputas internas para assegurar posies. Uma possibilidade a emergncia de uma ditadura militar disposta a reprimir a insatisfao poltica e recorrer ao aventurismo regional. Existe outra possibilidade mais perigosa: que a China reverta ao caos que viveu na dcada de 20, quando chefes militares rivais lutavam pela supremacia. Os Estados Unidos e seus aliados na sia Oriental tm grande interesse na estabilidade de longo prazo da China. Esta estabilidade estar melhor servida por uma abordagem que equilibre os vnculos econmicos prximos com a China e a manuteno de uma presena militar americana digna de crdito no Extremo Oriente. Os relacionamentos de defesa especiais que temos com o Japo, a Coria do Sul e os pases da Asean (Associao das Naes do Sudeste Asitico) continuaro sendo peas fundamentais da segurana asitica no como parte de uma aliana anti-chinesa, mas como fora favorvel estabilidade regional. Os crescentes laos econmicos entre a China e o mundo externo constituem a melhor garantia de um comportamento chins responsvel em relao aos pases vizinhos. Os EUA, especialmente, precisam ficar atentos para evitar confrontos contraproducentes como aquele que a administrao Clinton evitou por pouco, sobre o status de nao comercial mais favorecida. Nada poderia servir mais diretamente aos interesses dos potenciais representantes da linha dura ps-Deng. Um segundo desafio-chave no Pacfico a instabilidade representada pela pennsula coreana. Infelizmente, o perigoso jogo norte-coreano de gato e rato nuclear parece ter dado resultados. O recente acordo entre a administrao Clinton e o regime de Kim Il Jong representa um reconhecimento ttico do status nuclear da Coria do Norte. Como tal, solapa tanto o regime internacional de no-proliferao nuclear quanto a paz no nordeste da sia. As armas nucleares norte-coreanas, seja qual for seu nmero, constituem uma ameaa direta Coria do Sul e s tropas norte-americanas ali estacionadas. Ao recompensar a busca norte-coreana irresponsvel por capacidade nuclear e fortalecer o regime cambaleante de Kim, a administrao Clinton pode ter garantido uma pequena trgua. Mas o fez a um custo real. As consequncias estratgicas a mdio e longo prazo do acordo podem muito bem ser um risco aumentado, e no diminudo, de conflito na pennsula coreana. Isto refora a necessidade de se manter e possivelmente fortalecer a presena militar dos Estados Unidos na pennsula coreana e na regio circundante. Ademais, a ameaa que uma Coria do Norte continua a representar exige que os EUA revejam sua atual poltica de desenvolvimento dos sistemas de msseis antibalsticos tticos. Se estivermos dispostos a abrir mo da anuncia total ao regime de no-proliferao internacional e, infelizmente, a administrao Clinton parece estar disposta a isso, ento precisamos tambm estar preparados para criar os instrumentos necessrios para proteger as foras dos EUA contra um ataque nuclear. A mensagem do acordo da administrao Clinton com a Coria do Norte no passar desapercebida de outros pases no confiveis interessados em adquirir capacidade nuclear. Um terceiro desafio com que o Extremo Oriente vai se defrontar ser a transformao econmica da regio. Seguindo o modelo japons liderado pelas exportaes, as economias asiticas orientais se transformaram, num prazo de poucas dcadas, em foras mundiais que merecem respeito. Mas a experincia do Japo tambm demonstra os limites do crescimento liderado pelas exportaes. Com o tempo, os constantes supervits comerciais no substituem uma demanda interna forte. Os crnicos desequilbrios comerciais provocam tenses internacionais e tm custos, em termos de padres de vida. Hoje o Japo est avanando lentamente em direo a uma abordagem econmica mais equilibrada. Outras economias asiticas orientais enfrentam uma transio semelhante. Mas elas esto bem posicionadas para isso. A maioria das naes asiticas orientais conseguiu atingir o crescimento econmico sem sofrer desigualdades extremas de renda. A existncia de uma classe mdia emergente constitui um bom indcio para um crescimento baseado no consumo. Apesar disso, ainda resta muito a fazer em termos de abrir os mercados domsticos e incentivar a demanda. Seno, os desequilbrios econmicos iro semear o conflito poltico. Isso, por sua vez, pode reduzir a necessidade do engajamento americano em questes crticas de segurana asitica. A liberalizao adicional do comrcio e dos investimentos internacionais ser uma parte crtica desse processo. A concluso, j muito atrasada, da Rodada Uruguai do Gatt deve marcar a transio para uma liberalizao ainda mais ampla do comrcio e dos investimentos entre as naes do Extremo Oriente. O frum de Cooperao Econmica sia-Pacfico constitui um poderoso veculo para tal liberalizao. Recentemente, o presidente Clinton participou da reunio da Apec na Indonsia, onde ele e outros chefes de Estado se comprometeram com uma agenda ativa de liberalizao comercial e de investimentos. do interesse dos EUA que a abordagem da Apec seja inclusiva, no exclusiva. O premi malasiano Mahathir Mohammad vem promovendo a idia de uma organizao multilateral asitica que incluiria o Japo, mas excluiria os EUA. Isso perigoso. Quase 50 anos aps a 2 Guerra Mundial, seria trgico tentar mais uma vez traar uma linha arbitrria atravessando o Pacfico. O prejuzo para as relaes EUA-Japo, pedra de toque da paz e da prosperidade no Pacfico, seria irreparvel. O mercado norte-americano vem funcionando h dcadas como motor do crescimento de pases como o Japo e a Malsia. Se o Japo ingressasse num agrupamento comercial asitico que exclusse os EUA, isso seria no apenas uma traio lealdade, mas um convite aberto a uma guerra comercial. Tendo em vista o que est em jogo, a administrao Clinton deve opor-se a qualquer esforo desse tipo, e no deve hesitar em pressionar o Japo a dizer no. Em lugar disso, os Estados Unidos e o Japo devem continuar a trabalhar, atravs da Apec, para desenvolver e implementar um quadro flexvel que permita que seus membros ofeream comrcio e investimentos mais livres no apenas entre pases membros, mas tambm com outros pases, incluindo a Rssia. A liberalizao econmica tambm vai fortalecer a tendncia regional a governos de base popular mais ampla. As populaes do Extremo Oriente, cada vez mais prsperas, anseiam por uma participao maior nas decises pblicas. A experincia do Taiwan, que hoje tem um PNB per capita de US$ 11 mil e um sistema pluripartidrio ativo, revela a relao simbitica existente entre livres mercados e governos livres. O desafio da transformao econmica apenas um dos testes cruciais que os EUA e as naes da sia Oriental tero que enfrentar. Esta comunho de interesses, por sua vez, reflete outra verdade fundamental: os EUA continuam sendo uma potncia Pacfica, como o so desde o final do Sculo passado. Os asiticos orientais reconhecem esse fato, e na verdade o apreciam. Em todo lugar onde fui, os lderes asiticos pediram mais engajamento norte-americano e no menos. Eles percebem como tambm os americanos deveriam perceber que para que o Sculo Pacfico seja pacfico e prspero, os Estados Unidos precisam fazer parte dele. JAMES A. BAKER foi secretrio de Estado dos EUA de 1989 a 1992. Traduo de Clara Allain | EUA buscam ingresso no Sculo Pacfico Americanos se preparam para ajudar pases como China e Coria do Norte a enfrentar desafios no Extremo Oriente O desafio mais importante a emergncia de Pequim na era ps-Deng Xiaoping Os laos econmicos entre a China e o mundo externo so a garantia de atitude responsvel Infelizmente, o perigoso jogo norte-coreano de gato e rato nuclear parece ter dado resultado. JAMES A.BAKER Se o ano 2000 ser o incio do Sculo Pacfico , como prevem muitos especialistas, e se a ascendncia asitica oriental marcar , segundo outros, a perda de hegemonia americana na regio teve resposta na minha viagem recente a Cingapura, Taiwan e Japo. Para estas naes e outras do Extremo Oriente o sculo pacfico j comeou. Mas os EUA nada tm a temer. Talvez o desafio maior seja a emergncia de Pequim na era ps-Deng Xiaoping , com implicaes na regio inteira. Xiaoping conseguiu resultados excelentes com a liberao econmica acompanhada de autoritarismo. Adiar a transio para um governo de bases mais populares significar risco de tumultos depois que as atuais lideranas sarem de cena. Para os Estados Unidos e seus aliados na sia Oriental muito importante o prolongamento da estabilidade da China , que pretendem conservar com a manuteno de vnculos econmicos e uma fora militar respeitvel no Extremo Oriente . Os relacionamentos de defesa que mantemos com o Japo , Coria do Sul e os pases da Asean (Associao das Naes do Sudeste Asitico) so fundamentais para essa estabilidade. Tambm os vnculos econmicos da China com o mundo externo so a garantia de sua atitude responsvel em relao aos pases vizinhos. Um segundo desafio a instabilidade na pennsula coreana. A Coria do Norte , usando o seu jogo, conseguiu um acordo com a administrao Clinton , que reconhece o seu status nuclear. Essas armas constituem ameaa direta sua vizinha do Sul e s tropas norte-americanas ali sediadas. O reconhecimento tambm servir de mau exemplo para outros pases no confiveis interessados nesse ncleo fechado. Um terceiro desafio para o Extremo Oriente ser a transformao econmica da regio Seguindo o modelo exportador japons, as naes da regio se transformaram rapidamente , merecendo o respeito internacional. Mas o prprio Japo demonstrou que esse tipo de crescimento firmado na exportao no substitui o mercado interno, havendo necessidade de incentivar essa demanda para evitar conflitos. Recentemente, o presidente Clinton participou da reunio da Apec na Indonsia, onde ele e outros chefes de Estado se comprometeram a abrir mercado e a investir na regio. Para os EUA a palavra importante incluso . Tanto que o pas no v com bons olhos a atitude do premi malasiano Mahathir Mohammad , que pretende promover uma organizao multilateral asitica que incluiria o Japo , mas no os EUA. No caso de anuncia do Japo, o governo americano veria a uma infidelidade e um convite para um confronto comercial. Clinton, certamente, desestimular qualquer iniciativa desse tipo e no hesitar em pressionar o Japo a recusar. |